MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS INPE-7239-TDI/692 ONDAS ELETROSTÁTICAS GERADAS POR INTERAÇÃO DE FEIXE DE ELÉTRONS-PLASMA EM ALGUMAS REGIÕES DE PLASMA ESPACIAL: UM TRATAMENTO POR SIMULAÇÃO VIA PARTÍCULAS Márcio Augusto Ernesto de Moraes Dissertação de Mestrado em Geofísica Espacial, orientada pela Dra. Maria Virgínia Alves, aprovada em 11 de março de 1999. INPE São José dos Campos 1999 533.9 : 523.4-8 MORAES, M. A. E. Ondas eletrostáticas geradas por interação feixe de elétrons-plasma em algumas regiões de plasma espacial: um tratamento por simulação via partículas / M. A. E. MoraesSão José dos Campos: INPE, 1999. 137p. – (INPE- 7239-TDI/692). 1.Instabilidade de plasma. 2.Plasma espacial. 3.Ondas de Langmuir. 4.Ondas eletrostáticas. 5. Interação feixe-plasma. 6.Simulação por partículas. I.Título. À minha família. AGRADECIMENTOS Agradeço ao Dr. Antônio Montes Filho pela permissão do uso das instalações e materiais do INPE/LAP necessários à execução deste trabalho. À minha orientadora, Dra Maria Virgínia Alves, por sua orientação e incentivo transmitidos durante o desenvolvimento deste trabalho. Ao CNPq, pela concessão da bolsa durante o período do desenvolvimento deste trabalho. Agradeço , em especial, à Rosymara que me acompanhou durante todo o mestrado, escutando minhas lamentações, me incentivando, me dando carinho e atenção nas horas que mais necessitei. Aos Membros da banca examinadora pelos comentários e sugestões apresentadas. RESUMO Interações feixe de elétrons-plasma estão presentes em várias regiões de plasmas espaciais, como por exemplo, no vento solar, na região da frente de choque terrestre e na região auroral. Além disto, ondas de Langmuir excitadas por feixes estão relacionadas a emissões de rádio solar tipo III. O objetivo deste trabalho é investigar a evolução auto consistente da instabilidade feixe-plasma em algumas regiões do plasma espacial. Para tanto utilizamos a técnica de simulação por partículas usando o código computacional XPDP1, unidimensional, eletrostático, que permite condições de contorno não periódicas e a inclusão de um campo magnetostático externo. Os resultados são comparados com os obtidos via satélite, disponíveis na literatura. ELECTROSTATIC WAVES DRIVEN BY ELECTRON BEAM-PLASMA INTERACTION IN SOME REGIONS OF SPACE PLASMAS: A TREATMENT BY PARTICLE SIMULATION ABSTRACT Electron beam-plasma interactions are present in many regions of space plasmas, for example, in the solar wind, Earth’s foreshock and auroral region. Besides, Langmuir waves driven by beams are related with the type III solar radio emission. The objective of these works is to investigate the self consistent evolution of the beam-plasma instability in some of these regions. For this, we use particle simulation technique by using the computational code XPDP1, one-dimensional, electrostatic, that allows nonperiodic boundary conditions and static external magnetic fields. The results are compared with ones obtained via spacecraft, available in the literature. SUMÁRIO Pag. LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE SÍMBOLOS 1 INTRODUÇÃO….………………………………………….………… 2 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE SIMULAÇÃO 19 POR PARTÍCULAS………………………………………………………… 25 2.1 Introdução……………………………………………………………… 25 2.2 O modelo de simulação por partículas…………………………………. 26 2.3 Relação entre a grade espacial e grandezas físicas…………….………. 31 2.4 Integração da equação de campo………………………………………. 39 2.5 Integração da equação de movimento…...……………………………... 41 2.6 O código eletrostático unidimensional XPDP1..……………..………… 43 3 INSTABILIDADES EM PLASMAS…………………………. 49 3.1 Introdução……………………………………………………………… 49 3.2 Equações básicas…...………………………………………………….. 50 3.3 Relação de dispersão..………………………………………………….. 55 3.4 Relação de dispersão para as ondas de Langmuir..…………………….. 61 3.5 Instabilidades eletrostáticas em plasma..………………………………. 66 4 EVOLUÇÃO DAS INSTABILIDADES…………………………….. 77 4.1 Introdução……………………………………………………………… 77 4.2 Descrição teórica da evolução das instabilidades..…………………….. 4.3 Ondas de Langmuir associadas a feixes energéticos em plasmas 78 espaciais………………………………………………………………… 89 4.3.1 Evidências das ondas de Langmuir associadas à emissão solar tipo III.. 89 4.3.2 Observação da função de distribuição instável na região da frente de choque terrestre….……………………………………………………... 92 4.3.3 Observações de fenômenos de ondas em plasma na região auroral……. 95 5 DISCUSSÕES E RESULTADOS……………………………………. 99 6 CONCLUSÕES……………………………………………………….. 127 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………. 131 LISTA DE FIGURAS Pag. 2.1 Esquema do ciclo básico do modelo de simulação via partículas. O índice i denota as partículas e o índice j refere-se a grade espacial macroscópica…………………………………………………………… 28 2.1 Exemplos de modelos de simulação 1D, 2D e 3D…………………….. 29 2.2 Sistemas de coordenadas para o modelo eletrostático unidimensional… 30 2.3 Força de Coulomb entre partículas em duas e três dimensões…………. 33 2.4 Lei de força entre partículas de tamanho finito em duas dimensões para partículas de vários tamanhos. Usou-se um perfil de densidade de carga de forma Gaussiana…………………………………………………….. 2.5 Grade espacial unidimensional (índice j), uniformemente espaçada, para cálculo das densidades de carga e de correntes, e dos campos……. 2.6 33 34 Funções de forma ou de ponderação para determinação da densidade de carga e força nos pontos da grade: (a) ordem zero (NGP); (b) primeira ordem (CIC, PIC); (c) segunda ordem (parabólica ou quadrática). Observe que x= xi-xj…….………………………………... 36 2.7 Ponderação linear de cargas num sistema unidimensional cartesiano. Observa-se que neste caso a interpretação de “Nuvem em Célula” (CIC) (a) ou interpretação de “Partícula em Célula” (PIC) (b) levam ao mesmo resultado, o que não é válido para outros sistemas de coordenadas. A distância representada pelo tom de cinza escuro é usada para determinar a densidade de carga no ponto j da grade, enquanto a distância representada pelo tom de cinza mais claro é usada para determinar a densidade de carga no ponto j+1……………………. 38 2.8 Esboço da integração no tempo pelo método de “leap-frog”…………... 42 2.9 Configuração em coordenadas planares com o circuito RLC em série e fonte de voltagem/corrente. Nestas coordenadas, considera-se o movimento das partículas na direção x………………………………… 2.10 44 Esquema da função de ponderação linear para a grade espacial. O índice i denota as partículas e j o índice da grade. Para partículas na célula adjacente a um eletrodo, a ponderação deve ser contada para a metade da célula………………………………………………………... 45 3.1 Relação de dispersão de Bohm-Gross normalizada……………………. 65 3.2 Relação de dispersão do acoplamento entre a oscilação de elétrons no plasma com as ondas rápida e lenta do feixe…………………………… 69 3.3 Caminho de integração na velocidade v da equação 3.56……………… 73 3.4 Distribuição de velocidade dos elétrons do sistema do tipo Maxwelliana na forma e − v …………………………………………….. 2 74 3.5 Distribuição de velocidade instável devido a presença do feixe de elétrons………………………………………………………………….. 4.1 Relação de dispersão das ondas num sistema feixe de elétrons-plasma para o caso do regime hidrodinâmico (feixe frio)……………………… 4.2 80 Relação de dispersão das ondas à medida que o feixe se dispersa devido ao processo de aprisionamento…………………………………. 4.3 75 82 Órbitas dos elétrons no espaço de fase durante o processo de aprisionamento descrito pela teoria quasi-linear em três diferentes instantes de tempo……………………………………………………… 4.4 83 Energia do campo elétrico da onda de Langmuir em função do tempo durante o desenvolvimento da instabilidade feixe-plasma para o caso de um feixe frio………………………………………………………… 4.5 84 Curva experimental da potência total da onda observada numa coluna de plasma (ne ≈ 7× × 108 cm-3; Te ≈ 20 eV) em função da distância do ponto de injeção de um feixe de elétrons de corrente igual a 1,0 mA….. 4.6 Diagrama de espaço de fase dos elétrons num sistema feixe-plasma obtido através de simulação por partículas…………………………….. 4.7 85 86 Função de distribuição do sistema feixe-plasma f(v) e intensidade de energia da onda I(vφ) durante a evolução da instabilidade: (a) condição inicial em t = 0; (b) após certo crescimento da onda (t > 0) e (c) saturação da onda de Langmuir e a formação do “plateau” (t → ∞ )…… 87 4.8 Ilustração da emissão de rádio solar tipo III. O feixe de elétrons se propaga a partir do Sol após um “flare” e excita as ondas de Langmuir.. 4.9 90 Resultados medidos pelo experimento ISEE-3, no evento de 8 de Fevereiro de 1979 para a evolução da função de distribuição de velocidades para tempos distintos……………………………………… 4.10 91 Resultados medidos pelo experimento ISEE-3, no evento de 8 de Fevereiro de 1979 para o campo elétrico no intervalo de tempo de 701705 UT………………………………………………………………….. 4.11 Ilustração da formação da região da frente de choque terrestre. do elétron…………………………………………………………………... 4.12 92 93 Mapa de contorno da superfície f(w||,w⊥ ) (Figura 4.11a) obtido de uma medida feita em três dimensões da distribuição de velocidades dos elétrons nos contornos da frente de choque eletrônica. Os pontos sobre as linhas de contorno localizam as medidas no espaço de velocidades. Função de distribuição reduzida, que mostra um segundo pico em w|| = -7×108 (Figura 4.11b). Mapa de contorno de w⊥ f(w||,w⊥ ) normalizada mostrando a contribuição das velocidades perpendiculares a função de distribuição reduzida em cada velocidade paralela (Figura 4.11c)…….. 4.13 94 Ilustração dos fenômenos de plasma que ocorrem na região auroral, associado aos elétrons aurorais…………………………………………. 96 4.14 (a) Um espectrograma da energia média do fluxo de elétrons alinhado com o campo sobre período de 2 s. A parte mais escura indica um alto fluxo. Existem 16 canais de energia discreta representada no eixo vertical. (b) A amplitude das ondas de alta freqüência (200 kHz a 5 MHz) paralelas ao campo elétrico mediada sobre um período de 2 ms. Os cinco períodos da onda Langmuir são notados. (c) A densidade dos elétrons como medidas por uma sonda de Langmuir…………………... 5.1 Perfil espacial do potencial eletrostático em t=1ms ( ≈ 20ω −pe1 ) ; excitação a partir do ruído ……………………………………………... 5.2 97 103 Variação espacial da amplitude da onda W, mediada no tempo, em t ≈ 100ω −pe1 ………………………………………………………………. 104 5.3 Espaço de fase (x vesus vx) em t ≈ 100ω −pe1 …………………………….. 105 5.4 Espaço de fase (x versus vx) em t ≈ 180ω −pe1 ……………………………. 105 5.5 Evolução temporal da função de distribuição do feixe acima de t ≈ 100ω −pe1 ………………………………………………………………. 5.6 Espectro de potência do potencial em x=L/2 e t = 100ω −pe1 ( sobre 64ω −pe1 ) ………………………………………………. 5.7 Espectro de potência do potencial em x=L/2 106 107 e t = 1500ω −pe1 ( sobre 64ω −pe1 ) ……………………………………………... 107 5.8 Diagrama espaço-temporal da amplitude de alta freqüência, W, com B=0……………………………………………………………………... 5.9 Diagrama espaço-temporal da amplitude de alta freqüência, W, com B dado por ω ce / ω pe = 0.01 ………………………………………………. 5.10 114 Diagrama espaço-temporal para a amplitude das ondas de alta frequência, W, com campo magnético nulo, para o caso Alaska’88...…. 5.14 111 Variação espacial da amplitude do campo elétrico em um tempo t = 10 µ s (≈ 14ω −pe1 ) ……………………………………………………... 5.13 110 Diagrama espaço-temporal para amplitudes de baixa frequência, com um campo magnético dado por ω ce / ω pe = 0.01 ……………………….. 5.12 110 Diagrama espaço-temporal para amplitudes de baixa frequência, na ausência de campo magnético………………………………………….. 5.11 109 116 Diagrama espaço-temporal para a amplitude das ondas de alta frequência, W, com campo magnético dado por ω ce ω pe = 0.82 , para o caso Alaska’88…………………………………………………..…….... 5.15 Gráfico da variação espacial da amplitude do campo elétrico, para um tempo de t = 70µ s ( ≈ 66ω −pe1 ) …………………………………………... 5.16 116 117 Diagrama espaço temporal da amplitude das ondas excitadas W, na ausência de campo magnético, para o caso BIDARCA……….……….. 118 5.17 Diagrama espaço-temporal da variação da amplitude das ondas excitadas, W, na presença de um campo magnético dado por ω ce ω pe = 1.21 , para o caso BIDARCA….……………………………. 5.18 Variação espacial da amplitude do campo elétrico em t=2ms (cerca de ≈ 57ω −pe1 )………………………………………………………………... 5.19 119 122 Variação espacial da amplitude da onda normalizada, W, mediada no tempo (cerca de ≈ 8ω −pe1 ), obtida no tempo em t=2ms (cerca de ≈ 57ω −pe1 )………………………………………………………………... 123 5.20 Espectro de potência do potencial em x=l/4 e t=3ms ( ≈ 85ω −pe1 )………. 124 5.21 Espectro de potência do potencial em x=l/4 e t=10ms ( ≈ 285ω −pe1 )……. 124 5.22 Diagrama espaço-temporal das amplitudes das ondas de alta frequência, com campo magnético nulo, para a região da frente de choque…………………………………………………………………... 5.23 125 Diagrama espaço-temporal das amplitudes das ondas de alta frequência, com um campo magnético dado por ω ce ω pe = 0.008 , para a região da frente de choque……………………………………..……... 126 LISTA DE TABELAS Pag. 5.1 Parâmetros adquiridos pelo satélite ISEE 3, para o evento de 8 de Fevereiro de 1979, no vento solar.………………………………………… 5.2 101 Valores dos parâmetros de entrada para a simulação do evento de 8 de Fevereiro de 1979, na região de vento solar………...……………………... 102 5.3 Parâmetros obtidos pelos experimentos BIDARCA e Alaska’88…………. 112 5.4 Parâmetros usados para caracterizar os eventos na região auroral para a simulação…………………………………………………………………... 113 5.5 Parâmetros típicos para a região da frente de choque (Dum 1990)…...…... 120 5.6 Parâmetros usados para simulação da região da frente de choque…….…... 121 LISTA DE SÍMBOLOS r r r v r J r E r B r H Vetor posição Vetor velocidade Vetor densidade de corrente Vetor campo elétrico Vetor campo magnético Vetor indutância magnética ω ps Frequência de plasma para a espécie s λD Comprimento de Debye λ0 Comprimento de onda σ Condutividade elétrica ρ Densidade de carga ε0 Permissividade elétrica µ0 Permeabilidade magnética η r F rr P rr ε r k Resistividade elétrica Força que atua na partícula Tensor pressão cinética Tensor dielétrico Vetor de onda ω v~ Frequência de oscilação φ Potencial elétrico γ Constante da equação adiabática γbp Taxa de crescimento da instabilidade feixe-plasma Ω cs Frequência ciclotrônica para partículas da espécie s Vetor constante ν sp Frequência de colisão entre partículas da espécie s e p e Carga do elétron f Função de distribuição fps Frequência de plasma para partículas da espécie s em Hz KB Constante de Boltzman l Comprimento do sistema lQL Comprimento de relaxação do feixe m Massa da partícula n0 Densidade de partículas nc Número de células na grade p Pressão cinética escalar q Carga da partícula RT Raio da Terra Ts Temperatura para partículas da espécie s W Energia da onda normalizada CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Os sistemas físicos que se tornaram acessíveis ao homem nas últimas décadas podem ser tão complexos que as observações, os modelos conceituais e a teoria analítica não são suficientes para averiguar todos os fenômenos que ocorrem na natureza. Um novo método para investigar o comportamento de sistemas físicos complexos tem sido desenvolvido graças ao grande avanço na tecnologia dos computadores modernos: o método de simulação computacional. As simulações são utilizadas para resolver equações básicas, com poucas aproximações, e em geral permitem que efeitos locais, não lineares e dependentes do tempo possam ser analisados. Este método envolve o desenvolvimento de um modelo numérico do sistema a ser investigado, o qual é transformado num código computacional, que permite ao sistema evoluir no tempo a partir de alguma condição inicial de interesse e de acordo com as leis físicas relevantes. Os resultados obtidos por este método podem ser usados para uma análise complementar sobre os modelos conceituais e analíticos e ainda indicar onde estudos observacionais devem ser feitos. Muitas simulações são realizadas para obter resultados de interesse prático imediato, tais como: o desempenho de um dispositivo de fusão, de um acelerador de partículas, de um dispositivo eletrônico para a geração de radiação, para prever o desempenho de um “chip”, prever o clima, o impacto das atividades humanas sobre o clima no mundo, e muitas outras aplicações. Na física de plasma, a simulação vem sendo muito utilizada para estudos de fenômenos que ocorrem em, plasmas de laboratórios, como por exemplo, o estudo de aquecimento de plasma via injeção de feixe de partículas em experimentos voltados a fusão termonuclear controlada, passando por plasmas espaciais, para averiguar, principalmente, processos ondulatórios; até plasmas astrofísicos, para estudos de interações entre galáxias. 