PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ ESCOLA POLITÉCNICA ENGENHARIA ELÉTRICA - TELECOMUNICAÇÕES CAIO MARCELO DE MIRANDA DIDIER KAZADI MPOLESHA ENLACES RESSONANTES MAGNETICAMENTE ACOPLADOS PARA FINS DE TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA CURITIBA 2014 2 CAIO MARCELO DE MIRANDA DIDIER KAZADI MPOLESHA ENLACES RESSONANTES MAGNETICAMENTE ACOPLADOS PARA FINS DE TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA Trabalho de Conclusão de Curso Engenharia Elétrica – Telecomunicações apresentado ao departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Orientador: Prof. Dr. Munir Antonio Gariba CURITIBA 2014 3 CAIO MARCELO DE MIRANDA DIDIER KAZADI MPOLESHA ENLACES RESSONANTES MAGNETICAMENTE ACOPLADOS PARA FINS DE TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA Trabalho de Conclusão de Curso Engenharia Elétrica – Telecomunicações apresentado ao departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Engenheiro Eletricista. COMISSÃO EXAMINADORA _____________________________________ _____________________________________ _____________________________________ Curitiba, ____ de ________ de 2014. 4 RESUMO Atualmente muita atenção acadêmica e industrial vem sendo dada a transmissão de energia sem fio via enlaces ressonantes magneticamente acoplados. Com esta técnica pode-se alcançar médias distâncias em enlaces que devido as características magnéticas sofrem pouca interferência de objetos externos, sendo bastante interessantes, portanto, para aplicações em ambientes fechados de escritórios, residências e fábricas. Neste trabalho mostra-se uma revisão desta técnica baseada em artigos da literatura. São realizados ensaios e simulações para comprovar a teoria apresentada discutindo a eficiência e transferência relativa de potência. Por fim são realizados experimentos aonde foi acesa uma lâmpada de 25 Watts, sendo as eficiências de transmissão discutidas. Palavras-chave— Ressonância; Transferência de Energia sem Fio; Bobina; Acoplamento Magnético; Enlace; 5 ABSTRACT Currently quite academic and industrial attention have been given to power transmission via wireless resonant links magnetically coupled. With this technique it is possible to achieve medium distances on links that due to the magnetic characteristics have little interference from external objects, and is therefore very interesting for applications in closed environments of offices, residences and factories. In this work it is shown a review about this technique based on published articles. Tests and Simulations are done to prove the presented theory, discussing the relative efficiency and relative power transfer. Finally, experiments where a 25 Watts light bulb was lighted are shown, being the efficiency and relative power transfer discussed. Key-words— Resonance, Coil, Magnetic Coupling, Link, Wireless Energy Transfer; 6 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Esquema utilizado .....................................................................................13 Figura 2 - Grupo MIT .................................................................................................14 Figura 3 - Esquema de transmissão...........................................................................15 Figura 4 - Modelo de transformador...........................................................................16 Figura 5 - Circuito elétrico...... ...................................................................................18 Figura 6 - Circuito equivalente....................................................................................20 Figura 7 - Representação de um sistema de 2 bobinas.............................................22 Figura 8 - Representação de um sistema de 4 bobinas.............................................24 Figura 9 - Níveis de referência para exposição a campos elétricos...........................34 Figura 10 - Níveis de referência para exposição a campos magnéticos....................35 Figura 11 - Coeficiente de acoplamento medido........................................................37 Figura12 - Setup utilizado nos testes.........................................................................38 Figura 13 - Comparação entre eficiência e transferência relativa..............................39 Figura 14 - Efeito de diferentes cargas na transferência relativa de potência......... 40 Figura 15 - Efeito de diferentes cargas na eficiência.................................................40 Figura 16. Comparação entre eficiência e transferência relativa...............................41 Figura 17. Comparação entre eficiência e transferência relativa...............................42 Figura 18. Efeito de diferentes cargas na transferência relativa................................42 Figura 19. Efeito de diferentes cargas na eficiência..................................................43 Figura 20. Sistema completo utilizado nos testes de potência..................................44 Figura 21. Eficiência e transferência relativa de potência simuladas........................45 Figura 22. Bobinas 1 e 2 a 8 cm de distância. Eficiência de 25 %.............................46 Figura 23. Bobinas 1 e 2 a 8 cm de distância. Eficiência de 9 %...............................46 Figura 24. Eficiência e transferência relativa de potência simuladas........................47 Figura 25. Bobinas 1 e 2 a 15 cm, 3 e 4 a 8 cm, e 2 e 3 a 30 cm..............................48 Figura 26. Bobinas 1 e 2 a 15 cm, 3 e 4 a 8 cm, e 2 e 3 a 40 cm..............................49 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7 1.1 OBJETIVOS ......................................................................................................... 8 1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 8 1.2.2 Objetivos Específicos..................................................................................... 8 2 REVISÃO TEÓRICA ............................................................................................... 9 2.1 Enlaces com bobinas autorressonantes ........................................................ 15 2.1.1 Descrição do sistema..................................................................................... 15 2.1.2 Bobina de potência e transmissora .............................................................. 16 2.1.3 Esquema completo (4 bobinas) .................................................................... 19 2.2 Enlaces ressonantes com elementos concentrados (LC) ............................. 21 2.2.1 Sistemas com 2 bobinas................................................................................ 22 2.2.2 Sistemas com 4 bobinas................................................................................ 24 2.3 Trabalhos recentes ........................................................................................... 28 2.4 Normas para exposição a campos .................................................................. 28 2.4.1 Efeitos causados pelos campos ................................................................... 28 2.4.1.1 Mecanismos de acoplamento ..................................................................... 29 2.4.1.2 Acoplamento a campos eletricos de baixa frequência ........................... 29 2.4.1.3 Acoplamento a campos magnéticos de baixa frequência ...................... 29 2.4.1.4 Absorção da energia de campos eletromagnéticos ................................. 30 2.4.2 Limites para exposição ocupacional ............................................................ 31 2.4.3 Níveis de referência........................................................................................ 