(Allium sativum L.) NA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA - IFRS

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE
DO SUL CAMPUS BENTO GONÇALVES
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM VITICULTURA E ENOLOGIA
EFEITO DE DIFERENTES DOSES DE EXTRATO DE ALHO
(Allium sativum L.) NA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA DE
CABERNET SAUVIGNON (Vitis vinifera L.)
Jhonatan Marini
Prof.a Larissa Dias de Ávila - Orientadora
Bento Gonçalves
Setembro 2011
2
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul Campus
Bento Gonçalves
Curso Superior de Tecnologia Em Viticultura e Enologia
EFEITO DE DIFERENTES DOSES DE EXTRATO DE ALHO
(Allium sativum L.) NA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA DE
CABERNET SAUVIGNON (Vitis vinifera L.)
Jhonatan Marini
Trabalho de conclusão apresentado ao Curso
Superior de Tecnologia em Viticultura e
Enologia do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul,
como requisito para obtenção do título de
Tecnólogo em Viticultura e Enologia.
Prof.ª Larissa Dias de Ávila- Orientadora
Bento Gonçalves
Setembro 2011
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha família pelo apoio e incentivo desde o início das minhas atividades
letivas até o transcorrer final deste curso, a minha irmã, Morgana Zambiasi Marini, que
mesmo estando longe sempre me ajudou e em especial aos meus pais, Ari Marini e Ana
Zambiasi Marini pela educação e incondicional participação nos meus estudos e minha
carreira profissional.
Ao meu supervisor de estágio, Doutor Henrique Pessoa dos Santos, pelo aprendizado,
pela amizade e por instruir-me de maneira objetiva enquanto estagiário da Embrapa Uva e
Vinho. E aos demais colegas de laboratório na Embrapa, Daniel Antunes, Marcelo Zart e
Leonardo Cury, obrigado por tudo.
A Fapergs pela concessão da bolsa de estudo durante o período de estágio na Embrapa
Uva e Vinho.
Aos professores que formam o corpo docente do IFRS-BG, especialmente ao professor
Evandro Ficagna pelo suporte na análise estatística e a professora Larissa Dias de Ávila pela
atenção, dedicação e apoio técnico durante a trajetória da pesquisa.
A minha namorada, Juliana Toniolo Rossatto, pelo incentivo, além do carinho, amor e
compreensão a mim despendidos.
A todos os amigos que me apoiaram durante esta trajetória, em especial os amigos
Maciel Ampese e Guilherme Caio.
4
SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................................... 6
ABSTRACT ..................................................................................................................... 7
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 10
2.1 Ecofisiologia da videira e fatores envolvidos na dormência ............................... 10
2.1.1 Ácido Abscísico (ABA)................................................................................. 12
2.2 Quebra de dormência da videira .......................................................................... 12
2.2.1 Incisão anelar .............................................................................................. 13
2.2.2 Arqueamento de ramos da videira .............................................................. 14
2.2.3 Manejo hídrico ............................................................................................ 14
2.2.4 Cianamida Hidrogenada ............................................................................. 15
2.3 Produtos Alternativos .......................................................................................... 16
3. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................ 18
3.1 Caracterização da área experimental .................................................................. 18
3.2 Delineamento experimental e tratamentos ............................................................... 19
3.3 Coleta de dados .................................................................................................... 20
3.4 Análise Estatística ............................................................................................... 21
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................... 22
5. CONCLUSÕES .......................................................................................................... 27
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 28
5
FIGURAS E TABELAS
FIGURA 1. Imagem aérea do local do experimento .......................................................18
FIGURA 2. Croqui da área experimental, sendo que cada célula representa 5 plantas .19
FIGURA 3. Rolo utilizado na aplicação dos tratamentos ...............................................20
FIGURA 4. Os estádios fenológicos da videira. Estádio C ou 05 ou 09. Ponta verde.
Proposto pela IFV ...........................................................................................................20
FIGURA 5. Médias das porcentagens de brotação durante todo o período estudado .....24
FIGURA 6. Imagem de vara de produção do T1, em 20/10/10 ......................................25
FIGURA 7. Imagem de vara de produção do T3 em 20/10/2010 ...................................25
FIGURA 8. Imagem de vara de produção do T2 em 20/10/10 .......................................26
TABELA 1. Porcentagens de brotação nas datas 22/09, 27/09 e 18/10 nas videiras
submetidas aos tratamentos T1, T2, T3, T4, e T5 ...........................................................22
TABELA 2. Médias de temperaturas < 7,2°C e < 10°C no período de 1976 a 2009 e
no ano de 2010 .................................................................................................................24
6
RESUMO
A videira é uma planta de clima temperado, com fisiologia dependente da superação
de dormência. Produtos sintéticos são comumente usados para auxiliar a superação de
dormência, resultando melhor padronização da brotação, floração e conseqüentemente, da
produção. Atualmente, existe uma dependência do uso desses compostos, em vista de seus
benefícios, especialmente em regiões tropicais. Com a intenção de testar produtos alternativos
que induzam a quebra de dormência em videiras, tendo em vista a toxidez dos já existentes no
mercado, foram avaliadas doses diferentes de extrato de alho (Bioalho®, Natural Rural S.A.,
E.A.) e óleo mineral (Assist® 750 mL L-1 óleo mineral, Basf S.A., O.M.), as quais foram
comparadas ao efeito da cianamida hidrogenada (Dormex™, 520 gL-1 H2CN2, Basf S.A., D).
