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A IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR NA
FORMAÇÃO ESCOLAR
(Entrevista)
Os Anais do II SEPEG (Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão na Graduação) tem o
privilégio de encerrar o seu primeiro número com a entrevista concedida pelo professor José
Carlos Libâneo, um dos maiores estudiosos da educação no Brasil. Reconhecido
nacionalmente pela sua carreira marcada por importantes contribuições à área de educação e
formação de professores, Libâneo se tornou defensor ferrenho da consolidação de uma escola
pública com excelência na qualidade. É mestre em Filosofia da Educação (1984), pela
PUC/SP, doutor em Filosofia e História da Educação (1990), pela mesma instituição, pósdoutor pela Universidade de Valladolid (2005). É autor de vários livros sobre o tema, com
destaque para os títulos Democratização da escola pública – A pedagogia crítico-social dos
conteúdos, Didática e Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e
profissão docente. Foi professor titular da UFG onde se aposentou. Atualmente, é professor
titular da PUC/Goiás. Convidado a dar a palestra de encerramento do II SEPEG, evento que
contou com a participação de 700 pessoas no Rotary Club da cidade, entre elas estudantes e
professores da UEG (Universidade Estadual de Goiás – Campos Belos) e UFT (Universidade
Federal de Tocantins – Arraias), ex-egressos de ambas as universidade, professores da região
e autoridades locais ligadas à educação, Libâneo, gentilmente, deu a seguinte entrevista à
Rádio Atividade, de Campos Belos.
Ivan Almeida: Professor, eu queria que o senhor sintetizasse para a comunidade de Campos
Belos e região, através do programa “Cidade em Foco”, a palestra proferida no evento II
SEPEG.
Libâneo: Eu queria cumprimentar os ouvintes da rádio, eu estou muito feliz de estar aqui com
os professores e professoras de Campos Belos e da região. Eu aceitei com muito prazer esse
convite porque luto muito por uma boa formação de professores e que, ao mesmo tempo,
atenda às exigências do mundo contemporâneo. Eu mostrei aqui [na palestra] as
transformações pelos quais o mundo está passando, e como esse fenômeno da globalização,
que é uma globalização econômica, política, social em todos os sentidos, faz surgir problemas
para a Escola, pois estamos vivendo um tipo de “catarata informativa” no mundo. E nós
temos aí as tecnologias digitais, que são objetos de uso das crianças e jovens, especialmente, e
que são um poderoso meio de informação, mas não somente de informação para o bem, mas
também fonte de informação para ideias inadequadas, ou para costumes, ou práticas que não
são positivamente educativas. Contudo, ao mesmo tempo, eu também quis dizer aos
professores que eles têm papel fundamental na melhoria das escolas públicas. Eu
especialmente luto muito pelo papel da escola pública para os pobres. Eu disse hoje aqui que,
pelos dados do próprio Ministério da Educação, 56% das crianças e jovens matriculados nas
escolas públicas do nosso País, pertence às camadas mais pobres da população e são essas
crianças e jovens que precisam mais da escola pública. Isso porque a classe média e a classe
alta pagam o ensino para os seus filhos, o que não quer dizer que essas escolas sejam
melhores porque sejam pagas. Não, é claro que não! Mas, eu quero dizer que a oportunidade
que crianças e jovens de famílias pobres da nossa sociedade têm de poder usufruir o
conhecimento, desenvolver o seu pensamento, sua capacidade de pensar com autonomia e
capacidade, também de poder se preparar para o emprego, para participar da política, para
participar da vida cultural, para a vida cotidiana, para a vida pessoal, familiar... A escola
pública é que é o lugar adequado para o ensino e a formação dessas crianças e jovens. Então,
eu vim aqui exatamente dizer aos professores o que eu penso sobre como eles devem colocar
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o seu trabalho, o seu esforço.
Ivan: O senhor fez questão, inclusive, de colocar exatamente como os dois principais pilares a
questão da gestão escolar e, principalmente, da formação do educador.
