faculdade teológica do brasil

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FATEBRA
FACULDADE TEOLÓGICA DO BRASIL
“Entidade Educacional Com Jurisdição Nacional”
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
www.fatebra.com.br
APOSTILA – 30
ESTUDOS SOBRE SOCIEDADE
TOTAL – 67 - PAGINAS
11 - ASSUNTOS!
ESTUDO SOBRE SOCIEDADE
Perspectiva Pastoral
lhos Conceitos
o
A BÍBLIA FALA SOBRE A FAMÍLIA
ESTUDO SOBRE SOCIEDADE
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
www.fatebra.com.br
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A família é a primeira sociedade natural, tipo e princípio de todas as outras sociedades. O
baiano Ruy Barbosa explicou: "a pátria é a família amplificada", e a Igreja, diz a Bíblia Sagrada,
é a família de Deus. Assim, quem destruir a família destrói a sociedade e o próprio ser humano.
Os inimigos da família são conseqüência de uma concepção naturalística, materialista, mesmo,
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Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista
Clínico, Mestrando em Teologia- www.fatebra.com.br - www.iprb.com.br - [email protected] [email protected]
da vida: por isso, tantas separações, crianças abandonadas, filhos desobedientes. Não há
motivos nobres orientando: a irreligião domina, o ceticismo, o secularismo porque os
princípios espirituais e morais estão sendo destruídos, a religião é pressionada, não nasce do
coração, é mecânica, ritual, mas não vivida e sentida. Não diz a Escritura que "o que perturba a
sua casa herdará o vento", e que "toda mulher sábia edifica a sua casa; a insensata, porém,
derruba com as suas mãos" ?
CRISES DO MUNDO MODERNO
Crise de autoridade e disciplina. O mundo sofre de uma crise de autoridade e disciplina que
tem sua raiz na mesma situação porque passa a família. As causas são diversas: Conflito de
Gerações, ou seja, conflito entre adultos e jovens, pais e filhos, uma forma de pensamento e
outra, uma ideologia e outra. Isso não é novidade! 2Samuel 15 narra como Absalão se tornou
rebelde contra o pai, e como questionou sua autoridade e subverteu a ordem reinante. Era um
líder nato, conquistou muitos adeptos, e planejou derrubar o próprio pai do trono. Seu fim foi
trágico, e é narrado em 2Samuel 18. 9, 14, 15.
Há alguns anos, na China, 25 milhões de jovens, os chamados "Guardas Vermelhos", foram
contra tudo o que representava herança das gerações anteriores. Houve destruição, quebraquebra, mortes; eram iconoclastas com respeito ao passado e à tradição. De quando em vez,
ressurgem manisfestações do antigo chamado movimento hippie. Os verdadeiros hippies eram
jovens das classes média e alta norte-americanas que renegaram o estilo de vida de seus pais,
e adotaram uma postura desleixada, desinibida, e, mesmo, anti-higiênica. O objetivo era
chocar pelo contraste. Adotaram o lema "Faça o amor, não faça a guerra"; saudavam-se e aos
outros com a expressão "Paz e Amor!" Afirmando amar a todos, havia muita permissividade,
sexo livre e irresponsável, drogas, tóxicos, vícios. Alguém disse com muita propriedade que
"hippie era alguém que amava todo mundo, menos os pais".
Uma segunda causa são as Mudanças no Ambiente Social. É a necessidade da mãe trabalhar
fora (e por vezes não há outra escolha). Com isso, há pouca (ou nenhuma) oportunidade de
encontro da família: pais, tanto ricos quanto pobres, vão ao trabalho e deixam as crianças
entregues a elas mesmas ou a outras pessoas, algumas absolutamente sem formação, para
cuidar das crianças ou à babá eletrônica, a TV, eficiente geradora de violência, reclamando a
seguir que os filhos estão agressivos e rebeldes. Uma professora contou sobre um resultado
típico de uma greve de professores sobre crianças urbanas. Durante os trinta dias de duração
da greve, as crianças foram deixadas em casa porque os pais tinham que sair. Foram, então,
aprisionadas nas quatro paredes do apartamento e entregues a elas mesmas. Quando
voltaram à escola, um garoto da terceira série bateu em outro. Levado à Orientadora
Educacional, não soube explicar porque batera no colega?!
Temos em casa um grande modelador da vontade e do caráter: a TV! A propaganda por ela
veiculada modela o nosso querer: cria a necessidade de coisas de que não precisamos, nivela
nossa maneira de pensar, o que é bom e o que não presta são igualmente espalhados, e,
inúmeras vezes, o que não presta até com mais ênfase; a moral é questionada. E tudo isso
mexe com a família, com o relacionamento marido/mulher, filhos/pais, com o lar, enfim.
O mundo é uma grande competição, e muita gente não se importa de pisar outras para subir
na vida, nem de se vender. Um moço conversava conosco no Gabinete Pastoral sobre
emprego. Disse ele que quando chegava ao local anunciado no jornal, já havia doze a quinze
pessoas. Disse-nos que, quando falava sobre a sua pretensão salarial, outro era escolhido
porque pedira menos. O vestibular para as universidades é uma tremenda competição
havendo, em certos casos, vinte e sete, trinta candidatos para uma vaga! Crise de autoridade e
disciplina, quando se discute a autoridade dos pais, onde se defende o sexo livre, onde há
violência em todos os sentidos, onde se experimenta o vazio e a solidão, onde há desejo de ter
em vez do anseio por ser.
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Há famílias que em nome da democracia se tornaram uma perfeita anarquia: todos mandam e
ninguém obedece, não há uma cabeça pensante. No propósito de Deus, a família é uma
sociedade bem ordenada. O pai é o chefe natural tanto do subsistema conjugal (marido e
mulher), quanto do subsistema fraternal (filhos). É conferir Colossenses 3.18,20 "Vós,
mulheres, sede submissas a vossos maridos, como convém no Senhor.... Vós, filhos, obedecei
em tudo a vossos pais; porque isto é agradável ao Senhor." O espírito de família baseado no
respeito e confiança desaparece: os pais discutem com os filhos, e toleram sua falta de
respeito e zombaria até; espetáculos de intimidade conjugal são testemunhados aviltando a
dignidade e o decoro!
Há quem fale em conflito de gerações. Ora, sempre tem havido e sempre haverá, uma brecha
entre as gerações. É preciso que exista; o que não pode é ser aumentada e abusada. O conflito
de gerações não é coisa de hoje. Num túmulo egípcio de 6.000 anos atrás (c. 4000 a.C.) foi
encontrado:
"Vivemos numa era decadente. Os jovens já não respeitam seus pais. São grosseiros e
impacientes. Passam o tempo nas tabernas e não possuem qualquer domínio sobre si
mesmos".
E a revista Newsweek (de nossos dias, portanto): "Este não é um tempo fácil para se ser pai ou
mãe". A história de Davi e Absalão é na Bíblia um registro desse conflito de gerações. Absalão,
amado pelo pai, foi um moço cheio de frustrações. Belo rapaz, rebelou-se contra o pai, e fugiu
de casa. Comandou uma insurreição contra Davi, que deu uma ordem aos seus oficiais. Morto,
foi pranteado pelo pai.
Crise, revolução, rebelião, revolta, desespero , desconfiança, ceticismo, falta de fé, revolução
em todos os quadrantes do mundo e também dentro de casa.
Crise de Identidade e Mudança de Valores. A família contemporânea tem sido abalada pela
falta de identidade de alguns de seus membros,. Refiro-me à distinção entre os sexos: a
homem sem acanhamento de ser homem; mulher sem pedir desculpas por ser mulher.
Referimo-nos a homem com modos apropriados, vestes adequadas, comportamento de
homem; refiro-me a mulher com maneiras perfeitas, gestos femininos e conduta de mulher.
Sem mistura e sem unissex.
A família de hoje tem sofrido de mudança de valores: o que é mau está travestido de bom, e o
bom, considerado fora de moda. As drogas têm se tornado uma questão de segurança
nacional em todo o mundo. Dizem as estatísticas que de cada oito americanos, um é viciado
em drogas. Até há poucos anos no Irã, havia uma taxa de cinco mil suicídios/ano por causa das
drogas. sexo livre e irresponsável. Não é coisa nova.. Nossa cultura está saturada de sexo como
bem o demonstra os títulos de alguns filmes. A experiência sexual antes do casamento e a
permissividade têm virado normalidade e rotina nas novelas de TV e na vida das famílias. O
homossexualismo tem sido aceito por segmentos da família brasileira sem restrições. Aliás, é
chamado de "preferência ou opção sexual"(?!). O número especial de Ultimato sobre "A
Questão Gay" (abril de 1987) traz um comentário sobre um documento publicado pelo Grupo
Gay da Bahia. É documento dirigido aos crentes em Jesus Cristo, e tem o título O que todo
crente deve saber sobre o homossexualismo apresentando um sem número de aberrações de
hermenêutica bíblica. Por exemplo: "Não há na Bíblia nenhuma só vez a palavra homossexual
nem homossexualidade". É verdade, mas aparecem as palavras impuros, efeminados e
sodomitas.. "A prática homossexual foi proibida porque é uma relação não reprodutiva". A
resposta é muito elucidativa. O homossexualismo é chamado de "amor inocente", mas a
resposta se encontra em Romanos 1. 26, 27 onde a prática homossexual é chamada de torpe e
depravada. O problema destes dias é condenar a conseqüência e não a fonte: condena-se a
AIDS, mas não o homossexualismo, e nessa base estão as campanhas dos nossos governos
pelos jornais, revistas, outdoors e TV. Lembremos que condenamos o pecado, mas amamos o
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pecador, por isso temos que estender-lhe a mensagem de purificação, de mudanças, de
salvação em Jesus Cristo.
Não é novidade a subversão de valores. Isaías, o profeta, há 2.700 anos denunciava a
subversão de seus dias:
"Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que põem as trevas por luz, e a luz por trevas,
e o amargo por doce, e o doce por amargo!"
"O vosso país está assolado; as vossas cidades abrasadas pelo fogo; a vossa terra os estranhos
a devoram em vossa presença, e está devastada, como por uma pilhagem de estrangeiros."
Todos falam da crise moral e espiritual que tenta dominar nosso país; a ética sofre de anemia
porque Deus e Sua Palavra não são prioridade para nosso povo. A lei de Deus tem sido
ignorada, e, no entanto, a Escritura diz que Deus é o Senhor das nações:
"Todas as nações que fizeste virão e se prostrarão diante de ti, Senhor, e glorificarão o teu
nome."
"Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações".
Na sociedade de hoje, parece que o bem virou mal e o mal se tornou correto; vive-se a cobiça
do dinheiro, do luxo desenfreado; vive-se a desumanização da personalidade por uma época
dirigida pela máquina.
Crise de fé. A irreligião, quando não a anti-religião, é vivida: leviandade quanto à fé, coração
vazio de nobreza e fé, frivolidade no lar, falta de vida na família, falha de pais que não vivem o
que pregam. Talvez resultado de um tempo quando a máquina substitui o músculo, e, até, o
cérebro. Talvez porque seja in descrer do espiritual e crer na tecnologia. Há o caso da fé maldirigida. Aliás, na Antigüidade, famílias inteiras mal-dirigiam sua atitude de fé:
"Os filhos apanham a lenha, e os pais acendem o fogo, e as mulheres amassam a farinha para
fazerem bolos à rainha do céu, e oferecem libações a outros deuses, a fim de me provocarem à
ira".
Não parece o quadro das procissões marítimas, ebós e semelhantes?
É tempo de orar pela família; é tempo de orar por essa falta de autoridade e disciplina; é
tempo de orar pela falta de identidade, mudança de valores e suas conseqüências; é tempo de
orar pela falta de fé.
AJUDANDO A FAMÍLIA
Ajudando os pais. Espera-se que os pais cristãos sejam pessoas que amem a Palavra de Deus e
a repassem aos filhos. A Bíblia pontua a disciplina, e com a Bíblia os pais cristãos hão de vencer
a crise de autoridade e disciplina. A Bíblia ensina que é preciso firmeza e que o "sim" há de ser
"SIM", e o "não" há de ser "NÃO". A crise de mudança de valores será vencida quando os pais
derem tempo e mais de si aos filhos. Um adesivo no vidro de um carro dizia: "Você já abraçou
seu filho hoje?"
Compreendendo os filhos. Paulo diz em Efésios 6.4 e Colossenses 3.21: "não provoqueis à ira
vossos filhos" e "não irriteis a vossos filhos". Na verdade, colhemos o que plantamos: se
plantamos amor e compreensão, colheremos compreensão e amor. Há um ministério em
escutar: de escutar os filhos. Há um ministério de comunicar: o modo como se fala com os
filhos diz se eles são aceitos, se criticados, rejeitados ou amados. Há um ministério no
disciplinar: disciplina adequada, equilibrada, apropriada, graduada, disciplina com amor. Há
um ministério no respeitar: o respeito pelas opiniões e decisões dos filhos porque podem ser
diferentes das suas, respeito pelos seus direitos pessoais, a sua privacidade.
Amar os filhos. Por isso passar-lhe o ensino da lealdade, da honestidade, do respeito, do amor,
das coisas do Espírito, da confiança em Deus. Tudo em nome do amor:
"coisas que temos ouvido e sabido, e que nossos pais nos têm contado. Não os encobriremos
aos seus filhos, cantaremos às gerações vindouras os louvores do Senhor, assim como a sua
força e as maravilhas que tem feito, a fim de que pusessem em Deus a sua esperança, e não se
esquecessem das obras de Deus, mas guardassem os seus mandamentos";
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Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará
dele".
Pais necessitam possuir um alicerce moral e espiritual sobre o qual apoiem suas vidas e que
possa suportar a prova do tempo, que seja eterno. Isso em nome do amor, e assim os filhos se
identifiquem com os pais de modo que aceitem e incorporem os seus valores. Assim foi com
Abraão:
"Visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e por meio dele serão
benditas todas as nações da terra? Porque eu o tenho escolhido, a fim de que ele ordene a seus
filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para praticarem
retidão e justiça; a fim de que o Senhor faça vir sobre Abraão o que a respeito dele tem falado".
Ajudando os filhos. Que linda oração no Salmo 144, 12,15:
"Sejam os nossos filhos, na sua mocidade,
como plantas bem desenvolvidas
e as nossas filhas como pedras angulares lavradas,
como as de um palácio.
Bem-aventurado o povo a quem assim sucede!
Bem-aventurado o povo cujo Deus é o Senhor",
Porque a Bíblia vê os filhos como bênção de Deus. Por isso, há um enorme privilégio e maior
dever, ainda, em serem os filhos bênçãos, luzes, esperança para seus lares e famílias, e, por
extensão, para sua nação, a "família amplificada". Assim:
"Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensino de tua mãe";
"Um filho sábio alegra a seu pai; mas um filho insensato é a tristeza de sua mãe" ;
"O que aflige a seu pai, e faz fugir a sua mãe, é filho que envergonha e desonra."
Essa ajuda se manifesta pela orientação a vencer a crise de identidade pela construção do
auto-conceito, pelo orgulho de ser homem ou de se mulher com as características próprias de
seu sexo, pelo assumir a identidade como crente em Jesus Cristo.
A vencer a crise de fé ensinando-os a orar com regularidade, honestidade e perseverança,
despertando, assim, a sua sensibilidade espiritual. Estabelecendo alvos nos quais esqueçam o
passado (como Paulo ensinou, "esquecendo-me das coisas que para trás ficam..."), e prossigam
adiante.
Filhos abençoados... No Antigo Testamento, a submissão aos pais é o segredo da bênção:
"Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá
bem, e sejas de longa vida sobre a terra".
Afinal, receber uma herança é receber bênçãos, e a Bíblia diz que os filhos são herança de
Deus. A oração do Salmo 144.12:
"Sejam os nossos filhos, na sua mocidade, como plantas bem desenvolvidas, e as nossas filhas
como pedras angulares lavradas, como as de um palácio",
está na linha da ordem de Deus a Abraão em Gênesis 12.2b : "Tu, sê uma bênção". Filhos que
promovam bênçãos nesse mundo de barulho, violência e frustração, mundo, porém, que
herdaram das gerações que os antecederam.
O segredo do sucesso e crescimento da família cristã é o próprio Senhor Jesus Cristo. Em
Efésios 5 e 6, Jesus Cristo é o filtro em cada relacionamento no lar: entre a esposa e o marido,
o marido e sua mulher, entre os filhos e os pais, entre os pais e os filhos, entre os empregados
e os patrões, e entre os patrões e os empregados. Família unida é a que desenvolveu o senso
de comunhão: a que ama a Deus, a que ama a Sua Palavra, a que ama a seus membros
individualmente. Mesmo a Bíblia fala de pais vivendo na compreensão, no amor, na amizade
dos filhos, e de filhos se pautando e retornando essa compreensão, amor e comunhão:
"E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu
não venha, e fira a terra com maldição" .
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Pedro apóstolo fala da "estrela d'alva ", estrela da manhã, que é Jesus, nascendo em nosso
coração:
"E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma
candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva surja em
vossos corações",
e diz Malaquias 4.2:
"Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo curas nas suas
asas; e vós saireis e saltareis como bezerros da estrebaria." .
Não há alternativa: é Jesus primeiro, pois "buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas
estas coisas vos serào acrescentadas". Esse é o segredo do viver cristão individual e da vida
cristã na família. Trevas não afastam trevas, mas a luz, sim: ódio não espanta ódio, mas o
amor, sim, a fonte, porém, da luz, do amor, o caminho da vida é Cristo Jesus, o Filho de Deus,
nosso Salvador.
Se for o caso, que haja refeitura do ambiente familiar. A família não se compra feita, ela se
constrói: uma casa você adquire, mas um lar é construído a custa de sacrifício, trabalho,
sofrimento, até. Que haja dignidade da pessoa humana. A criança tem dignidade, pois Cristo
disse:
"Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, porque de tais é o reino dos céus",
e João registrou, "Eu vos escrevi, meninos, porque conheceis o Pai".
O adolescente e o jovem têm dignidade:
"Jovens, eu vos escrevo, porque vencestes o Maligno. Eu vos escrevi, jovens porque sois fortes,
e a palavra de Deus permanece em vós, e já vencestes o Maligno" .
O adulto tem dignidade:
"Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquele que é desde o princípio".
"Eu vos escreví, pais, porque conheceis aquele que é desde o princípio".
O idoso tem suprema dignidade:
"Os vossos anciões terão sonhos"
Há que inspirar a fé. O crente em Jesus Cristo entende que a fé é para a família inteira, razão
porque o policial de Filipos ouviu: "Crê e serás salvo, tu e a tua casa", e se o amor é o
fundamento do casamento e da conseqüente família, dois outros elementos teológicos não
podem ser afastados: paz e segurança. O amor traz o senso de serviço o prestar atendimento,
a fé faz o amor se enraizar em Deus, e a esperança baseia-se na fé porque é crer nos bens e
bênçãos familiares que possuímos em semente; é crer que o outro pode chegar à plenitude
como ser humano e cristão e trabalhar para isso em amor.
Nossa oração é que possamos afirmar como Josué o fez, "eu e a minha casa serviremos ao
Senhor" . Com Cristo, a família será ajudada, instruída:
"Congrega o povo, homens, mulheres e pequeninos, e os estrangeiros que estão dentro das
vossas portas, para que ouçam e aprendam, e temam ao Senhor vosso Deus, e tenham cuidado
de cumprir todas as palavras desta lei; e que seus filhos que não a souberem ouçam, e
aprendam a temer ao Senhor vosso Deus",
e nós chegaremos a conhecer a glória do Senhor:
"Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos
transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor".
A IGREJA E A POLÍTICA DOS EVANGÉLICOS NO SÉCULO 21
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
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Um dos mais respeitáveis teólogos da atualidade, fundador da Fraternidade Teológica LatinoAmericana, Samuel Escobar, considera que "o mundo de amanhã não precisa de latinoamericanos que aspirem por viver na comodidade e no luxo (...), mas de latino-americanos que
convençam seus parceiros norte-americanos e europeus de que se pode viver com
simplicidade e alegria, com os meios estritamente necessários para realizar a obra, e um senso
de satisfação que vem da fidelidade ao chamado de Deus".
No alvorecer dos século 21, os evangélicos latino-americanos reconhecem que é impossível ao
homem do futuro viver a experiência da graça salvadora de Deus, sem recuperar a visão bíblica
do ser humano como ser social, cuja transformação é vivida no contexto de sua própria
comunidade. É na igreja que se vive as dimensões do pessoal e do comunitário da salvação.
Ao contrário do século 20, que se construiu voltado para o imediato da vida, o desgaste das
grandes correntes político-ideológicas coloca o homem do século 21 diante de uma
perspectiva que muitos acreditavam morta: a vivência da espiritualidade como opção válida
para a construção de uma humanidade solidária.
Estamos presenciando em toda a América Latina a redescoberta da realidade da vida espiritual
e da dimensão religiosa. Nesse sentido, tanto a tecnologia como a formação intelectual deixam
de ser dimensões antagônicas à fé, para ocupar o lugar que sempre lhes pertenceu, de
ferramentas imprescindíveis ao conhecimento humano.
É verdade, que a redescoberta da dimensão espiritual do homem nos leva a dois problemas
que devem ser condenados claramente. De um lado, existem aqueles que se aproveitam da
crescente fome espiritual da humanidade para acumular riquezas e poder. E por outro, é um
erro olhar a Europa e os Estados Unidos como sociedades cristãs, que através de suas políticas
expandem o cristianismo no mundo. O que não é verdade. A Europa e os Estados Unidos
traduzem a triste realidade de culturas pós-cristãs e suas políticas nacionais pouquíssimas
vezes traduzem a ética e a fraternidade propostas pelo Cristo.
Esses dois alertas são fundamentais, pois mostram que a redescoberta da espiritualidade pelo
homem pós-moderno não está isenta de problemas. De todas as maneiras, é bom lembrar que
dos 5,5 bilhões de habitantes do mundo, um terço nomeia-se cristão e que a cada dia 70 mil
pessoas adotam o cristianismo como fé e religião.
Por isso, a partir de uma releitura de Sulla teologia del mondo, de Johann Baptist Metz, 1968,
sugerimos a formulação de uma práxis política evangélica que deve, estrategicamente, partir
de duas tarefas: uma negativa e outra positiva.
1. A pars destruens consiste em realizar a crítica da tendência da teologia à privatização. O
iluminismo rompeu a unidade entre existência religiosa e existência social, e o marxismo
definiu a religião como superestrutura ideológica de determinada práxis social e de
determinadas relações de poder. Assim, o iluminismo e o marxismo definiram a
impossibilidade do sagrado no mundo e a teologia acabou por refugiar-se na esfera do
privado: "Ela [...] privatizou esta mensagem em seu núcleo essencial e reduziu a práxis da fé à
decisão amundana do indivíduo. Essa teologia procurou resolver o problema surgido com o
Iluminismo, eliminando-o. Para a consciência religiosa, determinada por essa teologia, a
realidade social e política tem apenas uma existência efêmera. As categorias que essa teologia
utiliza para explicar a mensagem [cristã] são predominantemente categorias do íntimo, do
privado, do apolítico" [J. B. Metz, Sulla teologia del mondo, 1968, p. 106].
2. A pars construens consiste em desenvolver as implicações sociais da mensagem cristã. Não
se trata de eliminar o problema levantado pelo iluminismo e pelo marxismo - como o fazem a
metafísica e a teologia existencial --, mas em responder teologicamente aos desafios,
assumindo a tarefa de desenvolver uma nova relação entre teoria e prática. A teologia pode e
deve fazê-lo, pois as promessas escatológicas da tradição bíblica, de liberdade, de paz, de
justiça e de reconciliação, não constituem um horizonte vazio na expectativa cristã, mas têm
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uma dimensão política, que é preciso fazer valer na sua função crítica do processo históricosocial.
"A salvação a que se refere a esperança da fé cristã não é uma salvação privada. A
proclamação desta salvação empurrou Jesus para um conflito mortal com os poderes políticos
de seu tempo. Sua cruz não está no privatissimum da esfera indivíduo/pessoa, e muito menos
no sanctissimum da esfera puramente religiosa. Ela está além do umbral da reservada esfera
privada ou da protegida esfera puramente religiosa. Ela está 'fora', como formula a teologia da
Carta aos Hebreus. O véu do templo foi definitivamente rasgado. O escândalo e a promessa
desta salvação são públicos" [Id., ibid., p. 110].
Assim, na elaboração de uma teologia política evangélica, à igreja cabe a tarefa de proclamar o
evangelho da salvação, exercendo função crítica diante da sociedade. A igreja pode e deve
assumir essa tarefa, apesar dos muitos erros que cometeu. Esta tarefa deve ser exercida na
defesa do indivíduo, de sua pessoalidade -- que não podem ser vistos simplesmente como
material e meio para a construção do futuro tecnológico -- e na mobilização do poder crítico
do amor que está no centro da tradição cristã.
A função crítica da igreja frente à sociedade produzirá sempre repercussões na própria igreja:
promoverá uma nova consciência no interior da igreja e criará uma transformação das relações
da igreja com a sociedade.
A PALAVRA QUE SARA
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
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Daí graças ao Senhor, porque Ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre; pois ele
satisfaz a alma sedenta, e enche de bens a alma faminta. Tirou-os das trevas e da sombra da
morte, e quebrou-lhes as prisões. Enviou a sua palavra, e os sarou, e os livrou da destruição.
Quem é sábio observe essas coisas, e considere atentamente as benignidades do Senhor." ( Sl
107. 1,9,14,20,43 )
Seja na área das ciências biológicas ou das ciências humanas; seja na Teologia ou na Medicina,
para bem conduzir o rumo das coisas, torna-se necessária uma compreensão da natureza
humana. É evidente que a antropologia contemporânea reserva-se o direito de guardar
traços??? das culturas passadas. No entanto, como divergiam essas culturas! ... Sumérios,
Caldeus, Assírios e Babilônios, ou seja, os povos mesopotâmicos, viam a natureza humana
como algo essencialmente inferior. Marduque, seu deus principal, reinava sobre pequenos
deuses que podiam favorecer ou complicar miseravelmente a vida dos pobres seres humanos.
Havia um fatalismo nessas culturas mesopotâmicas que era desumanizador a todas
dominando.
Os gregos olhavam o ser humano com otimismo. No portal do oráculo de Delfos, havia uma
inscrição que dizia "Conhece-te a ti mesmo", expressão que, na verdade, queria dizer o
seguinte: "Você é apenas um ser humano, um mero homem, nada mais que isso. Você precisa
se conhecer". Harold Ellens enfatiza que esse é excelente lembrete para terapeutas,
psicólogos, psiquiatras e médicos cristãos, para quem trabalha com o ser humano na mente,
no espírito ou no corpo de um modo geral, pois, se enfrentarmos com honestidade e com o
coração aberto nossas próprias realidades, já estaremos no meio da jornada para lidar com ela
construtiva e positivamente.
Mas uma coisa é ser simplesmente humano, como queria o Oráculo de Delfos; outra é ser
compassivamente humano. E o conceito grego do ser humano evoluiu dessa ansiedade original
e humilhante, para a segurança do humanismo de Sócrates. Para os gregos, ser humano era,
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acima de tudo, ser o palco de uma tremenda luta entre a mente e a carne, entre a psychê e a
sarx que deveria ser submetida ao domínio do espírito.
E os hebreus? Que disseram sobre isso? O conceito do ser humano entre os hebreus é muito
simples. Simples, porém majestosamente monumental, porque tinham uma visão unitária da
pessoa humana, quer dizer, não há divisão do homem em corpo, alma e espírito. O ser
humano é um todo; a visão hebréia do ser humano é circular, sistêmica. O ser humano é
cooperador de Deus num mundo que é de Deus, razão porque não há separação entre o
secular e o sagrado. E, realmente, o sacerdote entre os hebreus era o homem de religião a
quem se recorria, até, em assuntos de saúde. Em Levítico, livro de regulamentos rituais,
culturais, civis e religiosos, encontramos : "Quando o homem tiver na pele da sua carne
inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, e esta se tornar na sua pele como praga de lepra,
então será levado a Arão, o sacerdote, ou a um dos seus filhos, os sacerdotes"
(Lv 13.2 ) e daí em diante, vem toda uma prescrição sobre esse assunto. Isso aconteceu há
quase 4.000 anos.
Mas essas antropologias persistem hoje ainda nas mentes de homens e mulheres da Medicina
e da Teologia, e moldam a nossa vida, e nossa visão do ser humano como paciente, ou aquele
a quem ministramos na igreja.
UM TOQUE HUMANO
A Bíblia Sagrada apresenta um conceito de "ser pessoa" iluminado e modificado pelo
pensamento divino. Sem esse conceito, torna-se muito difícil cultivar o caráter relacional do
ser humano. Diz Gênesis 1.26, 27 que o ser humano foi criado à imagem moral e semelhança
espiritual do Ser Divino. E essa é a diferença estabelecida entre os peixes do mar, as aves do
céu, os répteis, e os animais ditos inferiores. Por natureza, pertencemos a essa ordem, pois
somos marcados pelos mesmos elementos naturais: sais minerais, proteínas, ácidos,
elementos físicos e substâncias químicas, e, por isso, nos identificamos substancialmente com
esses animais que devemos subjugar (segundo a ordem do Criador), e, mesmo, com o solo do
qual, em sua linguagem metáforica e gráfica, fomos retirados. Uma filigrana lingüística é que,
em hebraico, "ser humano", "humanidade" se diz adam; "barro, argila, solo" é adamah (forma
feminina de adam), jogo de palavras que seria como se disséssemos "do humus foi o homem
tirado".
Pois bem, esse ser humano feito à imagem de Deus (o apóstolo Paulo diz que "poemas de
Deus somos nós", Ef 2. 10), tem uma vocação que determina o seu caráter, e uma posição
diante do Criador: é administrador, gerente, fiel depositário do patrimônio divino na Terra (Sl
24.1; Gn 1. 26, 28; 2.15). É sua vocação, é nossa vocação!
Esse ser humano, que a Escritura chama adam, foi criado macho e fêmea, varão e varoa,
homem e mulher com suas peculiaridades, e particularidades, e idiossincrasias, e funções
próprias, diferenças próprias, das quais dá conta e busca resolver os problemas a própria
Medicina em suas especialidades
Há diferenças na ordem natural entre o homem e a mulher: a sexualidade, e é por isso que
logo depois da Escritura Sagrada dizer que Deus criou o adam (o ser humano, a humanidade),
diz que essa humanidade foi criada de duas maneiras: ish e ishah. E esse ish e essa ishah, esse
homem e essa mulher são atraídos um pelo outro pelo amor hormonal, visceral, biológico que
os gregos chamam de eros. Boa palavra para designar a atração sexual, e que só pode ser de
um homem por uma mulher, ou de uma mulher por um homem; nunca (e a Bíblia a isso chama
de "perversão") de um homem por um homem, de uma mulher por outra mulher, de adulto
por criança, ou de um ser humano por um animal.
Por outro lado, esses dois seres (ish e ishah) têm outra qualidade que é a
complementariedade. São diferentes em sexualidade, em funcionalidade, não em competição,
mas complementam-se o homem e a mulher, o ish e a ishah da história bíblica para que,
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unindo-se os dois, forme-se o adam, e o ser humano físico, emocional e espiritual seja
restabelecido.