O experimento foi realizado na área experimental da Embrapa Uva e Vinho, Bento
Gonçalves, RS, na safra 2010/2011. Foi utilizado um vinhedo de Vitis vinifera cv. Cabernet
Sauvignon, com plantas de 10 anos, enxertadas sob porta-enxerto Paulsen 1103 e cultivadas
no sistema de condução Latada (2,5 x 1,5 m). Foi realizada poda mista deixando-se 4 varas
por planta, com 7 a 8 gemas por vara. O delineamento experimental foi o de blocos
inteiramente casualizados, utilizando 4 fileiras de plantas, sendo cada fileira dividida em 2
blocos. Foram consideradas 5 plantas por bloco, num total de 40 plantas por tratamento. Os
tratamentos utilizados foram: T1, água (testemunha); T2, D 2,5% i.a.; T3, E.A. 5% + O.M.
2%; T4, E.A. 10% + O.M. 2%; T5, E.A. 10%. As varas foram tratadas em 09/09/2010, com
auxílio de uma esponja umedecida e o acompanhamento da brotação foi realizado 3 vezes por
semana entre os dias 15/09 e 20/10/2010. Apenas as gemas com ponta verde foram
consideradas como brotação. Os tratamentos T3 e T4 apresentaram uma porcentagem de
gemas brotadas superior a da testemunha, T1, porém não se distanciaram muito dos
tratamentos T2 e T5. Ocorreu uma antecipação na brotação do T2 em relação ao T1, que por
sua vez também se antecipou em relação ao T3, T4 e T5.
7
ABSTRACT
The vine is a plant of temperate climate, with dependent physiology of dormancy
breaking. Synthetic products are commonly used to help overcome dormancy, resulting in
better standardization of budding, flowering, and consequently, of the production. Actually,
there is a dependence on the use of these compounds, in view of its benefits, especially in
tropical regions. The aim of this study was to evaluate alternative products to induce
dormancy breaking in grapevines, in view of the toxicity of the existing in the market. Thus,
we used different doses of garlic extract (Bioalho®, Natural Rural S.A., E.A.) and mineral oil
(Assist® 750 mL L-1 óleo mineral, Basf S.A., O.M.) which were compared to the effect of
hydrogen cyanamide (Dormex™, 520 gL-1 H2CN2, Basf S.A., D). The experiment was
conducted at the Embrapa Uva e Vinho Bento Gonçalves, RS in the 2010/2011 vintage. The
vineyard of Vitis vinifera cv. Cabernet Sauvingnon, with 10 years-old plants, grafted on
Paulsen 1103 rootstock and cultivated in trellis training systems (2.5 x 1.5 m) was subjected
to mixed pruning leaving 4 rods per plant, with 7 to 8 buds per stick. The experimental
design was in randomized blocks, using 4 rows of plants. Each row was divided into two
blocks containing five plants, for a total of 40 plants per treatment. The treatments were: T1,
water (control), T2, D 2.5%, T3, EA 5% + OM 2%, T4, EA 10% + O.M. 2%, T5, EA.
10%. The rods were treated at 09/09/2010, with the help of a damp sponge. The budding was
followed three times a week between days 15/09 and 20/10/2010. The budding was assessed
only by buds with green tip. The T3 and T4 treatments showed a higher percentage of
budding than control, T1, but were similar to T2 and T5 treatments. The budding occurred
earlier in T2 than T1, which in turn was also earlier than T3, T4 and T5.
8
1. INTRODUÇÃO
A videira pertence à família Vitacea, gênero Vitis, e é umas das culturas mais antigas
da civilização (Queiroz-Voltan & Pires, 2003). No Brasil ela é cultivada principalmente no
Rio Grande do Sul, onde é responsável pela metade da produção nacional de uvas (Brito,
2006).
As fruteiras de clima temperado caracterizam-se pela queda das folhas no final do
ciclo vegetativo e entrada em dormência no inverno, fenômeno fisiológico regido por vários
processos bioquímicos e enzimáticos e, dependente de substâncias de reserva da planta, o que
permite a sua sobrevivência em condições de baixas temperaturas. Para que essas plantas
iniciem um novo ciclo na primavera, é necessária a sua exposição a um período de frio,
variável para cada espécie e cultivar (Petri et al., 1996).
A brotação irregular de videiras, principalmente em regiões com invernos amenos,
pode tornar-se um fator limitante na produção comercial de uvas. De maneira geral, um
período de frio é necessário para superar o estado de dormência e promover a brotação
uniforme das gemas (Lavee & May, 1997).
Contudo, existem práticas de manejo que podem favorecer a brotação e viabilizar o
ajuste de uma cultivar a uma realidade de clima. Entre essas práticas temos o manejo hídrico,
a incisão anelar, o arqueamento de ramos e o uso de produtos químicos que atuam como
reguladores de crescimento (Leão, 2001).
A utilização de reguladores de crescimento é praticada há muitos anos na viticultura,
sendo a cianamida hidrogenada (H2CN2) um dos produtos mais utilizados. Esse produto tem
proporcionado a garantia de brotação uniforme e produção em condições de clima tropical
(Reddy & Shikhamany,1989; Pires, 1998) e de invernos irregulares em regiões mais frias
(Miele, 1991). Com o objetivo de manter a saúde do produtor e controlar os impactos
ambientais possivelmente causados pelo uso da cianamida hidrogenada, apesar da sua
eficácia, a sua utilização vem sendo contestada, tendo em vista a classe de toxidez a qual se
enquadra (Classe I – altamente tóxico). Produtores de uvas que buscam a certificação
orgânica e querem exportar o produto tem como fator limitante a alta toxicidade da
cianamida. O problema mais grave ainda é onde o uso deste produto se torna fundamental
para o desenvolvimento da viticultura, como nas regiões tropicais.
