FATEBRA FACULDADE TEOLÓGICA DO BRASIL “Entidade Educacional Com Jurisdição Nacional” Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.fatebra.com.br [email protected] APOSTILA 08 ESTUDOS SOBRE O ESPIRITO SANTO TOTAL – 76 PAGINAS 21 - ASSUNTOS! Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br [email protected] A Esperança Escatológica A Posição Escatológica como Fator Determinante do Envolvimento Político e Social Nós também ressucitaremos Nostradamus, Profeta de Deus ou do Diabo? O Apocalípse - Estudo I - (Parte 1) O Livro da Vitória O Apocalípse - Estudo I - (Parte 2) O Livro da Vitória O Apocalípse - Estudo 2 - (Parte 1) - Cartas às Igrejas da Ásia O Apocalípse - Estudo 2 - (Parte 2) - Cartas às Igrejas da Ásia O Apocalípse - Estudo 3 - A Soberania do Trono Celestial O Apocalípse - Estudo 4 - A Soberania do Trono Celestial O Apocalípse - Estudo 5 - Os Mártires O Apocalípse - Estudo 6 - As Trombetas O Apocalípse - Estudo 7 - "Eis que vem com as nuvens..." O Apocalípse - Estudo 8 - "Eis que vem com as nuvens..." O Apocalípse - Estudo 9 - O significado das sete taças O Apocalípse - Estudo 10 - A Vitória do Bem O Apocalípse - Estudo 11 - Um novo padrão de vida O Apocalípse - Estudo 12 - O Apocalipse hoje "Portanto" Sinais dos Tempos Findos "Uma mulher vestida de Sol" ESTUDOS SOBRE – O ESPIRITO SANTO TOTAL – 76 PAGINAS 1 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] 21 - ASSUNTOS! Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br [email protected] ESTUDO DA ESCATOLOGIA A ESPERANÇA ESCATOLÓGICA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br I -- Que princípios norteiam a pesquisa teológica? A) O princípio arquitetônico > revelação = base e eixo da teologia > fé objetiva. B) O princípio hermenêutico > interpretação dos aspectos históricos da salvação = produto da razão. Da razão ordinária, que é a universalidade do senso comum; da razão filosófica, que produz ordenação; e da razão científica, ligada aos fenômenos. A utilização de tais princípios possibilitam diferentes versões da revelação. Por que? Porque o princípio arquitetônico depende do que colocamos como base da estruturação geral de nosso estudo: a graça e a fé, no caso de Lutero; a soberania de Deus, no caso de Calvino; ou o amor, a justiça, a liberdade, etc.? E porque o princípio hermenêutico depende do uso de uma ou de várias das múltiplas visões filosóficas que podem ser utilizadas como instrumento de interpretação da história da salvação. É por isso que se diz: a ideologia define a hermenêutica. Aqui reside a dificuldade. A revelação é universal e plena, mas toda teologia é transitória, pois reflete um momento de compreensão da revelação e da história da salvação. II -- Jürgen Moltmann, teólogo da esperança Depois de uma criativa ruptura com a modernidade, enquanto pensamento, tradição e história, é necessário sentir de novo a alegria da esperança escatológica, para compreender a natureza do terreno sobre o qual pisamos. Há um momento de cisão no qual modificou-se, de modo essencial, a concepção do que significa teologia. Esse momento foi assinalado a partir dos anos 60 com a teologia da esperança, de Jürgen Moltmann. Trata-se de uma reflexão prodigiosamente profética, pois enuncia, não somente a queda do muro de Berlim, mas o processo de aglutinação vivido por alemães, em primeiro lugar, por europeus, na seqüência, e agora muito possivelmente por parte da humanidade. É sem dúvida, uma das elaborações mais impressionantes, se entendermos sua abordagem epistemológica. Sugere um campo normativo, a ser percorrido pelos movimentos e comunidades que abririam aguerridamente, a golpes de machado, a senda pós-moderna. A expressão abordagem epistemológica não é exagerada. Conforme, Bachelard, "os filósofos justamente conscientes do poder de coordenação das funções espirituais consideram suficiente uma mediação deste pensamento coordenado, sem se preocupar muito com o pluralismo e a variedade dos fatos (...). Não se é filósofo se não se tomar consciência, num determinado momento da reflexão, da coerência e da unidade do pensamento, se não se formularem as condições de síntese do saber. E é sempre em função desta unidade, desta síntese, que o filósofo coloca o problema geral do conhecimento". G. Bachelard, Filosofia do Novo Espírito Científico, Lisboa, Presença, 1972, pp. 8-9. Assim, abordagem epistemológica, aqui utilizada, refere-se ao projeto teológico, de herdadas estruturas hegelianas e marxistas, relidas e traduzidas por ele e Ernest Bloch. É sobre a questão da identidade histórica, entendida como processo a realizar-se, que recai a crítica da teologia realizada por Moltmann. Usando a leitura de Roberto Machado, diríamos com ele que "a história arqueológica nem é evolutiva, nem retrospectiva, nem mesmo recorrente; ela é epistêmica; nem postula a existência de um progresso 2 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] contínuo, nem de um progresso descontínuo; pensa a descontinuidade neutralizando a questão do progresso, o que é possível na medida em que abole a atualidade da ciência como critério de um saber do passado". Roberto Machado, Ciência e saber. A trajetória arqueológica de Foucault, Rio de Janeiro, Graal, 1982, p. 152. É justamente a experiência de viver, enquanto comunidade que se realiza no futuro, que é realçada por Moltmann. No nível antropológico, trabalha os elementos dessa esperança, a partir da qual se produz saber e praxis cristã. Suas heranças são translúcidas: "Por meio de subverter e demolir todas as barreiras -- sejam da religião, da raça, da educação, ou da classe -- a comunidade dos cristãos comprova que é a comunidade de Cristo. Esta, na realidade, poderia tornar-se a nova marca identificadora da igreja no mundo, por ser composta, não de homens iguais e de mentalidade igual, mas, sim, de homens dessemelhantes, e, na realidade, daqueles que tinham sido inimigos... O caminho para este alvo de uma nova comunidade humanista que envolve todas as nações e línguas é, porém, um caminho revolucionário". Jürgen Moltmann, "God in Revolution", em Religion, Revolution and the Future, NY, Scribner, 1969, p. 141. Como num laboratório, o teólogo da esperança extrai o fato teológico de sua contingência histórica, tratada sob condições de extrema pureza escatológica. Muito claramente afirma a escatologia como essência da história da redenção e leva à conclusão de que essa mesma essência seja a expressão maior da ressurreição, enquanto metáfora da cruz de Cristo. Essa cruz repousa sobre o esvaziamento da desesperança, enquanto praesumptio e desperatio, na relação que mantém com o mundo. A teologia, vida cristã em movimento, numa permanente autoformação, advém das pulsações criadoras da própria esperança, cujo sentido volta-se para ela própria. Essa construção, que se nos apresenta como caleidoscópio, belo, mas aparentemente ilógico, traz em si a força combinatória do devir cristão. Assim, a teologia de Moltmann quebra os grilhões do presente eterno da neo-ortodoxia, e nos oferece um conceito realista da história, que tem por base um futuro real, lançando dessa maneira as bases para uma teologia que responda às reais necessidades do homem pós-moderno. "O passado e o futuro não estão dissolvidos num presente eterno. A realidade contém mais do que o presente. Ao desenvolver sua teologia futurista, Moltmann realmente tem o peso considerável da história bíblica do lado dele, e faz bom uso dela. (...) Ao enfatizar o futuro, desenvolveu um pensamento bíblico legítimo que jazia profundamente enterrado na teologia ética e existencial dos séculos XIX e XX". Stanley Gundry, Teologia Contemporânea, SP, Mundo Cristão, 1987, p.167. A teologia de Moltmann nasce enquanto reação ao existencialismo e absorção do revisionismo de Bloch. A descontrução do marxismo, realizada por esse filósofo, não agradou ao mundo comunista, mas estabeleceu uma ponte, diferente daquela da teologia da libertação, entre o hegelianismo de esquerda e o cristianismo. Substituiu a dialética pelo ainda-não, enquanto espaço que não está fechado diante de nós, e definiu uma antropologia que não mais está calcada no império dos fenômenos econômicos, mas na esperança. Os escritos filosóficos do jovem Marx serviram de ponto de partida para o vôo de Bloch. A alienação do homem é um fato inquestionável, não como determinação econômica, mas enquanto determinação ontológica. Afinal, o universo em que vive é essencialmente incompleto. Mas a importância do incompleto é que é suceptível de complemento. Por isso, o possível, o ainda-não, o futuro traduz de fato a realidade. Nesse processo estão presentes a subjetividade humana e sua potência inacabada e permanente em busca de solução e a mutabilidade do mundo no quadro de suas leis. Dessa maneira, o ainda-não do subjetivo e do objetivo é a matriz da esperança e da utopia. A esperança traduz a certeza da busca e a utopia nos dá as figuras concretas desse possível. Para Bloch, o homem é impelido, assim, ao esforço permanente de transcender a alienação presente, em busca de uma ‘pátria de identidade'. É no ‘vermelho quente' do futuro que está a razão fundamental da existência humana. Nenhum marxista chegou tão próximo da escatologia cristã! "Deus -- enquanto problema do radicalmente novo, do absoluto libertador, do fenômeno da nossa liberdade e do nosso verdadeiro conteúdo -- torna-senos presente somente como um evento opaco, 3 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] não objetivo, somente como conjunto da obscuridade do omomento vivido e do símbolo não acabado da questão suprema. O que significa que o Deus supremo, verdadeiro, desconhecido, superior a todas as outras divindades, revelador de todo o nosso ser, ‘vive' desde já, embora ainda não coroado, ainda não objetivado (...) Aparece claro e seguro agora que a esperança é exatamente aquilo em que o elemento obscuro vem à luz. Ela também imerge no elemento obscuro e participa da sua invisibilidade. E como o obscuro e o misterioso estão sempre unidos, a esperança ameaça desaparecer quando alguém se avizinha muito dela ou põe em discussão, de modo muito presunçoso, este elemento obscuro". Ernst Bloch, Geist der Utopie, Franckfurt, 1964, p. 254 in Battista Mondin, Curso de Filosofia, São Paulo, Paulinas, 1987, vl. 3, pp. 246-7. Bloch realiza uma penetrante releitura da cosmovisão judaico-cristã. Entende o clamor profético do mundo bíblico e da proclamação cristã não como alienação e ópio, mas como fermentos explosivos de esperança, protestos contra o presente em nome da realidade futuro, a utopia. Talvez por isso possamos dizer que nos anos 60, os caminhos de Moltmann e Bloch não apenas cruzaram-se na universidade de Tübingen, mas abriram espaço para o mais enriquecedor diálogo cristão-marxista que conhecemos. É interessante lembrar que em 1968, quando manifestações estudantis varriam Tübingen, Heidelberg, Münster e Berlim Ocidental, grande parte dos líderes estudantis eram oriundos das faculdades de teologia. Sua Theologie der Hoffnung (Jürgen Moltmann, Teologia della Speranza, Queriniana, Bréscia, 1969), publicada no início da década na Alemanha, estava na oitava edição, e no ano seguinte, ele lançaria Religion, Revolution and the Future nos Estados Unidos. Agora, a partir da escatologia da esperança de Jürgen Moltmann apresentamos um rápido esboço de sermão que tem por base o texto de Apocalipse 22.6-21. III -- Fiel é a Palavra Introdução 1. No Apocalipse, o futuro define o presente. O Apocalipse inverte a nossa noção de tempo. O futuro modela e estrutura o presente. 2. Saber como a história termina nos ajuda a entender como devemos nos encaixar nela, agora. Por isso, já estamos vivendo os últimos dias. 3. As visões de João mostram a realidade do juízo divino, quando cada um de nós dará conta de sua existência diante de Deus. Deus recompensará aqueles que, às vezes, ao custo de sua própria vida "guardaram as palavras da profecia deste livro". 4. Profecia é proclamação da Palavra de Deus. E no Novo Testamento é proclamação das boas novas. Três blocos de textos 10 bloco Vers. 6 > As palavras são fiéis e verdadeiras. Vers. 7 > É feliz quem guarda as palavras daquilo que é proclamado (profecia) neste livro. 20 bloco Vers. 10 > Não feche este livro. O futuro é hoje. Vers. 11 e 12 > O futuro deve definir o que você faz. E você dará conta disso. E receberá o troco. 30 bloco O que Cristo diz àqueles que obedecem às palavras desse livro? Vers. 18 > Quem acrescentar = sofrerá os flagelos Vers. 19 > Quem tirar = fica fora. Sem acesso à árvore da vida, fora da cidade santa e sem as benções prometidas no livro. Conclusão A Palavra é fiel Vers. 20 > Jesus, a Palavra que reina, garante: Estou chegando! naiv, evvrcomai tacuv. A POSIÇÃO ESCATOLÓGICA COMO FATOR DETERMINANTE DO ENVOLVIMENTO POLÍTICO E SOCIAL ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira 4 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br I. Uma visão histórica Desde os primórdios do cristianismo tem existido diferentes atitudes com respeito ao governo e à política na vida da igreja, algumas delas opostas entre si. De um lado, Tertuliano "declarou que Jerusalém e Atenas (o ensino judeu-cristão e o intelecto e a cultura grega) não possuem nada em comum, e que os cristãos, portanto, deveriam participar da vida cultural o menos possível."1 Esse raciocínio de Tertuliano tem sido assimilado por muitos cristãos através dos séculos. Por darem ouvidos a pensamentos como esse, muitos têm perdido grandes oportunidades de influenciar a sociedade, embora o espírito de Tertuliano não tenha sido o do isolacionismo passivo. De outro lado, apareceu o pensamento emitido por Agostinho, cerca de dois século depois, que também exerceu grande influência sobre outros círculos da igreja cristã. Agostinho norteou a vida da igreja por vários séculos através da sua obra A Cidade de Deus. Ali ele argumentou que o estado e a igreja são "duas espadas" debaixo do governo de Deus, ambas servindo aos propósitos divinos, mas independentes entre si. Séculos mais tarde, um outro posicionamento bem diferente foi sustentado por Tomás de Aquino. Ele cria que a autoridade temporal deveria estar sujeita à autoridade espiritual. A igreja haveria de guiar o estado. Todos os aspectos da cultura estariam dependentes da igreja. Durante muitos séculos a Igreja Católica Romana seguiu os princípios elaborados por Tomás de Aquino com respeito à política e à cultura. De acordo com a opinião de Tomás de Aquino, os cristãos deveriam trabalhar para colocar todas as instituições sociais, incluindo o governo, sob a jurisdição da igreja. Essa opinião atravessou toda a Idade Média2 e certamente perdurou até recentemente em círculos onde o pensamento católico romano predomina. De Aquino em diante houve o crescimento do escolasticismo, no qual a Igreja tomou todas as frentes nas suas mãos. Ao invés de implantar o reino de Deus no mundo, por causa da deturpação de muitas coisas na ecclesia docens ("igreja docente"), esta acabou manifestando a intenção de ser a senhora do mundo e, por vários séculos, foi exatamente o que ela foi. No tempo da Reforma Protestante houve diferentes entendimentos com respeito ao envolvimento político e social da igreja. Com os anabatistas ocorreu um certo distanciamento das atividades políticas. Até o tempo presente, os herdeiros do pensamento anabatista têm incentivado os cristãos "a evitarem a vida política e cultural porque estas atividades estão corrompidas pelo pecado."3 Com Lutero, por outro lado, percebe-se claramente a importância da política e do envolvimento com os problemas sociais. J. M. Porter diz que "na esfera do pensamento político, ninguém pode encontrar qualquer obra ou ensaio sistemático de Lutero desconectado da crise política ou dos problemas do seu tempo."4 É verdade que ainda existe controvérsia com respeito à importância do pensamento político de Lutero. Há críticos que fazem duras acusações a Lutero em virtude do que aconteceu na Alemanha nos dias de Hitler. Segundo Porter, "Lutero tem sido criticado por alguns como o precursor do surgimento do Nacionalismo Social e um advogado da ‘religião do Estado.’"5 São diferentes as opiniões a respeito do pensamento político de Lutero. Niebuhr, bem mais moderadamente, pensa que, por causa da distinção que Lutero fez entre os dois reinos — a autoridade da igreja e a autoridade temporal — ele conduziu a um "apoio incompetente ao poder do estado" e a um temor maior de anarquia do que de tirania.6 Allen admite que o pensamento religioso e o pensamento político de Lutero são inconsistentes.7 Seja como for, Lutero foi um homem que envolveu-se muito com os problemas sociais e políticos. Seu pensamento político é sempre articulado a partir de uma perspectiva quase inteiramente teológica. Lutero via o seu pensamento político como uma novidade no seu tempo. Escrevendo em sua obra Sobre a Guerra Contra os Turcos (1529), Lutero disse: "Ninguém havia ensinado, ninguém havia ouvido, e ninguém sabia nada a respeito do governo temporal desde que ele veio, ou quais foram seu ofício e obra, ou como ele deveria servir a Deus."8 Combatendo o sistema político papal vigente na Idade Média, Lutero insurgiu-se contra a idéia de que o poder espiritual é superior ao temporal. Havia a distinção entre a hierarquia e o laicato. A primeira não podia ser disciplinada pela segunda. Portanto, o poder temporal não possuia força sobre 5 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] o poder eclesial. No entanto, Lutero afirmava que os ímpios poderiam ser punidos pela autoridade temporal, inclusive os clérigos. Lutero procurou demolir os princípios medievais da monarquia e da hierarquia nas instituições eclesiásticas. Contudo, também é acusado por alguns de passividade diante da opressão do poder religioso e temporal, especialmente em sua obra Exortação à Paz (1525) em que trata da guerra dos camponeses.9 Lutero abomina a idéia de revolta contra as autoridades prepotentes. Não nos esqueçamos, todavia, de que sua visão da política tem sempre uma conotação teológica antes que econômica ou social. Seu ponto de vista baseia-se primariamente no princípio da autoridade ensinada em Romanos 13. Lutero temia a rebelião e a anarquia porque significavam a quebra da lei da obediência que, por sua vez, causava os horrores da guerra, e isso era uma blasfêmia contra o nome de Deus. Por causa dessa revolta, os camponeses deveriam ser punidos. Segundo o entendimento de Lutero, a Escritura ensinava a não-resistência. Nunca a espada deveria ser usada. Calvino teve uma perspectiva relativamente diferente com respeito à política e ao envolvimento social. Ele teve muitas de suas idéias calcadas nos ensinos de Agostinho, inclusive as relacionadas com o pensamento político. Deus era o Senhor e a Escritura a única regra de fé para uma nação. João Calvino foi o mais político dos reformadores, porque a sua visão de Reforma não era simplesmente a dos indivíduos, mas também da igreja e da sociedade. Calvino é um dos teólogos cristãos que melhor estabeleceram o dever e o direito de resistência ao Estado. Em qualquer regime político, os cristãos devem opor-se com vigor às exigências do Estado cada vez que estas sejam contrárias à vontade de Deus. Esse direito de resistência, mui tipicamente calvinista, não está em contradição com o imperioso dever cristão de obediência às autoridades. Ao contrário, expressa o limite necessário desse dever. De fato, em todo o tempo e em qualquer circunstância, o cristão tem um só mestre, que é Jesus Cristo. A obediência parcial que se deve aos senhores humanos... é só uma obediência derivada, condicional e sempre subordinada à única autoridade absoluta: a de Jesus Cristo."10 Esse espírito da filosofia de Calvino atravessou o Canal da Mancha e entrou na Escócia através de John Knox, que foi um dos inspiradores do puritanismo na Inglaterra. Knox, ao contrário de Lutero, não escudou-se na Escritura para ficar silencioso diante das injustiças da sua rainha. Ele desafiou-a publicamente com todo o vigor da sua fé calvinista. Ele cria que os governos eram uma instituição divina, mas também cria que havia um senso de justiça que tinha que ser implantado no seu país. E a justiça deveria começar com a rainha da Escócia. Por essa razão, na luta pela implantação dos princípios do reino de Deus, os discípulos de Knox, dentro do Parlamento, aprovavam a execução da soberana (a rainha) em nome do Soberano (Deus). O puritanismo, além de outras ênfases, tentou trazer para a Inglaterra um despertamento geral que envolvesse as autoridades do país. Os puritanos tentaram restaurar os padrões de culto e de política dos tempos bíblicos. Escorraçados por causa da sua fé e do seu pensamento político, alguns deles fugiram para a América do Norte, a partir de 1620.11 Aportaram ali e tentaram implantar uma sociedade nos moldes dos tempos do Antigo Testamento. Deus era o Senhor da terra e de todas as outras atividades. Procuraram basear a sua sociedade nos padrões de um regime teocrático. A lei de Deus era a lei do povo. Eles nunca entenderam que a vox populi era a vox Dei. Ao contrário, as leis morais do povo deveriam estar baseadas na Santa Escritura, sendo provindas de Deus. A voz de Deus é que deveria ser ouvida na Nova Inglaterra. O que não conseguiram na terra de origem, estavam tentando implantar na terra que os adotava. Mas a sua tentativa não teve pleno êxito. De qualquer forma, os reformados (os de origem puritana) têm tido uma atitude diferente, pelo menos em teoria, da dos anabatistas e dos luteranos. Os cristãos, segundo os calvinistas, devem estar engajados na vida política do país. Eles têm crido que embora todas as pessoas sejam depravadas e que o pecado permeie todas as ações humanas, Deus é soberano sobre a atividade cultural humana. Deus está construindo um reino sobre a terra, e os cristãos devem responder obedientemente às normas de Deus, e servi-lo em todas as áreas da vida, incluindo a política.12 De acordo com os princípios éticos da fé reformada, o cristão deve lutar para reestruturar a sociedade onde vive, moldando-a de acordo com os padrões estabelecidos na Palavra de Deus. II. Uma Visão Teológica 6 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] É curioso como a posição teológica de um cristão, especialmente no seu aspecto escatológico, pode determinar, mais do que se imagina, o seu envolvimento político e social. Mesmo que não tenha havido um debate acirrado entre as várias posições escatológicas até o século XIX, pode se perceber que a escatologia sempre esteve presente na vida dos cristãos e os influenciou na maneira de se portarem como seres políticos e sociais. Se as pessoas não conseguem enxergar isso no passado, por nem sempre terem um bom conhecimento histórico, não é difícil verificar essa ênfase na igreja contemporânea. O envolvimento político e social do cristão, pelo menos na igreja contemporânea, pode estar (e freqüentemente está) diretamente vinculado à sua posição escatológica e mais especificamente à sua idéia do reino de Deus. Norman Geisler acertadamente diz: A diferença crucial dos pontos-de-vista acerca do envolvimento cristão na arena política está mais intimamente associada com a concepção de como alguém relaciona o presente Reino de Deus com o futuro Reino do que propriamente com a tradição eclesiástica. E a linha de demarcação mais clara no relacionamento dos reinos presente e futuro está entre as posições pré-milenista e pós-milenista.13 As posições escatológicas mais envolvidas nessa questão de governo, lei e autoridade são o prémilenismo e o pós-milenismo, segundo alguns autores cristãos. Entretanto, como veremos neste trabalho, o amilenismo tem uma posição extremamente equilibrada e uma visão destacadamente diferente das demais com relação ao reino de Deus. Na verdade, a idéia de reino, em todas as posições escatológicas, tem determinado o envolvimento social e político dos cristãos. Há três posições básicas com respeito ao envolvimento dos cristãos na política: acomodação, separação e transformação. Os amilenistas e alguns círculos do pré-milenismo histórico são mais tendentes à primeira posição. Em linhas gerais, eles são favoráveis ao pluralismo de idéias. Via de regra, embora não de modo absoluto, os pré-milenistas (especialmente os dispensacionalistas) adotam a segunda posição. Os proponentes dessa teologia estão dispostos a sofrer algumas críticas da parte dos pluralistas políticos por absterem-se de participar da política do país. Os pós-milenistas em geral (especialmente os teonomistas) aceitam a terceira posição básica. Eles querem uma transformação da sociedade através da política, seguindo as regras divinas para o Estado, estabelecidas em linhas gerais na Escritura. Nesse sentido, eles são herdeiros um pouco mais próximos dos puritanos do que os próprios amilenistas. O seu pensamento chega ao ponto da reimplantação da teocracia (segundo alguns círculos pós-milenistas a que tanto combatem), como é o caso de alguns teonomistas mais exacerbados. Analisemos as posições separadamente, seguindo a ordem inversa da análise acima: A. Os Pós-Milenistas e o Envolvimento Político-Social Os pós-milenistas históricos sempre creram na transformação da sociedade. Para que isso venha a acontecer, os presentes sistemas políticos precisam ser substituídos. Os pós-milenistas aceitam conviver com o pluralismo político (porque não há outra alternativa) até que haja uma maioria de cristãos votantes aptos para mudar esta ordem vigente. Essa concepção é oriunda do conceito de que o reino milenar de Cristo será estabelecido antes da volta do Senhor. Os pós-milenistas crêem que a igreja deve introduzir o reino milenar, mas que esse reino deve ser implantado neste mundo, que será, então, submisso à Palavra de Deus, o que resultará num longo período de paz, quando, então, Cristo voltará. Contudo, esse otimismo dos pós-milenistas históricos (defendido por alguns teólogos reformados do século passado) caiu por terra depois das duas grandes guerras mundiais. Poucos expoentes evangélicos o sustentam hoje nos moldes em que foi sustentado no passado. Contudo, nas últimas décadas surgiu nos Estados Unidos uma nova corrente de pós-milenismo dentro de grupos reformados (com adeptos em outros grupos) que está colocando uma nova ênfase na necessidade do estabelecimento do reino de Deus aqui na terra sob a égide da Palavra de Deus, normalmente conhecidos como reconstrucionistas ou teonomistas. Eles estão revivendo o pós-milenismo, mas com conotações um pouco diferentes do pós-milenismo histórico. Por essa razão, eles são também chamados de neo-pós-milenistas.14 1. O Pós-Milenismo e o Governo Civil Os teonomistas-reconstrucionistas, que são americanos em sua grande maioria, crêem que os cristãos têm que estabelecer um governo cristão no mundo, a começar dos Estados Unidos, que, segundo eles, teve no passado essa característica. Eles querem resgatar o que foi perdido porque pensam que os 7 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Estados Unidos têm um papel importante na vida religiosa do mundo. Nesse sentido eles são chamados reconstrucionistas. A questão básica dos teonomistas nesta área é ética. As grandes perguntas são: Que padrões são usados para se determinar o que é certo e o que é errado? Qual é o nosso padrão de comportamento? Como fazemos decisões éticas em nossas vidas pessoais? Como devemos tratar nossas esposas, nossos filhos, nossos vizinhos, nossos patrões e empregados? Como devemos proceder em nossos negócios? A resposta básica de todos os crentes a essas perguntas é: a Escritura. Se as perguntas continuassem: Como deve portar-se a justiça civil? Muitos hesitariam em responder a esta pergunta, dizendo que a justiça civil deve ser basicamente orientada pela Escritura. Quase ninguém enfatiza a Escritura como sendo a regra para os padrões do governo civil. A razão para isso, segundo Gary DeMar, "não é porque cremos que a política seja a coisa mais importante, mas porque esta é a área onde muitos cristãos se tornam confusos e inconsistentes."15 Todos os teonomistas dizem estar retornando ao calvinismo de Calvino e ao das confissões reformadas no que diz respeito aos conceitos de sociedade, política e governo civil. A luta dos teonomistas é contra o pluralismo e o secularismo que estão regendo os conceitos de governo civil no mundo, inclusive dentro de círculos reformados. Eles querem trazer de volta a herança calvinista e reformada nessas matérias. Greg Bahnsen diz que os padrões e a agenda política dos cristãos não são estabelecidos pelos grandes conhecimentos dos não-regenerados que desejam pôr de quarentena os valores religiosos (e, dessa forma, os ensinos de Jesus Cristo falando na Escritura), para que não haja tomada de decisões no processo da política pública.16 Os teonomistas são a favor da idéia de que os nossos padrões morais políticos devem ser retirados da Escritura, ao contrário dos preceitos dos que defendem o pluralismo. Gary DeMar pergunta: Se não usamos a Bíblia como nosso padrão de justiça civil, o que, então, usaremos? Não podemos fazer nosso apelo final à razão, porque nossas mentes estão contaminadas pelos efeitos do pecado. Não podemos fazer o nosso apelo final à maioria, porque a maioria freqüentemente decreta leis que se perpetuam em interesse próprio. Nem podemos fazer nosso apelo final à elite, porque ela também está inclinada ao erro e ao pecado. Se queremos agradar a Deus em nossa ação política, precisamos ser obedientes à sua Palavra.17 Segundo os teonomistas, os conceitos básicos de política e governo civil estão afirmados claramente na Escritura. A Palavra de Deus é ainda relevante para que os cristãos sejam norteados quanto ao governo civil. Para provar seu ponto de vista, eles citam textos da Escritura como Sl 119.160: "As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre" (ver também Is 40.8; 45.19; Jo 17.17; Dt 4.2; Mt 5.18-19). Todos esses textos falam da perenidade e da atual validade da Palavra de Deus. Ela é ainda relevante para a sociedade contemporânea como um todo, e não somente para os cristãos individualmente nas coisas espirituais. Ainda segundo os teonomistas, todas as coisas, inclusive o governo civil e a política, devem estar presas à lei de Cristo. Eles aplicam a isso o ensino de Paulo, dizendo que todo o pensamento dos homens deve ser trazido cativo à obediência de Cristo (2 Co 10.5), "em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos" (Cl 2.3), e que os cristãos devem estar "prontos para punir toda desobediência" (2 Co 10.6). Com isso eles querem dizer que o mundo deve estar sob a lei de Deus em todos os aspectos. DeMar ainda questiona: A menos que afirmemos uma esfera de neutralidade na qual Deus não é o Senhor e Rei, então a afirmação de Paulo [em 2 Tm 3.16-17] implica que a Bíblia é útil para o cristão em seu dever político e social, assim como ela é útil para a sua vida de devoção ao Senhor. As leis são úteis para os pais cristãos, para os empresários cristãos, para o ministro cristão e para o estadista cristão.18 A razão desse posicionamento é que não há para eles a dicotomia entre o que é sagrado e o que é secular. Um grande expoente da teonomia diz que "os santos devem preparar-se para tomar os governos do mundo e seus tribunais."19 Democracia. Os teonomistas são, em geral, contra o princípio democrático, que eles consideram anticristão, pois leva as pessoas a escolherem livremente os seus governantes, e assim a vontade de Deus nunca é feita. Rushdoony diz que "o cristianismo sobrenatural é básica e radicalmente anti- 8 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] democrático."20 O posicionamento teonomista sobre política chega ao ponto de negar a legitimidade do conceito de democracia. Rodney Clapp escreveu um artigo em Christianity Today intitulado "A Democracia como Heresia."21 Ao invés da democracia (o governo do povo), todos os teonomistas preferem a teocracia (o governo de Deus). Gary North faz a seguinte pergunta: "Como pode um calvinista, que afirma a soberania de Deus sobre todos os aspectos da história, negar a existência da teocracia?"22 Contudo, nem todos os teonomistas vão tão longe como Rushdoony.23 2. O Pós-Milenismo e a Implantação da Ética Civil Os cristãos precisam entender, segundo os teonomistas, que o mundo deve estar sob um código ético baseado nas leis de Deus. Existe uma continuidade entre o Antigo e o Novo Testamentos em termos de moralidade, porque Cristo confirmou todos os "iotas" e os "tils" da lei. Isso significa que o estado deve basear seu código ético na Bíblia. Segundo os pós-milenistas, "a doutrina do estado apresentada por Paulo em Romanos 13 é uma reafirmação da concepção do Antigo Testamento acerca do magistrado civil."24 Como conseqüência, eles crêem que a pena capital para crimes capitais, como o homossexualismo, por exemplo, é algo necessário. Greg Bahnsen crê que o pluralismo "não é fiel à Escritura, e nem mesmo logicamente convincente"25 em termos éticos. Segundo o pensamento teonomista, a Escritura exige que todos os reis e juízes da terra "sirvam a Iavé" especificamente (Sl 2.10-11). Por essa razão, os reis da terra devem servir-se da Palavra de Deus para a aplicação das penalidades aos faltosos. Bahnsen diz que o pluralismo26 não é somente moralmente errado, mas é logicamente impossível. Quando uma filosofia religiosa exige a pena de morte para um assassino, e outra filosofia religiosa proíbe a pena de morte para o assassino, o Estado não pode concebivelmente dar "proteção igual" a ambos os pontos de vista; se executa o assassino ou não, o Estado terá violado uma das convicções religiosas em competição, nunca honrando ambas igualmente.27 De acordo com o pensamento dos teonomistas, a ética civil que deve ser implantada pelos governos deve ter como base a revelação especial de Deus, ou seja, a Bíblia. É impossível, portanto, que um cristão seja um "pluralista" em termos religiosos. Jesus disse: "Quem não é por mim, é contra mim" (Mt 12.30). Não há meio termo, não há outra lei ético-civil. Ou se está do lado de Deus ou contra ele. Bahnsen diz que, como fiéis discípulos do Senhor, "devemos exortar o estado a basear suas ações e políticas sobre a única perspectiva moral sadia, a única revelada por Cristo, que é contra o pluralismo — e não em misturas de atitudes e concepções religiosas."28 3. O Pós-Milenismo e o Monismo (Não-Pluralismo) Religioso Greg Bahnsen, um dos formuladores da teonomia, em seu livro Theonomy in Christian Ethics, defende a idéia de que as leis de Deus devem ser a base para a formulação das leis civis. Isso é uma oposição clara ao conceito vigente do pluralismo religioso. Os reconstrucionistas são inveteradamente contra o pensamento do pluralismo que "tem vindo a significar que tudo é aceitável. O novo conceito de pluralismo de repente está em toda parte. Não há nada certo ou errado; é apenas uma questão de preferência pessoal."30 Os pós-milenistas teonomistas sentem-se altamente desconfortáveis com a multiplicidade de religiões e éticas no mundo. Segundo eles, deveria haver somente uma religião no mundo, a cristã, e todo o mundo deveria estar debaixo dos preceitos estabelecidos na Bíblia. Essa é a meta final dos pós-milenistas que querem implantar o reino de Deus aqui na terra, onde todos estejam debaixo do seu domínio absoluto. Eles condescendem com a idéia de haver pessoas não cristãs vivendo ao lado dos cristãos, mas todos submissos à lei prescrita na Palavra de Deus. Essa posição leva a uma intolerância religiosa que pode ser perigosa para os cristãos, quando aplicada num lugar onde eles são uma pequena minoria. Segundo os teonomistas, os Dez Mandamentos devem ser o código de lei civil para todas as pessoas do mundo. Contudo, essa idéia é impossível de ser implantada se a liberdade da pluralidade religiosa é permitida. O primeiro mandamento diz: "Não terás outros deuses diante de mim." Isso implica em uma única religião e na proibição de outros deuses e religiões não cristãs. Os pós-milenistas insistem em que os cristãos devem lutar contra o pluralismo religioso incentivado pelos pré-milenistas. Nada de pluralismo religioso! Esta é uma das grandes diferenças entre pós-milenismo e pré-milenismo em matéria de governo civil. 