A MERCANTILIZAÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL NOS ANOS 1990 Ana Paula Andreotti Pegoraro1 RESUMO: A proposição definida neste trabalho é de que houve um processo de mercantilização da saúde nos anos 90 no Brasil decorrente de dois movimentos: a consolidação da hegemonia liberal e sua difusão em escala global pela globalização financeira, o que alterou aprofundou a lógica capitalista, consolidando valores como consumismo e individualismo; e o novo arranjo econômico e político institucional brasileiro neste período, resultado da posição frágil e vulnerável do país e esgotamento do Estado desenvolvimentista e da condução de políticas voltadas para o fortalecimento do setor privado. PALAVRAS-CHAVE: Saúde, Brasil, Mercantilização INTRODUÇÃO Os sistemas de saúde têm desempenhado papel fundamental para a forte expansão da expectativa de vida e para o aperfeiçoamento da qualidade de vida e bem estar de milhões de homens, mulheres e crianças ao redor do mundo. Porém enormes lacunas permanecem e a diferença de resultado entre os países é ainda muito alta. Os sistemas de saúde têm falhado em oferecer serviços a todos, dessa forma centenas de milhões de pessoas no mundo estão excluídas dos serviços à saúde (World Health Report, 2000). Os sistemas de saúde têm uma responsabilidade adicional: garantir que as pessoas sejam tratadas com respeito, em conformidade com os direitos humanos, protegendo assim todos os seus cidadãos de forma contínua. Encontrar um novo rumo e bem sucedido para os sistemas de saúde é, antes de tudo, uma arma poderosa na luta contra a pobreza e é também o caminho para a garantia dos direitos humanos a todos. Além disso, cabe destacar a percepção de que a proteção social é um problema coletivo que depende de uma combinação de desenvolvimento econômico e social. Apenas a combinação entre economia de mercado, democracia e bem estar coletivo poderá gerar a melhoria nas condições de saúde da população. 1 Mestranda em Desenvolvimento Econômico, Instituto de Economia, Unicamp. Orientador: Geraldo Di Giovanni. Tendo em vista a essencialidade da proteção social e o papel fundamental desempenhado pela saúde na melhoria da qualidade de vida e no bem estar da sociedade, o objetivo deste trabalho é analisar a política pública de saúde nos anos 1990 no Brasil. A proposição definida é de que houve um processo de mercantilização da saúde nos anos 90 no Brasil decorrente de dois movimentos: a consolidação da hegemonia liberal e sua difusão em escala global e o novo arranjo econômico e político institucional brasileiro neste período. O período que se inicia nos anos 70 é marcado pela ofensiva neoliberal e consolidação como ideologia hegemônica, pela globalização financeira e suas graves implicações sociais. A lógica capitalista trouxe novos valores para a sociedade, tais como o consumismo e o individualismo, a ponto de mercantilizar a saúde. Além disso, a posição frágil e vulnerável do país e esgotamento do Estado desenvolvimentista; Desorganização do mercado de trabalho dada estagnação econômica; e Constituição Federal de 1988 levaram a consolidação de um novo arranjo econômico, político e institucional nos anos 90. Essas mudanças levaram ao enfraquecimento do Estado, que, no caso da saúde, foi incapaz de garantir a consolidação do SUS e abriu espaço para o fortalecimento do setor privado levando ao processo de mercantilização da saúde neste período. PRINCIPAIS TRANSFORMAÇÕES ECONOMICAS E MUNDIAIS: A OFENSIVA NEOLIBERAL NO BRASIL Após um longo período de altas taxas de crescimento econômico acompanhados de avanços sociais generalizados nos países centrais, nos anos 70 deflagra-se uma crise econômica determinante, marcada por uma longa e profunda recessão e altas taxas de inflação. Dentre as saídas apontadas, foi a ideologia neoliberal que ganhou força, o que resultou em grandes transformações nas últimas duas décadas do século XX. A ideologia neoliberal, que foi ganhando cada vez mais governos adeptos2, consistia na reação teórica e política contrária a ideologia keynesiana, dominante no período anterior. Dessa forma, a partir de 1980, há o predomínio das políticas macroeconômicas austeras e a liberalização e desregulamentação comercial e financeira em escala global3 (Anderson, 1995). O neoliberalismo é considerado pré-condição e o “motor” da globalização, já que tal ideologia justifica e legitima as pressões globalizadoras através da desregulamentação econômica e da eliminação das fronteiras com o livre fluxo de bens, pessoas e capitais entre os países (Martins 1996 e Anderson, 1995). Martins (1996) também chama a atenção para a relação entre o desenvolvimento