O Contributo da Educação Geográfica para uma Educação para a

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O CONTRIBUTO DA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA PARA UMA EDUCAÇÃO
PARA A CIDADANIA – A EDUCAÇÃO INTERCULTURAL
Jorge Marques Pereira
Curso de Mestrado em Geografia: Educação e Desenvolvimento, Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa
1. Imigração e multiculturalismo
Nas últimas duas décadas, Portugal tornou-se um país de acolhimento de
milhares de imigrantes de várias origens étnicas. Esta mudança reflectiu-se na sociedade
portuguesa e, em especial, no sistema de ensino português, que não se encontrava
preparado para fazer face à diversidade cultural, contrariando equilíbrios anteriormente
existentes. Actualmente, o conjunto de alunos cuja língua materna não é a Língua
Portuguesa constitui, já, uma parte significativa da população escolar e apresenta
tendência para aumentar ao longo dos próximos anos.
De uma política tendencialmente assimilacionista até à década de 70, Portugal
transitou para uma política de multiculturalismo, registando-se algumas mudanças no
sistema de ensino português, que tiveram como objectivo a democratização do ensino.
A preocupação, por parte dos responsáveis educativos portugueses, reflecte-se na
aprovação de legislação sobre a educação e a multiculturalidade, publicada após a Lei
de Bases do Sistema Educativo, em 1986.
No contexto de diversidade cultural, a Educação Geográfica, tem um papel
relevante e fundamental na educação para a cidadania, uma vez que confere aos alunos,
quer portugueses, quer das minorias étnicas presentes em Portugal, um conjunto de
competências, que permitem formar cidadãos geograficamente competentes, activos e
intervenientes. A Geografia promove atitudes e valores que conduzem ao respeito e
aceitação pela diferença, contribuindo para o enriquecimento cultural e contrariando os
comportamentos de exclusão.
2. Educação para a cidadania e participação
Em termos genéricos, a cidadania é um vínculo que une um indivíduo a um
Estado livre, através do pleno gozo dos seus direitos civis e políticos e sujeito a deveres.
Este conceito está profundamente ligado aos de liberdade, igualdade e
fraternidade, desde a Revolução Francesa e da Declaração dos Direitos do Homem.
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
Todos os indivíduos são considerados cidadãos de plenos direitos, independentemente
do sexo, da raça, da língua, do território de origem, da religião, das convicções políticas
ou ideológicas, da sua situação económica ou da sua condição social.
Portugal é uma República baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade
popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária. A
democracia participativa estimula a participação directa na vida pública – um apelo que
deve ecoar nas nossas escolas e, mais em particular, junto daqueles que, como nós, se
empenham no aprofundamento da educação geográfica.
3. Uma população escolar cada vez mais heterogénea
As profundas desigualdades ao nível do desenvolvimento entre países, provocam
fluxos de seres humanos, de áreas deprimidas, para aquelas onde as condições de vida
são melhores. Segundo estimativas recentes da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), a população migrante mundial é de cerca e 175 milhões de pessoas, o que
representa, caso estivesse “sob uma entidade política única”, o quinto maior país do
mundo.
Outrora terra de emigrantes, Portugal tem vindo a tornar-se, nos últimos anos,
num país de acolhimento. Segundo dados das Nações Unidas, citados pelo Alto
Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), o número de imigrantes
que residem no nosso país aumentou de 21 mil, em 1995, para 104 mil no ano 2000, o
que representa, respectivamente, um crescimento de 0,5 e 2,2% da população. O
crescente fenómeno migratório, que se alargou aos países do Leste da Europa, e a
abertura do espaço comum europeu à livre circulação de pessoas, levou a profundas
transformações do público escolar em Portugal. Chegam às nossas escolas numerosos
alunos, oriundos de outras culturas que não dominam, pelo menos com a fluência
necessária, a língua portuguesa.