19 As simulações computacionais aplicadas para plasmas, abrangem duas grandes áreas distintas desenvolvidas ao longo dos anos. Plasmas podem ser categorizados por uma descrição dada pelas equações de fluidos ou uma descrição cinética, onde uma representação mais complexa da função de distribuição das partículas é necessária. Em particular neste trabalho, usa-se uma descrição cinética chamada método de simulação via partículas. Este método teve seu início no final da década de 50, e começo da de 60 e tem demonstrado ser um método poderoso e eficiente na análise da evolução espacial e temporal de muitos fenômenos em plasmas (Dawson, 1985; Hockney e Eastwood, 1983; Birdsall e Langdon, 1985). Na simulação computacional via partículas é considerado o movimento individual de um grande número de partículas na presença de campos eletromagnéticos internos autoconsistentes e/ou de campos externamente aplicados. Devido às limitações computacionais é necessário a utilização de algumas técnicas sofisticadas (Dawson, 1985; Hockney e Eastwood, 1983; Birdsall e Langdon, 1985) tais como a introdução de uma grade espacial macroscópica para o cálculo das interações partícula-campos e a introdução do conceito de “super-partícula”, de forma que uma partícula na simulação pode representar muitas partículas do plasma real, para contornar uma das maiores limitações que é o número de partículas individuais que podem ser seguidas na simulação. Atualmente, nos computadores disponíveis neste instituto, o número de partículas possível de simular é da ordem de 105. Este número é bastante razoável para uma análise estatística do problema de estudo. Uma outra consideração, alternativa, é que a simulação pode ser feita para uma pequena região do plasma, mas representativa (Birdsall e Langdon, 1985; Dawson, 1983; Hockney e Eastwood, 1981). Quando métodos apropriados são usados, sistemas relativamente pequenos de alguns milhares de partículas podem realmente simular de maneira precisa o comportamento coletivo de plasmas reais. Muitos códigos computacionais utilizando partículas têm sido desenvolvidos nos últimos anos; estes podem ser uni, bi e tri-dimensionais, eletrostáticos, magnetostáticos 20 e eletromagnéticos com objetivo de estudar os mais diversos problemas. Neste trabalho de dissertação foi utilizado o código computacional (“Plasma Device Planar 1Dimensional”) XPDP1 que é unidimensional, eletrostático e permite simular um plasma contido entre dois eletrodos, ambos podendo estar conectados através de um circuito externo RLC; um campo magnetostático externo também pode ser aplicado. As simulações via partículas vêm sendo utilizadas com sucesso para estudos de instabilidades feixe-plasma em regiões de plasma espacial (Dum, 1990; Cairns e Nishikawa., 1989; Muschietti et al., 1995). O estudo da interação de feixes de elétrons com plasmas é um dos fenômenos mais antigos da física de plasma, mas ainda hoje atrai atenção de vários grupos de pesquisas espalhados pelo mundo. Um dos processos fundamentais estudado na interação feixe-plasma é a excitação das ondas eletrônicas de plasma, ou ondas de Langmuir: elas são induzidas facilmente por feixes de elétrons presentes em plasmas espaciais. Medidas locais feitas por satélites ou foguetes, levaram a estudos detalhados das ondas de Langmuir induzidas por feixes no ventos solar (Lin et al., 1981), na região da frente de choque terrestre (Fitzenreiter et al, 1984) e na região auroral inferior (Ergun et al., 1991). Além disto, estas ondas estão relacionadas a emissões de rádio solar tipo III (Lin et al., 1986). Até recentemente, as simulações eram feitas considerando condições de contorno periódicas, onde feixes muito mais intensos do que os observados eram usados, razões entre as massas eram fictícias, para diminuir o efeito do ruído devido ao pequeno número de partículas e para diminuir o tempo de computação (Dum, 1990). Atualmente, pode-se simular um plasma num sistema aberto, com condições de contorno não periódicas, permitindo a injeção de feixes nos contornos do sistema (Muschietti et al., 1995). Isto evita a reciclagem das correlações onda-partícula que estão associadas ao uso das condições de contorno periódicas. Neste trabalho de mestrado o objetivo do estudo é verificar a excitação das ondas de Langmuir via instabilidade feixe-plasma usando simulação via partículas com condições 21 de contorno não periódicas. As regiões para as quais a simulações foram aplicadas são: coroa solar, região auroral inferior e região da frente de choque terrestre. Estas regiões têm parâmetros bastantes distintos quanto às razões de densidade de partículas feixeplasma, nb/n0 , velocidade de deriva do feixe com relação à velocidade térmica dos elétrons, e influência do campo magnético. Assim sendo, esse trabalho consistirá num estudo criterioso para a determinação das condições iniciais, de contorno e dimensões do sistema. Além dos parâmetros físicos, há que se considerar as limitações impostas por instabilidades numéricas ao espaçamento da grade espacial e ao passo no tempo para a integração. Uma vantagem característica da simulação computacional é que a física do problema pode ser introduzida passo a passo, permitindo assim diferenciar entre os efeitos que ocorrem simultaneamente e os que competem entre si. Embora o número de informações obtidas “in situ” em plasmas espaciais tenha crescido muito nos últimos anos, ainda nem sempre pode-se obter informações simultâneas sobre ondas e partículas e os diagnósticos para medidas de partículas são ainda limitados. Experimentos computacionais permitem um número ilimitado de diagnósticos. É possível seguir a dinâmica da evolução da função de distribuição e o espectro da onda, os quais são dependentes um do outro para o tema estudado. O trabalho está organizado da seguinte forma: No Capítulo 2 são apresentados os conceitos básicos utilizados na simulação via partículas. Descreve-se ainda como é feita a relação entre as quantidades físicas e as grandezas na grade espacial, a integração das equações de movimento e da equação de Poisson. Apresenta-se ainda o código computacional utilizado neste trabalho. No Capítulo 3 mostra-se analiticamente como as oscilações eletrostáticas de plasma, ou ondas de Langmuir, podem ser excitadas num sistema feixe-plasma. Primeiramente introduzem-se as equações básicas para o desenvolvimento das instabilidades, depois obtém-se a relação de dispersão que descreve a evolução das instabilidades para um caso bastante simplificado. 22 No Capítulo 4 são apresentadas as teorias formuladas que descrevem a evolução das instabilidades geradas num sistema feixe-plasma. As teorias apresentadas neste Capítulo formam a base para o cálculo de todos os parâmetros utilizados na simulação. Neste Capítulo faz-se, também, uma descrição das regiões, para as quais as simulações foram aplicadas, com evidências observacionais das ondas de Langmuir. No Capítulo 5 apresentam-se os resultados obtidos via simulação para as regiões de plasmas espaciais de interesse neste trabalho de dissertação, e discussões quanto a caracterização da evolução da instabilidade feixe-plasma. Finalmente, as conclusões relativas aos principais resultados obtidos são descritos no Capítulo 6, juntamente com sugestões para trabalhos futuros. 23 24 CAPÍTULO 2 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE SIMULAÇÃO POR PARTÍCULAS 2.1 INTRODUÇÃO Desde Galileu Galilei e Aristóteles que teoria e experimentos tornaram-se ferramentas essenciais para o entendimento de fenômenos físicos. As técnicas experimentais consistem em perturbar o sistema de maneira controlada e observar seu comportamento. Numa abordagem teórica, modelos matemáticos do sistema físico são tratados analiticamente para determinar seu comportamento. A evolução rápida dos computadores permitiu a introdução de uma nova técnica de investigação de fenômenos físicos: a simulação computacional. A idéia básica de um experimento computacional é simular o comportamento físico de um sistema, resolvendo um conjunto apropriado de Equações matemáticas. Este conjunto é obtido com base num modelo físico-matemático do sistema, bem fundamentado e aceito. Realiza-se então um experimento numérico num computador, permitindo-se que o sistema evolua a partir de condições iniciais de interesse. Os resultados obtidos podem ser comparados com resultados experimentais e com a teoria. Podem ainda prever comportamentos em novos experimentos. Embora similares às técnicas tradicionais usadas em laboratório, onde os parâmetros físicos são variados de maneira controlada, os experimentos computacionais fornecem algumas vantagens: informações detalhadas podem ser obtidas; os diagnósticos são não invasivos, ou seja, não perturbam o sistema; os efeitos podem ser considerados ou não, permitindo identificar o processo relevante para um dado fenômeno observado e 25 finalmente, os experimentos podem ser reproduzidos de forma semelhante. Além disto, permitem investigar fenômenos lineares, não lineares e efeitos dependentes do tempo. Dentre as técnicas de simulação computacional utilizadas para investigar plasmas, uma das mais antigas é a simulação por partículas, que será utilizada neste trabalho e descrita a seguir. 2.2 O MODELO DE SIMULAÇÃO POR PARTÍCULAS De uma forma bastante simplificada, pode-se dizer que o método de simulação por partículas consiste em acompanhar um grande número de partículas carregadas movendo-se sob a ação de forças (ou campos) produzidas pelo próprio movimento das partículas, resultantes da interação entre as mesmas, e/ou campos externamente aplicados. A física é vista em duas partes, os campos produzidos pelas partículas e o movimento das mesmas devido às forças (ou campos). r Conhecendo-se a posição ( r ) e a velocidade ( v ) de cada partícula pode-se calcular as r densidades de carga ( ρ ) e corrente elétrica ( J ) e com estas, através das Equações de r r Maxwell, calculam-se os campos elétrico ( E ) e magnético ( B ), e consequentemente a força que atua sobre as partículas. Feita esta operação, movem-se as partículas e recalculam-se os campos a partir das novas posições e velocidades. Este procedimento é repetido por vários passos no tempo. A Equação que rege o movimento, é a de Newton-Lorentz: r r r r dv m = q( E + v × B ) , dt r dr =v. dt (2.1) (2.2) 26 Os campos elétrico e magnético auto consistentes são obtidos a partir das densidades de carga e corrente elétrica através das Equações de Maxwell no sistema MKSA r r ρ ∇. E = , ε0 (2.3) r r ∇. B = 0 , (2.4) r r r ∂B ∇×E = − , ∂t (2.5) r r r r ∂E ). ∇ × B = µ0 (J + ε 0 ∂t (2.6) Este processo é transformado num código computacional, conforme ilustrado na Figura 2.1. O ciclo começa em t=0 com alguma escolha apropriada para as velocidades e posições das partículas. Em geral os campos são obtidos somente sobre pontos discretos no espaço, Ej, Bj, numa grade espacial pré-definida, a partir das densidades de corrente r r e carga obtidas nestes mesmos pontos, Jj e ρ j respectivamente, a partir de ri e v i . Fazse necessário designar a partir da posição e velocidade distribuídas ao longo de todo r espaço, um número finito de pontos para J e ρ , conservando-se fisicamente as mesmas. Esta designação é feita através da utilização de uma ponderação ou suavização, como será explicado a seguir. As grades espaciais são comumente usadas devido ao fato de que o cálculo de forças interagindo sobre grades espaciais é muito mais eficiente do que somar diretamente as forças sobre todas as partículas na simulação. 27 Fig. 2.1: Esquema do ciclo básico do modelo de simulação via partículas. O índice i denota as partículas e o índice j refere-se a grade espacial macroscópica. FONTE: Alves (1990, p. 9). Resolver as Equações (2.1)-(2.6) leva a um modelo tridimensional (3D) e eletromagnético. Dependendo do problema a ser estudado, nem todas as Equações de Maxwell precisam ser resolvidas; além disso, pode-se construir modelos de uma (1D), duas (2D) e três (3D) dimensões. A Figura (2.2) mostra exemplos de modelos eletrostáticos. O modelo unidimensional pode ser pensado como um grande número de células de r partículas carregadas movendo-se sob a ação de um campo elétrico E , direcionado ao longo do eixo x, externamente aplicado e dos campos internos auto consistentes; não existe variação em y ou z. O modelo bidimensional consiste de uma série de hastes paralelas ao eixo-z. O tridimensional consiste, obviamente, de partículas tridimensionais. Não será visto detalhamento dos modelos 2D e 3D, somente o 1D será estudado com mais detalhes. 28 Fig. 2.2 – Exemplos de modelos de simulação 1D, 2D e 3D. FONTE: Tajima (1989, p. 14). No caso do modelo eletrostático unidimensional, as Equações citadas anteriormente são simplificadas considerando que a posição da partícula está sempre na direção x, o campo magnético, se este existe, é externamente aplicado, constante e orientado ao longo do eixo-z e a velocidade da partícula apresenta componentes v x e v y descrevendo rotação em torno do campo magnético, conforme mostra a Figura (2.3) 29 Fig. 2.3 – Sistema de coordenadas para o modelo eletrostático unidimensional. FONTE: Alves (1988, p. 5). Nota-se, na Figura (2.3), a existência de componentes da velocidade da partícula na direção x e y, relacionadas ao movimento ciclotrônico em torno de B , implicando em deslocamento de corrente também na direção y, mas as quantidades importantes tais como densidade de carga, potencial elétrico, campo elétrico, campo magnético e outras quantidades de interesse no estudo, não variam nesta direção, estas variam somente na direção x. Dessa forma, diz-se que x é uma dimensão completa e y é meia dimensão 1 ( 1 ), e a dinâmica na direção y é dita ser fragmentada. Pode-se generalizar o modelo 2 considerando a variações da velocidade na direção z, assim, ambas as direções y e z são 2 consideradas meia dimensão ( 1 ). Estes modelos são importantes para análise de 2 efeitos eletromagnéticos que envolvem correntes perpendiculares ao vetor de onda k . As dimensões fragmentadas têm importância em plasmas magnetizados com anisotropias e podem tornar-se significantes em alguns fenômenos isotrópicos (Tajima, 1989). 30 2.3 - RELAÇÃO ENTRE A GRADE ESPACIAL E GRANDEZAS FÍSICAS Na seção anterior apresentou-se uma idéia bem geral do método de simulação por partículas, mas ainda falta descrever como um sistema físico pode ser representado em um experimento computacional. Uma questão respondida nesta seção é a relação entre as grandezas físicas das partículas e a grade espacial. Para o caso eletrostático e partículas pontuais deseja-se, basicamente, resolver as Equações: &rr& = qi Mi n ( 1− ) 2 r r ( 2π ) ∑j E j ( ri ) = M i r r q j ( ri − rj ) ∑ r rn , ri − rj (2.7) para um grande número de partículas, onde i refere-se as partículas, qi e Mi são sua carga e massa e n está relacionada à dimensão do modelo, 1, 2 ou 3. Quer-se resolver estas Equações para 104 a 106 partículas, mas uma estimativa direta mostra que isso não é plausível nos computadores atuais. Suponha que se tenha N partículas, então para cada partícula a soma sobre j contém N termos e deve-se resolver a Equação (2.7) para todas N partículas, assim o número de operações é proporcional a N2. Cada termo na soma envolve um certo número de operações . Para o propósito, supondo que 10N2 operações estão envolvidas por um passo no tempo δt , tem-se N op ≈ 10N 2 por passo no tempo. Se forem usadas 105 partículas em um computador que em média leva 10-7s por operação aritmética, serão necessários 104s por passo no tempo para resolver as forças, assim simulações envolvendo 103 a 104 passos no tempo levarão de um mês a um ano para serem feitas. Claramente vê-se que dessa forma as simulações não são úteis. 