9 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] B. O Perigo do Neo-Pós-Milenismo O otimismo vigente entre os teonomistas, também chamados de neo-pós-milenistas, pode redundar em fracasso, como aconteceu com os pós-milenistas históricos depois das duas grandes guerras mundiais. O otimismo do século passado "proporcionou um clima no qual o evangelho social cresceu" dentro do liberalismo teológico.31 Smith observa que "os cristãos evangélicos proporcionaram um exemplo, inspiração e princípios do Evangelho Social...logo depois de 1870".32 Nas mãos de pessoas erradas, esse otimismo escatológico mal orientado pode ser um grande mal, mesmo hoje, podendo dar lugar a movimentos anti-cristãos que procuram desacreditar a seriedade da teologia e da ética dos reformados. A pregação de uma época futura aqui na terra quando todos se curvarão perante a lei de Deus pode levar à falta de uma pregação séria de arrependimento no seio da igreja cristã, mesmo sabendo que os teonomistas não pensam assim. Há muitos que usam de preceitos mal conduzidos para dar vazão à sua ética descomprometida com a Escritura. Historicamente, podemos ver os desapontamentos que um otimismo falso pode trazer. Gary North, um teonomista, reconhece que de fato, o otimismo sozinho é altamente perigoso. Os comunistas têm uma doutrina de vitória inevitável; assim fazem os muçulmanos radicais. Assim fez um grupo de comunistas revolucionários assassinos e polígamos, os anabatistas que capturaram a cidade alemã de Münster de 1525 a 1535, antes de serem militarmente derrotados por forças cristãs. O otimismo nas mãos erradas é uma arma perigosa.33 As falsas esperanças não podem fazer parte da escatologia de um cristianismo que interpreta as Escrituras em sua totalidade. As Escrituras mostram a vitória de Cristo sobre as forças do mal, a evangelização de todas as nações antes do fim, mas nunca um sucesso do cristianismo ao ponto de todas as nações se curvarem obedientemente às leis de Deus. C. Os Pré-Milenistas e o Envolvimento Político-Social Em geral, os pré-milenistas crêem numa espécie de separação dos cristãos do envolvimento político na sociedade. Não há porque lutar politicamente pelo mundo, pois este, afinal de contas, vai terminar num caos. A tônica é a evangelização do mundo. O cristão não tem nada que mudar o mundo na esfera política e social, pois o final da história é visto de maneira extremamente pessimista. Por causa dessa posição, Gary North chama os pré-milenistas de "pessimilenistas."34 Essa visão é devida ao conceito escatológico que eles possuem sobre o reino de Deus. Esse pessimismo é violentamente criticado pelos neo-pós-milenistas que chamam especialmente os dispensacionalistas de "derrotistas sentados numa rodinha esperando pelo arrebatamento."35 Os pré-milenistas, em geral, sustentam uma descontinuidade entre o reino presente e o reino futuro que Cristo vai inaugurar. Portanto, dentro da concepção pré-milenista não há muita identidade entre o presente reino de Deus e a política civil. Esse reino milenar (conforme o pré-milenismo histórico), que será implantado sobrenaturalmente com a descida de Cristo à terra, não tem qualquer conexão com o aspecto presente do reino onde Cristo reina somente nos corações dos crentes. 1. O Pré-Milenismo e o Envolvimento Social Conforme reconhece Geisler, alguns pré-milenistas têm ido a um extremo nas questões políticas e sociais.36 Vários ramos do pré-milenismo ainda seguem algum tipo de idéia nascida com os radicais da Reforma, os anabatistas, que negavam qualquer participação nos problemas da sociedade. O cristão tem que se importar com a salvação do pecador. A ênfase dada por alguns evangelistas pré-milenistas de renome é na "salvação de almas". Essa deve ser a preocupação maior da igreja neste mundo. E essa idéia têm conquistado um lugar nos corações da maioria dos cristãos que possuem formação pré-milenista.37 Essa tendência também é encontrada em muitas igrejas reformadas nas quais o conceito de reino não foi corretamente ensinado. Aliás, a ênfase sobre o aspecto presente do reino de Cristo não é muito familiar a muitos da família reformada. O assunto do reino é uma matéria do futuro para eles, não do presente. O pré-milenista Thomas Ice diz que os "cristãos não estão no reino durante esta época. Sua missão primária é a evangelização, enquanto esperam pela vinda de Cristo ... Eles são motivados pelo evento futuro – o desejo de serem encontrados fiéis quando o dono da casa retornar. O futuro motiva a mordomia do presente."38 Porque 10 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] eles sabem que Cristo voltará vitorioso e porque o fim é somente de caráter pessimista, eles preferem ficar apáticos ao que acontece política e socialmente no mundo. Olham somente para o futuro glorioso. Não há boas perspectivas para o aqui e o agora! Por isso, freqüentemente se alienam dos problemas políticos e sociais do seu tempo. 2. O Pré-Milenismo e o Governo Civil O pré-milenismo não tem dado ênfase ao governo civil porque, na sua teologia, a implantação do reino milenar de Cristo não vem através de um processo político do qual o reino milenar é uma continuação. Portanto, existe dentro do pré-milenismo um conceito bastante pessimista quanto ao problema da política do mundo. Segundo North, os pré-milenistas "negam a possibilidade de uma santificação progressiva do Estado,"39 porque as leis do Estado não são as leis de Deus. A negação do desenvolvimento do Estado leva a um pessimismo escatológico. Os malfeitores do mundo continuarão cada vez piores, conquistando todos os instrumentos de poder. Os pré-milenistas reconhecem que não há nada que a igreja possa fazer. É só esperar que o fim pessimista se manifeste totalmente, até que Jesus ponha um fim à maldade. Por essa razão, no conceito pré-milenista existe uma total descontinuidade entre o "já" e o "ainda não" do reino. Os pré-milenistas insistem que o reino milenar é uma obra sobrenatural que será inaugurada com o advento de Cristo à terra. O único dever dos cristãos é ser luz e sal, fazendo o bem a todos os homens, mas isso não tem nada a ver com a implantação de uma teonomia, isto é, de uma sociedade regida pela lei de Deus. Segundo os pré-milenistas não haverá teocracia até que Cristo volte à terra. Portanto, é inútil todo esforço dos pós-milenistas que lutam para implantar esse reino aqui e agora. Esse reino que os pósmilenistas tentam trazer é um reino humanista em suas raízes, porque é implantado por homens, não pelo evento sobrenatural da vinda de Cristo. Segundo a opinião pré-milenista, os pós-milenistas se esquecem da depravação humana, e tentam promover o reino milenar através de recursos humanos, sem a intervenção sobrenatural, cataclísmica e divina de Cristo. Segundo Geisler, essa idéia "alivia os pré-milenistas de qualquer dever de cristianizar o mundo."40 O governo civil, continuam os pré-milenistas, é ordenado por Deus para todos os homens, não somente para os cristãos. A lei civil não tem base num mandato cristão de evangelizar todas as nações, mas num mandato cultural estabelecido na criação (Gn 1.28). Democracia. Os pré-milenistas são totalmente favoráveis a um regime democrático que lhes permita a proclamação do Evangelho. Ao contrário dos pós-milenistas, que desejam cristianizar as nações, os prémilenistas desejam pregar o evangelho a todas as criaturas, e para isso precisam de governos democráticos que lhes permitam entrar em todos os recantos do mundo. Os pré-milenistas, diversamente dos teonomistas, lutam por um governo civil justo, não necessariamente cristão. 3. O Pré-Milenismo e a Ética Civil Conforme os pré-milenistas, eles não têm qualquer obrigação de fazer com que haja governos civis cristãos com leis cristãs. Os pré-milenistas têm de verificar e evitar que as leis não sejam anti-cristãs. Os não-cristãos, segundo eles, não podem viver debaixo de leis que foram dadas somente para os cristãos. As leis civis devem ser justas, mas não cristãs. Portanto, a ética das pessoas deve refletir a ética sustentada pela revelação natural, não a da revelação especial. Os homens em geral não devem viver debaixo da ética do Antigo Testamento, o que não significa um antinomianismo, segundo Geisler.41 Deus deixou uma lei para os homens em geral seguirem. Essa lei está gravada nos corações e nas consciências dos homens, conforme Romanos 2.14-15. E o governo civil tem suas leis baseadas nessas leis da natureza. A lei civil nunca deve ser baseada na lei moral, mas na lei natural. Isto posto, significa que o homem não tem qualquer obrigação religiosa diante de Deus. Segundo IsaacWatts, "todos os homens, sejam governadores ou governados, devem ter plena liberdade de adorar a Deus do modo especial que suas próprias consciências crêem ser ordenação divina."42 Mas essa "ordenação" está relacionada com a revelação natural, com a luz natural da consciência, ou a luz da razão, que é a vela de Deus dentro de nós, sem qualquer vínculo com a revelação especial. A revelação natural, portanto, oferece base moral para o governo civil. Segundo Geisler, "para Watts a lei moral natural inclui coisas como honestidade, justiça, verdade, gratidão, bondade, honra, e 11 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] fidelidade aos superiores. As leis da natureza também prescrevem deveres pessoais tais como sobriedade, temperança, frugalidade e diligência."43 O homem não precisa conhecer a lei da revelação especial para conhecer e proceder dessa forma. Estas coisas estão impressas na alma humana e fazem parte da constituição natural do homem. Watts, o precursor do pré-milenismo dispensacionalista,44 diz: "O governo civil é uma ordenação divina e designada por Deus segundo a luz da razão. Assim, em si mesmo, o governo é algo necessário neste mundo, e uma instituição moral natural de Deus entre as pessoas de toda sorte de religiões, sejam elas pagãs, turcas ou cristãs, para preservá-las em perfeita paz."45 Dessa forma, Watts evitou o perigo do antinomianismo e do teonomismo. Não é missão do governo estabelecer ou alterar qualquer idéia religiosa em vigor no mundo, assim como não é função das religiões alterar ou impor qualquer coisa sobre o governo civil. Daí, cresceu entre os pré-milenistas o conceito de pluralismo religioso. 4. O Pré-Milenismo e o Pluralismo Religioso O cristianismo deve lutar para que haja bons governos, a fim de que a liberdade possa existir e os vários cultos possam ser livremente manifestos. O esforço dos cristãos não deve ser concentrado no fato de que o cristianismo deva evidenciar uma religião superior, mas o cristianismo deve lutar para que haja igualdade diante da lei para todas as religiões. Nesse sentido, a posição pré-milenista é compatível com a idéia de pluralismo religioso. A implantação do reino de Cristo, quando todos estarão submissos a ele, deve esperar até que ele venha. Até lá, é necessária a tolerância religiosa. Se a lei civil de um país prescreve os Dez Mandamentos para as pessoas, como insiste o teonomismo, então, não há chance para os budistas, xintoístas, espíritas, muçulmanos, entre outros, expressarem sua fé. O trigo e o joio devem crescer juntos até a colheita. Até lá, o pluralismo religioso é uma necessidade indiscutível. Da perspectiva pré-milenista, visto que o governo civil não é baseado na revelação especial de Deus, mas na revelação natural, até a idolatria deve ser permitida, porque o estado não tem nada a ver com as leis de Deus.46 Mas se a Bíblia serve como código de lei civil para todos os povos, não pode haver liberdade religiosa. Desse ponto os pré-milenistas não abrem mão. Geisler resume toda a posição pré-milenista nestas afirmações: Combinando estes dois aspectos da não-teocracia (ou não-teonomismo) e da lei natural, o dispensacionalismo pré-milenista faz uma contribuição singular para o relacionamento dos cristãos com o governo civil. Isso evita por um lado, a necessidade de estabelecer um reino e, por outro lado, evita um fundamento antinomiano para o governo civil. Por negar a base teológica pós-milenista para o governo civil, a posição pré-milenista evita destruir a liberdade religiosa, e por basear o governo civil na lei moral geral de Deus, ela evita destruir qualquer base moral para a sociedade.47 D. Os Amilenistas e o Envolvimento Político-Social O amilenismo possui uma posição de acomodação com respeito ao envolvimento político e social. O milênio não é algo que se passa aqui neste mundo. Portanto, não vai ao extremo do pós-milenismo, que quer reformar o sistema político deste mundo. Os amilenistas simplesmente se adaptam ao sistema político, seja qual for, embora não pactuem com as suas impiedades. Em geral, possuem a tendência de tolerar o pluralismo de pensamento político. Sua posição política reflete o seu pensamento escatológico. O aspecto presente do reino é mais de natureza espiritual, embora se preocupem com as questões sociais e políticas. Contudo, o aspecto presente desse reino não tem exatamente a mesma natureza do seu aspecto futuro. Os amilenistas crêem no aspecto presente do reino de Cristo sobre a igreja em geral, mas que também envolve todas as esferas do universo onde Cristo reina e executa os seus planos. Por essa razão, eles enfatizam a necessidade de bons lares, de escolas e do envolvimento social e político do cristão na implantação e desenvolvimento do reino de Deus. Para o amilenismo existem alguns elementos de continuidade entre o presente aspecto do reino e o seu aspecto futuro. 1. O Amilenismo e o Governo Civil A matéria sobre o governo civil está quase toda exposta na seção sobre "O Amilenismo e o Pluralismo Religioso," encontrado adiante. 12 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Democracia. Em geral os amilenistas convivem muito bem com a democracia, pois crêem que ela permite uma pregação do evangelho sem que haja quaisquer problemas maiores, embora creiam na depravação dos governos humanos. Como veremos abaixo, os amilenistas também convivem com a idéia de que todas as crenças devem ter a sua livre expressão, mesmo que discordem delas veementemente. Somente um governo democrático permite a livre expressão das religiões. Contudo, o amilenista sério, que sustenta a fé reformada, rejeita o pluralismo soteriológico pregado por alguns evangélicos pluralistas. 2. O Amilenismo e a Ética Civil Conforme o pensamento amilenista, a ética civil está indubitavelmente relacionada com a lei natural dada aos homens quando da criação. Ao mesmo tempo, amilenistas que sustentam a fé reformada entendem que o pecado causou um grande dano à natureza espiritual do ser humano. Este, portanto, não mais consegue ser justo, bondoso e respeitador, porque inclusive essas capacidades foram altamente prejudicadas com a Queda. Ele já não consegue refletir a imagem de Deus como no princípio da criação. Por causa da Queda, a justiça original se perdeu, e a consciência tem agora que ser orientada pela lei bíblica. Se as leis civis devem ser elaboradas somente à luz dos recursos da revelação natural, não resta muita esperança para a humanidade, porque o homem não somente não consegue fazer leis que expressem a justiça como também tem sérios problemas para entendê-las e obedecê-las. Os amilenistas reformados devem estar comprometidos com a transformação da sociedade através de leis mais santas e justas, pregando o evangelho redentor que capacite os homens a obedecer essas leis. Não se trata de "utopia", um sonho irrealizável da "era dourada" proclamada por muitos pós-milenistas. Jamais conseguiremos uma sociedade perfeita enquanto o mundo estiver sem a consumação da redenção. Mas isto não elimina o fato de que devemos lutar por uma sociedade melhor. A igreja de Jesus Cristo é a principal agência do reino de Deus e, fazendo assim, promoverá o reino que está sob a administração do Filho de Deus. A ética social não pode estar baseada únicamente na revelação existente na natureza implantada na criação do homem. A Queda trouxe danos enormes, e a revelação da Escritura deve corrigir o que está errado na ética civil. Muitas leis são injustas porque refletem a consciência do homem (que deveria expressar boas leis), que está corrompida. As leis mais justas para a sociedade em geral são encontradas nos lugares em que o cristianismo exerce a sua ética baseada nos ensinos da Palavra de Deus. Portanto, é função da fé reformada não simplesmente salgar o mundo, mas colocar sobre os homens leis que expressem a vontade de Deus revelada na Escritura. Não estamos falando de teonomia, mas de uma sociedade que possua leis mais conformes à justiça, equidade e retidão prescritas por Deus. A consciência dos legisladores tem que sofrer a preciosa influência da Palavra de Deus para que as pessoas estejam debaixo de leis que reflitam melhor aquilo que originariamente foi impresso na alma humana através das leis da natureza. Por causa da Queda a consciência tem que ser guiada especialmente pelas leis da Escritura. A ética político-social dos cristãos tem que obedecer alguns padrões: a. A ética político-social dos cristãos não pode ser autônoma Eles não podem pensar no Estado como uma ordem independente de Deus, na qual possam legislar sem a aquiescência e a plena aprovação da Palavra de Deus. Se os cristãos se envolvem no sistema político estabelecido, eles têm que mudar as leis injustas pelas regras da Palavra de Deus. Do contrário, tudo ficará no mesmo status quo. Todos os homens são igualmente atingidos pelo pecado de forma que não conseguem formular leis como puderam originalmente. Por essa razão, a participação dos cristãos deve mostrar um padrão ético superior, embora não se deva confundir essas idéias com teonomia, ou seja, o restabelecimento de um estado teocrático. Há que se promover uma ética dependente da revelação especial de Deus, portanto, não autônoma. b. A ética político-social dos cristãos tem que ser heterônoma Isto é, os cristãos devem entender que as leis do Estado valem para todos os cristãos, mas que essas leis não são obrigatórias para os cristãos quando elas ferem sensivelmente os padrões de Deus. As leis não devem ser obedecidas pelos cristãos quando elas contrariam frontalmente o ensino da Palavra de Deus. 13 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] É nesse sentido que João Knox teve, e todos os calvinistas têm hoje, o direito de se insurgir contra as leis injustas, protestando contra o status quo. c. A ética político-social dos cristãos deve ser teonômica Isto não é o mesmo que criar um sociedade em todos os sentidos obrigada a obedecer a todos os preceitos que foram criados para uma sociedade específica do passado, como é o caso de Israel. Contudo, a atitude política das pessoas e a legislação de um país devem, tanto quanto possível, refletir a nomos (Lei) de Deus, como afirmada em sua Palavra. Não é difícil encontrar no mundo muita sabedoria humana a respeito da ordem política que reflita uma ética de autonomia e de heteronomia, mas a ética político-social dos cristãos deve procurar entender as dimensões políticas à luz dos propósitos de Deus para as nações. Como entender essas coisas sem ter um conhecimento aplicado das leis de Deus estatuídas na sua Palavra? A noção de reino de Deus na teologia reformada implica nessa atitude política. É função dos agentes do reino proclamar não somente o Evangelho do reino, mas fazer com que o mundo compreenda as regras do reino. O reino de Cristo não é algo que acontecerá somente no futuro. Ele está presente aqui e agora através do cumprimento dos propósitos decretivos de Cristo e da obra dos seus súditos, agindo no território do reino, que é o mundo. Satanás está por detrás das leis injustas implantadas pelos homens. A função dos súditos do Rei Jesus é alterar ou, no mínimo, melhorar as leis já estabelecidas. E como melhorá-las a não ser pela luz da Palavra de Deus? 3. O Amilenismo e o Pluralismo Religioso48 Seria ideal que todos os governos civis tivessem suas leis baseadas na Escritura Sagrada para o bemestar dos povos, mas essa não é a experiência que temos hoje. Diante desse dilema, pergunta-se: O pluralismo religioso é bíblico? É justo que haja a permissão de outras religiões, ou que outras leis que não as de Deus controlem as nossas vidas? É justo que nós, cristãos, vivamos lado a lado com espíritas, budistas, maometanos, e que sejamos governados por leis que não têm nada a ver com a código de leis de Deus? William Barker, um professor do Seminário Westminster que representa um ponto de vista amilenista, tendo o apoio do teonomista-pós-milenista Greg Bahnsen,49 afirma de várias maneiras que o Estado não tem o dever de impor a verdadeira religião: "Na situação do Novo Testamento, debaixo de um regime gentílico, Jesus não esperava que a autoridade civil desse suporte à verdadeira religião."50 Também não é dever do Estado, do poder civil ou de César, "exterminar a religião falsa" ou "fazer cumprir a religião verdadeira."51 Segundo Barker, "a responsabilidade da autoridade civil não é impor a verdadeira fé, mas manter a liberdade."52 É dever do Estado, portanto, "proteger a liberdade de consciência e crença dos não-cristãos debaixo de um governo cristão"53 e, de modo inverso, proteger a liberdade dos cristãos na expressão de sua fé num país onde a maioria não professa o cristianismo.54 Dentro da esfera do Novo Testamento "não será apropriado para a autoridade civil dar suporte à religião verdadeira, como foi no tempo da teocracia do Antigo Testamento,"55 mas proteger a livre expressão da fé de quem quer que seja. Barker é favorável à distinção das duas tábuas da lei que prescrevem mandamentos com relação aos homens (Estado) e a Deus. Essa distinção parece ser bastante importante e define sua defesa de um pluralismo religioso dentro da imparcialidade religiosa do Estado. Este deve estar preocupado com as relações humanas, enquanto que a igreja deve estar diretamente ocupada com o relacionamento com Deus. "Deus ordenou que a autoridade civil funcionasse na área do segundo grande mandamento, isto é, o das relações humanas,"56 mas a autoridade civil não tem nada que dizer sobre a nossa relação com Deus. Cabe a ela apenas dar ao religioso o apoio de que ele precisa para expressar a sua fé. Quando Jesus foi questionado a respeito de pagar tributo a César ou não, sua resposta foi: "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". A intenção da resposta de Jesus foi dupla: com relação à autoridade civil e à divina. Barker diz que a intenção de Jesus para a autoridade civil é aplicar a lei de Deus na área das relações humanas para as quais Deus a ordenou. Na área de nosso relacionamento com Deus, não somente é ilegítimo para o estado impor a sua falsa religião sobre nós ("Dar a Deus as coisas que são de Deus"), como também não 14 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] é função própria do estado fazer cumprir a religião ("Tragam-me um denário para que eu o veja") — mesmo que seja a verdadeira fé e o verdadeiro culto.57 Concluindo, podemos dizer que Barker, como um amilenista, aceita a possibilidade de um pluralismo religioso pela devida distinção dos deveres do Estado com relação ao segundo grande mandamento. Quanto ao primeiro e grande mandamento, o Estado nada tem a dizer, apenas dar apoio ao crente para expressar a sua fé. "O que nós pedimos do governo civil é que ele não se oponha a Cristo, mas sirva ao Senhor por seguir sua lei na área das relações humanas, e permita ao seu povo a liberdade de pregar o Evangelho."58 Esse é o pluralismo bíblico segundo o amilenista William Barker. Algumas Conclusões Analisadas essas três posições escatológicas com respeito ao reino de Deus, há algumas observações que podem ser úteis para a igreja cristã contemporânea em sua atitude de envolvimento político e social, especialmente no Brasil. A. Há alguns impedimentos ao envolvimento político sadio dos cristãos brasileiros em geral Dentro do contexto do nosso país, há duas fraquezas no envolvimento dos cristãos brasileiros, nos mais variados postos políticos, sejam quais forem as posições escatológicas esposadas: 1. Eles representam diversas correntes políticas, com os programas políticos mais contrastantes possíveis. Eles defendem desde um capitalismo forte até um socialismo de esquerda, e muitas outras posições medianas entre esses extremos. Eles não conseguem se encaixar no mesmo esquema político. A política, portanto, não os une. 2. A grande maioria dos envolvidos politicamente no Brasil não possui uma cosmovisão bíblica consistente, que seja capaz de guiá-los nas decisões políticas que enfrentam. As suas decisões são mais partidárias, e até pessoais, do que embasadas devidamente numa sadia cosmovisão bíblica. São guiados mais por preferências e filosofias religiosas sectaristas do que por um senso de que são agentes para a expansão da ética e dos valores do reino de Deus. Essa fraqueza dos evangélicos engajados na política tem dificultado o entendimento da importância do envolvimento político e social dos cristãos em geral. Estes geralmente confundem política com sujeira e corrupção. Vários políticos da bancada evangélica não têm contribuído para a diminuição desse estigma. B. Há a necessidade de um entendimento verdadeiro da tarefa política e social dos cristãos Espera-se que os ministros, os estudantes de teologia e os cristãos instruídos aprendam da Escritura sobre a importância do envolvimento político e social, para que sejam todos "sal da terra e luz no mundo," e para levedar a massa apodrecida de uma sociedade destituída dos verdadeiros valores éticos e morais, porque lhe têm faltado os genuínos valores espirituais. Segundo Paulo, essa sociedade é pervertida e corrupta. Justamente por isso temos que ser luzeiros no mundo (Fp 2.15). Uma das maneiras mais eficazes de ser luz é exatamente o envolvimento que se evidencia na participação social e política no meio de nossa comunidade. Para isso, temos que, após as atividades de igreja adoradora, tentar levedar essa massa corrompida com o fermento da retidão. Não podemos esquecer a influência exercida na formação de alguns países por uma sadia teologia e ética reformada. Por séculos, a Suíça (especialmente a Genebra de Calvino) e outros países de formação evangélica receberam uma influência benéfica dos cristãos em seu envolvimento social e político. Esses países recentemente têm perdido essa influência porque as igrejas, outrora fortes, abandonaram a verdadeira fé reformada. Com esse abandono, só resta um leve sabor da influência antiga dessa fé, que ainda pode ser percebido. Contudo, mesmo havendo diferenças quanto à política dentro dos círculos reformados, há algumas coisas que são compartilhadas por todos os que professam o calvinismo: C. Há duas convicções que todos os reformados possuem em comum em relação ao envolvimento político e social 1. Eles possuem a convicção de que a Escritura é a Palavra normativa de Deus. Os cristãos crêem que a Escritura tem normas para todas as áreas gerais e básicas da vida, incluindo política e governo. Embora a Escritura não tenha nenhuma preferência por partidos ou opiniões políticas que conhecemos, ela dá princípios gerais que norteiam a vida das nações e dos indivíduos. Ela tem uma palavra para os 15 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] que estão em autoridade e para os que estão sob autoridade. Isso significa que o assunto política e governo não é uma coisa criada por homens, mas algo que nasceu na mente divina. Ter uma atividade e pensamento político, portanto, é refletir, em alguma medida, a mente de Deus, se o que seguimos está direta ou indiretamente ensinado na Escritura. 2. Eles crêem que possuem um mandato cultural no mundo. Os cristãos não são chamados simplesmente para anunciar a salvação dos pecadores, mas também para tornar melhor a vida dos homens com os quais vivem. Eles são chamados para subjugar a terra e governá-la em nome de Deus, com a verdade de Deus, tendo domínio sobre todas as esferas da vida. Os cristãos são chamados para se envolver diretamente com o mundo, para tentar impor as regras e os padrões de Deus. O reino de Deus diz respeito a todas as atividades de uma nação, não simplesmente à instituição chamada igreja. A ação do cristão está vinculada à família, casamento, educação, trabalho, diversão, lazer, literatura, etc. O reino de Deus abarca todas essas coisas. Cristo Jesus morreu na cruz não somente para salvar pecadores, mas o alvo final de sua obra é restaurar todas as coisas, e pôr tudo em harmonia com os padrões de Deus. Tudo tem que estar diretamente relacionado e harmonizado com o Senhor de todas as coisas! Tudo tem que estar cativo a Jesus! Essa é a redenção completa do cosmos. Sabemos que isto só se dará completamente quando da consumação da redenção, mas é algo que já podemos começar a implantar, pois esse é o nosso dever enquanto vivemos nas presentes condições. 1 Gary Scott Smith, God and Politics (Nova Jersey: Presbyterian and Reformed, 1989), 1. Minha tradução. 2 Ibid., 2. 3 Ibid., 1. Minha tradução. 4 J.M. Porter, ed., Luther: Selected Political Writings (Filadélfia: Fortress Press, 1974), 1. Minha tradução. 5 Ibid. 6 Reinhold Niebuhr, Christian Realism and Political Problems (Nova York: Scribner’s, 1953), 127. 7 J. W. Allen, A History of Political Thought in the Sixteenth Century (Londres: Methuen, 1928), 16. 8 Martin Luther, "On War Against the Turk," em Porter, Luther: Selected Political Writings, 122. 9 Conquanto Lutero fosse simpático aos sofrimentos dos camponeses, ele entendia que a revolta deles era incompatível com a doutrina cristã. Os camponeses eram culpados, na mente de Lutero, especialmente porque identificavam a sua causa com o evangelho e com Cristo. Em outras palavras, os dois reinos, o do poder espiritual e o do temporal, foram unidos pelos camponeses. E essas duas coisas não poderiam ser ligadas. Na visão de Lutero, o reino de Deus é espiritual e não é dependente da estrutura do sistema político. 10 Andre Biéler, El Humanismo Social de Calvino (Buenos Aires: Editorial Escaton,1973), 25-26. Minha tradução. 11 G. S. Smith diz que desde que os puritanos aportaram na terra que veio a ser chamada de Nova Inglaterra, até o tempo da revolução americana, cerca de 80% dos protestantes dessa região eram adeptos da teologia reformada, de mentalidade puritana (God and Politics, 4). 12 Smith, God and Politics, 2. Minha tradução. 13 Norman L. Geisler, "A Premillennial View of Law and Government," em The Best in Theology, ed. J. I. Packer, vol. 1 (Carol Stream, Illinois), 253. Minha tradução. 14 Ver o artigo de Thomas D. Ice, "An Evaluation of Theonomic Neopostmillennialism," Bibliotheca Sacra (Julho-Setembro 1988), 288. 15 Gary DeMar, Debate Over Christian Reconstruction (Texas: Dominion Press, 1988), 19. Minha tradução. 16 Greg Bahnsen, "The Theonomic Position," em God and Politics, ed. Gary Scott Smith (Nova Jersey: Presbyterian and Reformed, 1989), 22. Minha tradução. 17 DeMar, Debate, 19. Minha tradução. 18 DeMar, Debate, 20. Minha tradução. 19 Rousas J. Rushdoony, "Government and the Christian," The Rutherford Institute (Julho-Agosto 1984), 7. 16 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] 20 Rousas J. Rushdoony, The Messianic Character of American Education (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1963), 157. 21 Rodney Clapp, "Democracy as Heresy," Christianity Today (20 Fevereiro 1987), 22. 22 Gary North, Political Polytheism: The Myth of Pluralism (Tyler, Texas: Institute for Christian Economics, 1989), 207. 23 Ver Smith, God and Politics, 53 e 63. 24 Greg L. Bahnsen, Theonomy in Christian Ethics, 2ª ed. (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1984), 398. 25 Greg L. Bahnsen, No Other Standard (Tyler, Texas: Institute for Christian Economics, 1991), 192. 26 "A posição pluralista sustenta que o estado deve honrar e igualmente proteger as diferenças filosóficas substanciais entre todas as perspectivas religiosas ou ‘comunidades da fé,’ por refreá-las de ações estatais ou legislação sobre qualquer uma delas, ao invés da pluralidade delas. Conseqüentemente, a lei de Deus revelada na Escritura (Antigo e Novo Testamentos) deve ser rejeitada como a autoridade moral sobre a qual o estado fundamenta suas ações e por meio da qual o estado, como uma instituição pluralista, é guiado." Bahnsen, No Other Standard, 191-92. 27 Ibid., 192. Minha tradução. 28 Ibid., 192-93. Minha tradução. 29 Ver nota 24. 30 Citado por North, Political Polytheism, 190. Minha tradução. 31 Ice, "Evaluation of Theonomic Neopostmillennialism," 289. 32 Gary Scott Smith, "The Men and Religion Forward Movement of 1911-12," Westminster Theological Journal 49 (Primavera 1987), 92-93. 33 Gary North, citado em Ice, "Evaluation of Theonomic Neopostmillennialism," 289. Minha tradução. 34 North, Political Polytheism, 208. 35 Gary North, "Optmistic Corpses," em Backward, Christian Soldiers? (Tyler, Texas: Institute for Christian Economics, 1984), 231-32. 36 Geisler, "Premillennial View," 256. 37 É justo observar, contudo, que muitos pré-milenistas atuais têm dado maior ênfase aos problemas sociais, e têm tentado trabalhar para o bem-estar da comunidade como parte de seu ministério cristão. 38 Ice, "Evaluation of Theonomic Neopostmillennialism," 299. Minha tradução. 39 North, Polytical Politheism, 208. 40 Geisler, "Premillennial View," 258. 41 Ibid., 259. 42 Isaac Watts, The Works of the Rev. Isaac Watts, 3:343. 43 Geisler, "Premillennial View," 260. 44 Ibid., 254. "Ele esboçou seis dispensações e um milênio que correspondem exatamente àqueles mencionados na Bíblia de Scofield." (Ibid.) 45 Isaac Watts, The Works of the Rev. Isaac Watts, 3:330. 46 Criticando o pluralismo religioso que diz que as leis do governo civil são baseadas na revelação natural, Bahnsen lembra que "a revelação natural inclui as obrigações morais contidas na primeira tábua do Decálogo (nosso dever para com Deus), assim como contém aquelas da segunda tábua. Paulo ensinou que a revelação natural condenou o mundo pagão por deixar de glorificar a Deus apropriadamente, por adorar de maneira idólatra e por servir à criatura ao invés do Criador." (Bahnsen, No Other Standard, 206) 47 Geisler, "Premillennial View," 261. 