do capitalismo, a hegemonia neoliberal e a globalização. Isto é, com a liberalização intensa dos mercados e com governos com forte viés neoliberal, cujas medidas adotadas buscam liberalizar, desregulamentar, privatizar e terceirizar, há a redução dos obstáculos para a valorização do capital, levando a sua expansão e concentração sem precedentes na história do capitalismo. Os modelos organizacionais e estratégias competitivas adotados se dão em escala mundial e as formas de atuação são mais diversificadas e as operações são cada vez mais complexas. Além disso, o processo crescente de desregulamentação, desintermediação e desbloqueio levou ao surgimento da “macro-estrutura financeira”: massa de recursos que não param de crescer e se 2 Os primeiros países a adotarem políticas neoliberais foram os Estados Unidos e Reino Unido, posteriormente, os países do sul da Europa e em seguida o leste europeu também adotam tais medidas. A inserção da América Latina ocorreu nos anos 90, como condição para retomada do fluxo de capitais na região. 3 O principal objetivo dos governos neoliberais era manter um Estado forte o suficiente para acabar com o poder dos sindicatos e controlar a oferta monetária e um Estado fraco o suficiente para reduzir gastos sociais e intervenções econômicas. De forma geral, a política econômica nos países deveria ter como objetivo central a estabilidade monetária através da disciplina orçamentária e controle dos sindicatos (Martins, 1996, Anderson,1995). movimentar por todas as partes do mundo, buscando sempre a aplicação mais lucrativa4. Belluzzo (1995) destaca que, neste contexto globalizante, as relações são dadas entre instituições ou grandes empresas sem nacionalidade, cujo capital é altamente concentrado e centralizado, o que leva a perda de autonomia do governo e incapacidade de realizar políticas públicas de cunho social. Se a globalização tem o lado positivo de progresso material sem precedentes gerados pela liberdade, o lado negativo abrange diversos setores sociais, espaciais, culturais e políticos, gerados pela desproteção da sociedade. Já que o processo liberalizante e a crescente globalização a partir dos anos 1970 provocaram uma série de mudanças na indústria, no mercado de trabalho, nos valores da sociedade, no papel do Estado e na atuação da grande empresa (Martins, 1996). As implicações sociais abarcam elevadas taxas de desemprego5; o achatamento salarial e o empobrecimento do Estado e o conseqüente enfraquecimento dos sistemas de proteção social. No âmbito espacial, as implicações dizem respeito ao fato de a globalização ser seletiva e polarizadora entre países e regiões gerando profundas desigualdades sociais. No que tange às implicações culturais, cabe enfatizar a progressiva deterioração do ambiente familiar e da nação e a construção de uma sociedade de consumo excessivamente alienada, passiva e despolitizada. Essa mudança radical na sociedade impulsiona o processo de mercantilização de todas as relações sociais, incluindo os bens públicos. Na esfera política, as implicações abrangem o processo de “esvaziamento do Estado”, através da perda de poder, recursos e funções do Estado frente a outros atores da economia e falta de capacidade de controle das finanças públicas; a “obsolescência da democracia”; e desmoronamento dos partidos políticos quanto a capacidade de movimento de massa (Martins, 1996). Martins (1996) defende a ideia de que a globalização leva a destruição das condições que tornam possível o funcionamento do regime democrático, acabando assim com os movimentos de luta por melhoras sociais. Belluzzo (1995) complementa tal visão afirmando que, em decorrência da sobreposição da ética da 4 Martins constata que o lucro financeiro se sobrepõe sobre os demais interesses da sociedade, reproduzindo uma frase do Financial Times que mostra o poder que essa massa de recursos tem tido: “porque lidam todos os dias com bilhões e bilhões de dólares que transitam entre os países , os mercados financeiros passam a ser a política, o juiz e o júri da economia” (Martins, 1996:8). 