Diante desta situação, tem-se observado uma busca constante nos últimos anos por um
novo produto que apresente a mesma eficácia da cianamida hidrogenada, porém sem danos à
9
saúde do produtor bem como ao meio ambiente. Em razão disso cresceu o número de
pesquisas relativas ao tema, tendo como foco dos experimentos a calda sulfocálcica, o óleo
mineral e o extrato de alho. No intuito de buscar substâncias alternativas com menor impacto
ambiental, o extrato de alho apresenta resultados promissores na quebra da dormência de
fruteiras de clima temperado (Botelho & Müller, 2007).
Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes doses
de extrato de alho na superação da dormência de Cabernet Sauvignon (Vitis vinifera L.), na
região de Bento Gonçalves – RS.
10
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Ecofisiologia da videira e fatores envolvidos na dormência
A dormência é conhecida pelo período no ciclo de vida de um organismo no qual o
desenvolvimento é temporariamente suspenso, é um fenômeno de ordem biológica que pode
ocorrer em diferentes tecidos e órgãos vegetais, e principalmente em espécies de clima
temperado. Ela minimiza o gasto energético, por reduzir a atividade metabólica, e pode
auxiliar um organismo a conservar energia.
Pires & Pommer (2003) consideram como principal hormônio envolvido no processo
de dormência o ácido abscísico (ABA), presente nas folhas, principalmente quando ocorrem
as primeiras reduções de temperatura no outono. Antes da síntese do fito-hormônio ABA
(ácido abscísico), carboidratos e outras substâncias orgânicas e minerais migram do limbo e
do pecíolo para ramos de um ano de idade, troncos e raízes, onde são armazenadas na forma
de amido e macromoléculas necessárias para o período de repouso hibernal (Pires e Pommer,
2003).
Segundo Lang et al. (1987), a dormência de gemas pode ser classificada em três tipos:
paradormência, endodormência e ecodormência. A endodormência ocorre somente em regiões
de ocorrência de frio, nos meses de inverno, caracterizada pela paralisação do
desenvolvimento da gema em função de eventos bioquímicos e fisiológicos que acontecem
nas gemas. A paradormência ocorre durante o ciclo de vegetação/produção da planta e é
resultante da influência de outro(s) órgão(s) vegetal(is) sobre a gema, sendo mais conhecida
como “dominância apical”. Por fim, a ecodormência ocorre após o período de inverno quando
as gemas já superaram a endodormência e corresponde a limitação de brotação quando as
condições de temperatura ou disponibilidade hídrica não estão favoráveis.
O estado de endodormência é atingido quando a videira, da mesma forma em outras
frutíferas de clima temperado, ao final do ciclo vegetativo, perde as suas folhas. Determinado
comportamento fisiológico é necessário para que as plantas iniciem um novo ciclo na
primavera (Petri et al., 1996), e desta forma sobrevivam em condições de baixas temperaturas.
Em condições tropicais as videiras não acionam a endodormência pela ausência de frio,
portanto, ocorrem somente a paradormência (com predomínio de brotações apicais e
crescimento vegetativo contínuo) e a ecodormência (coordenada pela disponibilidade hídrica).
11
Nas regiões áridas e quentes do Vale do Rio São Francisco, devido à falta de frio, a videira
nunca entra em dormência verdadeira, sendo a queda de suas folhas forçada pela supressão da
água de irrigação e/ou aplicação de fito-hormônios. Para que a videira rebrote é preciso
aplicar tratamentos químicos às gemas, para que ocorra a quebra de dormência e o reinício do
suprimento de água (Giovaninni & Manfroi, 2008).
Em regiões frias onde ocorre a endodormência, é necessário que a videira seja exposta
a baixas temperaturas (T ≤ 7,2ºC), para que supere esse processo de dormência e inicie a
brotação. A intensidade e a regularidade do frio hibernal são de extrema importância, pois
flutuações de temperaturas elevadas durante o período de inverno prejudicam a uniformidade
de brotação na primavera, limitando o potencial de produção. Essa situação desfavorável pode
tornar-se mais intensa se considerarmos as projeções de aquecimento global (Lima et al.,
2001). De modo geral, as videiras necessitam de 50 a 400 horas de frio (T ≤ 7,2ºC),
dependendo da cultivar (Dokoozlian, 1999), para atingir a máxima capacidade de brotação.
Além disso, as respostas às baixas temperaturas são variadas de acordo com a sanidade, a
nutrição e a idade das gemas e influenciam no crescimento e na sobrevivência das plantas
(Zanette et al., 2000).
O crescimento vegetativo da videira tende a ser contínuo e predominantemente nas
gemas distais, resultando em plantas com grande dominância apical e com diferentes estágios
de desenvolvimento ao longo do ano. Esse crescimento apical é típico da paradormência, o
qual limita o número total de gemas brotadas por planta (Schenato et al., 2007), afetando
diretamente a produtividade. Diante dos efeitos da endodormência e paradormência sobre a
videira, a viabilização dos cultivos depende inicialmente da adoção de cultivares mais
adaptadas às condições de cada local de cultivo.
