PREVENÇÃO E CUIDADO DO PÉ DIABÉTICO: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA, SOB A VISÃO DA ENFERMAGEM PREVENTION AND CARE OF THE DIABETIC FOOT: A MATTER OF PUBLIC HEALTH UNDER THE VISION OF NURSING PREVENCIÓN Y ATENCIÓN DE PIE DIABÉTICO: UNA CUESTIÓN DE SALUD PÚBLICA BAJO LA VISIÓN DE ENFERMERÍA Suélen Hubner Romualdo; Tatiane Lima De Souza Vasconcelos1; 2Ms. Flávia dos Santos Lugão de Souza Resumo Objetivo: Objetivamos com o estudo descrever as principais formas de cuidado de enfermagem ao pé diabético. Após estágios curriculares, foi observado que é elevado o número de amputações decorrentes da DM inadequadamente tratada ou não tratada. Métodos: O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica de caráter qualitativo, descritivo e exploratório. Conclusão: A atuação do enfermeiro é de extrema importância para a prevenção e tratamento do pé diabético, trazendo qualidade de vida para os pacientes e seus familiares. Descritores:Diabetes; pé diabético; saúde pública; enfermagem. Abstract Objective:We aimed to study describe the main forms of nursing care to the diabetic foot. After internships, it was observed that a high number of amputations resulting from DM inadequately treated or untreated. Methods: This study deals with a literature review of qualitative, descriptive and exploratory. Conclusion: The role of nurses is of utmost importance for the prevention and treatment of diabetic foot, bringing quality of life for patients and their families. Descriptors:Diabetes; diabetic foot; public health; nursing. Resumen Objetivo: El objetivofueestudiardescribir las principalesformas de atención de enfermeira en el pie diabético. Después de pasantías, se observó que un alto número de amputacionesresultantes de DM inadecuadamentetratada o sin tratar. Métodos: Este estúdio trata de unarevisión de la literatura de cualitativo, descriptivo y exploratorio. Conclusión: El papel de las enfermeras es de sumaimportancia para la prevención y el tratamento del pie diabético, con lo que la calidad de vida de lospacientes y susfamilias. Palabras clave:Diabetes: pie diabético; saludpública; enfermería. INTRODUÇÃO 1 Alunas do Curso de Enfermagem da Faculdade do Furturo. Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade do Futuro. Endereço de Correspondência :“ Rua Duarte Peixoto, nº 295, Bairro Coqueiro/Manhuaçu-MG 36900.000 E-mail:. [email protected] 2 134 O impacto do desenvolvimento Segundo Hirota (2008), as tecnológico e o aumento da expectativa de ulcerações diabéticas ou Pé Diabético como vida da população vêm expondo os pode ser descrito, representa um conjunto indivíduos a fatores de riscos agravantes de alterações ocorridas no pé do portador de para DM decorrentes de neuropatias, micro e o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), das macro vascularização e aumento da quais o Diabetes Mellitus (DM) e a susceptibilidade a infecção, devido a hipertensão arterial, tem nos direcionado a alterações que levam a deformidades e um dos maiores problemas de saúde pública lesões, sendo que a amputação do membro mundial. é a sequência desses eventos. Maus hábitos e condições de vida O Pé Diabético representa um como sedentarismo, obesidade, tabagismo, sério problema de saúde pública devido ao alimentação inadequada e alcoolismo, são impacto socioeconômico do tratamento, alguns dos fatores predisponentes para o levando aumento dos índices de Diabetes Mellitus prolongadas e recorrentes, incapacitações na atualidade (BRASIL, 2006). físicas e sociais como perda de emprego ou o portador a internações O diabetes constitui um grupo de limitação no seu desempenho profissional doenças metabólicas caracterizadas por acarretando na aposentadoria precoce. hiperglicemia, a qual pode resultar em Além disso, esta complicação repercute na defeitos na ação e /ou secreção de insulina vida do paciente, afetando sua qualidade de envolvendo vida, perda da autoestima e mortalidade processos patogênicos específicos, por exemplo, destruição das prematura (COELHO, 2009). células beta do pâncreas, resistência à ação A enfermagem, enquanto profissão da insulina, distúrbios da secreção de pautada no cuidar, torna-se indispensável