33 3 RESULTADOS ....................................................................................................... 35 3.1 Sistema com 2 bobinas..................................................................................... 38 3.2 Sistema com 4 bobinas..................................................................................... 40 3.3 Testes com alta potência .................................................................................. 43 3.3.1 Sistema com 2 bobinas.................................................................................. 44 3.3.2 Sistema com 4 bobinas.................................................................................. 46 4 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 49 AGRADECIMENTOS ............................................................................................... 51 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52 8 INTRODUÇÃO A transmissão de energia sem fio, apesar de se tratar de um tema bastante atual, já havia sido idealizada e experimentada por Nikola Tesla no fim do século XIX (TESLA, 1891). Tesla empreendeu esforços gigantescos neste sentido, chegando inclusive a propor um sistema mundial de transmissão de energia sem fio antes que o sistema de distribuição de energia a cabo estivesse totalmente desenvolvido (TESLA, 1900). Dentre alguns feitos notáveis com esta técnica, Tesla chegou a acender várias lâmpadas a grandes distâncias, bem como a acionar motores, e ainda afirmou ter transmitido correntes para o outro lado do globo utilizando a terra como condutor (TESLA, 1900). Apesar de teoricamente o sistema de Tesla ser bastante promissor, este não foi levado a diante na época, e o sistema de transmissão de energia cabeado se desenvolveu ao ponto de atualmente atender grande parte da população mundial. Neste sentido, a transmissão de energia sem fio em larga escala, à grandes distâncias, em princípio não se faz necessária nos dias de hoje. Atualmente pode-se considerar como grande desafio a transmissão de energia à médias e curtas distâncias, visando carregar dispositivos eletrônicos em residências, estações de trabalho e fábricas. Sendo assim, a utilização de links ressonantes magneticamente acoplados apresenta-se como uma promissora solução. Estes links ressonantes quando comparados aos métodos de indução tradicionais, possuem a vantagem de aumentar consideravelmente o alcance do link, isto é, algumas vezes a dimensão das bobinas envolvidas. 9 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo Geral Apresentar a técnica da transmissão de energia sem fio via enlaces ressonantes magneticamente acoplados, e realizar a transferência de energia a uma carga avaliando a eficiência e transferência relativa de potência. 1.1.2 Objetivos Específicos a) realizar uma revisão dos principais conceitos que envolvem a técnica; b) equacionar o enlace ressonante; c) realizar e avaliar a transferência de potência e eficiência; d) realizar simulações para comparação. 10 2 REVISÃO TEÓRICA O conceito de que dois objetos que possuem a mesma frequência de ressonância natural, quando oscilando nesta frequência, tendem a trocar energia entre si de maneira mais eficiente do que quando vibrando em outra frequência, é intuitivo em primeiro momento. Também não é novidade de que este tipo de acoplamento ressonante é extensivamente utilizado para alimentação de sensores biomédicos passivos (KO; LIANG; FUNG, 1977) e em RFID’s. Porém, um grande destaque foi dado a esta técnica com o intuito de transferir energia sem fio quando em 2007 um grupo do MIT publicou alguns artigos formalizando matematicamente e fisicamente este conceito e provando as suas vantagens (KURS et. al., 2007). Os autores também conseguiram acender uma lâmpada de 60 W com eficiência de 15% a 2 metros de distância (as bobinas utilizados possuíam 60 cm de diâmetro). Deste trabalho nasceu uma empresa denominada Witricity com fins de desenvolver aplicações industriais utilizando a técnica proposta (WITRICITY, 2014). Deve-se enfatizar que, diferentemente do sistema proposto por Nikola Tesla onde grandes intensidades de campos elétricos estavam envolvidas (e grandes distâncias eram alcançadas), a técnica aqui estudada utiliza apenas o acoplamento magnético no chamado campo próximo aos objetos, o quê é mais apropriado para aplicações em fábricas, escritórios e residências. O enfoque aqui é dado à transferência de energia entre duas bobinas com núcleo de ar, já que este é o tipo de enlace mais comumente utilizado na prática. Estas devem possuir dimensões apropriadas para quê trabalhem no regime de elementos concentrados (“lumped”) onde as dimensões da bobina são muito menores do quê o comprimento de onda (λ). Nestas situações a bobina pode ser modelada como possuindo uma indutância (L), capacitância (C) e resistência (R) concentradas equivalentes. Trabalhar neste regime evita que parte da energia do enlace seja perdida por irradiação, como ocorre no caso de solenoides relativamente longos onde a corrente não é uniforme ao longo do mesmo, e existem ressonâncias por ondas estacionárias presentes (CORUM; CORUM, 2001). Um capacitor externo 11 conectado em paralelo com a bobina também pode ser utilizado para aumentar o valor da capacitância e baixar a frequência de ressonância (𝑓𝑜 ). A frequência de ressonância (𝑓𝑜 ) das bobinas do enlace, deve-se então à indutância e capacitância equivalentes, sendo dada por 𝑓𝑜 = 1 2𝜋√𝐿𝐶 (1) É importante que as fo’s das bobinas envolvidas sejam iguais ou então muito próximas, visando máxima transferência de energia. Estes circuitos acoplados podem ser descritos pela teoria dos regimes acoplados (HAUS, 1984) sendo esta a abordagem utilizada nas principais referências deste trabalho (KURS et. al., 2007) e (KARALIS; JOANNOPOULOS; SOLJAČIĆ, 2007). Nesta teoria, define-se como figura de mérito (fdm) de toda a análise a relação, 𝑓𝑑𝑚 = к √Г1 Г2 (2) onde к é a taxa de acoplamento, Г1 e Г2 representam as perdas na bobina 1 e 2, respectivamente. A taxa de acoplamento pode ser interpretada como uma medida de quão rápido as bobinas trocam energia, sendo dada por, к= 𝜔𝑀 2√𝐿1 𝐿2 (3) onde ω é a frequência angular, M é a indutância mútua, L1 é a indutância da bobina 1 e L2 a indutância da bobina 2. Reconhece-se o termo M/√(L1L2 ) como o coeficiente de acoplamento k da teoria de circuitos. As perdas, representadas por Г, devem-se a perdas ôhmicas (absorção) e por irradiação e representam o quão rápido a energia é perdida. As perdas ôhmicas ocorrem principalmente nos enrolamentos das bobinas, bem como em objetos estranhos próximos ao enlace. As perdas por irradiação podem ocorrer devido à irradiação individual nas bobinas, bem como à energia que pode ser espalhada por objetos estranhos próximos ao enlace. Visto que a energia perdida é determinante na eficiência da transferência de energia (equação 2), o fator de qualidade, ou fator de mérito das bobinas (𝑄) é um parâmetro de grande importância no projeto. O fator de qualidade é definido como a relação 𝑄= ou ainda 2𝜋(𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑎𝑟𝑚𝑎𝑧𝑒𝑛𝑎𝑑𝑎) 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑖𝑑𝑎 𝑝𝑜𝑟 𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 (4) 12 𝑄= 𝜔𝑜 (𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 𝑎𝑟𝑚𝑎𝑧𝑒𝑛𝑎𝑑𝑎) 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎 𝑚é𝑑𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑝𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 = 𝜔𝑜 𝑈 𝑊 (5) onde ωo é a frequência angular na ressonância. As perdas podem ser expressas por (RAMO; WHINNERY; DUZER, 1965) Г= 𝑊 (6) 2𝑈 Desta maneira 𝑄 também pode ser expresso como, 𝑓𝑑𝑚 = к √Г1 Г2 (7) Portanto, um alto valor de 𝑄 indica baixa perda de energia, e