48 Por "pluralismo religioso" entenda-se neste artigo a aceitação da multiplicidade de religiões num determinado país, sem que se aceite que elas contenham verdades salvadoras. O pluralismo soteriológico do pós-modernismo pregado por alguns cristãos é veementemente condenado dentro dos círculos amilenistas de cristãos genuinamente reformados. 49 Bahnsen, No Other Standards, 201-202. 17 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] 50 William S. Barker, "Theonomy, Pluralism and the Bible," em Theonomy — A Reformed Critique, Will Barker e Robert Godfrey, eds. (Grand Rapids: Academie Books, 1990), 236. 51 Ibid., 241. 52 Ibid., 233. 53 Ibid., 239. 54 Ibid., 237, 239. 55 Ibid., 237. 56 Ibid., 233. 57 Ibid., 237-38. (Ver a crítica da interpretação de Barker do texto de Mateus 22.15-22 feita por Bahnsen em No Other Standard, 202-205). 58 Barker, Theonomy, Pluralism and the Bible, 241. Fonte: Revista Fides Reformata NÓS TAMBÉM RESSUCITAREMOS ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br 1Coríntios 15 1. INTRODUÇÃO Precisamos começar nosso estudo sobre a escatologia confessando nossa ignorância. Nós sabemos muito pouco, mas sabemos o mais importante: nosso futuro está guardado no Livro da Vida, escrito por Deus. 2. VIVENDO EM FUNÇÃO DA RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO Os versos 3 e 4, complementados pelos versos 5 a 8, formam uma síntese do Evangelho. Foi este o conteúdo que Paulo recebeu e transmitia. (Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras; que apareceu a Cefas, e depois aos doze; depois apareceu a mais de 500 irmãos duma vez, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos; e por derradeiro de todos apareceu também a mim, como a um abortivo. 2.1. A narrativa da ressurreição Este é o Evangelho que nós recebemos e devemos transmitir. Por isto, precisamos começar falando do fato da ressurreição de Jesus e o faremos primeiramente de forma poética. ELOGIO À MULHER O teu olhar para dentro da noite é o olhar de quem busca a vida e não teme o sepulcro. A tua lágrima que salta de dentro é a lágrima de quem perdeu toda a luz que da alegria nasce. A tua visão de dois anjos na noite é a visão de quem enxerga o mistério e ouve a sua voz em meio ao silêncio triste. Soluça, mulher, maria , madalena, que no fundo dos teus olhos dois anjos proclamarão a manhã. Chora, mulher, maria, madalena, que nos intervalos dos teus soluços ouvirás a palavra de quem procuras. 18 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Mulher, reclama o corpo que roubaram. Ladrões, para onde o levaram? Mulher, de quem é esta voz que te olha? De quem é este olhar que te chama? Olha, mulher, e vê que é rosto do homem que querias morto. E agora tu o chamas pelo nome das flores. E agora tu o vês pela imagem das águas antes que ele Deus todo seja e marche para o azul ao encontro deste Pai que se fez filho conosco e se deixou enterrar nas horas das pedras Tu o viste, não entre a reclusão das lápides, nem a respirar a quietude dos troncos tombados, mas a caminhar por entre as pétalas, a ouvir o teu lamento sem luz. Tu o viste, não a anunciar a vitória da noite, nem a chorar a dor por quem partiu para sempre, Mas a proclamar o sorriso suave dos teus lábios, tu que sorriste com ele na mais feliz de todas as madrugadas: quando a rocha se fendeu e ele pôde enxugar da fronte o orvalho que anunciava a sua ressurreição. (Israel Belo de Azevedo) 2.2. O fato da ressurreição (v. 11-11,20) A morte de Jesus é um fato histórico não mais questionado e, junto com ele, o seu sepultamento. No entanto, a sua ressurreição tem sido questionada em sua veracidade histórica e isto não é de hoje. Também, e igualmente não de hoje, tem sido questionada fortemente a possibilidade da ressurreição dos homens no final dos tempos, especialmente pela dificuldade de elas (tanto a de Jesus quanto a dos cristãos) fazerem sentido à luz da razão. 2.2.1. Contestações à ressurreição Quanto à ressurreição de Jesus, os argumentos em contrário, são, entre outros: A falta de documentos extrabíblicos que a registrem; As contradições nas narrativas bíblicas sobre o mesmo fenômeno; A impossibilidade da ressurreição à luz da razão; A natureza não essencial da ressurreição para a fé cristã. Quanto à ressurreição dos mortos em geral, argumenta-se que o fenômeno, tal como aconteceu com a de Cristo, não tem amparo na razão, à qual devem estar subordinados todos os fatos. 2.2.2. Respostas às contestações De fato, não há narrativas extrabíblicas para o fato da ressurreição de Jesus. Não o há também para o nascimento e para a morte de Jesus. A ressurreição é apontada como um fato essencial para a fé. O apóstolo Paulo várias vezes o afirma, deixando bem claro, em Romanos 10.9-10, que a salvação vem pela confissão de Jesus Cristo como Senhor e pela crença de que o Pai ressuscitou Jesus dentre os mortos. Quanto às chamadas contradições, tratam-se antes de narrativas com focos particulares. Cada testemunha narrou segundo a sua perspectiva e segundo o que viu. Aliás, o teórico comunista Karl Kautsky começou a levantar estas contradições para desmascarar o Cristianismo. Sua conclusão, que ajudou a expulsá-lo do Partido Comunista foi outra: se a ressurreição de Jesus fosse uma lenda, as versões seriam previamente combinadas; o fato de guardarem uma subjetividade entre elas é uma evidência que nada foi inventado. Por isto tem razão também outro não cristão, o historiador judeu Pinchas lapide, para quem a ressurreição é a certidão de nascimento do Cristianismo. 19 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Os símbolos cristãos são símbolos da Ressurreição. O que é o batismo? A imersão simboliza a morte para o pecado e a ressurreição para uma nova vida. O que é a Ceia, senão a afirmação da morte de Cristo e sua volta, que só é possível por ter ressuscitado. Não podemos esquecer ainda que parte das testemunhas do túmulo vazio era formada por mulheres. Se a história fosse uma lenda, seus inventores não colocariam essas narrativas nas bocas das mulheres, incapazes, na lógica da época, da falar a verdade e, portanto, indignas de crédito. Que judeu iria crer numa ressurreição testemunhada por mulheres. Há outra evidência interessante. Quanto custou para os primeiros a fé na ressurreição? Além do escárnio, muitos pagaram com a vida. Não seria razoável morreriam por uma lenda. Eles pregaram o Evangelho da Ressurreição como testemunhas. Alguém dirá que Paulo não foi testemunha ocular e, de fato, não o foi. Ele pelo se autodenomina de apóstolo (testemunha) nascido fora do tempo (v.8). Os versículos 3 e 8, especialmente 3 e 4, não são da lavra do Paulo, que afirma tê-los recebido. Quando ele começou a pregar, já pregava segundo as Escrituras, isto é, segundo o que recebera de outras testemunhas. A fé na Ressurreição não foi inventada por Paulo. A fé na Ressurreição não foi inventada por Paulo. Ele creu nela depois que o próprio Jesus lhe apareceu e depois do que aprendeu com os outros cristãos. Se é difícil crer na Ressurreição de Jesus, e o é, porque fruto da fé, é mais difícil ainda crer nas idéias, há muito esposadas, que o corpo dele foi, na verdade, roubado. Os antigos judeus não sustentaram esta farsa diante de José de Arimatéia. Mais recentemente, muitos creram noutro delírio: que ele não ressuscitou, mas se reincarnou. Há gente de provas documentais e racionais para a perspectivas cristã leva pessoas a forjarem teses delirantes, sem qualquer apoio documental contemporâneo e sem qualquer elemento de racionalidade. O problema do crivo racional é tão sério que até mesmo cristãos, como Rudolf Bultmann, no início do século 20, chegaram a considerar como não essencial a ressurreição de Jesus. Ensinava aquele teólogo que o importante era ter a fé que os primeiros cristãos tiveram, pouco importando a historicidade desta fé. 3. A FELICIDADE DA FÉ NA RESSURREIÇÃO Paulo cria na Ressurreição como um fato histórico e deriva o fato da nossa própria ressurreição daquela. É como ele que devemos crer. Ele lembra que a crença na Ressurreição era parte da pregaçào da Igreja. O autor de !Coríntios relaciona esta ressurreição com a nossa. (Se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã a nossa fé, e somos tidos como falsas testemunhas de Deus. (...) Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. (v. 12-19) Sem a fé na Ressurreição de Cristo e sem a esperança em nossa ressurreição no fianl dos tempos, nós somos infelizes. Por que somos infelizes sem a Ressurreição? Somos infelizes porque cremos numa Bíblia que nos ensina uma farsa e nos faz crer numa lenda ou numa alucinação coletiva, mas acontecia em blocos, porque pessoas isoladas e grupos viram Jesus com o corpo glorificado. Somos infelizes porque cremos num Cristianismo, que faz de uma lenda o pilar do seu conteúdo existencial e teológico. Somos infelizes porque abrimos mão da bênção regeneradora da ressurreição (1Pedro 1.3). Sem a ressurreição, o evangelho está incompleto. Sem a ressurreição não podemos ser salvos. Não há poder na mentira. Somos infelizes porque abrimos mão da fé para ficar com a razão, razão que matou Jesus Cristo, razão que foi insuficiente (junto com a Lei) para levar o homem ao reencontro com Deus, razão que não faz nenhum de nós um salvo por Cristo no presente e no futuro. Aliás, o século 20, o século da razão por excelência, é a maior prova da falácia e da insuficiência da razão, pois foi o século com maior número de guerras e de vítimas de toda a história da humanidade. Nós temos esquecido que Cristo ressuscitou. Tem feito pouca diferença em nossas vidas a esperança de que ressuscitaremos. 20 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Como Paulo, precisamos crer na Ressurreição de Jesus, por se tratar de uma das colunas da fé cristã. Mais que crer, precisamos viver como se crêssemos na Ressurreição, porque somos capazes de cantar e declarar que cremos em algo sem viver como se crêssemos. Cristo ressuscitou para que nós pudéssemos ressuscitar -- eis o fundamento de nossa própria esperança. 4. UMA VIDA RADICALMENTE DIFERENTE Na primeira parte do capítulo, o apóstolo Paulo põe todo o seu argumento na certeza da ressurreição de Cristo e dela deriva a esperança da nossa. Precisamos ficar com esta ênfase: se não vamos viver uma vida pós-humana, somos lastimáveis humanos. A ressurreição de Jesus e a nossa não são temas apenas de natureza especulativa, mas de ordem existencial. O argumento da indispensabilidade da ressurreição é repetido nas partes seguintes do mesmo capítulo. Conquanto o apóstolo não detalhe o chronos do que há de vir, oferece-nos uma visão bastante ampla da existência pós-histórica. 4.1. Entre o fanatismo milenista e o fatalismo secularista Os temas relacionados à escatologia têm sido tratados de duas maneiras antitéticas: uma se aproxima da superstição e outra compõe a fila do paganismo. Essas duas tendências são retratadas neste capítulo 15 de 2Coríntios, especificamente nos versículos 29 e 32. 4.1.1. O milênio como superstição No verso 29, o apóstolo Paulo menciona que em Corinto havia cristãos que se batizavam por antepassados mortos. (De outra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos? Se absolutamente os mortos não ressuscitam, por que então se batizam por eles?) Esses cristãos estavam tão certos que Cristo voltaria para aquela geração que, para salvar seus queridos já mortos, lançavam-se às águas do batismo, achando que assim contribuiriam para a remissão dos pecados deles e os preparariam para o juízo final próximo. A propósito, os mórmons, com cujos representantes cruzamos a todo instante pelas ruas da cidade, ensinam, a partir deste versículo, que os cristãos de hoje devem se batizar pelos seus parentes não cristãos para que eles possam ser salvos. É uma espécie de quebra de maldição ao contrário. Esses intérpretes preferem ignorar o fato que, quando Paulo menciona batismo pelos mortos, ele não a recomenda, mas apenas a sua para argumentar o seu absurdo... Além disso, eles se esquecem da verdade bíblica essencial, segundo a qual nós somos julgados quando, em vida, escolhemos aceitar ou recusar o sacrifício de Jesus Cristo por nós. Como diz o evangelista João, quem crê [em Jesus] não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus (João 3.18). O fanatismo coríntio, no entanto, encontrou entre os tessalonicenses outra expressão. Muitos deixaram os seus empregos e suas escolas, certos que a volta iminente de Cristo tornava inúteis o trabalho e o estudo. Ao longo da história, este erro foi várias vezes cometido. Centenas de líderes fanáticos marcaram datas e lugares para a parousia. Todos fracassaram, como fracassarão todos que continuarem a fazê-lo e muitos ainda o farão. Há pessoas que querem saber mais que Jesus, que garantiu que aquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão só o Pai (Mateus 24.36). Devemos, portanto, tomar cuidado com as escatologias calendaristas, aquelas que, olhando os inequívocos sinais da proximidade do fim da história, equivocam-se ao marcar, com certeza, esquemas e datas. 4.1.2. O milênio distante A segunda tendência Paulo a menciona de passagem no versículo 32, quando transcreve um dos argumentos da filosofia epicurista, bastante aceita à época. (Se, como homem, combati em Éfeso com as feras, que me aproveita isso? Se os mortos não são ressuscitados, comamos e bebamos, porque amanhã morreremos.) Contrariamente àqueles que vivem como se o mundo fosse explodir pelos ares ainda hoje, os secularistas de Corinto e de nossa cidade vivem na perspectiva que isto jamais acontecerá ou, se acontecer, está muito distante. Nesta visão, a história não tem um sentido. Sartre, que embalou as duas gerações do pós-guerra, ensinava que a vida não tem sentido; só o presente importa. Epicuro, no 21 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] passado remoto, e Sartre, no passado recente, têm corrompido a nossa teologia prática. Em Corintio e em nossa cidade, as más companhias corrompem os bons costumes (verso 33). Por isto, o apóstolo recomenda: Acordai para a justiça e não pequeis mais; porque alguns ainda não têm conhecimento de Deus; digo-o para vergonha vossa (verso 34). Em outras palavras, quem está neste caminho secularizado deve acordar para a justiça, isto é, para a verdade do Evangelho, e não pecar mais seguindo vergonhosamente teorias e perspectivas contrárias à Palavra de Deus. Para os existencialistas de ontem ou de hoje, Cristo voltará, mas não para esta geração. Logo, o importante é viver o agora. Há cristãos para os quais a parousia não significa nada; é como se não fosse algo relevante, embora haja uma profusão de textos bíblicos a respeito e todo um livro para a descrever, o Apocalipse. O tema da escatologia afugenta a muita gente, por suas dificuldades e pelas muitas discordâncias entre os estudiosos do assunto. Além disso, de tanto se falar que a volta de Cristo está próxima, ela acaba vista como sendo algo distante... No século 19 houve também uma tendência explícita, a de que o homem construiria uma sociedade com tal grau de perfeição, pela influência do Evangelho, que não haveria necessidade de Cristo voltar. O progresso educacional, moral, científico e tecnológico a nova terra. Nós reescreveríamos os apóstolos: Cristo não precisaria voltar; nós é que iríamos ao seu encontro, ao realizarmos seu projeto. Hoje não se enuncia esta teologia, mas se vivencia esta teologia imanentista, o que é pior. 4.1.3. Uma visão bíblica Diferentemente destas visões equivocadas, precisamos de uma visão bíblica acerca do presente e do futuro. O nosso presente é possível porque no passado Jesus Cristo morreu e ressuscitou por nós. O nosso presente é possível porque no futuro Jesus Cristo voltará para nos fazer ressucitar e viver para sempre com Ele num tipo de vida radicalmente diferente da que conhecemos e experimentamos. Nossa visão de Jesus Cristo deve ser tão forte que nos leve a viver como Paulo, que perguntava: E por que nos expomos também nós a perigos a toda hora? Sua resposta era veemente: Eu vos declaro, irmãos, pela glória que de vós tenho em Cristo Jesus nosso Senhor, que morro todos os dias (versos 30 e 31). Nós vivemos segundo o que cremos. Se cremos que Jesus Cristo veio, nós o oferecemos a todos quantos podemos; se cremos que Ele voltará, queremos que outras pessoas nos acampanhem nesta jornada sem fim pelo tempo sem relógio da eternidade. 5. A HISTÓRIA TEM SENTIDO O estudo da escatologia, como ensinada pelo apóstolo Paulo, no capítulo 15 de 1Coríntios, nos mostra que a história tem um sentido. Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o Pai, quando houver destruído todo domínio e toda autoridade e todo poder. Pois é necessário que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés. (Ora, o último inimigo a ser destruído é a morte.) Pois se lê: "Todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés". Mas, quando diz: "Todas as coisas lhe estão sujeitas", claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos (versos 24-28). A história humana terá um fim quando o mal for aniquilado de modo terminal. O presente geme pela atuação dos domínios, autoridades e poderes. Este é a primeira utilidade de uma fé que contempla as dimensões escatológicas: nossa vida hoje pode ser marcada pelo gemido, mas esta história terá um fim. Não há inimigo que não seja derrotado. Aquele que derrotou o inimigo definitivo, que é a morte, tornada relativa, derrotará qualquer outro tipo de inimigo. A morte não venceu Jesus; graças a Ele, a morte não nos vencerá. Todos aquele que aceitar esta morte não experimentará o poder da morte sobre si. Toda a força da morte despencou sobre o corpo de Jesus, que afundou numa tumba. Se a história tivesse acabado assim, estaríamos todos mortos também. No entanto, todo o poder de Deus levantou Jesus de entre os mortos, para que nós vivêssemos. Este é o resumo do Evangelho. 22 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] No final dos tempos, Jesus entregará o Reino de Deus ao Pai. Esta afirmação deve ser compreendia no interior da economia divina da história, sob pena de não entendermos a natureza da Trindade. O que Paulo nos ensina é que o Filho tem uma missão e esta missão terá um fim: chegará o tempo em que Ele não será mais o mediador entre os homens e o Pai, porque não será mais necessária a presença de um mediador, já que os homens e a Trindade estarão em contato direto e eterno, na grande festa celestial. Ele, então, chegará perante o Pai e anunciará que sua obra terminou. Quando isto acontecer, o Filho receberá toda honra, toda riqueza, toda sabedoria, toda força, toda honra, toda glória e toda bênção (Apocalipse 5.12). O contraste é claro: Ele derrota toda a autoridade e recebe por isto toda honra. A glória do Filho é a mesma do Pai. No final dos tempos, o Cordeiro reinará, submetendo sua obra ao Pai, que o exaltará sobre todo nome e toda a pessoa, e fará com que todo joelho dobre diante dEle e toda a língua Lhe cante louvores, porque estará completa a obra da salvação (Filipenses 2.9-11). Esta obra, no entanto, começou na criação do mundo e continuou na Encarnação. Desde então Cristo reina. Ele venceu a morte porque reinava. Nós, no entanto, ainda não vencemos a morte. Venceremos quando Cristo nos ressuscitar dentre os mortos. Todos os sofrimentos humanos encontram são recompensados com a ressurreição, que os faz cessar e dá sentido a eles. Por isto, as últimas coisas (escaton) são, na verdade, as primeiras. Cristo é o princípio e o fim, o Alfa e Ômega, na linguagem apocalíptica. Quem está no princípio e no fim governa o presente, o nosso presente. É encorajador saber que Jesus Cristo é rei agora também. É animador saber que, a apesar da aparência do Seu sumiço da história, Ele a controla. Ele nos controla. Ele controla as pessoas ao nosso redor. Ele controla as circunstâncias ao nosso redor. Ele controla a história, história que marcha para reconhecer que Ele é o Senhor. 6. NÃO PODEMOS PREVER O TEMPO DA PAROUSIA Sofremos porque não vemos com clareza o tempo da vinda de Jesus Cristo. Nós gostaríamos de sabê-lo, embora isto fosse péssimo. Se a parousia fosse ocorrer este ano, e nós o soubéssemos, nós ficaríamos paralisados, como ficaram alguns da igreja de Tessalônica nos tempos apostólicos. Se a parousia fosse ocorrer em gerações posteriores à nossa, e nós o soubéssemos, nós ficaríamos descansados e não permitiríamos que ela afetasse o nosso presente. É daí que advém a tendência de se calendarizar os acontecimentos escatológicos. Sabemos o que vai acontecer, porque a Bíblia é clara quanto a esta descrição. Sabemos porque vai acontecer, uma vez que é a forma pela qual Deus se torna tudo em todos. A Bíblia, do Antigo ao Novo Testamento, garante-nos que, no final dos tempos, Deus reconciliará a criação, inclusive a criação humana, consigo. Os problemas estão no quando e no como. 6.1. A seqüência Somos informados, em linhas gerais, a seqüência dos acontecimentos do fim. Paulo a enumera nos versos 24 a 28 e 20 a 23: Na realidade Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem. Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados. Cada um, porém, na sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda (versos 20-23). Os acontecimentos do fim estão no passado (encarnação e glorificação de Jesus), no presente (nossa aceitação ou recusa do sacrifício de Cristo) e no futuro. No caso dos salvos, o esquema é claramente o seguinte. morte de Jesus Cristo » nossa morte (ou transformação, para quem estiver vivo) ressurreição de Jesus Cristo » nossa ressurreição (ou transformação para quem estiver vivo) parousia » nosso arrebatamento juízo final » nosso julgamento consumação do Reino de Deus » vida celestial 23 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Esta seqüência geral pode ser detalhada, mas, ao fazê-lo, não podemos perder a visão global da história no projeto de Deus. Mesmo as discordâncias quanto ao tempo dos acontecimentos do fim no futuro não nos devem separar da esperança que o Jesus que reina agora reinará plenamente no porvir. Os pré-milenistas não podem abafar a esperança com seus esquemas. Os pós-milenistas não podem anular a esperança com seu otimismo. Os a-milenistas não podem empobrecer a esperança com a redução dos acontecimentos do fim a meros símbolos. 6.2. Os sinais Pressupondo a parousia é o acontecimento central, em torno do qual orbitam os demais, devemos nos acautelar duplamente, com o cuidado de não achar que a volta de Cristo é algo para o "são nunca de tarde" (conforme o alerta de Pedro -- 2Pedro 3.9) ou que é algo para tão breve que nos perturbe (2Tessalonicenses 2.2). Nós simplesmente não conhecemos o tempo da volta de Jesus Cristo. E isto é muito bom, conquanto para alguns possa soar como um convite a colocá-lo para um futuro remoto. Nós temos que viver como se Ele fosse voltar hoje, com os olhos voltados para a Sua direção. Nós temos que viver como se Ele fosse ainda demorar a retornar, mantendo nossos olhos voltados para o crescimento em direção à Sua estatura perfeita. Enquanto tocamos nossos projetos, de curto, médio e longo prazos, devemos esperar e desejar a volta. Era assim que Paulo pensava e agia. Embora achasse que alguns de sua geração seriam arrebatados e transformados, sem passarem pela experiência da morte (só a da transformação), pela iminência da parousia (versículo 51), ele não deixava de fazer projetos para a universalização do Evangelho. Os sinais do fim estão na Bíblia. Alguns já se cumpriram claramente. Outros ainda não se cumpriram. Devemos ter cuidado de não os ignorar, mas também de não os produzir, fazendo com que fatos se encaixem artificialmente em nossos esquemas. Entre a indiferença em relação aos sinais e a indústria dos sinais, devemos ficar com a oração apostólica: "Maranata!" Enquanto a parousia não acontece, devemos pedir por ela, repetindo a frase com a qual Paulo termina esta epístola: "Maranata!", que quer dizer: "Vem, Senhor Jesus" (1Coríntios 16.22). Devemos ter a humildade ainda de reconhecer que há sinais que dificilmente conseguiremos divisar com clareza. O objetivo dos sinais é nos advertir contra a possibilidade de marcar tempos que só Deus conhece. O Senhor da história não é refém de nossas interpretações, que falham, conquanto Ele não falhe jamais. 7. SÓ PODEMOS FALAR DA ETERNIDADE POR MEIO DA LINGUAGEM POÉTICA Além da fixação do tempo para os acontecimentos do fim, nós lavramos em um outro tipo de dificuldade: a linguagem. A linguagem objetiva não consegue falar da eternidade; só a imaginação poética nos ajuda. É isto que faz o autor de Apocalipse. Tudo ali é poesia. 7.1. A imaginação poética Toda a descrição da vida celestial, ao longo de todo o Novo Testamento, é poética. É a poesia que nos ajuda a descrever a morte, a ressurreição, a parousia e o céu. A poesia não remete para a mentira, mas para a incompetência da linguagem narrativa (jornalística, objetiva, positiva). Não podemos tomar as imagens acerca da vida celestial e limitá-las. Quem lê o salmo 23 não pensa que Deus seja um pastor de ovelhas com um cajado na mão a cuidar delas, mas -- isso, sim -- imagina que Deus se parece com um pastor de ovelhas com um cajado na mão a cuidar dos seus filhos. Quem lê a descrição das ruas celestiais, como a de Apocalipse, não deve imaginá-las como sendo de ouro, mas como sendo tão imponentes e valorosos como o ouro, o mais rico dos metais preciosos, razão por que foi utilizado para servir como meio de comparação acerca da vida pós-esta. O céu é um lugar. Até podemos chamá-lo de nova terra, à falta de elementos para descrevê-lo, porque nada tem a ver com esta vida aqui e nada sabemos como ela será, a não ser que será radicalmente diferente desta. Diante de nossa impossibilidade de imaginar o diferente como sendo diferente, só podemos falar da eternidade por meio da linguagem poética. Um exemplo neste capítulo é a referência à morte como sendo um sono (os que dormem -- versículo 20 --, nem todos dormiremos -- versículo 51). O apóstolo não está falando do sono da alma: está usando um termo próprio da tradição bíblica para descrever a morte. 24 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] 7.2. A vida celestial Em sua descrição poética, Paulo prefere usar a imagem da semente para descrever a natureza de nossos corpos (?) celestiais. Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? e com que qualidade de corpo vêm? Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como o de trigo, ou o de outra qualquer semente. Mas Deus lhe dá um corpo como lhe aprouve, e a cada uma das sementes um corpo próprio. Nem toda carne é uma mesma carne; mas uma é a carne dos homens, outra a carne dos animais, outra a das aves e outra a dos peixes. Também há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres. Uma é a glória do sol, outra a glória da lua e outra a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela. Assim também é a ressurreição, é ressuscitado em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, é ressuscitado em glória. Semeia-se em fraqueza, é ressuscitado em poder. Semeia-se corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual. (Assim também está escrito: O primeiro homem, Adão, tornou-se alma vivente; o último Adão, espírito vivificante.) Mas não é primeiro o espiritual, senão o animal; depois o espiritual. O primeiro homem, sendo da terra, é terreno; o segundo homem é do céu. Qual o terreno, tais também os terrenos; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, traremos também a imagem do celestial. Mas digo isto, irmãos, que carne e sangue não podem herdar o reino de Deus; nem a corrupção herda a incorrupção. Eis aqui vos digo um mistério: Nem todos dormiremos mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos serão ressuscitados incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade. Mas, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrito: "Tragada foi a morte na vitória". Onde está, o morte, a tua vitória? Onde está, o morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo (versos 35-57). Desta seção, eivada de imagens poéticas, podemos reter algumas verdades inquestionáveis: 1. A vida celestial é radicalmente diferente da vida terrena. Um fruto não se parece com o grão do qual germinou. Uma árvore não se parece com a semente que a fez nascer. A vida celeste não se parece com a vida terrena. Nossos novos corpos não conhecerão as limitações de tempo e espaço que experimentam aqui. Podemos, diante disto, ainda nos referir a eles como "corpos"? Não está o apóstolo novamente fazendo poesia? 2. Estes nossos novos corpos serão corpos glorificados. O máximo que podemos saber a este respeito é que estes novos corpos se parecerão com o corpo do Jesus ressurreto. Mais do que isto não sabemos, exceto ainda que, quando adentrarmos à eternidade, os elementos constitutivos desses nossos corpos não serão mais a carne e o sangue, isto é, não serão células biologicamente formadas, nem serão mais passíveis de ser atingidas pelo poder do pecado. 3. A participação na vida eterna celeste é o cume do processo iniciado na ressurreição de Jesus: a vitória sobre a morte. Depois de ver Jesus reinando nos céus e de nos contemplar ajoelhados diante dEle confessando o Seu senhorio, Paulo pergunta à morte, com ironia: -- Ei, morte, onde está a ponta aguçada de ferro com a qual você flagelava as pessoas? Ei, morte, onde está o seu sorriso de vitória? Mesmo a morte, este acontecimento definitivo, tornou-se relativa diante do Absoluto dos absolutos. Por isto, podemos cantar que Jesus está vencendo e um dia terminará sua obra. 8. CONCLUSÃO O apóstolo Paulo termina seu capítulo mostrando qual deve ser o sentido de se estudar escatologia: reafirmar o valor da confiança no Senhor, que transforma as nossas ações em ações úteis no Seu reino. 25 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] A especulação deve ceder lugar ao compromisso. A recordação deve preceder a esperança. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor (verso 58). Podemos concluir com esta oração, própria do cristão que ora, age e espera. PLANETA PRECÁRIO Ele vem. A qualquer momento, ele vem. E eu estou indo ao seu encontro. Ainda visto as roupas de sempre, ainda olho nas mesmas direções, ainda piso nos mesmos caminhos, ainda toco nos mesmos corpos, ainda digo as mesmas palavras que os homens mas eu espero a hora o instante do encontro para um abraço muito longo. E o meu rosto será outro. E o meu verbo será outro. E o meu corpo será outro. Pode ser que eu chegue primeiro porque eu tenho muita pressa de chegar. Se primeiro eu for, receberei logo a sua palavra, mas o seu corpo certamente esperarei pela minha pressa de chegar. NOSTRADAMUS, PROFETA DE DEUS OU DO DIABO? ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br A verdadeira profecia é a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. Sabemos que "toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra" (2 Tm 3.16-17). O que Deus nos revelou a respeito do fim de todas as coisas é a porção ideal para o nosso entendimento. É claro que todos desejamos saber mais, conhecer mais, nos aprofundar mais nos mistérios do Altíssimo. Mas o que não está revelado pertence a Deus. De quando em vez ressuscitam as Centúrias de Nostradamus e divulgam suas profecias sobre os tempos do fim. Quem foi esse homem? Por que suas premonições continuam sendo lidas e analisadas por quase 500 anos? Michel de Notredame (ou Nostredame), conhecido como Nostradamus, nasceu em 14 de dezembro de 1503 em Saint-Rémy (França), e faleceu em 2 de julho de 1566. Além de haver exercido a Medicina, estudou Filosofia, Astronomia, Astrologia e Alquimia. Seu filho Michel de Nostradamus também era astrólogo. Suas predições foram publicadas em 1555 com o título Centúrias (quadras em grupo de cem), escritas em linguagem metafórica, de difícil interpretação. Atribui-se a ele haver predito a morte de Henrique II, Rei da França de 1519 a 1559; há indícios de que conhecia a lei da gravidade antes de Newton, e de que sabia da existência dos planetas Urano e Netuno; teria ele descrito com antecedência de 400 anos os satélites de comunicação ("cães que ladravam no céu") e o surgimento dos automóveis ("carroças que andam sem cavalos"). 26 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Os admiradores de Nostradamus esperavam para julho ou agosto uma grave convulsão no planeta: talvez um terremoto de proporções gigantescas; talvez uma terceira guerra mundial com bombas atômicas. Alguma tragédia espetacular deveria ter acontecido em razão da seguinte profecia de Nostradamus: "O ano de 1999, no sétimo mês. Do céu virá um um grande rei do terror. Ressuscitará o o grande rei de Angoulmois. Antes, depois, marte reinará por sorte". Ou, em linguagem mais popular: "No ano de 1999 e sete meses, do céu virá o rei do terror. Ele fará viver o grande conquistador. Antes e depois da guerra, reinará com felicidade". A verdade é que nada de novo aconteceu nem em julho nem em agosto deste ano (1999). A Terra continuou girando ao redor do Sol e em torno do seu eixo, e a lua girando ao redor da Terra; não houve nenhuma convulsão social; nenhum acontecimento catastrófico foi registrado. A única ocorrência forte, em agosto, foi o terremoto na Turquia, em que milhares de vidas foram ceifadas. Mas tremores de terra não chegam a ser mais uma novidade. Nostradamus falhou nas suas previsões. Vejamos o que diz a Palavra sobre o assunto: "Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo"(2 Pe 1.21). "Não deixem que no meio do povo haja adivinhos ou pessoas que tiram sortes; não tolerem feiticeiros, nem quem faz despachos, nem os que invocam os espíritos dos mortos. O Deus Eterno disse também:Se um profeta tiver o atrevimento de dar uma mensagem em meu nome, quando eu não tiver dito nada, ou se falar em nome de outros deuses, deverá ser morto. Mas vocês vão ficar pensando assim: Como é que vamos saber que aquilo que o profeta diz não é mensagem do Deus Eterno? Fiquem sabendo que, se um profeta falar em nome de Deus, mas se o que disser não acontecer, então o que disse não foi mensagem de Deus.Esse profeta foi atrevido,e vocês não precisam ter medo dele" (Dt 18.10,1120-22 - A Bíblia na Linguagem de Hoje).V. também Jeremias 28.9. Nostradamus não foi um profeta de Deus, pelas seguintes razões: 1) Falhou o seu vaticínio sobre um acontecimento catastrófico em julho deste ano, ou no dia 11 de agosto como muitos sugeriram, em razão do eclipse solar. Ora, o modo simples, fácil e mais lógico para sabermos se a profecia tem origem divina, é verificar o seu cumprimento. As profecias que se não cumprem não são de Deus. São obras do engano. Nenhuma "nova" profecia deve ser aceita se contrária à Palavra de Deus. O padrão é a Palavra. A verdade é a Palavra. 2) O padrão da verdade deve ser sempre a Palavra de Deus. A verdade revelada nas Escrituras é o único caminho para conhecermos o futuro. O que passar disso não vem de Deus. Vem do maligno. As profecias bíblicas se cumprem porque os homens santos de Deus falaram sob inspiração do Espírito Santo. 