insulina, entre outros (BRASIL, 2006). no atendimento a portadores de DM e suas As complicações DM complicações, pois o profissional atua apresentam alta taxa de morbimortalidade e prestando cuidados diretos e indiretos ao acarretam para o país altos gastos para o paciente portador da patologia, e com seus atendimento conhecimentos técnicos e científicos, além aos principalmente, ulcerações seus quando diabéticas do portadores, se em trata de membros inferiores, uma das mais graves e onerosas complicações da doença. da paixão pela profissão intervém positivamente na progressão do tratamento (SILVA, 2007). O enfermeiro é responsável por colher o histórico do cliente portador de 135 DM, identificar e Cabe, portanto, à equipe de saúde, comorbidades, avaliar e realizar exame em especial ao profissional enfermeiro, físico dos pés, de modo a prevenir o Pé intervir Diabético, para diabéticos realizando orientações sobre os em serviços cuidados diários com os pés e a prevenção quando necessário do aparecimento das úlceras. A fim de e fatores de risco encaminhar acompanhamento especializados, (BRASIL, 2006). assistência aos pacientes identificar os pacientes em risco de A enfermagem atua ainda na identificação na de lesões, avaliação desenvolver lesões em membros inferiores, e o tratamento adequado das úlceras ou tratamento por meio da escolha do melhor incisão de amputação e orientação quanto à agente tópico para a realização do curativo. importância de seguir o tratamento com Além de orientar o cliente e sua família foco na mudança de hábitos de vida. sobre mudanças de hábitos de vida que Além disso, é de responsabilidade devem ser seguidos a fim de prevenir do enfermeiro desenvolver estratégias que complicações, e fornecer suporte emocional auxiliem a adesão do paciente diabético ao aos mesmos. tratamento, realizar atividades educativas Após curriculares passarmos em por diversos estágios setores de individuais e em grupo de promoção a saúde, solicitar consultas e exames com o assistência à saúde pública, percebemos que médico a demanda de pacientes que desenvolvem principalmente para os indivíduos que não complicações DM seguem corretamente as orientações do inadequadamente tratada ou não tratada é tratamento e são de difícil controle elevada. (BRASIL, 2006). decorrentes da As lesões em membros inferiores, denominadas Pé aproximadamente Diabético 15% dos sempre que necessário, Diante do exposto, o presente afetam estudo foi elaborado com o intuito de pacientes auxiliarmos tanto a equipe de saúde quanto diabéticos no decorrer de sua vida, e os que pacientes desenvolvem esta complicação podem identificação, prevenção e cuidado com os evoluir para amputação do membro caso pés em risco. Evitando assim, o surgimento não haja intervenção da equipe de saúde, a de lesões, o aumento de amputações, a educação e conscientização do paciente e elevação da morbimortalidade e o fracasso eus terapêutico. familiares (FERIDAS INCRIVELMENTE FACIL, 2005). portadores de DM na Uma vez, que através da consulta de enfermagem, o enfermeiro consegue 136 implementar ações que minimizem as percepção e descrição das informações complicações, aumente o conhecimento dos obtidas. diabéticos em relação ao autocuidado e a adesão ao tratamento. Segundo pesquisas Consequentemente, diminui Oliveira descritivas (2005), as permitem o a desenvolvimento de uma análise para a ocorrência de amputações que, de acordo identificação de fenômenos, explicação das com trabalhos científicos “até 50% das relações de causa e efeitos dos fenômenos. amputações não traumáticas são passíveis E as pesquisas exploratórias têm de prevenção com cuidado adequado” como (BRUNNER &SUDDART, 2005). familiaridade com o problema, com vistas a Como objetivo principal dos nosso propósito ocasionar maior torná-lo explícito (GIL, 2008). estudo temos descrever as principais formas Foi realizado um levantamento de cuidado de enfermagem ao Pé Diabético. sobre o assunto de interesse através da E para os objetivos específicos temos busca de literatura científica à qual se teve descrever as principais características da acesso pelas bases eletrônicas SciELO e Diabetes Mellitus e sua influência no Pé Google Acadêmico e também busca manual Diabético; descrever os principais impactos na biblioteca Prof.