consequentemente maior é a figura de mérito da análise definida na equação (2). Nota-se, portanto, que existe uma relação de compromisso com a escolha da frequência de operação, uma vez que da equação (3) uma maior frequência acarreta maior taxa de acoplamento, por outro lado, altas frequências acarretam em irradiação de energia na forma de ondas eletromagnéticas, além do aumento do efeito pelicular, o quê acarreta em um aumento das perdas. Neste sentido segue a afirmação feita em (KARALIS; JOANNOPOULOS; SOLJAČIĆ, 2007): “Ao ajustar a capacitância e portanto a frequência de ressonância, o 𝑄 total se torna máximo para certa frequência ótima determinada pelos parâmetros do enrolamento: em baixas frequências é dominado por perdas ôhmicas e em altas frequências por irradiação.” Desta maneira, considerando que as principais perdas ocorrem nas bobinas (o quê é geralmente verdade), pode-se definir um 𝑄𝑜ℎ𝑚 devido a perdas ôhmicas e um 𝑄𝑖𝑟𝑟 devido a irradiação como sendo (KARALIS; JOANNOPOULOS; SOLJAČIĆ, 2007), 𝑄𝑜ℎ𝑚 = 𝑄𝑖𝑟𝑟 = 𝜔𝐿 𝑅𝑜ℎ𝑚 𝜔𝐿 𝑅𝑖𝑟𝑟 (8) (9) onde 𝑅𝑜ℎ𝑚 e 𝑅𝑖𝑟𝑟 são as resistências ôhmicas e de irradiação, respectivamente (pode-se demonstrar que as equações (8) e (9) derivam da equação (4) (RAMO; WHINNERY; DUZER, 1965). Nota-se novamente quê esta análise trata de uma aplicação em campo próximo, já que em campos distantes e em antenas é desejável uma grande resistência de irradiação e consequente maior largura de banda para tornar a antena eficiente. Tendo em vista aumentar a 𝑓𝑑𝑚 da análise, uma estratégia pode ser a de aumentar o valor de L ou C. Desta maneira aumenta-se a energia armazenada na 13 indutância ou na capacitância. Sabe-se que na ressonância a energia armazenada no circuito é a energia máxima armazenada na capacitância, ou a energia máxima armazenada na indutância, já que a energia é armazenada no campo magnético e no campo elétrico oscilando de um ao outro periodicamente. Isto é, em condições de ressonância, a energia armazenada na indutância ou na capacitância são iguais (RAMO; WHINNERY; DUZER, 1965). Sendo assim, maximizando L ou C implica no aumento da energia armazenada no circuito como um todo, e por fim aumenta-se 𝑄. Portanto, isto pode indicar que maximizar um parâmetro ou outro, e não ambos simultaneamente, é preferível já que o aumento da energia armazenada no circuito em ressonância é igual àquela armazenada individualmente em L ou C. Considerando que as perdas são funções das dimensões dos componentes, ao aumentar o valor dos dois parâmetros, teoricamente aumenta-se também as perdas em ambos os componentes. O alcance dos enlaces aqui tratados são considerados de médias distâncias, isto é, algumas vezes a dimensão característica da bobina (geralmente o raio ou o comprimento longitudinal). A figura de mérito têm um papel importante no alcance do enlace; quando esta é maximizada, consegue-se transmitir a energia a maiores distâncias de maneira eficiente. O alcance ou extensão do campo próximo é geralmente determinado por λ, isto é, maiores comprimentos de onda resultam em maior alcance, porém não necessariamente indicam mais eficiência, como foi mencionado no caso da escolha de uma frequência ótima de operação. Para aplicações reais, uma estratégia pode ser a de aumentar as dimensões da bobina primária (fonte) mantendo as dimensões da bobina secundária (acoplada a um dispositivo móvel por exemplo) fixas, desta maneira não se limita o alcance do enlace apenas ao comprimento de onda. Neste caso, considera-se que a bobina primária é estacionária, e possui menos restrições em relação a sua dimensão, enquanto que a bobina secundária pode ser móvel, e por estar acoplada a um dispositivo possui mais restrições em relação a sua dimensão (KARALIS; JOANNOPOULOS; SOLJAČIĆ, 2007). A influência de objetos estranhos próximos ao enlace ressonante pode resultar em perdas adicionais (absorção, espalhamento, etc.) alterando o Q ou até mesmo reforçar ou cancelar o sinal devido a interferência entre os campos. A influência destes objetos também pode causar um desvio na frequência (ωo+Δω). 14 Este desvio pode ser corrigido usando uma realimentação e alterando o valor de L ou C do conjunto. Uma das vantagens da técnica em análise é de que as perdas por absorção em objetos próximos são bastante minimizadas uma vez que se trabalha com o acoplamento por campo magnético e a maioria dos objetos de uso diário (com µ próximo ao do espaço livre) não reage a este (KARALIS; JOANNOPOULOS; SOLJAČIĆ, 2007). A Figura 1 mostra o ensaio realizado pelo grupo do MIT. Neste ensaio, foi utilizado um oscilador Collpits de alta potência conectado a um loop (1 volta com 25 cm de raio), o qual é indutivamente acoplado à bobina transmissora (L1) que ressona na mesma frequência da bobina receptora (L2). A bobina receptora é também indutivamente acoplada a uma bobina de poucas voltas, a qual é conectada a uma lâmpada de 60 W. As bobinas transmissora e receptora possuem raio de 30 cm, comprimento de 20 cm, fio de cobre de diâmetro 6 mm e 5.25 voltas. Neste experimento os autores não utilizaram um capacitor conectado à bobina e portanto a frequência em que estas ressonam é a frequência de autorressonância, que se deve a capacitância intrínseca da bobina e da sua indutância total. Esta frequência neste teste é de 9,9 MHz. Os autores citam que ao invés de acoplar indutivamente o circuito excitador e a carga, estes poderiam ser conectados por fios às bobinas L1 e L2. Figura 1. Esquema utilizado. A esquerda tem-se o circuito oscilador conectado a uma loop (L1) indutivamente acoplado a bobina transmissora (L2) que por sua vez ressona na mesma frequência de ressonância natural da bobina receptora (L3), esta é acoplada indutivamente a uma bobina de poucas voltas (L4) que conecta-se a uma lâmpada de 60 W. Fonte: (MOFFAT, 2009). 15 Figura 2 – Grupo do MIT posicionado entre o enlace ressonante, mostrando a relativa imunidade do sistema a presença humana. Fonte: (MOFFAT, 2009) 2.1 ENLACES COM BOBINAS AUTORRESSONANTES Cheon et al. (2011) apresentam uma abordagem do esquema de transmissão de energia com bobinas autorressonantes (tal como utilizado pelo grupo MIT), do ponto de vista da teoria de circuitos elétricos, bastante apropriada a esse estudo. A seguir, será mostrado o método utilizado pelos autores. 2.1.1 DESCRIÇÃO DO SISTEMA A Figura 3 apresenta um resumo do esquema de transferência completo, com 4 bobinas. Estas são denominadas bobina de potência, transmissora, receptora e de carga. Entre estas bobinas existem os coeficientes de acoplamento, denominados Kpt, Ktr, Krc, Kpr, Ktc e Kpc (os índices p,t,r,c correspondem as bobinas de potência, transmissora, receptora e de carga, respectivamente). Os coeficientes de 16 acoplamento entre bobinas não adjacentes, ou inter-acoplamentos Kpr, Ktc e Kpc, são desprezados. Figura 3 – Esquema de transmissão com as bobinas de potência, transmissora, receptora e de carga. Kpt, Ktr, Krc, Kpr, Ktc e Kpc são os coeficientes de acoplamento entre estas. Fonte: Modificada de Cheon et al. (2011) Inicialmente é feita uma descrição de um circuito contendo apenas as bobinas de potência e transmissora, tal como em um transformador. 