5 Que carregam um agravante: é um tipo de desemprego estrutural. eficiência em relação à ética da solidariedade, as políticas públicas compensatórias às forças de mercado encontram dificuldade de aceitação nas sociedades, que estão cada vez mais individualistas. As transformações econômicas e políticas no âmbito global trouxeram profundas mudanças no arranjo econômico e institucional-político a partir dos anos 70, tais transformações atingem todas as esferas da sociedade, em menor ou maior grau. Diante disso, o que nos interessa é como Brasil se inseriu nessa conjuntura mutante e deu novo rumo às políticas públicas, tanto no âmbito econômico quanto social. As últimas duas décadas do século XX marcam o Brasil pela estagnação econômica, altas taxas de inflação, inflexão na política macroeconômica e profundas mazelas sociais. Essas mudanças nacionais levaram ao enfraquecimento do Estado, que, no caso da saúde, foi incapaz de garantir a consolidação do SUS e abriu espaço para o fortalecimento do setor privado levando ao processo de mercantilização da saúde nos anos 90. Quando se trata de políticas públicas de cunho social é crucial o destaque do papel do crescimento econômico para a ampliação das possibilidades de garantir melhoras materiais do povo brasileiro, dada sua enorme carência6. A estagnação econômica das décadas de 1980 e 1990 foi o primeiro grande obstáculo para o enfrentamento da questão social no Brasil através de políticas públicas, abrindo espaço para a ampliação do setor privado em certos setores, como é o caso da saúde. Além disso, outro ponto que merece ser ressaltado é a importância do processo de industrialização e a estrutura do mercado de trabalho no que diz respeito à questão social. A estrutura produtiva de determinado país é um condicionante fundamental de seu dinamismo econômico, de seu potencial de desenvolvimento e principalmente da estrutura de distribuição da renda nacional. Outrossim, Furtado e Souza (2001) apontam para a forte correlação entre o desenvolvimento do mercado interno brasileiro de insumos e equipamentos médicohospitalares e o processo de industrialização. 6 O crescimento econômico é destacado por muitos autores como sendo condição necessária, porém não suficiente para a melhora generalizada da situação social de um país. (Fagnani, 2005 e Gimenez 2008) O NOVO ARRANJO INSTITUCIONAL, POLÍTICO E ECONOMICO DOS ANOS 1980 NO BRASIL No caso do Brasil, durante o século XX o país sofreu profundas transformações, principalmente no que diz respeito a sua base econômica que foi radicalmente transformada, se deslocando de uma economia agrário-exportadora para uma economia com seu eixo dinâmico concentrado no denso tecido urbanoindustrial. De 1930 a 1980 o Estado aplicou estratégias desenvolvimentistas, desempenhando papel fundamental nessa evolução que, por meio de ampla intervenção na economia, visava promover a industrialização. Contudo, a trajetória de desenvolvimento e crescimento da economia brasileira se inverteu no período seguinte, fazendo o Brasil experimentar grande redução na taxa de crescimento e altas taxas de inflação (Carneiro, 2002). Em 1980, a crise se revela na crise fiscal, no baixo crescimento estrutural, e principalmente no descontrole inflacionário, que implicou na desarticulação com o padrão de crescimento vigente. Esta década é marcada pela ruptura da articulação financeira com o resto do mundo, extrema fragilidade e vulnerabilidade econômica e endividamento do setor público (Carneiro, 1993). A reabertura do crédito internacional nos anos 90 foi condicionada mediante a adoção de reformas liberais consolidadas no Consenso de Washington. De forma geral, os pontos definidos se baseiam na abertura comercial e financeira, liberalização da conta de capitais, privatizações, e, principalmente, rígido controle do gasto público, que conta com disciplina fiscal, prioridade dos gastos públicos e reforma fiscal7 (Gimenez, 2008). Em 1994, o Plano Real obteve sucesso ao conseguir conter o descontrole inflacionário que persistia desde os anos 808. Contudo, o plano de estabilização e os instrumentos utilizados a partir de 1999 para controlar a instabilidade causaram 7 O controle do gasto público é uma das principais discussões deste trabalho, já que uma das recomendações se baseia nas prioridades de gasto, o que pode ser traduzido por uma mudança radical da cobertura dos bens públicos, de universais para focalizados. 8 Cabe destacar que um dos pilares do Plano real foi o ajuste fiscal, isto é, corte de despesas e redução da rigidez no gasto, através da criação do Fundo Social de Emergência (FSE), que, basicamente, destinava os recursos público vinculados aos gastos sociais à outras esferas do governo. “Este fato é preocupante se consideramos as inúmeras tentativas da área econômica – que têm sido empreendidas desde o final dos anos 80 – para desmontar a base de recursos constitucionalmente vinculados ao financiamento do gasto social” (Fagnani, 2008:2) .Como destaca o artigo, a desvinculação dos recursos permaneceu mudando apenas de nome, hoje é conhecido como DRU (Desvinculação dos recursos da União). impactos e mudanças estruturais na economia brasileira. Neste sentido, Gimenez (2008:28) conclui que: Sem