ª Ivonne Ribeiro de do Pé Diabético na Saúde Pública e elaborar Almeida cuidados de Enfermagem para o paciente Manhuaçu-MG. da Faculdade do Futuro- portador de Diabetes Mellitus complicada pelo Pé Diabético. Para a inclusão de artigos na revisão de literatura foram estabelecidos os 2 MÉTODO seguintes critérios: artigos de revistas e A metodologia que orienta o desenvolvimento fundamenta-se qualitativa, de em capítulos de livros publicados em desta pesquisa português; num coorte temporal entre 2005 uma abordagem a 2015 que possuíam maior afinidade com o caráter descritivo e exploratório. A Pesquisa Qualitativa “tem por objetivo primordial a descrição das tema ou continham os descritores: diabetes, Pé Diabético, saúde pública, enfermagem. Também foram utilizados alguns características de determinada população ou conceitos fenômeno com a finalidade de identificar Internacional Sobre Pé Diabético de 2001, possíveis relações entre as variáveis” (GIL, que ainda são usados atualmente, devido 2008). Não haverá interferência por nossa sua importância. parte, apenas análise, retirados do Consenso observação, 137 Foram utilizadas 22 produções O Diabetes Mellitus (DM) é científicas, sendo que 05 artigos foram atualmente considerado epidemia mundial, retirados do SciELO, 02 artigos do Google uma das principais doenças crônicas e de Acadêmico, 04 manuais do Ministério da maior incidência na população. Um grande Saúde, 06 livros do acervo da biblioteca da desafio para o sistema público de saúde é o faculdade, 01 manual e dados do site da diagnóstico precoce, pois ainda hoje grande Sociedade Brasileira de Diabetes, e 01 parte dos portadores desconhecem a doença Resolução do COFEN. e só serão identificados para tratamento Foi realizada uma leitura dinâmica nos artigos, capítulos de livros e manuais do Ministério da Saúde, verificando quando alguma complicação relacionada a ela. a viabilidade e, articulando os conhecimentos houver De acordo com o Ministério da Saúde (2006), o DM é definido como: abordados em todos os estudos analisados. Após, foram elaborados os objetivos para nortear o estudo. O desenvolvimento foi construído a partir das informações obtidas através dos estudos, o que proporcionou um relato do [...] um quadro de hiperglicemia crônica, acompanhado de alterações no metabolismo de proteínas, carboidratos e gorduras. Pode causar o desenvolvimento de defeitos na secreção e/ou ação da insulina pelas células beta pancreáticas, e a cronicidade de seus efeitos no organismo do indivíduo levam dano ou falência de órgãos como os rins, olhos, coração, nervos e vasos sanguíneos. DM, pautando o conceito, a epidemiologia, o tratamento e a prevenção, constituindo Segundo a Sociedade Brasileira de uma introdução para o assunto principal, o Diabetes (2014), o DM não é uma única Pé Diabético. doença, mas um grupo heterogêneo de Neste foi abordado a definição, a distúrbios metabólicos que apresenta em estatística, a importância da avaliação dos comum a hiperglicemia, a qual é o resultado pés pelo enfermeiro, a classificação, a de defeitos na ação da insulina, na secreção prevenção, o tratamento e os cuidados de de insulina ou em ambas. enfermagem. Por fim, chegamos à conclusão, Hoje, no Brasil, há mais de 13 sintetizando as informações obtidas com a milhões de pessoas vivendo com diabetes, o pesquisa de revisão literária. que representa 6,9% da população, e esse número está crescendo. Em alguns casos, o 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES diagnóstico aparecimento 3.1 Conceito do Diabetes Mellitus demora, de favorecendo complicações o (SBD, 2015). 