2.1.2 BOBINA DE POTÊNCIA E TRANSMISSORA (TRANSFORMADOR) A Figura 4 mostra o esquema contendo apenas as bobinas de potência e transmissora denominadas 1 e 2, o coeficiente de acoplamento associado, e o circuito elétrico equivalente. Nesta situação o circuito pode ser analisado tal como em um transformador. As equações de um transformador são bem descritas na literatura. A mútua indutância é relacionada ao coeficiente de acoplamento e indutâncias das bobinas. Cada bobina possui uma frequência de ressonância, neste caso diferentes, dadas pela interação entre indutância e capacitância parasita. Um conjunto de equações para descrever o circuito da Figura 2 é dado por, 𝑀12 = 𝑘12 √𝐿1 𝐿2 𝑖1 = 𝑉1 𝑍𝑜 + 𝑗𝜔𝐶1 𝑉1 + 𝑖𝐿1 𝑉1 = 𝑗𝜔𝐿1 𝑖𝐿1 + 𝑗𝜔𝑀12 𝑖𝐿2 0= 𝑉2 𝑍𝑜 + 𝑗𝜔𝐶2 𝑉2 + 𝑖𝐿2 (10) (11) (12) (13) 17 Figura 4 – Modelo de transformador para a bobina de potência (1) e transmissora (2). a) Circuito elétrico equivalente. b) Circuito equivalente com impedância mútua Z1M. Fonte: Modificada de Cheon et al. (2011) 18 𝑉2 = 𝑗𝜔𝐿2 𝑖𝐿2 + 𝑗𝜔𝑀12 𝑖𝐿1 (14) 𝑘12 é o coeficiente de acoplamento, 𝑀12 a indutância mútua e 𝑍𝑜 a impedância característica, geralmente 50 Ω. A impedância de entrada à partir do gerador pode ser calculada das expressões anteriores, 1 = 𝑍𝑖𝑛 𝑖1 𝑉1 − 1 𝑍𝑜 = 𝑗𝜔𝐶1 + 1 𝜔2 𝑀12 2 1 +𝑗𝜔𝐿2 1 +𝑗𝜔𝐶2 𝑍𝑜 (15) + 𝑗𝜔𝐿1 De acordo com (15) o circuito da Figura 4a) pode ser escrito como o da Figura 4b), onde Z1M representa a impedância mútua, e é expressa por, 𝑍1𝑀 = 𝜔2 𝑀12 2 1 +𝑗𝜔𝐿2 1 +𝑗𝜔𝐶2 𝑍𝑜 𝜔2 𝑀12 2 = 𝑍2 = 𝜔2 𝑘12 2 𝐿1 𝐿2 𝑍2 (16) Sendo 𝑍2 a impedância do circuito 2. As características em frequência não são importantes em um transformador já que a frequência de operação é muito mais baixa do quê a frequência de ressonância. Entretanto um esquema de transferência de energia usando enlaces ressonantes magneticamente acoplados opera na frequência de ressonância. Considerando duas bobinas iguais, as frequências de ressonância são as mesmas, isto é, 𝜔0 𝐿1 𝐶1 = 𝜔0 𝐿2 𝐶2 = 𝜔0 𝐿1 𝐶2 (17) A impedância de entrada na frequência de ressonância é 1 𝑍𝑖𝑛 = 𝑗𝜔 0 𝐶1 1 //(𝑗𝜔0 𝐿1 + 𝑍1𝑀 )=𝑗𝜔 𝑍𝑖𝑛 = 0 𝐶1 //[𝑗𝜔0 𝐿1 (1 − 𝑘12 2 ) + 𝑘12 2 𝑍𝑜 ] (18) 1 //[𝑗𝜔0 𝐿1 (1 − 𝑘12 2 ) + 𝑘12 2 𝑍𝑜 ] 𝑗𝜔0 𝐶1 Se a capacitância parasita é desprezível e 𝑘12 , é unitário, pode-se mostrar que 𝑍𝑖𝑛 = 𝑍𝑜 (condição de casamento perfeito) e a eficiência de acoplamento se torna 100%. Entretanto, 𝑘12 cai drasticamente quando a distância entre as bobinas aumenta e 𝑍𝑖𝑛 se distancia de 𝑍𝑜 , a condição de casamento é perdida e a eficiência de acoplamento diminui drasticamente. Esta é a principal razão pela qual a transferência de energia em maiores distâncias é impossível em um transformador e também em esquemas baseados em indução eletromagnética. Esta análise também mostra a fragilidade do esquema para transmissão utilizando duas bobinas na 19 ressonância, já que este se mostra muito sensível ao descasamento de impedância com o aumento da distância. 2.1.3 ESQUEMA COMPLETO (4 BOBINAS) O esquema completo é mostrado na Figura 3. Considerando os interacoplamentos (Kpr, Ktc e Kpc) entre bobinas não adjacentes desprezíveis, tem-se o circuito equivalente da Figura 5 e o seguinte conjunto de equações, Figura 5 – Circuito elétrico equivalente ao da Figura 3. As indutâncias mútuas de uma bobina para a outra são representadas por M com os respectivos sub-índices. Fonte: Modificada de Cheon et.al (2011) 𝑉 𝑖𝑠 = 𝑍𝑠 + 𝑗𝜔𝐶𝑝 𝑉𝑠 + 𝑖1 (19) 𝑉𝑠 = 𝑗𝜔𝐿𝑝 𝑖1 + 𝑗𝜔𝑀𝑝𝑡 𝑖2 (20) 𝑜 𝑖 2 0 = 𝑗𝜔𝐿𝑡 𝑖2 + 𝑗𝜔𝑀𝑝𝑡 𝑖1 + 𝑗𝜔𝑀𝑡𝑟 𝑖3 + 𝑗𝜔𝐶 𝑡 𝑖 3 0 = 𝑗𝜔𝐿𝑟 𝑖3 + 𝑗𝜔𝑀𝑡𝑟 𝑖2 + 𝑗𝜔𝑀𝑟𝑐 𝑖4 + 𝑗𝜔𝐶 𝑟 𝑉 (21) (22) 0 = 𝑍4 + 𝑗𝜔𝐶𝑐 𝑉4 + 𝑖4 (23) 𝑉4 = 𝑗𝜔𝐿𝑐 𝑖4 + 𝑗𝜔𝑀𝑟𝑐 𝑖3 (24) 𝑜 É assumido o caso sem perdas por simplicidade. A impedância de entrada a partir do gerador pode ser obtida como no caso de duas bobinas da seção anterior. Porém calcula-se a impedância mútua sucessivamente a partir da porta de saída, ou seja, a impedância mútua da bobina de carga para a receptora, da receptora para a transmissora e da transmissora para a de potência. 20 A impedância mútua 𝑍𝑅𝑀 refletida na bobina receptora pela bobina de carga é, 𝑍𝑅𝑀 = 𝜔2 𝑀𝑅𝐶 2 1 +𝑗𝜔𝐿𝐶 1 +𝑗𝜔𝐶𝐶 𝑍𝑜 𝜔2 𝑘𝑅𝐶 2 𝐿𝑅 𝐿𝐶 = (25) 𝑍𝐶 onde 𝑍𝐶 é a impedância do circuito de carga (circuito 4). A impedância mútua 𝑍𝑇𝑀 refletida na bobina transmissora pela receptora (e de carga) é, 𝑍𝑇𝑀 = 𝜔2 𝑀𝑇𝑅 2 𝑍𝑅𝑀 + 1 +𝑗𝜔𝐿𝑅 𝑗𝜔𝐶𝑅 = 𝜔2 𝑘𝑇𝑅 2 𝐿𝑇 𝐿𝑅 (26) 𝑍𝑅 onde 𝑍𝑅 é a impedância do circuito receptor (circuito 3). A impedância mútua 𝑍𝑃𝑀 refletida na bobina de potência pela transmissora (e receptora e de carga) é, 𝑍𝑃𝑀 = 𝜔2 𝑀𝑃𝑇 2 1 +𝑗𝜔𝐿𝑇 𝑗𝜔𝐶𝑇 𝑍𝑇𝑀 + = 𝜔2 𝑘𝑃𝑇 2 𝐿𝑃 𝐿𝑇 (27) 𝑍𝑇 onde 𝑍𝑇 é a impedância do circuito transmissor (circuito 2). Substituindo (25) e (26) em (27), 𝑍𝑃𝑀 = 𝜔2 𝑘𝑃𝑇 2 𝐿𝑃 𝐿𝑇 (28) 𝜔2 𝑘𝑇𝑅 2 𝐿𝑇 𝐿𝑅 1 + +𝑗𝜔𝐿𝑇 2 2 𝑗𝜔𝐶 𝜔 𝑘𝑅𝐶 𝐿𝑅 𝐿𝐶 𝑇 1 + +𝑗𝜔𝐿 𝑅 1 +𝑗𝜔𝐶𝐶 +𝑗𝜔𝐿𝐶 𝑗𝜔𝐶𝑅 𝑍𝑜 Como a frequência nas bobinas receptora e transmissora são iguais, temos que 1 1 𝜔0 2 𝐿𝑡 𝐶𝑡 = 𝜔0 2 𝐿𝑅 𝐶𝑅 = 1 e 𝑗𝜔𝐶 + 𝑗𝜔𝐿𝑇 = 𝑗𝜔𝐶𝑅 𝑡 + 𝑗𝜔𝐿𝑅 = 0. Portanto (28) se reduz a, 2 𝑍𝑃𝑀 = 𝑘 𝑘 𝜔0 2 ( 𝑃𝑇 𝑅𝐶 ) 𝐿𝑃 𝐿𝐶 𝑘 1 𝑇𝑅 (29) +𝑗 𝜔0 𝐿𝐶 1 +𝑗𝜔0 𝐶𝐶 𝑍𝑜 A equação (29) é muito parecida a expressão (16) para a impedância mútua para um transformador de 2 bobinas. Na realidade, as duas expressões só divergem pelo 𝑘 𝑘 2 𝑅𝐶 termo da constante de acoplamento que para o circuito completo é ( 𝑃𝑇 ) , desta 𝑘𝑇𝑅 maneira um circuito equivalente ao esquema com 4 bobinas é apresentado na Figura 6. 21 Figura 6 – Circuito equivalente ao esquema com 4 bobinas. Fonte: Modificada de Cheon et.al (2011) Com base na Figura 6, nota-se portanto que o esquema com 4 bobinas pode ser pensado como um acoplamento entre bobina de potência e de carga considerando 𝑘 𝑘 𝑅𝐶 apenas um coeficiente de acoplamento especial dado por 𝑃𝑇 . 𝑘𝑇𝑅 Para bobinas de potência e de carga iguais (𝐿𝑃= 𝐿𝐶 ) e com frequências de ressonância iguais, pode-se escrever (29) como, 𝑍𝑃𝑀 = −𝑗𝜔0 𝐿𝑃 + 𝑍𝑜 Assumindo 𝑘𝑃𝑇 𝑘𝑅𝐶 𝑘𝑇𝑅 (30) igual à unidade, então a impedância de entrada pode ser dada por, 1 𝑍𝑖𝑛 = 𝑗𝜔 1 0 𝐶𝑃 //𝑗𝜔0 𝐿𝑃 + 𝑍𝑃𝑀 = 𝑗𝜔 𝑍𝑖𝑛 = 0 𝐶𝑃 //𝑍𝑜 (31) 1 // 𝑍𝑜 𝑗𝜔0 𝐶𝑃 Sendo 𝐶𝑃 desprezível 𝑍𝑖𝑛 = 𝑍𝑜 , temos o casamento perfeito e a eficiência de acoplamento é máxima. Apesar do coeficiente de acoplamento entre as bobinas receptora e transmissora 𝑘 𝑇𝑅 ser pequeno devido à grande distância entre estas, pode-se tornar 𝑘𝑃𝑇 𝑘𝑅𝐶 𝑘𝑇𝑅 unitário ao ajustar 𝑘𝑃𝑇 e 𝑘𝑅𝐶 . Isto na prática é realizado ao se ajustar a distância entre a bobina de potência e transmissora, e entre a bobina receptora e de carga. Desta maneira é possível alcançar alta eficiência de acoplamento a médias distâncias. 22 2.2 ENLACES RESSONANTES COM ELEMENTOS CONCENTRADOS (LC) Apesar de enlaces autorressonantes possuírem algumas vantagens por não necessitarem de um capacitor, muitos sistemas práticos de transmissão de energia sem fio utilizam capacitores em série com a bobina obtendo-se uma ressonância LC série com valor mais baixo de frequência. Uma frequência de valor mais baixo simplifica o projeto dos equipamentos envolvidos no sistema de transmissão de energia, principalmente em sistemas de maior potência. Por exemplo, este tipo de sistema tem sido utilizado para carregamento da bateria de veículos elétricos (LI; MI, 2014). A seguir será mostrada uma análise do sistema com 2 e 4 bobinas utilizando ressonância LC série tendo como enfoque a eficiência e a máxima transferência de potência, baseado no trabalho de Abatti, Pichorim e Miranda (2014). 2.2.1 SISTEMAS COM 2 BOBINAS A Figura 7 mostra o circuito equivalente de um sistema com 2 bobinas. R1 C1 M12 C2 i2 i1 v R2 L1 L2 Figura 7. Representação de um sistema de 2 bobinas Fonte: Abatti, Pichorim e Miranda (2014) Considerando ambos circuitos sintonizados na mesma frequência de ressonância angular (𝜔0 −1 = √𝐿1 𝐶1 = √𝐿2 𝐶2 ), pode ser escrito 𝑣 = 𝑅1 𝑖1 ± 𝑗𝜔0 𝑀12 𝑖2 , e (32) 23 0 = ±𝑗𝜔0 𝑀12 𝑖1 + 𝑅2 𝑖2 , (33) aonde, M12 é a mútua indutância, R1 é a resistência total do circuito transmissor (incluindo as resistências internas da fonte e dos elementos indutor (L1) e capacitor (C1)), e R2 a resistência total do circuito receptor (a soma das resistências internas da resistência do capacitor (C2) e do indutor (L2) com a resistência de carga (RL)). A potência elétrica é calculada multiplicando a resistência pelo modulo da corrente ao quadrado tal que usando (32) e (33) pode ser escrito 𝑃1 = 𝑅1 𝑅2 2 𝑣 2 2 (𝑅1 𝑅2 +𝜔0 2 𝑀12 2 ) , (34) e 𝑃2 = 𝑅2 𝜔0 2 𝑀12 2 𝑣 2 (𝑅1 𝑅2 +𝜔0 2 𝑀12 2 ) 2 , (35) Aonde, P1 e P2 são as potências elétricas dissipadas em R1 e R2, respectivamente. Derivando (35) em relação a M12 e igualando o resultado a zero, após alguma manipulação algébrica, chega-se em 𝜔0 2 𝑀12 2 = 𝑅1 𝑅2 . (36) Esta é a condição de máxima transferência de potência (MTP) para um sistema de 2 bobinas (que (36) é uma condição de máximo pode ser demonstrado tomando a segunda derivada de (36) com relação a M12 e igualando a zero). Além disso, usando (36) em (34) e (35) leva à 𝑣2 𝑃1 = 𝑃2𝑀𝐴𝑋 = 4.