A ausência de frio no inverno produz efeitos adversos na videira, tais como o atraso na
brotação das gemas, diminuição de ramos por planta e da produtividade, pouca uniformidade
e desenvolvimento dos ramos e atraso na maturação das bagas (Petri, 2003), promovendo uma
perda significativa na qualidade da fruta e conseqüentemente o seu valor comercial.
O crescimento vegetativo, e o ciclo vital da planta, são algumas situações em que
temperatura influencia diretamente, possibilitando assim a obtenção de duas safras por ano,
onde é feito um manejo com indutores de supressão de dormência, já que essa fase é
fundamental para a produção.
12
2.1.1 Ácido Abscísico (ABA)
O ácido abscísico (ABA) é um ácido fraco, sintetizado por vegetais superiores, algas e
fungos que, na grande maioria dos casos, retarda o crescimento e desenvolvimento das
plantas. As maiores concentrações de ABA têm sido encontradas nas folhas, gemas, frutas e
sementes, porém pode ser encontrado em todas as partes das plantas. A concentração de ABA
pode ser aumentada em condições de estresse, causado por falta de água, baixas temperaturas,
ataque severo de pragas e doenças, entre outros. O transporte se dá via floema e xilema e a
inativação pode ocorrer devido a uma ligação com glicose ou através da oxidação.
As principais respostas fisiológicas do ABA estão relacionadas com o fenômeno da
dormência, quer seja de sementes ou de gemas. O ácido abscísico também está relacionado
com a adaptação ao estresse, controle estomático, abscisão e senescência de folhas, flores e
frutas.
O ácido abscísico também atua no mecanismo estomático. Quando as folhas
apresentam uma perda de água da ordem de 10% e murcham, ocorre um aumento rápido de
ABA, de cerca de 40 vezes, que promove o fechamento dos estômatos. Esse efeito também
ocorre com a aplicação exógena de ABA.
2.2 Quebra de dormência da videira
A quebra de dormência é controlada por diversos fatores, entre os quais se destacam os
ambientais como água, luz e pressão do oxigênio e, a ação de alguns compostos químicos
(Amberger, 1984).
Em regiões onde a dormência não é superada pelo frio do inverno, sendo esse muito
curto ou com baixa intensidade de frio, ou as cultivares empregadas tenham uma necessidade
muito grande de horas de frio, há a necessidade de emprego de produtos químicos para a
quebra de dormência (Giovannini & Manfroi, 2009). Essa técnica visa à antecipação da
brotação e um aumento na brotação.
Em geral, o aumento na porcentagem de gemas brotadas conduz a uma maior
produtividade e melhor formação de ramos, que ficarão para a poda do ano seguinte.
Entretanto, esses benefícios são acompanhados por diminuição da graduação em açúcar e, as
vezes, da coloração da uva (Cartabellotta et al., 1994).
13
Há fortes evidências de que um dos principais mecanismos envolvidos na quebra de
dormência de plantas frutíferas de clima temperado esteja relacionado à indução pelo estresse
oxidativo (Pinto et al., 2007). De acordo com Pinto et al. (2007), o H2O2 funcionaria como um
sinal químico, ativando diretamente a expressão de genes ou, indiretamente, provocando
alterações metabólicas que são detectadas por outras moléculas, como, por exemplo, quinases,
que ativariam ou reprimiriam a expressão de genes responsáveis pela saída da dormência.
Segundo Pérez & Lira (2005), tanto a aplicação de cianamida hidrogenada como a exposição
ao frio inibiram a atividade de catalase, a principal enzima responsável pela degradação do
peróxido de hidrogênio (H2O2) na gema de videiras.
Muitos compostos químicos como dinitro-orto-cresol, tioureia, nitrato de potássio,
nitrato de cálcio, ácido giberélico e cinetina são citados como efetivos na quebra de
dormência, mas a videira responde bem a compostos que contenham cianamida (Pires, 1998).
2.2.1 Incisão anelar
A incisão anelar é uma técnica de manejo que pode promover, de acordo com a época
realizada, uma superação de dormência mais satisfatória, pois possibilita um maior
direcionamento de carboidratos a gema dormente. Consiste na remoção de um anel completo
da casca, de 3,5 mm a 6,5 mm de largura, de ramos da videira. O ferimento deve interromper
somente os vasos que conduzem a seiva elaborada (a casca e o líber). Portanto, as partes que
ficarem acima da incisão receberão os carboidratos sintetizados nas folhas, ficando
supernutridos. Essa nutrição em excesso persistirá enquanto não ocorrer a cicatrização do
ferimento. Posteriormente, como a recomposição dos tecidos não fica igual ao que era antes
da incisão, continuará havendo um pequeno excesso nutricional na região acima do
anelamento.
A prática da incisão anelar é aplicada com diversas finalidades e deve ser feita com
instrumentos apropriados, que são chamados incisores, sendo em forma de tesoura de poda ou
canivete, provido de duas lâminas de corte paralelas, distanciadas na medida em que se deseja
a espessura do anel a ser retirado (Leão & Maia, 1998).
O anelamento é praticado nos países produtores de uva de mesa, sendo pouco
empregado no Brasil. Deverá ser mais bem estudado em condições locais, pois tem o
inconveniente de causar estresse nas partes da videira que ficam abaixo dos cortes. Estas
partes ficarão, temporariamente, privadas da normal nutrição. Em condições tropicais onde o
14
metabolismo é intenso, a incisão não deverá ser praticada em ciclos consecutivos nas mesmas
plantas (Leão & Maia, 1998).