Apesar de diferentes, são iguais em ordem natural e destino sobrenatural, têm idêntica
vocação e idêntica satisfação: complementam-se tanto que homem e mulher se procuram e
aceitam-se como a parte que falta no outro.
O ser humano não é, como quer o pensamento materialista, apenas matéria em movimento.
Ou como disse Emerson, "um ser em ruínas", ou Jonathan Swift, autor das Aventuras de
Gulliver, "o homem é a espécie de verme mais perniciosa e degradante que a natureza jamais
permitiu que rastejasse na face da terra", ou, ainda, Martin Heidegger, o filósofo alemão: "umser-para-a-morte, cuja marcha final é o Nada, onde não se reconhece Deus, onde não se
reconhece descanso, nem salvação. Nada. Nada".
Rollo May salienta que as características do homem moderno são o senso de vazio, tremendo
vazio dentro de si; a solidão, imensa solidão tão escura quanto a noite; e essa ansiedade que
machuca, corrói as entranhas do coração. E não é revelador que a Bíblia tem para cada uma
destas características respostas diretas? Diretas e eternas? Por exemplo: para o sentimento de
vazio do ser humano, encontramos nas Sagradas Letras esta palavra de São Paulo que diz
"Nele [ em Cristo] habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e tendes a vossa
plenitude nele, que é a cabeça de todo principado e potestade" (Cl 2.9,10; cf. Jo 1.16; Ef 3.1719). Encontramos, ainda, na Escritura que, com respeito ao problema tão sério da solidão, a
Bíblia diz: "Deus faz que o solitário viva em família" (Sl 68. 6a). E no que toca à ansiedade,
quem toma a palavra é São Pedro ao dizer "Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de
Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele
tem cuidado de vós" (1Pe 5. 6,7; cf. Sl 37.5; 55.22; Mt 6.25, 26).
O CUIDADO
Durante muito tempo, o cuidado de pessoas ansiosas e desesperadas era considerado
responsabilidade dos homens da religião. E, na verdade, uma "abordagem clínica" em países
do Primeiro Mundo inclui a presença de um capelão preparado, não só em Psicologia Pastoral ,
mas, também, com estágio supervisionado em hospitais, clínicas e casas de saúde. E a idéia
básica é a restauração do bem-estar físico pelo médico, e da plenitude do ser pela
reconstrução psicoterapêutica da personalidade. Isso quer dizer que médicos e pastores são
agentes da esperança. O pastor precisa ter uma visão clínica daquele que sofre ou convalesce;
mas o médico precisa ter uma visão pastoral do seu paciente. Quantos problemas de ordem
psicossomática em vez de um placebo, poderiam ter recebido o cuidado pastoral, a atenção
espiritual, o aconselhamento, a confissão e o perdão! E é nessa linha que Tiago vai escrever:
"Está aflito alguém entre nós? Ore... Está doente algum do vós? Chame os anciões [os
pastores] da igreja, e estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo [era um tratamento, uma
terapia da época] em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o
levantará; e se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados". E ele continua "Confessai,
portanto os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados" (Tg
5.13a, 14-16). Vejam se não há aqui todo um somatismo de problemas interiores, mentais,
emocionais, jogados para fora do corpo! Sem dúvida, como já foi dito, a Medicina estava ligada
ao sacerdócio:
" Quando um homem tiver na pele da sua carne inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, e
esta se tornar na sua pele como praga de lepra, então será levado a Arão o sacerdote, ou a um
de seus filhos, os sacerdotes, e o sacerdote examinará a praga na pele da carne. Se o pelo na
praga se tiver tornado branco, e a praga parecer mais profunda que a pele, é praga de lepra; o
sacerdote, verificando isto, o declarará imundo. Mas, se a mancha lustrosa na sua pele for
branca, e não parecer mais profunda que a pele, e o pelo não se tiver tornado branco, o
sacerdote encerrará por sete dias aquele que tem a praga. Ao sétimo dia o sacerdote o
examinará; se a praga, na sua opinião, tiver parado e não se tiver estendido na pele, o
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sacerdote o encerrará por outros sete dias. Ao sétimo dia o sacerdote o examinará outra vez:
se a praga tiver escurecido, não se estendido na pele, o sacerdote o declarará limpo; é uma
pústula. O homem lavará as suas vestes, e será limpo" (Lv 13.2-6; cf. Lv 12.6,7)
. E até mesmo a genética era regulada pelos sacerdotes. Vejam que curiosidade da Palavra de
Deus, isso há quanto tempo antes de Cristo foi escrito?!
"Nenhum de vós se chegará àquela que lhe é próxima por sangue, para descobrir a sua nudez.
Eu sou o Senhor. A nudez de tua irmã por parte de pai ou por parte de mãe, quer nascida em
casa ou fora de casa, não a descobrirás. Nem tampouco descobrirás a nudez da filha de teu
filho, ou da filha de tua filha; porque é tua nudez. A nudez da filha da mulher de teu pai,
gerada de teu pai, a qual é tua irmã, não a descobrirás. Não descobrirás a nudez da irmã de teu
pai; ela é parenta chegada de teu pai. Não descobrirás a nudez da irmã de tua mãe, pois ela é
parenta chegada de tua mãe" (Lv 18.6, 9, 10-13).
"Descobrir a nudez" é um eufemismo semitico para designar relações sexuais. Toda essa
regulação visava a evitar problemas na geração de filhos. Sim, e havia, até, normas especiais
(numa era précientifica?!) Para prevenção de doenças infecto-contagiosas conforme podemos
ler no livro de Números, capítulo 5. É impressionante que quase há 4.000 anos o hebreu no
deserto, na caminhada do Egito para Canaã, fosse instruído na Palavra de Deus a fazer uma
coisa que parece medicina sanitária dos dias de hoje?! "Entre os teus utensílios terás uma pá
[e aqui a explicação: todo hebreu, homem ou mulher tinha que ter uma pequena pá consigo] e
quando te assentares lá fora [fora do acampamento num lugar reservado, cf. Dt 23.12], então
com ela cavarás e, virando-te, cobrirás o teu excremento" (Dt 23. 12, 13; cf. Nm 5.2, 3; 19.11,
16). Isso é medicina sanitária há 4.000 anos?!
O tema do sofrimento ou da enfermidade é sempre abordado com receio, com escrúpulos ou
com respeito. Mas são problemas tocados de perto seja por quem lida com a enfermidade
mental, ou com a espiritual. O homem é um todo: o corpo influi no espírito, o espírito influi no
corpo. Daí essas enfermidades psicossomáticas a que nos referimos.
Mas a doença é uma revelação. Revelação de nossa finitude, de nossa fragilidade, de nossa
condição de ser vivo. É revelação de um mistério que abrigamos dentro de nós: o mistério da
dor. Há aliás, na Bíblia, todo um livro sobre a dor física e existencial de um homem, que é o
Livro de Jó. E é desse livro e desse homem que tiramos estas expressões:
"Por que não morri ao nascer? Por que não expirei ao vir à luz? Por que me receberam os
joelhos? E por que os seios, para que eu mamasse? Pois agora estaria deitado e quieto: teria
dormido e estaria em repouso, ou, como aborto oculto, eu não teria existido, como as crianças
que nunca viram a luz. Não tenho repouso, nem sossego, nem descanso; mas vem a
perturbação" (Jó 3.11-13, 16, 26),
porque Jó estava falando dessa dor tão grande que sentia no seu corpo. Há uma descrição da
sua enfermidade que diz:
"Os meus parentes se afastam, e os meus conhecidos se esquecem de mim. Os meus
domésticos e as minhas servas me têm por estranho; vim a ser um estrangeiro aos seus olhos.
Chamo ao meu criado, e ele não me responde; tenho que suplicar-lhe com a minha boca. O
meu hálito é intolerável à minha mulher; sou repugnante aos filhos de minha mãe. Até os
pequeninos me desprezam; quando me levanto, falam contra mim. Todos os meus amigos
íntimos me abominan, e até os que eu amava se tornaram contra mim. Os meus ossos se
apegam à minha pele e à minha carne, e só escapei com a pele dos meus dentes" (Jó 19.1420).
Mas é, também, um livro sobre a fé, porque no final, depois de falar de sofrimento, ele fala de
fé, e diz: "Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos" (Jó 42.5).
Essa é a razão porque, junto ao que sofre, temos que pensar no Cristo crucificado, no Cristo do
Calvário, no Cristo de Quem foi dito setecentos anos antes que viesse ao mundo:
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"Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos sofrimentos;
e como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso
algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas
dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa
das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz
a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is 53.3-5).
SHALOM = SAÚDE TOTAL
O problema é olhar o paciente, e vê-lo só como um corpo doente, um corpo sofrido, e não
lembrar o seu espírito talvez mais doente que o seu corpo. É evidente que o paciente não é um
eletrodoméstico que vai à oficina de reparos, não é um objeto. É uma pessoa que, atingida por
uma disfunção do corpo ou da mente, muda seu comportamento, e, até mesmo, sua vida de si
própria, de seu presente ou de seu futuro. Ele se desequilibra, ele se atormenta, tem sérias
crises de comunicação consigo próprio, com o mundo que o cerca, porque ele não tem
liberdade, está fora do lar. Tem conflitos de comunicação com a família, com as práticas
religiosas, com Deus, até.
Na verdade, o que buscamos para o enfermo, para o hospitalizado, é aquilo que os profetas do
povo de Israel apregoavam: o shalom, a paz integral, a integridade, a inteireza, a plenitude, a
restauração, o bem-estar total. Platão, nos seus Diálogos deixou claro:
"Assim como você não deveria tentar curar... a cabeça sem o corpo, da mesma forma não
deveria tentar curar o corpo sem curar a alma... porque uma parte nunca pode estar bem a
menos que o todo esteja bem... Por isso, se quiser que a cabeça e o corpo estejam bem, você
deve começar cuidando a alma."
E nessa linha, Carl Jung, Erich Fromm, Viktor Frankl, Rollo May, e outros tantos sustentam que
problemas religiosos devem ser vistos como sintomas de problemas psicológicos mais
profundos. Há problemas psicológicos enraizados na patologia espiritual. O Pastor Dr. Wayne
Oates, professor de Psicologia Pastoral no Seminário Batista de Louisville, nos EUA, escreveu,
entre as mais de quarenta obras que assinou, uma muito interessante intitulada, Quando a
Religião Fica Doente (When Religions Gets Sick), onde aborda essas manifestações patológicas,
enfermiças de expressão religiosa. Talvez possamos, até, em certos casos parodiar e dizer
"Quando o Doente Fica Religioso", tão doente que agora se apega aos céus, produto dessa
ansiedade incontida, e maior que o espírito, o coração e a fé de quem a manifesta. Mas a única
maneira construtiva de lidar com essa ansiedade existencial é uma vida religiosa autêntica que
torne possível a imagem de Deus dentro da pessoa.
O renovado interesse pela saúde e cura totais por parte das igrejas evangélicas tem raízes na
herança bíblica. Porque Jesus é chamado "O Grande Médico", porque Jesus é chamado
"Médico dos médicos" desde os primeiros dias da era cristã. E o pastor é um profissional da
escuta, é o profissional do ouvido-amigo, o conselheiro. Por essa razão, temos que ver alguns
princípios para a saúde total, a saúde do corpo e do espírito:
Saúde é mais que a ausência de doença: é a presença de "bem-estar de alto nível". É o shalom
bíblico, a integridade da pessoa humana. E bem-estar de alto nível é inteireza, é plenitude em
várias dimensões que são interdependentes da pessoa: a dimensão física, a dimensão
psicológica, a dimensão interpessoal, a dimensão ambiental, a dimensão institucional e a
dimensão espiritual. "Deus criou o corpo humano com capacidade para se recuperar de uma
doença: é um processo lento, natural, que obedece ao plano de Deus". Deus está nesse
processo efetuando a cura: pastores não fazem milagres. Mas Deus em sua soberania faz
milagres através da força total interior de cada indivíduo, força física e não-física. Enquanto o
médico examina, diagnostica, e prescreve o tratamento, o pastor tem a responsabilidade de
liberar essas energias para ajudar o paciente a se recuperar. O médico facilita a recuperação
dando ajuda ao corpo do paciente, mas o pastor a facilita ajudando esse paciente a dispor dos
poderes do espírito. Daí a energia total no processo da recuperação.
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A PALAVRA QUE SARA
Não é fácil, não pode ser fácil estar enfermo, porque isso significa grandes perdas. O paciente
perde espaço: seu mundo se reduz a um quarto; sua mobilidade é exígua, ao máximo vai ao
corredor, e quantas vezes com toda uma parafernália de tubos e drenos. Ele perde o controle
sobre os que invadem seu espaço. Perde o controle do tempo. Perde o controle do próprio
corpo. Perde o contato com outras pessoas, e tem, por essa razão, crises de solidão, crises de
isolamento, e de desamparo. E esse é o motivo porque as igrejas buscam ministrar, servir,
atender espiritualmente a esses solitários, isolados e desamparados. É o que o Corpo de
Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC) chama de "Vocação Terapêutica da Igreja." Ministrar e
servir ao enfermo, e à família do enfermo, e dizer-lhe que "Deus é o nosso refúgio e fortaleza,
e socorro bem presente na angústia; aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus" (Sl 46. 10a) e
também "O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu lhe amaciarás a cama na sua
doença" ( Sl 41.3; cf. Sl 3.5; 4.8).
O Dr. Flamínio Fávero, professor emérito da Faculdade de medicina da USP, e evangélico, em
seu trabalho Humanização da Medicina, publicado na obra coletiva A Palavra que Sara que dá
o título a este trabalho, lembra que a Medicina visa ao homem, lembra que o médico é objeto
de amor e de ódio, e cita uma trova vinda da Escola Médica de Salerno, na Itália:
"Tem três faces o médico.
É julgado anjo, demo ou suprema divindade!
Anjo, se acode, logo que é chamado
E forte, enfrenta a dura enfermidade!
Se o doente melhora, tão amado
Não é o próprio Deus na Eternidade!
Mas, quando a conta manda do trabalho,
Nem mesmo Satanás é tão bandalho."
E ensina que "a verdadeira medicina não tem pátria, não tem inimigos, não tem prevenções
raciais, religiosas e outras que sejam, porque ela deve ser, como o evangelho, manifestação e
reflexo da sua fonte de origem: Deus.
Sim; há algo no ser humano que a biologia e a química não podem explicar. Talvez, por isso,
São Paulo diz que "somos poemas de Deus" , e Davi exclama, "pouco abaixo de Deus fizeste [o
ser humano], de glória e de honra o coroaste" . Tem, no entanto, o ser humano a tendência de
viver em níveis baixos e degradados. Mas algo traz à sua mente que não foi criado para o lixo,
mas para as estrelas, para os céus, para o infinito. E daí caminhamos para a Suprema Terapia, a
Grande Cura que é a ressurreição final dos corpos, a Gloriosa Restauração dos corpos, sem que
haja mais sofrimento, pavor ou gemido, ou, na linguagem da Bíblia: "Ele enxugará de seus
olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem
dor; porque já as primeiras coisas são passadas" (Ap 21.4).
INTERCESSÕES
Huub Oosterhuis
Por todos os que são crucificados,
Como teu Filho
Por todos os homens abandonados,
Nós te rogamos.
Por todos os que não podem mais
Suportar a situação em que se acham,
Por todos os que vivem no sofrimento,
Não percebendo o seu sentido, nem seu fim,
Nós te rogamos, Senhor.
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Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista
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Por todos os que se revoltam,
Que não sabem mais irradiar, nem agir.
Por todos os implacáveis e rancorosos,
Os arrogantes e os cínicos;
Torna-os, Senhor, mais indulgentes,
Abre de novo seus olhos
Para a bondade possível entre os homens,
Para que vejam tua criação
E o futuro que lhes reservas.
Por todos os que são acusados,
Que vivem oprimidos pela perseguição e calúnia.
Por todos os que, por sua dureza
Para com os outros,
Perderam a confiança em si mesmos.
Por todos os que não encontram compreensão,
Nem uma palavra sequer de lenitivo,
Que não encontram alguém que os queira aceitar.
Por todos os que são inibidos ou ansiosos,
Por todos os angustiados e tensos,
Por todos os que são vítimas
De chantagem ou corrupção,
Por todos os que são obrigados
A viver na injustiça,
Presos nas engrenagens de um sistema inumano,
Sem dele poderem sair,
Nós te rogamos, Senhor.
Por todos os que mergulham no desânimo,
Vendo o mal espalhado no mundo.
Por todos os otimistas,
Por todos os corajosos
E por todos que sabem ser amigos,
Para que permaneçam firmes na hora da provação
E que seu apoio nunca nos falte.
Oremos por todos aqueles
Que não tem beleza nem encanto,
Atraindo os olhares.
Por todos os que não são semelhantes aos outros,
Os mongolóides e excepcionais,
Os instáveis e mutilados,
Os doentes incuráveis.
Pedimos, Senhor, que nos ajude a descobrir
O sentido da sua presença neste mundo.
A PÍLULA DO HOMEM: UMA PERSPECTIVA PASTORAL
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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Em vias de comercialização, o primeiro contraceptivo oral masculino do mundo chega ao
Brasil, e com ele, algumas indagações de cristãos sobre a legalidade Bíblica de um homem
crente usar a "pílula" para não ter filhos.
A questão interessa a muitos cristãos. Muitos jovens casais têm evitado filhos nos dias de hoje.
As razões geralmente apresentadas são a explosão demográfica das grandes cidades onde
vivem, a depravação e corrupção cada vez maiores do ambiente onde seus filhos haveriam de
crescer, tal como o uso de drogas e a delinqüência infantil e juvenil. Alega-se ainda a falta de
segurança que sentem em relação a filhos: saberei dar respostas? Será que serei capaz de viver
uma vida exemplar? E, por fim, o argumento mais forte, o alto custo financeiro hoje de se criar
filhos. Para os que pensam assim, filhos atrapalhariam os planos financeiros de se ter uma vida
financeira mais tranqüila.
Por outro lado, há algumas boas razões para se enfrentar as dificuldades mencionadas acima.
1) Filhos são fonte de grande alegria, isto a Bíblia deixa muito claro, mas especifica que
especialmente os filhos que andam nos caminhos do Senhor (ler Pv 28.7; 29.3,17). Filhos que
crescem sem disciplina vão para o mundo, desobedecendo a Deus, e dão grande dor a seus
pais (Pv 17.21,25; 28.7; 29-3,15). "Grandemente se regozijará o pai do justo, e quem gerar um
filho sábio nele se alegrará" (Pv 23.24). Filhos sábios não crescem em árvores: são fruto de
toda uma vida de disciplina, instrução, companheirismo, amor, e orientação nos caminhos de
Deus. Mas o resultado vale a pena.
2) Filhos são bênção do Senhor. Os Salmos 127 e 128 comemoram a felicidade do justo em ter
muitos filhos, como bênção de Deus. Muitos jovens casais cristãos, ao contrário do ensino
bíblico, vêem os filhos como sendo um tropeço, um estorvo às suas carteiras profissionais, aos
planos de divertir-se, conhecer o mundo... quem pode fazer isto com filhos pendurados nas
calças?
É possível que estes cristãos mudem de idéia, quando já for muito tarde, quando estiverem
aposentados, doentes, velhos e sozinhos largados num asilo de idosos, sem ninguém que
venha visitá-los, conversar com eles, e alegrá-los.
3) Filhos fazem parte da estratégia de Deus em transformar o mundo. Filhos criados em
famílias cristãs sólidas são via de regra os melhores crentes e, portanto, os mais aptos a
cumprir o que Jesus ensinou, que a corrupção da sociedade poderá ser neutralizada por
homens e mulheres santos (Mt 5.13-16), agindo como sal e luz deste mundo. É em lares
cristãos fortes que jovens, que serão o sal e a luz deste mundo, são devidamente equipados.
Deus deseja que o mundo ouça o Evangelho (Mt 18.18-20). Nossos filhos podem ser os
instrumentos necessários para isso, como disse B. Ray: "O propósito de Deus em nos dar filhos
é que conquistemos o mundo para ele".
Na minha opinião, à luz do ensino bíblico sobre o plano de Deus para a família e os filhos,
constitui-se uma transgressão do propósito divino o evitar filhos por motivos egoístas quer
seja com contraceptivos masculinos ou femininos. Gente que não quer o trabalho de criar
crianças e casam pelo sexo e companhia se esquecem que tiveram um pai e uma mãe que
pensaram diferente. O sexo e o companheirismo trazidos pelo casamento não são a sua única
finalidade. Criar filhos é bem menos complicado e difícil do que se pensa, quando o casal o faz
na dependência de Deus.
Por outro lado, creio que não vai contra o propósito de Deus o casal controlar o número de
filhos, e mesmo chegar a uma época em que decida evitá-los. Minha esposa e eu temos quatro
filhos. Na realidade queríamos ter cinco, mas por problemas de saúde dela, tivemos de parar
nos quatro. Creio que já demos nossa contribuição para encher o mundo e dominá-lo! E não
nos sentimos constrangidos em evitar que ela engravide mais uma vez.
Assim, creio que nada há contrário ao uso da pílula masculina por um cristão, desde que pelos
motivos corretos. Sobre o fato de ser "masculina", não, vejo nada nas Escrituras que
condenem a pílula por isto. A pílula masculina ainda tem a vantagem sobre alguns
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contraceptivos femininos de evitar uma outra questão ética relacionada com o controle da
natalidade, que é a do uso de métodos que são abortivos.
A POLÍTICA À LUZ DA BÍBLIA
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
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1. A idéia bíblica
O que a Bíblia tem a dizer sobre política? Na verdade não encontramos na Bíblia a palavra
“política” nem uma definição da mesma. Obviamente não poderia porque a Escritura Sagrada
não é um manual ou tratado político. Entretanto, encontramos nela, do Gênesis ao Apocalipse,
a idéia explícita de política. Folheando suas páginas verificamos que o conceito bíblico de
política é o conceito do próprio Deus e de Seus escritores sagrados. A arte de bem governar e
administrar com competência são exigências constantes de Deus. Basta lermos, à guisa de
exemplo, o livro do profeta Isaías. Isaías é corretamente denominado pelos estudiosos de
“profeta da justiça social”. Sua reivindicação pela justiça social como resultado de uma política
responsável e consciente era a reivindicação do próprio Deus que o enviara a profetizar.
2. Causa e solução das crises
A causa das crises sócio-econômicas a nível mundial está numa política defeituosa. E qual
seria, por sinal, a causa deste defeito? É simples: a maioria dos líderes políticos estão
querendo dirigir o mundo sem Deus e sem a Bíblia. Acredite, o maior e melhor programa de
governo de todos os tempos é a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. Leia Deuteronômio 17.1820. Além disso, observe o exemplo do povo de Israel na Bíblia. Leia a história dos reis de Israel.
Os reis que governaram sob o temor de Deus e em obediência à Sua Palavra foram bem
sucedidos. O segredo de uma política eficiente não está na forma de governo (monarquia,
democracia, etc) e nem no regime político (parlamentarismo, presidencialismo), mas na
aplicação prática dos princípios morais e civis da lei de Deus. Não estou dizendo que devemos
restabelecer a teocracia que Israel por fim acabou abandonando. No mundo de pecado em
que vivemos é impossível um governo eminentemente teocrático, contudo, quando os
princípios bíblicos regem a conduta e a moral dos dirigentes Deus abençoa a nação. Quando
João Calvino (1509-1564) aplicou em Genebra (Suíça) os princípios da “constituição de Deus”, a
Bíblia, ele revolucionou de maneira extraordinária a vida daquela cidade. A reforma religiosa e
político-social de Calvino é um marco da história que comprova, entre tantos outros exemplos
semelhantes, que fé em Deus e administração pública é uma mistura que dá certo.
3. Jesus, Pedro e Paulo e a política
O maior conceito de política que a Bíblia nos apresenta foi dado pelo Senhor Jesus Cristo.
Certa feita o mestre foi interpelado por pessoas mal intencionadas sobre a questão do
pagamento de impostos ao imperador romano. “É lícito pagar tributo a César, ou não?”,
perguntaram. Jesus pediu que mostrassem uma moeda e interrogou: “De quem é esta efígie e
inscrição?”. “De César”, responderam. Então lhes disse: “Dai, pois, a César o que é de César, e
a Deus o que é de Deus”. Em outras palavras o Mestre queria dizer: “Sim, devemos pagar
imposto. Honrar a Deus não significa desonrar o imperador”.
Sem dúvida os apóstolos Pedro e Paulo tinham em suas mentes o ensino de Jesus ao tratarem
em suas cartas de “alguns temas políticos”. Ambos enfatizam a importância da obediência e
honra às autoridades pelo simples fato de serem “ministros de Deus”, conforme a expressão
usada por Paulo. A desobediência civil é justificada na Bíblia somente quando as autoridades
intencionalmente se opõem ao evangelho de Jesus para cometerem injustiças (cf. At 4.18,19).
E se a desobediência civil não fosse justificável somente nesse sentido, Pedro e Paulo jamais
insistiriam em suas epístolas pela obediência às autoridades (Rm 13.1-7; I Tm 2.1,2; I Pe 2.1116
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17). É interessante esse apelo apostólico porque Pedro e Paulo e as igrejas a quem eles se
dirigiam viviam, naquela época, sob o governo déspota e tirano do imperador Nero. Porém, a
recomendação de deveres não era pelo que o imperador e as demais autoridades significavam
em si mesmos, e sim, porque ocupavam a posição político-administrativa instituída por Deus.
Lembremos que quando Pilatos disse a Jesus: “Não sabes que tenho autoridade para te soltar,
e autoridade para te crucificar?”, a resposta do nosso Senhor foi: “Nenhuma autoridade terias
sobre mim, se de cima (de Deus) não te fosse dada”. Quando Jesus diz em Mateus 22.21 “Dai a
César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” não quis dizer, como bem observou Francis
Schaeffer:
DEUS e CÉSAR
Foi, é e sempre será assim:
DEUS
e
CÉSAR
Por causa dessa autoridade que vem de Deus é que o povo tem deveres para com as
autoridades constituídas. E por causa dessa mesma autoridade vinda de Deus é que os
políticos devem tratar o povo com justiça e respeito.
4. O propósito da política segundo a Bíblia
Observe que de acordo com a Bíblia, a política em si é boa porque foi instituída por Deus. O
problema está no fato de que nem sempre a política é devidamente utilizada. Isso acontece
porque nem todos estão aptos para entender o propósito da política. Qual a finalidade da
política? Acredito que os teólogos da assembléia de Westminster, Inglaterra (1643-1648),
definiram biblicamente o propósito da política quando disseram: “Deus, o Senhor Supremo e
Rei de todo o mundo, para a sua glória e para o bem público, constituiu sobre o povo
magistrados civis (líderes políticos) que lhes são sujeitos, e a este fim, os armou com o poder
da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores”. Veja nessa declaração
que a finalidade da política é dupla. Deus a constituiu para 1) a Sua própria glória e 2) o bem
público. Perguntar não ofende: Será que este duplo propósito da política está sendo cumprido
em termos de Brasil? É evidente que não, pois notamos ainda na declaração de Westminster
que as autoridades receberam da parte de Deus o poder da espada para a defesa dos bons e
castigo dos maus. A impunidade desonra a Deus.
Em suma a Bíblia valoriza a política e os políticos. A primeira porque faz parte da própria
essência administrativa de Deus. Os segundos porque são agentes de Deus (quer estejam
conscientes ou não disso; quer acreditem ou não nisso) a fim de governarem com seriedade
para que Deus seja glorificado e o povo respeitado.
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A VIOLÊNCIA SOB A ÓTICA PASTORAL
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
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Não é possível para nenhum de nós deixar passar despercebidamente o que tem acontecido
em nossa sociedade nestes últimos dias. Foi com muita indignação e frustração que lemos nos
jornais e vimos as cenas na TV, do desfecho do seqüestro do ônibus no Rio de Janeiro.
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Pior ainda é ver que a classe política e também nós cidadãos de uma maneira geral, nos
tornamos insensíveis a tudo isso que tem acontecido em nossa sociedade. Parece até que
perdemos a capacidade de nos indignar contra este tipo de coisa.
Esta barbaridade, se tornou tão comum em nosso meio, a televisão banalizou de tal forma a
violência, que para a grande maioria de nós esta foi mais uma tragédia dentre as muitas que
acontecem todos os dias no Brasil. As cenas do policial vindo em direção ao assaltante e
disparando nele, mais pareciam as cenas de um filme policial qualquer de Hollywood, que já
nem mexem mais com nossa sensibilidade ou nossa capacidade de ficar indignados.
Diante dessa gigantesca tragédia social em que todos nós estamos imersos, parece-nos que
uma das alternativas que encontramos é ser indiferentes a esse tipo de realidade que nos
cerca e continuar a nossa existência fingindo que tudo isso não nos afeta. Enclausurados em
nossos castelos e ilhas de prosperidade, cercados por todos os lados de pobreza e miséria
estamos seguros.
Ainda, um outro sentimento que talvez permeie as nossas mentes, nessas horas seja o da
impotência, de não poder fazer nada, de não poder mudar nada, de não poder levantar a voz e
ficar quietos, porque afinal de contas quem somos nós para mudar alguma coisa?
Qual deve ser a postura do cristão em meio a toda essa violência que nos cerca? Qual a
postura que a comunidade cristã deve assumir diante de tudo isso? Como podemos nos fazer
ouvir e tentar pelo menos fazer conhecidos os valores do Reino de Deus nestes casos?
Em primeiro lugar, creio que como cristãos, indistintamente devemos levantar a nossa voz e
orar pela paz da cidade. Queremos evocar, como pastores que somos, o livro de Jeremias, no
Antigo Testamento, quando este convoca os judeus cativos da Babilônia, dizendo "procurai a
paz da cidade..., e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz." A violência nos
afeta a todos, e orar é algo que todos nós enquanto comunidade cristã podemos fazer.
Em segundo lugar, cremos que devemos recuperar a voz profética que foi tão característica
dos homens e mulheres de Deus em meio a uma sociedade corrompida e cheia de injustiça e
violência. Foi assim com Habacuque, num outro livro do Antigo Testamento, que vendo a
iniquidade e a opressão ao seu redor, clama por respostas, diante de Deus. Qual o porquê de
tanta violência, "até quando clamarei eu e tu não me escutarás? Gritar-te-ei violência e não
salvarás?" A lição que aprendemos com Habacuque é de que o Senhor, reto juiz, trará juízo no
seu próprio tempo e ele nos chama para anunciar este juízo sobre os perversos, soberbos,
violentos, corruptos e aqueles cujo poder é o seu deus.
Em terceiro lugar, cremos que precisamos resgatar o espírito dos ensinos de Jesus. Talvez, até
quem sabe, fazer uma nova leitura deles, especialmente neste caso de Mateus 5:9. Diante de
situações como as que vivemos dia a dia, quando o Senhor nos fala que são "bem aventurados
os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus." Todo cristão, de acordo com esta
palavra de Jesus, deve ser um pacificador, tanto na igreja como na sociedade.
Concluindo gostaríamos de alertar para uma questão que muitas vezes não nos damos conta.
Que podemos, através da ação individual transformarmos esse tipo de realidade. Como?