duvida, a agenda de reformas estruturais elaboradas a partir do Consenso de Washington no final dos anos 80 e a ação determinada de organismos internacionais nos anos 90 para a sua implementação são marcas da consolidação da hegemonia liberal na América latina. Essa agenda toda em várias questões sensíveis da situação econômica da região no final dos anos 80, como o estrangulamento externo, os desequilíbrios orçamentários e as dificuldades de concorrer internacionalmente. Entretanto, (...)no caso do Brasil, os resultados econômicos não trouxeram a redenção prometida. Ao invés do crescimento sustentado, sobreveio a estagnação econômica (...). No Brasil, mesmo depois de 1994, quando o governo a partir do Plano Real empenhou-se decididamente na implementação de reformas, os resultados foram bastante insatisfatórios. Após quinze anos de estagnação relativa, os efeitos deletérios das reformas são indisfarçáveis. Em complemento com Gimenez (2008), Fagnani (2005) afirma que a década de 1990 é caracterizada pelos seguintes aspectos: alinhamento passivo do Brasil à estratégia neoliberal de ajuste macroeconômico e de reforma do Estado; o esgotamento do processo de substituição de importações e o início de reformas liberalizantes; o agravamento da crise social resultado do ajuste econômico que levou a desorganização do mercado de trabalho; o agravamento da crise estrutural do setor público, percebida na precarização das finanças públicas; e a reorganização das elites que voltam ao centro do poder. Na esfera institucional-política, as principais mudanças das décadas de 1980 e 1990 estão na crise política e o movimento de redemocratização, consolidação de direitos sociais na Constituição de 1988 e no movimento de “contra-marcha” de cunho neoliberal dos anos 90. Para entender tais movimentos, cabe aqui discutir três momentos específicos da intervenção estatal nas políticas sociais no Brasil definidos por Fagnani (2005). Os rumos tomados pelo Brasil ora se afasta, ora se aproxima do processo de mercantilização das políticas públicas, sendo este o foco da análise. O primeiro momento contempla o período de 1964 a 1984, caracterizado pela estratégia de “modernização conservadora”, cuja condução da estratégia é constituída por quatro características centrais: Caráter regressivo do financiamento do gasto social; Privatização do espaço público; A centralização do processo decisório; Fragmentação institucional (Fagnani, 2005). Tal caracterização explicita que a reforma dos mecanismos estatais levou a modernização institucional, financeira e burocrática ampliando assim o alcance da gestão governamental, o que possibilitou a expansão da oferta de bens e serviços. Porém, tais políticas sociais atenderam, em grande medida, as camadas de média e alta renda explicitando o caráter conservador do período, devido à limitada capacidade de redistribuição de renda, o que acarretou um enormes desigualdades regionais e de renda entre os diferentes segmentos populacionais (Fagnani, 2005). No caso da saúde, o setor privado se fortaleceu neste período principalmente pela forma de financiamento do sistema, Fagnani (2005) destaca a presença de enormes transferências de recursos públicos para o setor privado, impulsionando a expansão capitalista no setor da saúde. Neste sentido, os autores Braga e Silva (2001) definem este período como “capitalização da medicina”9. O segundo momento é o da “transição para a normalidade democrática” entre os anos de 1985 e 1989. Neste período aparecem dois movimentos distintos: a “marcha” e a “contra-marcha”, assim denominados por Fagnani (2005). A principal marca deste período é, sem duvida, a Constituição Federal de 1988, que representou a etapa fundamental do projeto de reformas progressistas. Desde a metade da década de 1970, já é possível observar a intensificação do processo de reorganização política da sociedade civil, de tal forma que na primeira metade da década seguinte um amplo projeto de reforma de caráter nacional, democrático, desenvolvimentista e redistributivo já era desenhado pelas forças oposicionistas. Sobre o movimento de transição democrático, pode-se afirmar que houve um movimento de propostas tanto no que se refere ao desenvolvimento social quanto às reformas das políticas sociais. Neste sentindo Fagnani (2005:164) afirma: (...) a partir de meados dos anos 70, no bojo do processo de reorganização política da sociedade civil, as forças oposicionistas construíram uma extensa agenda política, econômica e social de mudanças. Na primeira metade dos anos 80, já era possível identificar os contornos de um amplo projeto de reforma de cunho nacional, democrático, desenvolvimentista