Para elaborar a caracterização dos alunos estrangeiros, recorremos a um estudo
elaborado pelo Departamento de Educação Básica, de 2003, em que se procedeu a um
diagnóstico da população escolar, que no ano lectivo 2001/2002, frequentava o ensino
básico, em Portugal. Foram encontrados, no sistema público de ensino em Portugal,
17535 alunos a cumprir a escolaridade mínima obrigatória, cuja língua materna não é a
Língua Portuguesa. Neste universo, foram identificadas 230 línguas diferentes, para 140
minorias étnicas.
2
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
A proveniência desta população escolar, no ano lectivo 2001/2002 (gráfico n.º 1)
é predominantemente dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP):
Cabo Verde (28,42%), Angola (15,07%), Guiné (9,16%) e S. Tomé (4,53%), que
ocupam 4, dos 5 primeiros lugares. A população cigana regista o terceiro lugar da tabela
(10,84%).
Gráfico n.º 1 – Proveniência da população escolar - Ano Lectivo 2001/2002
5000
Cabo Verdiana
4500
Angolana
Cigana
4000
Guineense
SãoTomense
3500
Brasileira
3000
Francesa
Alemã
2500
Indiana
Chinesa
2000
Inglesa
1500
Moçambicana
Ucraniana
1000
Russa
500
Venezuelana
0
Fonte: Caracterização nacional dos alunos com língua portuguesa como língua não materna – DEB
Entre as 15 línguas maternas mais faladas pela população escolar que se
encontra a frequentar o ensino básico (gráfico n.º 2), além do português, encontramos,
em primeiro lugar o crioulo (8076 alunos – 46,05%), em segundo, o romani1 (1338
alunos – 7,63%) e, por último, o francês (837 alunos – 4,77%). O russo encontra-se em
oitavo lugar (293 alunos – 1,67%), o ucraniano em décimo lugar (147 alunos – 0,83%) e
o romeno em décimo lugar (117 alunos – 0,66%).
1
Linguagem ou gíria dos ciganos instalados em Portugal.
3
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
Gráfico n.º 2 – Línguas maternas da população a frequentar o ensino básico
Ano lectivo 2001/2002
Crioulo
9000
Romani
Francês
8000
Inglês
7000
Alemão
Português (do Brasil)
6000
Castelhano
Russo
5000
Kimbundo
4000
Mandarim
3000
Gujarati
Ucraniano
2000
Chinês
Hindi
1000
Romeno
0
Fonte: Caracterização nacional dos alunos com língua portuguesa como língua não materna – DEB
Em termos de localização geográfica (gráfico 3), a maioria destes alunos
concentra-se nos estabelecimentos escolares da Direcção Regional de Educação de
Lisboa.
Gráfico n.º 3 – Distribuição dos alunos com língua portuguesa como língua não
materna por DRE´s – Ano lectivo 2001/2002
9%
7%
2%
DREL
10%
DREN
DREALG
DREC
72%
DREALG
Fonte: Caracterização nacional dos alunos com língua portuguesa como língua não materna – DEB
4. Da monoculturalidade ao pluralismo cultural
Os países desenvolvidos têm experimentado, nos últimos anos, diferentes
orientações para lidar com a diversidade étnica no contexto do sistema educativo.
Numa
fase
inicial
da
história do multiculturalismo,
encontramos
o
assimilacionismo, que é um modelo que aposta ainda na monoculturalidade. Os
indivíduos que pertencem a minorias étnicas adquirem os traços culturais do grupo
dominante, o que exige, muitas vezes, o afastamento da cultura materna. A escola
continua centrada nos padrões culturais dominantes e as culturas maternas das minorias
4
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
são ignoradas, uma vez que o pressuposto é que os alunos das minorias étnicas terão
melhores oportunidades de integração na sociedade que os acolhe, se abraçarem a
cultura e a língua desta.
Este modelo revelou-se incapaz de atingir os objectivos a que se propunha, dado
que as oportunidades de sucesso educativo destes jovens, pertencentes a minorias
étnicas, eram reduzidas, uma vez que, quer o currículo, quer as estruturas do sistema,
eram ajustadas aos alunos do grupo maioritário (PEREIRA, 2004).
O integracionismo apoia uma escola em que as minorias têm liberdade para
afirmar a sua própria cultura, desde que, esta não entre em conflito com a identidade
cultural do grupo dominante. Na prática, a integração cultural, significa a aceitação
apenas de aspectos da cultura da minoria que sejam ajustáveis à cultura dominante.