138 gravidez, de intensidade variada e que 3.2 Classificação do Diabetes Mellitus geralmente volta ao normal logo após o Conforme a Sociedade Brasileira parto. Outros de Diabetes (2014), a classificação atual do tipos específicos de DM baseia-se na etiologia da doença e não Diabetes Mellitus são as formas menos no tipo de tratamento, sendo proposta pela comum da doença cujos defeitos ou OMS (Organização Mundial da Saúde) e processos ADA (Associação Americana de Diabetes) identificados (SBD, 2014). as seguintes classificações: causadores podem ser Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1), Diabetes Mellitus 3.3 Prevenção do Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), Diabetes Mellitus Gestacional A prevenção continua sendo a e outros tipos específicos de Diabetes melhor e mais eficaz medida de se impedir Mellitus. o surgimento de patologias evitáveis. O DM1 é o resultado da destruição das células com através do rastreamento de pessoas com de maior predisposição em desenvolver a insulina, presente em cerca de 5% a 10% doença e implementar medidas que possam dos casos de DM. Ocorre de forma rápida e prevenir ou retardar o seu desenvolvimento, progressiva, principalmente em crianças e tais como redução e manutenção do peso adolescentes, de forma mais lenta em corporal, restrição energética moderada, adultos, e deve ser administrada insulina intervenções para prevenção da cetoacidose. regular de atividades físicas. consequente O beta pancreáticas Diante do exposto, pode-se prevenir o DM deficiência DM2 é absoluta caracterizado farmacológicas e pratica por As complicações decorrentes da defeitos na ação e secreção da insulina, patologia já instalada, também podem ser pode ocorrer em qualquer idade, mas evitadas através de um acompanhamento da geralmente aparece após os 40anos. Os equipe de saúde, em especial o enfermeiro, pacientes não necessariamente precisam uma vez que é o profissional que possui utilizar insulina exógena para sobreviver, grande mas podem precisar em algum momento do para lidar com o problema e possui contato tratamento para obter o controle metabólico direto adequado. positivamente na assistência aos mesmos. O Diabetes Mellitus Gestacional é a hiperglicemia diagnosticada durante a conhecimento com o técnico-cientifico paciente, intervindo Segundo o Ministério da Saúde (2013), é de competência do enfermeiro: 139 [...] realizar consulta de enfermagem para pessoas com maior risco para desenvolver DM tipo 2, abordando fatores de risco, estratificação do risco cardiovascular e orientação sobre mudanças de estilo de vida. A consulta de enfermagem tem o objetivo de conhecer a história pregressa do paciente, seu contexto social e econômico, grau de escolaridade, avaliar o potencial para o autocuidado e avaliar as condições de saúde. tratamento medicamentoso mais utilizado A assistência de enfermagem para Existem hoje vários tipos de insulina a pessoa com DM necessita estar voltada disponíveis para o tratamento de diabetes e para um processo de educação em saúde que elas se diferenciam pelo tempo em que auxilie o indivíduo a conviver melhor com ficam ativas no corpo, pelo tempo que a sua condição crônica, que reforce sua levam para começar a agir e de acordo com percepção de riscos à saúde e desenvolva a situação do dia em que elas são mais habilidades para superar os problemas, eficientes. quando algumas mudanças nos hábitos de vida (alimentação adequada, perda de peso, prática regular de atividade física) já não controlam mais os níveis glicêmicos no organismo (BRASIL, 2007). mantendo a maior autonomia possível e tornando-se corresponsável pelo seu A insulina humana (NPH e Regular) utilizada no tratamento de diabetes cuidado (BRASIL, 2013). atualmente é desenvolvida em laboratório, a 3.4 Tratamento do Diabetes Mellitus partir da tecnologia de DNA recombinante. A escolha do melhor tratamento A insulina chamada de ‘regular’ é idêntica varia da condição geral do paciente, à humana na sua estrutura. Já a NPH é gravidade da doença, idade, outras doenças associada a duas substâncias (protamina e associadas, além autocuidado do da capacidade de zinco) que promovem um efeito mais paciente. O prolongado (SBD,2015). acompanhamento da glicemia de jejum e pós-prandial dos pacientes é fundamental no tratamento, parte visando observar com frequência a necessidade de aumentar a dosagem medicamentosa ou acrescentar outros para controle da doença. As insulinas e os medicamentos antidiabéticos orais como Sulfoniluréias, Nateglinida, Metformina, Tiazolidinedionas fazem 3.5 Complicações do Diabetes Mellitus Acarbose e parte do As complicações agudas e crônicas do diabetes causam alta