𝑅 , 1 (37) tal como o clássico teorema da máxima transferência de potência ensina. Para propósitos de comparação é interessante calcular a potência relativa transferida para R2 dividindo (35) por (37), resultando em 24 𝑃2 = 𝑃2𝑀𝐴𝑋 4𝑅1 𝑅2 𝜔0 2 𝑀12 2 (𝑅1 𝑅2 +𝜔0 2 𝑀12 2 ) 2 . (38) Dividindo a potência transferida para R2 (P2) pela potência total (P1+P2), a eficiência da transferência (𝜂) pode ser calculada, 𝜔0 2 𝑀12 2 𝜂=𝑅 1 𝑅2 +𝜔0 2𝑀 2 12 . (39) Note que, também como o teorema da MTP ensina, usando (36) em (39) resulta em 𝜂 =1/2. 2.2.2 SISTEMAS COM 4 BOBINAS A Figura 8 mostra o circuito equivalente do sistema com 4 bobinas. M24 R1 C1 M12 C2 C3 i2 i1 v M23 L1 M34 C4 i3 L2 L3 R2 i4 R3 R4 L4 M13 M14 Figura 8. Representação de um sistema com 4 bobinas. Fonte: Abatti, Pichorim e Miranda (2014) Considerando todos os circuitos sintonizados na mesma frequência de ressonância angular (𝜔0 −1 = √𝐿1 𝐶1 = √𝐿2 𝐶2 = √𝐿3 𝐶3 = √𝐿4 𝐶4 ), e negligenciando a influência das mútuas indutâncias M13, M14, e M24, pode ser escrito 𝑣 = (𝑅1 𝑖1 ) ± (𝑗𝜔0 𝑀12 𝑖2 ) , (40) 25 0 = (±𝑗𝜔0 𝑀12 𝑖1 ) + (𝑅2 𝑖2 ) ± (𝑗𝜔0 𝑀23 𝑖3 ) , (41) 0 = (±𝑗𝜔0 𝑀23 𝑖2 ) + (𝑅3 𝑖3 ) ± (𝑗𝜔0 𝑀34 𝑖4 ) , (42) e 0 = (±𝑗𝜔0 𝑀34 𝑖3 ) + (𝑅4 𝑖4 ) , (43) aonde M12, M23 e M34 são as mútua indutâncias, e R1, R2, R3 e R4 as resistências individuais dos circuitos. Note que R4 é a soma das resistências internas da capacitância (C4) e da indutância (L4) com a resistência de carga (RL). Manipulando (40), (41), (42), e (43), as correntes i1, i2, i3, e i4 podem ser calculadas tal que a potência dissipada em R1, R2, R3, e R4 podem ser escritas como 𝑣2 𝑃1 = 𝐶 2 𝑅1 , 𝑃2 = 𝑃3 = 𝜔0 2 𝑀12 2 𝑣 2 𝐵2 𝐶 2 (44) 𝑅2 , 𝜔0 2 𝑀12 2 𝜔0 2 𝑀23 2 𝑣 2 𝐴2 𝐵2 𝐶 2 (45) 𝑅3 , (46) e 𝑃4 = 𝜔0 2 𝑀12 2 𝜔0 2 𝑀23 2 𝜔0 2 𝑀34 2 𝑣 2 𝐴2 𝐵2 𝐶 2 𝑅4 , (47) respectivamente, onde A, B, e C são dadas por 𝐴 = 𝑅3 + 𝐵 = 𝑅2 + 𝜔0 2 𝑀34 2 𝑅4 𝜔0 2 𝑀23 2 𝐴 , , e, 𝐶 = 𝑅1 + 𝜔0 2 𝑀12 2 𝐵 , respectivamente. Logicamente, usando o sistema de 2 bobinas como guia, as potências P2 e P3 devem ser o menor possível, tal que, idealmente, R2=R3=0. 26 Usando a condição anterior (R2=R3=0) em (44), (45), (46), e (47), e relembrando que a mútua indutância (na forma geral Mxy) é definida como 𝑀𝑥𝑦 = 𝑘𝑥𝑦 √𝐿𝑥 𝐿𝑦 , aonde kxy é o coeficiente de acoplamento, variando entre zero e um, pode ser escrito 2 𝑃1 = 𝑅1 𝑅4 2 (𝑘23 2 ) 𝑣 2 2 (𝑅1 𝑅4 𝑘23 2 +𝑘12 2 𝑘34 2 𝜔0 𝐿1 𝐿4 ) 2 , (48) e 𝑃4 = 𝑘12 2 𝑘23 2 𝑘34 2 𝜔0 2 𝐿1 𝐿4 𝑅4 𝑣2 2 2 (𝑅1 𝑅4 𝑘23 2 +𝑘12 2 𝑘34 2 𝜔0 𝐿1 𝐿4 ) , (49) com, evidentemente, P2=P3=0. Tomando a derivada de (49), também usando o sistema de 2 bobinas como guia, em relação a k23 e igualando o resultado a zero tem-se 𝑘23 2 𝑅1 𝑅4 = 𝑘12 2 𝑘34 2 𝜔0 2 𝐿1 𝐿4 . (50) Esta é a condição de máxima transferência de potência (MTP) para um sistema com 4 bobinas sem perdas de potência nos circuitos de comunicação. Note que usando (50) em (48) e (49) leva a 𝑣2 𝑃1 = 𝑃4𝑀𝐴𝑋 = 4𝑅 , (51) 1 conforme o teorema da MTP ensina. Para propósitos de comparação é também interessante computar a potência relativa transferida para R4, dividindo (49) por (51) resultando, 2 𝑃4 𝑃4𝑀𝐴𝑋 = 4𝑅1 𝑅4 𝑘12 2 𝑘23 2 𝑘34 2 𝜔0 𝐿1 𝐿4 2 (𝑅1 𝑅4 𝑘23 2 +𝑘12 2 𝑘34 2 𝜔0 𝐿1 𝐿4 ) 2 , (52) A eficiência do sistema (𝜂), também com R2=R3=0, pode ser definida como 𝜂=𝑃 𝑃4 1 +𝑃2 +𝑃3 +𝑃4 = 𝑘12 2 𝑘34 2 𝜔0 2 𝐿1 𝐿4 2 𝑅1 𝑅4 𝑘23 2 +𝑘12 2 𝑘34 2 𝜔0 𝐿1 𝐿4 , (53) Note que, seguindo o clássico teorema da MTP, usando (50) em (53) resulta em 𝜂 = 1/2. 27 Entretanto, na prática R2 e R3 não são geralmente desprezíveis. Neste caso, a potência relativa transferida para R4 é dada por 𝑃4 𝑃4𝑀𝐴𝑋 = 4𝑅1 𝑅4 𝜔0 2 𝑀12 2 𝜔0 2 𝑀23 2 𝜔0 2 𝑀34 2 (𝑅1 𝑅4 𝜔0 2 𝑀23 2 +(𝑅1 𝑅2 +𝜔0 2 𝑀12 2 )(𝑅3 𝑅4 +𝜔0 2 𝑀34 2 )) (54) 2 enquanto η é dado por 𝜂 = (𝑅 𝜔0 2 𝑀12 2 𝜔0 2 𝑀23 2 𝜔0 2 𝑀34 2 𝑅4 4 𝜔0 2 𝑀 2 +𝑅 (𝑅 𝑅 +𝜔 2 𝑀 2 ))(𝑅 𝑅 𝜔 2 𝑀 2 +(𝑅 𝑅 +𝜔 2 𝑀 2 )(𝑅 𝑅 +𝜔 2 𝑀 2 )) 23 2 3 4 0 34 1 4 0 23 1 2 0 12 3 4 0 34 (55) Observe que, no caso de R2=R3=0, (54) e (55) se tornam (52) e (53), respectivamente. Além disso, pode ser visto que (54) e (55), devido ao seu formato, apresentam um ponto de máximo. Portanto, tomando a derivada de ambos em relação a k23 e igualando o resultado a zero tem-se, 𝑅1 𝑅4 𝜔0 2 𝑀23 2 = (𝑅1 𝑅2 + 𝜔0 2 𝑀12 2 )(𝑅3 𝑅4 + 𝜔0 2 𝑀34 2 ) , (56) , (57) e [𝑅1 𝑅4 2 (𝜔0 2 𝑀23 2 )2 = (𝑅1 𝑅2 + 𝜔0 2 𝑀12 2 )(𝑅3 𝑅4 + 𝜔0 2 𝑀34 2 )2 𝑅2 respectivamente. Observe que (56) e (57) mostram que o ponto de máximo de (54) e (55) não são coincidentes. Além disso, note que no caso de R2=R3=0 (56) se torna (50), e (57) não possui mais significado, isto é, η não possui um ponto de máximo (em termos de derivada igual a zero). Finalmente, substituindo (56) em (54) e (57) em (55) pode ser visto que o ponto de máximo em (54) e (55) são sempre, como esperado, menores do que a unidade. No presente trabalho os testes práticos serão desenvolvidos com base na teoria apresentada na seção 2.2, ou seja, enlaces ressonantes utilizando elementos concentrados (LC), onde serão abordadas principalmente a eficiência e a transferência relativa de potência, tal como apresentado. A escolha desta técnica se deveu a experiência prévia dos autores e também a motivação de que, a primeiro momento, esta técnica possui maior aplicação prática (LI; MI, 2014). 28 2.3 TRABALHOS RECENTES A seguir são mostrados alguns trabalhos atuais e que fazem uso da técnica aqui estudada. Zhou e Yang (2012) apresentam um método para calcular a frequência de ressonância de bobinas planares utilizadas para fins de transmissão de energia. O método se baseia em um circuito elétrico equivalente e na análise tridimensional pelo método dos elementos finitos. Huang, Chen e Liu (2009) apresentam um enlace ressonante com ajuste automático da frequência de ressonância. Os autores mostram uma melhora de até 33 % na eficiência ao utilizar este esquema. Breitkreutz e Henke (2013) apresentam um método baseado na teoria de linhas de transmissão para calcular a autorressonância de bobinas espirais utilizadas em transmissão de energia. Artan et al. (2011) apresentam um trabalho provando a vantagem de se utilizar bobinas multicamadas para transferência de potência para sensores implantados em tecidos biológicos. Zhang et al. (2009) mostram a vantagem de se utilizar a transferência de energia por enlaces ressonantes magneticamente acoplados para alimentar sensores e outros dispositivos biomédicos. Li et al. (2013) utilizam bobinas planares flexíveis de alto fator de qualidade para o esquema de transferência de energia mostrando a vantagem de se utilizar este tipo de bobina. Zhao et al. (2012) fazem um estudo comparativo entre a técnica apresentada neste trabalho e a técnica da indução eletromagnética para fins de transferência de energia. Os autores mostram a vantagem de se utilizar o esquema com duas bobinas trabalhando na ressonância. Gozalvez (2007) apresenta um trabalho de revisão onde também aponta tendências futuras, aplicações industriais bem como energias renováveis utilizando a técnica estudada. 29 2.4 NORMA PARA EXPOSIÇÃO A CAMPOS Neste item será apresentado um resumo da norma ABNT 03:077.01 Limites para a Exposição a Campos Elétricos, Magnéticos e Eletromagnéticos variáveis no Tempo (até 300 GHz), esta norma foi baseada na Guidelines for Limiting Exposure to Time Varying Electric, Magnetic, and Electromagnetic fields (up to 300 GHz)”, publicado em Health Physics, vol.74, n.4, pp.494-522, April 1998. 