Em virtude desta filosofia, os currículos passam a incluir conteúdos relativos à
diversidade cultural na escola e na sociedade, atenuando a relação de superioridade
cultural da maioria, característica do modelo anterior.
O pluralismo multicultural significa a existência de culturas dos diversos grupos
étnicos no contexto de uma sociedade, em que os indivíduos mantêm a sua identidade
cultural e social própria. Têm plena liberdade de participar na vida cultural e social
própria, em circunstâncias iguais às das outras culturas, mantendo, no entanto, a
liberdade de escolha.
É imperativo o ajustamento das instituições educativas à diversidade cultural, à
passagem à multiculturalidade e reconhecer na diversidade uma fonte de riqueza
pedagógica. É necessária uma alteração dos conhecimentos a transmitir, sublinhando os
contributos dos grupos minoritários para os patrimónios nacionais.
5. O desafio da Educação Geográfica
A actual reforma curricular do 3.º ciclo do ensino básico, é marcada por
significativas alterações metodológicas. Redefine a Geografia como uma disciplina de
charneira entre as ciências naturais e as ciências sociais, procurando responder às
questões que o Homem coloca sobre o meio físico e humano. Pretende-se que, através
do estudo da Geografia, os alunos estabeleçam contactos com realidades sócio-culturais
diferentes, num contexto espacial que os ajuda a perceber de que forma os espaços se
inter-relacionam.
A educação geográfica, vai utilizar as dimensões conceptual e instrumental do
conhecimento geográfico, para poder proporcionar aos alunos oportunidades de
5
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
desenvolvimento de competências geográficas e, nessa medida, a Geografia
desempenha um papel formativo no desenvolvimento e formação para a cidadania.
Definem-se competências gerais a desenvolver pelo aluno, ao longo do ciclo e o
contributo da Geografia no desenvolvimento de competências específicas, tendo em
conta uma perspectiva integradora de atitudes, capacidades e conhecimentos que os
alunos devem desenvolver através da educação geográfica. Os novos conteúdos
geográficos podem facilitar aos alunos as tomadas de decisões críticas e o livre
pensamento.
Por parte das instituições geográficas, existe a convicção de que a Geografia tem
capacidade para contribuir para uma verdadeira educação para a cidadania e para
enfrentar os desafios da complexidade planetária, que se colocam neste início de século
XXI. Um exemplo disso mesmo, encontra-se no Manifesto da Assembleia da União
Geográfica Internacional: Carta Internacional de Educação Geográfica, de 2000, em
Seul. Esta Carta apoia os princípios estabelecidos em vários documentos, destacando-se,
entre outros, a Declaração Universal dos Direitos do Homem. A Educação Geográfica
promove a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as raças e credos.
A Geografia tem um papel significativo na educação de todos os alunos, uma
vez que lhes permite a obtenção de uma perspectiva e de uma consciência global, na
medida em que os leva a aperceberem-se dos problemas internacionais e multiculturais,
dando-lhes, ao mesmo tempo, as ferramentas necessárias para a sua compreensão.
Através de uma educação fundamentada na interculturalidade, a Geografia pode
dar um importante contributo para que a diversidade cultural não se transforme num
factor de exclusão social. Deve promover atitudes e valores conducentes a respeitar os
direitos de todos à igualdade, conduzir o ensino da disciplina para uma abordagem
menos etnocêntrica, proporcionar o desenvolvimento de novas atitudes, com destaque
para a comunicação com os outros e a aceitação e valorização daquele que é diferente.
A adição progressiva de vários conteúdos, conceitos, temas e perspectivas das culturas
dos diversos grupos étnicos representados no contexto escolar, é fundamental para que
os alunos desenvolvam a compreensão acerca da diversidade da sociedade onde vivem e
do modo como nela estão interrelacionados. O desenvolvimento das competências no
domínio desta disciplina, permite a tomada de decisões, por parte dos alunos,
relativamente a questões e problemas étnicos estudados nas aulas, ajudando os alunos a
pensar e a tomar decisões e promovendo o sentido de intervenção política e social.