e igualitário. A construção de um efetivo Estado Social, universal, equânime, era um dos cernes desse projeto. Os impulsos e movimentos reformistas de iniciativa do Executivo Federal surgiram, com maior intensidade, em 1985 e 1986. Segundo Fagnani (2005), em 1987 e 1988, o projeto reformista progressista teve como lócus a Assembléia 9 “processo em que o Estado provia e pagava a ampliação da demanda aos serviços médicos e aos produtos industriais vinculados ao setor; financiava os investimentos e contratava os serviços da rede privada, apoiando assim, os empreendimentos capitalistas no setor” (Braga e Silva, 2001:19 e 20). Nacional Constituinte e, após um longo período de discussões e disputas, suas principais bandeiras foram inscritas na Constituição de 1988. Em 1987, tem-se um marco decisivo para a história do sistema de saúde: o fim da segmentação no provimento da assistência médica e a instituição do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), o caminho para a universalização na cobertura aos serviços à saúde. Apesar de encontrar obstáculos, como por exemplo, a resistência do setor privado e luta política, o SUDS foi uma ponte para o SUS, já que tinha como objetivo a universalização, integralidade e superação das desigualdades nos acesso a oferta de ações de saúde (Mesquita, 2008)10. Foi em 1988, com a Constituição Federal que os brasileiros conquistaram o direito universal à saúde, definido no artigo 196: A saúde é direito de todos e dever do estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, CF, 1988). Dessa forma, é responsabilidade do Estado a provisão de assistência à saúde de forma gratuita e universal. Com esta nova Constituição, surge o Sistema Único de Saúde (SUS) que inclui tanto ações de saúde coletiva, quanto de assistência médica e está calcado nos princípios da universalidade na cobertura; integralidade no cuidado; descentralização; e significativa participação social na estruturação do sistema de saúde (Mesquita, 2008). Cabe destacar um aspecto importante: o papel exercido pelo setor privado. O artigo 199 da Constituição Federal afirma: (...) As instituições privadas poderão participar de forma complementar do Sistema Único de Saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos (...) (BRASIL, CF, 1988) Assim, no Brasil, após a Constituição Federal, o setor privado passou a ter papel complementar no sistema de saúde, sendo assim obrigação do Estado garantir assistência à saúde a todos os cidadãos brasileiros. Apesar disso, o setor 10 Como afirma Fagnani (2005:200-206): O desenvolvimento do Suds em 1987 e 1988 tornou praticamente irreversível o caminho de volta e, nesse sentido, pavimentou o caminho do SUS (...) o Suds foi uma ação extremamente ousada na medida em que quebrou a lógica centralizada da gestão burocrática, criando fatos consumados para o avanço da unificação descentralizada e para a sua irreversibilidade. privado, que já se apresentava forte, não deixou de ocupar um significativo espaço no sistema de saúde brasileiro. A fim de diminuir a vulnerabilidade do financiamento, a Constituição de 1988 passa a assegurar fontes especificas de financiamento através da instituição do Orçamento de Seguridade Social (OSS), cujas fontes seriam: faturamento das empresas; lucro líquido das empresas; parcela da receita. Dessa forma, houve uma grande mudança na forma de arrecadação de recursos para o gasto com saúde. Cabe destacar que este movimento progressista reformista da década de 1980 andou junto com uma séria crise econômica, o que implicou em dificuldades para a garantia desses direitos inscritos na Carta de 1988. Porém, Fagnani (2005) destaca que as dificuldades vinham do âmbito político também, já que há um movimento que visava a desestruturação das bases que vinham sendo construídas, no sentido contrário ao movimento descrito a cima. Estas primeiras “contra-marchas”, como é definido pelo autor, ocorreram ainda nos anos de 1987 a 1989, e são dividas em duas frentes relativas: à condução dos rumos da política social proposta, diretamente, por ação do Executivo Federal; e aos movimentos que buscavam impedir a consumação dos novos direitos constitucionais (Fagnani, 2005). Uma fotografia do Brasil no final da década de 1980, no que tange a questão social, mostraria grandes avanços nos direitos, mas uma situação bastante complicada com grandes mazelas sociais e precariedade no acesso aos bens e serviços. Cabe ressaltar também que todo o processo de avanço nos direitos sociais foi marcado por muitas disputas políticas e grandes obstáculos a serem superados. Tendo isso em mente, cabe discutir o último período: 1990 a 