2.4.1 EFEITO CAUSADO PELO CAMPO ELÉTRICO OU MAGNÉTICO 2.4.1.1 MECANISMOS DE ACOPLAMENTO ENTRE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS E O CORPO HUMANO Há três mecanismos básicos de acoplamento, bem estabelecidos, através dos quais campos elétricos e magnéticos variáveis no tempo interagem diretamente com matéria viva: Acoplamento a campos elétricos de baixa frequência; Acoplamento a campos magnéticos de baixa frequência; Absorção de energia de campos eletromagnéticos 2.4.1.2 ACOPLAMENTO A CAMPOS ELÉTRICOS DE BAIXA FREQUÊNCIA A interação de campos elétricos variáveis no tempo, com o corpo humano, resulta num fluxo de cargas elétricas (corrente elétrica), na polarização de cargas ligadas (formação de dipolos elétricos), e na reorientação dos dipolos elétricos já presentes no tecido. 2.4.1.3 ACOPLAMENTO A CAMPOS MAGNÉTICOS DE BAIXA FREQUÊNCIA A interação física de campos magnéticos variáveis no tempo, com o corpo humano, resulta na indução de campos elétricos induzidos e correntes elétricas circulantes. As amplitudes dos campos induzidos e a densidade da corrente são proporcionais ao laço (caminho fechado) escolhido, à condutividade elétrica do tecido, à taxa de variação e à amplitude da densidade do fluxo magnético. Para uma 30 dada amplitude e frequência do campo magnético, os campos elétricos mais intensos são induzidos onde as dimensões do laço são maiores; sendo que o caminho exato e a amplitude da corrente induzida em qualquer parte do corpo, dependerão da condutividade elétrica do tecido. O corpo não é eletricamente homogêneo; entretanto as densidades de correntes induzidas podem ser calculadas, usando modelos que representam de maneira realística as propriedades anatômicas e elétricas do corpo e recorrendo a métodos computacionais que têm grau elevado de resolução anatômica. 2.4.1.4 ABSORÇÃO DA ENERGIA DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS A exposição a campos elétricos e magnéticos de frequência baixa resulta normalmente em uma absorção de energia desprezível, sem elevação mensurável da temperatura do corpo. Entretanto, a exposição a campos eletromagnéticos de frequências acima de aproximadamente 100 kHz, pode conduzir a uma absorção significativa de energia e a um aumento de temperatura. Em geral, a exposição a um campo eletromagnético uniforme (onda plana) resulta em uma deposição e distribuição de energia altamente não uniforme dentro do corpo, que precisa ser avaliada por medidas dosimétricas e por cálculos. Com respeito à absorção da energia pelo corpo humano, os campos eletromagnéticos podem ser divididos em quatro faixas: Frequências de aproximadamente 100 kHz a 20 MHz; Frequência decrescente e pode ocorrer uma absorção significativa no pescoço e nas pernas; Frequências de aproximadamente 20 MHz a 300 MHz, nas quais pode ocorrer uma absorção relativamente alta no corpo todo, e até mesmo valores mais altos, se forem consideradas ressonâncias em partes do corpo (p. ex.: na cabeça); Frequências de aproximadamente 300 MHz à vários GHz, nas quais ocorre absorção local significativa e não uniforme; Frequências acima de 10 GHz, nas quais a absorção de energia ocorre principalmente na superfície do corpo. 31 2.4.2 LIMITES PARA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL E DO PÚBLICO EM GERAL A população ocupacionalmente exposta compreende adultos que estão geralmente expostos a condições conhecidas estão treinados para estar atentos ao risco potencial e tomar as precauções apropriadas. Em contraste, o público em geral consiste de pessoas de todas as idades e estados de saúde e pode incluir grupos ou indivíduos particularmente suscetíveis. Foram usadas bases científicas diferentes no desenvolvimento de restrições básicas para as exposições em várias faixas de frequências: Entre 1 Hz e 10 MHz, foram estabelecidas restrições básicas na densidade de corrente para evitar efeitos em funções do sistema nervoso; Entre 100 kHz e 10 GHz, foram estabelecidas restrições básicas na SAR , para evitar o estresse causado por aquecimento do corpo inteiro e o aquecimento excessivo localizado em tecidos; sendo que na faixa de 100 kHz a 10 MHz as restrições abrangem tanto a densidade de corrente, como a SAR; Entre 10 GHz e 300 GHz, foram estabelecidas restrições básicas na densidade de potência, para evitar aquecimento excessivo em tecidos superficiais ou próximos à superfície do corpo. Na faixa de frequências de poucos Hz a 1 kHz, e em níveis de intensidade de corrente induzida superiores a 100 mA.m2, são excedidos os limiares para mudanças agudas na excitabilidade do sistema nervoso central e para outros efeitos agudos, como a reversão do potencial evocado visualmente. Tendo em vista as considerações de segurança feitas acima, foi decidido que, para frequências na faixa de 4 Hz a 1 kHz, a exposição ocupacional deve ser limitada a campos que induzem densidades de corrente menores que 10 mA.m-2; ou seja, decidiu-se usar um fator de segurança igual a 10. Para o público em geral, foi 32 adotado um fator adicional de 5, resultando uma restrição básica para a exposição, de 2 mA.m-2. Abaixo de 4 Hz e acima de.1 kHz, as restrições básicas para densidade de corrente induzida aumentam progressivamente, correspondendo ao aumento do limiar para a estimulação de nervos nessas faixas de frequências. Efeitos biológicos e na saúde, estabelecidos na faixa de frequências de 10 MHz até alguns GHz, são consistentes com respostas a uma elevação da temperatura corporal superior a 1 ºC. Em condições ambientais moderadas, este nível de aumento de temperatura resulta da exposição de pessoas a uma SAR (taxa de absorção de corpo inteiro) de corpo inteiro de aproximadamente 4 W.kg-1 durante cerca de 30 min. Por essa razão, uma SAR média, de corpo inteiro, de 0,4 W.kg-1, foi escolhida como sendo a restrição que garante proteção adequada no caso de exposição ocupacional. Um fator de segurança adicional, igual a 5, foi introduzido para a exposição do público em geral, resultando, assim, um limite de 0,08 W.kg-1 para a SAR média de corpo inteiro. As restrições básicas inferiores para a exposição do público em geral, levam em conta o fato de que a idade e o estado de saúde podem diferir do caso de trabalhadores. As tabelas 1 e 2 mostram um resumo dos limites para campos estabelecidos pela norma. Tabela 1 – Limites para SAR 33 Tabela 2 – Limites para campos 2.4.3 NÍVEIS DE REFERÊNCIA Onde apropriado, os níveis de referência são obtidos das restrições básicas por modelamento matemático e por extrapolação de resultados de investigações de laboratório em frequências específicas. Os níveis são dados para a condição de acoplamento máximo do campo com o indivíduo exposto, fornecendo. Os níveis são ilustrados nas Figuras 9 e 10. 