O CONTRIBUTO DA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA PARA UMA EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA – A EDUCAÇÃO INTERCULTURAL Jorge Marques Pereira Curso de Mestrado em Geografia: Educação e Desenvolvimento, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 1. Imigração e multiculturalismo Nas últimas duas décadas, Portugal tornou-se um país de acolhimento de milhares de imigrantes de várias origens étnicas. Esta mudança reflectiu-se na sociedade portuguesa e, em especial, no sistema de ensino português, que não se encontrava preparado para fazer face à diversidade cultural, contrariando equilíbrios anteriormente existentes. Actualmente, o conjunto de alunos cuja língua materna não é a Língua Portuguesa constitui, já, uma parte significativa da população escolar e apresenta tendência para aumentar ao longo dos próximos anos. De uma política tendencialmente assimilacionista até à década de 70, Portugal transitou para uma política de multiculturalismo, registando-se algumas mudanças no sistema de ensino português, que tiveram como objectivo a democratização do ensino. A preocupação, por parte dos responsáveis educativos portugueses, reflecte-se na aprovação de legislação sobre a educação e a multiculturalidade, publicada após a Lei de Bases do Sistema Educativo, em 1986. No contexto de diversidade cultural, a Educação Geográfica, tem um papel relevante e fundamental na educação para a cidadania, uma vez que confere aos alunos, quer portugueses, quer das minorias étnicas presentes em Portugal, um conjunto de competências, que permitem formar cidadãos geograficamente competentes, activos e intervenientes. A Geografia promove atitudes e valores que conduzem ao respeito e aceitação pela diferença, contribuindo para o enriquecimento cultural e contrariando os comportamentos de exclusão. 2. Educação para a cidadania e participação Em termos genéricos, a cidadania é um vínculo que une um indivíduo a um Estado livre, através do pleno gozo dos seus direitos civis e políticos e sujeito a deveres. Este conceito está profundamente ligado aos de liberdade, igualdade e fraternidade, desde a Revolução Francesa e da Declaração dos Direitos do Homem. O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural Todos os indivíduos são considerados cidadãos de plenos direitos, independentemente do sexo, da raça, da língua, do território de origem, da religião, das convicções políticas ou ideológicas, da sua situação económica ou da sua condição social. Portugal é uma República baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária. A democracia participativa estimula a participação directa na vida pública – um apelo que deve ecoar nas nossas escolas e, mais em particular, junto daqueles que, como nós, se empenham no aprofundamento da educação geográfica. 3. Uma população escolar cada vez mais heterogénea As profundas desigualdades ao nível do desenvolvimento entre países, provocam fluxos de seres humanos, de áreas deprimidas, para aquelas onde as condições de vida são melhores. Segundo estimativas recentes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a população migrante mundial é de cerca e 175 milhões de pessoas, o que representa, caso estivesse “sob uma entidade política única”, o quinto maior país do mundo. Outrora terra de emigrantes, Portugal tem vindo a tornar-se, nos últimos anos, num país de acolhimento. Segundo dados das Nações Unidas, citados pelo Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), o número de imigrantes que residem no nosso país aumentou de 21 mil, em 1995, para 104 mil no ano 2000, o que representa, respectivamente, um crescimento de 0,5 e 2,2% da população. O crescente fenómeno migratório, que se alargou aos países do Leste da Europa, e a abertura do espaço comum europeu à livre circulação de pessoas, levou a profundas transformações do público escolar em Portugal. Chegam às nossas escolas numerosos alunos, oriundos de outras culturas que não dominam, pelo menos com a fluência necessária, a língua portuguesa. Para elaborar a caracterização dos alunos estrangeiros, recorremos a um estudo elaborado pelo Departamento de Educação Básica, de 2003, em que se procedeu a um diagnóstico da população escolar, que no ano lectivo 2001/2002, frequentava o ensino básico, em Portugal. Foram encontrados, no sistema público de ensino em Portugal, 17535 alunos a cumprir a escolaridade mínima obrigatória, cuja língua materna não é a Língua Portuguesa. Neste universo, foram identificadas 230 línguas diferentes, para 140 minorias étnicas. 