31 As partículas em laboratório são, geralmente, consideradas pontuais, com uma força entre elas proporcional à 1 r n −1 , onde r é a distância entre as partículas e n a dimensão do sistema. Esta força apresenta a propriedade de sua intensidade diminuir lentamente com a distância, significando que muitas partículas podem interagir simultaneamente, sendo esta parte da força responsável pelos efeitos coletivos. Os efeitos colisionais são causados pelos impulsos associados a passagem de duas partículas próximas uma da outra. Assim é necessário uma força do tipo Coulombiana para grandes distâncias, mas que tende à zero para pequenas distâncias, para poder reproduzir o comportamento coletivo e ao mesmo tempo reduzir a taxa de colisão. Com a introdução de partículas de tamanho finito (macropartículas), isto torna-se possível. Com este conceito, a carga destas partículas estarão distribuídas em uma pequena região do espaço e as variações nas densidades internas à essa região não podem ser resolvidas. Em geral, as partículas tem seu tamanho escolhido baseado na grade espacial. Devido as partículas possuirem tamanhos determinados a densidade de carga e corrente e consequentemente a força são afetadas. Assim, se introduz um fator de forma ou ponderação, S(r), que ajusta estas quantidades. Na Figura (2.4) é mostrado o comportamento da força entre as partículas em função da distância para cargas pontuais em duas e três dimensões, e na Figura (2.5) o comportamento da força com as cargas de tamanho finito. 32 Fig. 2.4. Força de Coulomb entre partículas em duas e três dimensões. FONTE: Dawson (1983, p. 406). Fig. 2.5. Lei de força entre partículas de tamanho finito em duas dimensões para partículas de vários tamanhos. Usou-se um perfil de densidade de carga de forma Gaussiana. FONTE: Dawson (1983, p. 406). 33 Seja l o tamanho do sistema e NC o número de células ou intervalos na grade espacial, como mostra a Figura 2.6. De acordo com esta Figura o espaçamento ∆x entre os pontos consecutivos da grade é dado por: ∆x = l / NC . (2.8) Fig. 2.6. Grade espacial unidimensional (índice j), uniformemente espaçada, para cálculo das densidades de carga e de corrente, e dos campos. FONTE: Alves (1990, p. 11). A densidade de carga nos pontos é obtida a partir da carga e posição das partículas através da expressão: ρ j ≡ ρ ( x j ) = ∑ qi S ( x j − x i ) , (2.9) i onde S(xi-xj) é a função de forma ou de ponderação que depende basicamente da distância entre a partícula (índice i) e o ponto considerado na grade (índice j). Calculadas as densidades de carga ρ j ' s obtém-se o campo elétrico Ej em cada ponto da grade resolvendo-se a Equação de Poisson. Levando-se em conta a função de forma anterior, calcula-se a força que atua sobre a partícula a partir dos Ej’s, através da força de Lorentz, Fi = qi ∆x ∑ E j S ( x j − x i ) . j 34 (2.10) A função de forma S deve ser tal que a carga sobre as grades seja a mesma que a carga total das partículas, ou seja: ∑q i i = ∆x ∑ ρ j . (2.11) j As funções de forma podem ter diversas variações sendo a diferença fundamental entre elas a maneira de se acumular carga nos pontos da grade, a partir das posições das partículas. A variação mais simples é conhecida como (“Nearest Grid Point”) NGP ou “Ponto da Grade mais Próximo” que pondera igualmente todas as partículas que se encontram a uma distância ∆x / 2 do ponto da grade considerado. Assim todas as cargas contidas num intervalo ∆x , em torno de x j = j∆ x , são acumuladas igualmente para se determinar ρ j , independentemente da distância |xj - xi|. Este esquema de ponderação é de ordem zero e a função de forma correspondente é retangular conforme mostra a Figura (2.7a). Neste caso tem-se: 1 ∆x ; x < ∆x / 2 , S( x) = 0 ; x > ∆ x / 2 onde x=xj-xI. 35 (2.12) Fig. 2.7. Funções de forma ou de ponderação para determinação da densidade de carga e da força nos pontos da grade: (a) ordem-zero (NGP); (b) primeira ordem (CIC, PIC); (c) segunda ordem (parabólica ou quadrática). observe que x=xi - xj. FONTE: Alves (1988, p. 9). 36 Uma outra variação da função de forma é a de primeira ordem que pode ser interpetrada de duas maneiras. A primeira é denominada (“Cloud in Cell”) CIC ou “Nuvem em Célula” e a segunda é denominada (“Particle in Cell”) PIC ou “Partícula em Célula” (Birdsall e Fuss, 1969). Em ambos os casos considera-se que a partícula tem uma dimensão finita, da mesma ordem que a dimensão da célula. A diferença entre esses dois casos é que no primeiro a posição da partícula, xi, determina o seu centro e a partícula vai de x i − ∆x / 2 a x i + ∆x / 2 enquanto que no outro caso a partícula é limitada pelas posições dos pontos da grade mais próximos, independente da sua localização na célula. No caso de “Nuvem em Célula” considera-se como peso para cada célula a intersecção entre a partícula e a célula, e no “Partícula em Célula” pondera-se a carga de cada partícula conforme a distância |xj-xi| ao ponto da grade. Estas duas interpretações são ilustradas na Figura (2.8) em coordenadas retangulares, que levam ao mesmo resultado com exceção dos pontos de grade 0 e NC. As flutuações (ou ruídos numéricos) na densidade de carga são muito mais suaves do que no esquema de ordem zero. A função de forma de primeira ordem é ilustrada na Figura (2.7b) e pode ser expressa por: | x| 1 | x |< ∆x ∆x (1 − ∆x ) ; . S( x) = 0 ; | x |≥ ∆x 37 (2.13) Fig. 2.8 – Ponderação linear de cargas num sistema unidimensional cartesiano. Observe que neste caso a interpretação de “Nuvem em Célula” (CIC) (a) ou interpretação de “Partícula em célula” (PIC) (b) levam ao mesmo resultado, o que não é válido para outros sistemas de coordenadas. A distância representada pelo tom de cinza mais escuro é usada para determinar a densidade de carga no ponto j da grade, enquanto a distância representada pelo tom de cinza mais claro é usada para determinar a densidade de carga no ponto j+1. FONTE: Alves (1990, p. 14). Esquemas de ponderação de ordem superior também podem ser utilizados, dependendo de quão precisamente se queira resolver o problema. Na Figura (2.7c) é mostrado uma função de ponderação consistindo de três seções parabólicas de comprimento ∆x cada e unidas sem descontinuidades na curvatura; mais informações a respeito podem ser obtidas em Birdsall e Langdon (1985). Note que em qualquer caso a função de forma é normalizada tal que: ∫ S ( x )dx = 1 . (2.14) 38 2.4 INTEGRAÇÃO DA EQUAÇÃO DO CAMPO Uma vez determinadas as densidades de carga e corrente elétrica em cada ponto da grade, pode-se obter os campos elétrico e magnético a partir das Equações de Maxwell, usando ρ e J como fontes. Aqui será considerado o caso do problema eletrostático, em r r r r r uma dimensão, ou seja, ∇ × E = −∂B / ∂t = 0 e pode-se escrever, E = −∇φ . As Equações a serem resolvidas são: r r E = −∇ φ r r ρ ∇. E = ε0 Ex = − ou ∂φ , ∂x ∂E x ρ = , ε0 ∂x ou (2.15) (2.16) as quais combinadas, fornecem a Equação de Poisson: ∇2φ = − ρ ou ε0 ∂ 2φ ∂x 2 =− ρ . ε0 (2.17) Utilizando-se o método de diferenças finitas (Potter, 1973), pode-se resolver as Equações (2.15) e (2.17) usando a grade mostrada na Figura(2.4) como: Ej = φ j −1 − φ j +1 2∆x , (2.18) 39 φ j −1 − 2φ j + φ j +1 ( ∆x ) 2 =− ρ . ε0 (2.19) Esta última Equação pode ser escrita na forma matricial como: Aφ = − ( ∆x ) 2 ρ. ε0 (2.20) Nas Equações (2.18) e (2.19) o índice das variáveis φ , ρ e E varia de 0 a NC (número de células na grade). Nos pontos j=0 e j=NC as Equações dependem das condições de contorno a serem utilizadas. Conhecendo-se os ρ ,j s , o número de Equações será igual ao número de icógnitas, e o problema tem solução única. No caso unidimensional eletrostático obtém-se uma matriz tridiagonal que pode ser resolvida pelo método de eliminação de Gauss (Potter, 1973), por exemplo. Existem vários métodos que podem ser utilizados para resolver numericamente a Equação de Poisson e as condições de contorno ocupam um papel importante na determinação do método a ser usado (Lawson, 1989). Em sistemas periódicos, por exemplo, a Equação de Poisson pode ser resolvida usando-se a transformada de Fourier (Birdsall e Langdon, (1985). O método a ser utilizado neste trabalho será descrito posteriormente. 40 1.5 INTEGRAÇÃO DA EQUAÇÃO DO MOVIMENTO Na simulação computacional deseja-se resolver um problema consistindo de muitas partículas cujo movimento evolui no tempo. A evolução temporal do sistema ocorre de maneira discreta e em passos de tempo finitos. Os intervalos de tempo, ∆t , devem ser escolhidos de uma forma que sejam pequenos o suficiente para resolver períodos característicos do sistema, tais como frequência de plasma e ciclotrônica para elétrons e íons. As grades espacial e temporal devem ser definidas de modo que se obtenha estabilidade numérica e resultados precisos aceitáveis. Imprecisões sempre existirão mas deve-se torná-las tão pequenas quanto possível. O método de integração escolhido leva em consideração precisão, rapidez de cálculo e armazenamento mínimo na memória computacional. Geralmente, o método de integração usado é o de "leap frog" (Potter, 1973), ilustrado na Figura (2.9). Esta Figura mostra claramente que o método é centrado no tempo. Observa-se que posições e velocidades não são conhecidas no mesmo instante de tempo, e sim defasadas por ∆t / 2 , mas ambas são avançadas de um mesmo ∆t em cada integração. Como as posições e velocidades são defasadas por ∆t / 2 , e em geral estas são conhecidas no instante t=0, deve-se tomar um cuidado especial com as condições iniciais, pois, a princípio seria necessário o conhecimento das velocidades em − ∆t / 2 para aplicação deste método. A idéia inicial para contornar este problema seria calcular a força que atua nas partículas em t=0 e retroceder as partículas, usando esta força, para obter as velocidades em − ∆t / 2 (Birdsall e Langdon, 1985). Uma outra forma, que foi apresentada por Alves, 1990, é no primeiro passo no tempo, avançar as velocidades em apenas ∆t / 2 e as posições em ∆t , daí em diante aplica-se normalmente o método conforme o fluxo de tempo indicado na Figura (2.9) 41 Fig. 2.9: Esboço da integração no tempo pelo método de “leap-frog”. FONTE: Alves (1990, p. 17). As duas Equações diferenciais de primeira ordem a serem integradas separadamente para cada partícula, são as Equações (2.1) e (2.2). Estas Equações são substituídas por Equações em forma de diferenças finitas: m v t + ∆ t / 2 − v t − ∆t / 2 = F( t ), ∆t x t + ∆t − x t = v t + ∆t / 2 , ∆t (2.21) (2.22) e integradas a cada ∆t . 42 1.6 O CÓDIGO ELETROSTÁTICO UNIDIMENSIONAL XPDP1 Neste trabalho utiliza-se o código computacional (Plasma Device Planar 1Dimensional) XPDP1 que permite simular um plasma contido entre dois eletrodos que podem estar ou não, conectados por um circuito externo. Estes circuito inclui elementos R, L e C, onde R é a resistência, L a indutância e C a capacitância, e também possui fontes de voltagem e correntes, como mostra a Figura 2.10. A simulação procede em tempo real, com saídas gráficas de vários diagnósticos físicos, os quais são atualizados a cada passo no tempo. A versão PDP1 teve sua origem no (Plasma Device Workshop) PDW1 escrito por W. S. Lawson (1983) para um seminário em dispositivos de plasma em sistemas limitados na Universidade da Califórnia em Berkeley. O PDP1 possui diferenças significantes desta versão prévia, contendo uma maior precisão e versatilidade nos seus resultados: soluções simultâneas do circuito e da Equação para o potencial acopladas através das condições de contorno, um modelo básico de ionização, unidades MKS para os parâmetros de entrada e diferentes diagnósticos. 43 Fig. 2.10. Configuração em coordenadas planares com o circuito RLC em série e fonte de voltagem/corrente. Nestas coordenadas, considera-se o movimento das partículas na direção x. FONTE: Verboncoeur (1990, p. 5). O PDP1 usa uma função de ponderação linear para estabelecer a fração de contribuição da carga de cada partícula à densidade de carga em cada ponto na grade, como mostra a Figura 2.11. 44 Fig. 2.11. Esquema da função de ponderação linear para a grade espacial. O índice i denota as partículas e j o índice da grade. Para partículas na célula adjacente a um eletrodo, a ponderação deve ser contada para a metade da célula. FONTE: Verboncoeur (1990, p. 2). Com o auxílio da função de ponderação, obtém-se a densidade de carga na grade, a qual é usada para resolver a Equação de Poisson, ∇ 2φ = ρ / ε 0 . Uma vez conhecido o r potencial, o campo elétrico na grade pode ser obtido a partir de E = −∇φ . A força sobre a posição da partícula é obtida a partir do campo elétrico e usando a mesma função de ponderação para obter o valor de E. O uso da mesma função de forma evita uma auto-força (ou seja, que a própria partícula se acelere). Através da carga superficial dos eletrodos, a corrente do circuito externo interage com o plasma. Similarmente o potencial dentro do plasma é afetado pela distribuição e movimento de carga no espaço, pela carga superficial do eletrodo e pela corrente no circuito externo. Assim, vê-se que soluções simultâneas para as Equações do potencial e do circuito são necessárias. Aplicando a lei de Gauss no sistema, obtém-se as condições de contorno para Equação do potencial, 45 r r ρ A σ + A−σ − • = ∫ dV + + + =0, E d S ∫S ε ε V (2.23) onde a superfície S engloba o plasma e os eletrodos. A+ refere-se a área da superfície do eletrodo esquerdo e A- a do eletrodo direito, e σ± é a carga superficial no respectivo eletrodo. Aplicando a lei de Gauss sobre cada célula da grade, e usando a definição do potencial, obtém-se: φ j +1 − 2φ j + φ j −1 ( ∆x ) 2 = ρj ε . (2.24) Para um sistema unidimensional, as condições de contorno podem ser escritas como: φ nc = 0 (2.25) E0=σ σ+/εε. (2.26) e A condição φ nc = 0 fixa um potencial de referência para o sistema. Com as condições de contorno (2.25)-(2.26), a Equação (2.24) pode ser escrita na forma geral: 46 φ 0 b0 c 0 0... φ1 a1 b1 c1 0 φ 0a b c 0 2 2 2 2 . ..... = . . . . a nc − 2 bnc − 2 c nc − 2 φ nc − 2 φ a b nc −1 nc −1 nc −1 d0 d1 d 2 . f . . . d nc − 2 d nc −1 (2.27) Os elementos da matriz são: b0=-1, aj=1, j=1,2,...,nc-1 bj=-2, j=1,2,...,nc-1 cj=1, j=0,1,...,nc-2 d0=(σt+/∆x)+( ρt0/2), dj=ρtj j=1,2,...,nc-1 (2.28) e f=-∆ ∆ x2/εε. A Equação (2.27) envolve uma matriz tridiagonal, a qual pode ser resolvida com relativa facilidade (Press et al,1989). Para termos a Equação matricial que o PDP1 resolve temos que acrescentar as Equações para o circuito externo, que dependem do potencial nos eletrodos (Verboncouer et al, 1993). Para o caso tratado neste trabalho, será usada a condição de curto-circuito, para o circuito externo, o que significa R=L=0 e C→ →∞, (2.29) 47 com φ0-φ φ nc = V(t). (2.30) Na prática, este caso é aplicado quando: (C/εεAl) > 105 . (2.31) O modelo escolhido permite simular um sistema com condições de contorno não periódicas e a injeção de um fluxo de elétrons em ambos os contornos do sistema. 48 CAPÍTULO 3 INSTABILIDADES EM PLASMAS 3.1 INTRODUÇÃO Em plasmas espaciais, geralmente, as partículas possuem grande livre caminho médio, ou seja, elas percorrem grandes distâncias entre uma colisão e outra. Observa-se ainda que o tempo de equipartição de energia é bem maior do que o tempo de colisão entre as partículas, assim o plasma no espaço interplanetário ou magnetosférico, não está em equilíbrio termodinâmico. Isto é devido a resposta dinâmica de um plasma ser da ordem de um período de plasma ou ciclotrônico. O fato do plasma não estar em equilíbrio termodinâmico implica que uma certa quantidade de energia é armazenada no plasma, e esta energia pode ser convertida num movimento súbito de plasma ou em radiação de ondas eletromagnéticas. O processo onde uma destas conversões ocorre, num modo coletivo, é chamado de instabilidade de plasma. Isto conduz ao fato de que uma pequena perturbação no equilíbrio pode causar um desvio ainda maior. Uma das instabilidades mais estudadas por uma série de autores é a excitada quando um feixe de elétrons atravessa um plasma morno, ou seja, a função de distribuição de velocidades é diferente da distribuição de equilíbrio Maxwelliana. A função apresenta um pico adicional na região correspondente à velocidade dos elétrons do feixe. Este tipo de instabilidade é bem conhecida como “Instabilidade de dois feixes” ou “Instabilidade feixe-plasma” (Bohm e Gross, 1949a, b). 