Libâneo: Exatamente. A escola precisa ser bem gerida, bem organizada e sempre a serviço do
trabalho dos professores. Uma escola boa... Eu disse aqui hoje que uma escola boa seria
aquela que criasse as melhores condições para que os professores possam trabalhar com as
crianças, e com isso propiciar melhor a aprendizagem dos alunos. A responsabilidade pela
formação escolar, pela formação da personalidade dos alunos, está nas mãos dos professores,
e é por isso que eu vim incentivar as faculdades a melhorar a formação. Também reclamei dos
salários dos professores, porque os professores... como se diz, o professor forma para
cidadania. Mas, primeiro, o professor tem que ser cidadão e para ser cidadão ele tem que ter
um salário digno. No nosso país, há um conjunto de condições que eu vejo como necessárias
para que a nossa escola pública seja melhor, que ela seja realmente um lugar onde as crianças
possam aprender coisas, se preparar para vida, se preparar para o futuro e se tornar pessoas
dignas, honestas e que possam participar do debate político, da cultura e cidadania.
Ivan: Doutor José Carlos Libâneo, não forma cidadão quem não é cidadão: como formar
cidadãos neste mundo globalizado, da economia, política e ideologia?
Libâneo: Uma das condições básicas e imprescindíveis da cidadania é a escola, então, isso
não quer dizer que resolvendo esse problema da escola, nós resolvamos todos os problemas
do nosso país, porque há muitas outras coisas a serem resolvidas, como o emprego, benefícios
na área da saúde, do saneamento. É um absurdo que nós tenhamos ainda municípios em nosso
país, que não tenham condições de saneamento básico. A Bolsa Família é uma coisa ótima,
tem tirado muita gente da fome, mas, o que adianta se temos ainda condições precaríssimas de
saneamento, prejudicial à saúde das pessoas? Quer dizer, ela pode se alimentar melhor, pode
comprar coisas, mas as condições de saneamento e de saúde não possibilitam que ela possa
evitar doenças. E enfim, há muitos outros problemas que precisam ser resolvidos, mas eu
creio que a escola é uma exigência de uma sociedade democrática, especialmente para as
famílias mais pobres.
Ivan: Eu,há poucos dias, ouvi da diretora do Colégio Estadual Polivalente professora Antusa,
a professora Verânia, que não conseguiríamos nada sem educação, e hoje o senhor confirma
essa frase com a ideia de que nada é feito sem os professores.
Libâneo: Claro, porque o coração da escola é a aprendizagem, e a garantia da aprendizagem
são os professores. Então, quer dizer, se você valoriza a escola, você tem que valorizar os
professores: vamos pagar um salário decente aos professores, vamos oferecer a eles uma
carreira digna, vamos também oferecer uma ótima formação e vamos ter, na escola, boas
condições para que os professores possam fazer o seu trabalho.
Ivan: Nós queremos agradecer em nome da comunidade escolar de Campos Belos, de um
modo geral em nome da nossa Cidade, em nome da nossa região à pessoa da mais alta
respeitabilidade. O senhor se dispôs e veio aqui trazer conhecimento para todos nós, e a gente
abre os microfones da Rádio Atividade FM, através do programa A cidade em foco. Gostaria
que o Sr. tecesse suas considerações finais sobre a sua visão da educação como especialista da
área, para toda a comunidade campobelense e região.
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Libâneo: Eu quero dizer aos ouvintes da Rádio, que estão nos ouvindo neste momento, que
tive muita alegria em conhecer sua cidade e conhecer os seus professores. Eu quero dizer que
as famílias que estão me ouvindo, as comunidades... que coloquem na cabeça que as famílias
merecem uma escola boa, merecem bons professores. E que isso é uma luta em que as
famílias podem exigir das autoridades públicas, exigir dos governantes que deem mais
atenção ao ensino e à educação, e que deem mais atenção ao ensino. Educação é valorizar
mais os professores. É essa mensagem que eu quero deixar... que a escola que vocês têm faça
diferença na vida de seus filhos, e para isso, são necessários os professores.
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