2002, em que o movimento de “contra-marcha” ganha força. Neste momento ocorre a implementação de um ciclo de contra-reformas liberais11, marcado pelo movimento de desestruturação do Estado de bem-estar recém implementado. Neste ambiente hostil, a cidadania enfrentará contra reformas e obstáculos em seus primeiros anos de “vida”, implicando em verdadeiros obstáculos ao projeto reformista apresentado no período anterior (Fagnani, 2005). A política social do período é marcada pela desfiguração dos direitos sociais e pela desorganização burocrática, representada pela omissão do governo federal na coordenação do processo de descentralização das políticas sociais e intencional 11 Relacionadas com o Consenso de Washington e com as políticas adotadas com o Plano Real. ampliação do uso da política social como moedas de troca no jogo político e eleitoral (Fagnani, 2005). Ao analisar este último período, o autor afirma que houve extrema incompatibilidade entre a estratégia macroeconômica e de contra reforma do Estado versus as possibilidades efetivas de desenvolvimento e inclusão social, isto é, garantir o acesso aos bens e serviços definidos na Constituição. Este antagonismo acarretou no aumento da crise social e redução das bases de financeiras e institucionais das políticas sociais, dada a completa desorganização das finanças públicas. O estreitamento das possibilidades de financiamento do gasto social é um dos principais indutores da contra-marcha liberal, como mostra o autor: (...) a manutenção da estabilidade e a retomada do crescimento econômico, consideradas no discurso oficial (Brasil, 1996) como “condições necessárias” para a promoção do bem-estar social, mostraram-se implicitamente incompatíveis com o programa de ajuste macroeconômico adotado. Além disso, em curtíssimo espaço de tempo, num contexto de agravamento da exclusão social, a despeito do aumento da carga tributária, as finanças públicas desorganizaram-se profundamente, restringindo os raios de ação do estado, em geral; e das políticas sociais, em particular. Em conjunto, essas medidas tiveram implicações decisivas sobre os rumos das políticas sociais (Fagnani, 2005:442). Braga e Silva (2001) apresentam o mesmo raciocínio, concordando assim com o argumento de Fagnani (2005), de que a política econômica adotada é incompatível com o desenvolvimento de políticas sociais que assegurem a qualidade de vida dos brasileiros: A política econômica brasileira da estabilidade de preços e as reformas liberalizantes e desreguladoras/ desregulamentadoras não deixam espaço para uma política social vigorosa porque lhe nega base fiscal, estabilidade de financiamento, remuneração adequada aos serviços públicos, manutenção, investimento e inovação nos aparatos políticos, por um lado, ao passo que, por tantos outros lados, deteriora a situação social, tomando a demanda por serviços públicos amplíssima, instável. Assim, a política econômica precariza as condições de oferta pública de serviços e, ao mesmo tempo, ao deteriorar as condições de vida faz crescer velozmente a demanda por estes serviços (Braga e Silva, 2001:20 e 21). Outro aspecto de suma importância, destacado por Fagnani (2005) é a desorganização do trabalho, como principal face da exclusão social. A precária situação do mercado de trabalho na década de 1990 é resultado de um conjunto de três elementos: estagnação econômica (em toda a década de 1980 e agravada pelo Plano Real); processo de reestruturação produtiva (como por exemplo, a modernização tecnológica e a terceirização); e as políticas neoliberais de flexibilização e desregulamentação do trabalho. A importância da análise do mercado de trabalho se dá na incapacidade de financiamento das políticas sociais, minando com a capacidade de intervenção estatal. Fagnani (2005) frisa que a estagnação econômica e a desorganização do mercado de trabalho são dois aspectos importantes que explicam o estreitamento das possibilidades de financiamento do gasto social. Além disso, a política econômica adotada neste período levou ao estreitamento do espaço do gasto social no âmbito do orçamento federal, principalmente por causa do endividamento público e da pressão do pagamento de juros e amortizações financeiras. No caso da saúde, houve uma melhora pela progressiva reestruturação dos mecanismos institucionais e de gestão dessas políticas nacionais. As políticas adotadas foram de reorganização do processo de descentralização da ação estatal e de ampliação do seu papel na condução e coordenação em plano nacional. O principal resultado desta política foi o esboço de um arranjo institucional que determina responsabilidades compartilhadas entre