Através do exercício da nossa cidadania. Colocando em prática valores como dignidade
humana, justiça, paz, amor, respeito ao próximo e acima de tudo consciência crítica diante
deste contexto gerador de morte. Fica a responsabilidade de cada um de nós cidadãos, a fazer
uso, por exemplo da força do nosso voto, para que as estruturas geradoras de morte possam
com a nossa intervenção social, serem vencidas. E isso só acontecerá quando nos
conscientizamos da necessidade que temos de nos voltarmos para Deus e os valores do seu
Reino e termos consciência que ele é o Senhor da Vida e da História.
ABORTO: OS DOIS PONTOS CRUCIAIS
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
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A legislação sobre o assunto
O artigo 128 do Código Penal brasileiro (que é de 1940) permite o aborto quando há risco de
vida para a mãe e quando a gravidez resulta de estupro. Porém, apenas sete hospitais no pais
faziam o aborto legal. Esse ano, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos
Deputados aprovou a obrigatoriedade de o SUS (Sistema Único de Saúde) realizar o aborto nos
termos da lei. O projeto, porém, permite ao médico (não ao hospital) recusar-se a fazer o
aborto, por razão de consciência – um reconhecimento de que o assunto é polêmico e que
envolve mais que procedimentos médicos mecânicos. Por exemplo, o ministro da Saúde,
Carlos Albuquerque, disse ser contrário à lei e comparou aborto a um assassinato. Além disto,
médicos podem ter uma resistência natural, pela própria formação deles (obrigação de lutar
pela vida). "O juiz que autoriza o aborto é co-autor do crime. Isso fere o direito à vida", disse o
desembargador José Geraldo Fonseca, do Tribunal de Justiça de São Paulo, em entrevista ao
jornal Estado de São Paulo (22/09/97). Segundo ele, o artigo 128 do Código Penal não autoriza
o aborto nesses casos, mas apenas não prevê pena para quem o pratica. No momento,
existem projetos de ampliar a lei, garantindo o aborto também no caso de malformação do
feto, com pouca possibilidade de vida após o parto.
O ensino bíblico
O assunto é particularmente agudo para os cristãos comprometidos com a Palavra de Deus. É
verdade que não há um preceito legal na Bíblia proibindo diretamente o aborto, como "Não
abortarás". Mas a razão é clara. Era tão inconcebível que uma mulher israelita desejasse um
aborto que não havia necessidade de proibi-lo explicitamente na lei de Moisés. Crianças era
consideradas como um presente ou herança de Deus (Gn 33.5; Sl 113.9; 127.3). Era Deus quem
abria a madre e permitia a gravidez (Gn 29.33; 30.22; 1 Sm. 1.19-20). Não ter filhos era
considerado uma maldição, já que o nome de família do marido não poderia ser perpetuado
(Dt 25.6; Rt 4.5). O aborto era algo tão contrário à mentalidade israelita que bastava um
mandamento genérico, "Não matarás" (Êx 20.13). Mas os tempos mudaram. A sociedade
ocidental moderna vê filhos como empecilho à concretização do sonho de realização pessoal
do casal, da mulher em especial, de ter uma boa posição financeira, de aproveitar a vida, de
ter lazer, e de trabalhar. A Igreja, entretanto, deve guiar-se pela Palavra de Deus, e não pela
ética da sociedade onde está inserida.
A humanidade do feto
Há dois pontos cruciais em torno dos quais gira as questões éticas e morais relacionadas com o
aborto provocado. O primeiro é quanto à humanidade do feto. Esse ponto tem a ver com a
resposta à pergunta: quando é que, no processo de concepção, gestação e nascimento, o
embrião se torna um ser humano, uma pessoa, adquirindo assim o direito à vida? Muitos que
são a favor do aborto argumentam que o embrião (e depois o feto), só se torna um ser
humano após determinado período de gestação, antes do qual abortar não seria assassinato.
Por exemplo, o aborto é permitido na Inglaterra até 7 meses de gestação. Outros são mais
radicais. Em 1973 a Suprema Corte dos Estados Unidos passou uma lei permitindo o aborto,
argumentando que uma criança não nascida não é uma pessoa no sentido pleno do termo, e
portanto, não tem direito constitucional à vida, liberdade e propriedades. Entretanto, muitos
biólogos, geneticistas e médicos concordam que a vida biológica inicia-se desde a concepção.
As Escrituras confirmam este conceito ensinando que Deus considera sagrada vida de crianças
não nascidas. Veja, por exemplo, Êx 4.11; 21.21-25; Jó 10.8-12; Sl 139.13-16; Jr. 1.5; Mt 1.18; e
Lc 1.39-44. Apesar de algumas dessas passagens terem pontos de difícil interpretação, não é
difícil de ver que a Bíblia ensina que o corpo, a vida e as faculdades morais do homem se
originam simultaneamente na concepção.
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Os Pais da Igreja, que vieram logo após os apóstolos, reconheceram esta verdade, como
aparece claramente nos escritos de Tertuliano, Jerônimo, Agostinho, Clemente de Alexandria e
outros. No Império Romano pagão, o aborto era praticado livremente, mas os cristãos se
posicionaram contra a prática. Em 314 o concílio de Ancira (moderna Ankara) decretou que
deveriam ser excluídos da ceia do Senhor durante 10 anos todos os que procurassem provocar
o aborto ou fizesse drogas para provocá-lo. Anteriormente, o sínodo de Elvira (305-306) havia
excluído até a morte os que praticassem tais coisas. Assim, a evidência biológica e bíblica é que
crianças não nascidas são seres humanos, são pessoas, e que matá-las é assassinato.
A santidade da vida
O segundo ponto tem a ver com a santidade da vida. Ainda que as crianças fossem
reconhecidas como seres humanos, como pessoas, antes de nascer, ainda assim suas vidas
estariam ameaçadas pelo aborto. Vivemos em uma sociedade que perdeu o conceito da
santidade da vida. O conceito bíblico de que o homem é uma criatura especial, feito à imagem
de Deus, diferente de todas as demais formas de vida, e que possui uma alma imortal, tem
sido substituído pelo conceito humanista do evolucionismo, que vê o homem simplesmente
como uma espécie a mais, o Homo sapiens, sem nada que realmente o faça distinto das
demais espécies. A vida humana perdeu seu valor. O direito à continuar existindo não é mais
determinado pelo alto valor que se dava ao homem por ser feito à imagem de Deus, mas por
fatores financeiros, sociológicos e de conveniência pessoal, geralmente utilitaristas e egoístas.
Em São Paulo, por exemplo, um médico declarou "Faço aborto com o mesmo respeito com
que faço uma cesárea. É um procedimento tão ético como uma cauterização". E perguntado se
faria aborto em sua filha, respondeu: "Faria, se ela considerasse a gravidez inoportuna por
algum motivo. Eu mesmo já fiz sete abortos de namoradas minhas que não podiam sustentar a
gravidez" (A Folha de São Paulo, 29 de agosto de 1997).
Conclusão
Esses pontos devem ser encarados por todos os cristãos. Evidentemente, existem situações
complexas e difíceis, como no caso da gravidez de risco e do estupro. Meu ponto é que as
soluções sempre devem ser a favor da vida. C. Everett Koop, ex-cirurgião geral dos Estados
Unidos, escreveu: "Nos meus 36 anos de cirurgia pediátrica, nunca vi um caso em que o aborto
fosse a única saída para que a mãe sobrevivesse". Sua prática nestes casos raros era provocar
o nascimento prematuro da criança e dar todas as condições para sua sobrevivência. Ao
mesmo tempo, é preciso que a Igreja se compadeça e auxilie os cristãos que se vêem diante
deste terrível dilema. Condenação não irá substituir orientação, apoio e acompanhamento. A
dor, a revolta e o sofrimento de quem foi estuprada não se resolverá matando o ser humano
concebido em seu ventre. Por outro lado, a Igreja não pode simplesmente abandonar à sua
sorte as estupradas grávidas que resolvem ter a criança. É preciso apoio, acompanhamento e
orientação.
Fonte: Revista Fides Reformata
AOS MEUS IRMÃOS EM CRISTO QUE MILITAM NA POLÍTICA
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O Livro dos Provérbios pertence à literatura de sabedoria, literatura didática, pedagógica, que
circulava em diversas culturas orientais antigas, notadamente a babilônica, a egípcia, a
cananéia e a israelita, com a variável de ser esta última considerada inspirada de acordo com
os cânones hebreus e cristãos. A essa literatura pertencem na Bíblia Sagrada livros como o de
Jó, Eclesiastes e certos salmos.
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São os ensinos e escritos dos sábios de Israel, os conselheiros dos seus governantes e
políticos(1). Era o caso de Daniel, conselheiro do rei da Babilônia, de acordo com o livro que
tem o seu nome(2).
O conceito de sabedoria é importante e merece ser entendido, pois é compreendida como a "a
habilidade de viver em equilíbrio com a ordem moral do mundo", razão porque Provérbios 14.8
ensina que "A sabedoria do prudente é entender o seu caminho", ou como traduz o afamado
mestre do Antigo Testamento, Dr. R. B. Y. Scott, "A sabedoria de um homem brilhante o faz se
conduzir inteligentemente".
Essa é a literatura que circulava, e servia de instrução e texto-base nas Escolas de
Administração Pública das cortes do Antigo Oriente Próximo. Daí tanta menção à arte de
governar e de se conduzir à frente do povo, como ocorre no Livro dos Provérbios:
"Na multidão do povo está a glória do rei, mas na falta de povo a ruína do príncipe"(14.28);
"O príncipe que tem falta de entendimento multiplica as opressões, mas o que odeia a avareza
prolongará os seus dias" (28.16);
"O governador que dá atenção às palavras mentirosas, descobrirá que todos os seus servos são
ímpios" (29.12);
"Não é próprio dos reis, ó Lemuel, não é próprio dos reis beber vinho, nem dos príncipes desejar
bebida forte, para que não bebam, e se esqueçam da lei, e privem todos os aflitos dos seus
direitos(3)" (31.4,5).
Ensina, ainda, a Bíblia que são deveres da autoridade:
Governar no temor de Deus (2Cr 19.7);
Conhecer a lei de Deus (Ed 7.25);
Fazer executar essas leis (Ed 7.26);
Recusar propinas e benesses alheas às inerentes ao cargo (Ex 23.8).
Do Livros dos Provérbios, tiramos três recomendações, lembretes ou advertências que
imprimirão aos seus mandatos uma distinção sem par entre os mandatos dos seus pares.
"O TEMOR DO SENHOR É O PRINCÍPIO DA SABEDORIA" (Pv 1.7a.)
Uma característica muito relevante quanto à sabedoria é que sua aprendizagem nunca termina
(cf. Pv 1.5, 6). Por outro lado, o verso 7, acima citado em parte, é o clímax desse programa, e
destaca palavras e expressões que necessitam ser entendidas para serem bem apreciadas, e,
sobretudo, bem vividas.
O "temor do Senhor" tem ênfases variadas no Antigo Testamento. Pode ser usado como
referência à conduta social considerada como geralmente aceita: "Respondeu Abraão: Eu disse
comigo mesmo: Certamente não há temor neste lugar..." (Gn 20.11).
Quando usado em relação ao culto divino significa reverência na adoração e obediência a
Deus: "Diante das cãs te levantarás, honrarás a face do ancião, e temerás o teu Deus" (Lv
19.32) e "Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor" (Sl 34.11).
Talvez a questão mais pertinente neste ponto seja: "Sim; ‘o temor do Senhor é o princípio da
sabedoria’, mas, que Senhor?" A que Deus tememos?
Esse é o problema! O brasileiro criou um "Deus" que não é o da revelação bíblica: é o "Deus
brasileiro", criado à imagem e semelhança do brasileiro; é o deus cuja ética é a do brasileiro, e,
lamentavelmente, vezes tantas, a lei desse "Deus" é "a do Gérson" (coitado do Gérson)?!
É o "Deus" que vai resolver para nós as coisas, e não para a equipe do país adversário no
campo de futebol porque, afinal, "Deus é brasileiro", é o que se diz...
Um "Deus" meio malandro que, no dizer de Afonso Arinos de Melo Franco, "levantando a
túnica com um brilho maroto nos olhos, [vai] ensinar aos governantes do Brasil, o ‘pulo da
onça’que os tirará da dificuldade". É o "Deus" que vestido de mortalha ou abada, é invocado
para abençoar o carnaval. É um "Deus" sem poder. Aliás, o diabo é até mais respeitado no
Brasil que Deus.
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Apesar de tudo, é um "Deus brasileiro", um ‘"Deus" burocrata, muito ao espírito das coisas
públicas deste país. Por isso, contrariamente ao ensino da Bíblia, criaram-se tantos pistolões e
intermediários para falar com "ele".
Diz, no entanto, a Palavra Santa que Deus é o Senhor do Universo:
"Louvai ao Senhor, invocai o seu nome, fazei conhecidos entre os povos os seus feitos.(...)
Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o coração dos que buscam ao Senho.(...) Lembrai-vos
das maravilhas que fez, dos seus prodígios e dos juízos da sua boca. (...) Proclamai entre as
nações a sua glória, entre todos os povos as suas maravilhas. Pois grande é o Senhor, e mui
digno de louvor, e mais temível do que todos os deuses. Pois todos os deuses das nações são
ídolos, porém o Senhor fez os céus. Majestade e esplendor há diante dele, força e alegria no
lugar da sua habitação" (1Cr 16.8, 10, 12, 24-27) (4).
E, ainda,
"O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita
em templos feitos por mãos dos homens. (...) Pois nele vivemos, e nos movemos , e existimos"
(At 17.24,28).
A Escritura não somente aponta para Deus como Senhor do universo, mas nos faz lembrar que
é o ser humano; seja o Exmo Sr. Presidente da República, seus Ministros, Senadores.
Deputados nas várias esferas, Governadores, Prefeitos, Vereadores, ou o mais simples
cidadãos desta terra brasileira. E diz, também, que Deus dignifica esse ser humano, pois o fez à
Sua imagem e semelhança (Gn 1.26, 27), um pouco abaixo de Sua Pessoa (Sl 8.5, 6), e assumiu
a encarnação em Jesus Cristo (Jo 1.14).
"Temei a Deus", então, é confiar nEle, em vez de na própria e desamparada inteligência; é
evitar o erro, a injustiça e transgressão, e aceitar a desventura como disciplina enviada por
Deus. É, conforme Deuteronômio 10.12, andar nos caminhos do Senhor, amá-Lo e servi-Lo
com todo o ser e veras da alma; é odiar o mal, abominar a soberba, rejeitar a arrogância, fugir
do meu caminho e da calúnia. Tudo isso de acordo com Provérbios 8.13. Debruynne lembrou
exortando que "viver é lutar para os compromissos jamais findarem em
comprometimentos"(5).
A outra expressão é "princípio da sabedoria"Ou seja, ponto inicial, essência, propósito. E isso,
no entendimento da Escritura Sagrada é algo tão sério, seriíssimo, até, que, diz a Bíblia, só os
insensatos rejeitam a sabedoria, bem como a instrução.
A história sagrada conta que Salomão, rei de Israel, pediu a Deus a sabedoria necessário para
administrar os negócios do seu reino, ao dizer, "Dá-me agora sabedoria e conhecimento, para
que possa sair e entrar perante este povo, pois quem poderia julgar a este teu povo, que é tão
grande?" (2Cr 1.10; cf. 1Rs 3.9). Registra, ainda, a Escritura como Josias, o rei, fez uma aliança
com o Senhor prometendo "andar após o Senhor, e para guardar os seus mandamentos, e os
seus testemunhos, e os seus estatutos, de todo o seu coração, e de toda a sua alma, cumprindo
as palavras da aliança que estavam escritas naquele livro"(2Cr 34.31).
Não será idêntico pedido e idêntica promessa adequados, pertinentes, necessários, mesmo, a
cada um de nós, cidadãos, e para os meus irmãos que militam na política?(6)
Não é desdouro, irmão político, pedir a orientação de Deus. Na verdade, estes são dias nos
quais a sabedoria é de uma urgência gritante. O mundo está em julgamento, e a Bíblia Sagrada
até destaca as palavras do Senhor em Deuteronômio 30.14, 15: "Pois esta palavra está muito
perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a cumprires. Vê, hoje te proponho a vida e o
bem, a morte e o mal".
Não é desdouro ter fé, pois diz igualmente o Livro Santo que "sem fé é impossível agradar a
Deus"(Hb 11.6). No entanto, nem toda fé agrada a Deus. Depois da I Guerra Mundial, tornouse sinal de fraqueza ter fé; após a II Guerra Mundial, a fé voltou a ser estimada. Porém, fé em
quê? Ou em quem? Não é qualquer fé, não é crendice, pois a fé só é boa quando
comprometida com a verdade, e a fé verdadeira exige que creiamos em tudo o que Deus disse
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acerca de Si mesmo, e em tudo o que Ele disse a respeito de nós: quem somos, e Quem Deus
é.
É crer que somos pequenos e dependentes, e crer que Deus é Grande, Clemente,
Misericordioso e Salvador, e que seu mandato, meu irmão, terá raiz, profundidade, substância
com Deus à frente, porque proclama a Escritura que "feliz é a nação cujo Deus é o Senhor". Sua
sabedoria, meu irmão político, será guardar os mandamentos de Deus, pois, "Guardai-os e
praticai-os, pois esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento aos olhos dos povos, que
ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é realmente sábio e entendido" (Dt
4.6).
"NÃO NEGUES O BEM A QUEM DE DIREITO, ESTANDO NO TEU PODER FAZÊ-LO" (Pv 3.27)
Este provérbio ilustra um dos modos prioritários como a sabedoria que os meus irmãos que
militam na política estão pedindo a Deus há de ser exercida. E quanto a isso, um biblista de
nossos dias vai dizer que este é o princípio da caridade, e que sua medida é a necessidade do
outro, do próximo, do requerente, e o limite se estabelece pela expressão, "estando no teu
poder", muito se aproximando do apóstolo Paulo em Gálatas 6.10: "Enquanto temos
oportunidade, façamos bem a todos..."
Creio que Agostinho, um dos teólogos da Igreja Antiga, e pastor da cidade de Hipona, bem o
expressou quando deixou o ensino, "Faça-se a justiça, ainda que o mundo pereça". O problema
é a freqüente constatação da ineficácia, da inoperância, e deformação da justiça. E porque
somos tão inclinados à injustiça, a Bíblia nos recorda com veemência, "Assim diz o Senhor:
Exercei o juízo e a justiça, e livrai o oprimido das mãos do opressor. Não oprimais ao
estrangeiro, nem ao órfão, nem à viúva, e não façais violência, nem derrameis sangue inocente
neste lugar"(Jr 22.30) (7).
A fórmula romana clássica para a justiça era "Viver honestamente, a ninguém ofender e
atribuir o seu a seu dono". Pois é, meu irmão que milita na política, a lei natural é a da
"primeira milha", mas a lei bíblica percorre toda a primeira milha e vai adiante como Jesus
ensinou. Veja-o em Mateus 5.41.
A justiça humana é distributiva, corretiva e retributiva; a divina, além dessas qualifdades, é
restaurativa, criativa e redentiva. Pois bem, meu irmão, a Bíblia reconhece a autoridade e o
seu direito de exercer a justiça. O evangelho não se alheia às realidades políticas, e diz,
"Exorto, pois, antes de tudo, que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por
todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem autoridade" (1Tm 2.1,2a) (8). Mas
reconhece, igualmente, os direitos fundamentais do ser humano como:
O direito de igualdade: que todas as prerrogativas, franquias, concessões e regalias atribuídas
a uma pessoa se comunicam às demais sem restrição;
O direito de fraternidade: todo ser humano tem o direito de ser tratado como irmão pelos
outros;
O direito de trabalho pleno: pois é com ele que cada cidadão adquire o necessário para si para
sua família;
O direito de buscar a felicidade: que corresponde ao de ir e vir, de entrar e sair de seu país ou
de sua região;
O direito de receber proteção do Estado: educação como base de tudo o mais, saúde, moradia
adequada, transporte abundante, fácil e fácil, segurança física, e outros tantos.
E essa não é uma tarefa fácil, meus irmãos que militam na política. Nós tanto o reconhecemos
que oramos por vocês. Pois a Bíblia o recomenda, como exposto acima.
"QUANDO NÃO HÁ SÁBIA DIREÇÃO, O POVO CAI; MAS NA MULTIDÃO DE CONSELHEIROS HÁ
SEGURANÇA" (Pv 11.14)
Tradução adequadíssima é a da chamada Bíblia de Jerusalém: "Por falta de direção um povo se
arruína, e se salva por muitos conselheiros".
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"Direção" é a arte de pilotar, de segurar as rédeas de um fogoso corcel em disparada; é
sustentar com segurança e firmeza o volante de um automóvel a 140 km por hora. Essa arte de
segurar as rédeas, sustentar o volante, pilotar, enfim, é essencial para o bem-estar do nosso
povo. Mas diz a Bíblia que ‘quando não há sábia direção, o povo cai". E seus irmãos de fé
sabemos que desejam imprimir sabedoria, correção e justiça ao seus mandatos. Então, irmãos
que militam na política, apelem para os seus pastores e seus conselheiros, porque "na
multidão de conselheiros há segurança".
Quem são os seus conselheiros? Observem:
São os seus amigos. Aqueles que proclamam suas virtudes e conhecem (e talvez escondam) os
seus pontos fracos;
São os seus inimigos, que conhecem (e talvez escondam) as suas virtudes e proclamam seus
pontos fracos;
É o evangelho, pois 2Timóteo 3.16 é texto tão claro quando ensina que "Toda Escritura é
divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir
em justiça".
Pois é; ouçam os seus amigos, aqueles que os amam e os apóiam, pois é, ainda, a Escritura
Sagrada que registra que "Os projetos se firmam pelos conselhos; faze a guerra com prudência.
O mexeriqueiro trai a confiança; portanto, evita o que muito abre os seus lábios" (Pv 20.18,19).
Analisem o que dizem os seus adversários políticos. No mínimo, vocês terão mais força para
continuar se o que deles vier, for falsidade e calúnia. Quando os muros de Jerusalém estava
sendo reconstruídos, após o retorno dos israelitas da Babilônia, a inveja, a calúnia e a
murmuração campearam em todos os arraiais. Não houve desfalecimento porque "o coração
do povo se inclinava a trabalhar" (Ne 4.6; cf. v.17). Quando desafiados a baixar o nível de
trabalho ou de diálogo, digam como Neemias: "Estou fazendo uma grande obra, e não poderei
descer".
Confiem no seu povo, meus irmãos, seus irmãos de fé que têm sobrevivido com o
desemprego, alguns com o sub-emprego, com baixos salários, mas muito fiéis na entrega de
suas vidas e de seus dízimos para o sustento da Causa do Senhor.
Trabalhem pelo nobre povo do Brasil. Roquette Pinto fez uma séria declaração acerca de nossa
gente: "O homem do Brasil precisa ser educado, e não substituído".
Dêem ouvidos à ética da Bíblia; ao que Jesus disse. Leiam, amem a Bíblia Sagrada; coloquemna ao lado da Constituição Federal e da Constituição dos estados que representam como seus
livros de normas e rotinas de trabalho e vida. O próprio Senhor Jesus Cristo afirmou, "Errais
não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus". Não é o caso de vocês que já conhecem a
Palavra e como Deus Se manifestou Salvador em suas vidas.
Creio, meus irmãos que militam na política, que um bom texto para finalizar nossa reflexão é o
de 2Crônicas 19.9: "Assim andai no temor do Senhor com fidelidade e inteireza de coração". A
recomendação do profeta Jeú a Josafá, governante do povo de Judá foi cristalina:
"no temor do Senhor", pois "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria", e deve ser o
princípio dos seus mandatos;
"com fidelidade", assim, "Não negues o bem a quem de direito"; sejam fiéis, irmãos meus;
"com coração perfeito", visto que "quando não há sábia direção, o povo cai", se arruína.
Essa palavra profética resume tudo o que foi dito. Com certeza, meus irmãos que militam na
política, outras advertências, conselhos, palavras, reflexões poderiam ser destacadas a partir
da Bíblia Sagrada como Provérbios 16.7; 24.5 ou 29.12. Permitam-me, no entanto, terminar
com uma página poética, muito a propósito daqueles momentos em que vocês estiverem
cansados, incompreendidos, talvez sós:
SE POR ACASO
Se por acaso perdeste a motivação do trabalho
e os deveres te pesam;
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se perdeste uma série de amigos
e a solidão te castiga;
se por acaso perdeste o último raio de luz
e andas no escuro;
se teus objetivos parecem cada vez mais distantes
e o ânimo de prosseguir desfalece;
se alimentas as melhores intenções
e, assim mesmo, te criticam;
se teus pés feridos ostentam a marca
das jornadas infinitas em busca de soluções
que o tempo ainda não trouxe;
se tuas mãos se alongam trêmulas na ânsia
de segurar outra mão que não podes reter,
porque não é tua;
se teus ombros se alargam
e a cruz ainda não cabe,
porque é árdua demais;
se ergues os olhos e o céu não responde
às súplicas que fizeste;
se amas o chão firme e tens a impressão
de afundar no pântano da insegurança;
se queres mar alto e areias seguram
o navio de teus sonhos;
se falas, se gritas até,
e o vazio não devolve o eco à tua voz;
se gostarias d ser inteiro total,
e te sentes parcelado, repartido, fragmentado,
um trapo de gente, talvez;
se os nervos afloram
e beiras os limiares do abismo da estafa;
se a fé parece conversa fiada
e nada do eterno te traz ressonância;
se choraste tanto que já não descobres
as estrelas no alto.
Então, levante o olhar para a cruz,
fixando Cristo bem nos olhos.
No lenho do Calvário, encontram-se
todas as respostas para aqueles que sofrem
e perdem a vontade de sorrir, de lutar, de viver.
Ajoelha-te aos pés de Cristo Ressuscitado,
como Tomé, o apóstolo incrédulo,
e repete com ele:
"Meu Senhor e meu Deus!"
NOTAS
(1) Cf. Is 19.11, 12; 29. 14, 15.
(2) Cf. 1.4, 17-20; 4.18,27.
(3) Cf Pv 8.12,15,16; 22.29; 23.1.
(4) Cf. Sl 24.1; 50.1,2,6; 97; 98; Na 1.
(5) Cf. Dt 6.2; 5.33; 6.5,13; 30.16; Pv 16.6; Ec 12.13;
Mq 6.8; Mt 22.37.
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(6) Cf. Sl 51.6; Tg 1.5; Pv 2.3-7.
(7) Cf. Pv 3.27; Mq 6.8; Os 12.6; Gn. 18.19; Is 1.17; Zc 7.9.
(8) Cf. Rm 13.1, 2, 5; Pv 8.15, 16.
DE QUEM NECESSITA NOSSA PÁTRIA?
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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"No dia seguinte a grande multidão que viera à festa ouviu que Jesus estava a caminho de
Jerusalém. Tomaram ramos de palmeiras, e saíram ao seu encontro, gritando: Hosana! Bendito
é aquele que vem em nome do Senhor! Bendito é o rei de Israel! Ora, havia alguns gregos entre
os que tinham subido a adorar no dia da festa. Dirigiram-se a Filipe, que era de Betsaida da
Galiléia, e lhe rogaram: Senhor, gostaríamos de ver a Jesus" (João 12.12,13,20,21)
"E desvendou-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em
Cristo, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos,
tantos as que estão nos céus como as que estão na terra" (Ef 1.10)
O ministério terreno de Jesus está chegando ao fim. No texto acima está o relato de quando o
Mestre falou sobre ser, Ele mesmo, a ressurreição e a vida. Fala, igualmente, João da trama
armada para matar a Jesus, e, ainda, de ter sido o Mestre ungido na cidade de Betânia,
mencionando, a seguir, a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém.
Betânia, é uma vila, é uma cidade pequena ainda hoje a cerca de três quilômetros de
Jerusalém. Daquela vila, Jesus foi para Jerusalém, onde fez uma entrada triunfal pelos seus
muros sob o aplauso e o louvor das multidões. Observe-se que a mesma multidão que O
aplaudira na Sua entrada, será a mesma que vai exigir a Sua crucificação. Duas lições a serem
aprendidas: (1) o pensamento da massa é volúvel; e (2) durante os anos do Seu ministério
entre os homens, Jesus Cristo jamais perdeu de vista a Sua missão universal.
Apesar de tudo, Ele tinha um propósito, um alvo para Sua vida. Todo mestre precisa ter um
alvo, o de Jesus era: "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância". Por esse
motivo, Ele convidou os cansados e os oprimidos a que viessem a Ele para que pudessem
encontrar o descanso, o repouso. E, no entanto, diz a Bíblia que Ele "veio para o que era seu e
os seus não receberam". Que tristeza nessa palavra de João, o evangelista, em 1.11. Porém,
por causa da Sua missão universal, os gregos vieram a Ele. E é nesse ponto que nós
destacamos o nosso país. Vamos nos identificar com os gregos que buscaram a Jesus.
DE QUE É QUE O NOSSO PAÍS NECESSITA?
Nunca sou tão procurado quanto nas proximidades das eleições. Praticamente, todos os
candidatos a vereador de nossa cidade, a deputado estadual e federal, a prefeito anda me
procurando. De repente, a igreja ficou famosa, e todos querem os votos dos seus membros.
Mas, como sou procurado no gabinete para mostrar plataforma de trabalho, planos, o que é
que planeja para acontecer na nossa cidade. É desse fato que nos vem a idéia desta reflexão:
que é que o nosso país realmente precisa?
Nosso Povo Necessita De Cristo... Para Que Aprenda A Amar.
Nosso país precisa de Jesus Cristo, a rocha dos séculos. Nosso país, nossa cidade, nosso estado,
e isso para que aprenda a amar.
Um teólogo judeu perguntou a Jesus sobre qual era o grande mandamento. E a resposta de
Jesus está em Mateus no capítulo 22, "Amarás ao Senhor de todo o teu coração, de toda a tua
alma e de todo o teu entendimento e continuou, e amarás ao teu próximo como a ti mesmo".
Nosso povo precisa de aprender a amar. Indo ao Apocalipse, capítulo 1, versos 5 e 6,
encontraremos,
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"Àquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos fez reino e
sacerdotes para Deus seu Pai, a ele seja glória e domínio pelo séculos dos séculos".
Nós aprendemos dEle o amor eterno, e seus efeitos na vida, na nossa alma, e na nossa
consciência. Porque nós somos libertos do pecado, purificados do nosso mal e feitos
intercessores. É o amor que foi consolação para os discípulos nos momentos de perseguição. É
o amor que, imutável, tem ainda hoje a intensidade de quando Jesus se entregou na cruz do
Calvário.
Nosso povo tem que olhar para Jesus Cristo ressuscitado, tem que olhar para Jesus Cristo
glorioso, soberano, salvador e perdoador, compassivo e restaurador para aprender com Ele
que amar não é dividir o meu prato de comida com quem não tem. Essa é uma idéia do
assistencialismo. Metade é sua, metade é minha. Não é não! Amar é lutar para que ele tenha
um prato de comida igual ao meu. Não dividir o meu, mas, que ele possa ter condições de ter
um prato igual. Não é eu dar a minha camisa usada para que ele tenha uma camisa para vestir.