3) A predição de Nostradamus fala de um "rei do terror", que reinaria "com felicidade", ou seja, seria um rei vitorioso. O mal sairia vitorioso da grande batalha. Esse monstro e grande governador tem tudo a ver com o Anticristo, que será esmagado - ele e seus comandados - na batalha do Armagedom. Neste ponto Nostradamus também mente porque atribui vitória ao "homem feroz de cara". 4) Somente Deus sabe a hora, dia, mês e ano em que a Igreja será arrebatada (Mt 24.36, 44). Este será o passo inicial para os demais acontecimentos escatológicos. Retirada a Igreja da Terra, o campo ficará livre por um breve período para as atividades do monstro. 5) Nostradamus era estudioso da Astrologia, prática condenada por Deus: "Levantem-se agora os astrólogos, que contemplam os astros, os que nas luas novas prognosticam o que há de vir sobre ti [sobre Babilônia]. Certamente são como restolho; o fogo os queimará" (Is 47.13-14). "Os videntes se envergonharão, e os adivinhadores se confundirão" (Mq 3.7). Além disso Nostradamus era versado em Alquimia, prática que oscilava entre a ciência e misticismo. 6) Não nos deve surpreender o fato de Nostradamus haver citado Urano e Netuno em suas premonições, antes da descoberta desses planetas, em 1781 e 1846; nem de haver conhecido a lei da gravidade, antes do físico Isaac Newton. Lembram-se do que o Diabo afirmou através de uma musiquinha? Vejam: 27 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] "Eu nasci há dez mil anos atrás, e não tem nada neste mundo que eu não saiba demais". 7) Satanás e seus demônios conhecem os fenômenos meteorológicos, as ondas eletromagnéticas, a lei gravitacional, a posição dos astros. Eles povoam os espaços siderais (Ef 3.10; 6.12). 8) As Centúrias de Nostradamus não foram escritas sob a inspiração do Espírito Santo. Suas atividades de adivinho, astrólogo e alquimista, eram incompatíveis com a divina missão de um profeta de Deus. Os profetas são homens "santos de Deus". Deus não elevaria à condição de profeta um homem que procurava respostas nos astros. A Astrologia, associada ao Espiritismo e ao ocultismo, é prática condenada na Bíblia. A mentira, o engano, o embuste, a trapaça pertencem ao Diabo. Na qualidade do maior inimigo de Deus e dos homens, ele tem prazer em apresentar uma versão do fim do mundo diferente da que ensinam as Sagradas Escrituras. A Bíblia tem uma palavra para Nostradamus: "Vós pertenceis ao vosso pai, o Diabo, e quereis executar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, pois não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, pois é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8.44). (Matéria de 28.8.99). O APOCALIPSE - Estudo I (Parte 1) O Livro da Vitória ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br Estaremos penetrando na fascinante aventura de caminhar nas páginas do livro do Apocalipse, considerado por muitas pessoas como de difícil entendimento. É um livro fascinante pelo colorido, pelo grafismo, tendo o Espírito de Deus colocado na pena do apóstolo João a revelação de Jesus Cristo de tal modo que cores, figuras, números, tudo fala de um modo muito particular, porém preciso, por meio do simbolismo envolvido. Quase que sentimos os odores das batalhas, do mar, do fogo, dos incêndios, da fumaça, dos embates que se sucedem. Para algumas pessoas o Livro do Apocalipse tem sido misterioso, de árdua compreensão. Não o é, garantimos aos leitores. Para os seus primeiros leitores, o Apocalipse era mensagem de fácil e cristalina compreensão. E pode ser o mesmo para nós. Só temos que saber como decodificá-lo. Assim fazendo, sua leitura se torna adequada, trazendo lições práticas para quem vive no século 21, apesar da distância que nos separa de João, a Igreja apostólica e suas circunstâncias. Mas é preciso entender, inicialmente, o que significa a "literatura apocalíptica". A Literatura Apocalíptica Para os Crentes da Antiga Aliança Antes do livro do Apocalipse ter sido escrito por João, já existiam outros livros que, no entanto, não foram canonizados, ou seja, não foram considerados sagrados e úteis para serem colocados no cânon ou rol dos livros da Bíblia. Apesar disso, há trechos nos livros proféticos que apresentam claramente as características desse tipo de literatura. É o caso do livro de Ezequiel, capítulos 1 e 2. Bastam esses dois capítulos para se ter uma idéia do que queremos explicar. Daniel, igualmente, é um profeta com características profundamente apocalípticas, como pode ser visto nos capítulos 2 a 4, o mesmo acontecendo com Zacarias, o penúltimo livro do Antigo Testamento. A partir do capítulo 1, há uma série de visões: oito ao todo até o capítulo 6. Mas que características são estas da chamada literatura apocalíptica? Entendamos: um livro apocalíptico não é para ficar fechado e sem compreensão. Pelo contrário, o próprio nome da literatura já diz o seu objetivo. Apocalipse é uma palavra grega que se traduz como "revelação", como pode ser conferido em Apocalipse 1.1, a abertura do livro que explica de quem vem a revelação: "de Jesus Cristo"! 28 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] As principais características são o uso constante de números, cores, animais (alguns extrema e curiosamente estranhos e amedrontadores), cidades, pessoas, tudo muito simbólico, mas plenamente adequado. Veremos esta questão de números quando falarmos das igrejas que são 7, dos 144.000, dos 1000 anos. Cada cor tem um sentido. Alguns animais são efetivamente muito estranhos: nunca vimos um dragão, menos ainda com 7 cabeças e 10 chifres. Tudo é simbólico, e repassa uma lição dentro das funções para as quais o livro foi escrito. Para o antigo Israel, o centro de atenção era a própria nação e a defesa de sua fé, de sua Lei, de sua existência como povo escolhido por Deus. No Novo Testamento (que é a aliança renovada no sangue de Jesus Cristo), o centro de interesse é a Sua Igreja, sua fortaleza e vitória, apesar de tudo: das perseguições, das heresias, dos martírios, do sangue derramado. O livro quer enfatizar que, apesar dos pesares, somos vencedores, com a vitória garantida por Jesus Cristo, Rei dos reis e Senhor dos senhores! A Literatura Apocalíptica Para a Igreja do Período Apostólico Para nossos irmãos da Igreja dos primeiros dias, no período apostólico, portanto, o livro do Apocalipse era uma maravilhosa mensagem de esperança. No fim do primeiro século da era cristã, viviam eles sob perseguição. Quem era cristão podia perder literalmente a cabeça, razão porque necessitavam desta mensagem de profunda esperança. No fim do primeiro século viviam sob perseguição. Domiciano, o imperador romano, foi um terrível perseguidor da nascente Igreja Cristã. Famílias eram perseguidas, filhos separados de seus pais, adultos e crianças, mortos por causa da fidelidade ao Salvador. Numa situação como essa, o encorajamento vinha em forma de exortação, de mensagens em código, em que o Maligno e tudo o que lhe era peculiar eram retratados com nomes ou figuras de fácil compreensão para os perseguidos. Códigos e símbolos também eram usados para Jesus Cristo, o Bem e tudo o que pertencia ao reino de Deus. Dá perfeitamente para entender o drama porque passavam e a palavra de esperança no meio da perturbação de que precisavam. O Apocalipse é sobre o tema da perseguição e vitória. É preciso esclarecer que a perturbação não vinha só do governo imperial. Havia problemas dentro da própria comunidade cristã. Eram as heresias, que, aliás, são mencionadas no Apocalipse. Temos, então, a destacar uma boa e uma má notícia. A má notícia é que tudo isso ainda hoje acontece. Temos perseguição velada, a mídia, jornais, TV perseguem terrivelmente os evangélicos, caricaturamnos, inventam mentiras, os evangélicos históricos são colocados na mesmo balaio de grupos arrivistas e exploradores da fé popular. A boa notícia é que temos uma fonte de fortalecimento no livro do Apocalipse, que, a despeito dos seus dois mil anos, tem mensagem de extrema atualidade, pois as perseguições (de outra forma, é verdade) e as heresias (com outras roupas) estão aí. Tudo está bem destacado nesse que é o livro dos símbolos divinos. O Livro da Revelação O que está relatado nos versos 1 a 8 do capítulo primeiro não é coisa pequena. Pelo contrário, são lições de altíssima importância, e as principais são que traz a mensagem de revelação e, 29 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Observe o modo como Aquele que faz a revelação, Jesus Cristo, é descrito. Note as expressões que João usou para descrever o Revelador. É "a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da terra". E mais ainda: "Aquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados". Estas expressões se encontram no verso 5. O verso seguinte introduz outros belos conceitos como "e nos fez reino e sacerdotes para o Seu Deus e Pai". Jesus Cristo, por Sua vez, diz no verso 8, "Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, ... aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-poderoso". Alfa é a primeira letra do alfabeto grego, Ômega é a sua última letra. É como disséssemos "Eu sou o A e o Z". Por isso, Jesus repetiu o conceito para ficar bem explícito: "(eu sou) o princípio e o fim". Realmente, nossa fé está em Jesus como esclarece a Carta aos Hebreus, "Olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé" (12.1). Tudo começa e tudo termina com Jesus Cristo! Que sugestivas descrições do nosso Mestre... Não nos cansamos de cantar a fidelidade de Deus e de Jesus Cristo; não podemos parar de falar de Sua ressurreição dentre os mortos, e exaltamos Seu senhorio sobre todas as coisas. Seu amor é eterno, Sua salvação, perfeita nada deixando por fazer, e, por fim, nos escolheu nEle mesmo para sermos intercessores. Sim; este é o nosso Salvador, Mestre e Senhor de nossas vidas! É o Autor e Consumador de nossa fé, a Quem esperamos na Sua majestosa e gloriosa Parusia, Sua Segunda Vinda! Falando de Visões (Ap 1.9-20) l Este é um trecho do primeiro capítulo do Apocalipse pleno de cores e rico de ensinamentos. Descreve a perturbação que dominou o apóstolo João ao ver o Cristo glorificado, e apresenta-nos a Pessoa de Jesus numa glória tão extraordinária que palavras humanas são pequenas demais para qualificá-la. Por esse motivo, João utilizou expressões como "voz como de trombeta", "olhos como chama de fogo", "voz como a de muitas águas", "rosto como o sol", etc., porque não tinha como descrever a grandeza e a majestade do que via. Esse fato, levou o escritor a se utilizar de figuras estranhas e diferentes por lhe faltar conceitos mais lógicos, mais claros e, até, mais humanos. Não se esqueça, porém, que estamos num ambiente de códigos, sinais e criptografia (linguagem cifrada) que a Igreja daqueles dias podia entender com clareza. Essa questão de linguagem cifrada é interessante. Na Segunda Guerra, o exército norte-americano estava tendo seus códigos decifrados pelos alemães. Ficaram os aliados muito prejudicados porque mensagens, ordens, movimento de tropas estavam sendo decodificados pelos adversários. Resolveram o problema utilizando soldados que eram nativos americanos, índios, portanto, que transmitiam as mensagens em sua língua tribal para um receptor que estava em outra área de combate, que retraduzia para o inglês e a entregava ao comandante. Não havia como os alemães entenderem o que era transmitido. A criptografia é uma verdadeira ciência em nossos dias. Os bancos utilizam linguagem criptográfica, transações envolvendo milhões de dólares fazem uso da criptografia. (Continua) O APOCALIPSE - Estudo 2 (Parte 1) Cartas às Igrejas da Ásia 30 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br (Ap 2 e 3) - "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Ap 2.7b) Sete cartas foram escritas a partir da visão inicial. A ordem dada ao apóstolo João foi explícita: "O que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia" (1.11), que são as seguintes: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. A ordem, repetida em 1.19, desfaz no verso seguinte o primeiro mistério: as sete estrelas na mão direita do Cristo glorificado são os pastores destas igrejas (chamados de "anjos" na linguagem do Apocalipse) e os sete candelabros de ouro são as próprias igrejas. É fácil entender porque. "Anjo" é palavra transliterada e vem da língua grega, como outras tantas. Nesta, angelos significa "mensageiro". Quem traz a mensagem de Deus para a igreja? O pastor. Quando alguém ora pedindo as bênçãos da igreja sobre o "anjo da igreja", ou seja o "mensageiro da igreja", está se referindo ao pastor. Na língua grega moderna, "carteiro" é angelos. Os candelabros de ouro, são aqueles de sete braços (menorah, sing., menoroth, pl.). Éfeso, a Cidade Desejável (2.1-7) Apesar de serem as cartas destinadas a igrejas localizadas em cidades bem conhecidas, a quantidade de igrejas é significativa. Na linguagem bíblica, e, ainda mais, na linguagem em código do Apocalipse, 7 (sete) não é apenas um número entre outros, não tem apenas valor aritmético ou de quantidade. Para o mundo bíblico, os números têm valor moral e espiritual. Isso significa que 7 significa "completo" ou "plenitude". A semana foi feita em seis dias, com o descanso do sétimo dia, temos a obra completa da parte de Deus. "Sete igrejas" é a soma conceitual das comunidades cristãs no mundo, inclusive a igreja local onde o leitor congrega; "sete anjos" é expressão que representa a plenitude dos pastores que há no mundo. São as igrejas e seus pastores com o que têm de forte e de fraco, com suas virtudes e defeitos, com o seu lado bom e o seu defeituoso, o que, por sinal, é destacado e definido em cada carta. Cada carta apresenta o lado correto e o lado problemático da igreja. A estrutura das cartas é a mesma para todas: o remetente se identifica, demonstra conhecimento do ambiente externo e interno da igreja, faz exortações e promessas. Éfeso, nome que significa "Desejável", era uma cidade com dois importantes destaques: era porto, tendo como conseqüência ser uma conceituada cidade comercial, e era, igualmente, centro de uma terrível idolatria, que era o culto à deusa Diana, também chamada Ártemis, onde um templo lhe fora dedicado. Este templo é considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo. A deusa Diana, por sua vez, era chamada "a Mãe dos Céus", e seu culto era caracterizado pela orgia e licenciosidade, visto que era um culto de fertilidade. A estátua que a representava era a de uma mulher belíssima, mas horrorosa num aspecto: seu tórax e ventre eram cobertos de seios, para simbolizar a fertilidade. À igreja cristã da cidade de Éfeso, Cristo glorificado se identifica como "aquele que tem na mão direita as sete estrelas, que anda no meio dos sete candeeiros de ouro" (v. 1). É o Senhor que detém o poder e está presente na vida e nas ações da igreja, pois, diz Ele, "Conheço as tuas obras. E o teu trabalho, e a tua perseverança". Sabe das excelentes qualidades daquela igreja que fora pastoreada pelo próprio apóstolo João (cf. vv. 2, 3). 31 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Cristo passa a fazer exortações: "... deixaste o primeiro amor. Lembra-te de onde caíste! Arrependete..." (vv. 4, 5). A igreja tendo perdido o seu primeiro amor, passou a amar o comodismo, ao tempo que deixou de ser altruísta, vivendo para si e para o seu egocentrismo. Tornou-se mundana, prejudicada pela facilidade de viver uma vida sem maiores compromissos com Cristo Jesus. É o que acontece quando uma igreja deixa de ter compromisso com o seu Senhor. No entanto, no evangelho, há sempre oportunidade para quebrantamento e mudança de direção. Como são importantes no verso 5 estas exortações: "Lembra-te...", "Arrepende-te..." e "Pratica..." E não pode haver tolerância com as heresias, como a mencionada no verso 6: a dos nicolaítas. Tudo isso vale para a igreja de hoje. Quem eram os nicolaítas? Tudo o que foi dito para aquele tempo vale para hoje. Eram eles os que dentro da igreja defendiam a absoluta sujeição dos leigos em relação aos bispos ou pastores das igrejas, a organização de um regime dentro da igreja que como os outros governos, estabelece leis, regras, normas, práticas para o povo. É agir pela mente e egoísmo humanos; é usar o recurso do governo humano em vez das ordenanças da Palavra de Deus e da sensibilidade para ouvir o Espírito de Cristo. É a mentalidade política posta a serviço do mando, comando e desmando, prática que está entrando em algumas ditas igrejas e comunidades evangélicas, quando até o namoro de um casalzinho da igreja ou comunidade só acontece se o pastor permitir. Como termina esta carta: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer..." [Se apesar de tudo, você passar incólume, que vai acontecer?] "... dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus". É só o que queremos: vida sobre vida, graça sobre graça, e bênção sobre bênção! Esmirna, um Perfume Suave (2.8-11) Cristo Se apresentou a essa igreja de modo diferente. Ele é "o primeiro e o último, o que foi morto e reviveu" (cf. 1.8, 17b, 18). Ele identifica esta igreja como atribulada, pobre (apesar de rica) e marcada pela blasfêmia interna. Esmirna era, como Éfeso, uma cidade rica, e centro religioso. Seu nome quer dizer "Perfume Suave". No entanto, sua religião, não era o culto a Diana ou a qualquer deus da mitologia grega ou romana. Cultuado era o próprio imperador, o que significava que deixar de cultuá-lo era crime contra o próprio Estado romano, crime chamado de lesa-estado ou lesa-majestade, passível de ser punido com a morte. A igreja de Esmirna não estava fria como a de Éfeso que havia deixado o primeiro amor. Seu problema eram as perseguições e calúnias que viriam, razão porque precisava de forças, de poder espiritual para suportá-las (cf. v.10). E realmente isso aconteceu anos depois: Diocleciano, o imperador de Roma, moveu uma perseguição que se iniciou em 303 e durou até 313, dez anos chamados de "dez dias" em 2.10, quando o cristianismo passou a ser reconhecido com religião do Império Romano por Constantino. É nesse contexto que vem uma das mais citadas frases da Bíblia Sagrada: "Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida" (v.10b), que realmente quer dizer "sê leal e perseverante até o ponto de dar a tua vida, e receberás como recompensa a glória da abençoada ressurreição ao lado do Senhor". Pérgamo, a Elevada (2.12-17) A importância de Pérgamo, nome cujo significado é "Altura, Elevação", era mais política e religiosa que 32 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] econômica. A ênfase religiosa estava no culto ao imperador. Haja vista o grande número de templos que lhe eram destinados. Era uma arriscada aventura ser cristão na cidade de Pérgamo por esse motivo. Era ali que estava o trono de Satanás e o lugar de sua habitação (cf. v. 13). Além do imperador ser cultuado, havia outros quatro cultos: a Zeus, a Atenas, a Dionísio (o Baco dos romanos), e o Culto de Esculápio (Asclépio), o deus da Medicina. Era uma cidade altamente mística. Não sabemos exatamente o que era o "trono de Satanás" do verso 13. Mas o leitor pode escolher a mais razoável das idéias que serão apresentadas, porque nem os especialistas afirmam com segurança sobre isso: -se ao culto do imperador; altar dedicado a Zeus cuja base tinha 240m de altura, um verdadeiro edifício com o altar em cima; cobra. Perguntem aos médicos porque o símbolo da arte médica são duas cobras a verdadeira interpretação. Contaram-me que é porque se o paciente viver, o médico cobra; se morrer, o médico cobra... O fato é que interessa-nos a igreja, e nela havia heresias. Estavam presentes naquela comunidade os que seguiam a doutrina de Balaão (v. 14) e os nicolaítas (v. 15), os mesmos de Éfeso. Os seguidores da doutrina de Balaão são os aproveitadores que querem tirar vantagem da igreja! São os mercenários, os enganadores do povo crédulo, que, como o falso profeta Balaão, queriam exercer o ofício profético, apostólico e pastoral a troco de vantagens pecuniárias. Havia prostituição, idolatria e coisas assemelhadas na igreja de Pérgamo. Já que Satanás não pôde destruir a igreja, procurou corrompê-la, pois não pode existir arma mais eficaz a favor dos planos do Inimigo-de-nossas-almas que uma igreja sem testemunho, corrupta, cheia de pessoas não-convertidas, como o mundo atual tem visto com intensa freqüência. A exortação feita pelo Senhor é muito direta e dura. Ele diz: "Arrepende-te, pois! Se não em breve virei a ti..." (v. 16). Essa exortação é para nós também, sem dúvida. (Continua) O APOCALIPSE - Estudo 2 (Parte 2) Cartas às Igrejas da Ásia - (Ap 2 e 3) ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Ap 2.7b) Continuemos a examinar as igrejas da Ásia. São lições de relevância hoje quanto o foram há dois mil anos: Tiatira, Penitente Sacrificada (2.18-29) Não era cidade tão importante quanto outras sete. Mas seu nome é muito sugestivo: "Sacrifício de Arrependimento". Nela funcionava uma cooperativa que fazia o comércio de ouro. Havia muitos joalheiros, ourives e 33 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] comerciantes de ouro. A dita cooperativa era tão exclusiva que só os seus membros podiam comerciálo. Há uma boa e uma má notícia: a boa é que quem era sócio podia vender ouro à vontade (com certeza, outros faziam contrabando); a má notícia é que a cooperativa realizava festas em homenagem a uma divindade, considerada a padroeira dos comerciantes de ouro e joalheiros. Os crentes viviam numa grande tensão: ou renegavam a fé, e, assim, poderiam realizar transações comerciais ou passavam penúria. Esse problema é encontrado ainda hoje, quando crentes precisam orar muito para não cair na tentação de ceder aos ídolos modernos, à imoralidade, ao compromisso com o Maligno. Havia, porém, um seriíssimo entrave na igreja de Tiatira: uma falsa profetisa. O apóstolo João a identifica com Jezabel (a perversa rainha pagã que casou-se com o rei Acabe de Israel (1Rs 16.29ss.). Não tem sido difícil encontrar falsos profetas no meio chamado evangélico. Cuidado, muito cuidado com os falsos apóstolos, profetas e profetisas, bispos e "bispas" (a palavra correta é episcopisa), e pastores que aparecem ensinando novidades com se fosse a última palavra de Deus. Ora, se é novo não está na Bíblia, e se está na Bíblia não pode ser novo. Portanto, fuja deles! (cf. 2Jo 10) A exortação é bem pesada e direta como demonstram os versículos 20 a 23. Mas a promessa de Cristo é extraordinária: "Ao que vencer [e nossa vitória está em Cristo, não esqueçamos!], eu lhe darei autoridade sobre as nações", o que significa compartilhar com o Rei dos reis da glória para todo o sempre! Sardes, uma Alegre Canção (3.1-6) Sardes significa "Cântico de Alegria". Jesus começa Se identificando como Aquele que tem os 7 espíritos e as 7 estrelas. Já sabemos que 7 é o número da plenitude, o número da obra completa. Então, "7 espíritos" tem referência com a plenitude do Espírito, a totalidade da Sua poderosa e maravilhosa obra no ser humano salvo, individualmente falando, e na Igreja de Cristo como Seu Corpo. Mas a condenação que Jesus faz a Sardes é muito grave: "...tens nome de que vives e estás morto" (v. 1b). Sabe aquela história do "morreu e não sabia"? É o caso da igreja de Sardes: havia morrido e esquecera de deitar, tinha "um-pé-na-igreja-e-outro-no-mundo". Igreja hipócrita, imoral e apática, na qual não se praticava um relacionamento íntimo e sadio com Jesus Cristo e Seu Espírito. Mas [louvado seja Deus!] nem tudo estava perdido, porque havia algumas pessoas que se mantinham puras. A figura usada é "vestiduras brancas" (v. 4), modo de falar de pureza de intenções e de alma. Filadélfia, Irmãos que Se Amam (3.7-13) É a cidade do "Amor Fraternal", significado do seu nome. Esta igreja não recebeu repreensão de Jesus. Que maravilha! É verdade que, como as outras, Filadélfia tinha seus deuses, seus templos pagãos, suas práticas religiosas. Observe como Jesus Se revelou a esses irmãos: "o santo, o verdadeiro..." O melhor conceito para a palavra santo é "diferente". Ser santo é ser completamente diferente. Um bom conceito para santo é "ser separado". Mas, o povo não acostumado com a linguagem da teologia bíblica não entende o que é ser separado para significar santo. Muitas vezes, nem gente da igreja entende... Mas entendem quando se fala "ser crente é ser diferente". Isso porque nós não vamos praticar o que o mundo pratica, nem falar como lá fora se fala, nem andar como lá fora andam, nem pensar como lá fora pensam. Nossas mãos, pés, toque, palavras, ouvidos, olhos serão puros porque somos diferentes. E esse é o nosso Salvador, o Santo, o Diferente. Cristo é Santo porque nem de longe se iguala ou sequer parece com os deuses do paganismo. 34 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Havia uma preocupação quanto ao relacionamento dos judeus com a igreja, e da igreja como missionária aos judeus. Por isso, Cristo também Se apresenta como o que "tem a chave de Davi". Cristo é o que abre a porta (cf. v. 8) para acesso à misericórdia de Deus a todos que sentirem o toque do Seu Espírito. Até mesmo os que pelas suas obras malignas faziam parte do que é chamado "sinagoga de Satanás" (v. 9). As promessas para o vencedor são notáveis, lindas e abençoadoras, como mostra o versículo 12, "A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, de onde jamais sairá. Escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte do meu Deus, e também o meu novo nome". Na entrada do templo de Jerusalém havia duas colunas: Boaz e Jaquim, Beleza e Força, Majestade e Poder. O Senhor está dizendo que nos coloca como uma das já existentes, ou mais uma ao lado de Boaz e Jaquim, que será "aquele que vencer". Laodicéia em Julgamento (3.14-22) O nome Laodicéia quer dizer, "Povo do Julgamento". A última das cartas às igrejas da Ásia começa com Jesus Cristo Se revelando "o Amém". Essa é uma palavrinha muito boa porque, vindo do hebraico, significa "ter estabilidade", não se dobra, não cai, é firme, não pode mudar. Se fôssemos traduzir, seria "eu admito" ou "eu permaneço em tudo o que foi dito ou pedido na oração". Quando oramos e dizemos "em nome de Jesus. Amém", estamos declarando "peço em nome do Salvador, e não abro mão da minha fé". Cristo, então, é "o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus", o inabalável. Sua reclamação à igreja de Laodicéia é que ela é morna. Não é fria nem é quente. Isso quer dizer que sendo frio ou sendo quente, temos certeza absoluta de resultados é o que o Espírito Santo está dizendo na palavra de Jesus. Nós sabemos onde caminhamos, se em terreno firme ou instável. A igreja de Laodicéia não era assim: era indecisa. Por esse motivo, é chamada de "morna". Temos, pelo contrário, que saber se o "sim" é "sim" e o "não" é "não". Sendo... morno, é a falta de compromisso, mais uma vez mencionada. A igreja dos laodicenses era muito cheia de orgulho. Eram auto-suficientes, mas espiritualmente miseráveis. Até diziam, "Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta..." Não parece o homem que derrubou os celeiros, construiu outros maiores e disse para si mesmo: "Agora tenho bens para muitos anos: vai, minha alma, come, alegra-te, diverte-te, folga"? À noite, foi-lhe indagado: "Louco, esta noite pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será?" Pois. o mesmo aconteceu em Laodicéia: "Rico sou!..."Jesus diz: "...não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu" (3.17). Aqui está a igreja de Laodicéia despida. "...Estou enriquecido, e de nada tenho falta". Jesus diz: "Tu és infeliz, Tu és miserável, Tu és pobre, cego e nu. E convida ao arrependimento e conversão, que é voltar para Ele. Jesus sempre convida com carinho, Ele não força: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo Isso quer dizer comunhão. Estar com o Senhor é comunhão: Ele está conosco, e nós estaremos com Ele. Por esse motivo, o vencedor senta com Cristo com trono. Esse é o alerta que o Apocalipse traz para nós, Igreja de Cristo no século 21 porque os problemas são os mesmos. A s igrejas do Apocalipse são tipos das igrejas modernas. Temos deixado vezes tantas o primeiro amor de nossa vida, por isso necessitamos de arrependimento. Somos perseguidos, caluniados e precisamos lembrar que Cristo deu o Seu sangue por nós, e se necessidade houver de darmos nosso 35 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] sangue, a própria vida, a coroa eterna já está garantida. Somos alvos de heresias que surgem praticamente todos os dias. É a tentação de querer fazer acordos com o Inimigo-de-nossas-almas, é a tentação do sucesso e das novidades. Quantas vezes somos hipócritas, apáticos, impuros. Sim, somos Éfeso deixando o primeiro amor; somos Esmirna alvo de calúnias da sociedade incrédula que nos persegue; somos Pérgamo com segmentos desviados da boa doutrina; somos Tiatira e seus falsos profetas, apóstolos mercenários e vaidosos bispos; Sardes que já havia morrido e não o sabia, bem como Filadélfia com seu problema de relacionamento com os judeus; somos também Laodicéia com a sua indefinição espiritual e orgulho. Que aprendamos com estas sete igrejas que o melhor é mesmo ouvir a voz de Deus e receber a vitória assegurada por Cristo desde a Sua ressurreição. O APOCALIPSE - Estudo 3 A Soberania do Trono Celestial ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br Apocalipse 4 "Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, pois tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existem e foram criadas" (Ap 4.11) A partir deste ponto, o apóstolo João passa a relatar as coisas que se sucederão de acordo com o que fora prometido no capítulo 1.19 ("Escreve, pois, as coisas as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer") e esclarecido em 4.1: "Depois destas coisas, olhei, e vi que estava uma porta aberta no céu, e a primeira voz que ouvi, como de som de trombeta falando comigo, disse: Sobe para aqui, e te mostrarei as coisas que depois destas devem acontecer." A soberania de Jesus Cristo é retratada, como no capítulo primeiro, de modo muito dinâmico e extremamente colorido, encerrando-se o relato com um hino de profunda reverência, adequadíssima introdução a todo o drama que vem a seguir. A majestade de Jesus Cristo (4.1, 3) No hino 16 do hinário O Cantor Cristão, o poeta colocou a seguinte expressão: "Oh! vinde adorar o excelso e bom Deus, eterno Senhor, da terra e dos céus, que reina supremo, envolto na luz, e que se revela em Cristo Jesus! Essa é a afirmação de todo o capítulo 4 do Apocalipse, que assegura uma verdade da qual a Palavra Divina não abre mão. A grandeza de Cristo é descrita com as reveladoras palavras: "...um trono estava posto no céu, e alguém assentado sobre o trono. E o que estava assentado era, na aparência, semelhante a uma pedra de jaspe e de sardônio, e ao redor do trono havia um arco-íris semelhante, na aparência, à esmeralda". E prossegue o registro colocando em evidência quão magnífica é a visão da própria glória (kavod) de Deus manifestada na presença (shekinah) no trono da graça divina. É importante que tenhamos sempre na mente os terríveis tempos em que este livro foi escrito. Não esqueçamos que o Apocalipse foi escrito numa época de perseguição. O imperador romano era tido 36 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] como um deus. Ele, somente ele podia ser exaltado. Era soberano, e exigia dos súditos todo o louvor. A pompa dos seus palácios não encontrava rival; o trono em que se sentava, magnífico e esplendoroso. O César (título dado ao imperador de Roma) não podia dividir sua pompa e circunstância com qualquer outro deus. Menos ainda com um mestre israelita a Quem algumas pessoas chamavam de Filho de Deus... Ora, diziam, não tinha cabimento algum... Decorre de tudo isso um imenso perigo para os cristãos que não dividiam a sua lealdade a Jesus Cristo. Observe que nos dias de hoje também há "deuses" buscando a adoração exclusiva. O deus da fama é um deles. Quantas meninas têm feito sacrifícios inimagináveis para ter o que chamam de "corpo de modelo", algumas beirando doenças como a anorexia nervosa e a bulimia para ficarem macérrimas como pede o sacrifício do altar da fama. Algumas, de origem evangélica, entregando-sem ao Moloque deverador que é o mundo das celebridades. Pois é; a fama é um deus exigente e que exige sacrifícios de suas vítimas, ou melhor, adoradores... O orgulho não é um deus impiedoso? Aliás, vamos e venhamos, o orgulho anda tomando conta das igrejas. Alguém me relatou que num determinado programa de TV chamado evangélico, Cristo ficou por trás e o pastor ficou na frente fazendo sombra a Cristo. Não se diz mais como Paulo: "Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo..." (Gl 6.14). Há ministros ("Apóstolos"?! "Bispos"?!) que deixaram de se esconder atrás da cruz de Cristo, pois Cristo é escondido e obscurecido por eles e a fama que adquiriram?! O que desejam é o status! E o poder não é um tremendo deus? E o dinheiro? No entanto, é de se observar que o livro do Apocalipse é sobre vitórias: a de Jesus Cristo sobre o Mal e a nossa vitória em Cristo, razão porque este trono celestial é apresentado tão cheio de efeitos, de ruídos, de vozes, de tochas, e de seres tão estranhos quanto plenos de lições. Magnífico, portanto! Reverentes perante o Senhor (4.4-8) "Ao redor do trono também havia 24 tronos, e vi assentados sobre os tronos 24 anciãos, vestidos de branco, que tinham nas suas cabeças coroas de ouro. Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões. Diante do trono ardiam 7 lâmpadas de fogo, as quais são os 7 espíritos de Deus. Também havia diante do trono como que um mar de vidro, semelhante ao cristal, e ao redor do trono, um ao meio de cada lado, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás. O primeiro era semelhante a um leão, o segundo semelhante a um touro, o terceiro tinha o rosto como de homem, e o quarto era semelhante a uma águia voando. Os 4 seres viventes tinham, cada um, seis asas, e ao redor, e por dentro, estavam cheios de olhos. Não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, aquele que era, e que é, e que há de vir" (Obs.: quantidades em algarismos para destaque dos detalhes). Diante de uma visão tão cheia de brilho, de luz e de esplendor, é imperativo que se tenha uma atitude de adoração e reverência. É o que nos revela os versículos 4 a 8 quando decodificamos suas figuras: 24 tronos ao redor do magnífico trono divino, 24 anciãos vestidos de branco, coroas de ouro, relâmpagos, vozes, trovões, 7 tochas representando a plenitude do Espírito Santo (lembremos que 7 é o número de algo completo) Há um mar de vidro como de cristal e 4 misteriosas criaturas descritas como tendo muitos olhos na frente e atrás. Coisa estranha... Vejamos, porém, depois de decodificados. Vamos esclarecer um pouco mais: os 24 anciãos são a soma das 12 tribos de Israel e dos 12 apóstolos, ou seja, todos os salvos da Antiga e da Nova Alianças: a totalidade do povo fiel a Deus. Essa poderosa visão requer "efeitos especiais" (trovões, relâmpagos). Vivemos numa época de efeitos especiais: um filme, uma novela, programas de TV, peças teatrais, e, mesmo, dramatizações na igreja apresentam 37 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] certos efeitos especiais (gelo seco, luzes estroboscópicas) Também os temos aqui, pois trovões, relâmpagos, raios sempre estiveram associados à presença, grandeza e majestade de Deus, como exemplifica o livro do Êxodo 19.16 a 18 e Deuteronômio 4.11 ("Ao amanhecer do terceiro dia houve trovões e relâmpagos e uma espessa nuvem sobre o monte, e um sonido de buzina muito forte"). O verso 6 menciona um "mar de vidro, semelhante ao cristal". Mar é símbolo de algo que não pode ser transposto. Dificuldade é mar. Haja vista o Mar Vermelho: foi uma dificuldade para o povo israelita. Deus, então, fez uma intervenção e as águas se abrem. O mesmo ocorreu, 40 anos depois, com o rio Jordão, que igualmente se abriu. Mar é sinal de separação. Isso ocorre porque Deus é santo e o mundo é pecador. O mar separa o santo do pecaminoso. São realidades que não se combinam. Enquanto houver pecado, não há possibilidade de acordo. No entanto, o fim do versículo primeiro de Apocalipse 21 diz que na descida da Nova Jerusalém, a habitação de Deus com os homens, "o mar já não existe", já não há distância, paredes, barreiras, separação. Somos nós em Deus e Deus em nós, a plenitude divina em tudo e em todos. E as 4 estranhas criaturas? Qual o papel delas diante do trono? Estamos falando de reverência, louvor, adoração, precisamente a tarefa dessas quatro criaturas. Elas aqui estão não para atemorizar: o Apocalipse não tem esse propósito. Estes seres "cheios de olhos", portanto, vigiam! A expressão não descreve monstros; é, sim, um modo de dizer que a tarefa deles é a vigilância diante do trono. Jesus ensinou, "Vigiai e orai [para que não entreis em tentação]". Aqui é "Vigiai e louvai..." Em nossa dimensão terrena, "vigiar e orar"; na dimensão celeste e eterna, "vigiar e louvar". Um dos seres era semelhante a um leão, outro a um boi, o terceiro tem face de ser humano e o último parece uma águia. Quatro seres tão diferentes , tão distintos um do outro: um leão selvagem, um boi domesticado, um ser humano e suas possibilidades, potencialidades e expectativas, e uma águia que altaneira e livremente voa. São semelhantes aos querubins de Ezequiel 1.10, que relata o seguinte: "A semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem, e à mão direita os quatro tinham rosto de leão, e à esquerda tinham rosto de boi; também os quatro tinham rosto de águia". Há intérpretes do Apocalipse que vêem nessas figuras a união de louvor de toda obra criada por Deus. Existe outra interpretação, porém. Alguns especialistas vêem o que há de mais nobre (o leão), de mais forte (o touro), o mais sábio (o ser humano) e o mais ágil (a águia) submissos ao Senhor, a nobreza, a fortaleza, a sabedoria e a agilidade, tudo e todos reverentes e ajoelhados diante daquele que é o Senhor, o Soberano, o que detém o Senhorio, Aquele que tem nas Suas mãos o domínio de todo o cosmos, de todas as coisas desde o Seu trono nos céus! Estes seres são incansáveis no seu louvor, pois, "Não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, aquele que era, e que é, e que há de vir", expressão que retrata o próprio Nome de Deus, Javé, "Eu Sou o que Sou", "Eu Serei o que Sempre Tenho Sido", ou seja, "o Eterno", "Aquele que Era, Que É, e Sempre Há de Ser". Ao tempo que esse louvor está acontecendo, os 24 anciãos prostram-se diante do trono de Deus, e O adoram entregando-Lhe as coroas que têm na cabeça, enquanto cantam esta doxologia: "Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, Pois tu criaste todas as coisas; e por tua vontade existem e foram criadas" (v. 11) 38 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] O APOCALIPSE - Estudo 4 Sete Selos e Suas Surpresas ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br Apocalipse 5.1-14; 6.1-7; 8.1-5 "Vi... um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro, e lhe romper os selos?" (Ap 5.2) João viu a porta aberta no céu e as coisas impressionantes que ouviu: uma voz como de trombeta que lhe dizia: "Sobe e eu te mostrarei as coisas que depois destas devem acontecer". O que esteve antes destas coisas foram as Cartas às igrejas da Ásia. Ele viu um trono no céu, e nele Alguém assentado. A linguagem bíblica O descreve como semelhante a uma pedra de jaspe, de sardônio (v. 3). Ao redor do trono um arco-íris que se parecia a uma esmeralda. Tudo aqui é descrito de modo a chamar a atenção para algo majestoso, grandioso. Não é um simples trono, mas um trono onde Quem está assentado tem a aparência bem diversa dos que se sentam em tronos humanos. 24 tronos estão ao seu redor. Neles estão 24 anciãos, ou seja, 12 representam as tribos de Israel no Antigo Testamento, 12 representam os apóstolos, o Israel da Nova Aliança, vestidos de branco, sinal de pureza espiritual, suas cabeças portam coroas de ouro, afinal, "sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida" é a promessa de uma das cartas. No entanto, essas coroas não estão ali para reverenciar, homenagear, magnificar, exaltar esses anciãos no trono. Eles tomam as coroas e depositam diante do majestoso trono de Deus. Diante desse trono ardiam 7 lâmpadas de fogo que são os 7 espíritos de Deus. Lembrem-se que sempre que a Palavra "fogo" aparece na Escritura, está associada a uma manifestação divina: no portão do paraíso, uma espada de fogo (Gn 3.24); a manifestação da presença de Deus a shekinah) na sarça ardente (Ex 3.2); colunas de fogo no deserto à noite (Nm 14.14); no Pentecoste, as línguas como de fogo (At 2.3); no inferno, um lago de fogo significando a justiça de Deus sobre os ímpios, injustos e pecadores (Ap 20.10), e não o "reinozinho" de Satanás, como muitos pensam, pois é a sua prisão. Aparecem também 4 seres viventes com olhos por diante e por trás. São monstros? Não; é apenas o símbolo de vigilância perene diante de Deus. Jesus ensinou sobre a vigilância: "vigiai e orai..." (Mt 26.41). Aqui é diferente; é "vigiai e louvai", porque tudo o que fazem, só o que fazem é louvar a Deus (Ap 4.8). Uma profunda marca da Igreja de Jesus Cristo em todas as épocas é a esperança, a grande virtude cristã em todos os tempos. Outro modo do cristão dizer este sentimento é usar a expressão "Segunda Vinda de Cristo". Falar de esperança e da Parusia, o Retorno de Cristo, é falar da mesma realidade. Quando celebramos a Ceia do Senhor, celebramos a esperança. A instrução que temos é "até que ele venha" (1Co 11.26). Os escritores do Novo Testamento falaram sobre essa abençoada futura realidade como o apóstolo Paulo que disse, "Damos sempre graças a Deus... por vós, desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus... por causa da esperança que vos está preservada nos céus..." (Cl 1.3-5). E, ainda, "A graça de Deus se manifestou salvadora... educando-nos para que... vivamos... aguardando a bendita esperança e manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus" (Tt 2.11-13). Quer dizer, a esperança associada à Segunda Vinda. E, fazendo uma união entre a Segunda Vinda e as pressões espirituais e, mesmo, físicas, exorta o apóstolo Paulo, "regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação..." 39 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] (Rm 12.12). A tribulação vem, e precede a Segunda Vinda de Cristo, razão porque Paulo exorta a que sejamos pacientes aguardando a gloriosa Parousia, que nos vai libertar de tudo o mais! Há, portanto, uma íntima ligação entre sofrimento e o retorno de Cristo Jesus. Percebe-se com absoluta clareza o carinho de Deus ao conceder à nascente e sofredora Igreja do primeiro século o livro cheio de encorajamento e de visão da vitória final que é o Apocalipse. Compreende-se o porquê de tantos símbolos, expressões cifradas, figuras medonhas, até, retratando a tremenda luta espiritual entre o Bem e a Malignidade. É nesse ponto que surge um livro fechado; um livro selado. São sete selos, ou seja, bem fechado, completamente fechado. Esse livro guarda um segredo. A propósito, para quem gosta de filigranas lingüísticas, a palavra "selo" vem da língua-mãe latina sigilus, que significa precisamente isso: "segredo, sigilo". A visão do livro selado (5.1-14) O livro visto pelo apóstolo João estava escrito por dentro e por fora, mas fechado com sete selos. Um mensageiro de Deus fazia uma proclamação que é ao mesmo tempo um desafio, levando o vidente a se lamentar porque ninguém tinha dignidade bastante para abri-lo e nem sequer para olhá-lo. Logo foi tranqüilizado por um dos anciãos do capítulo 4 que lhe assegurou que o Cristo Vivo, o Cristo Vitorioso, o Messias Exaltado era absoluta e perfeitamente digno de romper os selos e abrir o livro. Só Jesus Cristo pode abrir o livro que guarda o segredo. Nesse ponto da narrativa, João vê no meio da cena (lembremos a cena: o majestoso trono, os 24 tronos, os 24 anciãos, as 4 criaturas com faces de leão, touro, homem e águia, um Cordeiro com aspecto de morto que porta 7 chifres, 7 olhos, e, no entanto, estava vivo!... Tem aspecto de morto mas está bem vivo! O Cordeiro tomou o livro do que estava no trono, e todos na cena como um grande coro se prostraram em grande reverência e cantavam a dignidade dAquele que comprou para Deus com Seu sangue um povo formado de salvos de todas as tribos, línguas e nações para fazê-los sacerdotes do Deus Vivo! Que cena extraordinariamente maravilhosa! E, assim, cantavam: "Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos, porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação. Para nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes E eles reinarão sobre a terra" (vv. 9, 10). Se a visão tivesse terminado no acima exposto, já seria o bastante. Mas não foi o que aconteceu, porque bilhões de anjos rodeando o trono celestial cantavam a mesma dignidade e honra do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo: "Digno é o Cordeiro que foi morto, de receber poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor" (v. 12) E ainda mais: toda criatura no céu, na terra, debaixo da terra e sobre o mar, tudo louvava o Cristo de Deus com exclamações de "Amém!" (v. 14). Que significam os selos? Os quatro primeiros (6.1-8) 40 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Este trecho fala de um cenário de guerra. Há um convite feito para que João presencie a abertura de cada um. Ao se abrir o primeiro selo (vv. 1, 2), surge um cavalo branco,portando o seu cavaleiro uma arma: um arco. Recebeu uma coroa e saiu para buscar a vitória a qualquer preço. O segundo selo (vv. 3, 4) faz aparecer um cavalo vermelho, a cujo cavaleiro foi dada uma espada e a missão de tirar a paz da terra. O terceiro selo (vv. 5, 6) traz à cena um cavalo preto. Seu cavaleiro tem uma balança na mão. O último selo (vv. 7, 8) apresenta um cavalo amarelo, Morte é o nome de quem o monta, e está acompanhado pelo Inferno. A cena é pesada e apresenta um palco de guerra. O primeiro cavaleiro vem num cavalo branco, o que pode até dar idéia de ser o Cristo que vence. Não pode ser o Cristo vencedor, porque está no contexto de três outros cavaleiros que só trazem destruição e miséria. O mínimo que podemos imaginar é que seja um disfarce para parecer o Cristo de Deus. Parece mais ser o ambiente de negociações, de compra e venda de votos, de toma-lá-dá-cá dos acordos diplomáticos (arco é em linguagem bíblica o símbolo de aliança, de pacto, de contato, de convênio, haja vista, o "arco da aliança", o arco-íris (cf. Gn 9.8-17). A Segunda Guerra contra o Iraque é isso: os americanos entraram "vencendo e para vencer". Mas não venceram, porque diariamente morre, no mínimo, um militar americano. E até gente nossa que foi para lá em nome da paz, perdeu a vida. Quando se fala tanto de paz e o cenário só se conforma com a guerra, é evidência da obra e missão deste cavaleiro. Isso casa com Jeremias 6.14 que adverte, "Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz". O cavaleiro deste cavalo branco é o Negociador nos conflitos e guerras, mas que nenhuma vantagem ou negociação traz. Nessa cena bélica, o cavalo vermelho traz o conflito, o ódio, a violência tanto paga quanto gratuita, o clamor do inocente violentado em seus direitos, o derramamento de sangue. Somos todos testemunhas dessa violência gratuita que ocorre em nosso país. O cavalo seguinte, o preto, traz a inflação e a conseqüente fome, que são o resultado de revoluções, guerras civis e conflitos militares. Seu refrão representativo dessa inflação não pode ser outro: "Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho" (v. 6). Isso é um clamor pelo altíssimo preço obtido por uma medida de trigo. Isso significa cerca de 13 litros de trigo pelo salário de um dia do trabalhador, ou 39 litros de cevada pelo mesmo valor. Como poderiam as famílias fazer o pão de cada dia com preços tão absurdamente inflacionados? O último cavalo, o amarelo, é o fim de tudo. O que se perde de vidas e recursos humanos numa guerra é estarrecedor. São vítimas inocentes, crianças, até, sacrificadas no altar do deus Marte, o deus da guerra dos romanos. O jornal noticiou que o número de baixas do lado da coalizão atingiu um ponto crítico: é maior na paz que quando estavam em guerra?! Outros dois selos (vv. 9-17) Chegamos ao quinto selo (vv. 9-11). A cena apresenta debaixo do altar as almas dos martirizados. Aqueles irmãos e irmãs da Igreja apostólica que foram jogados às feras; cobertos com breu, e seus corpos incendiados para iluminar avenidas inteiras; senhoras, moças e adolescentes que foram violentadas, estupradas e depois mortas pelo Nome de Jesus. Tinham eles nos lábios uma exclamação que é, ao mesmo tempo, uma pergunta. Observem que eles estão absolutamente conscientes (há grupos que pregam que com a morte, o espírito fica dormindo na sepultura. No entanto, eles estão 41 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] absolutamente conscientes do que lhes aconteceu. Cada um recebeu um manto branco e a recomendação de que tivessem paciência (vv. 10,11). Os mártires pedem vingança. Mas a vingança não pertence a nós, e, sim, ao Senhor, ensina a Santa Palavra (Dt 32.35). Que eles tivessem paciência, a paciência e a perseverança próprias dos cristãos. O selo seguinte (vv. 12-17), ao ser rompido, trouxe um grande terremoto. Houve um eclipse solar, quando a Lua se apresentou rubra como sangue. Despencaram as estrelas, e o próprio firmamento foi enrolado como um cobertor. Jesus já havia falado sobre isso em Mateus 24, ao mencionar o princípio das dores. Montes e ilhas, continua João, saíram dos seus lugares, e o medo tomou conta de todos os poderosos (que só o são quando podem controlar os outros), de modo que se esconderam nas cavernas, tocas, buracos feitos nas montanhas pedindo que as rochas os escondessem Daquele que está sentado no trono, por haver chegado o Dia do Retorno de nosso Senhor! O sétimo selo (8.1-5) Na abertura do último selo, algo diferente aconteceu. Em lugar dos louvores, hinos, cânticos, exclamações de júbilo, fez-se silêncio. Silêncio por cerca de meia hora. Perceberam o contraste? Alguém maldosamente já disse que esse vai ser o único momento de tristeza para as mulheres no céu porque vão ficar caladas durante meia hora... Sete anjos receberam trombetas e, à chegada de um oitavo anjo, foi-lhe dado muito incenso que, juntamente com as orações dos salvos, subiu ao trono divino. O incenso era o modo gráfico, concreto como o hebreu dizia que a sua oração subia aos céus. Na mente do hebreu tudo tinha que ser bem concreto. Se falava em sacrifício, não era como o nosso pensamento que apenas diz, "temos que fazer um sacrifício..." Ele matava um animal, e, dependendo de sua situação econômica, esse animal era um boi, cordeiro ou casal de pombos. Quanto às orações, tomava um pedacinho de incenso e punha no incensário. Enquanto orava, a fumaça perfumada ia subindo. Dizia ele, então, "a minha oração está subindo ali no incenso..." Não é a nossa mentalidade que é helênica, grega, abstrata. No chamado Dia do Perdão (Yom Kippur), o sumo-sacerdote tomava dois bodes. Um era sacrificado no arraial; quanto ao outro, ele descarregava os pecados do povo na cabeça do animal e alguém o levava para o deserto, onde ele morria de queda no despenhadeiro ou de fome. Tudo muito físico e gráfico, portanto. O anjo toma, então, fogo do altar e o joga à terra, resultando em problemas cósmicos: terremotos, trovões e relâmpagos. Os anjos então se preparam para tocar as trombetas. Silêncio no céu... Sinal de admiração? De maravilha? Cessa a adoração vocal. O silêncio, porém, também é adoração. A adoração é multiforme: quando estamos em cântico é louvor, adoração; ao entregarmos o dízimo, é louvor; na celebração da Ceia Memorial, é louvor; em oração silenciosa, é adoração. Em silêncio, também. Essa é a música celestial, razão porque em sua peregrinação terrena, a Igreja de Jesus Cristo é instruída e encorajada a cantar em harmonia e no mesmo ritmo. Coesa, unida, firme, constante, abundante e perseverante, ela há de prosseguir até a Parusia, a Segunda Vinda de Cristo, o Juízo Final e a Bemaventurança eterna! 42 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] O APOCALIPSE - Estudo 5 Os Mártires ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br Apocalipse 7 "E ouvi o número dos que foram selados, e eram 144.000, de todas as tribos dos filhos de Israel" (Ap 7.4) Há muito debate sobre este texto. Grupos há que fantasiam, até, em torno do número dos selados de Israel, os 144.000 aqui mencionados. No entanto, como todos os outros números expostos neste admirável livro, este também guarda um profundo simbolismo. Seu valor não é o da ciência exata da matemática, onde 1 + 1 = 2, e 5 + 5 = 10. O real valor deste e de outros números no Apocalipse é espiritual e moral. Neste tipo de literatura, números são conceitos, são idéias e são pensamentos, não o seu valor de face. Como introdução (vv. 1 - 3) O capítulo 7 do livro do Apocalipse explica que enquanto a Igreja de Cristo estiver no mundo, o juízo final será adiado. Estes versos introdutórios são interessantes: Em cada ponto cardeal, há um anjo. Há um no Norte, outro no Sul, e mais dois no Leste e no Oeste. O vento se encontra completamente parado porque os anjos os seguram. Vamos imaginar uma tarde de mormaço. Não há uma qualquer folha se movendo; os coqueiros estão parados, as plantas do jardim não se movem, como se o vento estivesse encaixotado com o tremendo calor. É o que temos aqui. Os anjos freiam os ventos e a conseqüência é que as nuvens estão estacionadas, estão lá em cima, mas paradas, não há ondas no mar e folha alguma da vegetação está se movendo. Sequer há brisa. Parece um filme de ficção científica. Surge um anjo do lado oriental trazendo o selo do Deus Vivo. Ele fala aos outros anjos, o do Norte, o do Sul, o do Leste e o do Oeste, e alerta a que não danifiquem a natureza até que todos os salvos estejam selados. Nesse ponto da visão, João ouve o número dos que serão selados: 144.000. Quem são os 144.000? (vv. 4 - 8) É uma pergunta que tem preocupado muitos cristãos. Reflitamos pelo lado negativo. O que os 144.000 não representam? ¨ Não são pessoas individuais. Uma seita nascida, por sinal, no ambiente evangélico ensina que são as pessoas que habitarão o céu, enquanto os outros milhões permanecerão na terra renovada. Essa leitura literal não tem cabimento porque, a ser verdade, de acordo com o capítulo 14.3,4, só iriam para o céu, homens (o texto não fala em mulheres?!), e estes homens nem podem ser casados?! São todos meninotes, rapazes e homens virgens. Que tremenda incoerência!!! Homens casados ou não mais virgens, nem mulheres não irão para o céu... É preciso entender a ciência da Exegese e da Hermenêutica que esclarecem o ensinamento da Bíblia Sagrada. Quando utilizamos essas ciências, descobrimos que a leitura não pode ser linear, direta, literal. A leitura é diferente porque este é um estilo diferente de literatura. Chegamos à conclusão que ler linearmente é um despropósito. O ensino geral da Palavra de Deus, no entanto, é que essa quantidade representa uma multidão incalculável para a mente e o coração humanos. 43 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] ¨ Não são as tribos de Israel. Apesar dos versos 4 a 8, numa leitura apressada, darem essa idéia, um exame mais detalhado desfará o engano. São 12.000 de cada tribo. No entanto, não há menção às tribos de Efraim e de Dã. No entanto, a tribo de Levi, que não tinha herança entre as outras tribos, está mencionada. João também faz referência à tribo de José, que não existia, e, como relata a Escritura Sagrada, foi representada pelos seus filhos, Manassés e Efraim. Finalmente, quem são os 144.000? Não esqueçamos algo básico que é o valor conceitual, moral e espiritual dos números para a interpretação bíblica. Portanto, é necessário dissecar este número. 144.000 é o resultado da operação 12 X 12 X 1000. Nesse pequeno e sugestivo cálculo matemático, temos uma preciosa lição. Estes números são a chave para abrir a porta para um belíssimo conceito, o do precioso ideal da gloriosa esperança, da habitação eterna e perene com Deus. 12 são as tribos de Israel; 12 é o número dos apóstolos. Significa que as tribos de Israel representam aqui todos os salvos e fiéis do Antigo Testamento; os apóstolos simbolizam todos os fiéis e salvos do Novo Testamento. 12 X 12 (144) são todos os fiéis da Antiga Aliança e todos os remidos da Nova Aliança, TODOS OS SALVOS, portanto! Todos os que foram comprados pelo sacrifício de Jesus Cristo, resgatados do poder do mal, e que formam a Igreja Vitoriosa e Militante! E os 1000? É 103 (dez elevado ao cubo), o resultado da operação 10 X 10 X 10. Na linguagem bíblica, 10 é número de altíssimo valor e significado porque reúne nele o 3 (número de Deus) e o 7 (número da obra completa, da plenitude). Esse ilustre número (o 10) está multiplicado por ele mesmo duas vezes, quer dizer, 10 X 10 X 10, como já foi mencionado. É o número de altíssima perfeição (10) multiplicado pelo número de Deus (3). O resultado só pode ser o máximo de bem-aventurança: ter a fronte selada (símbolo de propriedade) por ordem do próprio Deus! (cf. v.3). Multiplicando o resultado de 12 X 12 (144) pelos 1000 do parágrafo acima temos como resultado 144.000,número ideal, representando o conceito de todos os salvos, em todos os tempos, de todos os lugares, de todos os quadrantes, de todas as raças, de todas as condições sociais. A visão dos glorificados (9 - 17) O trecho final do capítulo 7 do livro do Apocalipse apresenta os remidos de Jesus Cristo que, apesar de passarem pela Grande Tribulação, sairão imaculados e ilesos. O texto diz que a multidão era tão grande que não podia ser contada. Diz que, mesmo sendo de nações, tribos, povos e línguas diversas, exclamavam a uma só voz louvando a Deus e a Jesus Cristo, o Cordeiro que foi morto, mas vive. À pergunta de um dos anciãos sobre quem são estes de roupas brancas, o próprio João responde que são os que passaram pelos sofrimentos dos últimos dias e lavaram suas vestes e suas vidas no sangue purificador de Jesus Cristo, e, agora, já não mais experimentarão dor, lágrimas, fome, angústia ou penúria. Estão com Cristo por toda a eternidade! O APOCALIPSE - Estudo 6 As Trombetas ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB 44 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] www.iprb.com.br Apocalipse 8.6-13; 9.1-21; 11.15-19 "Então os sete anjos que tinham as sete trombetas preparam-se para tocar" (Ap 8.6) Estes capítulos do livro do Apocalipse tratam de orações e proclamações. O incenso utilizado no santuário subindo com as orações dos santos e se unindo às trombetas dos 7 anjos. Por que foram apresentadas estas 7 trombetas? O simbolismo é de fácil identificação: trombetas dão comandos, sinais de alerta, chamam a atenção para algo importante a ser comunicado. Quando a tropa ouve a corneta, sabe se deve se colocar em posição de sentido ou de descansar. Compreende se deve marchar, debandar ou ir para o rancho. Há um caso famosíssimo na história da Bahia que é o episódio envolvendo o soldado chamado Corneta Lopes. Por ocasião da batalha de Pirajá, Lopes fez algo inusitado. Recebera ordem de tocar "retirada"; no entanto, tocou "avançar e degolar!". A tropa baiana avançou, e a portuguesa debandou. Já estava esta ganhando a batalha, mas houve um tremendo susto, e com isso os brasileiros venceram a batalha, expulsaram os lusitanos, e deu-se a independência da única porção de solo pátrio ainda em mãos européias. Com isso, surgiu o 2 de julho, data da independência da Bahia. A rua entre o nosso templo e o Teatro Castro Alves chama-se Travessa Corneta Lopes em sua homenagem, o herói que utilizou sua trombeta para elevar o moral das tropas nacionais. Em Josué 6.5, Deus anunciou com trombetas o julgamento da ímpia cidade de Jericó. O contexto de Números 10.1 e 2 apresenta trombetas convocando o povo para a adoração. As trombetas do Apocalipse vão anunciar alguma coisa, e não é coisa boa, a não ser uma delas. São até de assustar. Elas exortavam "Pare! Deixe de fazer o que está praticando! Arrependa-se!" Podemos dizer que são instrumentos proféticos. Pragas e trombetas (Ap 8.6-13) Neste livro, as trombetas trazem mensagens breves e anunciam pragas. E como explica o verso 7, essas pragas destinam-se à natureza. Corresponde à primeira trombeta: "saraiva e fogo misturado com sangue". Pedras caindo do céu, fogo e sangue... Tétrico! Como resultado, um terço da terra foi queimado, incluindo árvores e gramados. Ou, ainda, no caso do alerta da segunda trombeta, uma grande montanha em chamas foi jogada ao mar. Imaginemos que estando aqui em Salvador com esse enorme mar à frente, de repente, cai uma montanha de fogo na Baía de Todos os Santos matando um terço do que estava no mar: navios petroleiros, barcos de pesca, os ferry boats, os lindos navios de cruzeiros que chegam quase diariamente ao nosso porto. Dizem os versos 8 e 9 que um terço da fauna marinha foi dizimada, sendo que navios e barcos foram igualmente destruídos (vv. 8, 9). É conveniente recordar que no episódio da primeira praga sobre o Egito, as águas tornaram-se sangue. Ao tocar a terceira trombeta, caiu uma estrela de fogo. E essa estrela tem nome. Aliás, costumam dar nome às estrelas e às constelações: Cruzeiro do Sul, Cão Maior, Centauro, Mosca, Triângulo Austral, Orion. A estrela cadente do Apocalipse é chamada de Absinto, palavra que significa "amargor". Ela caiu sobre os rios tornando suas águas venenosas, impossíveis de serem consumidas e levando pessoas à morte (vv. 10, 11). Ao toque da quarta trombeta, estrelas e planetas foram feridos, deixando de haver luz e brilho. Passa, então, uma águia voando. A águia é uma ave que tem um belíssimo vôo, altaneiro; nas alturas, reina 45 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] absoluta, tem uma agudeza incrível de visão: pode ver do alto do seu sereno vôo, ver um ratinho no solo, e, então, desce como uma flecha e pega a sua presa. A águia tem um vôo muito lindo. Mas esta do Apocalipse passou tão triste, e seu grito dolorosamente ecoou como "Ai! Ai! Ai dos que moram na terra!", por causa das trombetas que faltam soar. Essas imagens de desolação e terror visam a chamar a atenção para o fato de que Deus tem o controle de todas as coisas. Isso não é para nos assustar, mas para nos deixar satisfeitos e felizes. Nosso Deus é grandioso bastante para ter controle de toda situação. Seja das águas dos rios ou dos oceanos, seja das estrelas, planetas no espaço sideral. Deus é justo, e vai exercer sobre o mundo Seu juízo para cumprimento do Seu plano com o respectivo e definitivo julgamento sobre os maus, e a anunciada e aguardada bem-aventurança, galardão de todos os que crêem. Os Ais (Ap 9.1-21) Ressoa a quinta trombeta, que é, como vimos acima, o primeiro dos "ais!"Vêm as lamentações. Se as pragas das quatro primeiras trombetas foram horrorosas, as três últimas serão piores. Quando a trombeta foi tocada, uma estrela portando a chave do abismo caiu do céu à terra e liberou forças satânicas terríveis, tremendas, perigosíssimas, simbolizadas pelos gafanhotos envoltos em fumaça tal que houve um eclipse do sol. No entanto, essas forças malignas não têm poder de matar: só de atormentar, e, mesmo assim, aos que não têm a marca divina (vv. 4, 5). Ai de quem é vítima dessa estrela caída, dos escorpiões, das forças satânicas. Não é esse o quadro de vida do filho ou da filha de Deus, o qual ou a qual tem o selo de qualidade da parte do Deus Eterno, tem Sua guarda, Sua proteção, Seu amor infinito, e está salvo ou salva pelo poder do que emana do Calvário. É nesse ponto que toca a sexta trombeta (vv. 13 a 21). O rio Eufrates (cf. v. 14), aquele que passa em Bagdá, capital do Iraque, é a última barreira entre o povo de Deus e o sistema perverso deste mundo. Lembrem-se que "Babilônia" no Apocalipse é símbolo de tudo o que é iníquo, de tudo o que não presta. O rio é uma barreira entre a Terra Santa e o sistema maligno do mundo. Na Bíblia, mar, rio, oceano são sempre sinais de separação, distância entre um povo e Deus, ou uma pessoa e o Criador. No entanto, a força maligna está representada por um poderosíssimo exército de cavalarianos, conforme o simbolismo do verso 16: 200 milhões cavalarianos. Os próprios cavalos são de uma descrição amedrontadora: cabeças de leão expelindo fogo, fumaça e enxofre pelas bocas, caudas como serpentes, sendo que essa fumaceira, esse fogo e o enxofre vieram a matar 33% das pessoas. Mas Deus chama ao arrependimento. Ai de quem o ignora! Os versos 20 e 21 deixam claro que a convocação divina é constante e que ignorá-la é um terrível perigo! A sétima trombeta (Ap 11.15-19) É o último "ai!" É anunciado, no entanto, em termos gloriosos porque trombetas e um grande coro proclamam que "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos". Há, por acaso, notícia mais feliz? Quer dizer o seguinte: se para o mundo impenitente, o que não se arrepende, perdido, ímpio, os primeiros "ais!" amedrontam, para a Igreja de Cristo, o último "ai!" é anúncio de glória! Destruição para o mundo, vida eterna, porém, para os filhos de Deus! A justiça de Deus está feita. Como tudo ficou diferente a partir deste evento: o santuário celeste foi aberto, a arca da Aliança vista 46 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] no seu lugar; relâmpagos, trovões, movimento de terra e chuva de saraiva são sinais da grandeza de um Deus que é Todo-Poderoso, o El Shadday, o Deus a Quem servimos! O APOCALIPSE - Estudo 7 - "Eis que vem com as nuvens..." ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br O livro doce e as duas testemunhas Texto Bíblico: Apocalipse 10.8-10; 11.3-12 Entre a sexta e a sétima trombetas, há uma pausa. O mesmo já havia acontecido entre o sexto e o sétimo selos (veja o capítulo 7). Temos um padrão: entre a sexta e a sétima trombetas, uma interrupção. O objetivo desta pausa é apresentar a próxima trombeta como sendo de importância especial, é fazer um suspense dentro do livro do Apocalipse. Trovões e livrinho (Ap 10.8-10) O centro de atenção desta pausa é um livro que está mencionado no verso 2, "Ele [o anjo] segurava um livrinho, que estava aberto em sua mão". Este livro tem algo escrito. Que vamos encontrar? A mensagem deste pequeno capítulo (apenas onze versículos) é que, apesar de toda essa violência, destruição e recusa de receber a graça de Deus, a situação não pode nem vai continuar deste modo. Nosso Deus não pode permitir, não vai permitir, e assegura-nos aqui que este estado de coisas não pode continuar desta maneira. Por isso, o anjo que, envolvido pela nuvem, havia descido do céu trazendo um livrinho, com o arco-íris sobre a cabeça, a face resplandecente como o Sol e as pernas como colunas ardendo, de fogo, põe o pé direito sobre o mar e o esquerdo, sobre a terra, e brada com uma forte voz. Imaginem um gigantesco anjo vindo a nossa cidade, e colocando o pé direito na Baía de Todos os Santos e o esquerdo sobre a terra, na região do Comércio, começa a bradar com uma voz muito forte como se fora um trovão. Tendo isso acontecido, sete trovões falaram, ou seja, a idéia de algo grandioso, majestoso e completo. Uma voz vinda do céu disse ao espantado João, no exato momento quando ia registrar o que havia presenciado, que mantivesse em segredo o que havia ouvido. Fala o anjo e profetiza que não haverá demora para que as últimas coisas aconteçam. Não parou nessa palavra o que o anjo tinha a dizer, e, então, recomenda o Vidente a tomar o livrinho que está na sua mão e o comesse. Esse livro tem a qualidade de ser doce na boca, porém amargo no estômago. Há comprimidos que são docinhos na boca, mas saindo a agradável camada doce são horrivelmente amargos. É um paralelo com o que aconteceu a João. A exortação que vem a João é que ele profetize a respeito do que há de acontecer a povos, nações e governantes. Por que o livro apresentava esse contraste: ser doce na boca e amargo no ventre? Sem dúvida, dá para compreender que o lado doce e suave do livrinho é a salvação e seus suavizantes, salutares e curativos efeitos. Realmente, a salvação e algo de mais saboroso que pode acontecer a uma pessoa. Quando alguém reconhece Jesus Cristo como Salvador pessoal, há uma transformação que o leva a sentir o mundo de um modo suave, absolutamente doce. O lado amargo do evangelho, o lado amargo desse mesmo livro, representa a promessa de julgamento nos termos de João 3.36, que ensina, "Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus". Não é terrível? O lado doce é a pregação, por essa razão, eu não me canso de pregar, de anunciar que Jesus Cristo é o meu Salvador, que Ele tem salvação suficiente e eficiente para todo aquele que crê. Mas a minha lamentação é por aquele que não crê. É o meu lado 47 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] amargo: sinto uma enorme amargura na boca, no estomago quando verifico que a mensagem do evangelho é tratada levianamente por quem a ouve. Uma mensagem de renovação, de eternidade, até. Mas quando recusada, traz ao pregador uma amargura sem dimensão. Algumas reflexões É um capítulo tão pequeno, e, no entanto, apresenta fatos relevantes, como a chamada de João e a ordem que ele recebe de pregar o evangelho. Sua vocação está nos versos 8 a 10, quando ele é encorajado a comer o livrinho. Esta figura ("comer a palavra") já havia aparecido na Escritura Sagrada como ocorre em Jeremias 15.16 ("Quando as tuas palavras foram encontradas, eu as comi; elas são a minha alegria e o meu júbilo, pois pertenço a ti, Senhor Deus dos Exércitos"). O profeta Jeremias já havia experimentado esse mesmo livrinho. Em Ezequiel 3.1-3, está dito: "E ele me disse: 'Filho do homem, coma este rolo; depois vá falar à nação de Israel'. Eu abri a boca, e ele me deu o rolo para eu comer. E acrescentou: 'Filho do homem, coma este rolo que estou lhe dando e encha o seu estômago com ele.' Então eu o comi, e em minha boca era doce como mel". Ezequiel, portanto, menciona que havia compartilhado deste mesmo livro, que, sem dúvida, todos nós já temos comido, e tem sido doce na nossa boca, a salvação, e amargo no nosso ventre, a recusa dessa mesma bênção. O significado é claríssimo: o pregador da mensagem deve experimentar o doce e o amargo da pregação que salva, o lado prazeroso e o sofrimento de pregar o juízo de Deus. Como conheceremos a felicidade e a doçura de ter os pecados perdoados e da comunhão eterna com Cristo, se não absorvermos a Santa Palavra? Como saberemos do destino final do ímpio, de sua eterna separação de Deus, se não experimentarmos o fel e o gosto de absinto, o amargor dos resultados da mensagem de salvação rechaçada? A outra reflexão tem a ver com a conseqüência de sua chamada. Estamos falando da missão que lhe foi confiada: "É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis" (v.11). Jeremias e Ezequiel também ouviram comissões como essa (cf. Jr 15.16-18 e Ez 2.9-3.9). Todos, em todos os lugares, de todas as línguas, do governante da nação ao mais simples, ao povo comum, todos têm o direito de ouvir a mensagem que salva. Todos, em todos os países, de todos os dialetos e sotaques, do palácio do governo à pessoa mais simples que passa na rua ou se deita nas calçadas têm a grave responsabilidade de ter a ocasião de dizer "sim" ou dizer "não" ao Deus misericordioso que chama, clama, bate à porta e convida, num gesto de ternura, carinho e graça, que não é outra coisa senão o amor que não merecemos, mas que Ele nos dá. As duas testemunhas (Ap 11.3-12) Vem agora a segunda parte do intervalo entre a sexta e a sétima trombetas. Não podemos, porém, esquecer que a ênfase é a urgência da proclamação. O evangelho que pregamos tem regime de urgência urgentíssima, não pode ser retardado, demorado. É a necessidade de arrependimento, de conversão, porque Cristo em breve vem. E o verso 6 do capítulo 10 declara, "Já não haverá demora". Os versículos 3 a 6 deste capítulo dão um retrato da Igreja de Cristo na figura de duas testemunhas, que representam também a totalidade da Igreja, a do Antigo Testamento e a do Novo Testamento. Como são descritas essas duas testemunhas? ¨ "Vestidas de pano de saco", símbolo de humildade e arrependimento (v. 3b); 48 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] ¨ expelindo fogo pela boca se alguém pretender causar-lhes dano; é figura do poder do evangelho (v. 5a); ¨ tendo autoridade sobre o céu para impedir as chuvas durante a sua pregação, como agente do TodoPoderoso (v. 6a); ¨ tendo autoridade sobre as águas para convertê-las em sangue, confirmando sua condição de agência do reino de Deus (v. 6b). Discute-se muito sobre quem seriam as duas testemunhas. Há quem afirme que são Moisés e Elias, até porque ambos exerceram a autoridade de realizar sinais: descer fogo do céu, transformar água em sangue, ou impedir que chovesse. A verdade é que não é fácil ser testemunha do evangelho de Cristo, razão porque os versos 7 a 9 mencionam que são mortas e expostas à curiosidade do povo. A oposição ao evangelho sempre haverá, pois, "a besta que surge do abismo pelejará contra elas, e as vencerá, e matará" (v.7). Porém, diz a Escritura Sagrada que Deus não permitirá que nossa alma veja a corrupção, e, deste modo, a gloriosa ressurreição vai acontecer, e o arrebatamento nos levará ao Senhor, como declaram os versos 11 em diante: "... um espírito de vida, vindo da parte de Deus, neles penetrou, e eles se ergueram sobre os pés, ... e as duas testemunhas ouviram...: Subi para aqui. E subiram ao céu numa nuvem..." Não podemos deixar de dizer agora: Glória a Deus! A vitória é dEle que não deixará que nossos corpos vejam a corrupção, e seremos arrebatados como as duas testemunhas o foram. Passou o segundo "ai!" O APOCALIPSE - Estudo 8 - "Eis que vem com as nuvens..." ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br Contra as forças do mal Texto Bíblico: Apocalipse 12.1-8; 13.1-18 O centro de tudo continua a ser a Igreja de Jesus Cristo, suas lutas tanto internas quanto externas, as perseguições que sofre, e a segurança de uma vitória que é certa. O livro nos fala sobre luta e vitória. Derrota nunca, mas vitória assegurada! Nesta próxima visão, o conflito entre o Bem e o Mal não cessou e nem vai cessar. Ele continua, mas será retratado com novos símbolos. Surgem o dragão e duas bestas: a que vem do mar e a que vem da terra. Por essa razão, precisamos entender os códigos envolvidos. A mulher e o dragão (Ap 12.1-8) Aqui está uma mulher vestida de glória. Como faltassem ao autor palavras humanas adequadas para descrever o magnífico momento que testemunhava, ou que pudessem retratar a belíssima visão que estava presenciava, teve de fazê-lo deste colorido modo: uma mulher "vestida de glória"; seu vestido é o Sol, o tapete é a Lua, e sua coroa, 12 estrelas. Que visão magnífica... Tanto era o brilho que ele disse "ela estava vestida de sol". Que extraordinária, linda, magnífica visão diante do Vidente João. Mas ela se encontra em crise, porque em processo de dar à luz a uma criança, e sofre. Conhecemos senhoras que deram à luz um bebê de modo absolutamente natural, e sem qualquer sofrimento. Mas temos ouvido de processos dolorosos e críticos. Esta mulher da visão apocalíptica é a Igreja de Jesus Cristo, que no ensino da Bíblia Sagrada é uma só, seja na Antiga Aliança ou na Nova Aliança: e a Igreja dos salvos na fé. Para uns, no Cristo que viria; para outros, no Cristo que já veio. Afinal, Abraão, pai dos israelitas, é chamado na Escritura de "pai dos que crêem" (Rm 4.11). A rigor, só existe um povo 49 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] escolhido por Deus, uma raça eleita e um sacerdócio real. O Israel da Antiga Aliança prefigura o Israel da Nova Aliança, que é a Igreja de Cristo, Sua noiva aguardando o retorno do noivo conforme o ensino dos apóstolos (cf. 2Co 11.2; Ef 5.25-27; Ap 21.2) Este povo, chamado de Israel de Deus, o remanescente fiel (veja Rm 9.27; 11.5), a Igreja de Cristo, tem sido alvo de desprezo, de escárnio, de perseguição como tem acontecido ao longo destes séculos. Mas isso só quando vislumbrado com os olhos humanos. Visto, porém , com o sentimento de Jesus Cristo, é a Sua Igreja, Sua noiva, tão cheia de glória que merece ser descrita como "mulher vestida de sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça" (Ap 12.1) O menino que há de nascer mencionado no verso 5 é, segundo muitos especialistas no Apocalipse, o Cristo. Não se preocupe com o pensamento lógico ou fora da lógica da literatura apocalíptica. Pois, se acima está dito que a Igreja é a esposa de Cristo, agora ensina o Apocalipse que a criança prestes a nascer é Ele próprio. Mas não deveria ser o contrário? A linguagem oriental, e mais ainda, a linguagem simbólica, emblemática deste tipo especial de literatura nem sempre segue as regras, normas e padrões do pensamento ocidental, grego, a que estamos acostumados. A lógica da Revelação é toda outra. O próprio Senhor Jesus Cristo o demonstrou quando ao longo do Seu ensino declarou que quem sempre quer ganhar, termina por perder (Mt 19.29). Quem não se importa de tudo abandonar pelo amor de Jesus, recebe o reino e o restante. Alguém quer ganhar, ganhar, ser o exclusivo, resulta por ser o último, porque a palavra profética de Jesus Cristo diz que "muitos dos primeiros serão últimos, e muitos dos últimos, primeiros" (Mt 19.30). Porém, se alguém se colocar numa posição de submissão, de humildade, há de ser elevado, porque a lógica do evangelho é extremamente diferente da filosófica. No Apocalipse, também. É o Cristo que há de nascer pela pregação da Igreja no coração de tanta gente. O fato é que esta criança "há de reger todas as nações com cetro de ferro", expressão que aparece no Salmo 2.9. E o dragão? (Ap 12.4, 5) É descrito como gigantesco, vermelho, com 7 cabeças que portam diademas, 10 chifres, e cuja poderosa cauda, golpeando, arrastava um terço das estrelas, que eram jogadas à terra. Estava postado em frente da mulher, apenas aguardando que a criança nascesse para devorá-la. Ao ser dado à luz o menino, foi este imediatamente arrebatado para o trono de Deus, sendo que a mulher, fugindo para o deserto, encontrou um lugar preparado por Deus onde ficaria num período de espera. Um pouco abaixo, no versículo 9, está identificado o dragão. É "a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo". Já é velho conhecido, portanto... O texto vai adiante: "foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos". Quer dizer, o que fizera com as estrelas jogando-as para a terra, aconteceu-lhe. O grande dragão, a velha serpente, virou lagartixa nas mãos das tropas celestiais liderandas por Miguel, que tem a patente de arcanjo, e cujo nome, só ele, já fala de vitória (Miguel em hebraico significa "Quem pode ser comparado a Deus? Quem é como Deus"). A figura apresentada tem muita força. Diz o versículo 3 que era "grande, vermelho, com sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diademas". 7 cabeças coroadas significam o poderio universal de Satanás (leia Ef 2.2; 6.12; Ap 17.9); 10 é número de plenitude, chifre é autoridade (cf. Ap 17.12; Zc 1.18, 19), diadema (ou coroa) é, igualmente, símbolo de autoridade. Dá para entender a tremenda influência satânica atuando nos governos, nos palácios, nas administrações, nos Senados, nas Câmaras, na política, enfim, na obra deletéria, perversa, malvada, maligna de destruir os fundamentos e a beleza da obra de Deus, e, sobretudo, de derrubar e derrotar o Seu povo. Mas não vence, não. Ele próprio é derrubado, derrotado e ouve a proclamação dos céus: "Agora, veio a 50 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo... festejai, ó céus... " (cf. Ap 12.1012). Perceberam porque Satanás faz um ataque tão violento ao povo de Deus? A besta que vem do mar (Ap 13.1-10) Todo o capítulo 13 é sobre esta besta. De onde vem esta palavra? Vem da língua latina (bestia) e significa "fera". Em nossa linguagem coloquial, tem tríplice significado: 1. inteligente ("ele é fera (sabido) na matematica"); 2. convencido, orgulhoso ("nunca vi uma pessoa tão besta (pedante) como Fulano"); 3. atoleimado ("larga de ser besta (bobo, tolo), Sicrano"). O significado básico deste vocábulo é o de "animal feroz" (há uma modelo de veículo cujo nome é Besta, ou seja, Fera). Este animal feroz agora descrito procede das águas do mar. Não mais o cenário da terra, nem o dos céus. Não mais o cenário da mulher vestida gloriosamente de sol, pisando o tapete da lua. Agora é a fera que vem do mar. A descrição da fera, que mistura onça, urso, leão e dragão mitológico num só ser, apresenta, mais uma vez, seu poder devorador, sua personalidade e força recheadas de malignidade. Por isso, o design da besta representa, na reunião de vários animais, a extrema ferocidade.. A descrição é semelhante à anterior: 10 chifres, 7 cabeças, 10 diademas sobre os chifres e uma faixa, como se fosse uma "Miss", com palavrões e blasfêmias, que é coisa própria de Satanás. Blasfêmia, palavrões e impropérios, palavras torpes e obscenas, piadas de mau gosto é a pedagogia Satanás, é só o que ele sabe ensinar. Mas não era um dragão, e, sim, um leopardo monstruoso, uma monstruosa onça, pois além de 7 cabeças, tinha pés de urso e boca como a de um leão. O final do versículo 2 diz qual a sua pretensão, visto que o dragão lhe concedera "o seu poder, o seu trono e grande autoridade". Que deseja ela? Domínio e autoridade. Observe que a situação é extremamente séria, pois se trata de governo, e de governo mundial. Mar representa na linguagem apocalíptica as nações do mundo. O animal retratado, aliás, já fora encontrado no livro de Daniel 7 No verso 2, encontramos o mar (chamado "mar Grande", o Mediterrâneo). Nos versos 3 a 7, quatro animais: um leão, um urso, um leopardo, e outro não descrito fisicamente, mas apenas com adjetivos como "terrível, espantoso e forte, com dez chifres". Daniel fala do mesmo animal. Estamos falando de governo mundial. No relato da tentação de Jesus Cristo, que pode ser lido em Lucas 4.1-13, está registrado que o Inimigo ofereceu a Jesus "todos os reinos do mundo" dizendo, "Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser" (Lc 4.6). O Mestre recusou. Jesus Cristo tem Sua glória própria, não precisa da que é dada por Satanás. Mais adiante, Jesus declarou que Seu reino não era nem poderia ser deste mundo (leia Jo 18.36), o que faz absoluto sentido porque os reinos do mundo estão sob o controle deste Inimigo-de-nossas-almas. A besta que vem do mar também não será vitoriosa, como veremos adiante. A besta que vem da terra (Ap 13.11-18) Se a primeira besta representa o poder dos governos com tudo a que têm direito nas manobras políticas, sedução de vidas e engodos diplomáticos, a segunda besta, "a que vem da terra", é significativa do poder da falsa religião. 51 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] A descrição do culto satânico no verso 4 é de arrepiar! Observe: "Adoraram o dragão, que tinha dado autoridade à besta, e também adoraram a besta, dizendo: Quem é como a besta? Quem pode guerrear contar ela?" Que terrível a exaltação feita à besta: "Quem é semelhante à besta? Quem pode guerrear contra ela?" Todo culto falso é uma paródia, o contrário do que ensina a Sagrada Escritura. E não precisamos ir muito longe: o Candomblé resulta num falso culto porque parodia o Culto da Antiga Aliança. Num sacrifício, o animal dedicado deveria ser absolutamente sem mancha, todo branco. No Candomblé, o animal oferecido e todo preto. O óleo da unção feito com azeite extra-virgem é substituído pelo azeite de dendê. Os bolos oferecidos como oferta de paz são substituídos por outras comidas, inclusive pipocas. Pombinhas são substituídas por um galo. Paródia. Voltemos a atenção para Apocalipse 12.7, onde fala de Miguel. Lembra-se do significado deste nome? "Mi-cha-El?" é a expressão na língua de Jesus que pergunta já com a segurança da resposta implícita: "Quem é semelhante a Deus? "Quem pode pelejar contra Ele?"Aqui, no entanto, a pergunta se torna "Quem é semelhante à besta?"O contrário do Culto divino. Em vez de perguntar, "Quem, Senhor, é igual a Ti? Quem pode ser como Tu és?" Eles perguntavam, "Quem pode ser semelhante a este dragão? Quem pode ser semelhante a esta fera tão maravilhosa e plena de sinais que vem do mar?" O poder da falsa religião, portanto. Isso significa que o culto da besta é uma paródia muito mal feita da adoração a Deus Todo-poderoso. Observe os detalhes da aparência desta diabólica fera: é como um manso e terno cordeirinho. A figura do cordeiro é bíblica. O cordeiro dos sacrifícios da Antiga Aliança prefigura Cristo, chamado por João de "cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo" (veja Jo 1.29; Ap 5.6; 1Pe 1.19; 2.24). O balido do cordeirinho é suave, e delicado. No entanto, este é diferente: fala como dragão (v. 11). Percebeu onde está a mentira? Falsa religião! Sim; porque esse crime tem nome: falsidade ideológica. E Satanás e nada mais nada menos que um portador de falsidade ideológica, e a falsa religião pode até assemelhar-se à adoração, prática, linguagem e liturgia da Igreja de Jesus Cristo. A diferença, no entanto, está na sua essência: na palavra, porque fala como dragão, e não como o Cordeiro de Deus. Essa é a má notícia: engana os desavisados, os incautos, os iludidos e os que ficam encantados com qualquer coisa bonita e ruidosa que lhes pareça a verdadeira religião. E vão atrás, pois qualquer ajuntamento, evento, novidade, modismo, qualquer coisa que apareça que se assemelhe à verdadeira religião e falando até em nome da religião há quem vá atrás. E mesmo gente de igreja (para não dizer da nossa igreja...) A boa notícia é que nós não somos enganados porque Jesus Cristo o garantiu. Ele deixou bem claro: "Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim" e também, "As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem" (Jo 10.14, 27). A religião mentirosa, falsa, não parece querer prejudicar, mas prejudica; não parece ser má, mas o é. É somente ver as suas obras: -se ao poder governamental, anda "assim" com o governo, o que ele diz, ela faz, não interessa quem está no governo, pois ela sempre está junto, v. 12a); s pessoas a adorarem a primeira besta (v. 12b); 14); os que não a adorarem (De 52 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] us criou o ser humano e deu-lhe o Seu fôlego, pois Satanás fez o mesmo com a besta, v. 15); sobre a indústria e o comércio (vv. 16, 17). O versículo final ensina a calcular o número dessa besta: é 666. Minha filha me chamou a atenção para um comercial de tintura de cabelos que está passando na TV, uma modelo está falando e por trás dela aparece uma caixa com a marca e o número da cor que ela está usando [666]. No final do comercial, a modelo declara, mostrando o cabelo bem vermelho, "O que estou usando é o 666..." Pai Eterno!... Não é outro senão o sinal da besta! Diz a Escritura que este é o número do Anticristo, o número de um homem. Há quem imagine que o Anticristo deva ser um líder religioso altamente magnético, capaz de profundamente influenciar as massas populares. Há quem imagine que seja uma organização religiosa ou o seu cabeça e pastor. O texto não identifica quem seja o Anticristo, mas diz que o número 666 é número de homem. Está lembrado de que falamos que o número 7 representa algo completo, obra plenamente realizada, plenitude? Se 7 é o completo, o realizado, 6 é o incompleto, o irrealizado. 6 é o número que, por mais que se repita, por mais que se esforce nunca chegará a ser 7. Daí a sequência 6, 6, 6, 6, 6, até o infinito, mas vai ficar nisso: por mais que tente, não conseguirá ser 7, ou seja, o número salvação, da obra consumada na cruz e na ressurreição. O Anticristo assume muitas formas, mas uma característica básica permanece: não fala como Jesus, não nos olha como Jesus Cristo, não nos ama como o Salvador, não cuida de nós como o Bom Pastor. É falso. Mas glória a Deus que temos um Pastor que cuida de nós, que olha por nós, e até deu Seu sangue para nossa salvação! O APOCALIPSE - Estudo 9 - O significado das sete taças ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br Texto Bíblico: Apocalipse 15.5-8; 16.1-19 Uma nova perspectiva será abordada nesta reflexão: são sete taças da ira de Deus, cujos conteúdos são flagelos, pragas. João viu, no céu aberto, o santuário do tabernáculo do Testemunho (15.5), de onde saíram sete anjos portando taças com os mencionados flagelos (v. 6a). Nesse ponto, um dos quatro seres viventes de Ap 4.7 deu aos anjos taças de ouro que continham a cólera divina. O versículo diz que "O primeiro ser parecia um leão, o segundo parecia um boi, o terceiro tinha rosto como de homem, o quarto parecia uma águia em vôo" (NVI). Um deles deu aos 7 anjos taças de ouro contendo a cólera divina. Encheu-se o santuário de uma espessa cortina de fumaça que provinha da glória de Deus. A Glória de Deus tanto no Antigo quanto no Novo Testamento apresenta manifestações variadas. A Glória de Deus tem nome. Diz-se em hebraico, Kavod (dbk); em grego é Doxa (doxa). Tanto a Kavod, a Glória Divina, contendo a Shekinah, a Presença Gloriosa de Deus, quanto a Doxa são igualmente essas manifestações da Presença, da Glória, da Majestade e da Soberania de Deus, apresentando em ocasiões diversas modos diferentes de manifestação. A Moisés, a Glória divina apresentou-se num arbusto que pegava fogo, mas não se consumia (cf. Ex 31-5); ao povo de Israel conduzindo-o à noite no deserto, numa coluna de fogo; durante o dia nesse mesmo deserto, numa coluna de nuvens (cf. Ex 13.21); Isaías, no templo, apresentou-se como "a aba de sua veste [que] enchia o templo" (Is 6.1). Não esqueçamos, é 53 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] uma visão, e a fumaça do incensário fez Isaías percebeê-la como o manto do Senhor no alto e sublime trono. Neste capítulo do Apocalipse, temos o mesmo, porém como uma espessa cortina de fumaça que vem da Glória divina. Enquanto os sete flagelos não fossem cumpridos, ninguém poderia penetrar no santuário. Isso retrata que já estamos chegando ao Juízo Final. Tenhamos, portanto, na mente, que a ênfase destes capítulos é que o julgamento é uma obra de Deus. Primeira fase dos flagelos (Ap 16.1-9) O primeiro flagelo (vv. 1, 2) "Então ouvi uma forte voz que vinha do santuário e dizia aos sete anjos: 'Vão derramar sobre a terra as sete taças da ira de Deus". O primeiro anjo foi e derramou a sua taça pela terra, e abriram-se feridas malignas e dolorosas naqueles que tinham a marca da besta e adoravam a sua imagem." A primeira taça é vertida na terra pelo anjo que a portava. O flagelo nela contido atingiu as pessoas marcadas pela besta (cf. 13.16, 17), de modo que foram cobertas por chagas, feridas, machucões terrivelmente dolorosos e úlceras malignas. Esta praga e as três que a seguem atingem a todos de um modo geral, por serem um ataque ao mundo natural, o mundo dos seres humanos. Jesus está dizendo à Sua Igreja que Deus, Justo Juiz, está fazendo justiça por conta das perseguições que a Igreja sofre. Recordemos as tremendas perseguições. Havia perseguição de fora, promovida pelo Império Romano, quando os crentes eram perseguidos só pelo fato de colocarem sua fé em Jesus Cristo, e afirmarem o Seu Senhorio. Num ambiente em que não se admitia esse tipo de pronunciamento, dizer que "Jesus é o Senhor" era um crime de lesa-majestade, de lesa-estado, até, porque o imperador, o César Augusto (Cæsar é o título, Augustus porque era considerado "supremo, magnífico, exaltado") era reconhecido como um verdadeiro deus. E assim desejava ser dignificado como "O Senhor", "Kaisar Kyrios!!!" ("César é o Senhor!!!") exclamavam seus súditos e adoradores. Os cristãos, porém, reconhecendo o Senhorio de Cristo, afirmavam, "Iesous Kyrios!!!" Não! "Jesus é o Senhor!!!" sendo impossível dividir a adoração. Havia, com certeza uma grande caçada aos crentes. Todos temos ouvido e lido sobre os mártires dos primeiros momentos do Cristianismo. A Outra Igreja tem transformado esses mártires em pessoas tão especiais que estão muito acima de quaisquer outras, e criam, deste modo, erros doutrinários e de práxis. São colocadas imagens supostamente buscando figurá-las em nichos e altares, dias são dedicados a esses mártires, que são muito mais irmãos dos cristãos evangélicos na fé pura e inabalável em Cristo que de outros que se dizendo cristãos, acrescentam à crendice e supertição que chamam fé (tão diferente da emunah, a fé, bíblica) outras coisas que a Escritura Sagrada não privilegia. O que agora estamos vendo é que os sofrimentos destes crentes estão sendo vingados, pois a ira de Deus cai pesadamente sobre os que fazem a Igreja de Jesus Cristo sofrer. Na verdade, o ensino da Escritura Sagrada é que a vingança não é nossa: pertence a Deus (Rm 12.19). Nossa é a esperança nEle. Como diz a Santa Palavra no Salmo 146.5: "Como é feliz aquele cujo auxílio é o Deus de Jacó, cuja esperança está no Senhor, no seu Deus". O segundo flagelo (v. 3) "O segundo anjo derramou a sua taça no mar, e este se transformou em sangue como de um morto, e morreu toda criatura que está no mar." Águas se transformando em sangue: já vimos esse filme. No Egito, pouco antes do êxodo hebreu, as 54 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] águas se tornaram sangue. Também este flagelo atinge a natureza, e, por extensão, as pessoas e suas circunstâncias. Imagine não poder abrir uma torneira porque a água sai em forma de sangue, nem tirar água de um poço, nem ir a um rio, riacho, lago, colher um pouco de água fresca na fonte por causa do sangue, não tomar um gostoso banho em nossas lindas praias porque está tudo poluído e impuro... O segundo anjo derrama sua taça no mar, que se tornou sangue e morreram peixes, moluscos e animais que o habitam. O simbolismo das águas que se tornam sangue é altamente sugestivo para aquelas igrejas da Ásia Menor (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodicéia). Os seus perseguidores derramavam o sangue dos fiéis: agora, estão experimentando o mesmo. Está bem esclarecido isso no versículo 6, que menciona o próximo e semelhante flagelo: "pois eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e tu lhes destes sangue para beber, como eles merecem". O terceiro flagelo (vv. 4-7) "O terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes, e eles se transformaram em sangue. Então ouvi o anjo que tem autoridade sobre as águas dizer: 'Tu és justo, tu, o Santo, que és e que eras, porque julgaste estas coisas; pois eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e tu lhes deste sangue para beber, como eles merecem'. E ouvi o altar responder: 'Sim, Senhor Deus todo-poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos". Derramada a terceira taça nos rios e mananciais, tornaram-se eles em sangue. É uma extensão da segunda taça, examinada acima. E o anjo proclama a justiça divina que não deixa impune a injustiça humana. Mais uma vez, a natureza é atacada pelo flagelo. O quarto flagelo (vv. 8, 9) "O quarto anjo derramou a sua taça no sol, e foi dado poder ao sol para queimar os homens com fogo. Estes foram queimados pelo forte calor e amaldiçoaram o nome de Deus, que tem domínio sobre estas pragas; contudo, recusaram arrepender-se e glorificá-lo". Nunca vi tanto calor quanto neste janeiro passado. E para o ano vai ser pior. Parece que o Sol verão a verão fica mais quente?! Na sociedade urbana em que vivemos, cada ano mais ruas são asfaltadas e prédios são levantados. A absorção de calor pelo asfalto e pelo concreto é algo incrível, e essa quentura é jogado em cima de todos. Imagine, então, essa taça da ira de Deus jogada no Sol. Deus na Sua infinita sabedoria, colocou cada planeta no seu lugar, cada estrela na sua posição. O Sol não pode ficar mais distante porque morreríamos de frio, nem mais perto, ou seríamos esturricados. Mas imagine Deus colocando o Seu dedo, ou melhor, Sua taça de ira em nossa estrela, o que fez aumentar seu poder de gerar calor: combustível em cima do Sol. Os seres humanos atingidos blasfemaram contra o Criador, em lugar de suplicar piedade, misericórdia, permanecendo, deste modo, impenitentes! Um modo de martírio muito freqüente na época da Igreja primitiva era a fogueira. Quantos crentes, irmãos nossos foram para a fogueira unicamente pelo privilégio e a bênção de se considerarem pessoas salvas no sangue e no Nome de nosso Senhor Jesus Cristo. E agora temos o Sol como uma verdadeira fogueira em cima dos seus carrascos. Com o aumento da intensidade do calor do Sol, os opressores dos cristãos receberiam em si mesmos idêntico suplício. Segunda fase dos flagelos (Ap 16.10-21) 55 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] O quinto flagelo (vv. 10, 11) "O quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, cujo reino ficou em trevas. De tanta agonia, os homens mordiam a própria língua, e blasfemavam contra o Deus dos céus, por causa das suas dores e das suas feridas; contudo, recusaram arrepender-se das obras que haviam praticado". As pragas a partir de agora mudam de alvo. Como é possível alguém passar por tudo isso e não se arrepender?! Passar por tudo o que acima foi experimentado e não glorificar o nome do Senhor, e pedir misericórdia e piedade do Senhor? Com certeza, as pragas têm outro alvo. Em vez do mundo natural, é o mundo político que as recebe. Este primeiro flagelo da segunda fase foi derramado sobre o trono da besta, sendo que seu reino ficou tomado por trevas. Os homens foram atingidos por úlceras e, por causa da intensa dor, até mordiam a própria língua. Quando se morde a língua involuntariamente já é doloroso, imagine mordê-la porque a ira divina está sobre alguém... Essa língua mordida que podia proclamar o Nome do Senhor e dar glórias a Deus, louvar ao Senhor, passou a pronunciar palavrões, blasfêmias, clamando e reclamando contra o Criador. O sexto flagelo (vv. 12-16) "O sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates, e secaram-se as suas águas para que fosse preparado o caminho para os reis que vêm do Oriente. Então vi saírem da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs. São espíritos de demônios que realizam sinais miraculosos; eles vão aos reis de todo o mundo, a fim de reuni-los para a batalha do grande dia do Deus todo-poderoso. 'Eis que venho como ladrão! Feliz aquele que permanece vigilante e conserva consigo as suas vestes, para que não ande nu e não seja vista a sua vergonha.' Então os três espíritos os reuniram no lugar que, em hebraico, é chamado Armagedon". O alvo da sexta taça foi o rio Eufrates (o que passa em Bagdá, no Iraque e é despejado no Golfo Pérsico). Quando jogada a taça naquele grande rio, ele secou. Isso de seca, já conhecemos igualmente. Muitos rios, no nosso sertão, ficam completamente secos na época de estiagem. Mas quando vêm as primeiras chuvas, eles enchem, e o impressionante é que há vida nesses rios, pois em pouco tempo já estão pululando com peixinhos, camarões, e reverdecem as suas margens. A caatinga, então, parece um mar com a sua folhagem verde... No Oriente Próximo isso de rio seco é história já contada. O rio seco recebe o nome árabe de uadi (wadi), e ocorre neles o mesmo fenômeno conhecido no sertão: às primeiras chuvas, enchem-se de água. Jesus contou uma história onde falava de um desses uadis, a parábola dos dois alicerces (cf. Mt 7.24-27). O Vidente João fala do rio Eufrates, um grande rio que se tornou um uadi, para que desse o preparo para os reis que vêm do Nascente (v. 12). João presenciou uma coisa horrorosa: saíram das bocas do Dragão, da Besta e do Falso Profeta espíritos imundos que se pareciam com rãs. E como na falsa religião, como vimos anteriormente, tudo é uma paródia do evangelho de Jesus Cristo, há uma maligna e horrorosa trindade. Falamos em Pai, Filho e Espírito Santo com vistas às relações essenciais da Santíssima Trindade, mas agora temos a infernal e Maligníssima Trindade formada pelo Dragão, a Besta e o Falso Profeta. Nesta nova praga política, quando a besta se vê acuada, envia representantes seus para reunirem os que por ela foram seduzidos e estão desorientados. Deste modo, a Trindade Maligna vai agir diretamente sobre os que têm poder sobre as nações, os chefes de governo dando-lhes autoridade e 56 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] poder para a realização de suas más obras. O sétimo flagelo (Ap 16.17-21) "O sétimo anjo derramou a sua taça no ar, e do santuário saiu uma forte voz que vinha do trono, dizendo: 'Está feito!' Houve, então, relâmpagos, vozes, trovões e um forte terremoto. Nunca havia ocorrido um terremoto tão forte como esse desde que o homem existe sobre a terra. A grande cidade foi dividida em três partes, e as cidades das nações se desmoronaram. Deus lembrou-se da grande Babilônia e lhe deu o cálice do vinho do furor da sua ira. Todas as ilhas fugiram, e as montanhas desapareceram. Caíram sobre os homens, vindas do céu, enormes pedras de granizo, de cerca de trinta e cinco quilos cada; eles blasfemaram contra Deus por causa do granizo, pois a praga foi terrível". Como os últimos flagelos, também este ataca o mundo político, mas é espalhado pelo ar. Surgem fenômenos atmosféricos como relâmpagos, trovões e pedras de gelo, e, ainda, um tremendíssimo terremoto, que fez a grande cidade se dividir em três partes. Babilônia era o país, mas era, também, o nome da metrópole que se dividiu, o que aumentar o horror da cena. Por conta disso, as ilhas fugiram e os montes não mais foram encontrados. Já imaginou o leitor se, de repente, a Ilha de Itaparica, a Ilha da Maré, a da Madre de Deus e as outras desaparecessem de nossa Baía de Todos os Santos? Foi o que aconteceu. Os montes, as colinas, os outeiros sumiram do mapa, tal foi o horror momento. Em algumas traduções do Apocalipse está dito que cada pedra de gelo pesava um talento. São 35kg. Tem havido chuva de granizo em alguns lugares. São pedras até pequenas, mas fazem grande destruição: ferem pessoas, fazem mossas em automóveis. São diminutas, mas a força da queda é tão grande que elas causam desastres. Imagine uma pedra de 35kg caindo sobre alguém... Chama a nossa atenção a expressão "está feito" encontrada no versículo 17. Esse "está feito!" pode ser colocada em paralelo com o "Está consumado!" de João 19.30, quando Jesus recebeu o gole de vinagre. "Acabou! Chegou ao fim! A obra está realizada!", é o que está sendo dito. Essa é a grande mensagem do Apocalipse. Essa lição não pode sair de nossa mente, e quando ligamos a questão da obra consumada, do que tem acontecido, do que vai acontecer, do que Deus nos alerta, sem dúvida, é o momento de uma reflexão séria e profunda sobre nós mesmos e nossa circunstância de vida. O APOCALIPSE - Estudo 10 - "Eis que vem com as nuvens..." ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br A Vitória do Bem Texto Bíblico: Apocalipse 17.1-7; 18.1-5; 19.1-9 A ênfase do livro do Apocalipse não é outra senão a vitória do Bem! Não esqueçamos que João, o Vidente, tendo registrado a revelação de Jesus Cristo, estava levando o conforto e a esperança de Sua mensagem às sete igrejas da Ásia, as quais representam toda a Igreja Militante e perseguida de todos os tempos e em todos os lugares. É uma mensagem para os cristãos caçados, aprisionados e vitimados pelo Império Romano, e para a chamada Igreja Subterrânea na China comunista, é para a Igreja de Cristo em certos países muçulmanos onde a fé cristã é igualmente hostilizada, e precisa desta mensagem de conforto. Esta sexta visão, a da mulher montada numa besta, traz uma colorida e real descrição do sistema ímpio 57 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] que domina o mundo. Isso ocorreu no passado, mas ocorre igualmente nos dias de hoje. Todo o sistema governamental ímpio, maligno, recebe o nome simbólico de Babilônia, nome do antigo império que governou o Oriente Médio. Era o Primeiro Mundo da época, era quem dominava política e financeiramente o mundo antigo. Foi a Babilônia que tornou Israel submisso, destruiu Jerusalém e levou seu povo em cativeiro (587/586 a.C.), onde permaneceu por 70 anos. Surgiram na Babilônia alguns fatos interessantes e relevantes. O primeiro deles é o enorme senso de dependência de Deus. Já não havia o Beth haMikdash, o Templo; não mais havia sacrifícios, razão porque tiveram os exilados que realizar algo novo. Diante de uma situação inusitada, pode-se tomar uma de duas soluções: ou algo novo é criado ou a pessoa se adapta à situação. Foi o que aconteceu com os judeus na Babilônia. Lá foi criada a sinagoga (Beth haSefer), já que não havia Templo, cuja função era a da realização de sacrifícios. Só isso. Assim, passaram a estudar básica e sistematicamente a Torah. Só como referência presente, as terras da antiga Babilônia hoje são o Iraque e seu entorno. Que fique na mente o nome destas duas cidades: Babilônia e Jerusalém: são importantes para o restante do nosso estudo. Babilônia, no código do Apocalipse, é a representação do mal, do pecado, da imoralidade, de tudo o que afasta de Deus; Jerusalém, por outro lado, é o símbolo do bem, da vida pura, de tudo o que traz para mais perto do Criador. Lembrando esse fato, dá para entender porque Babilônia, por si, símbolo de tudo o que não presta, é no capítulo 17, a "Grande Prostituta". A Grande Prostituta (Ap 17.1-7) Na abertura do capítulo 12, apareceu uma mulher. Estava gloriosamente vestida de Sol, pisava no tapete que era a Lua, e portava uma coroa de 12 estrelas. Essa mulher é a Igreja de Cristo. Neste capítulo 17, aparece outra mulher. Está sentada sobre muitas águas. Não esqueçamos que "mar, muitas águas" é símbolo de nações. E essa mulher devassa, aqui chamada de "a grande prostituta", faz das nações o seu tapete, o que, aliás, está dito no verso 15, "Então o anjo me disse: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, multidões, línguas e nações." Enquanto a Igreja de Jesus Cristo é descrita como em glória, vestida de Sol, pisando a Lua e com uma coroa de 12 estrelas (tudo para dizer que ela é "gloriosa, sem mácula nem ruga nem coisa semelhante", cf. Ef 5. 