6
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
6. As percepções dos alunos
-
Racistas!? Nós???
Ao abordar o subtema 3, Diversidade Cultural, unidade 1, Factores de
Identidade e Diferenciação das Populações, no ano lectivo de 2003/2004, inquirimos
uma turma do 7.º e outro do 9.º ano na Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos do Ensino
Básico Pêro de Alenquer (onde leccionávamos), na perspectiva de que a escola deve ser
capaz de gerir a pluralidade social, cultural e linguística, sem perda da qualidade
democrática. Promovemos a tempestade de ideias ou brainstorming, em grupos de 6
elementos, com uma posição pré-definida no debate e a dramatização da situação ou
rol playing, em que cada um dos grupos defendia uma posição a favor ou contra a
entrada e permanência de imigrantes em Portugal.
Numa fase inicial, apliquei um inquérito, que me serviu de controlo, seguindo-se
o debate e, posteriormente, a aplicação de um segundo inquérito, semelhante ao
primeiro, que tinha como objectivo verificar se as opiniões se tinham alterado a seguir
ao debate.
Do universo escolar dos alunos do 3.º ciclo da Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos
Pêro de Alenquer, de 426 alunos, obtive uma amostra de 39.
7. Observação dos resultados
a) Identificação
Dos 39 alunos inquiridos, 22 pertencem ao 7,º ano e 17 ao 9.º ano de
escolaridade. Em relação ao sexo, 24 alunos são do sexo masculino e 12 do feminino.
Obtivemos ainda 2 alunos que não responderam a esta questão. As suas idades estão
compreendidas entre os 13 e os 19 anos (gráfico 4).
Gráfico n.º 4 – Distribuição das idades dos alunos inquiridos
20
15
10
5
0
13 anos
14 anos
15 anos
16 anos
>= 17 anos
Apenas um aluno não tem nacionalidade portuguesa, é brasileiro. No
futuro,
46% dos alunos pretende acabar o 12.º ano e ingressar num curso médio ou superior,
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O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
38% concluir o 12.º ano e 13% o 9.º ano, ingressando depois no mundo laboral. 4% não
responderam a esta questão.
b) Percepções culturais
A maioria dos alunos concorda que a sua língua materna facilita a comunicação
e a relação com os amigos, colegas e professores. Concordam também que, o domínio
da língua portuguesa é importante na comunicação com os outros. O grau de confiança
nas relações, interfere com a importância atribuída ao domínio da língua, dando-lhe os
alunos menor importância quando se trata de uma amizade e maior importância quando
se trata das relações com os professores (gráfico 5).
Gráfico n.º 5 - Importância do domínio da língua portuguesa na comunicação
25
20
Amigos
15
Colegas
10
Professores
5
6Concordância
absoluta
5
4
3
2
1 - Total
discordância
0
Em relação à valorização dos hábitos culturais pelos colegas, as respostas
encontram-se um pouco polarizadas. Entre os alunos do 7.º ano de escolaridade, os
hábitos culturais parecem não ser muito valorizados (gráfico n.º 6).
8
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
Gráfico n.º 6 - Valorização dos hábitos culturais pelos colegas
7.º Ano de escolaridade
7
6
Gastronomia
5
Religião
4
Arte
3
Costumes
2
Crenças
1
NR
6Concordância
absoluta
5
4
3
2
1 - Total
discordância
0
Também no 9.º ano, os hábitos culturais não são muito valorizados entre os
colegas (gráfico n.º 7).
Gráfico n.º 7 - Valorização dos hábitos culturais pelos colegas
9.º Ano de escolaridade
7
6
Gastronomia
5
Religião
4
Arte
3
Costumes
2
Crenças
1
6Concordância
absoluta
5
4
3
2
1 - Total
discordância
0
Já relativamente à valorização dos hábitos culturais pelos professores, os alunos
tendem a considerar que aqueles respeitam pouco os referidos hábitos (gráfico n.º 8).