Não! É empenhar-me para que ele tenha uma camisa nova para vestir. Porque isso é fazer
justiça no Espírito de Jesus Cristo, porque meu próximo não é a pessoa que é membro da igreja
de que faço parte, ou de outra igreja evangélica. O membro de uma igreja evangélica, o
membro da minha igreja é meu irmão, da mesma família, em cujas veias corre o mesmo
sangue de Jesus Cristo que nos purificou. Meu próximo é o brasileiro. É o brasileiro que não
conhece a Cristo, que não conhece a realidade do reino, que não entende o supremo sentido
da palavra amor.
Nosso Povo Necessita De Cristo... Para Que Aprenda A Servir
O nosso povo necessita de Cristo, a rocha dos séculos, para poder aprender a servir. Porque o
amar leva a servir. Afinal de contas, a Bíblia diz que nós fomos criados para as boas obras.
Efésios 2.10 afirma: "Somos feitura sua criados em Cristo Jesus para as boa obras, as quais
Deus preparou para que andássemos nelas". Jesus Cristo contou a história que é conhecida
como a parábola do Bom Samaritano. Nessa parábola nós encontramos três atitudes e uma
história de serviço. Vejam bem as três atitudes: A primeira foi a atitude dos salteadores; a
segunda foi a atitude do escriba e do sacerdote, que têm a mesmíssima; e a terceira, foi a
atitude do samaritano.
A atitude dos salteadores foi viver para roubar, viver para explorar. Um teólogo, comentando
este tema, disse: "O que é teu é meu". Hoje pela manhã, fiquei sabendo que duas queridas
irmãs, mãe e filha, às 7h30, vieram preparar o lindo programa das Mensageiras do Rei, iam
sendo assaltadas na porta da igreja. Dois meliantes apareceram para roubá-las. "O que é teu,
Gilda, é meu", disseram. Essa é a atitude de quem assalta, de quem furta, ou de quem rouba.
O sacerdote e o levita, tiveram a atitude de viver para si mesmos. "O que é meu é meu, o que é
teu é teu". No entanto, atente-se para o samaritano. Ele tinha a atitude de viver para servir, "o
que é meu é teu". Qualquer ser humano está dentro de um desses três grupos. E quem vive no
primeiro grupo, "o que é teu é meu", pensa que é bastante esperto para escapar das coisas que
faz, e os jornais e as revistas que comentam os fatos, contam dos espertalhões que andam
fugindo, roubando, enganando, dinheiro desviado, dinheiro que devia construir não sei o que
foi para algum lugar aí do mundo que ninguém sabe onde. Mas ele pensam que são espertos
bastantes para que o escândalo não seja descoberto.
Ou então, é a atitude do egoísmo, cada um vive para si no seu mundinho particular e não me
interessa o que é que acontece com outra pessoa. Mas a terceira atitude é do samaritano, é a
atitude evangélica, é a atitude de Cristo, e é aquela de que a nossa pátria precisa, serviço. Com
a salvação, somos libertos do pecado.
A Bíblia diz para sermos servos da justiça. Por isso, a nossa resposta é sempre dobrada.
Cidadãos deste país, nós temos obrigações sociais, políticas, afetivas, emocionais com a nossa
pátria, mas, cidadãos do reino de justiça, nós temos obrigação de espalhar essa justiça, o reino
de Deus, de proclamar o senhorio de Jesus Cristo no coração do nosso povo. Por isso, nós
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somos incansáveis na pregação, no testemunho, na proclamação, no anuncio da mensagem de
Jesus Cristo. Servos, sim. Somos servos de Cristo e reconhecemos a necessidade que tem a
nossa gente de aprender a servir quando tem aprendido e praticado o se servir tantas vezes.
Nosso Povo Necessita De Cristo... Para Que Aprenda O Verdadeiro Sentido Da Espiritualidade
Mas há um terceiro caso, ainda: nosso povo precisa de Cristo, a rocha dos séculos, para que
compreenda o verdadeiro sentido da espiritualidade.
Ora, se a compreensão do amor leva ao serviço; o entendimento do amor conjugado com o
servir leva ao sentido da espiritualidade. Em Provérbios 14.34, está dito que: "A justiça exalta
as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos". Outra tradução diz que: "É o pecado que faz
miseráveis os povos". E não é o nosso caso aqui no Brasil? O que arruina o Brasil não é a dívida
externa, não, nós sempre devemos, e há outros povos aí que crescem e devem também. O que
está arruinando o Brasil é o pecado, é a imoralidade, é a impunidade, é a corrução, é a falta de
censura, é a confusão entre liberdade e libertinagem. Porque a Bíblia diz isso mesmo, a justiça
exalta as nações, mas o pecado faz miseráveis os povos.
Quando há uma epidemia todos tomam vacina.A Secretaria de Saúde do Estado estendeu por
mais quinze dias o prazo de vacinação contra a paralisia infantil, disse o jornal. Quando há uma
epidemia todos tomam vacina, todos querem o remédio. Pois há uma doença espiritual na
nossa pátria, é falta de amor, é falta de espírito de serviço, e é falta de espiritualidade, porque
há muita superstição mascarada de espiritualidade, muita idolatria com o nome de religião. Há
um remédio, no entanto, para essa doença: Cristo, a rocha dos séculos. Não basta dizer: "Eu
sou cristão". Não basta a demonstração de religião de massa, não basta o culto dos lábios, não
basta passeata pelas ruas querendo ganhar a cidade para Cristo só porque está andando no
meio da rua. É preciso ir a Cristo para compreender o sentido do culto espiritual, do culto a
Deus, na salvação, do governo de Deus, e do senhorio de Jesus Cristo. Mas há quem pense que
o evangelho é um fardo. Há quem imagine que seja uma limitação de liberdades, uma
restrição, um freio, um gigantesco Superego, até. Isso, no entanto, não é verdade, pois o
evangelho é um poder no nosso comportamento, uma oportunidade para gozar essa liberdade
que Cristo nos dá. Há quem imagine ser um conjunto de doutrinas a respeito do mundo, do ser
humano e do seu destino. Há quem pense serem ritos e códigos de obrigações e deveres. Na
verdade, fé cristã, obrigações morais, não podem ser dissociadas. Por isso, nós precisamos de
Cristo, da fé em Cristo em nossa pátria permeando a personalidade do brasileiro em todas as
dimensões.
O Pr. Lourenço Stelio Rega, Diretor Geral da Faculdade de Teologia de São Paulo, lançou um
livro interessantíssimo, que recomendo aos irmãos: Dando um Jeito no Jeitinho. Mostra o
autor em seu trabalho que o brasileiro vive de "jeitinhos". E não é verdade? Inventamos
"jeitinho" para tudo, e como não tem como disser em inglês "jeitinho", criaram uma expressão
perifrástica na língua inglesa para dizê-lo: "A Brazilian way of doing things...", ou seja, "um
modo brasileiro de fazer as coisas". Isso não quer dizer nem metade do que os brasileiros
sentem quando ouvem a palavra "jeitinho": "Olhe dá um jeito nisso aí".
O brasileiro é assim, anda buscando um jeitinho. Brasileiro precisa é de Cristo, precisa de um
Cristo que governe a sua vida em todos os sentidos, que lhe dê justiça e não "jeitinho". Que
modifique seu pensamento, sua sensibilidade, seu comportamento.
Mas não vamos confundir o evangelho com uma simples moralidade. Isso é coisa de filósofo. A
Grécia e a Roma Antigas conheceram os filósofos moralistas que, no entanto, eram pagãos.
Por isso, lembramos que não se deve confundir o evangelho com uma lista de regras. Uma vez
uma jovem me perguntou: "Pastor eu agora sou crente. O que, que eu posso fazer e o que, que
eu não posso fazer?" Não é assim, não. Não é o que eu não posso fazer e o que posso; não é
uma lista de regrinhas, não! É amor, é serviço. O reino de Deus é muito mais do que deixar de
fazer certas coisinhas. "Que devo fazer?", perguntou um jovem rico também a Jesus. Mas
Cristo não veio trazer somente uma simples moralidade, apesar da elevada moral do
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evangelho. Não veio trazer regras e listas apesar da elevada justiça do reino de Deus. O que Ele
veio trazer foi o Espírito Santo de Deus como tônica da fé cristã, como o espírito e alma da
própria Igreja do Senhor.
Então do que é que necessita a nossa igreja, e a nossa pátria, e o nosso estado, e a nossa
cidade? E de que o nosso povo necessita? De Cristo, a Rocha dos Séculos. É disso que o nosso
povo necessita. De Cristo para que entenda e aprenda sobre o amor de Cristo para que
aprenda e ponha em prática o que é servir; de Cristo para que compreenda o sentido da
espiritualidade; nosso povo precisa de Cristo para que entenda o que é salvação.
E nesse ponto de salvação, agora se torna bem pessoal, pessoal mesmo. É você e o Deus que o
salva ou a salva. Salvação significa uma entrega. Uma entrega do seu coração, da sua
consciência, da sua vida. Uma entrega total, sem reservas, sem barreiras, sem nada. Você diz:
"Senhor, eu sou teu", "Senhor, eu sou tua". E o Senhor vem e habita sua vida. Você precisa de
Cristo meu amigo. Se você não tiver Jesus Cristo na vida, não há jeitinho para salvação, não há
atalho para a salvação.
JESUS E A MULHER SAMARITANA: REPENSANDO VELHOS CONCEITOS
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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O encontro de Jesus com a mulher samaritana poderia ser descrito como "a vitória do
evangelho sobre os preconceitos sócio-culturais". Os judeus e samaritanos não se entendiam
desde os tempos de Oséias, o último rei de Israel.
I
Tudo começou quando Oséias conspirou contra Salmanasar, rei da Assíria. Samaria, a capital
de Israel, foi sitiada pelas tropas assírias por três anos e, posteriormente, seus moradores
foram transportados para a Assíria (2 Rs 17.3-6). Isto aconteceu em 722 a.C. Somente os
pobres puderam ficar em Israel (cf. Jr 39.10). Logo, vieram também estrangeiros e se
estabeleceram na região devastada. Diz o relato bíblico: "O rei da Assíria trouxe gente de
Babilônia, de Cuta, de Hamate e de Serfavaim, e a fez habitar nas cidades de Samaria, em lugar
dos filhos de Israel; tomaram posse de Samaria e habitaram nas suas cidades" (2 Rs 17.24). Da
mescla com a população que havia ficado, surgiu uma nova raça denominada de samaritanos
(nome derivado de Samaria, a metrópole fundada por Onri, pai de Acabe, por volta de 880
a.C.).
No princípio, quando os estrangeiros passaram a habitar em Samaria, eles não temeram ao
Senhor; pelo que o Senhor mandou leões invadirem suas terras, os quais mataram a alguns do
povo. Com razão atribuíram esta praga à ira de Deus. Então, rogaram ao rei da Assíria que
enviasse um sacerdote israelita para lhes ensinar "como servir o Deus da terra". E assim
aconteceu que um judaísmo adulterado foi enxertado ao culto pagão. Quando uma parte dos
judeus voltou à terra de seus pais (principalmente, mas não exclusivamente, parte dos que
haviam sido deportados para a Babilônia em 586 a.C.), construiu-se um altar para o holocausto
e pos-se os fundamentos do templo, samaritanos zelosos e seus aliados interromperam as
obras (Ed 3 e 4). Assim fizeram porque negaram a eles a permissão de cooperar na obra de
reconstrução. Sua petição foi: "Deixa-nos edificar convosco, porque, como vós, buscaremos a
vosso Deus, como também já lhe sacrificamos desde os dias de Esar-Hadom, rei da Assíria, que
nos fez subir para aqui". A resposta que receberam foi a seguinte: "Nada tendes conosco na
edificação da casa do nosso Deus". Ao receberem esta dura resposta os samaritanos passaram
a odiar os judeus. Logo começaram a construir seu próprio templo no monte Gerizim. Porém,
João Hircano, um dos reis macabeus, destruiu este templo em 128 a.C. Os samaritanos, não
obstante, continuaram adorando em cima da montanha, onde haviam erigido o templo
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sagrado.
A aversão dos judeus para com os samaritanos pode ser vista ainda em Jo 8.48 e no livro
apócrifo de Eclesiástico 50.25,26.1 E a mesma atitude por parte dos samaritanos em Lc 9.5153.
Dois fatores principais ocasionaram o encontro de Jesus com a samaritana. O primeiro foi a
desconfiança por parte dos fariseus e a conseqüente "tempestade" que começava a se armar
(Jo 4.1). Os fariseus viam surgir diante de seus olhos outro profeta como João Batista. É certo
que a verdadeira preocupação dos fariseus não era com o batismo de um ou do outro, mas
eram as multidões que Jesus arrastava que começava a incomodá-los. A fim de evitar um
confronto antes do tempo, o Mestre decidiu deixar a Judéia e partir para a Galiléia (v3).
O segundo fator que ocasionou o encontro está no verso 4: "E era-lhe necessário atravessar a
província de Samaria". Por que era necessário que Jesus passasse por Samaria? Seria por causa
das chuvas que transbordavam o rio Jordão, dificultando o caminho costumeiramente seguido
pelos judeus que queriam ir até a Galiléia, como sugerem alguns? Acredito que não. Será que o
Mestre apenas queria cortar caminho por Samaria para chegar na Galiléia? Muito menos, visto
que não era normal um judeu passar por Samaria, seja qual fosse a circunstância. MacArthur
observa:
Os samaritanos representavam uma ofensa tão grande que eles nem queriam por os pés na
Samaria. Embora a rota mais curta atravessasse essa província, os judeus nunca usavam esse
caminho. Eles tinham a própria trilha, que ia ao norte da Judéia, a leste do Jordão, entrando na
Galiléia. Jesus bem poderia ter seguido por essa rota, muito usada, que unia a Judéia à
Galiléia.2
A questão era: Jesus necessitava ir por aquele caminho e chegar numa cidade samaritana de
nome Sicar porque "precisava atender a um compromisso divino junto ao poço de Jacó".3
Não há unanimidade entre os estudiosos quanto ao horário da chegada de nosso Senhor ao
poço (v6). João estaria usando o horário judaico (meio dia) ou o horário romano (seis da
tarde)? Este detalhe não é tão importante. Basta saber que Jesus chegou na hora certa. Nem
antes; nem depois. "Ele estava no local e no tempo indicados por Deus, determinado a fazer a
vontade do Pai. Ele estava lá para buscar e salvar uma única, triste e desventurada mulher".4
II
"Nisto veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber" (Jo 4.7).
"Então lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim que sou
mulher samaritana..." (Jo 4.9).
Com uma simples petição (dá-me de beber), o nosso Senhor declara que a separação entre os
povos em geral, e judeus e samaritanos em particular, estava, de certa forma, com os dias
contados. A parede divisória desaparece onde o evangelho se faz presente (cf. Gl 3.28; Ef
2.14).
No simples fato de viajar por Samaria e pedir água à uma samaritana, Jesus estava derrubando
barreiras centenárias de preconceito racial. "A misericórdia de nosso Senhor transpôs as
barreiras do ódio nacionalista, como se vê não somente aqui, João 4, mas também em Lc
9.54,55; 17.11-19; e na parábola do Bom Samaritano (Lc 10.25-37)".5 É interessante
observarmos que o encontro de Jesus com a mulher samaritana foi precedido pela ida dos
discípulos à cidade de Sicar para comprar alimentos (v8). Mandar os discípulos comprar
alimentos foi um santo pretexto do Mestre. Nem tanto para ficar simplesmente sozinho e
conversar sossegado com a mulher. Muito menos porque precisasse de comida naquela hora
(veja vv31-34). É que as barreiras deveriam ser destruídas em seus discípulos também (cf. Lc
9.51-56).
Embora estivesse verdadeiramente cansado e necessitasse de água (vv6,7), Aquele que pedia
tinha muito mais a oferecer. Pedir água àquela mulher fazia parte de uma estratégia
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evangelística, se é que podemos dizer assim. "À medida que o Grande Evangelista procura
ganhá-la, Ele orienta sabiamente a conversa, levando-a de um simples comentário sobre beber
água à revelação de que Ele era o Messias".6 Aquele que pedia água fria estava oferecendo
água viva, a saber, a Si mesmo.
Conhecendo a tradição discriminatória, a mulher ficou perplexa com o pedido de Jesus. Nos
tempos do Novo Testamento havia uma desigualdade muito grande entre homem e mulher.
Nos tempos bíblicos (e em muitos países orientais de hoje) os homens não conversavam com
mulheres em público, mesmo sendo suas esposas. Se entre um judeu e um samaritano
existiam preconceitos profundos, imagine-se entre um judeu e uma samaritana, e uma
samaritana de vida imoral! Independente do modo em que vivia uma samaritana, os judeus
sempre consideravam-nas em estado de perpétua contaminação. Um judeu preferia morrer de
sede a tomar água da mão de um samaritano, muito menos de uma mulher samaritana,
sobretudo pecadora. Haja vista a surpresa dos discípulos ao virem Jesus falando com a mulher
(v27).
A mulher estava surpresa com o fato de Jesus se dirigir a ela, pedindo água de seu cântaro
"impuro". Mas a impureza não estava no cântaro, e sim, na vida dela. E era aquela vida que o
Senhor Jesus queria purificar.
É provável que na mente da samaritana, moldada por uma sociedade culturalmente
preconceituosa, passasse também o seguinte pensamento: "Tu és judeu, estás necessitado de
água e não podes valer-te. Eu sou mulher samaritana, sou auto-suficiente e, portanto, posso
ajudar-te". Jesus, pois, mostrou que a realidade era completamente outra. A mulher é quem
precisava de água de verdade e Ele era a única fonte que podia sacia-la (v10).
Ainda que a mulher samaritana não entendesse à princípio que a verdadeira água viva estava
fora e não no fundo do poço, os progressos começavam a aparecer. Ela já não vê Jesus como
um simples forasteiro judeu afoito. Agora ela O chama de "senhor" (v11) e não mais "tu" (v9).
Os preconceitos sócio-culturais que impregnavam tanto judeus como samaritanos começam a
arrefecer da parte dela.
Convém ressaltar, ainda, que a mulher samaritana não era desprezada apenas pelos judeus,
mas também pelo seu próprio povo, em razão da vida libertina que levava. A vida dela era um
emaranhado de adultérios e divórcios. "Na sociedade de então, isso fazia dela uma pessoa
rejeitada e proscrita, com um status social igual ao de uma prostituta comum".7
Perto de Sicar haviam muitos poços nos quais ela poderia buscar água. "As mulheres
costumavam cumprir esta tarefa num horário mais fresco e em grupo, pois era mais seguro e
mais cômodo".8 Entretanto, a condição de vida que levava a obrigava fazer longas
caminhadas, sozinha, até o poço de Jacó. Além disso, buscava sua água no horário em que
provavelmente não encontraria as suas conhecidas.
O Rev. Miguel Rizzo Jr., ilustre pastor presbiteriano falecido, escreveu um excelente opúsculo
entitulado O Cântaro Abandonado, no qual relata o preconceito social sofrido pela mulher
samaritana com o seguinte quadro:
"Vivia segregada da sociedade. Possivelmente, no convívio que outrora tivera com suas
amigas, percebeu que elas a repeliam. Quantas vezes teria ouvido comentários cortantes de
sua conduta!
-Já é o segundo marido, diriam algumas.
Tempos depois seria mais acre o comentário:
-Já é o terceiro marido.
Mas a situação ia piorar ainda:
-Já é o quarto marido.
Quantas ironias acompanhariam, na maledicência social, esses comentários mordazes! E iamse tornando mais ferinos:
-Já é o quinto marido.
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Na época em que se deram os fatos que comentamos, a crítica provavelmente seria já mais
enxovalhante:
-Agora é o sexto marido".9
A imoralidade é uma prática inaceitável. Mas não se pode confundir o pecador com o pecado.
A vida leviana daquela mulher era reprovável, porém, havia nela uma alma necessitada de
compaixão. Estava socialmente marginalizada e moralmente esfarrapada. E foi assim que Jesus
a encontrou e a salvou.
III
"Senhor, disse-lhe a mulher: Vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós,
entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar" (vv 19,20).
Constrangida com a revelação de sua vida de pecado, e aproveitando a capacidade profética
de seu interlocutor, a mulher tentou mudar de assunto. Digo "tentou" porque na verdade era
Jesus quem conduzia o diálogo. A mulher estava estrategicamente cercada do princípio ao fim
da conversa. E a evangelização acabaria na hora exata, com os assuntos devidamente tratados.
Não é curioso que os discípulos chegassem exatamente no fim da conversa?
O último obstáculo a ser vencido seria o preconceito religioso. Deste preconceito entre judeus
e samaritanos originavam-se todos os preconceitos sócio-culturais. Como observou
corretamente A. Gelston: "O ponto principal da discórdia era o templo do monte Gerizim".10
Os judeus insistiam que Jerusalém era o único lugar de adoração. A tradição samaritana, por
sua vez, dizia que uma longa cadeia de figuras bíblicas, desde Adão até José, conheciam o
monte Gerizim como lugar sagrado. Implicitamente, a samaritana estava perguntando: "Quem
está certo?".
A conversa de Jesus com a mulher samaritana passa a girar em torno da verdadeira adoração.
"É bastante significante a importância dada ao lugar de culto por uma alma cujos pecados são
expostos".11
No decorrer do diálogo muitos sub-temas são abordados, tais como: o lugar da adoração, o
tempo da adoração, a busca dos adoradores, o verdadeiro adorador, a quem se deve adorar, o
modo correto de se adorar, etc. Não temos espaço para tratar separadamente cada um desses
sub-temas. Basta dizer, por enquanto, que Deus só pode ser verdadeiramente adorado, desde
que seja verdadeiramente conhecido. Como diz muito bem o Dr. Héber Carlos de Campos em
seu comentário de João 4.20-24: "O pressuposto inequívoco para verdadeira adoração é o
conhecimento do verdadeiro Deus".12
Nosso Senhor ensinou à samaritana que quem conhece Deus de fato, só pode adorá-lO em
espírito e em verdade. Estudiosos da Bíblia têm dado diversas interpretações para a expressão
"em espírito e em verdade" de João 4.23,24.13 Parece razoável entendermos que ao
estabelecer o modo correto de adorar a Deus, isto é, em espírito e em verdade, Jesus estava
criticando o culto judaico e o culto samaritano.
Os samaritanos acreditavam que adoravam o mesmo Deus dos judeus, mas não aceitavam as
mesmas Escrituras dos judeus, a não ser os cinco primeiros livros, o Pentateuco de Moisés.
Como não aceitavam os demais livros da revelação divina (por acharem que eram invenções
dos judeus), o culto dos samaritanos era defeituoso. Por isso Jesus disse à mulher: "Vós
adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos
judeus" (v22). Os samaritanos adoravam "em espírito", isto é, adoravam aquele que eles não
conheciam "com alegria e verdadeiro entusiasmo". Mas e daí? Não adoravam "em verdade"
porque rejeitavam 34 livros do Velho Testamento, a Bíblia de então. A revelação de Deus nas
Escrituras é progressiva; portanto, é impossível conhecê-lO verdadeiramente ficando apenas
com os cinco primeiros livros da Bíblia.
Por outro lado, os judeus aceitavam toda Escritura. Por isso conheciam Deus e tinham tudo
para adorá-lO corretamente. "Tinham tudo", mas não o faziam. Os judeus se limitavam à
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formalidade de um culto onde o espírito não estava presente. Faltavam emoção, vida e alegria
no culto judaico.
Contudo, uma nova era estava surgindo para a adoração. Logo, logo tanto judeus como
samaritanos compreenderiam que para adorar a Deus o que menos importava era o espaço
físico. O que conta "não é onde se deve adorar, mas a atitude do coração e da mente, e a
obediência à verdade de Deus quanto ao objeto e o método de adoração. Não é o onde, mas o
como e o quê o que realmente importa".14 Deus quer homens e mulheres que O adorem com
o espírito dos samaritanos e a verdade dos judeus.15
O resultado do encontro de Jesus com a mulher samaritana não poderia ser menos que
excelente. A pecadora tornou-se missionária! Extremamente feliz, deixou seu cântaro e correu
para anunciar na cidade sua grande descoberta: o Messias chegou! A mulher despertou o
interesse dos seus concidadãos de tal modo que conseguiu levá-los a Jesus (vv29,30). Houve
uma grande colheita: Muitos samaritanos creram em Cristo Jesus (vv39-42).
IV
São grandes as lições que aprendemos do encontro de Jesus com a mulher samaritana. A
começar pelo resultado da conversa, vemos uma mulher outrora desprezada por todos, sendo
usada poderosamente por Cristo para influenciar os moradores de sua cidade. Quão glorioso é
Cristo: "Ele ergue do pó o desvalido, e do monturo, o necessitado" (Sl 113.7).
Como esta mulher, existem tantas outras em nossas cidades. Assim como elas, tantos outros
se encontram à margem da sociedade, roubados de seus direitos e dignidade. E nós,
evangélicos, lamentavelmente somos culpados por boa parte da marginalização do indivíduo
pela sociedade, pois fazemos pouco ou nada em mostrar para a sociedade que o homem e a
mulher, a criança e o idoso, o deficiente, os proscritos em geral , etc., são valorizados por
Cristo e como humanos que são devemos valorizá-los também. Falhamos em não ver (ou
fingimos que não vemos) a pessoa por trás de seus pecados.
Outra lição importante que aprendemos de João 4 são os princípios básicos para uma boa
evangelização. Notamos que Jesus conduzia a conversa, utilizando-Se, primeiramente, de Sua
sede física para chegar à sede espiritual daquela mulher. Com habilidade o Senhor invalida as
tentativas da samaritana de controlar o diálogo, mudar de assunto e perguntar coisas sem
importância. Não precisamos conhecer a vida de uma pessoa como Cristo conhece para
sermos eficicientes na evangelização. Nossa suficiência está em Cristo e o Espírito Santo nos
guiará com triunfo em nossa evangelização.
Mas as lições de evangelismo continuam. Na tentativa de fugir da confrontação, vemos na
mulher samaritana o símbolo do pecador em seu estado natural. No "cerco" de Cristo temos o
exemplo que devemos seguir na evangelização dos perdidos. Aprendamos com o Mestre a
sermos mais sensíveis com os marginalizados e como abordá-los com eficiência.
Não é preciso pressa quando se evangeliza. Este é outro ponto que extraímos de João 4. O
importante, como o nosso Senhor ensinou,é que haja progresso. O próprio Jesus revelou
pouco a pouco quem Ele era. E em perfeita harmonia com esta revelação gradual, a confissão
da mulher também avançou. Primeiro viu Jesus como um simples forasteiro judeu; depois um
profeta, que revelou coisas de sua vida particular e, por último, o Messias.
A conversa sobre a verdadeira adoração é uma preciosidade do Novo Testamento. Contudo,
ao mesmo tempo que é edificante torna-se preocupante também. Receio que muito do
chamado culto cristão de hoje não passe de culto samaritano ou judaico. De um lado temos os
entusiastas, mas vazios de conteúdo, de doutrina. Do outro lado temos os experts na Bíblia e
na doutrina, mas totalmente frios e sem entuisiasmo e alegria no Senhor. Que Deus nos ajude
a oferecermos a Ele a adoração que Lhe é devida.
NOTAS
1. O historiador judeu Flávio Josefo disse que, por volta do ano 19 d.C., um grupo de
samaritanos entrou no templo de Jerusalém e espalhou ossos humanos sobre o altar,
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profanando o santuário e acirrando contra si o ódio judaico. Este ato causou revolta e
indignação por parte de todos os judeus das sinagogas de Israel, que passaram a encerrar suas
orações diárias lançando uma maldição sobre os samaritanos. Cf. A Missão da Igreja, (Missão
Editora, Belo Horizonte,1994), pp. 65,6.
2. John F. MacArthur, O Evangelho Segundo Jesus, (Editora Fiel, São Paulo, 1991), p. 57.
3. MacArthur, op.cit., p. 57.
4. Idem, p. 58
5. G. Hendriksen, El Evangelio Según San Juan, (SLC, Grand Rapids, 1987), pp. 172,3.
6. MacArthur, op. Cit., p. 56.
7. MacArthur, op. cit., p. 55.
8. Rosane Maria, Senhor dá-me de beber em No Princípio era o Verbo, (Encontrão Editora,
Curitiba, 1994), p. 243.
9. M. Rizzo, Jr., O Cântaro Abandonado, (UBB, São Paulo, 1982), p. 34.
10. A. Gelston, Samaritanos em O Novo Dicionário da Bíblia, ( Edições Vida Nova, São Paulo,
Vol. II, 1986), p. 1472.
11. A. J. Macleod, O Evangelho Segundo São João em O Novo Comentário da Bíblia, (Edições
Vida Nova, São Paulo, Vol. II, 1987), p. 1071.
12. H. C. Campos, O Pressuposto Básico da Verdadeira Adoração, artigo não publicado, p. 33.
13. Consulte comentários bíblicos de João 4.23,24.
14. G. Hendriksen, op. cit., pp. 178,9.
15. É importante observar, porém, que os judeus aceitavam todo o VT, tendo a oportunidade
de conhecer tudo o que de Deus se podia conhecer "naquela época". Entretanto, hoje já não é
possível dizer que os judeus conhecem verdadeiramente a Deus porque rejeitam a revelação
de Deus em Cristo Jesus, conforme nos é ensinado no Novo Testamento.
O MITO DO SEXO SEGURO
A Liberação sexual, a aids e os meios de prevenção
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
www.fatebra.com.br
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Moralista! Eis ofensa pior do que xingar a mãe. Não é de hoje, que, ser classificado de
moralista, em especial em assuntos sexuais, é ser atingido pela vergonha. O sexo virou tabu –
não porque não se possa falar nele, nem porque não se possa praticá-lo nas modalidades que
fogem às mais ortodoxas, mas, ao contrário, porque é imprescindível falar nele, divulgá-lo o
mais possível, escancará-lo no cinema, nas letras de música, nas revistas e na TV, e incentivar a
sua prática seja em que modalidade for, homo ou hetero, sozinho ou acompanhado – é tudo
normal, normalíssimo, é o que reza a cartilha do nosso tempo; tempos pós-modernos. Sexo
virou tabu ao contrário. É proibido proibir. Tentar conter seus impulsos é coisa de velho,
atrasado, "careta". É repressão. É censura.
No dia 13 de junho a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) divulgou nota oficial
condenando o uso do preservativo nas relações sexuais. De acordo com o documento, a
camisinha é responsável por "uma vida sexual desordenada". Nota esta, que provocou um
protesto, em vários segmentos da sociedade, inclusive do Ministério da Saúde. Mas será que a
CNBB está de toda errada ?
Muitas vozes na sociedade estão dizendo que a única maneira de evitar a contaminação pelo
vírus da AIDS é praticar o sexo seguro, e este, segundo elas, só é possível com o uso da
camisinha . Atualmente, "camisinhas" e "sexo seguro" são expressões usadas quase como
sinônimas. Advoga-se que seu uso tem contribuído para diminuir o número de contaminação
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pela doença, e isto, precisa ser questionado, pois as estatísticas não expressam esta
declaração .
Neste artigo, embora correndo o risco de ser rotulado de moralista, ou preconceituoso, quero
defender uma maneira de se fazer sexo 100% seguro. Diferentemente dessa defendida por
estas vozes.
