Impedir a evasão fiscal a nível mundial A globalização e o comércio electrónico suscitaram uma infinidade de complicações relacionadas com a cobrança equitativa de impostos. A maneira como são tratadas estas novas questões – que foram discutidas no âmbito dos preparativos para a Conferência Internacional sobre o Financiamento do Desenvolvimento, a realizar-se em Março de 2002 – será um dos principais factores que determinará se os países em desenvolvimento podem mobilizar os recursos suficientes para conseguir o avanço da sua economia e superar a pobreza generalizada. O crescimento da actividade económica através da Internet, por empresas multinacionais e por fusões e aquisições transfronteiras, teve uma infinidade de efeitos indirectos na cobrança de impostos. Os governos tanto dos países desenvolvidos como dos países em desenvolvimento têm dificuldade em definir os tipos e taxas de impostos no estranho novo mundo do comércio electrónico e em detectar os rápidos movimentos financeiros transfronteiras. Segundo a Organização das Nações Unidas, o aproveitamento fraudulento dos benefícios fiscais e a evasão fiscal estão a aumentar, enquanto os governos, especialmente os das economias em transição e dos países em desenvolvimento, têm dificuldade em financiar os seus serviços públicos e infra-estrutura pública para o desenvolvimento. Entre outras questões que surgiram na era da globalização figuram as dúvidas ou diferendos relativos à cobrança de impostos sobre os rendimentos dos trabalhadores expatriados e a chamada “corrida aos impostos baixos”. Esta última traduz-se na tentação que os países que procuram obter investimentos estrangeiros têm de competir entre eles, oferecendo baixas taxas de impostos ou um período de isenção fiscal, o que neutraliza os seus incentivos e diminui as receitas fiscais dos governos. Por outro lado, a tendência para reforçar os mecanismos de cobrança de impostos e para evitar os furos legais inerentes à globalização insere-se nos esforços mundiais para combater o branqueamento de capitais, as transferências ilícitas de fundos, a criminalidade transnacional e o terrorismo internacional. Segundo um relatório da ONU [documento A/AC.257/add.1] apresentado como contribuição para as discussões preparatórias da Conferência Internacional sobre o Financiamento do Desenvolvimento, que se realizará em Monterrey, no México, em Março de 2002, as instituições ou instâncias internacionais fizeram pelo menos dez propostas para remediar esses problemas. Nove dessas propostas foram formuladas no ano passado. No centro dessas sugestões encontra-se a cooperação internacional entre as autoridades fiscais. Esse esforço de cooperação voluntária consistirá não só em trocar informações mas também em prestar apoio técnico para a administração e cobrança de impostos nos países em desenvolvimento. A Rede Tributária Mundial Os funcionários do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE), que representa 28 países economicamente avançados, propuseram, na sequência de discussões havidas entre eles, um esforço internacional para estabelecer um diálogo sobre questões fiscais entre os governos, difundir as melhores práticas e determinar os pontos estratégicos para a assistência técnica. Esta proposta foi comunicada ao Comité Preparatório da Conferência. A Rede não seria uma nova instituição, mas antes um meio de o Banco Mundial, o FMI e a OCDE juntarem as suas informações e recursos. Para responder à preocupação de que os pontos de vista dos países em desenvolvimento e das economias em transição se encontrem amplamente representados, um aspecto desta proposta poderia ser um mecanismo através do qual os organismos competentes da ONU e outras instituições se comprometessem a participar nos trabalhos. Outra sugestão feita foi a criação de um órgão directivo universal da Rede. Por exemplo, o documento técnico das Nações Unidas sobre cooperação em matéria fiscal, preparado para o Comité Preparatório da Conferência, propõe que o trabalho da Rede seja analisado periodicamente pelo Conselho Económico e Social da ONU. Grupo Especial de Peritos em Cooperação Internacional no Domínio da Fiscalidade A maior parte das discussões a nível intergovernamental sobre os aspectos internacionais da fiscalidade tem lugar em instâncias com um número reduzido de países membros. Existe, no entanto, um grupo de peritos da ONU que provêm do mundo inteiro. O Grupo é constituído por destacadas autoridades em fiscalidade escolhidas nos Estados Membros e que actuam a título pessoal. Os conhecimentos altamente especializados do Grupo e o seu carácter relativamente informal favorecem discussões que fazem doutrina e são, ao mesmo tempo, abertas e francas. É a única grande instância internacional em matéria fiscal onde os países do Norte e do Sul bem como todas as grandes regiões estão representados de uma forma equitativa e intervêm em pé de igualdade. É, pois, um fórum ideal para trocar ideias e apresentar propostas de alcance mundial e para incentivar a participação dos países em desenvolvimento e dos países com economias em transição nos planos internacionais de reforma em matéria fiscal. Entre os projectos em curso do Grupo, executados por intermédio do seu secretariado na Divisão de Economia e de Administração Públicas da ONU, podemos citar a difusão de um tratado bilateral tipo sobre cooperação em matéria fiscal bem como um manual para a negociação de tratados fiscais. O tratado tipo foi concebido para ser facilmente adaptado às necessidades específicas dos países signatários e foi aplicado em mais de 800 casos, segundo o Secretariado da ONU. Proposta de uma Organização Tributária Internacional A ideia de uma Organização Tributária Internacional (OTI) foi proposta por um grupo de peritos financeiros nomeados pelo Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, e presidido pelo ex-Presidente do México, Ernesto Zedillo. No relatório que apresentou em Junho de 2001, como contribuição independente para as discussões intergovernamentais sobre o financiamento do desenvolvimento, o Grupo Zedillo propôs que se ponderasse criar uma nova organização. A OTI poderia ter, entre outras funções, as de prestar assistência técnica, servir de fórum para a elaboração de normas fiscais internacionais, vigiar a evolução da situação fiscal em moldes semelhantes aos usados pelo FMI para analisar as políticas macro-económicas nacionais, limitar a concorrência em matéria fiscal destinada a atrair as multinacionais e servir de árbitro nos litígios internacionais em matéria fiscal. Os membros do Grupo propuseram ainda que essa organização tentasse conseguir um consenso internacional que estabeleça uma fórmula uniformizada para tributação das multinacionais bem como a definição de princípios de cobrança equitativa de impostos aos emigrantes. Esta proposta foi apresentada ao Comité Preparatório que entendeu que não poderia ser aplicada num futuro próximo. Discussões sobre o Financiamento do Desenvolvimento Na última reunião do Comité Preparatório da Conferência de Monterrey, os governos discutiram um texto que preconizava a cooperação internacional em matéria fiscal entre as autoridades públicas bem como entre as instituições multilaterais e a participação numa rede intergovernamental universal de diálogo e interacção que preste especial atenção às necessidades dos países em desenvolvimento e em transição. Resumindo, embora ainda não exista uma mecanismo preciso para intensificar a cooperação em matéria fiscal, há um interesse considerável em ajudar os governos a aumentarem as suas receitas fiscais tendo em vista financiar o desenvolvimento. * *** *