2 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural A proveniência desta população escolar, no ano lectivo 2001/2002 (gráfico n.º 1) é predominantemente dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP): Cabo Verde (28,42%), Angola (15,07%), Guiné (9,16%) e S. Tomé (4,53%), que ocupam 4, dos 5 primeiros lugares. A população cigana regista o terceiro lugar da tabela (10,84%). Gráfico n.º 1 – Proveniência da população escolar - Ano Lectivo 2001/2002 5000 Cabo Verdiana 4500 Angolana Cigana 4000 Guineense SãoTomense 3500 Brasileira 3000 Francesa Alemã 2500 Indiana Chinesa 2000 Inglesa 1500 Moçambicana Ucraniana 1000 Russa 500 Venezuelana 0 Fonte: Caracterização nacional dos alunos com língua portuguesa como língua não materna – DEB Entre as 15 línguas maternas mais faladas pela população escolar que se encontra a frequentar o ensino básico (gráfico n.º 2), além do português, encontramos, em primeiro lugar o crioulo (8076 alunos – 46,05%), em segundo, o romani1 (1338 alunos – 7,63%) e, por último, o francês (837 alunos – 4,77%). O russo encontra-se em oitavo lugar (293 alunos – 1,67%), o ucraniano em décimo lugar (147 alunos – 0,83%) e o romeno em décimo lugar (117 alunos – 0,66%). 1 Linguagem ou gíria dos ciganos instalados em Portugal. 3 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural Gráfico n.º 2 – Línguas maternas da população a frequentar o ensino básico Ano lectivo 2001/2002 Crioulo 9000 Romani Francês 8000 Inglês 7000 Alemão Português (do Brasil) 6000 Castelhano Russo 5000 Kimbundo 4000 Mandarim 3000 Gujarati Ucraniano 2000 Chinês Hindi 1000 Romeno 0 Fonte: Caracterização nacional dos alunos com língua portuguesa como língua não materna – DEB Em termos de localização geográfica (gráfico 3), a maioria destes alunos concentra-se nos estabelecimentos escolares da Direcção Regional de Educação de Lisboa. Gráfico n.º 3 – Distribuição dos alunos com língua portuguesa como língua não materna por DRE´s – Ano lectivo 2001/2002 9% 7% 2% DREL 10% DREN DREALG DREC 72% DREALG Fonte: Caracterização nacional dos alunos com língua portuguesa como língua não materna – DEB 4. Da monoculturalidade ao pluralismo cultural Os países desenvolvidos têm experimentado, nos últimos anos, diferentes orientações para lidar com a diversidade étnica no contexto do sistema educativo. Numa fase inicial da história do multiculturalismo, encontramos o assimilacionismo, que é um modelo que aposta ainda na monoculturalidade. Os indivíduos que pertencem a minorias étnicas adquirem os traços culturais do grupo dominante, o que exige, muitas vezes, o afastamento da cultura materna. A escola continua centrada nos padrões culturais dominantes e as culturas maternas das minorias 4 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural são ignoradas, uma vez que o pressuposto é que os alunos das minorias étnicas terão melhores oportunidades de integração na sociedade que os acolhe, se abraçarem a cultura e a língua desta. Este modelo revelou-se incapaz de atingir os objectivos a que se propunha, dado que as oportunidades de sucesso educativo destes jovens, pertencentes a minorias étnicas, eram reduzidas, uma vez que, quer o currículo, quer as estruturas do sistema, eram ajustadas aos alunos do grupo maioritário (PEREIRA, 2004). O integracionismo apoia uma escola em que as minorias têm liberdade para afirmar a sua própria cultura, desde que, esta não entre em conflito com a identidade cultural do grupo dominante. Na prática, a integração cultural, significa a aceitação apenas de aspectos da cultura da minoria que sejam ajustáveis à cultura dominante. Em virtude desta filosofia, os currículos