as três esferas de governo em busca da descentralização12. De forma geral, o financiamento que iria para saúde foi fundamental na realização das metas de política monetária restritiva do período, não respondendo às necessidades da implantação de um sistema de saúde universal. Em linhas gerais, a Constituição Federal de 1988 consolida o movimento em busca de um sistema de saúde baseado na universalização do direito à atenção médica, na oferta majoritariamente pública dos serviços13 e no financiamento baseado em tributos. Estudos realizados na década de 1980 afirmavam que consolidando tal movimento seria possível reverter a precária situação do período anterior, marcado pela capitalização da medicina. Porém, ao contrário da tendência representada pela Carta de 1988, o setor da saúde é marcado pelos processos de: mercantilização da saúde, a descentralização da atenção pública em direção à municipalização; a internacionalização da oferta de produtos médico-industriais; e o esgarçamento dos mecanismos de financiamento público e o atraso na regulação do setor privado (Braga e Silva, 2001). 12 O autor enfatiza que, ainda que havendo avanços, estes sequer chegaram perto de equacionar o problema. 13 Em que o setor privado entra de forma complementar. O PROCESSO DE MERCANTILIZAÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL Dentre os processos, descritos acima, se destaca a mercantilização da saúde nos anos 90, definido pelos autores como: Processo pelo qual a atenção médica passa a ser plenamente uma mercadoria ‘como outra qualquer’ submetida às regras de produção, financiamento e distribuição de tipo capitalista. É a fase que, no Brasil, se segue à capitalização da medicina antes mencionada (Braga e Silva, 2001:20). Neste processo, o setor privado é capaz de criar mecanismos de financiamento autônomo, principalmente através dos seguros-saúde, com uma base própria de acumulação e expansão da produção de serviços. A principal característica desse processo é o fato de o cidadão se transformar em consumidor, buscando, assim, serviços no mercado e não mais no setor público, dada a perda de controle do processo via Estado, que fica responsável apenas por regular e fiscalizar as práticas do setor privado14 (Braga e Silva, 2001). No caso da saúde, a construção do SUS tem papel importante nesta discussão. Seja pela forma universal com a qual se consolidou, seja pelas imensas fragilidades e desafios que ainda são presentes nesse setor. Além disso, Dedecca et al (2001) apontam para a importância de políticas públicas de saúde no que diz respeito a geração de mais empregos, pois, segundo os autores, a saúde é um segmento que demanda uma mão-de-obra com um nível educacional elevado, de tal forma que as políticas tem um duplo impacto sobre o bem-estar social: no atendimento á saúde e na geração de postos qualificados. Porém, deve-se ter em mente que a mercantilização da saúde vem através do fortalecimento de distintas instituições mercantis de oferta de bens e serviços à saúde frente à fragilização do setor público. Como afirma Bahia (2001:329): “O início dos anos 90 tem como uma de suas marcas a deterioração dos serviços públicos de saúde, incluído os credenciados ao SUS e a expansão das demandas à assistência médica suplementar”. Foi nos anos 80 que as atuais características do mercado de planos e seguros de saúde foram consolidadas, principalmente pela ampliação da 14 Bahia (2001) aponta para o fato de que a ampliação da oferta de bens e serviços à saúde pelo setor privado, na década de 1990, implicou na necessidade de regulação do setor o que levou ao surgimento de iniciativas voltadas á elaboração de um ordenamento jurídico-legal para a assistência médica privada. Esse movimento rumo á regulação do sistema é um dos sintomas de que realmente há um processo intenso de mercantilização da saúde. disponibilidade de serviços privados, decorrente do surgimento de novas demandas. Essas mudanças tiveram impactos evidentes nas camadas médias da população, que passaram a ter seu consumo de serviços de saúde, em grande parte, pautados pela empresas de assistência médica suplementar (privada) (Bahia, 2001). Com o Plano Real, o inicio dos anos 90 é marcado pelo aumento das demandas para planos e seguros-saúde com a inclusão de novos segmentos de trabalhadores15. Após tantas transformações econômicas e políticas na economia brasileira ao longo do século XX, tem-se no Brasil um sistema de saúde bastante complexo. A indústria da saúde, composta pela indústria farmacêutica e a indústria de equipamentos médicos e hospitalares, oferece os insumos para a oferta de bens e serviços à saúde aos brasileiros. A