2.2.2 Arqueamento de ramos da videira
A prática de torção de ramos é comum entre os produtores de uva, especialmente em
condições tropicais, para induzir quebra de dormência das gemas. Entretanto, o seu emprego
poderá facilitar a entrada de patógenos pelas aberturas que são feitas nos ramos seccionados
(Tavares et al., 2000). Consiste em se forçar as varas de produção, por meio de torção feita
com as mãos, antes da amarração no aramado. Esta prática tem por objetivo aumentar a
brotação das gemas (Giovannini & Manfroi, 2009)
2.2.3 Manejo hídrico
Tanto a deficiência como o excesso hídrico afetam de maneira marcante o
comportamento dos estádios fenológicos da cultura da videira.
Teixeira & Azevedo (1996) constataram que, para uma boa produtividade da cultura
da videira, é recomendável que o desenvolvimento vegetativo da planta ocorra sob condições
de déficit hídrico e que as necessidades hídricas de cada fase fenológica sejam satisfeitas
através da irrigação, no entanto, a escolha do sistema de irrigação depende de uma série de
fatores técnicos, econômicos e culturais, mas o gotejamento e a microaspersão se destacam
por suas vantagens.
De acordo com Winkler et al. (1974) para parreirais californianos, o consumo hídrico
da videira durante todo o seu ciclo varia de 405 a 1370 mm, enquanto Doorenbos & Kassam
(1979) afirmaram que, de maneira geral, as necessidades hídricas variam de 500 a 1200 mm,
dependendo do clima, do solo, da variedade e do manejo cultural.
Nas regiões tropicais o crescimento vegetativo da videira é contínuo, resultando em
plantas de diversos estádios de desenvolvimento ao longo do ano. Isto ocorre porque o
repouso não é estimulado pelas temperaturas baixas, sendo este, necessariamente, induzido
por déficit hídrico ou por tratamentos com reguladores de crescimento para facilitar a
condução e manejo das plantas.
15
Além de interferir em outros processos fisiológicos como crescimento e dormência, o
ABA atua como regulador do balanço hídrico das plantas sob estresse, induzindo ao
fechamento dos estômatos e mantendo a absorção de água pelas raízes (Taiz e Zeiger ,1991).
2.2.4 Cianamida Hidrogenada
A cianamida hidrogenada (H2CN2) é um regulador vegetal que serve para romper a
dormência das gemas de várias espécies de plantas decíduas como maçã, amêndoa, figo, uva,
pêssego, caqui e ameixa. O produto leva a uma brotação precoce e mais uniforme,
aumentando a porcentagem total de gemas brotadas (Shulman et al., 1986). A cianamida
hidrogenada não é um composto químico novo. É conhecido há muito tempo por ser uma das
fases da decomposição no solo do fertilizante nitrogenado calciocianamida (Bonnaire &
Rieder, 1985).
O método mais difundido para a superação de dormência é a aplicação de cianamida
hidrogenada H2CN2, comercialmente denominada de Dormex™, que é uma solução aquosa
estabilizada em 52% de ingrediente ativo, classificada como extremamente tóxico, (Classe I).
Cianamida hidrogenada pode ser letal às plantas em altas concentrações ou quando
aplicada em estádio fisiológico inadequado. Além disso, tanto a espécie e o cultivar
(genótipo), como o estado nutricional, modo de aplicação e as condições climáticas podem
influenciar no sucesso do uso da cianamida hidrogenada (Miele, 1991). No que diz respeito ao
clima, Lavee et al. (1984) relatam que o grau de resposta à cianamida hidrogenada depende da
interação entre a sensibilidade do cultivar, do estádio fisiológico da gema e das condições
ambientais, principalmente da intensidade de frio a que as plantas são submetidas.
A necessidade de restringir cada vez mais o uso de substâncias sintéticas na condução
dos pomares torna a questão da quebra de dormência química de plantas frutíferas um fator
limitante para a atividade no Brasil (Sanhueza et al., 2003). O que torna este problema ainda
mais alarmante é a alta toxicidade da cianamida hidrogenada, que pode provocar ulcerações
nos olhos, pele e trato respiratório, além de inibir a aldeído desidrogenase, levando à síndrome
de acetaldeído (e.g.; vômito, hiperatividade parassimpática, dispnéia, hipotensão e
desorientação). A Agência de Proteção Ambiental (EPA) classifica o Dormex™ (490g L-1 de
H2CN2) na mais alta categoria de toxicidade (categoria I) devido aos seus efeitos corrosivos
na pele e nos olhos. Este alto risco de intoxicação pela exposição à cianamida hidrogenada
16
levou à suspensão temporária das vendas do produto comercial Dormex™ em 2002, na Itália,
e revisão de sua regulamentação pelas autoridades da União Européia (Settimi et al., 2005).
2.3 Produtos Alternativos
Atualmente existem apenas dois produtos sintéticos registrados no Ministério da
Agricultura para a quebra de dormência, e ambos são tóxicos para os humanos (Sanhueza,
2003), por isso a necessidade de encontrar algum produto menos agressivo é fundamental.
Estudos mostram a eficiência de outros métodos como menor impacto ambiental para
a quebra de dormência. Produtos à base de alho ou de fertilizantes organominerais também
pode ser utilizados para superar a dormência de gemas frutíferas.