Quero e preciso defender uma estratégia que seja realmente eficiente, pois entendo que,
mesmo que as camisinhas venham a reduzir o risco de contaminação com a AIDS e outras
doenças sexualmente transmissíveis , as mesmas não podem impedi-las.
Em nota oficial do Ministério da Saúde, há a confirmação de uma margem, e segundo ela bem
otimista, de apenas 05 % de insegurança, e que se está conseguindo debelar a doença.. Eis a
nota : "O Programa Nacional de Aids, vem debelando o avanço da epidemia no Brasil com
campanhas maciças a favor do uso do preservativo, que comprovadamente oferece 95% de
segurança contra a infecção pelo HIV" .
Isto não é bem verdade. O Programa Nacional de Aids não está tendo o sucesso que diz ter.
Os números da ONU descrevem um futuro sombrio sobre o avanço da AIDS:
Com a divulgação, no final de junho, do relatório da ONU sobre a incidência de Aids no mundo,
um pessimismo fundamentado tomou conta da comunidade médica mundial. A despeito dos
avanços científicos, com a criação de drogas potentes, o número de doentes cresce
assustadoramente. Hoje, 30,6 milhões de pessoas vivem com o vírus HIV. Cerca de 6 milhões
de homens, mulheres e crianças foram infectados apenas no ano passado — 16.000 novos
casos por dia. E, em cada dez pacientes, nove estão em países pobres, sobretudo na África e na
Ásia.
Em meio a tantas más notícias, a única boa é que , quando se faz uma prevenção eficiente, os
índices de contaminação se estabilizam ou decaem drasticamente. No Brasil, desde 1995,
contabilizam-se os mesmos 17.000 novos casos por ano. Na Europa Ocidental, entre 1995 e
1997, as notificações de novos casos caíram 38%. Passaram de 23.954 para 14.874. Desde os
primórdios da epidemia alerta-se para a importância da prevenção. ( grifo nosso )
Confira abaixo outro triste dado numa matéria de Eduardo Nunomura, falando sobre os órfãos
da aids:
"Passadas quase duas décadas de doença, o Brasil enfim conta seus pequenos desamparados.
Entre 1987 e 1999, 30.000 crianças de até 15 anos perderam a mãe para a síndrome, mostra
um estudo do Ministério da Saúde. O cenário é ainda mais sombrio que o desvendado pelas
estatísticas oficiais. O levantamento baseou-se nos registros de óbito por Aids das mulheres
que tinham filhos. Ficaram de fora as crianças obrigadas a viver longe da família porque a mãe
ou ambos os pais, doentes, não têm como cuidar delas.
Esse é um dos lados mais cruéis da mudança de perfil da síndrome. ( veja boxe ) Algumas
crianças correm o risco da contaminação ainda no útero materno e todas vivem sob a ameaça
de morte da mãe. Há no país cerca de 200.000 filhos de mulheres portadoras do HIV. Três em
cada dez são crianças cujas mães já desenvolveram a doença"
A seguir, três respostas dadas pelo Ministério da Saúde, onde o mesmo deixa bem claro que o
uso da camisinha não garante 100% e segurança. Confira:
"1 - Há risco da camisinha rasgar ou furar durante a relação?
Sim, se a camisinha não for colocada de maneira correta ela pode rasgar ou furar. O
preservativo masculino é, até o momento, a única barreira comprovadamente eficaz contra a
transmissão do HIV (vírus da imunodeficiência humana). Seu uso correto e consistente pode
reduzir substancialmente o risco de transmissão do HIV e de outras DSTs (doenças sexualmente
transmissíveis). O uso regular do preservativo leva ao aperfeiçoamento da técnica de
utilização, reduzindo a frequência de ruptura e escape, aumentando, consequentemente, sua
eficácia. Se ocorrer ruptura do preservativo durante relação sexual com portador do HIV, é
possível haver transmissão do vírus.
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2-O que fazer se a camisinha se romper?
Nesses casos, deve-se interromper a relação sexual, lavar os órgãos genitais e reiniciar a
relação com um novo preservativo. Deve-se procurar fazer acompanhamento sorológico com
aconselhamento. Como a única proteção eficaz contra a Aids é a camisinha, o consumidor deve
ficar atento para comprar um produto que atenda a todas as normas do Regulamento Técnico
de Qualidade (RTQ) brasileiro, que impõe limites mínimos aos fabricantes para garantia de uso
seguro. Para saber se o produto atende a essas normas, basta procurar na embalagem do
preservativo o símbolo de certificação do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (Inmetro). Apenas as marcas de camisinha com esse selo passaram por
testes que garantem um bom produto. É preciso atenção a esse detalhe, e também quanto ao
prazo de validade do preservativo (também encontrado na embalagem) e se utilizar
lubrificante, somente os que são a base de água. Os preservativos podem ser adquiridos
gratuitamente em serviços de saúde com autorização para distribuição, comprados em
farmácias ou supermercados.
3 - A camisinha protege as pessoas cem por cento contra a Aids?
O método de uso do preservativo como estratégia de prevenção - de qualquer agravo à saúde,
mesmo quando uma vacina é disponível - pode ser considerada cem por cento segura. O uso de
preservativo é a melhor medida de combate à disseminação do HIV e de outras doenças
sexualmente transmissíveis. Vale insistir que, entre inúmeros estudos sobre a eficácia do
preservativo, o mais pessimista aponta para uma eficácia mediana de 70% em situações
corriqueiras, incluindo, desse modo, até casos de uso incorreto do preservativo."
Embora o uso da camisinha seja melhor que a falta de seu uso, ninguém deveria considerá-la
absolutamente segura. Em nota acima, o próprio Ministério da Saúde admite falhas. A verdade
é que a camisinha não é uma solução apropriada para se proteger contra a epidemia da AIDS.
Antes, é uma estratégia provisória e de arranjo.
Entendemos que não é mediante o uso de um preservativo, mas ensinando aos jovens,
adolescentes e á população a integridade sexual e como usar este presente da sexualidade
humana, conforme ensinado nas Sagradas Escrituras.
Somos a favor do uso do preservativo, desde que usado no contexto do casamento para
controle de natalidade, ou para evitar doenças sexualmente transmissíveis, ou outras doenças,
tais como Hepatite "C", etc...Mas, precisamos nos posicionar contra, se a mesma for utilizada
para a prática sexual fora do casamento, isto porque somos contra, não á camisinha, mas á
fornicação, ao adultério, á imoralidade, á prostituição, etc. Somos contra, não á camisinha,
mas ao sexo desordenado que "indiretamente" está sendo incentivado pelas campanhas de
prevenção á AIDS.
Nosso Contexto: Liberalismo Sexual
No Brasil, país de sol tropical e do Carnaval, é onde à ardência da carne corresponde a uma
filosofia humanista do deixa estar, deixa fazer. Somos um dos campeões mundiais de
prostituição infantil. Transformamo-nos numa das mecas do turismo sexual, pois o sexo é o
"deus" mais adorado em nossos dias. Somos um dos maiores, talvez o maior, exportador
mundial de travestis. Ocupamos lugar de destaque nas estatísticas de incidência da Aids. As
nossas crianças de hoje são erotizadas, e vemos isto em programas infantis na televisão. Faz
anos que, consciente ou inconscientemente, algumas apresentadoras de programas infantis
dão aulas de sedução. A Xuxa é a pioneira e merece ser considerada um símbolo da
permissividade da televisão brasileira. Mas Xuxa existe em função de um contexto. O contexto
é uma televisão sem freios, só comércio e busca de audiência, mais voltada para a formação
de consumidores que de seres humanos.
A TV é uma vitrine. Mas há um contraste enorme entre a vitrine e a vida real. Neste país onde
não se vê nada de mais em ensinar às crianças a dança da garrafa. Nas novelas, programas,
filmes, onde o sexo é livre como o vento, natural como o ar que se respira, tudo é bonito e
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sempre acaba bem. Só que na vida real as mães adolescentes têm a saúde debilitada,
abandonam a escola, geram bebês malformados, trazem um encargo a mais à família –
quando há família – e agravam a própria pobreza. O cigarro já não lhe garante um vôo numa
Asa Delta ou uma corrida de Jet Ski, mas um câncer na boca ou nos pulmões. Na vitrine, a
bebida lhe dá o sonho de Ter uma garota sensual e rica ao seu lado, mas a realidade é um
pesadelo; um casamento desfeito ou uma cirrose hepática, ou uma batida de carro e sem
dinheiro para pagar o concerto e também sem aquela mulher bonita da tela. Uma coisa é a
vitrine, outra bem diferente, é a vida real.
E é dentro deste contexto que a única estratégia que se veicula hoje para combater a AIDS é:
você pode fazer sexo á vontade e com quem quiser desde que use a camisinha.
Resultados da Permissividade:
Isto é permissividade sexual. Veja os resultados desta estratégia arranjada, que ainda pensa
estar combatendo a AIDS adotando "indiretamente" a liberação sexual:
" No início da epidemia, a doença estava restrita a homossexuais e usuários de drogas
injetáveis que compartilhavam seringas infectadas. No Brasil, em 1988, quase metade dos
portadores de Aids eram gays e um em cinco era usuário de drogas. Nos últimos cinco anos, as
relações heterossexuais passaram a ser a principal forma de transmissão da doença. O
resultado é que aumentou dramaticamente o número de mulheres atingidas. Na década de 80,
havia uma mulher contaminada para cada dezessete homens na mesma situação. Agora, a
proporção é de uma para dois". ( grifos nosso )
Esta estratégia ao invés de resolver o problema da AIDS, está criando um outro problema – a
promiscuidade sexual. Cada ano que passa, um número muito maior de adolescentes está
engravidando e destruindo suas vidas. 700.000 adolescentes entre 10 e 19 anos deram à luz no
ano passado em hospitais do SUS, segundo o Ministério da Saúde. Dessas, 32.000 tinham entre
10 e 14 anos. Não entram nesses totais as que recorreram a hospitais particulares ou clínicas
clandestinas. O número de casos extraconjugais tem crescido e em conseqüência o aumento
de separações, divórcios, filhos separados de seus pais, aumento da prática do aborto
clandestino, a prostituição infantil, etc...
Hoje em dia, os jovens estão começando a ter relações sexuais cada vez mais cedo. Também
pudera, viver em nossos dias é tropeçar em sexo em todos os lugares o tempo todo.
Mensagens eróticas, ora refinadas, ora escandalosas , escorrem dos outdoors, de cartazes nos
muros, das telas de televisão, de filmes e de músicas, etc...A intimidade tornou-se uma
mercadoria manipulada por artistas, símbolos sexuais e até por políticos.
A revista Veja, em sua edição 1620, de 20 de outubro de 1999, trás uma estatística do
Ministério da saúde/Sebrap, onde aponta que a razão do aumento de gravidez de
adolescentes deve-se á imaturidade e deles começarem a vida sexual cada vez mais cedo. A
pedagoga Maria Alves de Toledo Bruns, autora do livro Adolescente e Paternidade, falando
sobre a gravidez na adolescência, diz: "O jovem que faz isto perde grande parte da sua
adolescência. É como se envelhecesse dez anos antes do previsto". Os efeitos para a gravidez
precoce são devastadores, mas o adolescente no calor da hora, não tem maturidade suficiente
para colocar a razão acima da emoção. O sexo ilícito é apresentado com charme no cinema,
nos programas de televisão e nas revistas. Vamos nos acostumando e aceitando o sexo
desordenado como parte da vida moderna. Mas é exatamente isto que as campanhas de
prevenção de Aids incentiva.
Dizer para um adolescente que ele pode "transar" com quem quiser desde que se previna,
distribuindo para eles camisinhas, é como distribuir entre eles, copos de água para apagarem
um incêndio num prédio. Ou seja, distribuir camisinhas para os adolescentes e jovens e dizer a
eles, façam sexo a vontade desde que usem o preservativo, é uma tremenda
irresponsabilidade. Entender que esta estratégia é fazer sexo seguro, é o mesmo que colocar
um revólver em suas mãos com apenas uma bala, girar o tambor, mandar que apontem para
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suas cabeças e que puxem o gatilho. Talvez a bala não saia no primeiro tiro, nem no segundo,
quem sabe só vai sair no décimo segundo tiro. Sexo com camisinha é como brincar de roleta
russa. Eles podem morrer neste jogo perigoso.
Dentro deste contexto, somos contra a camisinha pois trata-se de uma estratégia que
apresenta vários problemas, além dos que já foram expostos:
Um desses problemas é que o número de parceiros que alguém tenha realmente não importa,
desde que use a camisinha. Perguntamos ao leitor: em se tratando de uma enfermidade fatal e
transmissível como a AIDS, você poderia se dar ao luxo de fazer sexo com uma pessoa
contaminada apenas usando a camisinha ? Seja honesto e responda.
Dizer a alguém que ela pode fazer sexo com uma pessoa portadora do vírus hiv e que ela
estará segura desde que use a camisinha, é como dizer a um motorista que está dirigindo
bêbado que use cinto de segurança. Perguntamos: Motorista e pedestres estarão seguros ?
O próprio Ministério da Saúde, conforme mostramos acima, em nota oficial declara que a
segurança é de 95 %.
Perguntamos ao leitor, se você soubesse que 05 % do vôos de uma determinada empresa de
aviação está caindo , você tomaria um vôo desta empresa ou embarcaria numa que lhe
garantisse 100 % de segurança ?
"São só 5 % ! ". Alguém pode argumentar. Pode ser que aquele seu vôo não faz parte dos 5 %,
mas, e se fizer ?
Um outro problema: nenhum médico de renome em qualquer parte do mundo teria contato
sexual, sabedor do fato, com uma pessoa portadora do hiv, simplesmente porque está usando
um preservativo supondo que isto a protegeria da AIDS.
Considere a ironia da situação: Se ambos os parceiros não estão contaminados, as camisinhas
não desempenham qualquer papel no campo da prevenção. Mas se um dos parceiros está
contaminado, nenhum médico encorajaria uma pessoa a fazer sexo com a outra pessoa
infectada, meramente porque está usando camisinha. Você faria ?
Redução ou Eliminação dos riscos ?
A estratégia precisa ser mudada. A solução não é a camisinha e nem a redução de parceiros. A
filosofia de redução de riscos adotada pelo uso do preservativo aceita uma certa taxa de
mortes, mas a filosofia de eliminação de riscos não aceita nenhuma taxa de morte. Temos a
opção de escolher entre a redução do número de mortes pela contaminação do vírus ou a sua
eliminação. Visto que somos nós e nossos filhos que estão correndo este risco, qual você acha
ser a única escolha certa ? Redução ou eliminação ? Camisinha ou abstnência ?
O único meio 100 % seguro de se fazer sexo é aquele ensinado exatamente por quem fez o
sexo: DEUS. O único meio 100% seguro de se fazer sexo é a abstinência até o casamento ou
seguir um comportamento sexual monogâmico.
O que Deus diz sobre o sexo ? Veja algumas respostas :
1. O que Deus diz sobre a prática sexual antes do casamento ? I Tes 4:3-8
"Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição; que
cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com o desejo de
lascívia, como os gentios que não conhecem a Deus; e que, nesta matéria, ninguém ofenda
nem defraude a seu irmão; porque o Senhor contra todas estas coisas, como antes vos
avisamos e testificamos claramente, é o vingador, porquanto Deus não nos chamou para a
impureza, e sim para a santificação.
Dessarte, quem rejeita estas coisas não rejeita o homem, e sim a Deus, que também vos dá o
seu Espírito Santo."
2. O que Deus diz sobre a prática sexual extraconjugal ( adultério ) ? Pv 5: 1-11
"Filho meu, atende a minha sabedoria; à minha inteligência inclina os ouvidos para que
conserves a discrição, e os teus lábios guardem o conhecimento; porque os lábios da mulher
adúltera destilam favos de mel, e as suas palavras são mais suaves do que o azeite; mas o fim
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dela é amargoso como o absinto, agudo, como a espada de dois gumes. Os seus pés descem à
morte; os seus passos conduzem-na ao inferno.
Ela não pondera a vereda da vida; anda errante nos seus caminhos e não o sabe. Agora, pois,
filho, dá-me ouvidos e não te desvies das palavras da minha boca. Afasta o teu caminho da
mulher adúltera e não te aproximes da porta da sua casa; para que não dês a outrem a tua
honra, nem os teus anos, a cruéis; para que dos teus bens não se fartem os estranhos, e o
fruto do teu trabalho não entre em casa alheia; e gemas no fim de tua vida, quando se
consumirem a tua carne e o teu corpo"
3. O que Deus diz sobre a prática homossexual ? Rm 1:18, 24-27;
"A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a
verdade pela injustiça;" v. 18
" Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio
coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em
mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente.
Amém!
Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o
modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os
homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua
sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a
merecida punição do seu erro." Vv. 24-27
4. O que Deus diz sobre a prática sexual com animais ? Lv 18:23
"Nem te deitarás com animal, para te contaminares com ele, nem a mulher se porá perante
um animal, para ajuntar-se com ele; é confusão."
5. O que Deus diz sobre a permissividade sexual ? I Co 6:13,18-20 )
"Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os
membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não. Ou não sabeis que o
homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os
dois uma só carne. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele. Fugi da impureza.
Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a
imoralidade peca contra o próprio corpo.
Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual
tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?
Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo."
6. O que Deus diz sobre a prostituição ? Pv 7:6-23
"Porque da janela da minha casa, por minhas grades, olhando eu, vi entre os simples, descobri
entre os jovens um que era carecente de juízo, que ia e vinha pela rua junto à esquina da
mulher estranha e seguia o caminho da sua casa, à tarde do dia, no crepúsculo, na escuridão
da noite, nas trevas.
Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com vestes de prostituta e astuta de coração. É
apaixonada e inquieta, cujos pés não param em casa; ora está nas ruas, ora, nas praças,
espreitando por todos os cantos.
Aproximou-se dele, e o beijou, e de cara impudente lhe diz:
Sacrifícios pacíficos tinha eu de oferecer; paguei hoje os meus votos.
Por isso, saí ao teu encontro, a buscar-te, e te achei.
Já cobri de colchas a minha cama, de linho fino do Egito, de várias cores;
já perfumei o meu leito com mirra, aloés e cinamomo.
Vem, embriaguemo-nos com as delícias do amor, até pela manhã; gozemos amores.
Porque o meu marido não está em casa, saiu de viagem para longe.
Levou consigo um saquitel de dinheiro; só por volta da lua cheia ele tornará para casa.
Seduziu-o com as suas muitas palavras, com as lisonjas dos seus lábios o arrastou.
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E ele num instante a segue, como o boi que vai ao matadouro; como o cervo que corre para a
rede, até que a flecha lhe atravesse o coração; como a ave que se apressa para o laço, sem
saber que isto lhe custará a vida"
Não estamos negando a sexualidade, pois esta faz parte dos desígnios de Deus para nós seres
humanos, e não temos como colocar uma camisinha no coração. Apenas estamos dizendo que
deve-se adiar sua prática para o momento certo. E adiamento não é a mesma coisa que
negação. Não podemos negar nossa sexualidade. Ela faz parte da essência de nossa
personalidade. Deus não fez nossos corpos para serem as prisões de nossas almas. Temos
consciência disto. Não podemos negar nossos apetites sexuais, mas também não devemos
gratificá-los sempre que tivermos vontade, aderindo assim a promiscuidade.
"Existem ocasiões em que o trabalho precisa ser adiado. Umas boas férias pode resultar num
trabalho melhor. Há épocas em que se deve adiar a comida. Um prato mais saboroso está
sendo preparado. Da mesma maneira, existem circunstâncias em que as expressões da
sexualidade devem ser adiadas" .
Quando se pensa num relacionamento maduro, dentro do casamento, onde o sexo é muito
melhor, e quando se está livre da contaminação do vírus da morte, creio eu, devem ser
motivos suficientes para adiarmos a gratificação da nossa sexualidade. Dentro da vontade de
Deus, o sexo é 100 % seguro. Violar estes princípios, é colocar a vida em risco. A única
proteção eficazmente segura é a obediência a Deus. Não pratiquem a imoralidade, a
fornicação, o adultério, a prostituição e a homossexualidade .
Em Gálatas 6:7 , Paulo adverte: "Não vos enganeis; de Deus não se zomba: pois tudo o que o
homem semear, isto também ceifará"
Obedeça a Deus e Ele abençoará a tua vida !!!
NEGRITUDE E CRISTIANISMO
Uma reflexão sobre a Teologia Negra na pós-modernidade
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
www.fatebra.com.br
[email protected]
I. INTRODUÇÃO
A Teologia Negra é uma forma de teologia de libertação.1 Surge com o movimento norteamericano denominado Poder Negro, por volta da década de sessenta. Embora, a luta dos
negros contra a opressão nas formas da escravidão e do racismo tenha história registrada
desde alguns séculos, é na década de sessenta que o movimento se organiza no sentido da
realização de conferências e debates, da redação de documentos, do estabelecimento de
metas e estratégias, enfim, da busca de uma identificação própria. Não há um líder específico
que possa ser considerado o "pai" do movimento. Martin Luther King Jr., é considerado um
importante precursor e James H. Cone, o mais profícuo escritor dentro da Teologia Negra.
O Poder Negro, enquanto movimento, é principalmente uma resposta à opressão dos brancos
que dominam a sociedade em todos os seus aspectos, o chamado Poder Branco. O fim da
escravidão não implicou no fim do racismo e a opressão assumiu novas formas.
Os escravos foram libertos em 1863, mas a nação se recusou a dar-lhes terra para dar sentido
à sua emancipação (...) Nas palavras de Frederick Douglas, a emancipação tornou os escravos
"livres para a fome, livres para o inverno e para as chuvas do céu...livres sem um teto para os
cobrir, sem pão para comer, sem terra para cultivar...Nós lhes demos liberdade e fome ao
mesmo tempo".2
Os negros não têm acesso à política e ao poder, de modo que não podem dialogar com a
sociedade, nem expressar suas idéias e assim contribuir de forma igual na sua formação; há
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disparidades nos sistemas de saúde, ensino, habitação e trabalho, uma vez que as
oportunidades não são iguais para negros e brancos, o que gera uma diferença no nível de vida
sócio-econômico entre as raças; a cultura negra foi suplantada pela cultura branca; na religião
há franca discriminação e imposição teológica que causa divisão em igrejas negras e igrejas
brancas. Para o Poder Negro, os brancos falharam na missão de promover uma sociedade
digna, justa e igualitária. Devido a esse colapso social, os negros passam a questionar e a
reivindicar a posição do Poder Branco e crêem ser e ter a solução para o caos em que se
encontra essa sociedade.
Para o Poder Negro, o Poder Branco e a consciência negra estão corrompidos. O Poder Branco
é poder sem consciência, enquanto a consciência negra é consciência sem poder.3 Daí, o
Poder Negro apela à consciência do Poder Branco expondo o seu fracasso (pecado) enquanto
governo e religião, exigindo arrependimento e restituição, e procura dar poder à consciência
negra, resgatando e reconstruindo a história e a tradição do povo e da cultura negros, de
maneira que possa redescobrir sua identidade e elevar sua estima.
Embora haja muitas correntes na teologia negra, a maioria dos proponentes afirma o
argumento de Cone de que suas tarefas essenciais são formar uma nova compreensão da
dignidade negra, opor-se ao racismo branco, eliminando-o por fim (...). Sendo assim, a teologia
negra é teologia engajada, que tem um compromisso com a melhoria da condição dos negros
e que está travando uma batalha consciente contra o racismo branco.4
Dessa maneira, a Teologia Negra vai trabalhar em dois níveis de libertação: da opressão social
dos brancos e da consciência individual dos negros.
A TEOLOGIA NEGRA
Sendo a Teologia Negra uma forma de teologia de libertação, a grande questão em evidência é
a salvação e, salvação em teologia, está relacionada à cristologia. Ou seja, é a leitura da pessoa
e da obra de Jesus Cristo que vai dar base à Teologia Negra. A evidência que os evangelhos dão
a um ministério de Jesus Cristo voltado para os fracos e oprimidos de sua época, vão sustentar
a posição teológica negra de que a salvação é algo para ser experimentado na vida presente e
não apenas num futuro distante. Neste ponto, aparentemente, parece não discordar da
teologia tradicional que também consente numa salvação de vida para o presente, embora
esta seja primordialmente uma experiência espiritual. Para a teologia negra, a salvação é mais
do que isso, ou talvez nem isso, mas, assume dimensões sociais.
O evangelho conforme pregado pelos brancos não é capaz de responder às necessidades
sociais dos negros. A salvação espiritual, conforme a teologia tradicional, só é capaz de garantir
uma vida espiritual eterna para o futuro e nada mais. Entretanto, o conceito de futuro para a
teologia negra é emprestado da teologia da esperança de Jürgen Moltmann que diz, em
síntese, que o futuro já é.5 A esperança (futuro) está relacionada com o presente como meio
de transformar a realidade. Outro teólogo que irá contribuir para o pensamento teológico
negro é Dietrich Bonhoeffer, com sua teologia secular de uma igreja voltada para o mundo.6
Então, a salvação tem que assumir formas significativas na vida presente. O termo salvação,
inclusive, é substituído pelo termo libertação. Foi para isso que Jesus Cristo veio e para isso
que lutou: para proclamar libertação aos cativos e pôr em liberdade os oprimidos, numa
citação de Isaías 61.
...os teólogos negros argumentam que considerar que a salvação tem uma conotação
exclusivamente "espiritual" é truncar irresponsavelmente o seu significado; pelo contrário,
dimensões econômicas, políticas e sociais também são inerentes ao conceito.7
A salvação é dizer: "Acredito na luta revolucionária que Jesus, o Messias negro, iniciou.
Acredito no sacrifício que ele quis fazer. Acredito que é necessário que eu empenhe toda a
minha vida na luta do povo negro contra a opressão de um situação estabelecida pelo inimigo
branco. Acredito que devo estar totalmente envolvido nesta luta. Não há outro meio de
salvação.8
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O verdadeiro significado da pessoa e obra de Jesus Cristo está no fato de que veio para
oferecer libertação da condição humana presente. É neste ponto, que a teologia negra vai se
identificar com o ministério de Jesus Cristo e se distanciar dos conceitos cristológicos da
teologia tradicional. O exemplo de Jesus Cristo e não uma reflexão sobre sua pessoa e
natureza é o que deve inspirar a Igreja.9 Na verdade, a teologia negra não consegue ver, nem
aceitar o Jesus Cristo conforme pregado e vivido pelos brancos, porque todo o processo de
opressão do povo negro na história através da escravidão e do racismo teve o consentimento
da igreja institucional.
As pesquisas históricas de G. S. Wilmore indicam que desde os primórdios dos negros na
América do Norte, distorções deliberadas do cristianismo foram perpetradas de tal modo que
o cristianismo não alterasse o relacionamento existente entre o senhor e o escravo mas, pelo
contrário, sancionasse a situação existente.10
Daí, a necessidade de se rever a teologia presente que na prática,11 não condiz com o caráter
do Jesus bíblico. A salvação, então, não se encontra na aceitação da pessoa de Jesus Cristo,
mas na identificação com o seu ministério terreno de libertação. Sendo assim, assume uma
dimensão muito mais social do que espiritual. Enquanto a salvação foi encarada como um
aspecto de decisão espiritual, nada ou pouco produziu em termos sociais. Os indivíduos
supostamente salvos (e brancos) não produziram uma sociedade melhor.
A verdadeira salvação deve se manifestar na transformação social e na mudança de
consciência. Para que isso ocorra é necessário poder. Daí, os termos Poder Negro e Branco.
Nathan Wright Jr., teólogo negro, define o conceito de poder:
Tornar-se o que cada um deve ser exige a presença, a constituição do poder. Há séculos,
Aristóteles disse o que, desde então, se tornou a expressão mais clássica do destino humano.
Ele declarou que o que uma coisa será, ela é, seja um cavalo ou um homem. O ingrediente não
enunciado que ele supôs era a presença do poder. Todos os homens precisam do poder de
tornar-se, de vir a ser. Com efeito, as palavras gregas que significam poder (bia) e vida (bios)
refletem a inter-relação essencial de poder e vida. O poder é básico para a vida. Sem poder a
vida não pode tornar-se o que ela deve ser.
Para dar a resposta devida ao problema humano, as instituições que se interessam pelos
últimos fins sociais devem ser instituições que produzam poder. Devem produzir o poder ou se
tornarem capazes de tal, facilitando o crescimento humano na auto-direção para seu
florescimento e realização. Ao contrário, qualquer força que cria dependência ou que limita o
progresso auto-dirigido para a maturidade e auto-suficiência, complica o poder humano. Ela
desvirtua a condição humana e subverte a finalidade divina do crescimento humano.12
O poder, conforme o conceito teológico negro, é o instrumento capaz de levar a vida à
realização plena. O poder necessário à transformação social é aquele que advém das
instituições que governam a sociedade. Por isso, o Poder Negro reivindica a posição do Poder
Branco. Nas palavras de Wright Jr., o Poder Branco criou dependência, limitou o progresso, a
auto-suficiência, desvirtuou a condição humana e subverteu a finalidade divina do crescimento
humano, principalmente no que diz respeito aos negros. O Poder Branco, conforme já foi dito,
está com a consciência corrompida. Essa corrupção é vista pela Teologia da Libertação nos
sistemas capitalistas de governo, enquanto a Teologia negra a vê no racismo branco.
A partir daí, o Poder Negro se vê como povo escolhido de Deus com missão específica de
libertação da sociedade, das suas estruturas corrompidas, numa clássica leitura
contemporânea da história do povo de Israel narrada nas páginas da Bíblia. Assim como Deus
se identificou com os povos oprimidos do mundo antigo através da nação de Israel, no século
XX, o povo negro simboliza essa identificação no presente.
Esse poder reside no homem e é um dom de Deus. Portanto, a mudança de consciência de que
fala a Teologia Negra, nada tem a ver com o conceito teológico tradicional de regeneração,
antes é uma afirmação da própria existência, um descobrir de identidade.
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O homem é visto como quem assume a responsabilidade consciente pelo seu próprio destino.
Este modo de entender fornece um contexto dinâmico e alarga os horizontes das mudanças
sociais desejadas. Nesta perspectiva, exige-se o desdobrar de todas as dimensões do homem um homem que se faz a si mesmo no decurso da sua vida e no decurso da história. A conquista
paulatina da verdadeira liberdade leva à criação de um homem novo e de uma sociedade
qualitativamente diferente.13
A Teologia Negra é uma ferramenta de conscientização do que significa ser negro. A volta às
origens do povo e cultura negros e o resgate da própria história vão contribuir para mostrar
que o negro não veio ao mundo para ser escravo. O termo negritude é muito aplicado no
sentido de negar toda imposição branca, seja ela teológica, cultural, etc.
Então, o conceito de salvação para a Teologia Negra nada mais é do que libertação de
consciência do indivíduo e libertação de estruturas sociais opressoras. Não há graça. A
salvação ou libertação envolve uma participação na luta social e tem que ser conquistada. O
problema do homem é extrínseco e não intrínseco, caso fosse o contrário, a história da
humanidade seria diferente. O pecado é visto como sendo de natureza estrutural e não
essencial, sociológico e não ontológico.