morbimortalidade, internações longas e reabilitação prolongada, acarretando altos custos para os sistemas de saúde (BRASIL, 2013). A enfermagem, a equipe de saúde e o paciente diabético devem atuar juntos de modo a evitar as complicações decorrentes 140 do DM. Dentre as principais destacam-se as aos de forma aguda da doença: cetoacidose, (BRASIL, 2006). síndrome hiperosmolar Não-Cetótica e a RETINOPATIA DIABÉTICA: A forma hipoglicemia; de forma crônica: doença proliferativa cardiovascular, diabética, frequentemente com a perda visual grave, neuropatia diabética e a complicação de devido a eventos oculares potencialmente maior acometimento na população diabética causadores o pé diabético. Geralmente não apresenta sintomas até que CETOACIDOSE: É a condição que pode a doença atinja seus estágios avançados levar o paciente ao coma potencialmente (BRASIL, 2006). letal, ela ocorre devido a alguns fatores NEUROPATIA DIABÉTICA: Síndrome como DM, que afeta o sistema nervoso periférico suspensão da insulinoterapia, distúrbio sensitivo, motor e autonômico, de forma psicológico do paciente, infecção mal isolada ou difusa, nos segmentos proximal tratada medicações ou distal, de instalação aguda ou crônica, de ocorre caráter reversível ou irreversível (BRASIL, retinopatia controle e inadequado uso hiperglicemiantes, de ela do demais pacientes se de sem relaciona cegueira diabetes mais irreversível. principalmente no DM tipo 1(BRASIL, 2006). 2006). PÉ DIABÉTICO: Complicação de maior HIPOGLICEMIA: É a diminuição dos impacto na população diabética será níveis glicêmicos – com ou sem sintomas – detalhadamente para valores abaixo de 60 a 70 mg/dl capítulo. tratada no próximo (BRASIL, 2006). SÍNDROME HIPEROSMOLAR NÃO- 3.6 Pé diabético CETÓTICA: É um estado de hiperglicemia O Pé Diabético representa uma das grave (> 600 a 800 mg/dl), desidratação e mais sérias e incapacitantes complicações alteração do estado mental e ocorre apenas crônicas decorrentes do mau controle do no diabetes tipo 2. Geralmente ela é DM, devido ao crescente número de casos assintomática (BRASIL, 2006). que evoluem para amputações de membros DOENÇA CARDIOVASCULAR: inferiores, sendo caracterizado pela OMS Complicação de maior morbimortalidade. como infecção, ulceração e ou destruição As doenças isquêmicas cardiovasculares dos tecidos profundos do pé associadas a são mais frequentes e precoces em anormalidades neurológicas e vários graus indivíduos com diabetes, comparativamente de doença vascular periférica nos membros 141 inferiores (CONSENSO INTERNACIONAL, 2001). portadores de diabetes (BRUNNER&SUDDART, 2005). As lesões do pé diabético resultam Segundo a Sociedade Brasileira de da combinação de dois ou mais fatores de Diabetes (2014), a incidência cumulativa de risco que atuam simultaneamente e podem ulceração ao longo da vida entre pacientes ser desencadeados, tanto por traumas com DM é estimada em 25%, ressaltando- intrínsecos como extrínsecos associados à se que 85% das úlceras precedem as neuropatia periférica, a doença vascular e ao amputações. O aspecto mutilador da imunocomprometimento. complicação é um problema de saúde De acordo com Brunner & Suddart relevante pelo impacto socioeconômico (2005), a neuropatia periférica acarreta ao global resultante: a cada minuto, ocorrem paciente elevada diminuição da sensação a duas amputações em todo o mundo estímulos dolorosos e pressionamento decorrentes do DM, conforme cálculo resultando em atrofia muscular do pé, atualizado recentemente pelo International alterando o seu formato normal. A doença Working vascular Foot(IWGDF), em 2011. periférica leva ao Groupon the Diabetic comprometimento no fluxo sanguíneo dos A neuropatia diabética é um dos membros, comprometendo a circulação e fatores predisponentes mais comuns para o cicatrização de feridas existentes no local. E Pé Diabético. Já a infecção raramente é o a causa direta de uma úlcera, no entanto, uma hiperglicemia, leva a deformidades nos vez que a úlcera tenha se complicado por leucócitos uma infecção, o risco de uma amputação imunocomprometimento, especializados como em eliminar bactérias patológicas, isto significa que o subsequente organismo do paciente diabético