passam a incluir conteúdos relativos à diversidade cultural na escola e na sociedade, atenuando a relação de superioridade cultural da maioria, característica do modelo anterior. O pluralismo multicultural significa a existência de culturas dos diversos grupos étnicos no contexto de uma sociedade, em que os indivíduos mantêm a sua identidade cultural e social própria. Têm plena liberdade de participar na vida cultural e social própria, em circunstâncias iguais às das outras culturas, mantendo, no entanto, a liberdade de escolha. É imperativo o ajustamento das instituições educativas à diversidade cultural, à passagem à multiculturalidade e reconhecer na diversidade uma fonte de riqueza pedagógica. É necessária uma alteração dos conhecimentos a transmitir, sublinhando os contributos dos grupos minoritários para os patrimónios nacionais. 5. O desafio da Educação Geográfica A actual reforma curricular do 3.º ciclo do ensino básico, é marcada por significativas alterações metodológicas. Redefine a Geografia como uma disciplina de charneira entre as ciências naturais e as ciências sociais, procurando responder às questões que o Homem coloca sobre o meio físico e humano. Pretende-se que, através do estudo da Geografia, os alunos estabeleçam contactos com realidades sócio-culturais diferentes, num contexto espacial que os ajuda a perceber de que forma os espaços se inter-relacionam. A educação geográfica, vai utilizar as dimensões conceptual e instrumental do conhecimento geográfico, para poder proporcionar aos alunos oportunidades de 5 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural desenvolvimento de competências geográficas e, nessa medida, a Geografia desempenha um papel formativo no desenvolvimento e formação para a cidadania. Definem-se competências gerais a desenvolver pelo aluno, ao longo do ciclo e o contributo da Geografia no desenvolvimento de competências específicas, tendo em conta uma perspectiva integradora de atitudes, capacidades e conhecimentos que os alunos devem desenvolver através da educação geográfica. Os novos conteúdos geográficos podem facilitar aos alunos as tomadas de decisões críticas e o livre pensamento. Por parte das instituições geográficas, existe a convicção de que a Geografia tem capacidade para contribuir para uma verdadeira educação para a cidadania e para enfrentar os desafios da complexidade planetária, que se colocam neste início de século XXI. Um exemplo disso mesmo, encontra-se no Manifesto da Assembleia da União Geográfica Internacional: Carta Internacional de Educação Geográfica, de 2000, em Seul. Esta Carta apoia os princípios estabelecidos em vários documentos, destacando-se, entre outros, a Declaração Universal dos Direitos do Homem. A Educação Geográfica promove a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as raças e credos. A Geografia tem um papel significativo na educação de todos os alunos, uma vez que lhes permite a obtenção de uma perspectiva e de uma consciência global, na medida em que os leva a aperceberem-se dos problemas internacionais e multiculturais, dando-lhes, ao mesmo tempo, as ferramentas necessárias para a sua compreensão. Através de uma educação fundamentada na interculturalidade, a Geografia pode dar um importante contributo para que a diversidade cultural não se transforme num factor de exclusão social. Deve promover atitudes e valores conducentes a respeitar os direitos de todos à igualdade, conduzir o ensino da disciplina para uma abordagem menos etnocêntrica, proporcionar o desenvolvimento de novas atitudes, com destaque para a comunicação com os outros e a aceitação e valorização daquele que é diferente. A adição progressiva de vários conteúdos, conceitos, temas e perspectivas das culturas dos diversos grupos étnicos representados no contexto escolar, é fundamental para que os alunos desenvolvam a compreensão acerca da diversidade da sociedade onde vivem e do modo como nela estão interrelacionados. O desenvolvimento das competências no domínio desta disciplina, permite a tomada de decisões, por parte dos alunos, relativamente a questões e problemas étnicos estudados nas aulas, ajudando os alunos a pensar e a tomar decisões e promovendo o sentido de intervenção política e social. 