O PENSAMENTO BATISTA E A TEOLOGIA NEGRA
Seria possível falar em uma Teologia Negra Batista? Há dificuldades em conciliar os dois
pensamentos teológicos devido a hermenêutica que ambos empregam. A hermenêutica
batista baseia-se numa análise histórico-gramatical oriunda da Reforma Protestante, enquanto
a hermenêutica da Teologia Negra se vale do método histórico-crítico oriundo do Liberalismo.
O choque entre os pensamentos vai se dar principalmente na maneira como entendem o
conceito de liberdade.
O pensamento batista até concorda com a proposição de que o homem tem responsabilidade
suficiente para assumir o seu próprio destino, mas não vai tão longe como o pensamento
negro que chega atribuir a ele a própria conquista de sua liberdade. Para o pensamento
batista, o homem é capaz apenas de responder, de forma positiva ou negativa, a liberdade
oferecida por Deus na pessoa de Jesus Cristo, enquanto o pensamento negro é tipicamente
humanista, no sentido que o homem não depende de ninguém além de si mesmo para
conquistar a sua salvação.
...o homem é competente para "optar pela salvação ou pela perdição da sua alma". Ele não o é
"para salvar-se a si mesmo", uma vez que "Cristo é o único Salvador". No entanto, "é
competente para aceitar ou rejeitar esse mesmo Salvador".14
Na verdade, um dos aspectos que confere dignidade ao homem e que, pressupõe-se ser
oriundo de sua imagem e semelhança de Deus, é a sua liberdade de escolha e ambos os
pensamentos concordam nisso. Entretanto, para o pensamento batista essa liberdade
derivada de Deus só pode realizar-se plenamente nele através de Cristo ao passo que, para o
pensamento teológico negro, basta que esta liberdade seja afirmada existencialmente.
A diferença aqui é devido principalmente à questão do pecado. Para os batistas, tal questão
está bem clara e definida. De fato, o pecado afetou a natureza humana corrompendo sua
liberdade de escolha de maneira que, após a queda o homem é propenso à escolhas erradas.
Já a Teologia Negra despreza a questão e segue a linha das demais teologias de libertação, que
têm sua base na teologia liberal com um forte otimismo na ascensão do homem para o bem.
No que concerne a questão Igreja e Estado, o pensamento batista é claro em definir a
liberdade na base da separação entre as duas instituições. A liberdade do homem pressupõe
esta separação. O Estado não tem o direito e nem pode interferir no aspecto religioso da vida
humana, devendo apenas garantir o livre exercício da liberdade religiosa. Da mesma forma,
não cabe à Igreja interferir nos assuntos do Estado, devendo submeter-se a ele no que tange
ao cumprimento das leis civis.
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Ambos, Igreja e Estado são instituições estabelecidas por Deus, porém com missão distinta e
assim, devem cooperar mutuamente entre si. Apesar de defender uma igreja que seja sal e luz
e perpetre toda a sociedade com a mensagem do evangelho, a verdade é que esse conceito de
separação entre Igreja e Estado acabou por levar a nenhum envolvimento político por parte
dos batistas, à alienação das questões sociais e até mesmo à repugnância por assuntos desse
tipo. Nesse ponto, o pensamento teológico batista, como o pensamento evangélico em geral,
se tornou passivo e mero espectador dos acontecimentos.
Do outro lado, dizer que o pensamento teológico negro defende uma união entre Estado e
Igreja, talvez seja "forçar" um pouco, mas não se pode negar que sua forte ênfase num
engajamento político-social deixe isso subentendido. O próprio histórico da Teologia Negra dá
a entender que esta é derivada do Poder Negro que é um movimento sócio-políticoeconômico; a salvação vista sob a ótica de uma libertação da opressão de estruturas sociais e a
igreja como importante meio de propagar essa salvação, também ajudam nessa compreensão;
não há uma crítica aberta por parte dos teólogos negros ao fato histórico da igreja ligada ao
Estado, antes, as acusações restringem-se a omissão e a permissão da igreja quanto ao aspecto
da escravidão.
A diferença entre as duas perspectivas se deve ao conceito de reino de Deus. De um lado, o
pensamento batista crê num reino de Deus instaurado por Jesus no coração do homem e que
se concretizará na sua volta, ao passo que o pensamento teológico negro vê o reino de Deus
como uma transformação da sociedade presente, contemporânea. A revolução para o
primeiro se dá no interior do homem, paulatinamente, enquanto para o segundo acontece no
exterior, radicalmente. Daí, as diferenças de posturas entre as duas teologias, sendo uma
passiva e outra ativa.
Podemos ver, então, que teologicamente há um abismo entre os dois tipos de pensamentos.
Redefinir o conceito de liberdade é, em ambos os casos, redefinir praticamente toda a
teologia. A Teologia Negra tem seu papel importante e levanta questões fundamentais para as
quais a teologia tradicional não estava voltada. Mas, no afã de buscar soluções para a
experiência negra comprometeu demais as verdades reveladas na Bíblia.
Os aspectos políticos e sociais são importantes e a missão da Igreja, de alguma forma, deve se
estender até eles, porém, sem nunca prescindir da sua missão espiritual que é primordial e
prioritária, uma vez que a raiz do problema do ser humano é espiritual. Um diálogo entre as
duas teologias não deixa de ser interessante, onde cada uma pode contribuir com a outra na
avaliação desse conceito de liberdade. Se deve e pode haver uma conciliação entre teologia
batista e teologia negra, talvez esta se dê mais no âmbito da eclesiologia. Ou seja, a maneira
como as verdades teológicas são traduzidas para prática litúrgica e do discipulado devem
preservar a cultura de cada povo. Sendo a liberdade do indivíduo um princípio batista, o negro
batista tem todo o direito de celebrar e viver essa liberdade na linguagem que lhe é própria e
que melhor lhe identifique.
CONCLUSÃO
As questões levantadas em geral pelas teologias de libertação mostram o perigo de uma fé que
não é expressa de forma adequada com aquilo que diz ser a verdade. Também que o homem
está buscando constantemente respostas para os problemas de sua existência. Nas palavras do
apóstolo João, a verdade permanece na Igreja e com ela estará para sempre. Entretanto, essa
verdade é manifesta em amor.15 O Dr. Russell Shedd, faz uma avaliação interessante sobre o
impacto das teologias de libertação:
Seguramente, a atração desta teologia moderna, tanto para católicos como para protestantes
ecumênicos, deve-se precisamente ao fato de que os evangélicos não apresentam um modelo
de amor prático que impressione este mundo chamado "cristão" que é a América Latina.16
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Mais que um desafio apologético, as teologias de libertação reclamam da verdadeira Igreja de
Cristo uma postura que de fato expresse o amor cristão. Da mesma maneira que a Igreja não
deve abrir mão das verdades centrais da fé cristã, é certo que não pode, de forma alguma,
prescindir de uma práxis que seja resultante dessas verdades. Na realidade, tem custado caro
ao evangelho de Cristo todas as vezes que, na história da Igreja, se tem separado o elemento
fé (conhecimento) do elemento amor (prática).
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WILMORE, Gayraud S./CONE, James H. Teologia Negra. Trad. Euclides Carneiro da Silva. SP:
Paulinas, 1986.
1 Não se pode em absoluto duvidar de que a Teologia Negra nos Estados Unidos,
particularmente como ela é realizada no Projeto da Teologia
Negra, tenha sido influenciada pelo trabalho dos teólogos da libertação da América Latina.
Gayraud S. WILMORE/James H. CONE. Teologia
Negra. Trad. Euclides Carneiro da Silva. São Paulo: Paulinas, 1986 - p. 17.
2 Gayraud S. WILMORE/James H. CONE. Op. cit. p. 42
3 Gayraud S. WILMORE/James H. CONE. Op. cit. pp. 30-31.
4 CRUZ, V. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Ed. Elwell. Vol. III. São Paulo: Vida
Nova, 19 (?) - pp. 491-492.
5 Ver a análise da Teologia da Libertação por Harvie CONN in Teologia Contemporânea. Ed.
Stanley GUNDRY. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Mundo Cristão, 1987 - p. 292 e 298.
6 Ibid. p. 292.
7 CRUZ, V. Op. cit. p. 492.
8 Albert B. CLEAGE in Não Desperdicemos o Espírito Santo. Gayraud S. WILMORE/James H.
CONE. Op. cit. p. 210. Grifos do autor deste trabalho.
9 LOPES, Augustus Nicodemus. A Hermenêutica da Teologia da Libertação: Uma análise de
Jesus Cristo Libertador, de Leonardo Boff. Fides Reformata, Vol. III, No. 02. São Paulo: Centro
Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, 1998 - p. 85.
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Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista
Clínico, Mestrando em Teologia- www.fatebra.com.br - www.iprb.com.br - [email protected] [email protected]
10 CRUZ V. Op. cit. p. 492.
11 A palavra grega práxis se torna chave para as teologias de libertação. Significa fazer, agir,
praticar ou exercitar uma arte, uma ciência ou habilidade. Na teologia da libertação, o termo é
usado para o engajamento sócio-político da igreja em favor dos pobres e oprimidos. Augustus
Nicodemus LOPES. Op. cit. p. 71.
12 Nathan Wright Jr., in Poder Negro: Oportunidade Religiosa. Gayraud S. WILMORE/James H.
CONE. Op. cit. pp. 60-61.
13 GUTIÉRREZ, Gustavo citado por Harvie CONN in Teologia Contemporânea. Ed. Stanley
GUNDRY. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Mundo Cristão, 1987 - p. 278.
14 WATSON, S. L., citado por Israel Belo de AZEVEDO in A Celebração do Indivíduo. A formação
do pensamento batista brasileiro. Piracicaba: Editora Unimep; São Paulo: Exodus, 1996 - p.
236.
15 II João 2,3.
16 SHEDD, Russell P. Teologia da Libertação. Harvie CONN/Richard STURZ. São Paulo: Mundo
Cristão, 1984 - p. 06.
Fonte: Revista Fides Reformata
O Ensino de Calvino Sobre a Responsabilidade Social Da Igreja
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
www.fatebra.com.br
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Introdução
A Reforma Protestante ocorrida no século XVI não foi somente um movimento espiritual e
eclesiástico. Teve também aspectos e dimensões políticas e sociais. Este último aspecto é o
tema deste ensaio. Embora João Calvino, um dos maiores líderes da Reforma, ficou conhecido
pelo seu vasto e eficaz ministério como teólogo, pregador e pastor, existe um outro aspecto do
seu ministério, menos enfatizado entre as igrejas evangélicas no Brasil, que precisa ser
resgatado em nossos dias, que é o aspecto social do seu ensino e prática pastoral.
Calvino, bem como os outros reformadores, deu atenção aos problemas sociais de sua época.
Talvez pelo fato de ser da segunda geração de reformadores, Calvino podia ter uma visão mais
ampla e amadurecida sobre o assunto. Ele esforçou-se para entender qual deveria ser o papel
da Igreja cristã na reconstrução de uma sociedade justa que refletisse a vontade de Deus em
termos de justiça social. Essa questão (que era essencialmente teológica) era extremamente
aguda para os reformadores, particularmente pelo fato de viverem numa época e numa
situação de grandes problemas sociais. Não é de se admirar que em suas Institutas da Religião
Cristã, bem como em seus comentários (onde apropriado) Calvino freqüentemente trata de
questões relacionadas com a responsabilidade social da Igreja e do Estado.
Meu propósito é procurar entender e expor de forma breve qual é a responsabilidade social da
Igreja segundo João Calvino. Evidentemente, este ensaio não tem pretensões de originalidade.
O assunto, por sua importância, já mereceu pesquisas bem extensas e cuidadosas, como a do
francês André Biéler, publicada em português como O Pensamento Econômico e Social de
Calvino (Casa Editora Presbiteriana, 1990). As informações históricas da pesquisa de Biéler
servem de base para nossa reconstrução histórica no presente ensaio.
Devo começar com duas considerações importantes. Primeira, ao abordarmos o nosso assunto
não devemos dissociar o pensamento social de Calvino da sua teologia. Calvino era acima de
tudo um teólogo, um homem da Igreja. Ele não era um político, nem ativista social, mas
essencialmente um pastor e um estudiosos das Escrituras. Seu pensamento social
desenvolveu-se dentro da estrutura de seus pressupostos teológicos e bíblicos. Calvino
construiu a sua teologia social a partir da sua convicção de que Cristo é Senhor de todos os
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aspectos da vida humana, e de que a Palavra de Deus deve regular todas as áreas da vida. Por
esquecerem este ponto, alguns acabam representando erroneamente as idéias sociais de
Calvino, bem como os motivos que levaram o Reformador a se envolver com atividade social
na sua época.
A segunda consideração é que não devemos dissociar o pensamento social de Calvino da
época em que ele viveu. Embora sua teologia social brotasse de princípios bíblicos válidos e
atuais para todas as épocas, Calvino só poderia dar-lhes expressão dentro das circunstâncias
históricas em que viveu e labutou. Naquela época, a Igreja Católica Romana era o grande
poder econômico e político. Prevalecia naquela época o sistema econômico e social medieval e
a monarquia como sistema de governo. Seria injusto requerer de Calvino uma abstração
perfeita do seu contexto social, político e econômico, ao ponto de antecipar a democracia, a
formação de sindicatos, ou soluções completas para questões como a escravidão (embora ele
mesmo tenha se pronunciado contrário à escravidão, e ensinado que a legislação acerca da
escravidão na Bíblia limita, não justifica, este flagelo). Mesmo assim, veremos que Calvino é
extraordinariamente atual em quase tudo que formulou nesta área.
Genebra na Época de Calvino
A cidade de Genebra foi o local onde Calvino passou a maior parte de sua vida, pregando,
pastoreando e ensinando. Ali passou momentos de grande popularidade e também de
rejeição. Foi ali que sua teologia social amadureceu, à medida em que enfrentava os males
sociais que oprimiam Genebra bem como as demais cidades da Europa medieval.
O Governo de Genebra
Genebra, antes da Reforma e da chegada de Calvino, era um bispado, uma importante cidade.
Seu comando estava nas mãos de três autoridades: O bispo, que era não somente o chefe
espiritual da Igreja, o "príncipe de Genebra", como teoricamente, era o soberano da cidade,
com poderes para cunhar moedas, comandar a cidade em tempo de guerra, julgar apelações, e
perdoar crimes. Depois vinha o magistrado, incumbido da defesa da cidade, da guarda, e da
execução de prisioneiros. E por fim, o Conselho de Genebra, composto de Conselheiros de
entre os moradores da cidade, que julgavam as questões criminais concernentes aos leigos (os
pecados dos sacerdotes era competência do bispo), cuidavam do abastecimento da cidade,
das finanças da cidade, e mantinham a boa ordem durante a noite através da polícia. Este era
o sistema adotado pela maioria das cidades européias católicas.
Quando Genebra adotou oficialmente a Reforma (1536), o bispo foi despojado do seu poder, e
os Conselheiros assumiram suas funções. Durante o período de bispado em Genebra, a Igreja
Católica representada pelo bispo estivera acima do Estado. Com a expulsão do bispo, o
Conselho assumiu suas funções, e agora o Estado estava acima da Igreja (agora Reformada). A
Igreja permanecia ligada ao Estado, e estava debaixo do poder do Conselho de Genebra (cujos
Conselheiros agora eram protestantes), que tinha em suas mãos o poder de disciplinar,
designar os pastores, bem como a função de sustentá-los financeiramente.
A Situação Social em Genebra
Graves problemas sociais afligiam Genebra naquela época (bem como a Europa em geral).
Havia pobreza extrema, agravada por impostos pesados. Os trabalhadores eram oprimidos por
baixos salários e jornadas extensas de trabalho. Campeava o analfabetismo, e a ignorância;
havia aguda falta de assistência social por parte do Estado; prevalecia a embriagues e a
prostituição. Destacava-se o vício do jogo de cartas, que levava o pouco dinheiro do povo. As
trevas espirituais características da Idade Média refletiam-se nas condições morais e sociais
das massas. Essa era a situação que prevalecia em Genebra antes da chegada da Reforma
espiritual, a qual deu lugar, em seguida, a reformas sociais, econômicas e políticas, mesmo
antes de Calvino chegar à Genebra.
As Mudanças Introduzidas por Farel em Genebra
Guilherme Farel foi o grande líder destas mudanças em Genebra. Sob sua influência, o
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Conselho da cidade cria o Hospital Geral no antigo Convento de Santa Clara, para dar
atendimento médico aos pobres.
O Conselho também passou a regulamentar a vida dos seus cidadãos: proíbem-se as danças de
ruas, a polícia é mobilizada para manter a ordem nas ruas, são promulgadas leis que
regulamentam o uso dos bares, que proíbem jogo de cartas, blasfemar o nome de Deus, e
servir bebidas durante o horário do sermão. Torna-se proibido vender pão e vinho a preços
acima dos estipulados; são proibidos todos os dias santos, à exceção do domingo. Passa a ser
obrigatório a todos os cidadãos de Genebra irem ouvir o sermão de domingo, sob pena de
pesadas multas. E a instrução pública se torna obrigatória, pela primeira vez na Europa.
Evidentemente, nem todos em Genebra estavam satisfeitos com as pesadas proibições
impostas pelos Conselheiros, que por sua vez, seguiam a Farel. Embora as intenções fossem as
melhores possíveis, sabemos que leis por demais severas, que excedem os limites do razoável,
provocam insatisfação, mesmo entre crentes verdadeiros. Isso sem mencionarmos que
pessoas não regeneradas pelo Espírito Santo rejeitam e se revoltam contra leis que refletem o
caráter santo de Deus. "A carne não está sujeita à lei de Deus, e na verdade, nem pode estar"
(Romanos 8.7).
Foi a esta altura que Calvino chegou a Genebra. Ele estava apenas de passagem pela cidade.
Seus planos eram de prosseguir em frente e achar um local tranqüilo onde pudesse estudar e
escrever. Tinha na época 27 anos de idade, e havia acabado de publicar a primeira edição das
Institutas. Quando Farel soube que Calvino estava na cidade foi visitá-lo, e instou com o jovem
teólogo a que ficasse ali em Genebra, para ajudá-lo no trabalho de reforma. É conhecida a
história de como Calvino, após ter apresentado toda sorte de desculpas, finalmente rendeu-se,
aterrorizado pela maldição que o velho reformador invocou sobre ele, em caso de recusa.
Assim, ele ficou, para ajudar Farel a solidificar as reformas eclesiásticas e sociais em Genebra.
Em breve, Genebra iria tornar-se o centro espiritual e social da Reforma protestante na
Europa.
Foi ali em Genebra, trabalhando como pregador, mestre e pastor na Igreja de Genebra, e
lidando com as questões sociais mencionadas acima, que Calvino desenvolveu sua teologia
social. No que se segue, procuraremos sintetizar seus pontos principais, concentrando-nos no
que Calvino ensinou como sendo a responsabilidade social da Igreja de Cristo.
O Ensino de Calvino
A causa dos males sociais
Fundamental para entendermos o pensamento de Calvino nesta área é termos em mente que
para ele as causas da pobreza, miséria e a opressão, bem como da perversão e da corrupção
da sociedade humana, estavam enraizadas na natureza decaída do homem, que por sua vez,
remonta-se à Queda no Éden. Este princípio é crucial no entendimento de Calvino. Para ele, o
pecado do homem havia trazido toda sorte de transtorno à ordem social: Pela queda do
homem foi demolida toda ordem social, e em Adão tudo foi amaldiçoado por Deus, como está
escrito em Romanos 8.20-23, onde Paulo afirma que a criação de Deus está em cativeiro
imposto pelo pecado do homem.
A queda do homem introduziu perturbações profundas na sociedade humana, incluindo
distúrbios na vida conjugal e familiar. Para Calvino, o caos econômico é causado pela ganância
dos homens, e pela incredulidade de que Deus haverá de nos suprir as necessidades básicas,
conforme Cristo nos promete em Mateus 6.
Calvino denuncia neste contexto pecados sociais como: estocagem de alimentos (trigo),
monopólios, e a especulação financeira, como tendo origem no egoísmo e na avareza do
homem. Ele denunciava aqueles que preferiam deixar deteriorar-se o trigo em seus celeiros,
para que ali fosse devorado por bichos, e apodrecesse, ao invés de ser vendido, quando a
necessidade do povo se fazia sentir.
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Por identificar biblicamente a raiz dos transtornos sociais, Calvino estava em posição de
elaborar uma solução que atingisse o problema em seus fundamentos.
O Senhorio de Cristo
Um segundo princípio que norteava a teologia social de Calvino era que o Cristo vivo e
exaltado é Senhor de todo o universo. Os milagres que Ele exerceu sobre a ordem natural
(acalmar a tempestade, por exemplo; ou tirar uma moeda da boca do peixe) demonstram esta
realidade, diz Calvino.
Portanto, a obra de restauração realizada por Cristo não se limita apenas à nova vida dada ao
indivíduo, mas abrange a restauração de todo o universo — o que inclui a ordem social e
econômica. Desta forma, a atenção de Calvino como pastor e mestre, se estendeu para além
das questões individuais e "espirituais". Se Cristo era o Senhor de toda a existência humana,
era dever da Igreja dar atenção às questões sociais e políticas.
A Restauração da Sociedade
Para Calvino, a restauração inaugurada por Cristo ocorre inicialmente no seio da Igreja. É na
Igreja que a ordem primitiva da sociedade, tal qual Deus havia estabelecido, tende a ser
restaurada. Na Igreja, as diferenças exacerbadas entre as classes sociais, econômicas e raciais,
bem como os preconceitos delas procedentes, desaparecem, pois Cristo de todos faz um único
povo (Gl 3.28; Ef 2.14).
Não que Calvino cresse na total abolição destas classes. Ele concebia a coexistência harmônica
entre a Igreja e instituições como o Estado, a sociedade e a família, com as suas respectivas
estruturas e funcionamento. É na Igreja, porém, que as relações sociais de trabalho sofrem
profundas alterações, ensina o reformador. Os patrões continuam patrões, mas aprendem a
exercer sua autoridade sem opressão, ao passo que os empregados (que continuam
empregados) aprendem a serem subordinados sem recriminação. Na Igreja, diz Calvino, Jesus
Cristo estabelece entre os cristãos a justa redistribuição dos bens destinados a todos. Isto se
dava através da atividade diaconal, trazendo alívio para as necessidades dos pobres e
oprimidos, com recursos vindos dos ricos e abastados.
Devemos nos lembrar aqui que na época de Calvino todos os cidadãos de Genebra faziam
parte da Igreja, e haviam, pelo menos teoricamente, abraçado o Evangelho. Evidentemente
que Calvino fazia distinção entre os verdadeiros cristãos e os hipócritas. Mas em tese a Igreja
em Genebra era tão extensa quanto os limites da cidade e o número de seus cidadãos. Quando
Calvino falava em restauração social, ele tinha em mente uma sociedade civil governada por
cristãos reformados, que aplicassem os princípios bíblicos às questões sociais, políticas e
econômicas. Ou seja, um Estado que fosse orientado pela Igreja no exercício de suas funções.
É também importante notar que para Calvino a reforma da sociedade não é completa nem
perfeita, visto que os efeitos do pecado não são de todo eliminados na presente época. É uma
restauração parcial, portanto. Ela não consegue estabelecer plenamente a justiça no mundo
presente. Ao mesmo tempo, ela não abole determinados aspectos da ordem social:
permanece a hierarquia determinada por Deus entre o homem e a mulher, o patrão e o
empregado, os pais e seus filhos.
Aplena abolição dos distúrbios agora presentes da ordem social (as injustiças, a opressão, a
corrupção, por exemplo) só se efetuará plenamente no Reino de Deus, no fim dos tempos,
para o qual marcha toda a história dos homens e do universo. Sua vinda será precedida por
convulsões cósmicas. Então, Jesus Cristo regressará em glória, e o príncipe deste mundo será
aniquilado. Assim, será então estabelecido o novo céu e a nova terra, onde habitam
plenamente a justiça (2 Pe 3.13; cf. Is 65.17; 66.22; Ap 21.1).
Dessa forma, para Calvino, a Igreja é uma antecipação do reino de justiça a ser introduzido por
Cristo em sua vinda. Como tal, ela funciona no presente como uma sociedade provisória,
governada pelas leis de Cristo. Embora já refletindo estes ideais, a Igreja ainda não o faz de
forma perfeita, o que ocorrerá apenas no fim dos tempos.
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A Responsabilidade Social da Igreja
Quais as responsabilidades da Igreja nesta restauração provisória da sociedade? Podemos
resumir o ensino de Calvino em três aspecto fundamentais. Segundo ele, a Igreja tinha um
ministério didático, um político, e um social.
Ministério Didático
Esse ministério da Igreja era para ser exercido através dos seus pastores e mestres. Consistia
na instrução pública e particular, através de sermões e orientação individual, quanto ao ensino
bíblico sobre a administração dos bens outorgados por Deus ao Estado e ao indivíduo. Em
outras palavras, Mordomia Cristã.
Tomemos como exemplo a questão do trabalho e descanso. De acordo com Calvino, a Igreja
deveria através do ministério regular de seus pastores instruir seus membros no ensino das
Escrituras sobre o assunto. Em suas Institutas Calvino escreveu o que possivelmente foi o seu
ensino em Genebra sobre o trabalho: só Deus alimenta o homem — dele vem as forças e as
condições para que o homem trabalhe, e com seu suor, compre seu pão. O trabalho, portanto,
é algo eminentemente digno pois é a realização da vontade de Deus para o homem. Assim, o
homem não se realiza plenamente, senão no trabalho, pois foi para isto que foi criado e
vocacionado, conforme está escrito em Gênesis 1 e 2. O pecado tirou a alegria e a graça que
acompanhava o trabalho no início. A queda introduziu no mundo e na sociedade humana os
distúrbios sociais relacionados com o trabalho (Gênesis 3). Mas, em Cristo o homem
reencontra a alegria e o gosto do labor.
Quanto ao descanso, Calvino insistia que era necessário proporcionar aos trabalhadores um
dia de descanso, o sábado cristão, que é o domingo, conforme sua interpretação do quarto
mandamento (Êxodo 20.8-11). O descanso físico, porém, está intimamente ligado ao espiritual
— sem Cristo, não há descanso verdadeiro no domingo. Assim, Calvino via a profanação do
domingo como a origem da corrupção do trabalho. Segundo ele, é necessário cessarmos dos
nossos labores, como Deus cessou dos dele (He 4.3). Assim, conforme Farel já havia orientado,
o Conselho de Genebra, debaixo da influência de Calvino, aboliu todos os feriados católicos e
determinou que no domingo cessasse todo labor em Genebra.
Através do púlpito, exercendo o seu ministério didático, a Igreja então levantava o ânimo
moral do trabalhador assegurando-lhe que mesmo os trabalhos mais humildes são honrados
por Deus, e que Deus assim determinou que pelo trabalho o homem encontrasse sua vocação
na vida. E que em Cristo, o trabalhador encontraria a alegria e a satisfação que deveriam
acompanhar o labor diário.
Havia um outro aspecto do ministério didático da Igreja que consistia em repreender, através
das pregações, os membros que estivessem incorrendo em pecados sociais. Assim, os pastores
de Genebra, orientados por Calvino, denunciavam do púlpito a prática da cobrança de juros
excessivos por parte dos agiotas. Da mesma forma denunciavam a vadiagem. Vadiagem e
parasitagem é pecado, ensinava Calvino. Para ele, quando Deus criou o homem e o ordenou
cultivar a terra, condenou com este gesto a ociosidade e a indolência. Não há nada mais
oposto à ordem da própria natureza do que consagrar a vida à beber, comer, e dormir, sem
indagar sobre o que fazer (Sl 128.3; 2 Ts 3.10-12).
Calvino também falava contra o desemprego causado pela ganância dos ricos. Privar um
homem do seu trabalho é pecado contra Deus — pois trabalho é dom de Deus, e o dever que
ordenou ao homem, ensinava Calvino. É tirar-lhe a vida — pois os trabalhadores pobres
dependem dia a dia do seu labor para o pão com se sustentam e às suas famílias — ao
contrário dos ricos, que têm propriedades, reservas, etc. Assim, promover o desemprego , na
opinião de Calvino, seria um atentado à vida do pobre, e portanto, um pecado contra o
mandamento "Não matarás".
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Esse era o primeiro aspecto da responsabilidade social da Igreja no pensamento de Calvino, ou
seja, instruir seus membros, pela pregação da Palavra, acerca dos princípios bíblicos sobre o
trabalho e o descanso.
Ministério Político
Ao lado do Estado, a Igreja tinha um outro ministério, na teologia social do reformador, a
saber, o ministério político. Para entendermos melhor o que Calvino tem a dizer sobre isto,
vamos primeiro entender seu pensamento sobre a relação entre a Igreja e o Estado.
Podemos resumi-lo no que Calvino tem a dizer sobre Romanos 13.1-7, uma passagem onde o
apóstolo Paulo menciona as autoridades e nossos deveres para com elas. Para Calvino, a Igreja
e o Estado são duas instituições procedentes de Deus (Rm 13.1-2); são instrumentos de Deus
para a vinda do Seu Reino na terra. A Igreja é as primícias deste Reino vindouro, como já
vimos; o Estado, por sua vez, deve manter a ordem provisória na sociedade humana. Portanto,
existem entre as duas instituições laços duráveis e essenciais, e não simples relações
ocasionais.
Qual a missão do Estado no pensamento de Calvino? Ainda com base em Romanos 13, Calvino
sustenta que o Estado deveria manter a ordem na sociedade (conforme sua interpretação de 1
Tm 2.1-2), prover o sustento da Igreja, e promover os meios necessários para que haja a
pregação fiel da Palavra de Deus entre os cidadãos. Ou seja, usando o poder civil dado por
Deus, as autoridades deveriam envidar todos os esforços para que a religião verdadeira
prevalecesse na terra.
Porém, para Calvino isto não implica qualquer ingerência do Estado nos negócios da Igreja. O
Estado faz estas coisas através de uma boa legislação que garanta a livre pregação da Palavra
de Deus. A edificação da Igreja se faz apenas pela pregação da Palavra no poder do Espírito, e
não pela interferência do poder do Estado. E aqui Calvino critica os demais reformadores que
desejavam uma união entre Igreja e Estado, e que o Estado tomasse conta dos negócios da
Igreja (como ocorreu parcialmente na Alemanha).
Se esta era a missão do Estado, qual seria a missão política da Igreja? Para Calvino, em
primeiro lugar, orar pelas autoridades constituídas (1 Tm 3.1-2). E isto, em qualquer país em
que os cristãos se encontrassem, independente da forma de governo daquele pais, por mais
hostis que as autoridades fossem, para que se convertam e venham ao bom senso, assim
como Jeremias exortou os cativos a que orassem pela Babilônia (Jr 29.7).
Em segundo lugar, a Igreja deveria, quando necessário, advertir as autoridades, quando estas
esquecessem o senso divino do seu ofício, quando abusassem do poder, quando cometessem
injustiça, quando tolerassem injustiças contra os pobres, os fracos e os oprimidos. Se a Igreja
cessar de vigiar o Estado, diz Calvino, ela se torna cúmplice da injustiça social, cessando de
cumprir sua missão política.