27), neste capítulo , João fala de devassidão. Ela há de ser julgada por prostituição, falta de caráter. O anjo transporta em espírito o apóstolo João até um deserto. Nele, é encontrada a referida mulher montada numa besta de cor vermelha. Esse monstro se caracterizava por ter 7 cabeças e 10 chifres, e estava carregado de blasfêmias. A roupa da mulher era de púrpura e escarlata (tecidos tingidos de finíssima qualidade, de grife, diríamos hoje), e estava enfeitada com jóias de ouro, de pérolas e pedras preciosas. Na sua mão, um cálice de ouro que continha toda a corrupção e sujeira próprias da sua vida devassa e desavergonhada. Havia um nome escrito na sua testa: "BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA". Uma observação é que todas as personagens destes últimos contextos têm algo escrito na testa. Todos têm um "crachá", o cartão de visita: Cordeiro que lhes trouxe o perdão e salvação; 666, a marca da besta; 58 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Babilônia, a mãe de todas as corrupções. A essa altura, a mulher apresenta-se embriagada com o sangue dos mártires. Tantos irmãos nossos foram mortos na Igreja Apostólica porque foram perseguidos, acuados, violentados, jogados às feras, enfim, martirizados de mil maneiras, e aqui está Babilônia, a grande prostituta completamente bêbada, entorpecida, intoxicada. João a olha com admiração e espanto, ao que o anjo lhe assegura que irá proclamar todo o mistério daquela mulher e do monstro que lhe serve de montaria. Não é difícil entender que João, fazendo menção da Babilônia, está, na realidade, referindo-se à cidade de Roma. Roma é a capital do império do mesmo nome, e feroz perseguidora dos crentes em Jesus Cristo. Os crentes quando leram, entenderam que o Vidente falava do Império Romano e não da Babilônia política e física. Há evidências que elucidam isso. O verso 9 diz que "as sete cabeças são os sete montes, nos quais a mulher está sentada". Roma está edificada sobre 7 colinas. Precisa dizer mais? A verdade é que estamos rodeados pela influência e práticas da Babilônia apocalíptica. Onde há mentira, idolatria, imoralidade, corrupção, deslealdade, traição, aí se manifesta o espírito da chamada "Grande Prostituta". Essa tendência é encontrada nas casas dos pobres e nas casas dos ricos, nas escolas, nas bocas-de-fumo, no ambiente político, no meio financeiro, no morro, no meio dos traficantes, nos chamados "bairros nobres" e nas "invasões", nas grandes avenidas, nas praças e, até, ...nas igrejas. O espírito da ganância, de ganhar por ganhar, de explorar o outro, de aproveitar-se da simplicidade de algumas pessoas é típico desta influência. A queda da Babilônia é anunciada (Ap 18.1-5) João afirma que, na visão, um anjo desceu do céu revestido de autoridade, o que fez a terra se iluminar com a decorrente glória. Este anjo exclama com forte voz: "Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios..." (v. 2ss.) E no contexto do alerta sobre a queda da Grande Prostituta, outra voz foi ouvida do céu, ordenando que o povo que se chama pelo Nome do Senhor se retirasse da cidade para que não fosse tido por cúmplice nas coisas erradas, nem sofresse inocentemente com os flagelos (morte, lamentações, fome e incêndios) que cairiam sobre ela, como realmente, mais adiante, Roma caiu fragorosamente, e a Roma de hoje não é sequer um décimo da Roma do passado. Quem diria que os antigos impérios do Oriente seriam reduzidos a cinzas? Do Egito dos faraós, o que resta são ruínas e lembranças. Quando se vai do Cairo a Giza (Gizé) pela estrada que bordeja os canais do rio Nilo, ao se chegar à região das pirâmides, o que se vê é algo deslumbrante. As três grandes pirâmides (Quéops, Quefrem e Miquerinos) são extraordinariamente magníficas. A Grande Pirâmide tem altura superior a uns 8 de nosso templo. Para quê? Só para abrigar o corpo mumificado de um homem, e as riquezas de que precisaria na vida além, de acordo com sua teologia. Tudo foi roubado e levado para museus da Europa. Que desprestígio para reis tão poderosos como os faraós cujas múmias foram contrabandeadas e na identificação das caixas estava escrito "BACALHAU". Assim terminou a glória desses impérios. O Egito moderno não representa a potência de Primeiro Mundo que era o Egito antigo. Lembranças e pó. Da Babilônia dos jardins suspensos (uma das sete maravilhas do mundo antigo), só encontramos igualmente pedras e pó. A Roma Imperial, a Roma dos Césares e das injustiças, caducou, foi esmagada pelas invasões bárbaras. O que sobrou da Roma Antiga é só para turista matar a curiosidade. Tudo, entretanto, já havia sido antecipado nas profecias, como neste capítulo 18 do livro do Apocalipse. Esta profecia coloca dentro do mesmo processo de julgamento "todas as nações", "os reis da terra" e "os mercadores da terra". Quer dizer, todos os que favoreceram e se favoreceram da Grande Prostituta 59 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] são culpados e serão submetidos a rigoroso julgamento. Com essas referências, percebemos que haverá um julgamento especial para os que se aproveitaram do poder político e do poder econômico para empobrecer e prejudicar os outros, coisa de que todos os dias os jornais dão notícia, "E, contemplando a fumaça do seu incêndio, clamavam: Que cidade é semelhante a esta grande cidade?" (v. 18). A nossa o é. O julgamento não se fez esperar, pois "em uma só hora, foi devastada..." (leia os versos 16-19). Com Deus não se brinca, ou como ensina a Santa Palavra, "De Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6.7). Alegria no céu! (Ap 19.1-9) É o tema do capítulo 19. Os cânticos de louvor são dominantes ao longo de todo o relato. Os grupos corais são formados por "uma numerosa multidão" (vv. 1-3, 6-8) e pelos "vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes" (v. 4). Houve também um solista anônimo (v. 5). Nessa altura, o anjo profere uma expressão de bem-aventurança dos que são convidados a participar da festa de casamento do Cordeiro (Cristo) e de Sua noiva (a Igreja). João, de tão impressionado e grato pela bênção desse culto de ação de graças, ajoelha-se para adorar o anjo, que recusa a homenagem e aponta para Deus, o único que merece o nosso culto e louvor. "Olha, não faças isso! Sou conservo teu e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus!", diz ele (v. 10). Quando, finalmente, a Babilônia cair, a Igreja de Cristo vai se alegrar porque não faz parte do seu maléfico, deletério e pecaminoso sistema. A derrota de Satanás é um legítimo motivo de satisfação, alegria e louvor a Deus. Entendamos que esse é o modo como a comunhão perfeita com Jesus Cristo se dará de fato. E se o cântico em 19.1 não deixa dúvidas sobre a salvação, o poderio, a glória e o senhorio serem de Cristo Jesus, então Deus tem todo o direito de julgar os Seus opositores e blasfemadores. É verdade que os césares (imperadores romanos) haviam exigido dos seus súditos reverência, culto e fidelidade porque a palavra de ordem era "César é o senhor!". No entanto, atendendo a uma visão e chamada eternas, a lealdade, a adoração e o profundo respeito eram prestados pelos cristãos a Jesus Cristo, e elevavam a palavra de ordem, de louvor, e de adoração, "Jesus Cristo é o Senhor!" Pois é: "Caiu! Caiu a grande Babilônia...!" (18.2b)E dela não se ouve mais, porque "a sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos" (19.3b). O APOCALIPSE - Estudo 11 - "Eis que vem com as nuvens..." ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br Um novo padrão de vida Texto Bíblico: Apocalipse 20.1-10; 21.1-12; 22.1-5 A essa altura, já se tem percebido que as visões vieram num verdadeiro crescendo, e foram dirigidas para a vitória eterna de Jesus Cristo. Tudo o que foi dito no Apocalipse até este ponto vem demonstrar que Cristo tem domínio absoluto deste mundo: Ele é vencedor! O mundo não está à toa. Pelo que vem acontecendo neste mundo, até parece que está ao léu. A Bíblia mostra que Jesus Cristo tem o Seu domínio, e Sua eterna vitória é o tema dos restantes capítulos do livro. Viemos registrando e anotando os diversos títulos de Jesus Cristo: Ele é "o Alfa e o Ômega", "a Fiel Testemunha", "o Primogênito dos mortos", "o Soberano dos reis da terra", "o que conserva na mão 60 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] direita as sete estrelas", "o Cordeiro de Deus" e muitos outros que indicativos do Seu poder e senhorio. O registro agora é o da prisão de Satanás, o Juízo Final e a Nova Jerusalém. É quando o Cristo Vitorioso vai estabelecer para sempre o Seu domínio para sempre e sempre, ou, para fazer uso da linguagem bíblica, "pelos séculos dos séculos". Apocalipse 20.1-10 Aqui se inicia a sétima e última visão do livro. Este capítulo e, sobretudo, o trecho acima destacado, tem sido considerado como objeto de muito debate. No seu verso 3, aparece a palavra central nestas discussões. É milênio, que significa um período de mil anos. A interpretação do que seja o "milênio" tem dado ocasião a que haja muita discussão e muitos artigos e livros sejam escritos por teólogos e pseudoteólogos. Tem-se falado à larga sobre pré-milenismo, pós-milenismo e amilenismo, palavras técnicas que definem determinadas correntes de pensamento teológico sobre o milênio. O pastor Hercílio Arandas, veterano e experimentado pastor amigo e ex-ovelha, afirmou não discutir se seria pré-milenista, amilenista ou pré-milenista. Disse ele, um tanto jocosa, mas conciliadoramente, que preferia ser "pró-milenista", que dizer, "a favor do milênio". Estes termos não devem ser objeto de preocupação: eles não levam para o céu. Não é ponto de doutrina, pois não há uma doutrina batista sobre a escola milenarista abraçada por alguém. Excelentes e lindas personalidades cristãs, batistas e evangélicos de diversas denominações, santos homens de Deus, devotadas e santas mulheres apóiam as diversas posições. Não é ponto doutrinário, mas teológico. Em pinceladas muito ligeiras explicamos: o pré-milenista admite que uma vinda de Cristo se dará antes da inauguração do reino que durará mil anos (o milênio), haverá um período de perturbação e finalmente uma terceira vinda de Cristo selará a vitória sobre o mal. Cristo volta, inaugura o milênio. Vamos entender: o pré-milenista acha que quando Cristo voltar antes do milênio (daí pré = antes), inaugura mil anos de paz quando Ele estará na terra reinando. Depois desse prazo, uma grande batalha (a do Armagedon, que se dará no Vale, Har, de Megido Magedon), a vitória de Cristo e o Juízo Final. O pós-milenista prega que a expansão do evangelho se dará em tal progresso que o milênio se instalará suave e normalmente, após o que Jesus Cristo voltará. O evangelho vai sendo pregado em todo o mundo: na Armênia, na Sibéria, na Oceania, na África, na América Central, etc., e vai tomando conta dos corações fazendo toda a terra entrar no milênio. Só depois dos mil anos, Cristo volta, de onde o nome pós-milênio, "depois dos mil anos". E o amilenista, prega o quê? Pode parecer que os adeptos da corrente amilenista ensinam que não existe o milênio, o que não é real. O amilenista prega que quando Jesus venceu Satanás na cruz, e mais ainda, na ressurreição, e ascendeu aos céus, o milênio começou. O milênio, convenhamos, é simbólico, porque o reino de Deus já está entre nós. Aliás, o ensino de Jesus é esse mesmo: "O tempo está cumprido, é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos e crede no evangelho" (Mc 1.15 VIB). Como pode ser que Cristo já veio, exerceu Seu ministério entre a humanidade, venceu a morte, foi vitorioso sobre Satanás e não instala o reino? Ensinam, então, os amilenistas que o reino de Deus está estabelecido, o milênio, portanto, começou. É, porém, o que teólogos chamam de "já-ainda não", expressão que significa que o reino já chegou, mas ainda não está plenamente estabelecido. Cristo está em nós e nós estamos em Cristo. Já chegou, Cristo está em nosso meio, pois "onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18.20). E Cristo é o Rei e o reino, o próprio reino de Deus. Você pergunta, se Cristo está entre nós, o reino já está estabelecido, por que ainda sofremos? Porque se passa fome, e há tanta perseguição? Por causa do ainda não. Estamos numa tensão no ponto em que os 61 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] dois reinos estão paralelos: 2ª Vinda Presente século /////////////////////////// ///////////////////////// Reino de Deus > O "Presente século" (reino do maligno) ainda está em operação, afinal, "o mundo inteiro jaz no Maligno", adverte a 1 Carta de João 5.19b. Um dia, esse reino do mal tem fim: é quando Cristo retornar, permanecendo, eternamente, o reino de Deus. Essa é a pregação amilenista, que entende o "milênio" como um termo simbólico como outros tantos do Apocalipse, para dizer "plenitude, poderio, senhorio, exaltação plena, estabelecimento geral e total sem barreiras, sem reservas". Entenda-se, portanto: o amilenista compreende que o número 1000 é um número conceitual, visto que 10 é um número de altíssimo valor espiritual, e 1000, com mais propriedade ainda, por ser 10 elevado ao cubo (10³). O milênio culminará no definitivo retorno (a Parusia) para arrebatar a Sua Igreja. A vitória de Cristo sobre Satanás deu-se em diversos campos: Jesus o venceu na tentação do deserto. Venceu-o, por sinal, três vezes. A primeira tentação foi a da comida fácil e farta. "Transforma estas pedras em pães..." (Mt 4.3). Bem que Jesus poderia transformado as pedras em brioches, baguetes, pães de seda, pães crioulos, pãezinhos de banquete, ou, mesmo, no simples pão árabe. Mas nada disso fez porque não iria entrar em acordo com Satanás, visto que "nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (Dt 8.3; Mt 4.4). Veio, então, a segunda tentação: Satanás mostra a cidade de Jerusalém do alto do templo de Herodes. A sugestão é que Jesus salte do alto do templo para que os anjos o amparem. Para fundamentar, Satanás usa o Salmo 91.11,12. Com isso, Satanás quer sugerir que Jesus não precisa passar pelo Calvário, pois, com esse espetáculo público, veriam que Ele era o prometido Messias. Jesus também rechaçou Satanás. É o momento da terceira tentação: do alto do monte, Satanás lhe mostra as cidades que Mateus chamou de "os reinos do mundo". Que cidades Jesus teria visto do monte da tentação? Se o monte foi o hoje denominado "monte da tentação", Ele viu Jericó, que fica bem próximo. Teria visto Jerusalém, Berseba, Betel, Hebrom, Belém. Satanás diz: "eu lhe dou tudo isso, se você me adorar de joelhos" (Mt 4.9). É o supra-sumo do abuso satânico, querer que Jesus o adore?! Jesus o põe no seu lugar ao dizer "Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás" (Mt 4.10). Satanás foi vencido também no Getsêmani quando Jesus vendo iminente a cruz, a Sua humanidade falou bem alto. Ele, plenamente humano, tanto quanto nós, chegou a uma situação chamada em linguagem médica de hematidrose, em que a pessoa verte sangue pelos poros. A Bíblia registra este fato de tanta angústia que abrigava em Seu coração, e Satanás podia ter aproveitado aquele momento. Jesus até disse, "Pai, se queres afasta de mim este cálice...", "Passe de mim este cálice", diz outra tradução (Lc 22.42). Mas, passar para quem? A missão de Jesus era precisamente ir para a cruz, morrer por nós para que tenhamos a eterna salvação. E Jesus completou o pedido, "todavia não se faça a minha vontade, mas a tua", e com isso derrotou o Inimigo! Jesus foi vitorioso sobre Satanás na cruz quando parecia estar derrotado, e tudo parecia absolutamente perdido. O que veio salvar o mundo, morreu estupidamente naquela horrorosa cruz como um criminoso qualquer?!... Na cruz, no entanto, Jesus declarou, "Está consumado" (Jô 19.30), ou seja "Nada deixei por fazer; tudo está plena e perfeitamente realizado". 62 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Mas, especialmente, Ele o venceu quando ressuscitou na manhã do primeiro dia da semana, que por isso, se tornou o "Dia [da ressurreição] do Senhor, o "Dia do Senhor", o Dies Dominica, o Domingo! Foi naquele momento, que o anjo, que tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente, segurou o diabo. Um ex-professor meu do Seminário Batista do Recife, o grande mestre Harald Schaly, dizia que Satanás era um enorme cachorro. Imagine um imenso fila brasileiro. Está amarrado numa corrente muito grande: seu campo de ação é grande. Se alguém entrar onde o cão pode pegar, está perdido. Se ficar fora, não pega. Dr. Schaly dizia que Satanás é esse cachorro amarrado no abismo. É chamado, até, de "a antiga serpente" e "o dragão". Mas o feio e feroz dragão virou lagartixa nas mãos do anjo que o prendeu no abismo por mil anos. O que vemos no mundo hoje, o "já-ainda não", são os urros de uma fera acorrentada, que não têm comparação com o que pode fazer estando solto, como diz o verso 3, "por um pouco de tempo". Graças Deus, tudo isso vai acabar. É só olhar o que vem depois de Satanás preso pelos mil anos: ele é vencido para sempre (v. 10), vem o juízo final (vv. 11-15), e dá-se a descida da Nova Jerusalém. Novo céu e nova terra Ap 21.1-8 Este capítulo traz uma encantadora e fascinante descrição da comunhão entre Cristo e Seu povo. Esse é o modo apocalíptico de falar de comunhão, e como o povo de Deus e o Senhor estarão entrosados e unidos. É quando o Apóstolo, continuando a última visão, relata a descida da nova Jerusalém, a cidade santa, descendo da parte de Deus, gloriosamente iluminada, enfeitada, bonita, como uma noiva no dia do casamento. A propósito, há visão mais bonita que uma noiva no dia do seu casamento? Nos dias de casamento, não olho tanto para a noiva, mas, sim, para o noivo. Seus olhos brilham quando vê a noivinha chegando, a face se ilumina. Imagino Jesus Cristo e Sua noiva, a Igreja. Até agora viemos falando de noiva, agora, porém, ocorre o casamento. Entre os hebreus antigos e os árabes, os orientais de modo mais amplo, a situação é interessante. Primeiro que a festa não dura só uma noite, mas, no mínimo, sete dias. Era uma semana de cama e mesa de graça. No dia do casamento, havia um cortejo formado pelos amigos do noivo que o acompanhavam, e, por outro lado, as companheiras da noiva, com muita música e danças, e outras expressões festivas (cf. Mt 25.1ss). É o que está retratado aqui: a nova Jerusalém vai chegar "adereçada como uma noiva ataviada para o seu noivo". Estamos, então, chegando ao ponto culminante da história humana: o Mal vencido e o Bem se estabelecendo de uma vez por todas. Na verdade, a história fez um círculo completo. Com permissão dos professores de história e de filosofia, a história não é tão linear como parece, mas circular, por isso, faz uma volta completa para o tempo inicial de antes do pecado dos primeiros pais. Volta para o tempo quando tudo era pacífico, calmo, sereno, tranqüilo, sem malícia, e Deus visitava os habitantes do jardim primitivo na "viração do dia"; quando ainda não havia chegado a noite, porém não existia mais o calor e a luz do dia. Era quando havia intensa e profunda comunhão. João ouviu uma voz que proclamava que o tabernáculo (a tenda, a cabana, a casa, a habitação) de Deus estava sendo armado no meio das habitações dos seres humanos (21.3, cf. João 1.14). E essa comunhão perfeita de Deus conosco, baseada na misericórdia e favor divinos para com os homens e mulheres, afastando, como afasta, todo sinal de tristeza, de dor e sofrimento, porque tudo isso faz parte da antiga vida, não da vida em Cristo. Agora, porque estamos em Cristo, "as velhas coisas já passaram, e tudo se 63 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] fez novo" (2Co 5.17). A palavra do que está no trono é, por sinal, essa mesmo: "Eis que faço novas todas as coisas" (v. 5). De agora em diante, não há mais cabimento em falar do Mal. O centro da visão é o Cristo exaltado no Seu trono, é Seu senhorio sobre todas as coisas, Sua autoridade e poder nos céus e na terra, Seu consolo e comunhão com Seu povo. A nova Jerusalém (Ap 21.9-22.5) O Bem é o Bem, mas o Mal é o travesti do Bem, parece o Bem, mas não o é. A Igreja é a noiva de Cristo; a Grande Prostituta é a noiva do Anticristo. De um lado, está a Nova Jerusalém, a cidade santa; do outro, Babilônia, a cidade da corrupção, pecado e blasfêmias. Outro paralelo é, do lado do mal, os cavalos branco, vermelho, amarelo e preto, seus cavaleiros e todo o catálogo de maldades, flagelos e desgraças; e da parte do Senhor, toda a consolação, as bênçãos e a Sua graça e misericórdia. Há uma curiosa arquitetura na Nova Jerusalém. Uma alta muralha com 12 portas com os nomes das tribos de Israel, guardada cada uma por um anjo. 12 eram os fundamentos da muralha e sobre eles os nomes dos 12 apóstolos. Isso significa que a Igreja de Cristo está fundada sobre a pregação dos profetas, sobre o povo da Antiga Aliança, sobre os apóstolos e sua pregação, e o povo de Deus da Nova Aliança. A cidade é quadrangular, sendo que o comprimento, altura e largura são iguais, ou seja, um cubo como o Lugar Santíssimo descrito em 1Reis 6.20. E vem a descrição dos metais e pedras preciosas: de jaspe, a estrutura; de ouro puro, a cidade. Cada fundamento tem uma pedra preciosa; as portas são pérolas; de ouro puro é a praça da cidade. Mas não havia necessidade de construir um santuário, porque o El Shadday (Deus Todo-poderoso) e o Cristo são o próprio santuário desta cidade tão magnificente. A iluminação não é fornecida pela COELBA, CELPE, ESCELSA, CEMIG ou pela Light mas sim pela própria kavod (glória) e pelo Cordeiro de Deus. O abastecimento de água não é da EMBASA, COMPESA ou companhia de abastecimento, mas pelo rio da água da vida. Pois é; o círculo está se fechando, porque tudo o que havia no relato inicial da história teológica da humanidade voltou. É realmente encantador o relato do que nos aguarda! Toda essa linguagem simbólica existe porque as palavras humanas são fracas demais para descrever a beleza da santidade de Deus e o novo padrão de vida que nos aguarda! Por essa razão, o livro termina com um convite: "E o Espírito e a noiva dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha, e quem quiser, receba de graça a água da vida" (22.17), porque essa descrição encantadora não pode ficar fechada, mas tem que ser divulgada, exposta, aberta, colocada diante à disposição de todos, e a Igreja tinha uma palavra de ordem: Maranata! (v. 20b). Ela quer dizer, "Vem, Senhor; volta, Senhor!" E você pode, igualmente, dizer isso: "Vem, Senhor Jesus, para a minha vida! Toma-me e usa-me!". O APOCALIPSE - Estudo 12 - "Eis que vem com as nuvens..." ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br O Apocalipse hoje O inspirador livro do Apocalipse foi escrito, como vimos ao longo de todo o estudo, para dar forças espirituais aos crentes que sofriam a perseguição das autoridades políticas, e eram alvo de ataques dos hereges dentro da Igreja dos dias apostólicos. 64 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] As visões e suas lições São sete as visões que ocorrem nos seus vinte e dois capítulos. Mas a mensagem é a mesma: a Igreja de Jesus Cristo, apesar de sofrer perseguição, apesar das tribulações, do martírio, tem um glorioso destino: A VITÓRIA! A condenação atingirá o sistema deste mundo, e Jesus Cristo reinará para todo o sempre como Rei dos reis e Senhor dos senhores! Procuremos, então, ser práticos, e extrair lições de todo o livro do Apocalipse. Como o livro é formado por visões, sete ao todo, um plano adequado para a nossa pesquisa é partir de cada uma. E por falar em visões... A primeira visão (1-5) Seu tema é "Jesus Cristo e a Igreja Militante no mundo e na vida celeste". Apropriadíssimo como abertura para todo o livro. A primeira lição que devemos aprender é que, visto que Jesus Cristo é o começo e o fim de todas as coisas, o "Alfa e o Ômega" (1.8), "o autor e consumador da nossa fé" (Hb 12.2), nossa esperança deve estar unicamente nEle. Ele é o "que vem sobre as nuvens" e Aquele "que todo olho verá" (Ap 1.7). Isso significa que é inadmissível para o discípulo de Jesus abraçar qualquer movimento ou idéia que não reflita a atitude e a mente de Cristo. É vigiar como se Jesus estivesse para retornar a qualquer momento (o que, aliás, é verdade), sem facilitar as coisas para o Tentador, aguardando a suprema alegria de louvar o Cristo vitorioso! Outra importante lição aprendemos nas cartas as igrejas da Ásia (capítulos 2 e 3). Algumas falam de deslealdade, é verdade. Outras, no entanto, mencionam a fraternidade e a comunhão que existiam ou deveriam existir na comunidade de fé que se chama igreja. Você tem vivido isso? Ou quando cantamos: "Não te irrites mas tolera com amor, com amor. Tudo sofre, tudo espera pelo amor. Desavenças e rancores não convém a pecadores, Não convém a pecadores salvos pelo amor." Ou, ainda, Como é precioso, irmão, estar bem junto a ti; E juntos, lado a lado, andarmos com Jesus, E expressarmos o amor que um dia Ele nos deu, Pelo sangue no Calvário Sua vida trouxe a nós. Aliança no Senhor eu tenho com você: Não existem mais barreiras em meu ser. Eu sou livre pra te amar, pra te aceitar e para te pedir: "Perdoa-me, irmão"; Eu sou um com você no amor do nosso Pai, Somos um no amor de Jesus! Isso é verdade, ou apenas uma linda figura de linguagem? As cartas também exaltam a pessoa de Jesus Cristo, o Qual concede o dom da vida e compartilha a Sua glória, razão porque está no meio dos candelabros como ressaltam os versos 12 e 13 do capítulo 1. Outras preciosas lições estão nas cartas: o cuidado para não perder "o primeiro amor", ou seja, o doutrinamento, o ardor evangelístico, e a já destacada comunhão. O lugar especial da fidelidade, lealdade e sinceridade é uma questão de honra e de caráter do cristão. 65 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Mais uma lição: receber um novo nome é ter o caráter restaurado. O nome para o povo hebreu era a personalidade e o caráter de alguém, era seu cartão de visita. Receber um novo nome é igual a ter o caráter reajustado à luz da graça de Deus (2.17). Um evangelho sem compromissos com Jesus Cristo, Cuja mente devemos ter, é insensatez. Cuidado, portanto, com os falsos ensinos (2.20)! Isso significa um compromisso total com Cristo, o que se chama também testemunho, a confissão pública de fé (3.4), o zelo com o amor entre os irmãos na graça de Cristo, significado da palavra Filadélfia (cf. 3.7ss), e o culto em espírito e em verdade, abandonado pela igreja de Laodicéia (cf. 3.15ss). A segunda visão: "Os sete selos" (6, 7) À medida que os selos vão sendo abertos, preciosas lições são ensinadas. Com certeza, a primeira delas é sobre o que acontece quando o Cordeiro de Deus governa. Os sete selos apresentam as características e princípios do governo de Cristo. Uma das características é que o Inimigo não descansa. A representação dos quatro cavaleiros com seus coloridos corcéis é evidência do que estamos dizendo. Satanás não dorme, por isso, não facilita as coisas para o crente. O sofrimento é uma terrível característica, mas não é maior que a consolação, amparo e abrigo que vêm do Senhor. O apóstolo Paulo expressou muito bem esse fato ao dizer, "tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada" (Rm 8.18), e chamou as aflições de "leve e momentânea tribulação" (leia 2Co 4.17, 18). A terceira visão: "As sete trombetas" (8-11) Se a segunda visão é o que acontece quando Cristo reina, a seguinte fala do que acontece quando o Salvador é rejeitado. A descrição do que sucede após o toque das trombetas é tremenda. O evangelho anunciado com zelo e amor pelas vidas fora de Cristo, por isso, perdidas, deve, como o livrinho deglutido, nos alimentar, sustentar, nutrir, apesar de ter uma palavra de justiça, representada pelo amargo no ventre (leia 10.10b). Esse evangelho comunicado aos perdidos, apesar de ser doce na boca, é amargo no ventre. Quando pregamos o evangelho é uma delícia. Particularmente, sinto muito prazer em pregar. Minha esposa me recomenda, quando saímos de férias, a não levar paletó. Com isso, quer me preservar de pregar nas igrejas visitadas, para só descansar. Mas, há tantas igrejas, atualmente, nas quais o pastor não usa paletó?! Preguei numa igreja pastoreada por um ex-aluno que vai bastante informalmente para o púlpito. Fui de traje completo. Inusitadamente, o pastor estava também de traje completo, e disse que era em homenagem ao ex-professor. Quando entramos no santuário, todo auditório fez, "U-u-u-u-m-mm..." A igreja não esperava que o seu pastor estivesse formalmente tragado. O fato é que aprecio pregar, mas a amargura toma conta de mim quando a mensagem é rejeitada, desprezada. Esse é o amargo do evangelho que sente o pregador. Como trombeta é sinal de aviso, alerta, é voz de comando, mostra a visão a paciência de Deus no chamado ao arrependimento. Importante lição deste livro. Ainda as visões A quarta visão: "A luta contra a trindade satânica" (12, 13) A paródia da Santíssima Trindade é a "trindade satânica", maligna, formada pelo Dragão, a Besta e o Falso Profeta (veja 12.3ss; 13.1ss; 16.13). Por essa razão, o crente em Jesus Cristo reconhece que enfrenta uma guerra espiritual. Em Efésios 6.12, o apóstolo Paulo nos alerta acerca dessa batalha no reino do espírito. O cristão é atacado por todos os lados. Na sua vida emocional, por exemplo. 66 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Tenho visto crente salvo pelo sangue de Jesus arrastando atrás de si uma miséria de vida, ansiedade, medo, depressão. Não entendo... Uma irmã bem idosa numa das igrejas que pastoreei pediu-me: "Pastor, fale sobre a morte: tenho muito de morrer". Preparei o sermão, preguei-o, e na despedida do culto, à porta da igreja, ela disse: "Muito obrigada pela mensagem, mas ainda estou com medo..." Não mais precisamos mais desse tipo de fardo. Isso é guerra, é batalha espiritual, porque dentro de nós há uma grande luta. Nosso espírito se torna um verdadeiro campo de batalha. Emoções, feridas (e Satanás se aproveita disso...) e o consolo de Deus do outro lado. De um lado, O Senhor e Seus exércitos; do outro, o Inimigo e seus batalhões num campo de batalha que é dentro de nós. Fico muito impressionado quando leio a história da viúva da vila de Naim. Tinha apenas um filho que era seu arrimo. E ele morreu, e como é costume no Oriente Próximo, levaram o seu corpo num esquife aberto. Vinha o féretro saindo da cidade para sepultar o corpo do moço. Não havia nas cidades hebréias cemitérios urbanos, mas sempre na periferia. Herdamos isso: o Campo Santo, nosso primeiro cemitério em Salvador situava-se há 250 anos na periferia. O centro da cidade era o Pelourinho, o Carmo, Santo Antônio, o Terreiro de Jesus. O cemitério estava bem distante do Centro, onde hoje é o bairro da Federação, perto de nosso templo (que é centrão de Salvador). O corpo do jovem estava sendo levado para fora da cidade. Nesse momento, porém, vinha entrando na cidade Jesus, os discípulos, admiradores e curiosos. Encontram-se as duas multidões. Uma é a morte, outra é a da vida: o exército da Morte e o exército da Suprema Vida. E o moço foi ressuscitado pelo toque do Salvador. Essa mesma batalha em que Jesus restituiu um jovem às lágrimas de sua mãe é dentro de nós, e está nos capítulos 12 e 13 do Apocalipse. É vitória garantida. É sobre isso todo o livro do Apocalipse (leia 12.11). A quinta visão: "Sete flagelos" (14-16) No verso 13 do capítulo 14, há uma linda bem-aventurança que diz, "Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham". Conhecemos em geral bem-aventuranças para a vida. O Sermão da Montanha apresenta algumas delas (Mateus 5.3-12): "Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados" (v.4); "bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia (v.7); "bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" (v.9). Todas de vida. Porém, bem-aventurança para a morte?! Pois é; a diferença é Cristo quem faz. Não é simplesmente "bem-aventurados os mortos", e ponto final: é, sim, "... que desde agora morrem no Senhor". Cristo é a medida de todas as coisas. O filósofo grego Protágoras afirmava que "O homem é a medida de todas as coisas". Não é, não. Só Cristo faz a diferença entre o flagelo atingindo o cristão e o amparo e abrigo dos céus. O outro, vive no seu flagelo e na sua dor se não tem Cristo e o Consolador. A sexta visão: "A destruição do mal" (17-19) Encontramos na sexta visão outra extraordinária bem-aventurança. Está em 19.9: "Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro". Em outras palavras, e de modo bem contemporâneo, é abençoado quem é chamado para o chá-de-cozinha ou para a recepção do casamento de Jesus e Sua noiva, a Igreja. Sabemos que o "Cordeiro" é Jesus Cristo; "bodas" é festa de casamento. Temos um convite assegurado para a recepção do casamento de Cristo com a Igreja. Em alguns convites de casamento, vem um cartãozinho dizendo que a recepção será no local X, e é exclusiva de quem recebeu o convite individual. A cerimônia de casamento de Jesus e a Igreja, ou seja, Sua Parousia,Segunda Vinda, todos verão. Todos estão convidados. Mas para a recepção, a Ceia, só quem tem nome de Jesus gravado no coração; só quem confessa a Jesus como Salvador e Senhor. E lá estaremos! E os alicerces da fortaleza do Mal serão abalados, derrubados e destruídos. É a queda da Babilônia (representação da malignidade) nos três capítulos citados 17, 18 e 19). 