6 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural 6. As percepções dos alunos - Racistas!? Nós??? Ao abordar o subtema 3, Diversidade Cultural, unidade 1, Factores de Identidade e Diferenciação das Populações, no ano lectivo de 2003/2004, inquirimos uma turma do 7.º e outro do 9.º ano na Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico Pêro de Alenquer (onde leccionávamos), na perspectiva de que a escola deve ser capaz de gerir a pluralidade social, cultural e linguística, sem perda da qualidade democrática. Promovemos a tempestade de ideias ou brainstorming, em grupos de 6 elementos, com uma posição pré-definida no debate e a dramatização da situação ou rol playing, em que cada um dos grupos defendia uma posição a favor ou contra a entrada e permanência de imigrantes em Portugal. Numa fase inicial, apliquei um inquérito, que me serviu de controlo, seguindo-se o debate e, posteriormente, a aplicação de um segundo inquérito, semelhante ao primeiro, que tinha como objectivo verificar se as opiniões se tinham alterado a seguir ao debate. Do universo escolar dos alunos do 3.º ciclo da Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos Pêro de Alenquer, de 426 alunos, obtive uma amostra de 39. 7. Observação dos resultados a) Identificação Dos 39 alunos inquiridos, 22 pertencem ao 7,º ano e 17 ao 9.º ano de escolaridade. Em relação ao sexo, 24 alunos são do sexo masculino e 12 do feminino. Obtivemos ainda 2 alunos que não responderam a esta questão. As suas idades estão compreendidas entre os 13 e os 19 anos (gráfico 4). Gráfico n.º 4 – Distribuição das idades dos alunos inquiridos 20 15 10 5 0 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos >= 17 anos Apenas um aluno não tem nacionalidade portuguesa, é brasileiro. No futuro, 46% dos alunos pretende acabar o 12.º ano e ingressar num curso médio ou superior, 7 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural 38% concluir o 12.º ano e 13% o 9.º ano, ingressando depois no mundo laboral. 4% não responderam a esta questão. b) Percepções culturais A maioria dos alunos concorda que a sua língua materna facilita a comunicação e a relação com os amigos, colegas e professores. Concordam também que, o domínio da língua portuguesa é importante na comunicação com os outros. O grau de confiança nas relações, interfere com a importância atribuída ao domínio da língua, dando-lhe os alunos menor importância quando se trata de uma amizade e maior importância quando se trata das relações com os professores (gráfico 5). Gráfico n.º 5 - Importância do domínio da língua portuguesa na comunicação 25 20 Amigos 15 Colegas 10 Professores 5 6Concordância absoluta 5 4 3 2 1 - Total discordância 0 Em relação à valorização dos hábitos culturais pelos colegas, as respostas encontram-se um pouco polarizadas. Entre os alunos do 7.º ano de escolaridade, os hábitos culturais parecem não ser muito valorizados (gráfico n.º 6). 8 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural Gráfico n.º 6 - Valorização dos hábitos culturais pelos colegas 7.º Ano de escolaridade 7 6 Gastronomia 5 Religião 4 Arte 3 Costumes 2 Crenças 1 NR 6Concordância absoluta 5 4 3 2 1 - Total discordância 0 Também no 9.º ano, os hábitos culturais não são muito valorizados entre os colegas (gráfico n.º 7). Gráfico n.º 7 - Valorização dos hábitos culturais pelos colegas 9.º Ano de escolaridade 7 6 Gastronomia 5 Religião 4 Arte 3 Costumes 2 Crenças 1 6Concordância absoluta 5 4 3 2 1 - Total discordância 0 Já relativamente à valorização dos hábitos culturais pelos professores, os alunos tendem a considerar que aqueles respeitam pouco os referidos hábitos (gráfico n.º 8). 9 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural Gráfico n.