Em terceiro lugar, a Igreja também deveria, como parte de sua tarefa, tomar a defesa dos
pobres e fracos contra os ricos e poderosos. Ela deveria consistentemente alertar o Estado a
que proteja os fracos, os oprimidos e explorados pelos ricos, os que não possuem poder
político ou econômico, e não têm proteção social. Neste sentido, a Igreja deve sempre
denunciar ao Estado, os ricos que exploram a miséria alheia em tempo de calamidade, os que
tiram partido da sua situação social ou oficial para se enriquecerem e se porem a coberto.
Calvino entendia que estas atitudes eram apropriadas para a Igreja pois refletiam o ensino da
lei de Moisés e do ministério dos profetas, ao denunciarem a opressão social em Israel.
Por fim, a Igreja deveria recorrer à autoridade do Estado na aplicação de sanções disciplinares,
e solicitar do Estado as medidas necessárias para a manutenção da ordem e da justiça social.
Em resumo, o ideal reformado era este: uma Igreja politicamente livre, inteiramente
dependente da Palavra de Deus, em um Estado que lhe respeite e lhe favoreça o ministério.
Ministério Social
O outro aspecto da responsabilidade social da Igreja era a assistência social. A Igreja, segundo
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a teologia social de Calvino, deveria envolver-se ela mesma no cuidado dos pobres, dos órfãos
e das viúvas — enfim, dos necessitados. E isto sem fazer distinção entre os da igreja e os de
fora. Ou seja, a assistência social da Igreja deveria contemplar inclusive os estrangeiros e
refugiados que chegavam a Genebra.
O ensino de Calvino sobre este ponto é vasto. Ele trata do uso e desfruto dos bens materiais, e
se dedica especialmente a expor o ensino bíblico sobre o pobre e o rico, e sobre a prática das
esmolas.
O órgão encarregado do ministério social da Igreja, diz Calvino, é o diaconato. Foi Calvino
quem primeiro resgatou esta função bíblica do ofício diaconal. Ele ensinou que os diáconos
eram ministros eclesiásticos, encarregados de toda a assistência social da Igreja (Atos 6.1-7), e
como tal, deveriam ser eleitos conforme as regras estabelecidas por Paulo em 1 Timóteo 3.813. Até hoje em algumas igrejas Reformadas a administração financeira da Igreja e o uso dos
recursos para a assistência aos pobres e necessitados é atribuição da junta diaconal.
O diaconato, como braço do ministério social da Igreja, se desenvolve em três ações básicas,
segundo Calvino:
1) Administração dos bens destinados à comunidade. A igreja recebia recursos para a
assistência social de duas fontes: a generosidade dos fiéis nas coletas levantadas para este fim
aos domingos, e o tesouro do Estado, através do Conselho de Genebra, que votava verbas para
este fim. Estes recursos eram recebidos e administrados pelos diáconos.
2) Distribuição de forma justa e igual entre os necessitados. Os diáconos cuidavam que todos
os genuinamente carentes tivessem participação igual nos bens destinados aos pobres. Num
ambiente marcado pela opressão social e pelas desigualdades, os diáconos certamente tinham
muito trabalho a ser feito, e necessitavam de muita sabedoria para faze-lo.
3) Visitação e cuidado dos doentes. As guerras, a falta de saneamento público, as epidemias, a
falta de assistência médica do Estado, e a pobreza, deixavam um saldo enorme de pessoas
doentes. O ministério dos diáconos incluía o cuidado para com estas pessoas, utilizando-se
quando necessário dos recursos da Igreja.
É necessário observar que no pensamento de Calvino o ministério social da Igreja era de apoio
ao Estado. Cabia ao governo civil cuidar dos pobres, doentes e necessitados. Mas, como se
tratava de uma tarefa de enormes proporções, a Igreja vinha como apoio e auxílio, dando ela
mesma assistência social onde necessário.
A Prática Social de Calvino em Genebra
Persuadido por Farel, Calvino se deixa ficar em Genebra para auxiliar nas reformas necessárias.
Logo ficou claro que, para ele, isto incluía ir além das reformas eclesiásticas. Debaixo de sua
influência, a Igreja passa a agir de forma marcante na vida social e política da cidade. Aquilo
que ele expõe em suas Institutas procurou aplicar de forma prática às necessidades de
Genebra.
O diaconato é organizado e entra imediatamente em ação. O Hospital Geral, fundado por
Farel, dá assistência médica gratuita aos pobres, órfãos e viúvas, com médicos de plantão
pagos pelo Estado. É criada a primeira escola primária obrigatória da Europa.
Os refugiados chegados a Genebra recebem treinamento profissional e assistência médica e
alimentar, enquanto se preparam para exercer uma profissão.
Os pastores intercedem continuamente diante do Conselho de Genebra em favor dos pobres e
dos operários. O próprio Calvino intercedeu várias vezes por aumentos de salários para os
trabalhadores. Os pastores pregavam contra a especulação financeira, e fiscalizavam
parcialmente os preços contra a alta provocada pelos monopólios. Debaixo da influência dos
pastores, o Conselho limita a jornada de trabalho dos operários. A vadiagem é proibida por
leis: vagabundos estrangeiros que não tem meios de trabalhar, devem deixar Genebra dentro
de três dias após a sua chegada. E os vagabundos da cidade devem aprender um ofício e
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trabalhar, sob pena de prisão. O Conselho institui cursos profissionalizantes para os vadios e os
jovens, para que ele possam entrar no mercado de trabalho.
E finalmente é digno de nota que havia uma vigilância da parte de Calvino e demais pastores
de Genebra contra a má administração pública. Houve inclusive o caso de um funcionário
corrupto que foi despedido por influência de Calvino.
O próprio Calvino levava uma vida modesta, apesar de todo o seu prestígio e influência. Na
prática, procurou viver intensamente os princípios que defendera em sua teologia social. A sua
influência estendeu-se além do seu tempo.
Os Puritanos, autores da Confissão de Fé de Westminster e dos dois Catecismos, foram
profundamente influenciados pelo ensino de Calvino, e sua teologia social não foi exceção. No
capítulo sobre o Magistrado Civil (Cap. XXIII) a Confissão de Fé reflete o ensino de Calvino
sobre a vocação social e política dos cristãos (par. 2), a independência da Igreja do Estado, para
gerir seus próprios interesses, e o dever do Estado de proteger a Igreja cristã (par. 3), o dever
do Estado de assistir e proteger os necessitados independentemente das convicções religiosas
dos mesmos (par. 3), bem como o dever dos cristãos de honrar e de submeterem-se ao Estado
(par. 4).
Um outro exemplo são as contínuas referências à questões sociais e econômicas nestes
símbolos da fé reformada. A exposição no Catecismo Maior do sexto mandamento, "Não
matarás", inclui como deveres exigidos "... a justa defesa da vida contra a violência... o uso
sóbrio do trabalho e recreios ... confortando e socorrendo os aflitos, e protegendo e
defendendo o inocente". Como pecado, são incluídos "... a negligência ou retirada dos meios
lícitos ou necessários para a preservação da vida ... o uso imoderado do trabalho .... a opressão
.... e tudo que tende à destruição da vida de alguém".
Conclusões
Quero concluir este ensaio com duas observações sobre o ensino social de Calvino. Primeiro,
que ele estava profundamente enraizado em sua teologia e em sua interpretação das
Escrituras. Era fruto de suas convicções teológicas. Portanto, é impossível entender as
reformas sociais que empreendeu em Genebra sem os pressupostos da sua teologia.
Segundo, o pensamento social de Calvino tem produzido abundante fruto na história da
humanidade, após a Reforma. Muitas das universidades, escolas, e asilos de que temos notícia
foram fundados por calvinistas. Boa parte das críticas feitas contra os calvinistas, de que são
levados à inércia e paralisia social por causa de sua ênfase na soberania de Deus em
detrimento da responsabilidade humana, simplesmente revela um desconhecimento
(proposital?) dos fatos e uma ignorância do que seja o Calvinismo.
E finalmente, cabe-nos perguntar em que sentido uma teologia social calvinista poderia nos
ajudar hoje, aqui e agora, no Brasil. Evidentemente existem profundas diferenças culturais,
políticas e religiosas entre a Suíça do século XVI e o Brasil do século XXI. Mas existem muitas
semelhanças também, particularmente no que se refere aos problemas sociais. Além do mais,
os princípios elaborados por Calvino para atender às questões sociais e econômicas são válidos
para nós hoje, pois são bíblicos. Quer na Suíça medieval, quer no Brasil moderno, permanece
como verdade imutável o fato de que a raiz da opressão social é espiritual e moral, como
Calvino apregoou. Bem como o fato de que Jesus Cristo é o Senhor de todas as coisas, em
todos os lugares, e em todas as épocas, e que seu reino se estende à política, à sociedade e à
economia tanto de genebrinos quanto de brasileiros.
Assim, creio que a Igreja evangélica brasileira (especialmente os reformados) deveria envolverse em todos estes aspectos, usando os meios apropriados, lícitos e legais para protestar,
advertir e resistir à injustiça social, usando a pregação da Palavra para chamar ao
arrependimento os governantes corruptos, os ricos opressores e os pobres preguiçosos, e
exercitando obras de misericórdia e assistência social através de uma diaconia treinada e
motivada.
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Clínico, Mestrando em Teologia- www.fatebra.com.br - www.iprb.com.br - [email protected] [email protected]
Todo este envolvimento social deve acontecer sem perder de vista que a missão primordial da
Igreja é promover a reforma (parcial e provisória) da sociedade através da proclamação do
Evangelho de Jesus Cristo, aguardando os novos céus e a nova terra onde habita a plena justiça
de Deus.
Fonte: Revista Fides Reformata
SANTO SEXO
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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"Que o marido cumpra os seus deveres a mulher e, do mesmo modo, a mulher para com o
marido. Não é a mulher que é dona do seu próprio corpo, mas sim o marido. De igual modo,
não é o marido que é dono do seu próprio corpo, mas sim o marido. Não se privem um do
outro, a não ser de comum acordo e para se dedicarem durante algum tempo à oração.
Depois, voltem outra vez à vossa vida conjugal, para que Satanás vos não faça cair na
tentação, por não se saberem dominar" (1Co 7.3-5)
São necessidades básicas do ser humano entre outras: alimentar-se quando tiver fome, beber
quando tiver sede, ar quando a respiração fica difícil, descansar quando fatigado, dormir
quando com sono, abrigar-se do frio ou do calor, livrar-se da dor, fugir quando for ameaçado e
satisfazer o instinto sexual.
Tem-se criado uma verdadeira arte para se satisfazer a fome: a gastronomia; sofisticam-se os
anestésicos para o alívio da dor; que se dirá dos confortos térmicos? E com respeito à
sexualidade, que se diz? Que ensino é repassado acerca deste fato?
Escapa à imaginação o que já se pensou e ensinou sobre esse tema. Graciano, monge italiano
que viveu no final do século 11, pregava que o Espírito Santo saía do quarto quando o casal
praticava o ato sexual.
Quanto à abstinência do sexo, era ensinado:
Abstinência nos dias santos;
E em certos dias úteis, como:
Na quinta-feira porque Jesus fora preso numa quinta-feira;
Em respeito à crucificação, não se podia ter relações nas sextas-feiras;
Não no sábado, porque tradicionalmente é o dia dedicado a Virgem Maria;
Naturalmente, no domingo também não seria possível, porque Jesus ressuscitou num
domingo;
Nem na segunda-feira em respeito aos falecidos.
Sobravam a terça e a quarta-feiras.
A Reforma Protestante do século 16 desenvolveu uma Teologia da Sexualidade, observando
que o homem e a mulher têm necessidades de ordem sexual a nível físico, emocional e
espiritual. A ignorância, a desinformação e a má orientação das idéias, no entanto, foram
tamanhas que em algumas comunidades cristãs havia senhoras idosas que eram verdadeiras
"evangelistas da frigidez", visitando as noivas antes do casamento para informá-las acerca do
que se chamava "os fatos da vida", bem como que o ato sexual era do casamento a parte mais
desagradável e detestável. Entretanto, diziam, todas as esposas tinham que se conformar com
tal situação. Com esse tipo de iniciação, que moça poderia esperar alegria na vida conjugal?
OS QUATRO AMORES
Os gregos têm uma variedade de palavras para o que traduzimos como "amor": Philia, Storge,
Eros e Agape.
Philia é o amor social, amor de amigo, de afinidade, patriótico, cívico. É a necessidade de
compartilhar algo com alguém. Envolve afeição, e é o que chamamos "amizade".
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Storge é o amor familiar, amor natural de pai para os filhos, do tio para o sobrinho, e viceversa. Envolve reciprocidade e homogeneidade.
Eros é o amor biológico, físico, sensorial, hormonal, visceral, sensual. É o amor que é atraído
pelo charme, beleza, elegância, graça, delicadeza, pelas formas. É boa palavra e define bem o
aspecto das diferenças sexuais. O Eros atrai o homem para a mulher e a mulher para o
homem. Fora disso é perversão: homem + homem, mulher + mulher, desvios que recebem o
nome de homossexualismo; adulto + criança é pederastia ou pedofilia; ser humano + animal
tem o nome de bestialismo. Todas essas perversões encontram reprovação na Escritura
Sagrada: Levítico 18.22,23; 20.13,15,16. Eros é o instinto sexual. Paulo apresenta os reclamos
do Eros em 1Coríntios 7.2-5 e 1Tessalonicenses 4.3-8.
Agape é o amor que pode salvar o eros da perversão porque o transforma e dá ao amor
humano e biológico sua verdadeira dimensão no santo sexo. É o amor como o de Deus, o
amor-que-se-dá, o amor-sacrifício, o amor-entrega, o amor eterno, imutável e perfeito. Está
nos lábios de Jesus em João 3.16; Paulo o cita em Romanos 5.5; 1 Coríntios 13; e João, o
Evangelista, o menciona em 1João 4.16,18. Jesus Cristo é o supremo exemplo de agape,
entrega total para a salvação da esposa que é a Sua Igreja (cf. Ef 5.25-33).
Já dá para entender que a soma Storge + Agape é a fórmula ideal para o amor paterno,
materno, fraternal, filial e familiar.
E Eros + Ágape, por sua vez, é a receita perfeita para o santo sexo, o casamento do cristão.
UMA TEOLOGIA DA SEXUALIDADE
Uma coisa é o que os médicos, os sexólogos, os psicólogos, os psicanalistas e os terapeutas de
casal pensam do sexo. Outra é o que Deus pensa (cf. Gn 1.31).
Muita gente não diz que o corpo veio do Diabo, mas acha que o sexo é mau, sujo e indigno dos
filhos de Deus. Olha o exemplo do monge Graciano... Realmente, a sexualidade nunca foi suja
e mundana na visão da Bíblia (cf. Ec 9.9). No projeto do reino de Deus, o sexo é expressão da
vontade do Pai Celeste.
Gênesis 1.27,28 mostra indivíduos perfeitos, sadios, criados à imagem de Deus, e seus corpos
incluem a sexualidade e a capacidade de se reproduzirem, bem como a ordem direta para
fazê-lo. De fato, sendo cada ser humano uma imagem criadora, um reflexo do Deus Criador,
apresenta no sexo bem praticado, no santo sexo, esse dom de um Deus que ama, cria, recria e
faz criar. Os crentes em Jesus Cristo, aliás, devemos ser os mais inteligentes, melhores e mais
criativos amantes porque, por trás de tudo os outros seres humanos têm, temos a unção do
Agape de Deus.
Pois é; em Gênesis 1.31 "viu Deus que tudo era bom", mas o produto final no seu teste de
qualidade deu como resultado "Aprovado! Muito Bom!", porque a masculinidade e a
feminilidade são ótimas!
Gênesis 2.24,25 mencionam a expressão "uma só carne" (basar no hebraico; sarx no grego).
Entre outros sentidos, basar é a totalidade da pessoa humana (cf. Sl 16.9); sarx é o "corpo"
como em 2Coríntios 12.7; Filipenses 1.24 e Gálatas 4.13,14. "Uma só carne" é, assim, união de
corpos e de naturezas daqueles que formam o casal.
O ato sexual não é só uma função biológica, é, igualmente, de fundo espiritual (1Coríntios
6.16). Une-se o soma (corpo), com a sarx (o mais humano em nós). Por esse motivo, o adúltero
peca contra o ser-que-se-forma-no-casamento (1Co 6.18) e viola o seu destino que é glorificar
a Deus (vv. 20; cf. v. 13).
Na realidade, a Escritura exalta a felicidade sexual (cf. Pv 5.15-19; Ec 9.7,9; Ct 6.6-12). É o
erotismo no contexto do santo sexo, do casamento dos filhos de Deus. 1Coríntios 7.2-5 é, sem
dúvida, a mais clara passagem sobre o assunto. Dela, três idéias podem ser extraídas:
Os santos têm necessidades sexuais idênticas e definidas. Sexo não é prerrogativa do homem,
sendo a sua parceira apenas submissa, passiva , acomodada e silenciosa. Isso viola a natureza,
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pois, ao contrário do que muitos podem pensar, 1Coríntios 7.3a faz a esposa valer seus
direitos.
A responsabilidade do marido é satisfazer as necessidades emocionais, sexuais e espirituais da
sua santa esposa, e vice-versa. É uma experiência solidária.
A satisfação das necessidades sexuais dos santos não entra em conflito com a piedade da vida
espiritual. Pelo contrário, vida sexual equilibrada é boa mordomia. Paulo fala, mesmo, em
oração no seu comentário sobre esse importante tema (cf. v.5).
É recomendável e altamente conveniente ver com os olhos do outro, pensar com a cabeça do
outro. O marido precisa entender o que se passa no coração, cabeça e corpo da sua mulher
quanto ao sexo, e ela, por seu lado, necessita compreender que significado tem o sexo para
seu esposo. Mulheres que se queixam de que os maridos só pensam em sexo, muitas vezes
espelham problemas como a não apreciação das relações, ou a não compreensão das
necessidades de seu santo, ou, ainda, a preocupação mais com elas mesmas que com o bemestar do casal.
Vamos entender: o ato sexual é importante porque satisfaz o instinto do marido. Deus o
colocou em nós, portanto pecado não pode ser. O instinto sexual no homem é constante, o
que significa que ele não precisa de muito estímulo para ficar preparado.
É importante porque satisfaz o senso de feminilidade da esposa. Nos primeiros dias de casada
apresenta-se a insegurança, mas agora isso passou, o ritmo da vida, inclusive o sexual, já é
normal ou relativamente normal. Mas é preciso entender o coração da mulher que quer ser
amada, vista e sentida como mulher. De fato, as mulheres mais frustradas do mundo são as
que abafam sua feminilidade, o que não pode acontecer com uma santa filha de Deus. Uma
esposa vai além de mãe e dona de casa: é parceira sexual do marido. Se o ato conjugal não for
bom para ela, será muito difícil ter sucesso como mãe e dona de casa.
É importante o ato sexual para o marido porque faz aumentar o amor pela esposa, reduz as
tensões no lar e proporciona uma experiência emocional sem par.
Para sua esposa dá segurança quanto ao amor do companheiro: amor de companhia, de
compaixão e de romance.
E ainda: satisfaz o instinto sexual da santa, que é diferente do instinto sexual do homem. A
imagem do fogão a gás e do fogão a lenha para descrever a prontidão do homem e da mulher
para o sexo é corriqueira porém verdadeira: a lenha (às vezes verde) demora a pegar fogo, mas
quando queima...
Sexo e reprodução foram ordenados por Deus, e nada têm de pecaminoso (cf. Gn 1.28). Mas o
ato sexual tem se tornado um martírio, um tormento par algumas pessoas. Por quê? Ora, o
casamento (e o conseqüente ato sexual) são aprovados pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito
Santo. O Pai o estabelece em Gênesis 1.28; o Filho dele fala em Mateus 19.5, e o Espírito Santo
pela inspiração de Hebreus 13.4, texto que fala com extrema clareza do santo sexo, pois que a
palavra "leito" que nele aparece é em grego koite, da mesma raiz da palavra latina coitus,
descritiva do ato sexual.
A Bíblia condena, no entanto, o abuso sexual, chamando-o de "fornicação" (sexo entre
solteiros) e "adultério" (sexo pago). Deus criou a sexualidade e colocou os instintos em nós,
não para nossa tortura, mas para a satisfação do casal em santo sexo e senso de realização.
Como é significativo o uso da palavra "conhecer" ( yada em hebraico) para designar o ato
sexual (cf. Gn 4.1; Mt 1.25). O ato sexual é o conhecimento mais íntimo que se pode ter de
uma pessoa. Mas é um ato santo, reservado, por ser conhecimento sagrado, pessoal, íntimo. O
Cântico dos Cânticos é incrivelmente franco sobre o assunto (cf. 2.3-17; 4.1-7).
Provérbios 5.18 fala de prazer total, e não só para reprodução. Por outro lado, Deus não
planejou um sexo pervertido, barateado, comercializado com vem acontecendo em outros
arraiais. Deus planejou um santo sexo que fica bom com o tempo, com o casal mais
amadurecido no amor e nas artes amorosas.
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DIFICULDADES SEXUAIS
Conflitos sexuais são criados por mil e duas razões. Reservamo-nos algumas poucas:
Problemas no namoro e no noivado trazidos para o casamento. Os antigos já diziam que "o
que começa errado termina errado".
Conflitos na lua-de-mel. Ou será na "lua-de-fel"? Uma senhora que teve péssima experiência
na lua-de-mel com um marido vinte anos mais velho dizia que "o casamento é a legalização do
estupro".
Traumas de infância. A esposa evita carícias, tem horror até em pensar, o ato sexual é um
martírio. Aliás, convém lembrar que ninguém está só, mas talvez seja necessário buscar ajuda
profissional de um médico, psicólogo, psicanalista ou terapeuta de casal.
Sexo sem amor O amor é uma atitude mental, e o sexo é uma entre muitas expressões dessa
atitude mental. Sexo sem amor equivale a uma vida de miséria.
Falha em bem aproveitar os jogos amorosos. É falta de sabedoria preparar a esposa para o ato
conseqüente.
Coisas de que um não gosta no outro. Idéias, hábitos, sentimentos de competição. E quando o
marido chega, e encontra em vez da esposa, um espantalho? Rolinhos no cabelo, desarrumada
pensando que com isso sensibiliza o marido? Pouca higiene, falta de asseio adequado. Cuidado
com os odores, meus santos! Uma coisa é o cheiro do corpo masculino ou feminino
estimulantes das funções sexuais, outra é cheiro de suor e mau hálito. Dentro de certos
parâmetros o odor pode ser um estimulante sexual, qualquer sexólogo ou terapeuta o
reconhece e pode informar.
Conflitos em outras áreas: diferença acentuada de idade ou de nível acadêmico; comparações
com a mãe, com o pai, com o irmão, etc.
Pense mais em qualidade que em quantidade de relações sexuais; pense em integralidade do
sexo, e, sobretudo, que o amor é uma extraordinária fonte de poder nas adversidades e
dificuldades da vida.
Sem receio de ser mal-compreendido, a experiência do ato sexual, do santo sexo discreto,
reservado e exclusivo, pode ser comparada à da oração em Mateus 6.6:
"Entra no teu quarto, fecha a porta..." Resultado: "...te recompensará".
TERAPIA DAS LEMBRANÇAS
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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Jesus Cristo chama hoje, como sempre tem chamado, pessoas para o Seu discipulado. É o
nosso caso: somos discípulos do nosso Senhor Jesus Cristo. Essas pessoas que são chamadas
para o discipulado cristão são seres humanos como nós. Não são anjos, arcanjos, serafins ou
querubins, mas simples pessoas humanas que carregam, algumas desde a gestação ou o berço,
marcas, traumas, problemas, males, sofrimentos. Feridas profundas cujas origens essas
pessoas, nós mesmos, nem sabemos, porque nem sempre são percebidas. Mas os traumas são
problemas emocionais sempre dolorosos que fazem sofrer a nós e a outras pessoas que
entram em contato conosco.
Diz a Constituição Brasileira que todos nós somos iguais perante a lei. Assim também o diz a
Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana. Mas, a nossa experiência conta outra
história. Diz que todos nós somos iguais em dignidade, sim, tendo cada um, porém, uma
história diferente, e no capítulo da nossa história estão escritas, quantas vezes, as palavras dor
e trauma. Na nossa história, estão escritas as palavras ferida, sofrimento, deslealdade ou
traição, coisas que em algumas pessoas já foram devidamente administradas e superadas,
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mas, em outras pessoas essas traições e deslealdade, traumas, feridas e machucões não foram
ainda devidamente resolvidos.
No entanto, aprendemos com a Escritura Sagrada que o nosso Deus deseja que sejamos
íntegros (integridade é o significado básico da palavra shalom), que tudo seja plenamente
resolvido. E é nesse ponto que entra o tema da nossa reflexão: a cura dos traumas do passado,
a terapia das lembranças. Entendemos, evidentemente, que estamos falando da cura das más
lembranças. A cura do que não presta, do que tem prejudicado nossa vida.
Essa cura das lembranças recebe outros nomes. Ela é chamada também, entre outras
designações, de cura das memórias, cura psíquica, terapia interna e terapia dos traumas
emocionais. Esse é um tema que se tem tornado muito popular. Existem muitos livros nessa
área, havendo, igualmente, uma grande divulgação. Têm sido realizados congressos sobre esse
assunto, simpósios, seminários, conferências e fins de semana sobre esse assunto. E vem a ser
um tipo de aconselhamento e de terapia baseado no poder do Espírito Santo para curar
problemas espirituais e emocionais. É exatamente nessa linha que nós lemos em Tiago 5.14
em diante:
"Está alguém entre vós doente, chame os anciãos (pastores) da igreja e orem sobre ele
ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente. O Senhor o
levantará; se houver cometido pecados ser-lhe-ão perdoados. Portanto, confessai os vossos
pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração de um justo é
poderosa e eficaz".
É este texto um dos fundamentos bíblicos para esta atividade, realizada em igrejas, inclusive.
O SEGREDO
A Terapia das Lembranças (Cura das Memórias ou dos Traumas Emocionais) pode ser descrita
por uma só palavra. E essa é uma palavra forte: PERDÃO.
Muita má lembrança deixa de ser apagada porque nós não perdoamos a pessoa que nos
machucou.. A nossa memória é algo tremendamente fascinante; quando lemos sobre o
cérebro humano, defrontamo-nos com algo misterioso porque ainda há coisas nele que não se
pode compreender na totalidade. Na Bíblia, a palavra que é traduzida na nossa língua como ou
"mente" é coração, leiv (bl) na língua hebraica. Como quando a Bíblia exorta,
"sobretudo o que se deve guardar, guarda o teu coração porque dele procedem as saídas da
vida.
Está sendo afirmado que "acima de tudo o que deve ser preservado, a mente o deve ser com
muita prioridade", porque na antropologia israelita, uma pessoa pensava com o coração.
Modernamente, dizemos que com o coração se ama, porém, na antropologia apresentada
especialmente nas Escrituras Hebraicas, não se ama com o coração, mas com os rins. Com o
coração portanto, de acordo com a Bíblia se pensava e se agia.
A conclusão lógica de guardar a mente está nos versículos que seguem. Citamos acima
Provérbios 4.23; lendo o que vem depois, encontramos,
"Desvia de ti a perversidade da boca, afasta de ti a corrupção dos lábios. Os teus olhos, olhem
direito e as tuas pálpebras olhem diretamente diante de ti. Pondera a vereda de teus pés e
todos os teus caminhos sejam bem ordenados. Não declines nem para a direita nem para a
esquerda, retira o teu pé do mal".
"Guarda a tua mente, tua memória", é o que a Escritura está ensinando. Isso significa, lembrar
das coisas, Na realidade, ter memória das coisas era algo tão importante para o povo de Deus,
como o é ainda hoje para os judeus, que Bíblia menciona que monumentos eram erigidos e
altares construídos para preservar a memória de eventos ou de determinada pessoa. É aquilo
que é chamado de iskor, a lembrança das coisas. O profeta Zacarias guarda no seu nome o
conceito de memória, lembrança, pois em seu nome está presente o verbo zachar que significa
"lembrar", "trazer para a memória", vindo em seguida o nome de Deus Yah): "Deus se lembra"
é o significado do nome Zacarias.
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Terrível, de acordo com a Bíblia Sagrada, é uma pessoa não deixar memória. Em Jó 18 está a
declaração "A luz dos ímpios se apaga; a faísca do seu lar não resplandece", e ainda "A sua
memória perece na terra; pelas praças não tem nome" (vv. 6, 17). Que coisa horrorosa é
morrer e não deixar nome, morrer e não deixar saudade. 2Crônicas 21.20 diz que o rei Jeorão
morreu e não deixou saudade. Nós fazemos diferente, quando queremos preservar a memória
de alguém, colocamos o busto ou a estátua dessa pessoa numa praça. A idéia é reverenciar a
sua memória e não permitir que caia no esquecimento.
Quando eu era garoto, não entendia um belíssimo costume judaico. No funeral de um judeu
não se levam flores, como nós costumamos fazer. Na verdade, se é para homenagear, três dias
depois as flores estarão murchas. No funeral judaico é diferente: colocam-se pedras sobre o
túmulo porque trezentos anos depois a pedra continuará sem alterações. Lindo ato de
preservação da memória! Vimos isso no Museu do Holocausto em Jerusalém. É uma sensação
tremendamente angustiante quando se entra numa sala que está completamente às escuras.
O corredor, que deve ter sete ou oito metros, é sem luz: ou seguramos o corrimão ou nos
perdemos Finalmente, entramos numa sala ainda escura com exceção de uma vitrine que tem
o fundo igualmente preto, pontilhado, porém, por milhares de pequenas lâmpadas que
acendem e apagam. No fundo da vitrine, aparecem as faces de crianças de quatro, sete anos,
de dez anos passando que foram mortas em campos de concentração nazistas. Duas vozes,
uma masculina e uma feminina, pronunciam os seus nomes: "David, sete anos; Hannah, nove
anos"; Schmuel, dez anos". É angustiante lembrar que cada luzinha daquela está
representando uma criancinha que morreu miseravelmente num campo de extermínio. Mas
deixaram saudade! Péssimo é morrer e haver o desejo nas outras pessoas de que o seu nome
seja apagado.
NOSSO PSIQUISMO
Dizem os estudiosos da Psicanálise que o nosso psiquismo, a nossa mente é composta por três
camadas que dependem uma das outras, e que recebem o nome de Inconsciente, Préconsciente e Consciente. O que é, então, o nosso Inconsciente? É a camada mais profunda.