tratado INTERNACIONAL, 2001). inadequadamente tem uma queda na resistência a determinadas infecções. é maior (CONSENSO Os fatores de risco para o desenvolvimento do Pé Diabético estão relacionados aos antecedentes de úlceras e Embora sejam muitas e amputações não traumáticas nos pés, dispendiosas as complicações que afetam os educação terapêutica indivíduos com diabetes, os problemas com descontrole metabólico, obesidade, idade, os pés representam a maior parte, sendo que sexo, tempo de evolução do diabetes, aproximadamente 50 a 75% de todas as dificuldade de acesso ao sistema de saúde, amputações de extremidades inferiores não neuropatia com diminuição de sensibilidade traumáticas são realizadas em pacientes e deformidades, calosidades, deficiente, uso de 142 calçados inadequados, tabagismo, dentre regular, outros (BRASIL, 2006). atividades educativas, visando melhorar o Segundo Gross e Nehme (1999 apud GUIMARÃES, 2011), [...] dentre as bem como desenvolverem autocuidado, principalmente a manutenção de um bom controle glicêmico. complicações do diabetes, a amputação tem Nesse contexto, a avaliação do Pé sido motivo importante de internações em Diabético pelo enfermeiro durante a idosos diabéticos. Dados epidemiológicos consulta de enfermagem, constitui um brasileiros indicam que as amputações de valioso instrumento para identificação, membros inferiores ocorrem 100 vezes classificação e implementação de cuidados mais frequentemente em pacientes com ao portador de DM com risco em DM. desenvolver úlceras nos membros De acordo com Tavares, et al. inferiores. Essa avaliação inclui anamnese (2009 apud DANTAS et al, 2013), a completa, inspeção e exame físico dos pés, incidência de amputações relacionadas ao e de acordo com recomendações do diabetes atinge 6-8/1000 diabético/ano. No Consenso Internacional Sobre Pé Diabético, Brasil, estima-se que ocorram 40.000 todos os pacientes portadores de DM, amputações/ano em sujeitos diabéticos. deverão ser avaliados pelo menos uma vez Sabendo-se ainda que 50% das amputações ao ano e aqueles que possuem alto risco, não traumáticas de extremidades inferiores devem ser avaliados periodicamente a cada são atribuídas ao diabetes e o risco de 1 a 6 meses, a fim de identificar os fatores amputação é 15 vezes maior do que na que população geral. posteriormente possíveis amputações. O enfermeiro participa ativamente dos processos saúde/doença de uma possam desencadear úlceras e A anamnese completa do paciente deve incluir, além de toda história coletada população, sendo o profissional responsável normalmente, pela educação, gênero: data aproximada do início do DM; avaliação e planejamento de estratégias de medidas terapêuticas; medicação utilizada; cuidado visando melhorar a qualidade de tabagismo vida de seus pacientes. principalmente reações cutâneas; o tipo e prevenção, promoção, Ochoa-Vigo e algumas e perguntas alcoolismo; do alergias, Pace(2005), características de qualquer dor associada; revelam que estudos vêm ressaltando a lesões anteriores; ocorrência de cãibra, necessidade de os profissionais de saúde calosidades ou alguma alteração nos pés ou avaliarem os pés das pessoas com diabetes nas unhas, dificuldade de marcha ou no de forma minuciosa e com frequência equilíbrio; característica do calçado 143 utilizado; data de início de lesões atuais; se estabelecer antes do surgimento de desde eventuais sintomas. a última consulta (FERIDAS INCRIVELMENTE FÁCIL, 2005). Na avaliação do Pé Diabético, o De acordo com o Ministério da enfermeiro também pode utilizar vários Saúde (2013), o exame físico deve ser instrumentos, tais como o monofilamento dividido em quatro etapas que podem ser Semmes-Weistein (SW), o diapasão de 128 descritas da seguinte forma: Hertz, percepção de picada e/ou reflexo AVALIAÇÃO DA PELE: A inspeção da aquileu, avaliação vascular periférica e a pele deve ser ampla, incluindo observação palpação de pulsos, pois auxiliam na dos pés e corte das unhas, pesquisando-se a identificação da sensibilidade protetora. presença de bolhas, ulceração ou áreas de eritema; Recomenda-se que sejam utilizados, pelo menos, dois destes testes para avaliar a perda da sensibilidade AVALIAÇÃOMUSCULOESQUELÉTICA: protetora (PSP). Um ou dois testes anormais Inclui eventuais sugerem PSP, enquanto pelo menos dois deformidades, as mais comuns aumentam testes normais descartam a PSP. Em todos as pressões plantares, causam ruptura da os testes, devem-se aplicar, no mínimo, três pele da repetições, intercalada com uma aplicação articulação metarsofalangeana com flexão falsa. Um teste normal é quando o paciente das interfalangeanas (dedo em garra) ou afirma que sente, no mínimo, duas das três extensão da interfalangeana distal (dedo em repetições (BRASIL, 2013). a e inspeção incluem a de hiperextensão martelo). A artropatia de Charcot acomete O monofilamento SW é um pessoas com neuropatia nos pés e se instrumento portátil de baixo custo que apresenta como eritema, calor, edema, possui uma fibra de náilon apoiada em uma perda da concavidade da região plantar haste com força de 10 gramas, o qual é causando uma grosseira deformidade; aplicado à planta do pé a um ângulo de 90 AVALIAÇÃO VASCULAR: A palpação graus, mediante a técnica da resposta sim- dos pulsos pedioso e tibial posterior deve não ao toque do aparelho (OCHOA-VIGO ser registrada como presente ou ausente. e PACE, 2005). Além de observar a temperatura, os pelos, o estado da pele e dos músculos; AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA: Recomenda-se que quatro regiões sejam pesquisadas: hálux (superfície plantar Tem da falange distal) e as 1º, 3º e 5º cabeças dos como principal objetivo identificar a perda metatarsos de cada pé, determinando uma da sensibilidade protetora (PSP), que pode sensibilidade de 90% e especificidade de 144 80%.A perda da sensação de pressão intermitente, dor ao repouso ou durante a usando o monofilamento de 10 g é noite. altamente isquêmicos podem estar presentes, tais preditiva de ulceração futura(BRASIL, 2013). Além desses, outros sinais como rubor de declive, palidez à elevação Para Boulton et al (2008 apud da perna, espessamento de unhas, pele BRASIL, 2013), o diapasão de 128 Hz é um atrofiada, fria e reluzente e diminuição de aparelho semiquantitativo pelos no dorso das extremidades. Na recomendado para avaliar a sensibilidade palpação de pulsos, o profissional deve vibratória. O cabo do diapasão deve ser considerar o tibial posterior e o pedioso que posicionado sobre a falange distal do hálux. podem ser classificados em palpáveis ou O teste é considerado anormal quando a não. Caso se identifique pulso diminuído ou pessoa perde a sensação da vibração ausente, é aconselhada uma segunda enquanto o examinador ainda percebe o avaliação por outro profissional. manual diapasão vibrando. Positivo se o paciente Diante do exposto, destaca-se a responde de forma incorreta pelo menos importância da avaliação clínica realizada duas de três aplicações e negativo com duas pelo enfermeiro, a qual inclui a anamnese e das três respostas corretas (BRASIL, 2013). exame físico acompanhado pelos testes de No teste para a sensação de picada sensibilidade protetora, pois demonstra a e teste para o reflexo aquileu: Segundo capacidade que este profissional possui de Boulton et al (2008 apud BRASIL, diagnosticar 2013),utiliza-se um objeto pontiagudo para planejar as ações e em seguida traçar um testar a percepção tátil dolorosa da picada plano de cuidado terapêutico para cada como uma agulha ou palito, na superfície pessoa dorsal da pele próxima a unha do hálux. A enfermagem, no que diz respeito à falta de percepção diante da aplicação do prevenção de lesões em membros inferiores objeto indica um teste alterado e aumenta o resultantes do mau controle da doença. risco de ulceração, sendo que o teste é os problemas diabética A na existentes, consulta de avaliação frequente dos diabéticos permite aos considerado alterado quando há ausência da pacientes flexão do pé. profissionais da saúde a identificação De acordo com Ochoa-Vigo e Pace precoce de vários fatores que aumentam a (2005), há também a avaliação vascular possibilidade de desenvolvimento de lesões periférica e a palpação de pulsos, onde o em membros inferiores, das quais são profissional deve indagar o paciente com passíveis de prevenção após uma diabetes sobre a presença de claudicação 145 observação