O extrato de alho vem sendo testado no Brasil e Japão, e tem apresentando eficiência
na superação da dormência de diversas cultivares de videira, como 'Muscat of Alexandria',
'Pione' e 'Thompson Seedless' (Kubota & Miyamuki, 1992; Kubota et al., 2000) e macieiras,
como 'Royal Gala' (Botelho & Müller, 2007). As substâncias presentes no alho, que
estimulam a superação da dormência em plantas frutíferas são compostos voláteis, contendo
enxofre ligados com grupos alil (CH2CHCH2), particularmente dialil-dissulfito, que é o sulfito
mais abundante no alho, e dimetil dissulfito, os quais correspondem as mesmas substâncias do
aroma do alho, embora os dialis mono, tri e tetra sulfitos possam também estar envolvidos.
Possivelmente, estes compostos atuariam pelo mesmo mecanismo proposto por Pinto et al.
(2007), na quebra de dormência de plantas frutíferas de clima temperado, ou seja, através do
estresse oxidativo, via acúmulo de H2O2 (Kubota et al., 1999). Na quebra de dormência de
gemas de videira, a utilização de produtos a base de alho foram satisfatórias sem causar
fitotoxidade (Botelho, 2007).
O Bioalho® é um produto obtido da extração a frio do extrato de alho por prensagem,
sendo totalmente solúvel em água e adicionado de adjuvantes.
O alho (Allium sativum L.) é utilizado principalmente como planta aromática e
condimentar, porém seus constituintes aditivos conferem-lhe propriedades medicinais
favoráveis a saúde humana e animal, ainda apresentando atividade contra fitopatógenos,
sendo empregado em muitos países como defensivo natural (Souza et al., 2007). Na sua
composição, há mais de 100 compostos biologicamente ativos, principalmente a alicina,
ajoeno, tiosulfinatos e compostos organosulfurados (Ledezma & Apitz-Castro, 2006).
17
No alho está presente o álcool alílico (AA) que, quando oxidado pela enzima álcool
desidrogenase, é convertido em um aldeído tóxico, a acroleína, que destrói a glutationa,
causando um aumento nos níveis de H2O2, o que provoca alterações respiratórias transitórias
que inibem enzimas da glicólise e do ciclo dos ácidos tricarboxílicos (TCA), favorecendo uma
via fermentativa e provocando reorientação do fluxo de carbono até o ciclo das pentoses.
Todas essas alterações metabólicas têm como consequência o aumento nos níveis da relação
adenosina-mono-fosfato (AMP)/ adenosina-tri-fosfato (ATP) intracelular, que induz a
expressão de proteína-quinases do tipo SNF, as quais formam parte do sistema de
transferência do sinal que leva ao término da endolatência das gemas (Gemma, 1995).
O óleo mineral é uma mistura de hidrocarbometos parafínicos, ciclo parafínicos e
aromáticos saturados e insaturados provenientes da destilação do petróleo. É classificado
como pouco perigoso ao meio ambiente (Classe IV). O óleo mineral é utilizado em
espalhantes adesivos, que são surfactantes não iônicos utilizados como adjuvante na aplicação
de produtos agrícolas, pois criam uma barreira de proteção que reduzem as perdas por
hidrólise, fotodegradação, volatilização, deriva e lavagem da parte aérea da planta por águas
pluviais.
A diferença de comportamento entre o óleo vegetal e o mineral, provavelmente, seja
em decorrência de suas composições, uma vez que o mineral é proveniente da destilação do
petróleo, fração mais homogênea, e o vegetal, é composto por um conjunto de diferentes
gorduras, quimicamente distintas, normalmente insaturadas, heterogêneo e mais facilmente
oxidável, o que pode afetar a eficácia do acaricida.
18
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Caracterização da área experimental
O experimento foi realizado no ciclo 2009/2010, em vinhedo situado na área
experimental da Embrapa Uva e Vinho (Figura 1), no município de Bento Gonçalves – RS
(latitude 29°09'44" Sul, longitude 51°31'50" Oeste e altitude de 640 metros).
Figura 1. Imagem aérea do local do experimento. Fonte: Google Maps.
Foi utilizado um vinhedo de Vitis vinifera cv. Cabernet Sauvingnon, com plantas de 10
anos, enxertadas sob porta-enxerto Paulsen 1103 e cultivadas no sistema de condução Latada
(2,5 x 1,5 m). Foi realizada poda mista deixando-se 4 varas por planta, com 7 a 8 gemas por
vara. Varas de produção que apresentaram número de gemas superior a 8, foram submetidas à
remoção das sobressalentes com utilização de um canivete apropriado, visando assim uma
maior homogeneidade nas plantas tratadas.
Os tratos culturais foram os mesmos utilizados normalmente na região, ou seja,
capinas e herbicidas para controle de plantas invasoras, além dos tratos fitossanitários
previamente estabelecidos pelo corpo técnico da Embrapa Uva e Vinho.
19
3.2 Delineamento experimental e tratamentos
O delineamento experimental foi o de blocos inteiramente casualizados, utilizando 4
fileiras de plantas, sendo cada fileira dividida em 2 blocos. Cada tratamento foi aplicado em 5
plantas por bloco, num total de 40 plantas por tratamento (Figura 2).
Figura 2. Croqui da área experimental, sendo que cada célula representa 5 plantas.
Os tratamentos utilizados foram:
T1) Água (testemunha);
T2) Cianamida hidrogenada (Dormex™, 520 gL-1 H2CN2, Basf S.A.) 2,5% i.a.;
T3) Extrato de Alho (Bioalho®, Natural Rural S.A.) 5% + Óleo Mineral (Assist® 750
mL L-1 óleo mineral, Basf S.A.) 2%;
T4) Extrato de Alho (Bioalho®, Natural Rural S.A.) 10% + Óleo Mineral (Assist®
750 mL L-1 óleo mineral, Basf S.A.) 2%;
T5) Extrato de Alho (Bioalho®, Natural Rural S.A.) 10%.