Vamos imaginar que temos uma cebola e que ela tem três camadas.. A que fica dentro, bem
escondida, é o Inconsciente, sendo a mais profunda de todas. Para quem trabalha com
computação, vamos tentar facilitar. Você compra um computador, instala-o na sua casa,
coloca os programas que deseja, no entanto, alguns programas já vêm de fábrica. Imaginemos
que esse programa que veio da fábrica é o nosso Inconsciente. É ali que estão os dons que
Deus nos permitiu ter . Por isso, você canta tão bem e é ritmado. Porque está lá no seu
Inconsciente. É por essa razão que se reage de determinada maneira, porque essas idéias,
lembranças e alguns traumas ficaram na camada mais escondida. É ali portanto, que estão as
nossas experiências desde de que fomos gerados até quando tínhamos dois anos, três anos,
quatro anos de idade, talvez. Na vida uterina, no momento em que você estava sendo gerado
no ventre da sua mãe, experiências que ela teve lhe foram passadas porque é memória de
fabrica. E alguns estudiosos até acrescentam que existem influências positivas e influências
negativas dos nossos avós, bisavós, ou trisavós, tendo ficado tudo aquilo dentro de nós, numa
real memória genética. Alguém já lhe terá dito: "Puxa, mas você está parecido com seu tio
Fulano de Tal. Ele fazia ou dizia isso". Dizem alguns que isso é essa memória genética de que
falamos. Coisas reprimidas, fatos, idéias, conceitos, opiniões, censuras, tudo isso vem da nossa
memória de fábrica que é o Inconsciente.
Existe uma outra camada, intermediária, por sobre o Inconsciente, que recebe a designação de
Pré-consciente. Nele está a história das nossas emoções. Vamos olhar para o exemplo do
computador. Ele veio com memória de fábrica, mas possui um disco rígido chamado por alguns
de HD e por outros de Winchester. É naquele disco que se vai colocar tudo o que vai
acontecendo. Você vai trabalhar, e faz um bocado de arquivo e coloca ali dentro. Então vamos
dizer que o nosso Pré-consciente arquiva coisas que aconteceram conosco, experiências
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positivas e negativas que sucederam a partir dos três anos ou quatro anos até a idade quando
começamos a lembrar dos fatos e acontecimentos. É nesse momento que começa a ser
formado o Superego em cada um de nós, que é uma espécie de guarda de trânsito porque
existe uma outra parte, o Id, que é meio solta, meio libertina, e quer fazer o que não deve. Aí,
vem o Superego que diz ao Id: "Pára! Não é por aí: o caminho não é esse, não, pare que não é
por aí". Então, o Superego é quem barra as manifestações, inclusive maléficas, do nosso Id.
É muito fácil a gente lembrar coisas quando tinha seis ou sete anos de idade, mas se uma
enquete for feita sobre quem se lembra de coisas com dois ou mesmo três anos, vai ficar um
pouco difícil encontrar alguém. Tudo isso ou vai para o Inconsciente ou para o Pré-consciente.
Alguém entra num lugar e sente o cheiro de uma comida que considerava saborosa sempre
que ia à casa da avó. Era criança ainda, quando ia lá. Depois de trinta anos, sente aquele cheiro
e diz, "Puxa vida! Isso era o que minha avó fazia". Essa terna lembrança está no Préconsciente! No momento em que precisa, é como aquele arquivo do computador: ele é aberto
e se pode trabalhar nele. Às vezes, é uma palavra, uma música, uma lembrança, pode ser um
banho de rio. Nesse ponto, o indivíduo se lembra, "Ah! Eu lembro agora: quando eu tinha
cinco anos, tomei banho no rio, estava meio frio, mas foi bom demais". Durante o resto do
tempo, nem lembra disso. Se o conteúdo dessas lembranças do Pré-consciente é sadio,
positivo, vai influenciar para que tenhamos uma vida sadia e feliz; se o conteúdo é negativo e
doente, então...
Existe, porém, uma outra camada, que é denominada Consciente, e é a parte exterior do nosso
psiquismo. O Consciente no computador é a tela. Alguém, trabalhando na tela, vê tudo. No
caso do Consciente, lembra-se de coisas que aconteceram à tarde, ontem de manhã, domingo
passado à noite, porque está muito fresco na sua mente. Temos três partes: uma se chama
Inconsciente, a do meio, Pré-consciente, e a de fora Consciente porque está, na verdade, bem
consciente mesmo diante de nós. Dá, então, para entender que uma criança que foi gerada em
amor, esperada, cercada de cuidados desde a gestação, tem um clima favorável no seu
psiquismo. Está sendo formada a psiquê dessa criança. Por isso, é tão importante fazer o prénatal para que o médico acompanhe, não somente o estado físico, como também o emocional;
necessário é ouvir coisa boa, boa música. Se você, futura mamãe, colocar boas músicas
instrumentais e vocais, boa música vocal, essa criança vai se acostumando desde o ventre. O
contrário também vale: se colocar o que não presta, a criança só vai gostar do que não serve
porque está na sua psiquê.
Converse com o seu filhinho que está no ventre. Parece coisa de maluco (-"Que é isso, Fulana,
está falando só?" -"Não; estou falando com meu filho que ainda vai nascer...") À medida que a
mamãe vai conversando, ele vai ouvindo e aprendendo a reconhecer a sua voz. Foi feita uma
pesquisa nesse sentido, com uma criancinha com poucas horas de nascida. Uma pessoa falou,
o bebê não teve qualquer reação, mas quando a voz da mãe foi ouvida, ele se mexeu,
estremeceu porque reconheceu lá na sua psiquê, na sua mente, a voz do seu pequeníssimo
passado. Quando uma criança portanto é bem vinda, bem acolhida, tem tudo pra ser
psiquicamente sadia; mas se foi concebida em desamor se não foi desejada, se foi concebida
no susto, a mãe até quis abortá-la, veio menino quando queriam uma menina ou veio uma
menina quando queriam um menino, .a rejeição, o desamor vão para a sua psiquê e ela tem
tudo para ser infeliz.
70% da nossa maneira de ser vem desta força profunda, secreta que parte do Inconsciente e
do Pré-consciente. O apóstolo Paulo disse algo que está dentro dessa linha. Está em Gálatas
5:17: "A carne deseja o que é contrário ao Espírito, e o Espírito o que é contrário à carne. Estes
opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis".
RAZÕES
São diversos os motivos dos problemas psico-emocionais que carregamos. É a nossa origem
familiar, a origem social, a origem religiosa, são problemas de afetividade, são problemas de
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sexualidade. Quanto à origem familiar, já foi mencionado que ainda no ventre materno a
rejeição, as agressões sofridas pela mãe, medos, sustos, tristezas profundas na mãe, abalos
emocionais todo esse maléfico material vai para a criança em gestação.
Do parto até a primeira infância. Os problemas são: perigo de morte da criança, parto forçado,
rejeição do sexo na criança, ambiente de hostilidade, de falta de respeito, de falta de amor ao
redor dessa criança. Sustos violentos provocados por pessoas, animais, quedas. Há uma
brincadeira de mau gosto que se faz com criança pequenina. Joga o nenezinho para o alto e o
segura na queda. Isso aí é uma maravilha para desestruturar a psiquê de uma criancinha. Quer
prejudicar seu filho? Faça e deixem que façam isso com ele...
Sustos com animais, surras violentas, fome constante, falta de vestuário, ausência de
manifestações de carinho entre os pais e irmãos. Morte, ausência prolongada do pai ou da
mãe. Naturalmente, todos compreendem que em qualquer idade existem outros problemas. A
infidelidade dos pais ou de um dos pais é problema sério no psiquismo de uma criança. A
separação, a embriaguez, a marginalidade de um dos pais ou de um irmão. Doenças
prolongadas ou crônicas de um dos pais, excesso de trabalho na infância ou na adolescência.
Há problemas também de origem social. A rejeição na escola. O menino entre os colegas
ganha logo um apelido: "Quatro-olhos", "Elefante", "Macarrão". O jornal mostrou uma
reportagem sobre obesidade. Então fizeram a pergunta: "O que é que mais chateia você na
escola?" O garoto respondeu, "Quando me chamam de Elefante". A menina disse, "Me
chamam de Baleia". Esse tipo de coisa que deixa a criança entristecida e se torna um trauma
não só naquele momento, mas para o futuro também. Rejeição na vizinhança, perseguições
pelos professores, acusações, calúnias, humilhação em público, expulsão, castigos. Complexos
porque é magro, é feio, é gordo, ou então a raça da pessoa, a inferioridade por falta de cultura.
Lembro que tive uma aluna no Colégio Americano Batista no Recife. A menina era um nissei.
Linda moça de ascendência japonesa. Eu era capelão do Colégio, e um dia, conversando
comigo, ela confessou que tinha um problema sério: ela se achava diferente das outras
meninas de origem latina, achava-se estranha, inadequada e feia. Respondi-lhe que nem
pensasse nisso porque era uma moça bonita, e tinha uma beleza própria e especial, e deveria
se orgulhar desse fato, porque provinha de um povo que tinha uma tradição muito longa,
muito antiga. A moça deixou o meu gabinete. Voltei a encontrá-la alguns anos depois, casada,
já com um filhinho, um garotinho lindo. Tendo se casado com um português, o filho nasceu,
com traços latinos do português e traços belíssimos da raça japonesa. Não há necessidade
deste mal-estar, dessa não aceitação por parte de si.
De origem religiosa também. Porque muitos tem uma imagem negativa de Deus. É o Deus
ameaçador, o Deus impessoal, o Deus que não pode ser atingido. Nesse Deus também não
creio; minha fé está posta em um Deus que anda comigo, que está ao meu lado. Então se
alguém tem essa imagem negativa, fica difícil. Outro motivo é a obrigação de realizar práticas
da religião na família sobre pena de castigo. Se você não orar, vai ser castigado; se você não ler
a Bíblia, vai ser castigado; se não fizer isso, vai receber um castigo. Problemas com líderes
religiosos, padres, capelães, pastores podem também trazer traumas na vida de alguém. Ou a
participação em rituais com cenas chocantes como no Candomblé, no Satanismo ou a própria
consagração a algum orixá. Uma jovem membro de uma igreja, ela e as irmãs foram
consagradas a um orixá. Ela havia sido consagrada a Iemanjá. Era uma moça menina infeliz por
causa disso até encontrar a Jesus Cristo e consertar seu mundo interior.
Há problemas também de afetividade, problemas de sexualidade. Quem não recebe carinho
não sabe dar carinho. Há pessoas que não sabem abraçar, que não sabem segurar a mão, que
não sabem tocar outras pessoas porque nunca foram abraçadas e tocadas, e nunca qualquer
pessoa lhes segurou a mão, a não ser na hora de atravessar a rua. Decepções no namoro, no
noivado, estupro, relacionamento homossexual, violência ou perseguição sexual por parentes,
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experiências sexuais livres, ou seja, fora do casamento, no momento errado com a pessoa
errada e no lugar errado.
A CURA É POSSÍVEL
A cura desses traumas é possível. A Bíblia diz que é possível. E vemos que Deus nos criou de
um modo tão maravilhoso, a Bíblia assim o expressa,
"Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim, elevado demais para que eu possa atingir.
Eu Te louvo porque de um modo terrível e maravilhoso fui formado. E maravilhosa são as Tuas
obras e a minha alma o sabe muito bem".
Quem assim falou foi Davi, o rei poeta.
É verdade; Deus nos fez de um modo extraordinário e maravilhoso. O estudo do corpo
humano é fascinante. Como é que este ar que nós respiramos pode fazer com que o nosso
coração, uma bomba colocada no peito, possa jogar o sangue até a pontinha do dedo. Pegue
um alfinete e dê uma picada e você verá sair um pouquinho de sangue, porque o ar levou até
lá. E esse mesmo sangue que sai envenenado é purificado em outro órgão do nosso corpo. Foi
Deus quem fez esse sofisticado laboratório que é o nosso corpo.
O Deus que nos fez assim é o mesmo que nos liberta dessas lembranças ruins. E são tantas as
mágoas e não são outra coisa senão tudo o que provoca em nós dor física, dor mental e
angústia emocional. Nesse ponto, fazemos uma pergunta, "Vamos deixar que Satanás se
aproveite dessas mágoas para nos atormentar? Vamos permitir que ele faça isso? Você vai
deixar que ele o leve a duvidar da palavra de Deus? Você vai escandalizar a outras pessoas não
crendo?" Você pergunta, "Pastor, há cura?" Há sim!!! Há cura para os traumas emocionais e a
cura se dá através de recursos terapêuticos de ordem psíco-espiritual. Mas é preciso querer a
cura. Pode ser que a pessoa não queira a cura. Existe esse tipo de coisa. Os entendidos no
assunto chamam a isso, Resistência. Quando uma pessoa que está em tratamento terapêutico
um dia diz, "Olha doutor, eu não pude vir" Na realidade, não queria ir. Arranja um motivo, cria
uma história para não aparecer.
Há quem faça resistência? Há. Existe um capitulo nesta questão de terapias que se chama
Terapia de Família e de Casal. Trabalha-se com toda família. Então vem o pai, a mãe, os filhos,
a sogra que mora também na casa. É a família, todo o universo familiar está ali, vai todo
mundo para a terapia. E sabe o que é que acontece? Geralmente estão se queixando que o
filho está se drogando, por exemplo. Chegam com essa queixa e o terapeuta de família vai
trabalhar com toda aquela família. Porque não é só o filho que está doente: a família toda está
doente. O filho é apenas a expressão da doença familiar. Sabe o que é que acontece? Quando
o filho começa a ficar bom, a mãe fica doente. É incrível, mas, há casos documentados: a mãe
fica doente, porque, na verdade, não está querendo que o filho fique bom. Porque se isso
acontecer, ninguém vai mais ficar com pena dela, porque o povo tem pena porque o filho é
assim e está dando um tremendo trabalho a ela. "Coitadinha de D. Fulana cujo filho é um
drogado". Aí o filho fica bom e ela fica doente porque ela tem que ser "a coitadinha". Então, há
quem não queira é verdade, mas é preciso coragem de começar. Portanto, não menospreze os
problemas porque eles não são pequenos. Não feche os olhos para dizer que o problema na
sua vida não existe, ele existe e não tenha medo de pedir ajuda. Você precisa de cura porque
está machucado, ferido Emocionalmente ferido, psicologicamente machucado e talvez essa
memória esquecida ou memória escondida esteja impedindo que você cresça para Deus, que
você cresça espiritualmente. É aí que vem a graça misericordiosa de Deus, é aí que vem o amor
de Deus. Esse amor que restaura, esse amor que reconstrói a pessoa em todos os sentidos.
OS MEIOS DE DEUS
Deus não salva o espírito de uma pessoa sem salvar também a sua mente, e a sua psiquê. Jesus
ensinou que "não necessitam de médicos os sãos, mas, sim os enfermos". No entanto, não há
possibilidade de alguém restaurar a própria vida, seja qual for a área, se antes não se restaurar
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e afinar com Deus. Nesse caso, quais os meios de cura? Talvez nem precise ir a um psicanalista
ou a um psicólogo. Mas, pode começar com o que a Bíblia ensina: o PERDÃO.
Voltemos ao começo, quando foi mencionado o perdão. Não é uma área fácil da vida. Dar
perdão é algo tremendamente difícil, mas é preciso ser administrado se o que se deseja é cura
interior, cura das péssimas lembranças. E você que continua ferido, ofendido, magoado,
amargurado, revoltado, machucado, decepcionado, triste, enraivecido, até. Você que tem uma
ferida aberta, ferida dolorosa, porque as feridas do coração são sempre dolorosas, triste e
terrivelmente dolorosas. Você que tem uma ferida dessa, você precisa perdoar.
Essas feridas causam tremendos prejuízos de ordem somática, quer dizer, no corpo. Dizem os
estudiosos dessa área que o nosso corpo é uma extensão do nosso cérebro. Completam o
pensamento dizendo que se pensa com o corpo todo e não apenas com o cérebro. É como se
cada célula fosse um cérebro ou uma mente em miniatura. O que afeta o meu cérebro vai
afetar também o meu dedo mindinho; o que afeta a minha unha do dedo do pé vai afetar o
meu bem-estar geral. Essa é a visão sistêmica das coisas. Por esse motivo, se as suas emoções
estão afetadas, você vai ter dor de cabeça, enxaquecas, dores nas costas, problemas de
coluna, dificuldades digestivas, gastrite, colite, disfunções intestinais, crises de diabetes,
taquicardia e pressão alta entre outras manifestações.
E na ordem psico-emocional, você também vai ter outros sintomas. É a tristeza crônica, aquela
tristeza que não se afasta de você. É desconfiança do amor das outras pessoas: você acha que
ninguém o/a ama, você acha que todo mundo quer lhe fazer mal; você acha que quem amou
ontem bastante, hoje não está amando porque não falou com você. É um espírito de crítica
para com os outros, de oposição, de distanciamento, crises de depressão, frustração,
agressividade.
É crise na ordem espiritual quando surge a dificuldade de orar, dificuldade de crescer no amor
e na comunhão de Deus. É frieza na participação nos trabalhos da comunidade de fé. Então, o
que é que você tem que fazer? Perdoar. O primeiro meio é o perdão. A Bíblia conta a história
de José. Foi vendido pelos irmãos, levado para o Egito, revendido pelos midianitas ou
ismaelitas a um oficial da guarda do Faraó. Dali foi para a prisão acusado de algo que não tinha
realizado. Da prisão saiu e foi elevado à categoria de segunda pessoa da governo, Vicegovernador do Egito, encarregado de todo o planejamento econômico daquele país. José
viveu, casou-se, e um dia descobriu que os irmãos que o tinham vendido apareceram por lá.
Num período de fome, foram mantimentos, dos quais o Egito tinha um grande estoque. E
nesse ponto a Bíblia apresenta o centro teológico de todo o livro do Gênesis,
"Então José, não se podendo conter diante de todos os que estavam com ele, clamou, Fazei sair
a todos da minha presença!" (Gn 45.1).
Era um salão grande; ele ordenou que todos saíssem, e ninguém ali permaneceu quando se
deu a conhecer a seus irmãos. Começou a chorar de tal maneira que os egípcios o ouviram,
bem como a casa de Faraó. E os irmãos não entendiam nada: como é que aquele homem do
governo, que não falava a língua deles (na verdade, ele falava, mas, diz a história que ele falava
egípcio e um intérprete traduzia, apesar de que ele estava entendendo tudo o que os irmãos
estavam falando), como é que esse homem poderoso começara a chorar na frente deles? E
disse José a seus irmãos, "Eu sou José! Vive ainda o meu pai?" E eles não puderam responder
porque estavam pasmados. E disse mais José aos irmãos,
"Peço-vos, chegai-vos a mim. Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. Mas
agora não vos entristeçais porque para conservação da vida, Deus me enviou antes de vós".
Que coisa linda esse perdão completo dado por José! E a grande lição: no momento em que
ele deu esse perdão aos irmãos, ficou liberto. E continuando o texto ainda diz assim,
"Pelo que Deus me enviou adiante de vós, a fim de conservar vossa sucessão na terra, e para
guardar-vos em vida por um grande livramento. Não fostes vós que me enviastes para cá,
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senão Deus, que me pôs como pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como
governador em toda a terra do Egito" (Gn 45.7,8)
Ele tinha tudo para se vingar mas, preferiu dar o perdão. A primeira coisa que nós precisamos
para a cura interior é de dar perdão.
A segunda coisa de que precisamos é da ORAÇÃO. Se a Bíblia diz que a oração remove
montanhas, como é que não vai afastar o mal estar, o sofrimento, a dor no coração? Agora,
você vai orar por quem? Comece orando por você mesmo. Há muito crente gastando
verdadeiras fortunas, preço alto e precioso tempo gasto nos consultórios de psicólogos e
psicanalistas. Temos ouvido crente que diz assim, "Já faço terapia há cinco anos com um
psicólogo". Talvez esteja com isso tirando o pão da boca de alguns dos queridos psicanalistas
de nossa igreja. Vocês vão me desculpar, mas, há muita gente gastando dinheiro que melhor
faria, maior lucro teria, se orasse mais por si mesmo, se passasse quinze minutos em oração
diariamente. Ore por você.
Ore pelo ofensor também, traga quem lhe ofendeu àa memória, ao seu coração como diz a
Bíblia. Mesmo que já se tenham passado cinco, doze, trinta anos, aconteceu algo, você era
menininha quando um perverso fez uma coisa ruim com você. Tome essa pessoa e traga para
o seu coração. Ore por ele ou ela. Afinal de contas, a Escritura ensina no "Pai Nosso",
"Perdoamos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos ofensores, devedores".
Já pensou em orar por aquela pessoa que você não suporta? Aquela que lhe feriu? O
namorado que fugiu? Que foi embora? Que rompeu o namoro? Aquele que devia ter
continuado o namoro para se tornar em noivado, e terminou casando com a sua prima?
Soubemos do caso de um rapaz que terminou o namoro com uma jovem e casou com a irmã
da ex-namorada. Ore por essa pessoa. ore também por quem você ofendeu.
A situação agora é ao contrário. Você ofendeu. Na primeira oportunidade você deve pedir
perdão. Sabe como é que se chama isso na Bíblia? Restituição. Faça a restituição, portanto.
Ore pelo perdão a você mesmo, e peça a Deus a graça de você se perdoar. Crie um clima de
oração. Você não pode prescindir do Espírito Santo porque a Bíblia diz que nós não sabemos
orar como convém, por isso o Espírito nos ajuda.
O primeiro meio para a nossa Terapia das Memórias infelizes foi o Perdão. E o segundo a
Oração.
Há mais um, a RENÚNCIA. A terceira coisa que você tem que fazer é renunciar. Renunciar à
vingança, renunciar à inveja, renunciar ao ressentimento, renunciar à idolatria, renunciar à
feitiçaria, renunciar ao ocultismo em todas as suas manifestações: tarô, búzios, runas,
horóscopos, leitura de mão, consulta a espíritos, passes coletivos, passes individuais; renuncie
aos vícios, às seitas falsas, à tristeza, ao desespero, à indecisão, ao rancor, ao medo do
fracassar e assim por diante. E viva a sinceridade de coração. A Bíblia usa a expressão "Pureza
de mãos, pureza de coração". "Quem subirá ao monte do Senhor? Aquele que é limpo de
mãos e puro de coração", está na Bíblia.
Então, já pensou trocar tudo isso, toda essa miséria, esse lixo, o que não presta por bons
pensamentos? As tristes memórias, as péssimas lembranças por pensamentos
recompensadores, abençoados e poderosos? Já pensou em trocar o pensamento viciado e
vicioso por trechos da Bíblia? O Salmo 4 é um trecho maravilhoso, e tem sido particularmente
para mim uma fonte de bençãos,
"Em paz me deitarei e dormirei, pois, só Tu, ó Senhor, me fazes habitar em segurança".
Troque todo o pensamento prejudicial por esse pensamento da palavra de Deus. Ou ainda
esse outro,
"Que é o homem mortal para que te lembre dele? O filho do homem para que o visites? Com
tudo pouco menor do que Deus o fizeste e de glória e de honra o coroaste"?
Você foi coroado de glória e de honra! Só que talvez não esteja lembrado de que tem uma
coroa na sua cabeça... Você não está lembrado que tem um manto de rei ou de rainha nos
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seus ombros... Lembre-se disso porque está na Escritura Sagrada, no Salmo 9.9, "O Senhor é
um alto refúgio para o oprimido, uma fortaleza em tempo de angústia".
E aí vem a cura e a vitória! Os três passos para essa vitória são: Perdão, Oração e Renúncia.
Glória a Deus porque temos a vitória assegurada!. E a Bíblia fala sobre isso, está no capitulo 15
de 1Corintios: "Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo". Aquele
que é poderoso bastante para curar e salvar, também nos dá uma vida repleta de bênçãos, de
graça e de paz!
VISÃO: ENXERGAR ALÉM DA MAIORIA
ESTUDO SOBRE A SOCIEDADE
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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A confrontação da mediocridade exige pensamento claro.
as pessoas que enfrentam a mediocridade devem fazê-lo mediante a perspectiva de outro
reino, não governado por nós, mas pelo próprio Senhor.
Custa nosso compromisso e revela-se periodicamente em expressões@ extravagantes.
MUNDO: Inteligência humana, simpatia persuasiva, lógica inteligente e atraente, competição,
criatividade e riqueza de recursos, mas tem falta dos ingredientes essenciais que capacitam a
pessoas alçar vôo sublime, como o da águia.
- A parte traiçoeira é a maneira como nosso cérebro passa por lavagem pelo sistema, ficando,
assim, bloqueado, impedido de atingir seu potencial total.
O resultado final é previsível : ansiedade interna e mediocridade externa.
TRÊS FATOS INDISPUTÁVEIS
A RESPEITO DO SISTEMA MUNDANO.
Mateus 6:24-34
- "Ninguém pode...", NÃO andeis...", "Qual de vós poderá"
"Basta a cada dia seu próprio mal..."
- é a diferença entre a maneira como as pessoas vivem natural-mente (cheias de preocupação
e ansiedade), e a maneira como o Senhor planejou que vivêssemos (livres de todo aquele
excesso de bagagem).
- Decaímos para um modo de vida inferior porque "os gentios é que procuram todas estas
coisas" (v.32)
1. VIVEMOS NUM MUNDO HOSTIL, NEGATIVO.
O sistema que nos rodeia focaliza-se nos pontos negativos :
- no que está errado, não no que está certo,
- no que está faltando, não no que está presente,
- no feio, não no bonito (Ex : Dinossauros - "a era o feio"
- no que é destrutivo, não no que é construtivo,
- no que não pode ser feito, não no que pode ser feito,
- no que fere, não no que ajuda,
- no que nos falta, não no que temos.
A maioria das notícias se relaciona em fatos negativos.
É contagioso : Ex : Satanás e Eia
A atitude mental negativa conduz a sentimentos incríveis de ansiedade. O resultado é :medo,
ressentimento e ódio.
O sistema mundano opera de modo direto contra a vida que Deus planejou para o seu povo.
2. ESTAMOS ENGOLFADOS PELA MEDIOCRIDADE
E CINISMO.
Sem a motivação do entusiasmo e da visão cheia do poder divino, as pessoas tendem para a
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"média".
- fazendo apenas o suficiente para serem aprovadas.
- a maioria dita as regras, e a excitação é substituída por um dar de ombros.
- NÃO apenas se perde a excelência de vida, mas sempre que ela levanta a cabeça, é
considerada uma ameaça.
3. A MAIORIA ESCOLHE NÃO VIVER DE MODO DIFERENTE.
"Vá na onda" e "NÃO faça onda" e "Quem se importa?"
- O cinismo está presente e a coragem está ausente.
A Coragem :
- dá a uma nação seu orgulho
- a um lar seu propósito
- a uma pessoa a vontade de produzir o melhor possível.
"É preciso que alguém saliente que desde os tempos antigos
o declínio da coragem tem sido considerado o começo do fim"
Alexandre Soljenitsin
O QUE É NECESSÁRIO PARA VIVER DE MODO DIFERENTE???
VISÃO:
- A águia possui oito vezes mais células visuais por centímetro cúbico do que o ser humano.
- Voando à altura de 200 metros a águia consegue detectar um objeto do tamanho de uma
moedinha, movendo-se na grama de 15 cm de altura.
- A águia pode enxergar um peixe de oito centímetros saltando num lago e oito quilômetros de
distância.
- As pessoas que têm a visão de uma águia conseguem enxergar o que a maioria não vê.
DETERMINAÇÃO:
- Capacidade de a pessoa manter-se disciplinada, coerente, forte e diligente a despeito das
circunstâncias ou das exigências.
- As águia são férreas na defesa de seu território e de seus filhotes.
- A força de suas garras é fenomenal.
- Podem agarrar e quebras os ossos fortes do braço humano.
- As pessoas semelhantes a águia possuem tenacidade.
PRIORIDADES:
- Escolha das primeiras coisas em primeiro lugar.
- Fazer o essencial na ordem de sua importância, deixando de lado o inci-dental.
PRESTAÇÃO DE CONTAS:
- Dar respostas às perguntas difíceis, estando em intimo contato com algumas pessoas em vez
de viver em isolamento, como o lobo solitário.
- Pessoas semelhantes à águia podem ser raras, mas elas possuem uma lealdade incrível
quando aderem a uma causa.
DOIS HOMENS CORAJOSOS QUE DISCORDA-RAM DA MAIORIA.
Números 13
1. Houve um exodo.
2. Sob a liderança de Moisés, o povo escolhido de Deus chegou às fron-teiras da Terra
Prometida.
3. O novo território lhes pertencia : "Voces terão a terra!"
4. Deus ordenou a Moisés que espiassem a terra.
- Nem uma só vez os espias foram consultados e encorajados a dar sua opinião quanto a se
poderiam conquistar Canaã.
- NÃO havia a minima necessidade disto, porque o Senhor já havia prometido a vitória.
- Os espias eram homens famosos entre os israelitas (Nm 13:3-16.)
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5. A missão deles era bem clara. Dolorosa e explicitamente clara (17-20)
- Moisés não lhes disse : "E quando regressarem, dêem-nos conselho sobre se devemos ou não
invadir a terra." - o povo ouviu o relatório (21-27) : oh!!! ah!!!
RELATÓRIO NEGATIVO
28-29,31 "MAS..."
- Quem havia perguntado?
- Ninguém queria saber se seria capaz de subir ou não.
- Deus tinha prometido que a terra seria deles.
- Só precisavam saber como era a terra.
- Extrapolaram os objetivos de sua missão : (32-33)
- O Negativismo e a visão restritiva são contagiosos : 14:1-2
- Sempre aparece um camarada com idéias criativas : 14:4
- Quando a maioria é deficiente de visão, a miopia espiritual tende a cobrar ônus pesado
daqueles que tentam liderar : (v.5)
RELATÓRIO POSITIVO
... VISÃO ILIMITADA 13:30, 14:6
- Havendo visão, não há lugar para o medo.
"Mas toda a congregação disse que os apedrejassem" Nm 14:10
É duvidoso que a maioria alguma vez tenha razão" Arnold Toynbee
VISÃO é a habilidade de...
- ver a presença de Deus,
- perceber o poder de Deus,
- focalizar os planos de Deus, apesar dos obstáculos.
O A-B-C-D-E da Visão...
A. ATITUDE - ser otimista em vez de pessimista.
- positiva em vez de negativa. - NÃO totalmente positiva como se fora uma fantasia, porque
voce conta com a presença de Deus. - Voce não desiste. Diz: "Senhor, este é o teu momento. É
aqui que tu assumes o controle." B. BASE DE FÉ - Forte base de fé no poder de Deus. confiança nas demais pessoas ao seu redor, engajadas em batalhas semelhantes às suas.
- confiança em Voce mesmo, pela graça de Deus. Recusando-se a cair em tentação, a dar lugar
ao cinismo, à duvida. NÃO desanimando. C. CAPACIDADE - prontidão para o fortalecimento.
- "Voce precisa esta disposto a ser fortalecido. - Voce precisa permitir que sua capacidade seja
invadida pelo poder de Deus. D. DETERMINAÇÃO - Insistir em vez de desistir, - As
circunstancias endurecem e Voce endurece mais duro ainda. - A visão requer determinação,
foco contínuo em Deus, que está observan-do e sorrindo. E. ENTUSIASMO
- "entheos" (Deus em) - Capacidade de ver Deus numa dada situação, o que torna o evento
excitante. - É quando nos tornamos convencidos de que Deus, nosso Pai celeste, participa de
nossas atividades e as aplaude. Ilustração : jovem atleta preguiçoso, pai cego morre.
Professor Dr. Antony Steff Gilson de Oliveira
Reverendo da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil – IPRB
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Professor: Rev. Antony Steff Gilson de Oliveira, Pastor da Igreja Presbiteriana em Renovação do Brasil, Psicanalista
Clínico, Mestrando em Teologia- www.fatebra.com.br - www.iprb.com.br - [email protected] [email protected]
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