9
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
Gráfico n.º 8 - Valorização dos hábitos culturais dos alunos pelos professores
14
12
Gastronomia
10
Religião
8
Arte
6
Costumes
4
Crenças
2
NR
6Concordância
absoluta
5
4
3
2
1 - Total
discordância
0
Já no que respeita à valorização das atitudes e conhecimentos dos alunos, pelos
mesmos professores, a maioria dos alunos aponta para essa valorização, tanto antes,
como após o debate realizado na aula.
Em relação à percepção de que os contactos com os colegas de grupos culturais
diferentes enriquecem os alunos do ponto de vista social e cultural, a posição dos alunos
é de concordância, na sua maioria, tendo esta posição saído reforçada a seguir ao debate
realizado (gráfico 9).
Gráfico n.º 9 – Enriquecimento com o contacto com colegas de
grupos culturais diferentes
16
14
12
10
8
6
4
2
0
6concordância
absoluta
5
4
3
2
1 - total
discordância
Antes do debate
Depois do debate
Quando têm que manifestar a sua opinião em relação ao enriquecimento da
sociedade portuguesa, devido à presença de elementos de culturas diferentes, as
10
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
respostas dos alunos inquiridos é de concordância, como se pode verificar pela análise
do gráfico n.º10.
Gráfico n.º 10 – Enriquecimento da sociedade portuguesa com a presença de
elementos de outros povos e culturas
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Antes do debate
6concordância
absoluta
5
4
3
2
1 - total
discordância
Depois do debate
Estes jovens também consideraram, na sua maioria, que a vinda de imigrantes
estrangeiros para Portugal era vantajosa para o desenvolvimento económico nacional.
Os alunos concordam, maioritariamente, com a atribuição da igualdade de
direitos aos dos portugueses, pelo Estado português, aos imigrantes estrangeiros, apesar
da divisão de opiniões que a questão gerou (gráfico n.º 11).
Gráfico n.º 11 – Concessão aos imigrantes de estrangeiros de direitos
iguais aos dos portugueses
14
12
10
8
Antes do debate
6
Depois do debate
4
2
6Concordância
absoluta
5
4
3
2
1 - Total
discordância
0
Também a atribuição de empregos, independentemente da nacionalidade do
candidato, dividiu os alunos, tendo sido também um dos temas mais focados durante o
debate. As opiniões dos alunos do 7.º e do 9.º ano não são idênticas, pelo que são
apresentadas separadamente. Os primeiros concordam, na sua maioria com esta
situação, tanto antes, como após o debate (gráfico 12).
11
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
Gráfico n.º 12 – Atribuição de empregos indiferentemente do facto dos candidatos
serem portugueses ou imigrantes estrangeiros – 7.º ano de escolaridade
8
7
6
5
Antes do debate
4
Após o debate
3
2
1
6concordância
absoluta
5
4
3
2
1 - total
discordância
0
No 9.º ano as opiniões mantiveram-se divididas, alterando-se, contudo, do
primeiro para o segundo inquérito, os níveis de concordância ou discordância (gráfico
n.º 13).
Gráfico n.º 13 – Atribuição de empregos indiferentemente do facto dos candidatos
serem portugueses ou imigrantes estrangeiros – 9.º ano de escolaridade
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Antes do debate
6concordância
absoluta
5
4
3
2
1 - total
discordância
Após o debate
O emprego representa um flagelo actual que tem atingido muitas famílias
portuguesas, pelo que, as opiniões expressas no gráfico n.º 14 se encontram divididas.
12
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
Gráfico n.º 14 – Os imigrantes estrangeiros não são os responsáveis pelo
aumento do desemprego
12
10
Antes do debate
8
Após o debate
6
4
2
NR
6concordância
absoluta
5
4
3
2
1 - total
discordância
0
Será que, na opinião destes alunos, o aumento da criminalidade se deve tanto aos
imigrantes estrangeiros presentes em Portugal como aos cidadãos nacionais? Na sua
maioria, os alunos consideram que se deve tanto a uns como a outros (gráfico n.º 15).