As varas foram tratadas no dia 09/09/2010, com auxílio de uma esponja umedecida
(Figura 3), até um completo molhamento do ramo. Optou-se pela utilização deste tipo de
aplicação em virtude da não ocorrência de deriva, que seria evidenciada num tratamento por
pulverização, fator que implicaria nos demais tratamentos, onde o produto aplicado em uma
determinada planta poderia ser levado através do vento até a planta ao lado de outro
tratamento. Isso explica também a não utilização de plantas de bordadura, já que, não
ocorrendo deriva, não existe influência de um tratamento sobre as plantas adjacentes.
20
Figura 3. Rolo utilizado na aplicação dos tratamentos. Foto: Marcelo Zart.
3.3 Coleta de dados
Este é um trabalho de estudo de observação no qual as gemas brotadas foram contadas
3 vezes por semana.O estádio fenológico de „ponta verde‟ proposto pela IFV (Figura 4) foi
utilizado como padrão de brotação.
A contagem de gemas brotadas sempre foi realizada pela mesma pessoa, evitando
variações. A porcentagem de brotação foi calculada em relação ao número total de gemas por
plantas.
Figura 4. Os estádios fenológicos da videira. Estádio C ou 05 ou 09. Ponta verde. Proposto pela IFV.
21
3.4 Análise Estatística
Os resultados obtidos foram avaliados estatisticamente por Análise de Variância e
submetidos à comparação de médias pelo teste de Tukey (HSD) ao nível de 5 % de
significância (Pimentel Gomes & Garcia, 2002). Os programas estatísticos ASSISTAT (Silva
& Azevedo, 2002) e Microsoft Excel foram utilizados para as análises dos dados.
22
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na avaliação realizada, observou-se que os tratamentos T3 e T4 apresentaram maior
eficiência na quebra de dormência de gemas de videiras cv. Cabernet Sauvignon, atingindo
82,57% e 82,85%, respectivamente, de gemas brotadas aos 39 dias após o tratamento (DAT),
(Tabela 1).
Tabela 1. Porcentagens de brotação nas datas 22/09, 27/09 e 18/10 nas videiras submetidas
aos tratamentos T1, T2, T3, T4, e T5.
Brotação (%)
Tratamento
(22/09)
(27/09)
(18/10)
1
16,35250 a
41,56500 b
70,69500 b
2
16,91875 a
59,19250 a
77,33375 ab
3
6,38125 b
24,11500 c
82,57125 a
4
4,90375 b
13,31375 c
82,85375 a
5
3,77375 b
13,61375 c
76,17375 ab
Letras distintas na mesma coluna indicam diferenças significativas (p ≤ 0,05) pelo teste de Tukey.
*DAT: Dias após o tratamento.
**T1: Água (testemunha); T2: Cianamida hidrogenada 2,5% i.a.; T3: Extrato de Alho 5% + Óleo Mineral 2%;
T4: Extrato de Alho 10% + Óleo Mineral 2%; T5: Extrato de Alho 10%.
Os tratamentos T1 e T2 apresentaram uma porcentagem de gemas brotadas
estatisticamente superior aos tratamentos T3, T4 e T5, no dia 22/09, o que pode indicar
seguramente que o extrato de alho presente nos três últimos tratamentos, independente da
dosagem, 5% ou 10%, e também da presença do óleo mineral, atrasou o início da brotação.
No dia 27/09, os tratamentos T3, T4 e T5, que apresentaram extrato de alho,
continuaram apresentando um menor número de gemas brotadas e não diferiram entre si,
ressaltando novamente o atraso na brotação se comparados à testemunha, T1. A testemunha,
por sua vez apresentou brotação intermediária entre os tratamentos com extrato de alho, e o
tratamento com cianamida hidrogenada, T2, sendo este último o que apresentou o maior
número de gemas brotadas neste momento, caracterizando uma aceleração na superação da
dormência em relação à testemunha e aos demais tratamentos.
Avaliando as porcentagens de brotação do dia 18/10, momento em que as brotações se
estabilizaram, podemos perceber um maior número de gemas brotadas nos tratamentos T3 e
T4, ambos com extrato de alho, em relação ao T1, testemunha, mostrando assim a eficácia dos
tratamentos com extrato de alho associados ao óleo mineral. Além disso, esses tratamentos
23
não diferenciaram significativamente do T2, mostrando a mesma eficácia da cianamida
hidrogenada.
Pode-se concluir também que a presença de 2% de óleo mineral não influiu sobre a
brotação, pois os tratamentos T4 e T5 foram iguais durante todo o período analisado.
Estes resultados foram superiores aqueles encontrados por Botelho et al. (2009), ao
tratar mini-estacas de „Cabernet Sauvignon‟ submetidas a 90 horas de frio (3,5 ± 2,5°C), com
3% de um produto comercial de extrato de alho mais 1% de óleo vegetal. Apenas 3,8% das
gemas brotaram aos 56 dias após o tratamento, e possivelmente o estádio fenológico
influenciou na indução para a saída da dormência, analogamente a necessidade de frio, já que
Botelho (2007) descreveu que esta cultivar exige entre 336 a 504 horas de frio.