49 A instabilidade feixe-plasma dá origem a um campo elétrico muito intenso, sendo este um dos principais efeitos observados, que é resultante da amplificação das oscilações eletrostáticas naturais do plasma. Estas oscilações são denominadas de ondas de Langmuir (Langmuir, 1925). Este tipo de instabilidade é aplicada para explicar a geração de ondas eletrostáticas em várias regiões de plasma espacial, tais como: coroa solar, região da frente de choque terrestre eletrônica e da região ionosférica terrestre. 3.2 EQUAÇÕES BÁSICAS Inicialmente será derivada a Equação básica que representará a dinâmica do plasma. Considere o movimento de n elétrons e íons; estas partículas obedecem somente a uma regra de movimento, a qual é dada pela força de Lorentz: mj r dv j dt [ ] r r r r r = q j E ( r j , t ) + v j × B( r j , t ) , (3.1) onde o sub-índice j representa a j-ésima partícula com carga qj e massa mj localizada na r posição r j no tempo t. Supondo-se, agora, que os campos elétrico e magnético são conhecidos e representados por funções contínuas do espaço e do tempo, pode-se integrar a Equação (3.1) para se r obter a posição r j (t ) . Encontrar a velocidade inicial de um grande número de partículas através da Equação (3.1) é praticamente inviável. Assim é conveniente introduzir a função probabilidade de distribuição para as velocidades, tal que a r r probabilidade de se encontrar a partícula j com velocidade inicial entre − ∞ < v ( 0 ) < v r r r r r no ponto r é definida por F j ( r , v ) onde 0 ≤ F j (r , v ) ≤ 1 , e a função densidade de r r probabilidade f (r , v ) é obtida por: 50 r r f j (r , v ) = ∂ 3F j ∂v x ∂v y ∂v z . (3.2) Devido a força de Lorentz, f muda no tempo, e como ela varia pode ser encontrado a r r partir da Equação de conservação de f j no espaço de fase r , v , t , ∂f j r ∂f j r ∂f j ∂f + r& . r + v& . r = ∂t ∂r ∂v ∂t r r onde r& = v e , (3.3) col r ∂ ∂ ∂ ∂ r r r r& . r = v x + vy + vz = v .∇ e a aceleração v& é dada pela força ∂r ∂x ∂y ∂z de Lorentz. λ3D ) pequeno, o efeito das colisões No caso que se tenha um parâmetro de plasma 1 (nλ pode ser desconsiderado, assim a Equação (3.3) se reduz a r r r r ∂f r r r ∂f ( r , v , t ) r ∂f ( r , v , t ) q r r + v. + E ( r , t ) + v × B( r , t ) . rj = 0 r ∂t ∂r m ∂v [ ] (3.4) r r onde E e B são produzidos pelo movimento coletivo das partículas do plasma. A Equação (3.4) é uma das equações básicas para o estudo do desenvolvimento de instabilidades em plasma, conhecida como Equação de Vlasov, que descreve a evolução espaço temporal de f . 51 r A probabilidade total de encontrar uma partícula em r , e t é representada por +∞ r r r ∫ f ( r , v , t )dv . Se esta quantidade for multiplicada pela densidade numérica média no −∞ espaço, n0, o resultado será a densidade de partículas do plasma, ou seja: +∞ r r r r n( r , t ) = n0 ∫ f (r , v , t )dv . (3.5) −∞ Similarmente a densidade de corrente para cada espécie pode ser obtida por: +∞ r r r r r r J ( r , t ) = qn0 ∫ v f ( r , v , t )dv . (3.6) −∞ Usando os sub-índices e e i para distinguir as funções de distribuição dos elétrons e íons, as equações de Maxwell podem ser escritas como: r r r ∂B ∇× E = − , ∂t (3.7) v r r +∞ r r +∞ r r 1 ∂E ∇ × B = µ 0 en0 ∫ v f i dv − ∫ v f e dv + 2 , ∂ t c − ∞ − ∞ (3.8) r r ∇. B = 0 , (3.9) r v en +∞ r +∞ r ∇. E = o ∫ f i dv − ∫ fe dv , ε 0 −∞ −∞ (3.10) onde µ 0 é a permeabilidade do espaço no vácuo, e c é a velocidade da luz. 52 As Equações de Maxwell combinadas com a Equação de Vlasov fornecem um sistema de equações para descrever a dinâmica do plasma, mas é muito difícil resolvê-lo para sistemas com configurações complexas. Entretanto tais configurações tornam-se importantes somente em relação a instabilidades macroscópicas geradas por não homogeneidade no espaço. O comportamento da maioria dos plasmas observados no espaço pode ser descrito através de um modelo de fluidos. As equações usadas neste modelo são obtidas tomando-se os momentos da Equação de Vlasov. Este tratamento é somente possível quando a escala de tempo do problema é maior do que o tempo livre médio, ν −1 . Com isto considera-se que os elétrons e íons se movem macroscopicamente juntos para formar uma carga neutra. Uma derivação das equações de fluidos é encontrada, por exemplo, em Bittencourt (1995). Aqui tais equações serão apresentadas de forma intuitiva baseadas na tese de doutorado de do Prado (1997). A Equação que expressa a conservação de massa, chamada Equação da continuidade é a primeira delas. Esta mostra que a única forma de se variar a densidade de uma espécie r s em um ponto r é através de um fluxo de partículas da espécie s para fora ou para r dentro de um pequeno volume espacial centrado em r . Isto é representado matematicamente por: r ∂ns ( r , t ) r r r + ∇.( ns v s ) = 0 , ∂y (3.11) r onde ns é o número de partículas da espécie s por unidade de volume e v s é a r velocidade de um elemento do fluído no ponto r e no tempo t. A próxima Equação é a de movimento do fluído, a qual descreve a segunda lei de Newton, que para a espécie s é dada por: 53 r r dv s ( r , t ) r r ns m s = Fs ( r , t ) . dt (3.12) r Na Equação (3.12) Fs é a força por unidade de volume que atua sobre um elemento de fluído, que pode ser escrita como: r r rr r r r r r r Fs = −∇. Ps + ns qs E + v s × B − ν sp (v s − vt ) − g , ( ) (3.13) r rr r r r onde − ∇. Ps é a força devido o gradiente de pressão, ns q s E + v s × B é a força de r r r Lorentz, ns m s g é a força gravitacional e − ns m s ν sp (v s − v p ) é a força devido as ( ) colisões, sendo ν sp a frequência de colisão entre as partículas da espécies s e p. Consequentemente a Equação (3.12) torna-se: r r r r r r r ∂v s 1 r rr qs r r r + v s .∇ v s = − ∇. Ps + E + v s × B − ν sp (v s − vt ) − g . ∂t ns ms ms ( ) ( ) (3.14) Em muitos casos, o efeito da viscosidade pode ser desprezado. Em particular, para uma rr função de distribuição isotrópica, os termos da diagonal de Ps são iguais e r rr r correspondem a pressão cinética escalar ps, e a quantidade − ∇. Ps torna-se − ∇p s . A terceira Equação utilizada é chamada lei de Ohm, que tem a seguinte forma, em condições de estado estacionário, e quando Te ≠ Ti e ω ce << ν ei , ou seja, a frequência de colisões, ν ei , é muito maior do que a frequência eletrociclotrônica ( ω ce ) (Hasegawa, 1975). 54 r r r r E + v × B = ηJ . (3.15) Na Equação (3.15) η é a resistividade elétrica dada por: η= m eν ei ν = ei 2 . 2 e n0 ε 0ω pe (3.16) A Equação que complementa o modelo de fluidos é a que controla a dinâmica da pressão no plasma, a Equação de Estado. Se muitas colisões ocorrem durante um ciclo de plasma, a função de distribuição de velocidades mantém essencialmente sua forma. Devido a isto, considera-se a função de distribuição simétrica, não necessariamente uma distribuição Maxwelliana. Com esta hipótese a pressão varia adiabaticamente; p ≈ n γ , onde γ = 1 + 2 e N é o número de graus de liberdade. Assim a Equação de N Estado é escrita como: r r ∇ p s = γK B Ts ∇n s . (3.17) As Equações (3.11), (3.14), (3.15) e (3.17), complementadas pelas Equações de Maxwell (3.7) e (3.8) são aplicáveis a uma grande parte de plasmas espaciais, desde que colisões com partículas neutras não desempenhem um papel importante no sistema. 3.3 RELAÇÃO DE DISPERSÃO Um método bem geral para se obter a relação de dispersão em fenômenos de plasma será apresentado através de um exemplo simples, apenas para se entender mais facilmente os conceitos gerais. Será seguida a derivação apresentada em Hasegawa 55 (1975). Considera-se como exemplo um sistema constituído de um feixe de elétrons r frio com velocidade v 0 e um plasma frio estacionário. Faz-se ainda a restrição de freqüências muito maiores do que a freqüência de plasma iônica, ou seja, pode-se ignorar a dinâmica dos íons. A Equação de movimento que descreve a dinâmica do feixe de elétrons fica expressa por: r r r r dv m e n = − en E + v × B . dt ( ) (3.18) Devido não se conhecer o tipo de campo eletromagnético produzido pelo feixe de elétrons, inclui-se campos arbitrários na Equação do movimento. Como o feixe de elétrons está se movendo em relação ao plasma estacionário, é conveniente escrever a derivada total da Equação (3.18) em derivadas parciais no tempo e espaço, ou seja: r r dv ∂v v r = + ( v .∇ )v . dt ∂t (3.19) O próximo passo é fazer uma linearização das variáveis; as quantidades que variam lentamente são representadas com um sub-índice 0 e as que variam rapidamente com o sub-índice 1, estas sendo consideradas uma perturbação no estado representado pelo r r r sub-índice 0, ou seja, v 0 >> v 1 . Por exemplo, para a velocidade do feixe v : r r r v = v 0 + v1 . (3.20) 56 Com isso, a Equação (3.18) para as quantidades de ordem zero é dada por: r r r r r e r ∂v 0 E 0 + v 0 × B0 . + (v0 .∇ ) v0 = − me ∂t ( ) (3.21) Se o feixe for estacionário e espacialmente uniforme, o que significa um feixe infinitamente longo de elétrons, conclui-se que no caso não colisional, só há r propagação na direção paralela a B0 , ou seja: r v 0 = v 0 e|| , (3.22) r com e|| sendo o vetor unitário paralelo a B0 . Esta é a solução para a Equação (3.21), que é chamada de estado de equilíbrio, a qual é muito importante conhecer quando se considera instabilidades. r Para solução em primeira ordem, considerando um sistema cartesiano com B0 na direção z, a linearização da Equação do movimento (3.18) fornece r r ∂v 1 ∂v 1 e r r r r r + v0 =− E1 + v 0 × B1 + v1 × B0 . ∂t ∂z me ( ) (3.23) Após isso, faz-se a transformada de Fourier-Laplace das variáveis dependentes. Por r r exemplo, para v1 ( r , t ) , a transformada de Fourier é: r r r ∞ ∞ rr r r' v1 (ω , k ) = ∫ dt ∫ dr v1 ( r , t )e i (ωt − k • r ) , 0 −∞ 57 (3.24) r r onde v1 ( r , t ) é dado por r r v1 ( r , t ) = 1 ( 2π )4 ∞ + iσ ∞ − ∞ + iσ −∞ r r' r i ( kr• rr −ωt ) ( , )e d ω d k v ω k . 1 ∫ ∫ (2.25) Considera-se que, em geral, um movimento periódico em fluídos é representado na forma de ondas planas tomando uma amplitude complexa. Por exemplo: r r r r r v 1 ( r , t ) = v 1 e i ( k • r −ω t ) . (2.26) É importante lembrar que a transformada no tempo só é válida para o plano complexo Im ω > 0 , e a integração sobre o tempo deve convergir em t → +∞ . Dessa forma a transformada da Equação (3.23) fornece: ( ) r e r r v r r i (k z v 0 − ω)v 1 = − E1 + v 0 × B1 + v 1 × B0 . me (3.27) Considera-se agora a direção de propagação da onda, que é determinada pelo vetor de r r r r onda k , o qual é escolhido estar na direção z. Assim v 0 , B0 e k são paralelos entre si. Fazendo-se isto, perde-se uma instabilidade eletrostática da onda ciclotrônica (Briggs, 1964) e uma eletromagnética (Weibel, 1959), mas ganha-se uma considerável simplificação para a análise do exemplo que está sendo tratado. A Equação da r continuidade mostra que v1 está na direção z, considerando que a Equação de Poisson r r r dá E 1 na direção z. Isto significa que não existe campo magnético perturbado e v1 × B0 r r também se anula devido v1 ser paralelo a B0 . Assim a Equação (3.27) torna-se: 58 v1 = − E1e / m e . i ( kv 0 − ω ) (3.28) Agora tem-se que determinar E1; para isto é necessário usar a relação entre a densidade de corrente com a velocidade da partícula e densidade de partículas, a qual é dada por J = −env , em sua forma linearizada: J 1 = − e( n0 v1 + n1v 0 ) . (3.29) Também é necessário a Equação da continuidade: −e ∂n1 ∂J + = 0, ∂t ∂z (3.30) ou eωn1 + kJ 1 = 0 . (3.31) Usando as Equações. (3.28), (3.29) e (3.31), encontra-se uma expressão de J1 em termos de E1 dada por: − ω 2pe J 1 = − iωε 0 E , 2 1 ( ω − kv 0 ) com ω pe sendo a freqüência eletrônica de plasma. 59 (3.32) Agora introduz-se o conceito de uma constante dielétrica equivalente. Através da Equação de Maxwell: r r r ∂E ∇ × H = J + ε0 , ∂t (3.33) r r e conhecendo-se a relação entre J e E , como mostra a Equação (3.32), a Equação (3.33) acima pode ser escrita como: rr rr r r ∇ × H = − iωε 0 (1 + ε ) • E , (3.34) rr com ε sendo o tensor dielétrico. Para o caso do feixe de elétrons unidimensional, ele é dado por: ω b2 ε =− (ω − kv 0 ) 2 (≡ ε b ) , (3.35) com ωb representando a freqüência de plasma para o feixe, e para o plasma estacionário: ε =− ω 2p ω2 (≡ ε ) , (3.36) p com ω p sendo a freqüência de plasma do plasma estacionário. 60 Como não existe campo magnético perturbado, a Equação (3.34) se reduz a: J 1 − iωε 0 E1 = 0 . (3.37) Substituindo a soma das correntes perturbadas no feixe e no plasma para J1 na Equação (3.37), tem-se: − iωε 0 (1 + ε b + ε p ) E 1 = 0 . (3.38) A solução desta Equação é dada por: D(ω , k ) ≡ ω (1 + ε b + ε p ) = 0 , (3.39) ω 2p ω b2 − ) = 0, D(ω , k ) ≡ ω (1 − (ω − kv 0 ) 2 ω 2 (3.40) ou a qual é chamada de relação de dispersão. Resumidamente, a relação de dispersão pode ser obtida da seguinte forma: considera-se um campo eletromagnético arbitrário, obtém-se a resposta no movimento das partículas produzida pela força de Lorentz; linearizam-se as equações supondo que a perturbação é muito pequena. Obtém-se então o campo eletromagnético produzido pela distribuição de carga e corrente, que aparece como conseqüência da perturbação. Dessa forma a relação de dispersão representa uma relação entre ω e k para o qual os campos 61 eletromagnéticos considerados são consistentes com o campo induzido por uma r r pequena perturbação da forma e i ( k • r −ωt ) . Assim, se a relação de dispersão fornece uma raiz de ω com ℑm (ω ) > 0 , o campo auto consistente cresce exponencialmente com o tempo, ou seja, tem-se uma instabilidade. 3.4 RELAÇÃO DE DISPERSÃO DE BOHM-GROSS Anteriormente foi derivada a relação de dispersão para o caso de um feixe frio de elétrons interagindo com um plasma frio estacionário. Agora será feita a derivação da relação de dispersão para as ondas de Langmuir, onde é usada a teoria de plasma morno, ou seja, o plasma é considerado um gás de elétrons com energia térmica diferente de zero. Nesta abordagem o movimento dos íons será ignorado e campos r r elétricos e magnéticos externos serão considerados ausentes, ou seja, E0 = B0 = 0 . Considera-se ainda a neutralidade do plasma, ou seja, n0e = n0i = n0 . Serão mostradas, apenas, as principais equações, já linearizadas, e as relações de dispersão para os casos não colisional e com colisões. O mecanismo natural de geração das ondas de Langmuir é descrita da seguinte forma: inicialmente o plasma é uniforme e está em repouso. Em um determinado instante de tempo, t > 0, uma força externa age sobre o plasma dando origem a uma separação de cargas. Logo em seguida esta força é removida, surgindo um força interna, devido a separação das cargas, que quer restaurar o sistema, para o estado existente antes da força externa atuar, para reconstruir a neutralidade do plasma. Como os íons possuem uma enorme massa comparada com a dos elétrons, a resposta deles à força é muito lenta, podendo-se ignorar seu deslocamento. Os elétrons oscilam em torno da posição de equilíbrio com alta frequência, devido ao efeito de inércia. Este movimento oscilante gera um campo elétrico, que também oscila no espaço, e proporciona uma contínua troca entre as energias potencial e cinética dos elétrons. Este fenômeno é conhecido como onda de Langmuir, ou onda eletrônica de plasma. 62 Com as suposições feitas anteriormente, a Equação da continuidade fornece: r ∂n1 r + ∇ • ( n0 v1 ) = 0 ⇒ ∂t ⇒ { } { } r r r r r ∂ n1e i ( k • r −ωt ) + n0 ∇ • v~1 e i ( k •r −ωt ) ) = 0 ⇒ ∂t (3.41) r ⇒ − iωn1 − in0 k • v~1 = 0 ⇒ r k • v~1 n0 . ⇒ n1 = ω Considerando, primeiramente, o caso não-colisional sem a presença da ação da força gravitacional e de acordo com a Equação adiabática de energia para as espécies (3.17), a Equação do movimento dos elétrons linearizada é escrita como: r r ∂v1 ∇ pe e r =− − E1 ∂t n0 me me ⇒ ⇒ r r γKTe ∇ne ∂v1 e r =− − E1 ∂t n0 me me ⇒ r r ~ ⇒ − ( iω )n0 me v1 = −γKTe ( ik ) n1 − en0 E1 . 63 (3.42) Usando a Equação de Maxwell: r r ρ r ~ e ∇. E = ⇒ ( ik ). E1 = ( noi − noe − n1 ) ⇒ ε0 ε0 (3.43) r ~ e ⇒ ( ik ). E1 = − n1 , ε0 e substituindo as Eqs.