34 Figura 9 – Níveis de referência para exposição a campos elétricos variáveis no tempo. Fonte: ABNT 35 Figura 10 – Níveis de referência para exposição a campos magnéticos variáveis no tempo. Fonte: ABNT 36 3 RESULTADOS Foram construídas 4 bobinas com 30 cm de diâmetro, fio de cobre esmaltado com 0,91 mm de diâmetro e 56 espiras, onde no processo de confecção das bobinas, especial cuidado foi tomado para se obter o máximo de precisão no enrolamento, de maneira a se obter bobinas com indutâncias o mais próximas possível. Os parâmetros elétricos das bobinas foram medidos com auxílio de um analisador vetorial de impedâncias Agilent 4294A na faixa de 1 a 100 kHz. A indutância série medida foi de 1,5 mH (variação menor que 0,1 mH entre as bobinas) e a resistência série (RS) possui um valor de 5,6 Ω (perdas ôhmicas no fio). Para se obter a ressonância foi utilizado um capacitor de poliéster de 3,3 nF e com tensão máxima de 1600 V (este capacitor foi selecionado visando os testes com maiores potências que serão apresentados na próxima seção). Um ponto crítico do projeto é obter as mesmas frequências de ressonância para todos os circuitos utilizados. Considerando a variação de 10 % em torno do valor nominal dos capacitores, a capacitância exata na faixa de 40 a 75 kHz (próxima a frequência de operação) foi medida em um lote de aproximadamente 30 capacitores com o auxílio do analisador de impedância. Com estes valores, e com os valores de indutância medidos, alcançou-se valores de frequência de 71,32 kHz com precisão de 0,1 kHz em todos os circuitos. A resistência equivalente do capacitor foi desprezada, uma vez que o valor medido no analisador foi da ordem de mΩ. Uma vez que a análise apresentada na seção 2.2 é fortemente dependente do coeficiente de acoplamento (k), primeiramente foi levantada a curva de k em função da distância entre duas bobinas coaxialmente dispostas considerando a teoria apresentada em (ABATTI; PICHORIM; SCHNEIDER, 2008) e utilizando o software excel. Para a simulação as dimensões e a indutância medida foram utilizadas. Adicionalmente, um ensaio para medir k prático também foi realizado. Foi utilizado um gerador de funções Tektronix CFG253 para excitar uma bobina (primário) em uma baixa frequência de 10 kHz para evitar a influência de capacitâncias parasitas (logicamente neste teste não se usa o capacitor em série). Um oscilador Agilent MSO6034 é utilizado para se medir a tensão sobre os terminais do circuito primário (v1) e sobre os terminais abertos da segunda bobina (v2) (secundário), enquanto a distância entre as bobinas é variada. Uma vez que a corrente no secundário é zero (terminais abertos), v1 = 𝐿1 . 𝑑𝑖1 ⁄𝑑𝑡 e v2 = 𝑀12 . 𝑑𝑖1 ⁄𝑑𝑡. 37 Como as indutâncias de ambas as bobinas são iguais (L1=L2=L), então 𝑘 = 𝑀12 /𝐿, e após pouca manipulação 𝑘 = 𝑣2 ⁄𝑣1 . A Figura 11 mostra o coeficiente de acoplamento medido e simulado em função da distância. 0,5 0,45 0,4 0,35 k 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 d (cm) Figura 11. Coeficiente de acoplamento medido (pontos) e simulado através de (ABATTI; PICHORIM; SCHNEIDER, 2008) (linha sólida). Para medir a eficiência e a transferência relativa de potência, é necessário conhecer as correntes no circuito 1 e na carga, para isso foi utilizado um resistor (R0) de 3,9 Ω em série com L1 e C1 o que possibilita medir a corrente circulante no circuito 1. Para a resistência de carga (Rl) foi utilizado um resistor de 268 Ω, sendo a corrente no circuito 4 medida através da queda de tensão no mesmo. As indutâncias dos resistores utilizados foram desprezadas uma vez que os valores medidos são da ordem de nH. Um sinal de 72 kHz e 7,7 Vrms foi aplicado sobre o circuito 1. Para confirmar que a frequência de ressonância não foi alterada por outros parâmetros do circuito tais como capacitâncias parasitas de cabos de medição, esta foi sintonizada em função do ponto de mínima tensão medido sobre o circuito (ressonância série) quando livre de influências das outras bobinas (bobina isolada no espaço). Outro parâmetro que deve ser levado em consideração é a impedância de saída do gerador (RG) sendo que esta vai compor R1 (Figuras 7 e 8), o valor exato para o gerador utilizado é de 48 Ω. Como todos os parâmetros levados em consideração é possível calcular R1 = R0 + RS + RG = 57,02 Ω. A resistência de carga total RL será 38 composta pela resistência nominal da carga e as perdas no fio da bobina. Finalmente, a potência dissipada em R1 é 𝑃1 = 𝑅1 ⋅ 𝑖1 2 e na carga RL é 𝑃𝐿 = 𝑅𝐿 ⋅ 𝑖𝑙 2 . A Figura 12 mostra o setup utilizado nos testes. Figura12. Setup utilizado nos testes mostrando o osciloscópio, o gerador de funções e as bobinas construídos. 3.1 SISTEMA COM 2 BOBINAS Para o sistema com 2 bobinas, a eficiência medida é dada por P1/(P1+PL) e a transferência relativa de potência é dada por PL/P2MAX. A distância entre as bobinas foi variada de 5,5 a 91,5 cm em passos de 2 cm e os valores de tensão são medidos a cada passo. Os valores teóricos são calculados de (38) e (39). A Figura 13 mostra os valores medidos e calculados para a eficiência e transferência relativa de potência. A máxima transferência de potência ocorre para a distância de 7,5 cm e neste caso a eficiência é de aproximadamente 50% conforme apresentado na teoria. 39 1,2 Rel.Pow.Trf Eff Eff. & Transf. Rel. 1 Rel.Pow.Calc Eff.Calc 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 d(cm) Figura 13. Comparação entre eficiência e transferência relativa de potência medidas (pontos) e calculadas (linhas cheias) através de (38) e (39). É interessante também notar o efeito de diferentes valores de carga nas curvas de transferência relativa de potência e eficiência. Nas Figuras 14 e 15 são mostradas simulações para os valores de 68, 168 e 268 Ω. 40 1,00E+00 9,00E-01 268ohms 8,00E-01 168ohms 7,00E-01 68ohms Transf. Rel. 6,00E-01 5,00E-01 4,00E-01 3,00E-01 2,00E-01 1,00E-01 0,00E+00 0 10 20 30 40 50 60 d(cm) Figura 14. Efeito de diferentes cargas (68, 168 e 268 Ω) na curva de transferência relativa de potência. 1,00E+00 9,00E-01 268ohms 8,00E-01 168ohms 7,00E-01 68ohms Transf. Rel. 6,00E-01 5,00E-01 4,00E-01 3,00E-01 2,00E-01 1,00E-01 0,00E+00 0 10 20 30 40 d(cm) Figura 15. Efeito de diferentes cargas (68, 168 e 268 Ω) na curva da eficiência. 50 60 41 3.2 SISTEMA COM 4 BOBINAS No sistema de 4 bobinas a eficiência medida pode ser dada pela relação PL/(P1+P2+P3+PL). Entretanto, as resistências R2 e R3 não são resistores reais mas sim representam as perdas ôhmicas nos fios, logo P2 e P3 não podem ser medidas diretamente. Sendo assim, e considerando que toda a potência dissipada é dissipada nas perdas ôhmicas, a eficiência pode ser alternativamente calculada por PL/PG, aonde PG = vG⋅i1. A distância entre as bobinas 1 e 2, e 3 e 4 são fixas em 20 cm, enquanto que a distância entre as bobinas 2 e 3 é variada. Desta maneira evitam-se os inter-acoplamentos entre circuitos não adjacentes (1-3, 1-4 e 2-4). Os valores teóricos são calculados através de (54) e (55). Os resultados são mostrados na Figura 16. Neste caso, nota-se que conforme previsto na teoria, a eficiência passa por um máximo. 0,6 Eff RelPow 0,5 Eff & Transf. Rel. Pot. EffCalc 0,4 RelPowCalc 0,3 0,2 0,1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 d(cm) Figura 16. Comparação entre eficiência e transferência relativa de potência medidas (pontos) e calculadas (linhas cheias) através de (54) e (55). Um segundo experimento foi realizado mantendo-se a distância entre as bobinas 1 e 2 fixas em 32 cm e as bobinas 3 e 4 fixas em 20 cm. Os resultados são mostrados na Figura 17. 42 0,4 Eff 0,35 RelPow Eff. & Transf. Rel. Pot 0,3 EffCalc RelPowCalc 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 d(cm) Figura 17. Comparação entre eficiência e transferência relativa de potência medidas (pontos) e calculadas (linhas cheias) através de (54) e (55). As Figuras 18 e 19 mostram o efeito de diferentes valores de carga nas curvas de transferência relativa de potência e eficiência, no caso de espaçamento de 20 cm entre circuitos 1-2 e 3-4. 0,8 268ohms 168 ohms 0,7 68ohms Transf. Rel. Pot. 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 d(cm) Figura 18. Efeito de diferentes cargas (68, 168 e 268 Ω) na curva de transferência relativa de potência no sistema de 4 bobinas. 43 268ohms 0,45 168 ohms 0,4 68ohms 0,35 Eficiência 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 d(cm) Figura 19. Efeito de diferentes cargas (68, 168 e 268 Ω) na curva de eficiência para o sistema de 4 bobinas. Em seguida são apresentados testes com maiores potências utilizando uma lâmpada de 25 W como carga. 