O presente trabalho apresentou um melhor resultado de brotação utilizando produtos a
base de alho do que aqueles obtidos por Marodin e Roman (1997), no qual o extrato de alho a
3 e 4% associados ou não com 2% de óleo vegetal antecipou a colheita em 15 dias da
ameixeira cv. Shiro, porém não foi efetivo para estimular a brotação, além de obter queda de
gemas e produção igual à testemunha. Entretanto os autores sugerem doses maiores do extrato
para a quebra de dormência, já que tal cultivar de ameixeira é de difícil brotação natural.
A testemunha, T1, apresentou maior brotação no início do período, mostrando uma
maior precocidade de brotação, se comparada aos tratamentos T3, T4 e T5, porém a diferença
foi menor no final da brotação, especialmente se comparada ao T2 e ao T5. Essa menor
diferença na porcentagem total de brotação de gemas se justifica se analisarmos a tabela 2,
concluindo assim que a quantidade de horas de frio necessárias para a superação de
dormência foi provavelmente atingida, a qual para Dokoozlian (1999) deve ser de 50 a 400
horas de frio (T ≤ 7,2ºC), dependendo da cultivar. Dessa forma, a superação de dormência na
testemunha se deu exclusivamente pelo frio. Caso o inverno apresentasse maior irregularidade
e menor intensidade de frio, a porcentagem total de gemas brotadas no T1, testemunha, seria
ainda menor do que os resultados obtidos no ano do experimento, 2010, ano em que o
somatório de horas de frio se mostrou suficiente para a superação da dormência da videira
Cabernet Sauvignon em Bento Gonçalves.
24
Tabela 2. Médias de temperaturas < 7,2°C e < 10°C no período de 1976 a 2009 e no ano de
2010.
Temperaturas < 7,2°C
Mês
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Total
Média*
(h:min)
5h11min
48h26min
105h20min
124h39min
72h20min
50h02min
408h58min
2010
0h00min
1h40min
62h10min
154h45min
169h30min
0h30min
388h35min
Temperaturas < 10°C
Média*
(h:min)
28h10min
132h32min
230h01min
246h48min
178h50min
137h02min
953h13min
2010
7h00min
71h20min
212h00min
221h35min
284h50min
62h50min
859h35min
Fonte: Embrapa Uva e Vinho.
Na figura 5 observa-se que o T2 atingiu 50% da brotação próximo ao dia 26/09,
enquanto que os tratamentos T4 e T5 atingiram esse mesmo nível de brotação próximo ao dia
04/10. Isto significa um atraso de aproximadamente 8 dias para atingir o mesmo nível de
brotação. Dessa forma conclui-se que o T2 pode ser mais suscetível a geadas, e
consequentemente a uma quebra de produção, já que as maiores freqüências de geadas no Rio
grande do Sul são observadas nos municípios de Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Vacaria e
São Francisco de Paula, com número de ocorrência superior a 25 geadas por ano, devido à
altitude em que se encontram (Mota et al., 1971),.
Uma consideração importante é que o T2 atingiu seu ponto máximo de gemas brotadas
próximo ao dia 06/10, estabilizando-se muito antes que os demais tratamentos, já que o T4 só
atingiu sua estabilidade no dia 18/10.
T1
T2
T3
T4
T5
15/0
9
17/0
9
20/0
9
22/0
9
24/0
9
27/0
9
29/0
9
01/1
0
04/1
0
06/1
0
08/1
0
11/1
0
13/1
0
15/1
0
18/1
0
20/1
0
% Brotação
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Figura 5. Médias das porcentagens de brotação durante todo o período estudado.
25
Através das análises visuais das brotações (Figura 6, 7 e 8) também pôde-se observar a
maior uniformidade de brotação no T2 (Figura 8) e T3 (Figura 7), e a brotação de forma mais
irregular no testemunha (Figura 6).
Figura 6. Imagem de vara de produção do T1, em 20/10/10. Foto Marcelo Zart.
Figura 7. Imagem de vara de produção do T3 em 20/10/2010. Foto: Marcelo Zart.
26
Figura 8. Imagem de vara de produção do T2 em 20/10/10. Foto Marcelo Zart.
O trabalho demonstra um grande potencial para o uso do extrato de alho para a quebra
de dormência de Cabernet Sauvignon em Bento Gonçalves – RS. No entanto, novos estudos
devem ser realizados com outras doses de óleo vegetal, pois o efeito do alho na quebra de
dormência pode ser favorecido quando associado a algum adjuvante. Outro fator importante
que deve ser levado em consideração é a composição química das diferentes cultivares de
alho, já que segundo Benkeblia (2005) os níveis de fenóis entre as espécies do gênero Allium
varia consideravelmente. Esse autor enfatiza que entre tais espécies observa-se diferentes
efeitos na atividade de radicais livres, especialmente proveniente do H2O2.
27
5. CONCLUSÕES
O extrato de alho associado ou não ao óleo mineral foi eficaz para a superação de
dormência de videira cv. Cabernet Sauvignon em Bento Gonçalves – RS.
As videiras tratadas com extrato de alho (Bioalho®) a 5% e 10% associado a 2% de
óleo mineral (Assist®) apresentaram uma porcentagem de gemas brotadas superior a da
testemunha.
A presença do óleo mineral não influenciou no início da brotação e nem no número
total de gemas brotadas.
Os tratamentos com extrato de alho atrasaram a brotação se comparados com a
testemunha e com o tratamento com cianamida hidrogenada.
28
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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