(3.41) e (3.43) na Equação (3.42) e usando as definições: ω 2p = n0 e 2 me ε 0 e v te2 = KTe , me (3.44) onde vte é a velocidade térmica dos elétrons, obtém-se: ω 2 = ω 2p + γk 2 v te2 . (3.45) A Equação (3.45) representa a relação de dispersão para as ondas de Langmuir na ausência de colisões. Esta é conhecida como relação de dispersão de Bohm-Gross, que é graficamente ilustrada na Figura(3.1) 64 Fig. 3.1. Relação de dispersão de Bohm-Gross normalizada. FONTE: do Prado (1997, p. 47). Através da Figura (3.1) pode-se observar que para a onda de Langmuir propagar é necessário que ω > ω p e que aumentando o valor de kλ λ D ocorre também um aumento da freqüência ω / ω p . Uma outra característica que se observa é que à medida que a densidade do plasma aumenta, o número de onda k deve diminuir para que a onda se propague com a mesma freqüência. Para o caso em que se considera o efeito das colisões o termo colisional deve ser acrescentado na Equação do movimento (3.42). Mas neste caso é necessário, também, a utilização da Equação de movimento para os íons, para que seja eliminada a dependência entre a velocidade dos elétrons e íons. Assim a solução das equações para os elétrons e íons leva a relação de dispersão para um plasma na sua forma mais geral dado pela expressão (Bittencourt, 1995): 65 2 2 [ω 2 − ω pe − γk 2vte2 ][ω 2 − ω pi2 − γk 2vti2 ] − ω pe ω pi2 + ( ) (3.46) + iωνie 2ω − γk v − γk v = 0. 2 2 2 te 2 2 ti Verifica-se facilmente que desta relação pode-se obter a relação de Bohm-Gross apenas ignorando o movimento dos íons e as colisões. 3.5 INSTABILIDADES ELETROSTÁTICAS EM PLASMA Nas seções anteriores apresentaram-se métodos de obter a relação de dispersão. Agora será vista a análise das relações de dispersão com o intuito de se observar instabilidades em plasmas. Em especial será desenvolvida a teoria de instabilidade em plasma responsável pela amplificação de ondas longitudinais que existem em plasmas mornos no espaço. Tais instabilidades são ditas ser eletrostáticas. Esta instabilidade que surge ao se considerar um feixe de elétrons movendo-se em relação ao plasma estacionário é denominada “instabilidade de dois feixes” ou “instabilidade feixe-plasma”. Devido ao feixe de elétrons, a função de distribuição tem um segundo pico acrescentado, assim ela é não Maxwelliana. A interação feixe-plasma é descrita, fisicamente, como uma interação onda-partícula, na qual as partículas do feixe são aprisionadas pelo potencial elétrico da onda, e consequentemente, ocorre a troca entre a energia cinética das partículas do feixe e a energia potencial da onda, proporcionando o crescimento do campo elétrico da onda. 66 Antes de analisar as relações de dispersão, é conveniente discutir o que é instabilidade de plasma. Matematicamente, a instabilidade ocorre quando a relação de dispersão de ondas que se propagam no plasma dada na forma: r D(ω , k ) = 0 , (3.47) fornece solução com parte imaginária da freqüência (ω ω) positiva ( ℑm ω > 0 ) para r determinados valores reais do vetor de onda k . Para o caso do feixe frio de elétrons se movendo em relação ao plasma frio estacionário, a relação de dispersão é dada pela Equação (3.39) ou pela Equação (3.40). Desta expressão é visto que duas raízes podem ser complexas e que se v0 = 0 estas raízes desaparecem, ou seja, a instabilidade surge devido a existência de uma velocidade relativa entre os dois grupos. De acordo com Landau e Lifshitz (1960), a densidade de energia do campo elétrico, W, de uma onda propagando-se num meio dielétrico fracamente dissipativo, pode, em geral, ser expressa por: W= ∂[ωε 0 (1 + ε )] < E 2 > ∂ε < E 2 > = ωε 0 . ∂ω 2 ∂ω 2 Usando esta relação para o feixe, ωb, e para o plasma, ωp, obtêm-se: 67 (3.48) ∂ω (1 + ε b ) ∂ε b 2ωω b2 Wb ∝ =ω = ∂ω ∂ω (ω − kv0 )3 Wp ∝ ∂ω (1 + ε p ) ∂ω (3.49) =ω ∂ε p ∂ω = 2ωω ω 2 p . Destas expressões vê-se que a densidade de energia para o plasma é sempre positiva, Wp>0, enquanto a do feixe pode ser negativa se ω < kv 0 . Analisando a relação de dispersão somente para o feixe, pode-se ver que este possui dois tipos de solução, uma é a positiva, com a correspondente onda de energia positiva (ou onda rápida), e a outra é a negativa com sua onda de energia negativa (ou onda lenta) (Hasegawa, 1975) correspondente. Note que isto é conseqüência do fato que a energia não é um invariante Galileano. Assim conclui-se que a instabilidade de dois feixes é interpretada como sendo causada pelo acoplamento entre a onda de energia negativa do feixe com a onda de energia positiva do plasma. Para que este ponto fique mais claro, faz-se um gráfico da relação de dispersão para o feixe separadamente do plasma. Através da Figura (3.2), observa-se que as linhas de dispersão das ondas do feixe cruzam a do plasma nos pontos A e B. Assim, espera-se que ocorra um acoplamento dessas ondas, já que nesses pontos as ondas possuem igual velocidade de fase ( ω / k ) e freqüência. Como conseqüência desse acoplamento, a relação de dispersão de cada uma dessas ondas é modificada. Esta modificação pode ser vista pelas linhas tracejadas na Figura (3.2) que representam a relação de dispersão dada pela Equação (3.40). 68 Fig. 3.2. Relação de dispersão do acoplamento entre a oscilação de elétrons no plasma com as ondas rápida e lenta do feixe. FONTE: Hasegawa (1975, p. 19). Em geral, pode ser mostrado que a condição necessária para ocorrer instabilidades num sistema sem perdas, é que uma parte da constante dielétrica deve satisfazer a condição de onda de energia negativa, ou seja: ∂ωε 0 (1 + ε ) <0. ∂ω (3.50) 69 Considerando a situação na qual as perdas no sistema, devido a interação onda-partícula ou colisões, não sejam desprezíveis, a condição necessária para ocorrência de instabilidades, isto é, para que a relação de dispersão dada por: 1− ω 2p ω2 − ω b2 =0 (ω − kv 0 ) 2 (3.51) tenha raízes ℑm (ω ) > 0 , é que uma parte da constante dielétrica satisfaça (Hasegawa, 1968): ℜe(σ ) ≡ ℜe (− iωε 0ε ) ∝ ℑm (ε ) < 0 , (3.51) para ω real, onde σ ( = iωε 0 ε ) representa a condutividade equivalente de um plasma. Agora será feito o desenvolvimento teórico, baseado no trabalhos de Hasegawa (1975) e do Prado (1997), de uma das instabilidades mais comum, resultante do fato da função de distribuição possuir dois picos. O pico adicional é criado pelo feixe de elétrons em vb=v0 na função de distribuição do plasma. Este tipo de instabilidade tem sido aplicado para explicar observações na coroa solar, no vento solar, na magnetosfera e regiões próximas e na ionosfera. Uma das conseqüências mais importantes desta instabilidade é a geração de um campo elétrico muito intenso na direção paralela ao campo magnético. r r Supondo uma perturbação eletrostática ( ∇ × E = 0 ), pode-se então usar o potencial eletrostático, ϕ , para representar o campo. A Equação de Vlasov linearizada para a função de distribuição de elétrons torna-se então: 70 ∂f 1 ∂f e ∂ϕ 1 ∂f 0 +v 1 + = 0, ∂t ∂z m e ∂z ∂v (3.52) onde z é a direção de propagação e também a direção do campo magnético; f1 é a função de distribuição perturbada; f0 é a não perturbada, que depende somente de v, e ϕ 1 é o potencial eletrostático da onda. Considerando perturbações do tipo ondas planas, tem-se: f1 = − (e / m e )(∂f 0 / ∂v ) ϕ1 . (v − ω / k ) (3.53) A densidade de carga perturbada, pode então ser obtida como: en1 = e 2 n0 me +∞ (∂f 0 / ∂v ) ∫ (v − ω / k ) dv . (3.54) −∞ Nesta Equação não foi considerada a contribuição dos íons, de acordo com as condições iniciais deste problema. Com estas preparações, pode-se definir a condutividade equivalente do plasma com uma perturbação eletrostática, através da Equação (Hasegawa, 1975): σ (ω , k ) = iωqn1 k 2ϕ 1 (3.55) ou 71 σ (ω , k ) = iωεω 2p k 2 +∞ ( ∂f 0 / ∂v ) ∫ (v − ω / k ) dv . (3.56) −∞ Substituindo esta última expressão na relação de dispersão geral do modelo eletrostático, que é escrita por (Hasegawa, 1968): − iωε 0 − iωε 0ε ≡ iωε 0 + σ (ω , k ) = 0 , (3.57) obtêm-se: 1− ω 2p k 2 +∞ ( ∂f 0 / ∂v ) ∫ (v − ω / k ) dv = 0 . (3.58) −∞ De acordo com os critérios apresentados, a condição para que ocorra instabilidade é dada por ℜeσ < 0 , e se a taxa de crescimento da instabilidade é pequena, ou seja, ℑmω é pequeno, a condutividade, σ, pode ser expressa em termos da integral principal, usando-se o Teorema de Cauchy para integrais complexas, na forma iωε 0ω 2p +∞ (∂f 0 / ∂v ) k ∂f 0 σ= dv + iπ P ∫ 2 | k | ∂v k −∞ (v − ω / k ) , v =ω / k (3.59) onde P representa a integral principal e a segunda parcela dentro dos colchetes representa a contribuição em torno da singularidade v = ω / k (Figura 3.3). 72 Fig. 3.3. Caminho de integração na velocidade v da Equação 3.56. FONTE: do Prado (1997, p. 53). Portanto a condição para ocorrer instabilidades com uma pequena taxa de crescimento é expressa por: ω ∂f 0 k ∂v > 0. (3.60) v =ω / k Esta Equação mostra que na condição de ressonância entre a onda e a partícula, v = ω / k = v ph , a função de distribuição tem um gradiente positivo. A função de distribuição de Maxwell (Figura 3.4) na forma e − v tem um gradiente negativo, e é 2 portanto sempre estável. 73 Fig. 3.4. Distribuição de velocidade dos elétrons do sistema do tipo Maxwelliana na forma e − v . 2 FONTE: do Prado (1997, p. 54). No caso de uma distribuição Maxwelliana ocorre que o número de partículas com velocidade maior do que a velocidade de fase da onda (vph) é menor que o número de partículas com velocidades menor, correspondendo a uma perda coletiva de energia da onda para as partículas do plasma, fenômeno este conhecido como amortecimento de Landau (Bittencourt, 1995). Já a Equação (3.60) expressa a perda de energia cinética das partículas para a onda (ver Figura 3.5). Assim se a distribuição de velocidades tiver um pico adicional em v > ω / k , a condição de instabilidade é satisfeita. 74 Fig. 3.5. Distribuição de velocidade instável devido a presença do feixe de elétrons. FONTE: do Prado (1997, p. 54). A taxa de crescimento da instabilidade feixe-plasma (γγbp) é dada por (do Prado, 1997): π ω p ∂ω ω ∂f 0 ℑm ε = − ∂ℜeε / ∂ω 2 | k | ∂k k ∂v 2 γ bp = − . (3.61) v =ω / k Esta Equação não fornece uma descrição completa. Para isto, deve-se resolver a relação de dispersão (3.58) para expressar ω em função de k. Mas esta Equação tem uma 75 propriedade interessante, que para ocorrer uma instabilidade (γγbp > 0) a condição ∂f 0 ∂v > 0 não é suficiente, sendo necessária uma condição adicional de que a v =ω / k velocidade de fase da onda seja maior do que a velocidade de grupo (Dawson, 1961). Esta descrição teórica mostra que ondas de Langmuir podem ser excitadas como resultado da interação de um feixe de elétrons se propagando ao longo de um campo magnético através de um plasma morno. 76 CAPÍTULO 4 EVOLUÇÃO DA INSTABILIDADE 4.1 INTRODUÇÃO Desde 1925, quando Irving Langmuir demonstrou que a interação de um feixe de elétrons com um plasma é o processo responsável pela geração de oscilações de alta freqüência em descargas termoiônicas (Langmuir, 1925), o estudo deste fenômeno vem sendo arduamente investigado por vários pesquisadores na área de física de plasma. Com esta descoberta de Langmuir, inúmeros trabalhos teóricos e experimentais foram impulsionados com a possibilidade de usar o feixe de elétrons para aquecer o plasma e consequentemente chegar à fusão. Mas logo em seguida, foi descoberto que isto não era possível. Entretanto, o processo por si só, apresentou vários fenômenos que ainda não eram conhecidos e isso chamou a atenção de muitos cientistas que continuaram a estudá-los. Recentemente, o estudo da interação feixe-plasma tem progredido de uma forma impressionante, devido ao grande avanço da simulação computacional. Através de experimentos numéricos, muitos fenômenos não lineares, que não podem ser analisados analiticamente, estão começando a ser compreendidos. A excitação de ondas de Langmuir por uma função de distribuição com uma pequena corcova na cauda, um exemplo clássico de instabilidade cinética, tem sido utilizada para explicar ondas de Langmuir observadas em algumas regiões do espaço. Ela forma, por exemplo, a base da explicação para emissão de rádio solar tipo III (Gurnet et al., 1993). Ondas de Langmuir associadas a feixes energéticos também foram observados na região 77 da frente de choque (do elétron) da Terra (Klimas e Fitzenreiter, 1988) e região da ionosfera auroral (Ergun et al., 1991). Uma questão importante que ainda permanece é explicar como o feixe de elétrons liberados por uma explosão solar pode percorrer distâncias tão grandes sem ser perturbado pelas ondas de Langmuir em ressonância com os elétrons. Acredita-se que um mecanismo não linear, desencadeado acima de um certo limiar para a amplitude da onda, limita o crescimento da onda, permitindo que o feixe se propague. Entender estes fenômenos a partir de resultados experimentais requer medidas dos campos das ondas e da função de distribuição de elétrons, o que nem sempre é possível. Simulação por partículas oferece este diagnóstico. Neste capítulo descreve-se uma abordagem teórica para o desenvolvimento da instabilidade feixe de elétrons-plasma. Na parte final deste capítulo apresentam-se evidências da presença de ondas de Langmuir em regiões de plasma espacial do vento solar (Lin et al., 1986), da frente de choque terrestre (Fitzenreiter, 1984) e da região auroral terrestre (Ergun et al., 1991). 4.2 DESCRIÇÃO TEÓRICA DA EVOLUÇÃO DA INSTABILIDADE É bem conhecido que a interação de um feixe de elétrons, com velocidade vb e densidade nb, com um plasma ambiente de maior densidade n0, afeta consideravelmente os parâmetros dos mesmos, pois, como o feixe é uma fonte de energia livre, este pode excitar uma série de instabilidades. Uma das instabilidades mais conhecidas, é a excitação de ondas eletrostáticas instáveis com freqüências próximas à de plasma, ωpe, e com número de onda k0=ω ωpe /vb. Para um feixe frio e no limite nb/n0<<1, ou seja, um plasma de baixa densidade (não colisional), a instabilidade é devida a um mecanismo de realimentação que envolve o 78 agrupamento de elétrons levando ao aumento da densidade de carga espacial (regime hidrodinâmico). Neste regime o alargamento térmico, que existe nas velocidades das partículas do feixe, (∆ ∆ vb), o qual tende a suprimir a instabilidade hidrodinâmica, é negligenciado. A condição para não considerar este alargamento é dada por (Melrose, 1986): 1 3 nb ∆v >> b vb n0 (4.1) Esta aproximação descrita acima é denominada teoria linear, e como conseqüência as ondas excitadas crescem exponencialmente. O efeito da dispersão nas velocidades não é considerado, e a taxa de crescimento da instabilidade não depende da amplitude das ondas. Bohm e Gross (1949a, 1949b) investigaram intensivamente este tipo de instabilidade e mostraram que a relação de dispersão para um sistema feixe-plasma unidimensional sem a presença de campo magnético é: ω p2 ω b2 + =0 2 3 2 2 ( ω − kv ) 2 b (ω − k v te ) 2 (4.2) onde ωb é a freqüência de plasma dos elétrons do feixe. Graficamente esta relação de dispersão está ilustrada na Figura 4.1 79 Fig. 4.1 – Relação de dispersão das ondas num sistema feixe de elétrons-plasma para o caso do regime hidrodinâmico (feixe frio). FONTE: O’Neil e Malmberg (1968, p. 1755). A teoria linear prevê que, para um feixe frio e fraco (nb/n0<<1), as taxas de crescimento temporal e espacial são (O’Neil, Malmberg, 1968): 1 γ bp 3 nb 3 ≅ 2n 2 0 (4.3) e 1 3 nb 3 v b k i ≅ 3n v 2 0 te 80 2 3 k 0 (4.4) Inicialmente, para se ter uma idéia de como o sistema vai evoluir, a teoria linear é um bom ponto de partida. No entanto, o desenvolvimento da instabilidade leva à amplificação da amplitude das ondas de Langmuir. À medida que a onda ganha energia sua intensidade é aumentada, sendo capaz de aprisionar os elétrons do feixe injetado continuamente. Ao serem aprisionados, os elétrons do feixe trocam energia com a onda, causando diminuição das velocidades destes e, consequentemente, dispersão das velocidades do feixe de elétrons. Dessa forma, deve-se usar um modelo teórico que leve em consideração o efeito da dispersão das velocidades. O modelo usado para este propósito é o denominado teoria quasi-linear. Usando este modelo teórico para acrescentar o efeito da dispersão das velocidades dos elétrons do feixe, no caso anteriormente descrito, verifica-se mudanças na relação de dispersão, Equação (4.2), à medida que o feixe dispersa (O’Neil e Malmberg, 1968). No estágio inicial, onde a condição (nb/n0)1/3>∆ ∆vb/vb é satisfeita, as taxas de crescimento permanecem as mesmas previstas pela teoria linear (Equações. 