3.3 TESTES COM ALTA POTÊNCIA Para os testes com alta potência o sistema sofreu algumas modificações. Um amplificador de RF E&I 1040l que fornece uma potência máxima de 400 W na faixa de 30 kHz a 5 MHz foi utilizado para amplificar o sinal proveniente do gerador de funções. A impedância de entrada e saída do amplificador é de 50 Ω e, portanto, está casado com a impedância de saída do gerador. Como carga foi utilizada uma lâmpada incandescente de 25 W para 127 Vrms. Um detalhe importante durante a execução dos experimentos e testes é de que diversos capacitores foram “queimados” ou danificados apesar de suportarem uma tensão de 1600 V! Isso se deve ao fato de que na ressonância série apesar de a tensão total ser teoricamente zero (lembrando que que as reatâncias Xl e Xc se anulam), a tensão individual em cima da bobina e do capacitor é Q vezes maior do que a tensão de operação, sendo Q o fator de qualidade (MARCUS; MARCUS, 44 1964). Após vários testes, para resolver este problema, foram utilizados dois capacitores em paralelo de maneira a dividir a corrente que passa sobre cada capacitor e, portanto, a tensão em cada um, e dessa maneira foi possível estabilizar o sistema e realizar os testes. Para este caso a nova frequência de ressonância possui o valor de 50,4 kHz. A Figura 20 mostra o sistema completo utilizado nos testes. Figura 20. Sistema completo utilizado nos testes de potência. Para os testes a metodologia utilizada foi monitorar a tensão sobre a carga (lâmpada de 25 W), uma vez que a tensão de aproximadamente 127 Vrms é atingida considera-se que a lâmpada possui brilho máximo e, portanto, dissipa a potência de 25 W. Após alguns testes iniciais, definiu-se que a tensão sobre o circuito 1 conectado ao amplificador não seria monitorada, uma vez que devido a alta potência de saída o osciloscópio correria riscos de ser danificado. 45 3.3.1 SISTEMA COM 2 BOBINAS Primeiramente os circuitos 1 e 2 foram mantidos a distância de 8 cm. Com o sistema em operação, a tensão de saída do gerador de funções é cuidadosamente alterada até o ponto em que se atingiu 127 Vrms medido nos terminais da lâmpada conectada ao circuito 2. De posse da tensão medida, da resistência da lâmpada para a tensão de 127 Vrms e 25 W, acha-se a corrente i2. Utilizando a equação (33) acha-se i1, e através de (32) calcula-se v1. De posse destes valores pode-se calcular as potências P1 e P2 e a respectiva eficiência (para estes testes utilizou-se apenas os valores de eficiência). Para este caso a eficiência medida é de 24,28 %. A eficiência calculada é dada por (39), sendo que para a distância de 8 cm esta possui um valor de 24,5 % conforme mostra a Figura 21. 1,00E+00 Rel.Pow.Calc 9,00E-01 8,00E-01 Eff.Calc Transf Rel. e Eff 7,00E-01 6,00E-01 5,00E-01 4,00E-01 3,00E-01 2,00E-01 1,00E-01 0,00E+00 0 5 10 15 20 25 30 d(cm) Figura 21. Eficiência e transferência relativa de potência simuladas, para o sistema de 2 bobinas e lâmpada de 25 W e 127 Vrms como carga. Em seguida as bobinas foram posicionadas a distância de 15 cm e os mesmos passos anteriores foram realizados. Neste caso temos uma eficiência medida de 9 % enquanto que a calculada através de (39) é de 8,2 % conforme mostra a Figura 21. As Figuras 22 e 23 mostram o sistema operando com a lâmpada acesa para as distâncias de 8 e 15 cm entre as bobinas 1 e 2. 46 Figura 22. Bobinas 1 e 2 a 8 cm de distância. Eficiência de 25 %. Figura 23. Bobinas 1 e 2 a 8 cm de distância. Eficiência de 9 %. 47 3.3.2 SISTEMA COM 4 BOBINAS Para o sistema de 4 bobinas a mesma metodologia foi abordada, isto é, a tensão sobre a lâmpada foi monitorada e quando esta atinge aproximadamente 127 Vrms considera-se que a lâmpada possui brilho máximo e dissipa a potência de 25 W. Entretanto para este sistema devido a dificuldade de se medir as correntes nos circuitos 1 (circuito de alta potência), 2 e 3 (não possuem resistores) apenas a eficiência teórica foi considerada. Primeiramente fixam-se as distâncias de 15 cm entre bobina 1 e 2, e de 8 cm entre bobina 3 e 4. A distância entre as bobinas 2 e 3 é de 30 cm. Neste caso a eficiência é de 38 % como mostra a Figura 24. 0,8 RelPow 0,7 Transf Rel. e Eff 0,6 EffCalc 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0 20 40 d(cm) 60 80 100 Figura 24. Eficiência e transferência relativa de potência simuladas, para o sistema de 4 bobinas e lâmpada de 25 W e 127 Vrms como carga. A distância entre a bobina 1 e 2 é de 15 cm, entre a bobina 3 e 4 é de 8 cm. Em seguida a distância entre as bobinas 2 e 3 é alterada para 40 cm, o que corresponde a uma eficiência de 28 % conforme pode ser visto na Figura 24. As Figuras 25 e 26 mostram o sistema operando para as distâncias e 30 e 40 cm entre as bobinas 2 e 3 conforme mencionado. 48 Figura 25. Bobinas 1 e 2 a 15 cm, 3 e 4 a 8 cm, e 2 e 3 a 30 cm. Eficiência de 38 %. Figura 26. Bobinas 1 e 2 a 15 cm, 3 e 4 a 8 cm, e 2 e 3 a 40 cm. Eficiência de 28 %. 49 4 DISCUSSÃO Os testes apresentados na seção anterior mostram o interessante efeito de se utilizar 4 bobinas frente ao sistema com 2 bobinas. Por exemplo, no sistema com 2 bobinas a uma distância de 15 cm tem-se eficiência de 9 %, já para o sistema com 4 bobinas alcançam-se, as distâncias de 30 e 40 cm entre bobinas 2 e 3, com eficiências de 38 e 28 %, respectivamente, com as bobinas 1 e 2 a 15 cm e 3 e 4 a 8 cm. Ou seja, ao ajustar as distâncias entre as bobinas 1 e 2, e, 3 e 4, consegue-se maximizar a eficiência e transferência de potência em distâncias maiores. Esse efeito foi mostrado sobre o ponto de vista do casamento de impedâncias na seção 2.1 para o sistema com bobinas autorressonantes. Claro que em sistemas práticos, técnicas de casamento de impedância no sistema com 2 bobinas podem melhorar a eficiência do sistema em função da distância. Outro fator interessante no sistema com 4 bobinas é de que esse possui máximos de eficiência e de transferência relativa de potência. Portanto cabe ao projetista, dependendo da aplicação, definir qual o parâmetro mais importante. Por exemplo, nota-se que o máximo de eficiência ocorre sempre a maiores distâncias quando comparado a transferência relativa. Portanto se o parâmetro mais importante for distância pode ser interessante projetar o sistema de acordo com a curva de eficiência. Deve-se notar também que as equações (36) e (50) podem alternativamente serem escritas em termos do fator de qualidade. 50 AGRADECIMENTOS Gostaríamos de agradecer aos professores do curso de engenharia elétrica da PUCPR pelos ensinamentos passados, em especial ao professor Munir Antonio Gariba pelo apoio e orientação neste projeto. Agradecemos também aos membros da banca, professores James Alexandre Baraniuk e Gerson Linck Bichinho, pelas sugestões que muito contribuíram para a versão final deste trabalho. Agradecemos também aos professores da UTFPR Sérgio Francisco Pichorim e Paulo José Abatti pelas inúmeras contribuições, bem como ao Laboratório de Biotelemetria Aplicada (BIOTA) por oferecer a estrutura e materiais que possibilitaram o desenvolvimento deste trabalho. 51 REFERÊNCIAS ABATTI, P.J.; PICHORIM, S.F.; MIRANDA, C.M. “Maximum Power Transfer versus Efficiency in Mid-Range Wireless Power Transfer Systems” IEEE Transactions on Power Electronics. 2014 (submetido) ABATTI, P.J.; PICHORIM, S.F.; SCHNEIDER, B. “A Method to Derive Mutual Inductance Properties Using Electric Circuit Analysis Tools” International Journal of Electrical Engineering Education, vol. 45, pp. 46-50, 2008. ABNT. Limites para a Exposição a Campos Elétricos, Magnéticos e eletromagnéticos variáveis no Tempo (até 300 GHz). PROJETO 03:077.01. 2000. Disponível em <www.abricem2.com.br/web3/pdfs/normas/abnt31.pdf> ARTAN, N.S ; LI, X. ; PATEL, R. ; NING, C. ; LUDVIG, N. ; CHAO, H.J. 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