Gráfico n.º 15 – O aumento da criminalidade deve-se tanto aos imigrantes
estrangeiros como aos cidadãos nacionais
14
12
10
8
Antes do debate
6
Após o debate
4
2
6concordância
absoluta
5
4
3
2
1 - total
discordância
0
Finalmente, era pedido aos alunos para que, em três palavras, caracterizassem as
acções a desenvolver pelo concelho de Alenquer relativamente aos imigrantes. No 7.º
ano, as três palavras que registam maior número de frequências, antes da realização do
debate, são: igualdade (9); ajuda/entreajuda (7) e integrar (5). Cinco alunos não
responderam a esta questão. Após o debate, registaram-se as seguintes palavras: ajuda
(8); dar-lhes casas (6) e igualdade (5). Nesta fase, quatro alunos optaram por não
responder. Na primeira fase, uma das palavras que apareceu, apenas com uma
13
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
ocorrência, foi expulsão. Esta é uma palavra e um sentimento que pode reflectir
algumas das escolhas que foram feitas durante os questionários e que se reflectem nos
gráficos anteriormente expostos.
No 9.º ano, as três palavras que registaram um maior número de frequências,
foram: educar (3); ajudar (2); integrar e respeitar (2). A maioria dos alunos desta
turma (10) não respondeu a esta questão. Na fase posterior ao debate, as palavras mais
registadas, foram: ajudar (4); educar (2); respeitar (2) e ir embora (2). Mais uma vez,
encontramos palavras que apontam no sentido da expulsão dos estrangeiros.
Assim, as opiniões são maioritariamente positivas face à presença dos
imigrantes. Para os alunos, estes podem trazer um contributo positivo à sociedade
devendo possuir igualdade de direitos e deveres na sociedade portuguesa. Defendem,
também, que o aumento de criminalidade não é o reflexo directo da entrada de
imigrantes em Portugal. O debate que ocorreu entre a aplicação dos dois inquéritos,
acabou por esclarecer algumas opiniões, mas nem sempre se obteve o efeito desejado.
Por vezes, as opiniões dos alunos inquiridos alterou-se da concordância para a
discordância, como aconteceu no item da atribuição de empregos, no 9.º ano de
escolaridade, ou relativamente ao aumento do desemprego.
8. Por uma educação geográfica apostada na alteridade
Como antes referimos, o exercício de cidadania é, hoje em dia, estimulante, uma
vez que vivemos numa democracia participativa, que abre caminho a que os jovens,
independentemente da sua nacionalidade e das suas convicções religiosas e políticas,
tenha possibilidade de participar activamente na vida do país onde se encontra inserido.
Portugal tem servido de país de acolhimento a elementos de mais de 140
minorias étnicas, representando um conjunto de mais de 230 línguas diferentes. Estes
valores, à semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, tendem a aumentar. No
entanto, o sistema de ensino português, apesar de já apresentar alguma legislação, que
reflecte alguma intencionalidade multicultural, ainda não a conseguiu aplicar com
sucesso.
Resultado da última reforma curricular, a Geografia tem manifestado a
preocupação de apresentar aos alunos realidades diferentes, proporcionando
oportunidades destes desenvolverem competências geográficas, desempenhando um
papel formativo no desenvolvimento e formação para a cidadania.
14
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
Os resultados do inquérito aos alunos permitem-nos concluir, contudo, que
existe ainda um longo trabalho a realizar, no âmbito da divulgação de novas culturas, da
sensibilização, da plena integração das minorias étnicas, etc. É este o desafio que se
coloca à Educação Geográfica. Por um lado, formar jovens portugueses que saibam
reconhecer na diversidade, o enriquecimento social e na formação de jovens
pertencentes a minorias étnicas e culturais, para que estes se possam sentir cidadãos de
pleno direito, em Portugal, sem terem de abandonar os seus hábitos e de se afastarem da
sua cultura materna.
A Geografia, definida como uma ciência de charneira, pode ter um papel
fundamental na organização do ensino destes jovens, dotando-os de ferramentas
necessárias para a compreensão do Mundo e o desenvolvimento de atitudes que
fundamentem uma culturalidade de alteridade que, desde sempre, está associado à
descoberta de outros povos e culturas.
15
O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural
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16
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17
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