4.4 e 4.5). Na Figura 4.2 pode-se observar as mudanças que ocorrem com o acréscimo do efeito da dispersão nas velocidades dos elétrons. 81 Fig. 4.2 – Relação de dispersão das ondas à medida que o feixe se dispersa devido ao processo de aprisionamento. FONTE: O’Neil e Malmberg (1968, p. 1755). A teoria quasi-linear é descrita qualitativamente quando se considera que um feixe pouco denso interagindo com o plasma excitando as ondas de Langmuir que crescem até atingir uma amplitude capaz de aprisionar os elétrons do feixe. Com o aprisionamento destes elétrons, ocorre a troca de energia fazendo com que os elétrons oscilem, passando a descrever trajetórias circulares no “poço” de potencial da onda eletrostática. Dessa forma a teoria prevê um máximo na amplitude de saturação. Através da Figura 4.3 este processo pode ser visualizado com uma seqüência de diagramas de espaço de fase no referencial da onda (v′′ b = vb - ω/k). As linhas tracejadas representam as trajetórias possíveis dos elétrons sob a ação de um potencial que não depende do tempo e as contínuas representam as coordenadas reais.. A Figura 4.3a mostra a trajetória dos elétrons ainda não perturbados; a Figura 4.3b mostra os elétrons aprisionados e a Figura 4.3c mostra a distribuição dos elétrons após um tempo grande o suficiente para que várias órbitas tenham sido efetuadas. 82 Fig. 4.3 – Órbitas dos elétrons no espaço de fase durante o processo de aprisionamento descrito pela teoria quasi-linear em três diferentes instantes de tempo. FONTE: Drumond et. al. (1970, p. 2423). Durante o desenvolvimento e saturação da instabilidade feixe-plasma, a teoria quasilinear prevê que a densidade de energia da onda eletrostática (E2(t)/8π π ) tenha o comportamento de acordo como mostrado na Figura 4.4. Observa-se que após a saturação da energia ocorre uma oscilação que é resultante da interação das partículas 83 do feixe com uma onda puramente senoidal. Pode-se ver, ainda, que a difusão dos elétrons no espaço de fase causa o amortecimento da oscilação. Assim vê-se que a densidade de energia tende a um valor estacionário quando t=tf, (Drummond et. al., 1970), a qual corresponde à metade da energia cinética inicial do feixe, aproximadamente. Fig. 4.4 – Energia do campo elétrico da onda de Langmuir em função do tempo durante o desenvolvimento da instabilidade feixe-plasma para o caso de um feixe frio. FONTE: do Prado (1997, p. 63). Em relação a potência da onda eletrostática, a teoria prevê que, para um feixe frio, a amplitude da onda atinge um máximo a partir do qual oscila devido a troca de energia entre os elétrons e a onda coerente durante o processo de aprisionamento. Este resultado foi comprovado experimentalmente por Gentle e Roberson (1971). Eles mostraram que o comprimento de onda característico da oscilação dos elétrons no potencial da onda é inversamente proporcional à corrente de feixe de acordo com a expressão λ osc ∝ I b−1 / 3 . Também observaram freqüências harmônicas da oscilação fundamental de baixa 84 amplitude. A curva experimental da potência da onda eletrostática em função da distância do ponto de injeção do feixe é mostrada na Figura 4.5. Fig. 4.5 – Curva experimental da potência total da onda observada numa coluna de plasma (ne ≈ 7× × 108 cm-3; Te ≈ 20 eV) em função da distância do ponto de injeção de um feixe de elétrons de corrente igual a 1,0 mA. FONTE: Gentle e Roberson (1971, p 2781). Através de simulação por partículas, ilustrada na Figura 4.6, pode-se observar, por meio do espaço de fase do sistema feixe-plasma, o aprisionamento dos elétrons do feixe e uma pequena perturbação no plasma durante o processo. 85 Fig. 4.6- Diagrama de espaço de fase dos elétrons num sistema feixe-plasma obtido através de simulação por partículas. FONTE: Thompson (1971, p. 1540). Diz-se que o feixe atinge o regime cinético (feixe morno), devido a evolução da instabilidade, quando a expressão: 1 3 nb ∆v < b vb n0 (4.5) é satisfeita e o feixe passa a interagir com um espectro turbulento de ondas eletrostáticas tornando a difusão das partículas muito intensa levando a formação de um “plateau” na função de distribuição de velocidades do feixe. A Figura 4.7 mostra a evolução da instabilidade através da análise temporal da função de distribuição do sistema feixe-plasma e do perfil da energia da onda de Langmuir. Em t = 0 os dois picos correspondem a velocidade do plasma e do feixe. Na Figura 4.7b pode-se observar que com o crescimento da onda, dá-se o inicio da dispersão na função de distribuição de velocidades do feixe (linha tracejada), e na Figura 4.7c observa-se 86 que na saturação da energia da onda em (t → ∞) ocorre a formação do “plateau”(linha tracejada). Fig. 4.7 – Função de distribuição do sistema feixe-plasma f(v) e intensidade de energia da onda I(vφ ) durante a evolução da instabilidade: (a) condição inicial em t = 0; (b) após certo crescimento da onda (t > 0) e (c) saturação da onda de Langmuir e a formação do “plateau” (t → ∞). FONTE: do Prado (1994, p. 26). 87 De acordo com a teoria quasi-linear, a relaxação coletiva do feixe de elétrons, isto é, a formação do “plateau”, ocorre dentro de uma distância característica a partir do ponto de injeção do feixe, dada por (Galeev et. al., 1977): lQL = vg γ bp v Te nb Λ≈ b ω p m e v b2 n0 −1 Λ (4.6) onde vg é a velocidade de grupo da onda, γ bp é a taxa de crescimento da instabilidade para um feixe morno que é proporcional à inclinação da distribuição de velocidade dos ∂f elétrons dada por (Melrose, 1986): ∂v γ bp n v π ≈ ω p b b 2e n0 ∆ v b 2 (4.7) Nesta Equação em particular, e representa o número neperiano, e W constante Λ = ln QL n0Te π 2e ≅ 1 . A , onde WQL é a energia da onda. Quando o efeito de empilhamento é levado em conta, devido a contínua injeção do feixe, tem-se (Tsytovich, 1970): 2 WQL ε E 1 n v = 0 0 ≈ b b 2 18 n0 vte 88 4 (4.8) 4.3 ONDAS DE LANGMUIR ASSOCIADAS A FEIXES ENERGÉTICOS EM PLASMAS ESPACIAIS As ondas eletrônicas de plasma, ou ondas Langmuir, são observadas com freqüências em regiões de plasma espacial, associadas a feixes de elétrons energéticos. Estas ondas são facilmente identificadas, sendo necessário apenas medidas da densidade de partículas, que determina a freqüência de plasma. Medidas feitas por satélites “in situ” tem fornecido dados para um estudo detalhado das ondas Langmuir no vento solar (Lin et al., 1986; e Gurnett et al., 1993), na frente de choque de elétrons da Terra (Filbert e Kellogg, 1979; Anderson et al., 1981; Etcheto e Faucheux, 1984 ) e na ionosfera auroral (Kellogg e Monson, 1978; McFadden et al., 1986). Nesta seção serão apresentados alguns exemplos de evidências da excitação das ondas de Langmuir em plasmas espaciais. As regiões serão descritas de forma a se conhecer suas características, e em seguida serão mostradas evidências , de que os fenômenos envolvendo interação de um feixe de partículas com o plasma local ocorrem. 4.3.1 EVIDÊNCIAS DAS ONDAS DE LANGMUIR ASSOCIADAS À EMISSÃO SOLAR TIPO III Existem grandes evidências de que ondas de Langmuir, excitadas pela instabilidade feixe-plasma estão associadas a emissão de rádio solar tipo III. Esta emissão foi uma das primeiras formas de emissão de rádio do Sol detectadas (Wilk e McCready, 1950). Várias medidas feitas, através de detetores instalados na superfície da Terra, a bordo de foguetes e em satélites, nas últimas décadas, forneceram informações muito importantes sobre este tipo de emissão que a associam ao feixe de elétrons e ondas em plasmas. O cenário associado à emissão tipo III pode ser visto através da Figura 4.8. Quando ocorre uma explosão solar (ou “solar flare”) um feixe de elétrons pode ser ejetado, e este se propaga ao longo das linhas de campo magnético, sendo observado a distâncias > 1AU. Neste processo o feixe interage com o plasma, ocorrendo as instabilidades do 89 tipo descrito no capítulo 3, e consequentemente a excitação das ondas eletrostáticas (ondas Langmuir). As ondas de plasma são convertidas por um processo não linear em radiação, com freqüências perto da freqüência de plasma e do seu segundo harmônico (Chian e Alves, 1988; Goldman, 1984; Lin et al., 1986). A frequência da onda gerada depende da região de interação, já que a densidade de plasma diminui com o aumento da distância ao Sol, conforme é ilustrado. Fig. 4.8 – Ilustração da emissão de rádio solar tipo III. O feixe de elétrons se propaga a partir do Sol após um “flare” e excita as ondas de Langmuir FONTE: Goldman (1984, p. 724). O experimento da sonda espacial ISEE-3, a qual no tempo de observação estava localizada no vento solar em aproximadamente ≈1.6x106 km (258 RT) acima da Terra (Lin et al., 1986), forneceu resultados que evidenciaram a excitação das ondas de Langmuir por elétrons energéticos. As Figuras 4.9 e 4.10 mostram os resultados obtidos para os dados do evento ocorrido em 8 de Fevereiro de 1979, dados estes que foram 90 usados para a simulação apresentada neste trabalho de dissertação. Na Figura 4.9 são mostradas algumas funções de distribuição de velocidades, f(v||) unidimensional, para tempos distintos no evento. Quando o feixe de elétrons passa pela sonda espacial, uma corcova na função de distribuição é desenvolvida, devido os elétrons mais energético chegarem antes dos menos energéticos. Nesta Figura vê-se claramente a evolução do feixe. A Figura 4.10 mostra medidas do campo elétrico para o intervalo de tempo 701705 UT. Esta Figura mostra picos das ondas de Langmuir, na parte superior, e ondas íon-acústicas, na parte inferior. Fig. 4.9 – Resultados medidos pelo experimento ISEE-3, no evento de 8 de Fevereiro de 1979 para a evolução da função de distribuição de velocidades para tempos distintos. FONTE: Lin et al. (1986, p. 725). 91 Fig. 4.10 – Resultados medidos pelo experimento ISEE-3, no evento de 8 de Fevereiro de 1979 para o campo elétrico no intervalo de tempo de 701-705 UT. FONTE: Lin et al. (1986, p. 725). 4.3.2 OBSERVAÇÃO DA FUNÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO INSTÁVEL NA REGIÃO DE FRENTE DE CHOQUE TERRESTRE A frente de choque da Terra é a região fora do arco de choque que contém o plasma do vento solar perturbado pela presença da Terra, pela sua magnetosfera e pelo próprio choque. Esta região está ilustrada na Figura 4.10. A perturbação parece ser devida à propagação de partículas carregadas energéticas, saindo do arco de choque em direção ao vento solar. Os íons têm velocidade relativamente mais baixa, eles são movidos para baixo do fluxo do vento solar e os elétrons vão para cima formando a região de préchoque eletrônica, a qual é livre dos íons energéticos e produzida pelos elétrons energéticos. A região da frente de choque terrestre tem sido objeto de muitas investigações. Os resultados contidos nos artigos de Scarf et al., (1971), Fredricks et al., (1971) e Ogilvie et al., (1971) fornecem a base para o entendimento da frente de choque terrestre. Scarf 92 et al. (1971) usando dados obtidos por um satélite foi capaz de mostrar a correlação entre a detecção de elétrons energéticos e intensas explosões do campo elétrico de ruído próximo a frequência eletrônica de plasma quando o satélite estava situado a vários raios terrestres acima do arco de choque da Terra (Klimas, 1985). Com base em observações, Sacarf et al. (1971) e Fredricks et al. (1971) argumentaram que a origem das ondas de plasma são resultantes da interação feixe de elétrons com o plasma ambiente. Fig. 4.11 – Ilustração da formação da região da frente de choque terrestre do elétron . FONTE: Kasaba et al. (1997). Apresenta-se, agora, um resultado experimental que foi obtido do experimento ISEE-1 (Ogilvie et al., 1978) o qual mediu a função de distribuição de velocidades na região da frente de choque terrestre. A Figura 4.12a mostra a função de distribuição reduzida dos elétrons, medida dentro da região cobrindo os extremos da frente de choque. Na Figura 4.12b está ilustrada a função de distribuição reduzida, F ( W|| ) , e as linhas tracejadas na vertical destacam ∂F ∂W|| > 0 . Na Figura 4.12c é mostrado o mapa de contorno normalizado da 93 superfície que cobre a região de um extremo ao outro. A componente da velocidade paralela é representada por w|| e a componente perpendicular por w⊥ . Fig. 4.12 – (a) Mapa de contorno da superfície f(w||,w⊥ ) obtido de uma medida feita em três dimensões da distribuição de velocidades dos elétrons nos contornos da frente de choque eletrônica. Os pontos sobre as linhas de contorno localizam as medidas no espaço de velocidades. (b) Função de distribuição reduzida F(w||), que mostra um segundo pico em w = −7 × 10 8 . (c) Mapa de contorno de w⊥ f(w||,w⊥ ) normalizada mostrando a contribuição relativa da velocidade perpendicular à função F(w||) em cada velocidade paralela. FONTE: Fitzenreiter (1984, p. 497). 94 4.3.3 OBSERVAÇÕES DE FENÔMENOS DE ONDAS EM PLASMA NA REGIÃO AURORAL A aurora é a manifestação mais visível da interação de plasma energético na magnetosfera terrestre com a atmosfera planetária. Tem sido bem reconhecido que a causa direta deste fenômeno é a precipitação de íons e elétrons energéticos levando a excitação de vários fenômenos ondulatórios. Um dos fenômenos bem reportados é a observação das ondas de Langmuir, ou ondas eletrônicas de plasma, nas regiões aurorais, que associam a excitação destas ondas a intensos feixes de elétrons, os quais, possivelmente, são gerados na região onde ocorre a aceleração de partículas na região das auroras, chamada de região de aceleração auroral. A Figura 4.13 ilustra o esquema básico de fenômenos de ondas em plasma associados aos elétrons aurorais. Os elétrons aurorais são gerados na região de aceleração, localizada a aproximadamente 6000 km, na região acima das correntes alinhada com o campo. Uma larga banda de ruídos eletrostáticos dos modos íon-acústico e ondas eletrostáticas ciclotrônicas são confinadas para dentro da região das correntes alinhadas com o campo. A região de interesse deste trabalho encontra-se acima da ionosfera, ~700 km, onde encontra-se fluxos de elétrons com energias entre dezenas de eV até poucos keV. 95 Fig. 4.13 – Ilustração dos fenômenos de plasma que ocorrem na região auroral, associado aos elétrons aurorais. FONTE: Fukunishi (1985, p.191). Uma forte evidência observacional da geração das ondas de Langmuir na região auroral foi obtida com o experimento de um foguete (NASA 35.023) (Ergun et al., 1991) que foi lançado do Alaska na direção norte passando através de vários arcos aurorais discretos durante a fase de expansão de uma subtempestade. A Figura 4.14 sintetiza os resultados medidos por vários diagnósticos durante a passagem do foguete. Na Figura 4.14a está representado o espectrograma do fluxo de energia dos elétrons alinhados com o campo magnético local. A intensidade é indicada 96 pela escala de cores que está indicada ao lado esquerdo da Figura. Foram marcados cinco períodos durante o vôo do foguete, nos quais identificam-se intensas ondas de Langmuir. Em cada um desses cinco eventos, existiu uma intensificação do fluxo de elétrons alinhado com o campo que mostrou uma dispersão marcante dos elétrons de alta energia chegando antes dos elétrons de baixa energia. A Figura 4.14b mostra a amplitude do campo elétrico paralelo de ondas de alta frequência (200 kHz a 5 MHz) e a Figura 4.14c apresenta o perfil da densidade de elétrons do plasma ionosférico medido por sonda de Langmuir. Fig. 4.14 – (a) Um espectrograma da energia média do fluxo de elétrons alinhado com o campo sobre período de 2 s. A parte mais escura indica um alto fluxo. Existem 16 canais de energia discreta representadas no eixo vertical. (b) A amplitude das ondas de alta freqüência (200 kHz a 5 MHz) paralelas ao campo elétrico mediada sobre um período de 2 ms. Os cinco períodos da onda Langmuir são notados. (c) A densidade dos elétrons medida por uma sonda de Langmuir. FONTE: Ergun et al. (1991, p. 228). 