º 8 - Valorização dos hábitos culturais dos alunos pelos professores 14 12 Gastronomia 10 Religião 8 Arte 6 Costumes 4 Crenças 2 NR 6Concordância absoluta 5 4 3 2 1 - Total discordância 0 Já no que respeita à valorização das atitudes e conhecimentos dos alunos, pelos mesmos professores, a maioria dos alunos aponta para essa valorização, tanto antes, como após o debate realizado na aula. Em relação à percepção de que os contactos com os colegas de grupos culturais diferentes enriquecem os alunos do ponto de vista social e cultural, a posição dos alunos é de concordância, na sua maioria, tendo esta posição saído reforçada a seguir ao debate realizado (gráfico 9). Gráfico n.º 9 – Enriquecimento com o contacto com colegas de grupos culturais diferentes 16 14 12 10 8 6 4 2 0 6concordância absoluta 5 4 3 2 1 - total discordância Antes do debate Depois do debate Quando têm que manifestar a sua opinião em relação ao enriquecimento da sociedade portuguesa, devido à presença de elementos de culturas diferentes, as 10 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural respostas dos alunos inquiridos é de concordância, como se pode verificar pela análise do gráfico n.º10. Gráfico n.º 10 – Enriquecimento da sociedade portuguesa com a presença de elementos de outros povos e culturas 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Antes do debate 6concordância absoluta 5 4 3 2 1 - total discordância Depois do debate Estes jovens também consideraram, na sua maioria, que a vinda de imigrantes estrangeiros para Portugal era vantajosa para o desenvolvimento económico nacional. Os alunos concordam, maioritariamente, com a atribuição da igualdade de direitos aos dos portugueses, pelo Estado português, aos imigrantes estrangeiros, apesar da divisão de opiniões que a questão gerou (gráfico n.º 11). Gráfico n.º 11 – Concessão aos imigrantes de estrangeiros de direitos iguais aos dos portugueses 14 12 10 8 Antes do debate 6 Depois do debate 4 2 6Concordância absoluta 5 4 3 2 1 - Total discordância 0 Também a atribuição de empregos, independentemente da nacionalidade do candidato, dividiu os alunos, tendo sido também um dos temas mais focados durante o debate. As opiniões dos alunos do 7.º e do 9.º ano não são idênticas, pelo que são apresentadas separadamente. Os primeiros concordam, na sua maioria com esta situação, tanto antes, como após o debate (gráfico 12). 11 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural Gráfico n.º 12 – Atribuição de empregos indiferentemente do facto dos candidatos serem portugueses ou imigrantes estrangeiros – 7.º ano de escolaridade 8 7 6 5 Antes do debate 4 Após o debate 3 2 1 6concordância absoluta 5 4 3 2 1 - total discordância 0 No 9.º ano as opiniões mantiveram-se divididas, alterando-se, contudo, do primeiro para o segundo inquérito, os níveis de concordância ou discordância (gráfico n.º 13). Gráfico n.º 13 – Atribuição de empregos indiferentemente do facto dos candidatos serem portugueses ou imigrantes estrangeiros – 9.º ano de escolaridade 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Antes do debate 6concordância absoluta 5 4 3 2 1 - total discordância Após o debate O emprego representa um flagelo actual que tem atingido muitas famílias portuguesas, pelo que, as opiniões expressas no gráfico n.º 14 se encontram divididas. 12 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural Gráfico n.º 14 – Os imigrantes estrangeiros não são os responsáveis pelo aumento do desemprego 12 10 Antes do debate 8 Após o debate 6 4 2 NR 6concordância absoluta 5 4 3 2 1 - total discordância 0 Será que, na opinião destes alunos, o aumento da criminalidade se deve tanto aos imigrantes estrangeiros presentes em Portugal como aos cidadãos nacionais? Na sua maioria, os alunos consideram que se deve tanto a uns como a outros (gráfico n.º 15). Gráfico n.º 15 – O aumento da criminalidade deve-se tanto aos imigrantes estrangeiros como aos cidadãos nacionais 14 12 10 8 Antes do debate 6 Após o debate 4 2 6concordância absoluta 5 4 3 2 1 - total discordância 0 Finalmente, era pedido aos alunos para que, em três palavras, caracterizassem as acções a desenvolver pelo concelho de Alenquer relativamente aos imigrantes. No 7.