oferta de bens e serviços á saúde se dá na esfera pública, através do SUS financiado pelas três esferas de governo, e na esfera privada, através de três segmentos: privado contratado pelo público; médico assistencial (conhecido como “particular”); e a saúde suplementar, dividida em autogestão, medicina de grupo, cooperativas médicas e seguradoras. A questão da mercantilização da saúde envolve uma questão de suma importância que é a desigualdade entre as regiões brasileiras. Como já foi ressaltado, não há critérios e parâmetros para definir a participação dos governos subnacionais de tal forma que o gasto público, principalmente do ponto de vista dos estados e municípios, seja substantivamente desigual entre as diferentes regiões do país16, devido às diferentes capacidades de arrecadação (Piola e Biasoto Jr., 2001). Um agravante dessa situação, apontada por Piola e Biasoto Jr. (2001), é o fato de a maior parte da população que depende exclusivamente do SUS está localizada nas regiões em que a capacidade de arrecadação é menor: Norte e Nordeste. Enquanto que regiões com maiores gastos públicos em saúde são aquelas que parcela significativa da população tem acesso à saúde ofertada pelo setor privado. A questão da desigualdade de acesso aos serviços de saúde no Brasil também é ressaltada por Reis (2001:579): Diminuir as desigualdades na utilização dos serviços de saúde é um dos princípios básicos para a construção de um sistema socialmente mais justo. Ainda que alguns progressos tenham sido realizados nesse campo, persistem no Brasil grandes 15 Principalmente, os trabalhadores de menor renda. A diferença de gastos per capita via governo federal chega a R$ 20,10, enquanto que via governos estaduais chega até R$ 92,60. (Piola e Biasoto Jr, 2001:229) 16 desigualdades de utilização de serviços, seja entre regiões seja entre segmentos sociais. As fragilidades e extensos problemas encontrados no SUS são evidentes no Brasil inteiro, porém, as dificuldades de financiamento, em conjunto com a expansão da mercantilização da saúde nas regiões mais ricas, evidenciam as profundas desigualdades decorrentes do complexo da saúde brasileiro. Todos os pontos destacados nesta análise, desde o avanço do neoliberalismo no mundo, as características e implicações da globalização, a inserção do Brasil nesta conjuntura mutante, a inflexão na política macroeconômica, a consolidação dos direitos na Constituição Federal de 1988 e, por conseguinte, o novo arranjo político-institucional, implicou, em maior ou menor grau, no processo de mercantilização das políticas públicas no Brasil. Porém Braga e Silva (2001) afirmam que, no Brasil, é desaconselhável o processo de mercantilização da saúde. Os autores destacam o fato de o Brasil ser um país subdesenvolvido, marcado por mazelas sociais de diversas formas e profundas desigualdades, o que não comporta tal processo. 17 Na condição de um país capitalista periférico , o Brasil tem na qualidade da política pública de saúde uma condição sine qua non para a superação de certas marcas do subdesenvolvimento (...). A condição subdesenvolvida, portanto, desaconselha, com sobras de razão, a conivência pública com a mercantilização da saúde (Braga e Silva, 2011:22). O futuro da política de saúde no Brasil e do SUS estão diretamente associados à capacidade da sociedade brasileira, em particular as forças sociais e políticas organizadas, de perseguir a defesa do sistema de saúde pública, sem se render à falsa expectativa de que a questão encontre uma solução de mercado. A saúde é um bem social, e assim deve continuar sendo tratado. 17 “Três elementos caracterizam a periferia subdesenvolvida: a natureza dinamicamente dependente do sistema produtivo; a fragilidade monetária e financeira externa; a subordinação político-militar”, de acordo com Cardoso de Mello (1997). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON. Perry (1995). Balanço do neoliberalismo. In: Emir Sader e Pablo Gentili (org.) Pós-neoliberalismo. São Paulo: Paz e Terra. BAHIA, Ligia. O mercado de planos e seguros de saúde no Brasil: tendências pósdesregulamentação. In: NEGRI, Barjas e DI GIOVANNI, Geraldo (Org.) Brasil Radiografia da Saúde. Campinas, SP: UNICAMP/ IE/ NEPP. 2001. BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello, O declínio de Bretton Woods e a emergência dos mercados “globalizados”, Economia e Sociedade, Campinas, (4): 11-20, jun, 1995. BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello. Valor e Capitalismo. Campinas. Instituto de Economia Unicamp, 1998. BRAGA, José Carlos de Souza e SILVA, Pedro Luiz Barros. 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