97 Estas três regiões de plasma espacial, embora distintas, apresentam em comum a presença de ondas eletrônicas de plasma associadas a um feixe de elétrons energéticos. Esta regiões são objeto de estudo neste trabalho de dissertação através de simulação por partículas. Simulação por partículas oferece a possibilidade de revelar com detalhes os fenômenos físicos não lineares associados com a injeção de feixe de partículas dentro de um plasma. Enquanto o extenso espaço da região de interação que pode ser simulado ainda é limitado, a simulação pode avaliar, essencialmente, diagnósticos com perfeição, os quais possuem uma variedade de processos físicos competindo. Em particular, a simulação pode determinar a resposta detalhada de plasmas na vizinhança do ponto de injeção. 98 CAPITULO 5 DISCUSSÕES E RESULTADOS Neste Capítulo apresentam-se os resultados obtidos por simulações , usando o código XPDP1 que foi descrito com detalhes no Capítulo 2. Os sistemas considerados têm condições de contorno não periódicas, permitindo a injeção de um feixe de partículas nos contornos. Estes sistemas são assim, abertos, com fluxos de partículas interagindo auto consistentemente com os campos eletrostáticos. Ao alcançar os contornos, as partículas são absorvidas, contribuindo para a carga superficial dos eletrodos (Verboncoeur et al., 1993). Ambos os contornos são mantidos no mesmo potencial. Os campos são calculados sobre uma grade espacial usando o método de diferenças finitas. A Equação de Poisson é resolvida a cada passo no tempo com as condições de contorno determinadas. O passo no tempo, ∆t, é determinado usando a condição de CourantFreidrichs-Levy (CFL), γ c = v max ∆t / ∆x < 1 , em geral mais restritiva que ∆tω ω ps < 0.2 , uma condição usada para assegurar a precisão na solução da Equação de Poisson. A condição de CFL garante que uma partícula não percorra mais que um ∆ x num ∆ t, evitando instabilidades numéricas (Birdsall e Langdon, 1985). Para o estudo neste trabalho de dissertação o código de simulação foi considerado com três espécies de partículas carregadas: os elétrons e íons de fundo, ou seja, o plasma ambiente considerado, descritos por uma função de distribuição Maxwelliana com densidade n0, temperatura Te e Ti, para os elétrons e íons respectivamente; e um feixe de elétrons com um função de distribuição Maxwelliana com deriva, com densidade nb, velocidade de deriva vb e temperatura Tb. O tamanho do sistema escolhido foi l = 1024∆x , onde o espaçamento da grade ∆x é da ordem do comprimento de Debye, λ D . Uma vez que as regiões, para as quais a simulação foi aplicada, apresentam razões de densidade nb / n0 ≥ 10 −6 , a função de distribuição requer um número de 99 macropartículas proibitivo para um código padrão de simulação por partículas. Para resolver este problema, ainda fornecendo um ambiente realístico, faz-se o uso de mesopartículas, ou seja, os valores da carga e da massa são alterados, para que se obtenha um número de macropartículas possível para o código. Este artifício mantém a relação carga-massa inalterada, a qual é relevante para o problema; a freqüência de plasma também não é modificada e permite observar a evolução da função de distribuição (Dawson, 1983). Ondas preexistentes não são consideradas, e todas as ondas crescem auto consistentemente. O modelo da simulação inclui a competição entre a relaxação do feixe e a fonte de energia livre produzida pela contínua injeção do feixe. Primeiramente, apresentam-se os resultados observacionais usados para a obtenção dos parâmetros para a simulação feita para a região do vento solar. Estes foram obtidos a partir de dados adquiridos pela sonda espacial ISEE 3. A Tabela 1 mostra os principais parâmetros obtidos pela sonda espacial. Os parâmetros de entrada necessários à simulação foram obtidos a partir destes dados. A condição de ressonância nos fornece o número de onda da onda excitada, k 0 ≅ ω pe v b , e consequentemente seu comprimento de onda, λ 0. Infelizmente, até os dias de hoje, ainda não se tem condições de simular toda a região sobre a qual o feixe se propaga até o ponto de observação. Assim, o tamanho do sistema é determinado com base nas estimativas do comprimento de relaxação do feixe, lQL (Equação 4.6). Usando o valor de nb/n0 observado, teríamos um tamanho de sistema que não seria possível simular em nossos computadores com a precisão desejada. Assim, utilizamos nb/n0=3x10-4, duas ordens de grandeza maior do que o observado. Com isto pode-se ter um sistema que contenha alguns comprimentos de onda da onda excitada ( ≈ 30λ 0 ) , maior que lQL e que permita um número de células tal que ∆x ≅ 2λ D . Usando-se “mesopartículas” para o feixe de elétrons, é possível obter uma boa estatística para a construção da função de distribuição do feixe. Os parâmetros usados na simulação estão mostrados na Tabela 5.2. Com estas condições é possível 100 observar a excitação das ondas de Langmuir, seu crescimento e também o aparecimento de outras ondas. TABELA 5.1 – PARÂMETROS ADQUIRIDOS PELO SATÉLITE ISEE 3, PARA O EVENTO DE 8 DE FEVEREIRO DE 1979, NO VENTO SOLAR Parâmetros Valores Plasma do vento solar: Densidade n0 7x106 m-3 Velocidade Vsw 350 km s-1 Temperatura eletrônica Te 1.7x105 °K Temperatura iônica Ti 6x104 °K Comprimento de Debye λ D ≈11 m Freqüência eletrônica de plasma fpe 24 kHz Freqüência iônica de plasma fpi 5.6x102 Hz Feixe de elétrons: Densidade nb ≈20 m-3 Velocidade vb ≈3.5x107 ms-1 Largura do feixe ∆ vb/vb ≈0.1-0.2 Onda de Langmuir excitada: Número de onda k0 4.3x10-3 m-1 Amplitude máxima E0max ≈0.15 mV m-1 Densidade de energia máxima normalizada Wmax=E20/8π π nkTe 6x10-9 Onda íon-acústica: Número de onda ki 4x10-3 m-1 Velocidade cs 5.5x104 ms-1 Freqüência fi 35 Hz Campo elétrico máximo Eimax ≈40 µVm-1 FONTE: Lin et al. (1986, p. 957). 101 TABELA 5.2 – VALORES DOS PARÂMETROS DE ENTRADA PARA A SIMULAÇÃO DO EVENTO DE 8 DE FEVEREIRO DE 1979, NA REGIÃO DE VENTO SOLAR Parâmetros para a simulação: Valores Razão de densidade nb/n0 3x10-4 Passo no tempo ∆t 6.562x10-7 s Comprimento de Debye λ D 11.53 m Espaçamento da grade ∆x 2λ λD Comprimento do sistema l 4.7227x104 m Velocidade térmica do elétron vte 1.73x106 ms-1 Velocidade térmica do íons vti 1.82x104 ms-1 Velocidade térmica do feixe vtb 1.75x106 ms-1 ∆vb/vb ≈ 0.1 Corrente do feixe Jb 1.17762x10-8 Am-2 Distância característica lQL 16180.4 m Taxa de crescimento γbp 4.5x103 s-1 ( ≈ 33ω −pe1 ) Após a caracterização do sistema, deu-se início à simulação computacional, observando os diagnósticos mais relevantes para verificar a excitação das ondas de Langmuir. O código computacional fornece uma variedade de diagnósticos, mas aqui serão apresentados somente os mais importantes. A excitação da onda de Langmuir pode ser vista através da variação espacial do potencial elétrico, por exemplo. A Figura 5.1 apresenta o gráfico da variação espacial do potencial elétrico ( E = −∇Φ ) em um tempo t =1ms ( ≈ 20ω −pe1 ) , que mostra a excitação de uma onda a partir do ruído, com λ ≈ 1.5km , de acordo com a condição ressonante 102 ω ≈ kv b ≈ ω pe . O crescimento, em amplitude, desta onda é apresentado na Figura (5.2). Esta Figura mostra o gráfico da variação espacial, sobre uma média no tempo em períodos de plasma (cerca de ≈ 8ω −pe1 ), da energia da onda normalizada pela energia térmica do plasma, W = (1 / 2)ε 0 E 2 ( n0Te ) , obtida em t ≈ 100ω −pe1 . Este tempo −1 corresponde a 9γ bp , onde γbp é a taxa de crescimento da instabilidade feixe-plasma, dada pela Equação (4.7). A amplitude da onda é maior quando comparada com os valores observados, mas está de acordo com os valores previsto pela teoria, quando se leva em consideração o efeito de empilhamento, devido a contínua injeção de feixe (Tsytovich, 1970). Esta diferença pode ser explicada aida pelo fato de o valor da razão entre as densidades, nb/n0, usado ser muito maior do que o observado. Fig. 5.1 - Perfil espacial do potencial eletrostático em t=1ms ( ≈ 20ω −pe1 ) ; excitação a partir do ruído. 103 Fig. 5.2 – Variação espacial da amplitude da onda W, mediada no tempo, em t ≈ 100ω −pe1 . Com a evolução da instabilidade feixe-plasma, espera-se observar o aprisionamento de elétrons no espaço de fase (x versus vx) e a formação de “plateau” na função de distribuição do feixe, de acordo com a teoria quasi-linear. A verificação destes resultados é ilustrada pelas Figuras 5.3, 5.4 e 5.5. As Figura 5.3 e 5.4 mostram o espaço de fase nos tempos t ≈ 100ω −pe1 e t ≈ 180ω −pe1 respectivamente. Os círculos representam o feixe de elétrons, que é continuamente injetado a partir do ponto x λ D = 0 , e os pontos representam o plasma ambiente. Observa-se o aprisionamento dos elétrons, no feixe, na posição onde a amplitude da onda é máxima, e uma oscilação no plasma. À medida que o sistema evolui, ele fica cada vez mais perturbado, e processos não lineares começam a dominar a evolução. A Figura 5.5 mostra a evolução no tempo da função de distribuição do feixe, até t ≈ 1600ω −pe1 . Através desta Figura, observa-se que o “plateau” é formado, mas posteriormente o feixe ainda é observado, o que concorda com os resultados obtidos tanto em plasma de laboratório (do Prado, 1997) como em plasmas espaciais. 104 Fig. 5.3 – Espaço de fase (x vesus vx) em t ≈ 100ω −pe1 . Fig. 5.4 – Espaço de fase (x versus vx) em t ≈ 180ω −pe1 . 105 Fig. 5.5 – Evolução temporal da função de distribuição do feixe acima de t ≈ 100ω −pe1 . O espectro de potência para ondas de alta freqüência em diferentes posições no sistema mostraram que ω ≈ ω pe ,como previsto pela teoria. O espectro de potência não é o mesmo todo o tempo. Foi obtido um espectro de potência para o potencial elétrico (com menos ruído do que E ou W) em quatro posições diferentes do sistema: x=l/4, 3l/8, l/2 e 5l/8. A cada 64 períodos de plasma (ω −pe1 ) , o código faz a transformada de Fourier sobre o potencial elétrico nas diferentes posições. Na Figura 5.6 está mostrado um espectro de potência típico em t=4.3ms ( ≈ 100ω −pe1 ) , na posição x=l/2. O mesmo gráfico, só que no tempo t=75ms ( ≈ 1600ω −pe1 ) , é mostrado na Figura 5.7. Fica claro a existência de dois picos próximos a ω pe . A diferença entres esses dois picos, que é da ordem de ≈ ω pi , é uma indicação que processos não lineares, tais como interação ondaonda, estão ocorrendo. Este resultado é semelhante ao obtido por Hospodarsky e Gurnet (1995) para observações no vento solar. Seus resultados mostram ainda a presença de 106 ondas íon-acústica, compatíveis com o processo de decaimento envolvendo ondas de Langmuir e íon-acústicas do tipo L → L′ + S (Chian e Alves, 1988). −1 −1 Fig. 5.6 – Espectro de potência do potencial em x=l/2 e t = 100ω pe (cerca de 64 ω pe ). −1 −1 Fig. 5.7 – Espectro de potência do potencial em x=l/2 e t = 1500ω pe (cerca de 64 ω pe ). 107 A evolução espaço-temporal das ondas de alta e baixa freqüências pode ser vista nas Figuras 5.8 - 5.11. A Figura 5.8 mostra o diagrama espaço-temporal da amplitude da onda de alta frequencia, W, para os dados descritos anteriormente e com B=0. Observase a excitação de ondas próxima ao ponto de injeção para tempos pequenos; Seguindose a evolução temporal observa-se que há uma supressão das ondas durante um certo intervalo, voltando a ser excitadas posteriormente. Comparando a evolução das ondas com a função de distribuição, verifica-se que durante o tempo em que não se observa muitas ondas, a função de distribuição apresenta um platô (isto pode ser visto de maneira mais clara, no detalhe da Figura 5.5 que mostra a função de distribuição em diferentes tempos, para t < 50ω −pe1 ). Quando as ondas voltam a ser excitadas, a função de distribuição apresenta novamente regiões de máximo, mostrando que o feixe continua se propagando, conforme observado. Ondas de Langmuir são detectadas no vento solar desde as primeiras observações feitas pelo satélite Helios e são descritas como não homogêneas e intermitentes (Muschietti et al., 1994). Estas características podem ser usadas também para descrever o que se observa na Figura 5.8. Devido a sua baixa intensidade, espera-se que o campo magnético presente no vento solar não exerça influência sobre a instabilidade em estudo. Para efeito de comparação, foi feita uma simulação com os mesmos parâmetros anteriores, mas considerando ω ce ω pe = 0.01 , valor típico no vento solar. O resultado está apresentado na Figura 5.9, que mostra a variação espaço-temporal da amplitude da onda de alta frequência. Observa-se que o início da simulação não difere muito da anterior, mas a evolução das ondas sim. O que se observa é que inicialmente as ondas têm uma maior velocidade de propagação, apresentando-se depois, para tempos maiores, quase que localizadas, o que já tem sido alvo de investigação em plasmas espaciais (Akimoto et al., 1996). A influência do campo magnético em instabilidades paramétricas envolvendo ondas de Langmuir foi investigada por vários autores. Akimoto (1989) apresenta uma pequena revisão neste assunto e cita referências relevantes a explosões de rádio solares do tipo III. 108 As Figuras 5.10 e 5.11 mostram a evolução espaço-temporal da variação da densidade dos íons, ni n0 , estando portanto associadas a fenômenos de baixa frequência. O que se deve notar aqui está relacionado aos efeitos introduzidos pelos contornos. Longas simulações alteram o sistema que se considera inicialmente; gradientes de densidades aparecem em ambos os contornos. Observa-se ainda que a introdução de um campo magnético, ainda que fraco, suaviza os efeitos de borda. Fig. 5.8 – Diagrama espaço-temporal da amplitude de alta freqüência, W, com B=0. 109 Fig. 5.9 – Diagrama espaço-temporal da amplitude de alta freqüência, W, com B dado por ω ce / ω pe = 0.01 . Fig. 5.10 – Diagrama espaço-temporal para amplitudes de baixa frequência, na ausência de campo magnético. 110 Fig. 5.11- Diagrama espaço tempo para amplitudes de baixa frequência, com um campo magnético dado por ω ce / ω pe = 0.01 . Ondas de Langmuir têm sido observadas em regiões aurorais por foguetes lançados a altitudes menores que 1000 km. As emissões aparecem de maneira intermitente e como aglomerados (“clumpy"). As ondas são observadas em associação com fluxos de precipitação de elétrons com energias entre 20 eV a 4 keV gerados, em geral, a altitudes de ~6000 km. Geralmente, em altitudes onde a ionosfera é moderadamente magnetizada (Ω Ω ce≈ ωpe), as ondas de Langmuir são observadas. Tanto a magnetização moderada quanto o espalhamento dos elétrons têm grandes influências sobre a dispersão linear e o decaimento das ondas de Langmuir. Em particular, a dispersão linear é topologicamente diferente dependendo se o campo magnético é subcrítico (Ω Ω ce < ωpe) ou supercrítico (Ω Ω ce<ω ωpe). 111 Simulações para a região auroral, com campo magnético subcrítico e supercrítico, foram realizadas neste trabalho de dissertação. Os dados iniciais para a simulação foram obtidos a partir dos experimento (“Berkeley Ionospheric Dual-Altitude Rocket Campaign”) BIDARCA (Boehm, 1987) e do foguete Alaska’88 (Ergun et al., 1991), citados em Newman (1994). Os parâmetros obtidos por estes experimentos são mostrados na Tabela 5.3. Os dados de BIDARCA fornecem um ambiente de plasma com campo magnético supercrítico e o Alaska’88 subcrítico. TABELA 5.3 – PARÂMETROS OBTIDOS PELOS EXPERIMENTOS BIDARCA E ALASKA’88 Parâmetros BIDARCA Alaska’88 fpe = ωpe/2π π 0.95 MHz 1.40 MHz fce = Ω ce/2π π 1.15 MHz 1.15 MHz Ω ce /ω ωpe 1.21 0.82 Te [Te / Ti ≈ 4] 0.2±0.05 eV 0.2±0.1 eV n0 9.9x109 m-3 2.4x1010 m-3 nb [≈4% n0] 4x108 m-3 ≈9.6x108 m-3 vb ≈5x106 ms-1 ≈107 ms-1 ve 1.9x105 ms-1 1.9x105 ms-1 W=εε0|E0|2/2n0KbTe ≈3-5x10-3 ≤ 10-3 Altitude ≈690 km ≈650 km FONTE: Newman et al. (1994, p. 6369). A partir destes dados, foram calculados os parâmetros de entrada necessários à simulação, de forma semelhante a descrita para o caso do vento solar. Para esta região não foi necessário aumentar a razão das densidades, sendo possível usar os dados reais na simulação. Com isto o tamanho do sistema, l , escolhido, contém algumas unidades de comprimento de onda da onda excitada (≈ ≈ 6 λ 0), sendo maior do que l QL e permite 112 um número de células tal que ∆x≈ ≈ 2λ λ D . Na Tabela 5.4 são mostrados os parâmetros usados para a simulação na região ionosférica auroral. TABELA 5.4 – PARÂMETROS USADOS PARA CARACTERIZAR OS EVENTOS NA REGIÃO AURORAL PARA A SIMULAÇÃO Parâmetros para a simulação: BIDARCA Alaska’88 Razão de densidade nb/n0 0.04 0.04 Passo no tempo ∆t 1.5625x10-8 s 1.116x10-8 s Comprimento de Debye λ D 0.0318 m 0.0216 m Espaçamento da grade ∆x 0.0636 m 0.0432 m Comprimento do sistema l 64.2 m 44.2368 m Velocidade térmica do elétron vte 1.9x105 ms-1 1.9x105 ms-1 Velocidade térmica do íons vti 5.47x102 ms-1 5.47x102 ms-1 Velocidade térmica do feixe vtb 2.5x105 ms-1 5x105 ms-1 Energia térmica do plasma n0 k BTe 1.91x10-9 J 4.64x10-9 J ∆vb/vb 0.1 0.1 Corrente do feixe Jb 3.17x10-4 Am-2 1.536x10-3 Am-2 Distância característica l QL 2.9 m 1m Taxa de crescimento γbp 2.39x106 s-1 3.52x107 s-1 Os principais resutados obtidos via simulação serão mostrados a seguir. Primeiramente apresentam-se os resultados para o caso do plasma com campo magnético subcrítico, ou seja, Alaska’88. 