67 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] E para terminar: a sétima visão (20-22) O tema da visão culminante do livro do Apocalipse é "o Juízo e a vitória final". Verificamos que o livro é um crescendo de emoções, de sentimentos, mas, é sobretudo, de conhecimento do Cristo revelado. É como um poema sinfônico, um poema em canção. Começa com música suave, bem leve e vai crescendo cada vez mais e mais, até culminar numa explosão de sons, numa arrebatadora sinfonia! Assim é o Apocalipse: vai crescendo e crescendo, falando de dor, sofrimento e perseguições, para daí a pouco alertar para o julgamento e uma conseqüente prisão, até que, finalmente, chega a esse clima de vitória última! O Apocalipse é um crescendo de emoções, de sentimentos, e, ainda mais, de crescimento na graça e no conhecimento do Cristo que se revelou! Suas promessas desde o capítulo primeiro tiveram cumprimento ao longo de toda a obra. A glória da Nova Jerusalém, eterna morada de Deus com os Seus faz lembrar o final do Salmo 23: "certamente que a bondade e a misericórdia (cf. Ap 21.4, 5, 7) me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias (Ap 21.3)". Que abençoada consolação saber que não haverá mais dor, nem morte, nem pranto, nem vestígio de uma lágrima sequer porque estamos com o Senhor em permanente comunhão! O verso 20 do último capítulo apresenta uma expressão que foi o grito de anseio da Igreja apostólica, como continua a ser a exclamação da Igreja de todos os tempos: "MARANATA!!!" Quando dizemos "Maranata", oramos pedindo a volta de Cristo, pois na língua aramaica, "Vem, Senhor Jesus", significa "Volta, Senhor, para o nosso meio!" A oração está em ordem inversa, pois é precedida por um "Amém!". Esse amém veio antecipado porque representa uma afirmação cheia de fé e de certeza na promessa que Cristo fez: "Certamente cedo venho!" Essa é a graça de Jesus Cristo (leia 22.21), o amor que não merecemos, mas que Ele nos concede e levou-O ao Calvário. LEITURAS SUGERIDAS CONYERS, A. J. O Fim do Mundo. SP, Mundo Cristão, 1997. Trad. O. Olivetti. MCALISTER, R. O Apocalipse - uma interpretação. Rio, Carisma, 1983. PATE, C. Marvin (Org.). As Interpretações do Apocalipse - 4 pontos de vista. SP, Vida, 2003. Trad. V. Deakins. SILVA, Mauro Clementino da. Análise Escatológica do Apocalipse de João. Campo Grande, 1994. "Portanto..." ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br "Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão" (1Co 15.57,58). 1Coríntios 15 é um extraordinário, inspirativo e abençoador capítulo do Novo Testamento. Ele se encerra com uma exortação que fala de vitória: "Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão" (1Co 15.57,58). Que há antes desse "portanto?" Paulo fala de corpos transformados na ressurreição geral. Porém, que outro ensino há antes desta palavra apostólica sobre a ressurreição? Agora, é preciso ir ao sermão profético de Jesus em Mateus 24 e 25, o, assim chamado, "Pequeno Apocalipse". Nele encontraremos o Senhor falando sobre o princípio das dores, os sinais de Seu retorno, a Grande Tribulação, Sua gloriosa 68 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Volta (a Parousia), o Arrebatamento e o Juízo Final. Tudo isso culmina com o "Portanto..." de Paulo, que é um estímulo e encorajamento à fidelidade e paciência no aguardo da Volta de Jesus. UM ACONTECIMENTO AGENDADO A Segunda Vinda de Cristo é um acontecimento programado conforme Atos 1.11 (cf. Fp 3.20). E todo o Novo Testamento nos ensina que Jesus Cristo veio para inaugurar Seu reino (Mc 1.15), e virá pela vez segunda para consumá-lo (Hb 9.28). Na verdade, a fé da Igreja dos apóstolos é dominada pela expectativa desse retorno de Jesus Cristo. Tiago 5.8 é porção claríssima da Palavra ao dizer, "Sede vós também pacientes, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima" (cf. 1Co 4.5; Fp 4.5; 1Ts 5.2; Tt 2.11-13; 1Pe 5.4; 2Pe 3.10; 1Jo 2.28; 3.2; Ap 1.7; 3.11; 22.20). Se esta expectativa não existir, alguma coisa está errada. Mas a expressão "últimos dias" não é compreendida do mesmo modo por todos: · Há quem entenda que os "últimos dias" começaram com o estabelecimento do Estado de Israel em 1948. · Há quem compreenda que são os anos finais de 2000 e começo de 2001. · Há quem ache que não é uma coisa nem outra, mas que os sinais estão aí, e que os "últimos dias" estão se aproximando. Eu prefiro ficar com a Bíblia: desde que Jesus, após a ressurreição, voltou aos céus, nós estamos nos "últimos dias". Afinal, na Festa de Pentecostes, deu-se o derramamento do Espírito Santo sobre a nascente Igreja, e isso fora predito pelos antigos profetas como Joel 2.28 ("E depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos filhos e as vossas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões") e Ezequiel 36. 25-27 (cf. Is 44.3; 32.15). E Pedro, apóstolo, o afirmou no seu discurso/sermão registrado em Atos 2.16-18. A própria primeira vinda de Cristo, incluindo Seu nascimento, ministério, morte, ressurreição e exaltação são, segundo Pedro, "o fim dos tempos" (1Pe 1.20). E Paulo o diz com absoluta certeza e pura clareza: "Tudo isto lhes aconteceu como exemplos, e estas coisas estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos". Igualmente o escritor de Hebreus não deixa por menos: "... a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez o mundo" (1.2; cf. 1Jo 2.18). E por que marcar a data da Segunda Vinda? Especulação. Pura especulação. Cada fim de milênio traz muita especulação. Isso aconteceu em 996, 997, 998, 999 quando o ano 1000 era aguardado. Isso aconteceu no final do século passado, em 1996, 1997, 1998, 1999 já que o ano 2000 estava se aproximando. Guilherme Miller, nos Estados Unidos, marcou o dia 21 de março de 1843 como o da Segunda Vinda de Cristo. Não veio. Remarcou para 22 de outubro do ano seguinte. Não veio. Claus Epp Jr, na Alemanha, marcou o mesmo evento para 1889. Nada aconteceu. O Rev. Scofield, autor das notas da Bíblia Scofield, marcou a batalha do Armagedon nos dias da I Guerra Mundial. Sem novidades. Leonard Sale-Harrison marcou para 1940 ou 1941. Nada. E outros tantos. Mas que Jesus vem, vem! Pedro diz que esse é um assunto para o qual devemos dar atenção e buscar compreender (2Pe 1.19), pois os fins dos tempos , os "últimos dias", chegaram: "Tudo isto lhes aconteceu como exemplos, e estas coisas estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos" (1Co 10.11). Essa é a razão porque Jesus nos advertiu acerca de acontecimentos e coisas outras que viriam para perturbar. Vamos a Mateus 24, onde estão os sinais do retorno de Cristo. Ele falou em sedução, em guerras e boatos acerca de guerras, em terremotos, fomes, em perseguições e em prodígios. Realmente, os sinais sempre existiram (não são coisa de hoje como se procura enfatizar). Eles caracterizam o período entre a Primeira e a Segunda Vindas, e cada década destes últimos dois mil anos tem testemunhado isso. Jesus nos informa sobre os sinais, não para marquemos os tempos, mas para sermos vigilantes. Jesus nos informa sobre os sinais não para que os consideremos anormais ou espetaculares, pois sinais espetaculares e anormais são os realizados por Satanás (cf. Ap 13.13,14; 2Ts 2.7-9). 69 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Deus trabalha na calma, no silêncio, como fermento na massa do pão. TRANSFORMADOS E GLORIFICADOS Continuando a examinar o capítulo 24 do Evangelho de Mateus, a partir do verso 29, a palavra de Jesus alude ao Seu retorno, a Parousia. Um ricaço inglês, por nome Ernest Digwood, falecido em 1976, deixou uma herança de 26.107 libras rendendo num banco. O destino desta importância é se até 2056, Jesus não retornar, será entregue ao governo britânico. Se, pelo contrário, Ele regressar para reinar na Terra, os procuradores públicos confirmarão Sua identidade e Lhe entregarão o dinheiro para ser aplicado no Seu reino. "Confirmar a identidade"? Vão pedir o R.G.? O C.I.C.? Certidão de Nascimento? Que coisa grotesca?! Quanto ridículo?! Quando Jesus regressar, não se precisa de comprovação de Sua identidade, pois "todo o olho O verá", afirma Apocalipse 1.7), e o diz Mateus 24.30. Sua vinda será pessoal. Alguém duvida? A Escritura o diz claramente, "Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus..." (1Ts 4.16 NVI; cf. At 1.11; 3.19-21; Cl 3.4). Seu retorno será repentino. É ler Mateus 24.27: "Pois assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem" (cf. 1Ts 5.2). Há de ser visível. As Testemunhas de Jeová ensinam que Jesus voltou em 1914 de modo invisível. No entanto, "vede, ele vem com as nuvens e todo o olho o verá, até mesmo os que o trespassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém" (Ap 1.7; 1Ts 4.16). Será triunfante! Gloriosa! É verdade; a Primeira Vinda foi humilhada, pois Jesus nem teve onde nascer: aconteceu numa estrebaria; bercinho, nem falar: foi o cocho dos animais; durante Seu ministério, não tinha onde reclinar a cabeça; a cruz não era dEle, porém minha e sua; e, mesmo o túmulo foi emprestado. (cf. Is 53.2,3; Fp 2.7,8). A Segunda Vinda será gloriosa nos termos de 1Tessalonicenses 1.7, 10: "... e a vós, que sois atribulados, alivio conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, ... quando vier para ser glorificado nos seus santos, e ser admirado em todos os que creram, naquele dia" (cf. Cl 3.4; 1Ts 4.16). Voltará acompanhado pelos Seus anjos, e pelos Seus fiéis (1Ts 4.14). Glorioso cortejo! Dois fatos maravilhosos para os quais nossas palavras são inadequadas acontecerão: a Ressurreição dos Corpos e o Arrebatamento da Igreja. A ressurreição significa esperança, pura esperança. Teócrito, poeta grego (300-250? a.C.) afirmou que "há esperança para os que estão vivos, porém, para os que morreram, não há qualquer esperança". Ésquilo, também grego (525-426 a.C.) contribuiu para essa descrença dizendo que "uma vez que o homem morra, não há ressurreição". Mas a Bíblia a afirma. Diz que crentes e descrentes, fiéis e incrédulos ressuscitarão ao mesmo tempo: "Não vos maravilheis disto, pois vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: os que fizerem o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação" (Jo 5.28,29; cf. Dn 12.2). E 1Coríntios 15.21-23 apresenta a ordem da aguardada ressurreição: primeiro, Cristo (que já ressuscitou); depois, os de Cristo (cf. 1Ts 4.16). E o corpo da ressurreição está descrito em 1Coríntios 15.50-54. Corpos modificados, transformados, adequados às novas situações que nos esperam (cf. 1Co 15.51; Fp 3.20,21). Não mais seremos criaturas de carne e ossos, sangue e pele, mas teremos corpo espiritual semelhante ao de Jesus (1Jo 3.2)! O ARREBATAMENTO Nesse ponto, dar-se-á o Arrebatamento da Igreja. Jesus, Paulo e João falam desse evento com diferentes expressões : · Paulo diz, "seremos arrebatados" (1Ts 4.17); · Ou, "seremos transformados" (1Co 15.52); · João registra no Apocalipse como "subida" (cf. 11.12); · Jesus usa a frase "... [seus anjos] lhe ajuntarão os escolhidos" (Mt 24.31). Haverá uma tremenda tribulação e angústia antes do Arrebatamento (cf. Mt 24.15-28), quando os Seus escolhidos (linguagem do próprio Jesus) serão protegidos, mas a experimentarão (Ap 7.1ss, 13, 14). E, 70 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] então, todos os salvos mortos serão ressuscitados, e todos os salvos vivos serão transformados e glorificados. Os dois grupos serão elevados ao ar para um encontro com Jesus. A propósito, era costume nas cidades antigas, as pessoas de uma cidade sairem para encontrar fora dos muros ou fora da cidade, o visitante ilustre, formando um cortejo com ele para voltar à cidade. Em certo sentido, fazemos isso quando vamos ao aeroporto ou rodoviária aguardar alguém nosso (cf. Mt 25.6ss). Há prévias do Arrebatamento na Bíblia: Enoque cf. Gn 5.21-24; Hb 11.5), Elias (2Ts 2.8-11). Há quem vá, e há quem fique! O joio é queimado, mas o trigo é recolhido, diz a parábola (Mt 13.24-30); os peixes que não servem são jogados fora, os bons são separados (Mt 13.47, 48). Os justos e os maus têm destino separado (cf. Mt 13.49, 50). E você, vai ou fica? Muito membro de igreja não vai ser arrebatado porque é só isso mesmo: membro de igreja. É batizado, é verdade, mas não é nascido de novo. Muito filho de crente fica; muito marido de mulher salva fica. E você? Não deixe de observar a palavra de Jesus: "será levado um e deixado o outro" (Mt 24.40, 41). O JUÍZO FINAL Pense direitinho: o julgamento de Deus já começou, pois "Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (Jo 3.18; 5.24). Mas na Segunda Vinda, o juízo vai esclarecer o que está oculto (1Co 4.5; Mt 10.26). Quem será julgado? Nações, anjos caídos (1Co6.2,3; 2Pe 2.4; Jd 6), os seres humanos Mt 25.32; Rm 2.5,6; 3.6;Ap 20.12,13). Agora, diante do Juiz, já não há reis e súditos, políticos e seus eleitores, patrões e empregados: só salvos e perdidos, a fé e a incredulidade (aliás, nesse dia acaba o ateísmo). No Juízo, palavra de alegria ("Vinde, benditos...", Mt 25.34), e palavra de terror ("Apartai-vos de mim, malditos...", Mt 25.41). A palavra de Deus ensina que nosso destino já é conhecido por Ele: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz;eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; ninguém poderá arrebatá-las da minha mão" (Jo 10.27,28) e "Pois nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele" (Ef 1.4). Aí vale a lei espiritual da Perseverança dos Santos! Chegamos, então, ao "Portanto..." de 1Coríntios 15.58. Que fazer de agora até a Parousia, a Segunda Vinda e o Arrebatamento da Igreja? · Levar a vida normalmente, porém vigilantes (Mt 25.13); · "Aguardando a bem-aventurada esperança" (Tt 2.13); · Consolando ("exortando uns aos outros", 1Tessalonicenses 4.18); · Alegres (1Pe 4.12,13); · Em intensa consagração (1Pe 4.7-11). Quer dizer, agora a teologia se transforma em desafio, o pensamento teológico se torna práxis, ação. Paulo ensina, "Sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão", ou seja, "Mantei-vos firmes na fé e no serviço de Deus porque essa não é uma luta vazia". Estamos falando de vitória! Vitória plena! Plena vitória! E a glória das glórias, a vitória das vitórias é, como diz Paulo, que "estaremos para sempre com o Senhor"! (1Ts 4.17b). SINAIS DOS TEMPOS FINDOS ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br As dores de parto estão se amiudando, ficando mais intensas, mais fortes, mais preocupantes. A violência explode em todo o mundo. Violência no trânsito; violência sexual; violência contra a vida; contra a mulher; contra crianças. Para completar o quadro, a violência dos abortos provocados: 238.874 curetagens pós-parto foram realizadas no Brasil, em 1997, 22% em jovens de 10 a 19 anos. Milhões de homens, mulheres e crianças obrigados a um exílio forçado pelas circunstâncias, em várias partes do mundo. Tribos em guerra fratricida. Milhares fugindo de ditaduras, de perseguições. Fugindo dos próprios compatriotas, da terra natal, de suas origens. Fugindo sem destino certo, sem rumo. Nas maiores cidades do Brasil as autoridades se declaram incompetentes diante das atrocidades de gangues. 71 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] "Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas essas coisas SÃO O PRINCÏPIO DAS DORES... muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão. E por se multiplicar a iniquidade o amor a muitos esfriará... olhai, não vos assustei, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim" (Mateus 24.1-14). Terremotos e furacões se sucedem, cada vez mais fortes. Água potável, indispensável à vida humana, escasseia em várias partes do mundo, como é exemplo o nordeste brasileiro. A UNESCO declarou que a "próxima guerra mundial será deflagrada pela disputa de água potável". As estatísticas da fome mundial é assustadora. Trezentos milhões de miseráveis na Índia. A malária nunca foi erradicada do planeta e continua matando milhões. Câncer e AIDS, outro tanto. O sexo entre não casados tornou-se uma prática normal em nossa sociedade depravada, não apenas no Brasil. É o aumento da iniquidade, da depravação e do desrespeito à Palavra de Deus. O produto disso são divórcios que geram famílias desestruturadas e filhos sem esperança. O adultério, a traição entre cônjuges, são uma rotina em nosso meio. "Nenhum fornicador, ou impuro... tem herança no Reino de Cristo e de Deus"(Efésios 5.5). "Não adulterarás"(Êxodo 20.14). As drogas estão ceifando vidas jovens, alcançam adolescentes e penetram nas escolas: em 45% das escolas públicas do Brasil há tráfico de drogas. Pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas do Rio (Nepad) concluiu que 27 mil estudantes de escolas públicas do Rio usam drogas com freqüência. "Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem impuros... nem bêbados herdarão o reino de Deus" (1 Coríntios 6.9-10). Satélites da Nasa detectaram que o buraco na camada de ozônio sobre a Antártica se estende agora por 27 milhões de quilômetros quadrados, cinco por cento maior que o tamanho máximo alcançado em 1996. "A temperatura global poderá aumentar cerca de 3,5 graus centígrados até o ano 2.100, a maior mudança climática em dez mil anos", concluiu a Quarta Reunião da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática. A verdade é que em muitas partes do mundo o calor está aumentando. Enormes blocos de gelo se deslocam das regiões polares. Reflitamos: "E os homens foram abrasados com grandes calores... e não se arrependeram" (Apocalipse 16.9; Malaquias 4.1). Não é por menos que as queimadas em várias partes da Terra estão devorando as matas. Dez por cento da floresta amazônica - o pulmão do mundo - foram devastados nos últimos 50 anos, em decorrência da ação predatória do homem. É bom que façamos uma reflexão para o que o Apóstolo Paulo disse: "Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com DORES DE PARTO até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo"(Romanos 8.22-23). Os homens estão cada vez mais ansiosos e deprimidos, ora porque não conseguem superar as dificuldades economico-financeiras, ora porque não conseguem acompanhar o ritmo do progresso, ora porque se sentem excluídos da sociedade organizada e elitizada. O século XXI será das doenças do cérebro, como resultado do esforço do homem para acompanhar a rápida evolução social. Esta a declaração do diretor de Saúde mental da Organização Mundial da Saúde (OMS), Dr. Jorge Alberto Costa e Silva. Vinte e cinco por cento da população mundial sofrem de ansiedade. Reflitamos: "Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus"(Filipenses 4.6). A ansiedade e oconseqüente medo do povo brasileiro, por exemplo, produzem uma corrida alucinada aos jogos de azar. Ali, no jogo, depositam suas esperanças jovens, velhos e até crianças. E o Brasil que até há pouco tempo colocava barreiras à instalação de cassinos, tornou-se num grande cassino ao permitir toda sorte de jogatina. "Os que querem ficar ricos caem em tentação e em laço, em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e perdição" (1 Timóteo 6.9). A par de todos esses desvios, em que os valores éticos, morais e cristãos são desprezados, a prática do espiritismo e do satanismo cresce a olhos vistos. Os búzios, os tarôs, os baralhos ciganos; numerologia, mapa astral, cristalomancia, e outras práticas esotéricas de adivinhação e feitiçaria são procuradas por 72 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] milhões de desesperançados brasileiros - ovelhas sem pastor - como náufragos à procura de uma tábua de salvação. Confiam mais na palavra do pai-de-santo, do Dr. Fritz; mais na palavra dos demônios (orixás, caboclos, espíritos guias) do que na Palavra de Deus. Para reflexão: "Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios (1 Timóteo 4.1). "Quando vos disserem: consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre dentes; não recorrerá um povo ao seu Deus? A FAVOR DOS VIVOS INTERROGAR-SE-ÃO OS MORTOS?" (Isaías 8.19) "Não vos voltareis para MÉDIUNS, nem para FEITICEIROS, a fim de vos contaminardes com eles. Eu sou o Senhor vosso Deus"(Levíticos 19.31). "Não haja no teu meio quem faça passar pelo fogo o filho ou a filha, nem ADIVINHADOR, nem prognosticador, nem agoureiro, nem FEITICEIRO, nem encantador, nem NECROMANTE ,nem mágico, nem QUEM CONSULTE OS MORTOS. O Senhor abomina todo aquele que faz essas coisas" (Deuteronômio 18.9-12). "Mas quanto aos feiticeiros...a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, que é a segunda morte" (Apocalipse 21.8). Desnecessário continuarmos expondo as feridas da humanidade. Muitos reconhecem que a situação não é nada boa. O sistema mundial, quer seja gerido ou conduzido pelo Comunismo ou pelo Capitalismo, por governos democráticos ou ditatoriais, faliu. O fosso entre ricos e pobres aumenta. Os dois bilhões de miseráveis deste planeta são o retrato falado da incompetência, da prepotência, do desamor e da depravação do homem. Porém, Deus não está de braços cruzados. Assim como nos tempos de Noé e de Ló, Ele sabe o dia e a hora e até os segundos em que o seu grande dia - o Dia do Senhor - terá início. Nos dias de Noé, Deus vendo que "a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente", e que "a terra estava cheia de violência", exterminou todos os seres viventes através do dilúvio. Pela mesma razão as cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas com seus habitantes, por se multiplicarem a violência, a imoralidade e a injustiça. Em nossos dias, a promiscuidade sexual e a maldade dos homens alcançaram níveis insuportáveis. O sistema mundial está falido, e não podia ser de outra maneira porque "o mundo jaz no maligno"(1 João 5.19). Satanás é o deus deste mundo, e na sua ação devastadora ele deseja "matar, roubar e destruir". Satanás é o maior inimigo do homem porque o homem é a obra-prima de Deus. Quando os homens se rebelam contra Deus, ficam automaticamente sob o domínio do Maligno e, nessa condição, os desejos carnais predominam: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, iras, pelejas, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias (Gálatas 5.19-21). Os que amam as coisas deste mundo, ou seja, os que fazem parte do processo mundano; os que estão se sentindo muito bem na prática do adultério, das drogas, da mentira, da idolatria, da consulta aos mortos, esses não estão vendo nada de anormal à sua volta. A razão é porque estão cegos: "Se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" (2 Coríntios 4.4) . Quem está morto não sente o peso do pecado, porque defunto não sente dor. Quem nasce e vive em trevas não sente muita necessidade de luz. Quem está atolado em excremento até o pescoço não sente a fedentina ao seu redor. Mas quem está fora do processo, como gotinhas reluzentes de óleo pairando sobre águas turvas, enxerga, sente e geme diante da situação caótica do mundo. Os gemidos dos filhos de Deus são no sentido de apressar a vinda do Senhor Jesus, pela pregação do Evangelho. "E ESTE EVANGELHO DO REINO SERÁ PREGADO EM TODO O MUNDO, EM TESTEMUNHO A TODAS AS GENTES, E ENTÃO VIRÁ O FIM" (Mateus 24.14). A Bíblia nos diz que Cristo voltará, mas ninguém sabe em que dia e hora Ele voltará. O próprio Jesus declarou que o fim viria somente depois que todos os povos tomassem conhecimento da Verdade evangélica. A meu ver, isso não elide a possibilidade de estarmos no "princípio das dores". 73 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] UMA MULHER VESTIDA DO SOL ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB www.iprb.com.br "Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu então outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e sobre as cabeças sete diademas; sua cauda arrastava um terço das estrelas do céu, lançando-as para a terra. O Dragão colocou-se diante da mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um filho, um varão, que Irá reger todas as nações com um cetro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono, e a Mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por mil duzentos e sessenta dias. (...) Ao ver que fora expulso para a terra, o Dragão pôs-se a perseguir a Mulher que dera à luz o filho varão. Ela, porém, recebeu as duas asas da grande águia para voar ao deserto, para o lugar em que, longe da Serpente, é alimentada, é alimentada por um tempo, tempos e metade de um tempo. A Serpente, então, vomitou água como um rio atrás da Mulher: a terra abriu a boca e engoliu a água que o Dragão vomitara. Enfurecido por causa da mulher, o Dragão foi então guerrear contra o resto dos seus descendentes, os que observam os mandamentos de Deus e mantêm o Testemunho de Jesus" (Ap 12.1.17). Seria a santa Maria, a mãe de Jesus, essa "Mulher que deu à luz um varão", fugiu para o deserto, onde foi alimentada por mil duzentos e sessenta dias? Colhemos de um site de apologética católica a seguinte interpretação extra-oficial: "No Apocalipse, João contempla nesta visão três verdades: a Assunção de Nossa Senhora, sua glorificação, sua maternidade espiritual. O Apocalipse descreve que esta mulher "estava grávida e (...) deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações..." (Ap 12, 2.5 ). Qual mulher, que de fato, esteve grávida de Jesus senão a Santíssima Virgem? (conf. Is 7, 14). Outros contestam, dizendo que esta mulher é símbolo da Igreja nascente. Mas, a Igreja nunca esteve "grávida" de Jesus Cristo! Antes, foi Cristo que gerou a Igreja, foi ele que a estabeleceu e a sustenta. E para provar que esta mulher é exclusivamente Nossa Senhora, em outro lugar está escrito: "O Dragão vendo que fora precipitado na terra, perseguiu a Mulher que dera à luz o Menino" ( Ap 12, 13 ). A Igreja teria dado à luz a um Menino? Evidente que não! Portanto esta mulher refulgente é unicamente, Nossa Senhora, pois foi ela unicamente que gerou "o menino" prometido conf. Is 9, 5 ). Diz ainda a Sagrada Escritura que: "(o Dragão) deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz (...) para lhe devorar o Filho (...) A Mulher fugiu para o deserto, onde (...) foi sustentada por mil duzentos e sessenta dias" ( AP 12, 4.6 ). De fato, o demônio maquinou contra a vida de Jesus desde seu nascimento, na pessoa do perseguidor Herodes. Maria fugiu então com o filho para o deserto (Egito). Lá ficou por aproximadamente mil e duzentos e sessenta dias (três anos e meio). Ou seja, do ano 7 AC, ano do nascimento de Jesus, conforme atualmente se acredita, até março-abril do ano 4 AC, ano da morte de Herodes. Perfazendo os três anos e meio de exílio, nos quais foi sustentada pela Providência. Portanto, todos esses versículos, confirmam primeiramente a assunção de Nossa Senhora. Pois o apóstolo a contempla revestida de sol, já estabelecida desde agora na glória prometida pelo seu Filho, quando diz "Os justos resplandecerão como o sol" (Mt 13,43). Confirma incontestavelmente sua realeza espiritual, pois a mesma se apresenta coroada com doze estrelas, símbolo das doze tribos de Israel e dos doze apóstolos. Portanto Rainha do Antigo e do Novo Testamento. Por fim confirma sua maternidade espiritual, pois diz o Espírito Santo: "(O Dragão) se irritou contra a Mulher ( Maria ) e foi fazer guerra ao resto de sua descendência ( seus filhos espirituais ), os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus" ( Ap 12, 17 ). Somos de sua descendência apenas se nos comprometermos com o Cristo Jesus, guardando os seus mandamentos e testemunhando-o como nosso Senhor e Salvador". 74 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] A interpretação acima, que vez ou outra aparece nos debates entre católicos e protestantes, não me parece das mais felizes. Vejamos alguns pontos discrepantes: 1) Em nenhum momento a Bíblia relata que os salvos em Cristo receberão uma coroa de doze estrelas; 2) Também nada registra sobre os tormentos e os gritos de Maria na hora do parto. Acredito que Maria sentiu as dores normais, mas não a ponto de ficar atormentada; 3) Maria fugiu para o Egito (Mt 2.14) e não para o deserto; 4) Pelo relato de Apocalipse, o filho foi arrebatado e a mulher fugiu para o deserto, o que realmente não aconteceu. Maria, Jesus e José foram para o Egito; 5) O cálculo dos 1.260 dias, como acima, pareceu-me impreciso, sem convicção, aproximado. A Bíblia nada diz sobre o tempo de permanência de Maria no Egito; 6) O texto não fala - nem a Bíblia em qualquer de seus livros - na Assunção de Maria, na sua glorificação e maternidade espiritual. 7) A interpretação está na contramão do que pensam eruditos católicos e protestantes, conforme registros a seguir. Vejamos qual a interpretação da Bíblia de Jerusalém (Primeira impressão em setembro/1985, Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, autenticada em 1.11.1980 com a assinatura de Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. Na apresentação, os editores disseram que "após três anos de árduo e intenso trabalho, realizado por uma equipe de exegetas católicos e protestantes e por um grupo de revisores literários, pudemos entregar ao público a tradução do Novo Testamento"). Pois bem, essa comissão do mais alto nível, concluiu o seguinte com relação à "Mulher vestida com o sol" (Ap 12.1.17): "A cena corresponde a Gênesis 3.15,16. A mulher dá à luz na dor (v.2) aquele que será o Messias (v.5). Ela é tentada por Satanás (v.9), que a persegue, bem como a sua descendência. Ela representa o povo santo dos tempos messiânicos (Is 54; 60; 66.7; Mq 4.9-10), e portanto [representa] a Igreja em luta. É possível que João pense também em Maria, a nova Eva, a filha de Sião, que deu nascimento ao Messias (cf. Jo 19.25)". Então, o entendimento dos eruditos católicos é o de que a "mulher" em referência simboliza a Igreja perseguida. Apenas no final, dizem ser "possível" que o autor do Apocalipse estivesse pensando em Maria. Esta possibilidade não pode e não foi levada a sério; são conjecturas, suposições. Para entendermos melhor o assunto, vamos ler Isaías 66.7-9 (referência citada pelos exegetas católicos): "Antes que estivesse de parto, deu à luz; antes que lhe viessem as dores, deu à luz um filho. Quem jamais ouviu tal coisa? (...) Nasceria uma nação de uma só vez? Mas Sião mal sentiu as dores de parto, e já deu à luz a seus filhos". A Bíblia de Estudo Pentecostal, concordando, esclarece que "Isaías prevê o renascimento de Israel como o povo de Deus, durante o reino messiânico; o nascimento será singularmente rápido e trará alegria, paz e prosperidade". Devemos ter o cuidado para não identificar Maria com tudo que dar à luz um filho. Leiam também Isaías 26.17-19; Miquéias 4.9-10). Vejamos os comentários da Bíblia Sagrada, Edição Ecumênica, tradução do Padre Antônio Pereira de Figueiredo, com notas do Monsenhor José Alberto L. de Castro Pinto, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, BARSA, 1964, aprovada, portanto, pela Igreja Católica: "Apocalipse 12.1: Uma mulher: não é o símbolo da SS. Virgem, mas sim o do Povo de Deus, primeiro Israel, que deu ao mundo Jesus Cristo segundo a carne e depois o "Israel de Deus", isto é, a Igreja que enfrentaria as perseguições do Dragão. O sol, a lua e as estrelas são apenas figuras para expressar seu esplendor. Por acomodação a Igreja aplica este versículo à SS.Virgem". Primeiro, os comentários católicos dizem o óbvio, o que não pode ter outra interpretação, ou seja, que a mulher revestida do sol simboliza o Povo de Deus, Israel donde nasceu Jesus, num primeiro momento; no outro momento, representa a Igreja perseguida. No final, fala a verdade quando diz que o 75 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected] Catolicismo aplica o versículo à SS. Virgem por acomodação, o que me parece uma afirmação que compromete a lisura e imparcialidade com que as devemos interpretar e ensinar a palavra de Deus. Acomodação dá idéia de arrumação, de arranjo. A advertência de Apocalipse 22.19 pode ser aplicada nesse caso: "E se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida..." Os comentaristas da Bíblia [evangélica] de Estudo Pentecostal concordam em linhas gerais com os das bíblias católicas. Vejam: "Apocalipse 12.1 - Uma mulher - Esta mulher simboliza os fiéis de Israel, através dos quais o Messias (i.e., o menino Jesus) veio ao mundo (cf. Rm 9.5). Isso é indicado não somente pelo nascimento do menino, mas também pela referência ao sol e à lua (ver Gn 37.9-11) e às doze estrelas, que naturalmente se referem às doze tribos de Israel". "Apocalipse 12.6 - A mulher fugiu - Aqui, a mulher simboliza os fiéis de Israel na última parte da tribulação (cf. os 1260 dias, metade exata do período da tribulação). (1) Durante a tribulação, esses fiéis de Israel, judeus tementes a Deus, opor-se-ão à religião do Anticristo. Examinando com sinceridade as Escrituras, eles aceitam a verdade de que Jesus Cristo é o Messias (Dt 4.30-31; Zc 13.8-9). São socorridos por Deus durante os últimos três anos e meio da tribulação, e Satanás não poderá vencê-los (ver vv 13-16). (2) Quem de Israel aceitar a religião do Anticristo e rejeitar a verdade bíblica do Messias, será julgado e destruído nos dias da grande tribulação (ver Is 10.21-23; Ez 11.17-21; 20.34-38; Zc 13.8-9)". "Apocalipse 12.13 - Perseguiu a mulher - Satanás procura destruir a mulher. Aqueles em Israel, que aceitarem a Cristo, serão vigiados e perseguidos por Satanás e pelos seguidores do Anticristo (cf Mt 24.15-21). Deus dará proteção sobrenatural aos santos de Israel durante esse período (vv 14-16)". Vamos ver alguns trechos de O Novo Comentário da Bíblia, Edições Vida Nova, primeira edição em 1963: "A mulher e o seu filho (Ap 12.1-17) - Os gregos contavam uma história do nascimento de Apolo marcadamente paralela à dos vv. 1-6. Os egípcios semelhantemente relatavam o nascimento de Hórus; um fato é que a história, em formas modificadas, parece ter sido universalmente contada. Claramente, João tem empregado uma narrativa bem conhecida (primeiramente adaptada, aparentemente, por um judeu) tanto para ilustrar o seu próprio tema, como para tacitamente excluir todos os heróis de outras crenças da posição de Redentor universal (...) Para as nações pagãs do mundo antigo, a mulher grávida (12.1,2) teria sido uma deusa coroada com as doze estrelas do zodíaco. O judeu teria visto nela o seu próprio povo, encabeçado pelos doze patriarcas. João mostra que ela não representa nenhum destes, MAS [representa] O VERDADEIRO POVO CRENTE DE DEUS, tanto da velha, como da nova dispensação, a comunidade messiânica. (...) O dragão agora volta a sua atenção para A MULHER, ISTO É, A IGREJA, tendo falhado no caso do Senhor dela (cfr. João 15.20). No simbolismo que revela o ataque contra a mulher, a serpente é considerada como um monstro da água, inclusive a personificação do mar. Daí a mulher foge para o refúgio no deserto (14), onde um monstro marítimo não pode ter lugar. Para não ser superada, a serpente manda após ela um dilúvio, mas a terra o traga, de maneira que não se faça mais nada por ele (15,16). O retrato bem ilustra a segurança espiritual dos crentes contra tudo que o diabo possa fazer em suas tentativas para destruí-los". Todas as interpretações apontam para um só entendimento, o de que a mulher vestida com o sol simboliza Israel, a Igreja de Cristo, o Povo de Deus. Nada há que possa indicar a descrição do parto de Maria, na cidade de Belém. Em sua essência, os eventos apocalípticos apontam para o futuro, e não para o passado, "para dar aos crentes de todas as eras a perspectiva divina do férreo conflito entre eles e as forças conjuntas de Satanás, nesta revelação de desfecho da história. O Apocalipse revela principalmente os eventos dos últimos sete anos da segunda vinda de Cristo, quando, então, Deus intervirá neste mundo e vindicará seus santos, derramando sua ira sobre o reino de Satanás". Neste contexto, insere-se a visão da mulher e o dragão, objeto da presente análise. ESTUDO DA ESCATOLOGIA Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB 76 Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista Clínico, Mestrando em Teologia www.fatebra.com.br www.iprb.com.br [email protected] [email protected] [email protected]