º ano, as três palavras que registam maior número de frequências, antes da realização do debate, são: igualdade (9); ajuda/entreajuda (7) e integrar (5). Cinco alunos não responderam a esta questão. Após o debate, registaram-se as seguintes palavras: ajuda (8); dar-lhes casas (6) e igualdade (5). Nesta fase, quatro alunos optaram por não responder. Na primeira fase, uma das palavras que apareceu, apenas com uma 13 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural ocorrência, foi expulsão. Esta é uma palavra e um sentimento que pode reflectir algumas das escolhas que foram feitas durante os questionários e que se reflectem nos gráficos anteriormente expostos. No 9.º ano, as três palavras que registaram um maior número de frequências, foram: educar (3); ajudar (2); integrar e respeitar (2). A maioria dos alunos desta turma (10) não respondeu a esta questão. Na fase posterior ao debate, as palavras mais registadas, foram: ajudar (4); educar (2); respeitar (2) e ir embora (2). Mais uma vez, encontramos palavras que apontam no sentido da expulsão dos estrangeiros. Assim, as opiniões são maioritariamente positivas face à presença dos imigrantes. Para os alunos, estes podem trazer um contributo positivo à sociedade devendo possuir igualdade de direitos e deveres na sociedade portuguesa. Defendem, também, que o aumento de criminalidade não é o reflexo directo da entrada de imigrantes em Portugal. O debate que ocorreu entre a aplicação dos dois inquéritos, acabou por esclarecer algumas opiniões, mas nem sempre se obteve o efeito desejado. Por vezes, as opiniões dos alunos inquiridos alterou-se da concordância para a discordância, como aconteceu no item da atribuição de empregos, no 9.º ano de escolaridade, ou relativamente ao aumento do desemprego. 8. Por uma educação geográfica apostada na alteridade Como antes referimos, o exercício de cidadania é, hoje em dia, estimulante, uma vez que vivemos numa democracia participativa, que abre caminho a que os jovens, independentemente da sua nacionalidade e das suas convicções religiosas e políticas, tenha possibilidade de participar activamente na vida do país onde se encontra inserido. Portugal tem servido de país de acolhimento a elementos de mais de 140 minorias étnicas, representando um conjunto de mais de 230 línguas diferentes. Estes valores, à semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, tendem a aumentar. No entanto, o sistema de ensino português, apesar de já apresentar alguma legislação, que reflecte alguma intencionalidade multicultural, ainda não a conseguiu aplicar com sucesso. Resultado da última reforma curricular, a Geografia tem manifestado a preocupação de apresentar aos alunos realidades diferentes, proporcionando oportunidades destes desenvolverem competências geográficas, desempenhando um papel formativo no desenvolvimento e formação para a cidadania. 14 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural Os resultados do inquérito aos alunos permitem-nos concluir, contudo, que existe ainda um longo trabalho a realizar, no âmbito da divulgação de novas culturas, da sensibilização, da plena integração das minorias étnicas, etc. É este o desafio que se coloca à Educação Geográfica. Por um lado, formar jovens portugueses que saibam reconhecer na diversidade, o enriquecimento social e na formação de jovens pertencentes a minorias étnicas e culturais, para que estes se possam sentir cidadãos de pleno direito, em Portugal, sem terem de abandonar os seus hábitos e de se afastarem da sua cultura materna. A Geografia, definida como uma ciência de charneira, pode ter um papel fundamental na organização do ensino destes jovens, dotando-os de ferramentas necessárias para a compreensão do Mundo e o desenvolvimento de atitudes que fundamentem uma culturalidade de alteridade que, desde sempre, está associado à descoberta de outros povos e culturas. 15 O contributo da educação geográfica para uma educação para a cidadania – a educação multicultural Bibliografia CACHINHO, Herculano (2000) – Geografia Escolar: orientação teórica e praxis didáctica, em Inforgeo n.º 15, Edições Colibri, Associação Portuguesa de Geógrafos, Lisboa, pp. 69 – 90. 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