113 Uma boa maneira de visualizar a excitação das ondas de Langmuir, por exemplo, é através da variação espacial da amplitude do campo elétrico. A Figura 5.12 mostra a variação espacial da amplitude do campo elétrico (|E0|2(x)) em um tempo t = 10 µ s (≈ 14ω −pe1 ) . Observa-se o rápido crescimento da amplitude da onda, com λ ≅ 5.26m , de acordo com a condição ressonante ω ≈ kv b ≈ ω pe . Normalizando os valores da amplitude do campo elétrico pela energia térmica do plasma ( n0 k BTe = 4.64 × 10 −9 ) , pode-se observar que o valor máximo da energia, W, é da ordem de ~10-3, o que está de acordo com o observado (Tabela 5.3). Fig. 5.12 – Variação espacial da amplitude do campo elétrico em um tempo t = 10 µ s (≈ 14ω −pe1 ) . 114 Através da evolução espaço-temporal das ondas é possível verificar uma variedade de fenômenos que ocorrem na interação feixe-plasma. Por exemplo, como a onda excitada se propaga e os efeitos não lineares que afetam esta onda. Semelhante ao procedimento feito para o caso do vento solar, fez-se uma simulação, para efeito de comparação, considerando o campo magnético nulo. Este resultado é mostrado na Figura 5.13, o qual mostra o diagrama espaço-temporal da amplitude das ondas de alta frequência, W, com os parâmetros do caso Alaska’88 exceto que ω ce ω pe = 0 . Esta Figura mostra que próximo ao ponto de injeção do feixe, existem ondas que são rapidamente excitadas e se propagam até um certo tempo. Com a evolução temporal verifica-se, que as ondas deixam de se propagar no espaço, apresentando regiões de excitação bem localizados, de acordo com o que é observado. Diferentemente do vento solar, as ondas não são suprimidas. A Figura 5.14 mostra a evolução espaço-temporal das ondas de alta frequência para os dados de Alaska’88, com ω ce ω pe = 0 .82 . Através desta Figura nota-se que ocorre o mesmo efeito inicial de uma rápida excitação de ondas para tempos pequenos próximo ao ponto de injeção do feixe, e propagação. Neste caso, o qual é mais realístico, verifica-se que após um certo tempo as ondas são suprimidas por um pequeno intervalo de tempo, depois apresentando picos bem localizados durante a evolução temporal. Novamente observa-se que o campo magnético influencia na evolução das instabilidades (Akimoto, 1989). Em ambos os casos citados acima, nota-se que os efeitos dos contornos afetam as simulações feitas para tempos muito longos, e que a introdução de um campo magnético suaviza os efeitos de borda. 115 Fig. 5.13 – Diagrama espaço-temporal para a amplitude das ondas de alta frequência, W, com campo magnético nulo, para o caso Alaska’88. Fig. 5.14 – Diagrama espaço-temporal para a amplitude das ondas de alta frequência, W, com campo magnético dado por ω ce ω pe = 0.82 , para o caso Alaska’88. 116 Apresentam-se, agora, os resultados de simulação obtidos para o caso BIDARCA. Fazendo-se uma análise semelhante à anterior, mostra-se na Figura 5.14 o gráfico da variação espacial da amplitude do campo elétrico (|E0|2(x)) para um tempo t = 70µ s ( ≈ 66ω −pe1 ) . Observa-se a excitação de uma onda com λ ≅ 5.26m de acordo com a condição ressonante. Os valores mostrados para a amplitude nesta Figura não estão normalizados. Observando a variação nas escalas, verifica-se que o pico na amplitude está em aproximadamente ~10-11; normalizando este valor pela energia térmica do plasma ( n0 k BTe = 1.91 × 10 −9 ) , obtém-se um valor máximo para a densidade de energia, W, da ordem de ~5x10-3, de acordo com o que é observado (Tabela 5.3). Fig. 5.15 – Gráfico da variação espacial da amplitude do campo elétrico, para um tempo de t = 70µ s ( ≈ 66ω −pe1 ) . 117 Da mesma forma que se analisou os resultados para os dados de Alaska’88, fez-se também os diagramas da variação espaço-temporal para o caso BIDARCA. Os resultados são semelhantes, podendo-se verificar a excitação de ondas próximo ao ponto de injeção do feixe para tempos pequenso e sua propagação. Para tempos maiores, as ondas excitadas são localizadas. Fez-se simulações tanto considerando o campo magnético, quanto na sua ausência a fim de verificar sua influência na evolução das ondas excitadas. Estes resultados são mostrados nas Figura 5.16 e 5.17, onde a escala de cores está representada por unidades arbritárias. A Figura 5.16 mostra o diagrama da variação espaço-temporal da amplitude, W, considerando o campo magnético nulo. A Figura 5.17 apresenta o diagrama semelhante, mas com um campo magnético dado por ω ce ω pe = 1.21 . Fig. 5.16 – Diagrama espaço temporal da amplitude das ondas excitadas W, na ausência de campo magnético, para o caso BIDARCA. 118 Fig. 5.17 – Diagrama espaço-temporal da variação da amplitude das ondas excitadas, W, na presença de um campo magnético dado por ω ce ω pe = 1.21 , para o caso BIDARCA. Observações recentes na frente de choque eletrônica da Terra tem mostrado que a interação de um feixe de elétrons-plasma é capaz de excitar uma variedade de ondas de plasma (Anderson et al., 1981; Etcheto e Faucheux, 1984; Fusilier et al., 1985; Lacombe et al., 1985). Dependendo da localização dentro da frente de choque, encontrase uma ou outra estreita banda de ondas na frequência de plasma local ou ondas com frequências substancialmente acima ou abaixo da de plasma. Estas observações não estão de acordo com o cenário tradicional da interação feixe plasma. Mostram-se a seguir, os resultados obtidos através da simulação realizada com parâmetros característicos da região da frente de choque eletrônica da Terra. A simulação foi baseada no trabalho de Dum (1990), que analisou a geração das ondas de Langmuir devido a uma distribuição de elétrons com uma corcova na cauda. Os 119 parâmetros iniciais, obtidos a partir do trabalho de Dum (1990), são mostrados na Tabela 5.5. TABELA 5.5 – PARÂMETROS TÍPICOS PARA A REGIÃO DA FRENTE DE CHOQUE (DUM 1990) Parâmetros Valor fpe = ωpe/2π π 2.7x104 Hz fce = Ω ce/2π π 238 Hz Ω ce /ω ωpe 0.008 Te [Te / Ti ≈ 4] 3.3 eV n0 1.0x107 m-3 nb 5.0x104 m-3 vb 3.0x107 ms-1 ve 1.9x105 ms-1 W=εε0|E0|2/2n0KbTe ≤1 A partir dos parâmetros, mostrados na Tabela 5.5, calcularam-se os valores de entrada necessários à simulação. Similarmente aos casos anteriores, usou-se a condição de ressonância ω ≈ kv b ≈ ω pe , que fornece o número de onda k0, e consequentemente o comprimento de onda λ 0. Foi usado o mesmo artíficio de mesopartículas, para que se tenha um boa representação estatística da função de distribuição do feixe. A razão de densidade, para este caso, foi a observada. Os parâmetros usados na simulação estão mostrados na Tabela 5.6. Com estes parâmetros, foi possível observar a excitação das ondas de Langmuir, seu crescimento e evolução. 120 TABELA 5.6 – PARÂMETROS USADOS PARA SIMULAÇÃO DA REGIÃO DA FRENTE DE CHOQUE Valor Parâmetros para a simulação: nb/n0 5x10-3 ∆t 1.2x10-7 s λD 7.38 m ∆x 7.38 m l 7.557x103 m vte 1.32x106 ms-1 vti 1.7x104 ms-1 vtb 4.5x106 ms-1 n0 k BTe 1.6x10-11 J ∆vb/vb 0.3 Jb 2.4x10-7 Am-2 lQL 650 m γbp 1.0x104 s-1 Caracterizado o sistema, fez-se a simulação, observando os principais diagnósticos que são mostrados a seguir. Através da variação espacial da amplitude do campo elétrico, |E0|2(x), é possível verificar a excitação das ondas de Langmuir. A Figura 5.18 mostra a variação espacial da amplitude do campo elétrico, em um tempo t = 2m s( ≈ 57ω −pe1 ) que apresenta a excitação de uma onda, a partir do ruído, com pico em ≈ 10-11 J e λ 0=1km, de acordo com a condição ressonante. Pode-se observar, ainda, que a onda é amplificada dentro de uma região pequena a partir do ponto de injeção, atinge um máximo, e depois decai, apresentando flutuações em torno de ≈ 10-17 J. O crescimento da amplitude, mediada 121 sobre um certo intervalo de tempo, em períodos de plasma (cerca de ≈ 8ω −pe1 ), é mostrado na Figura 5.19. Esta Figura representa a variação espacial da energia da onda normalizada, W, pela energia térmica do plasma n0KBTe≅ 1.6x10-11 J/K, obtida em t=2ms. Este tempo corresponde a ≈ 20γγbp. A amplitude obtida via simulação está de acordo com o apresentado por Dum (1990). Fig. 5.18 – Variação espacial da amplitude do campo elétrico em t=2ms (cerca de ≈ 57ω −pe1 ). 122 Fig. 5.19 – Variação espacial da amplitude da onda normalizada, W, mediada no tempo (cerca de ≈ 8ω −pe1 ), obtida no tempo em t=2ms (cerca de ≈ 57ω −pe1 ). Os espectros de potência obtidos nas quatro posições escolhidas do sistema, para ondas de alta frequência mostraram frequência em ~ω ωpe, seus harmônicos, e também evidência de processos não lineares. O processo para se obter os espectros é o mesmo descrito no caso do vento solar. A Figura 5.20 mostra o espectro de potência obtido em t=3ms ( ≈ 85ω −pe1 ), na posição x=ll/4. Através desta Figura pode-se observar claramente a existência de três picos de frequência, o primeiro coincide com a frequência de plasma eletrônica, o segundo, que é próximo de ωpe, é uma indicação de que processos não lineares estão ocorrendo, pois a diferenção entre esses dois picos coincide com a frequência de plasma iônica, ωpi, e o terceiro pico é simplesmente o segundo harmônico de ωpe. O mesmo espectro está mostrado na Figura 5.21, mas para um tempo t=10ms ( ≈ 285ω −pe1 ), a qual ainda mostra dois picos próximos a ωpe. 123 Fig. 5.20 – Espectro de potência do potencial em x=l/4 e t=3ms ( ≈ 85ω −pe1 ). Fig. 5.21 – Espectro de potência do potencial em x=ll/4 e t=10ms ( ≈ 285ω −pe1 ). 124 Da mesma forma, com nos casos anteriores, fez-se uma análise da evolução espaçotemporal das ondas excitadas. Na Figura 5.22 é mostrada a evolução espaço-temporal das amplitudes das ondas de alta frequência com os parâmetros calculados para a simulação, e com campo magnético nulo. Observa-se que próximo ao ponto de injeção do feixe, ocorre a excitação de ondas para tempos pequenos. Estas ondas se propagam até um certo ponto, no qual são suprimidas rapidamente, e logo depois voltando a serem excitadas. Mas agora, são bem localizadas apresentando picos esporádicos, de acordo com o observado. Isto significa que o feixe não é destruído, como prevê a teoria quasilinear, podendo se propagar até longas distância, o que é observado. Para efeito de comparação, fez-se a mesma simulação, mas considerando um campo magnético dado por Ωce/ω ω pe=0.008, valor típico para esta região. Este resultado está apresentado na Figura 5.23, que representa o diagrama espaço-temporal da amplitude das ondas de alta frequência. No início, este resultado é semelhante ao anterior, a diferença está na evolução das ondas, onde nem todas são suprimidas por certo intervalo de tempo, mas apresenta a mesma característica de ondas localizadas com picos esporádicos. Fig. 5.22 – Diagrama espaço-temporal das amplitudes das ondas de alta frequência, com campo magnético nulo, para a região da frente de choque. 125 Fig. 5.23 – Diagrama espaço-temporal das amplitudes das ondas de alta frequência, com um campo magnético dado por Ωce/ω ω pe=0.008, para a região da frente de choque. Os resultados apresentados mostram que a intensidade do campo magnético afeta a evolução espaço-temporal das ondas excitadas pela interação feixe-plasma bem como minimizam os efeitos de borda. Diagnósticos melhores sobre as oscilações de baixa frequência fazem-se necessárias para um melhor entendimento dos fenômenos. A simulação por códigos eletromagnéticos de sistemas onde o feixe não se propaga exatamente paralelamente ao campo magnético permitiria a observação de outras ondas. 126 CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES Neste trabalho foi utilizado o método de simulação via partículas para investigar um dos fenômenos mais fundamentais em plasmas espaciais; a excitação das ondas de Langmuir via instabilidade feixe-plasma. Para o desenvolvimento do trabalho foi necessária a familiarização com o método de simulação por partículas. Primeiramente estudou-se o funcionamento do código utilizado, XPDP1, no âmbito de como é possível representar um sistema físico em um computador, e a análise dos diagnósticos fornecidos pela simulação necessários ao estudo do problema especificado. Modificações no código foram precisas a fim de se obter novos diagnóstico, tanto quanto melhorar os já existentes. Este código foi utilizado para o estudo das instabilidades geradas devido a presença de um feixe de elétrons no plasma local, excitando as ondas eletrônicas de plasma (ou ondas de Langmuir), presentes em várias regiões de plasmas espaciais. Três regiões específicas foram escolhidas: região da coroa solar (vento solar), frente de choque terrestre e a região auroral inferior. Embora existam muitos trabalhos que evidenciam a presença das ondas de Langmuir nestas regiões, questões ainda não respondidas persistem, tais como o feixe excitar ondas e ainda se propagar a distâncias muito longas, sem grandes perdas de energia. Especificado o problema, estudou-se a teoria que descreve os fenômenos de instabilidades na interação feixe-plasma. Através da teoria linear, foi possível averiguar os conceitos básicos de instabilidades, necessários ao entendimento da evolução da interação do feixe com o plasma ambiente. No estudo desta constatou-se a necessidade de uma outra teoria que considerasse o efeito da dispersão nas velocidades do feixe. A teoria quasi-linear, que considera este efeito, foi utilizada para o cálculo dos parâmetros 127 necessários a simulação. Dessa forma, um estudo criterioso para a determinação das condições inicias foram realizadas usando este modelo teórico. Após estes prévios estudos, aplicou-se a simulação para as regiões escolhidas. Todos os resultados obtidos mostraram que a presença de um feixe de elétrons num plasma ambiente causa instabilidades, excitando as ondas de Langmuir. Através destes resultados, também foi possível observar a evolução temporal das instabilidades, constando-se que a presença de um campo magnético altera a evolução das ondas excitadas, mesmo esse campo sendo de baixa intensidade. Isto leva a crer que fenômenos não lineares regem o sistema feixe-plasma. Um outro fato observado, é que considerando a presença de campo magnético os efeitos de borda para as longas simulações são suavizados. Os resultados aqui obtidos são de considerável valor, pois foi adquirida experiência sobre o método de simulação por partículas, sua aplicação a problemas de física de plasmas, em particular plasma espacial; e a metodologia de pesquisa absorvida durante todo o desenvolvimento do trabalho foi de fundamental importância na formação de um futuro pesquisador que pretende contribuir para a ciência, em especial para a geofísica espacial. Simulações computacionais são hoje uma ferramenta valiosa no estudo de plasmas espaciais (Winski e Omidi, 1996). Quanto a trabalhos futuros, este trabalho mostrou que utilizando um código eletrostático somente fenômenos oscilatórios eletrostáticos são observados, perdendo assim, a excitação de outros tipos de ondas, como as eletromagnéticas, e os possíveis acoplamentos e/ou decaimentos das ondas de Langmuir com outras ondas. Portanto, conclui-se que é necessário a utilização de um código eletromagnético para que seja possível observar fenômenos não mostrados aqui. Além disto, sabe-se que os fenômenos não lineares envolvendo ondas de Langmuir, envolvem também ondas associadas ao movimento dos íons, de baixa frequência. A utilização de um código híbrido, onde os elétrons sejam tratados como fluidos e os íons como partículas 128 (Matsumoto e Sato, 1985), pode esclarecer quais fenômenos não lineares estão ocorrendo. 129 130 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Akimoto, K., Parametric instabilities of Langmuir waves in weak/moderate magnetic fields, Phys. Fluids, v.B1, p.1998, 1989. 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