detalhada e implementação de educativas de acordo com a classificação e cuidados profiláticos. necessidade de cada um. A identificação favoráveis ao de surgimento fatores de úlceras O cuidado preventivo é a forma mais simples e eficaz de evitar demonstra a importância do enfermeiro em complicações, lesões e amputações de um classificar cada paciente durante suas membro. Nesse sentido, o enfermeiro deve avaliações de acordo com cada achado e ter ciência da sua importância como risco em desenvolver lesões (Anexo A).O educador, profissional dispõe de outras ferramentas adquirido para ensinar ao portador de DM que o auxiliam nesta classificação, que alguns cuidados relevantes para o não mensuram a profundidade, existência de desenvolvimento de complicações no pé em isquemia e, dependendo do sistema de risco. Tais como (BRASIL, 2013): classificação a existência de infecção no Ensinar caso dos pacientes já apresentarem lesão diariamente seus pés com a ajuda da família (Anexo a procura de alterações como bolhas, B e C) (FERIDAS INCRIVELMENTE FÁCIL, 2005). O Sistema de Wagner utilizando ao o paciente conhecimento a inspecionar fissuras, ulcerações; de Classificação do Grau de Úlceras e o Realizar a correta higienização dos Sistema de Classificação de Feridas da pés, lavando-os com água morna e sabão Universidade do Texas para as Úlceras do neutro, Pé Diabético são os dois sistemas de interdigitais evitando, dessa forma, o classificação de maior utilização dentre os aparecimento de fungos e micoses; profissionais durantes suas avaliações, pois Realizar a hidratação dos pés, evitando o eles permitem considerações importantes ressecamento, como profundidade das lesões e presença de Atentando infecção. hidratante em áreas interdigitais, pois Frente ao paciente diabético suscetível a complicações ou com alguma já instalada a classificação de risco torna-se de extrema importância, entre fissuras sempre para os e espaços rachaduras. não usar o podem favorecer o surgimento de lesão, devido à umidade; Avaliar se há necessidade de o remoção de calos, e orientar para que profissional no estabelecimento de planos procure um médico para a remoção destes. terapêuticos, Nunca utilizar objetos pontiagudos para intervenções auxiliando secando e cuidados, auxilia ainda quanto à oferta de medidas removê-los; 146 Orientar para que as unhas sejam cortadas retas, na horizontal, não muito rentes à pele, evitando infecções e uma nutrição equilibrada que contribua para uma cicatrização eficaz. Diante do exposto, percebe-se a encravamento; relevância da educação Estimular o uso de meias de algodão, sem portadores de Pé Diabético, a qual pode costura e sem elástico, pois evitam contribuir machucados nos pés; comportamentos e estilo de vida que para a aos clientes mudança de Salientar sobre o uso de calçado possibilitam a adoção de práticas de adequado, que deve ser de couro ou material autocuidado voltadas para a prevenção e que possibilite bem estar e conforto, futuras complicações. ventilação, com mínimo de costuras Portanto, todas as orientações internas, facilitando a evaporação do suor; acima descritas são efetivas no cuidado com deve se evitar sapatos com bico fino, os pés, visando à prevenção e complicações sandálias de tiras que possam apertar com o Pé Diabético. Soma-se a isto a dificultando a circulação e formando pontos promoção ao autocuidado, o atendimento de fricção. E procurar sempre andar calçado interdisciplinar, adesão ao tratamento e a evitando infecções e contaminação; educação em saúde. Nessa perspectiva, o enfermeiro Ressaltar a importância da inserção enquanto tem papel profissional fundamental que atua na da família no processo educativo, ajudando assistência e na educação de usuários e na identificação dos fatores de risco, como pacientes. também na formação de vínculo, O tratamento adequado para o Pé melhorando o controle metabólico e a Diabético adesão do tratamento; comprometimento do membro afetado, Ressalvar a importância do controle e considerando-se a presença e/ou gravidade monitoração dos níveis glicêmicos; de isquemia e/ou infecção. Baseia-se em Alertar para o irá depender do grau de tratamento abordagens eficazes que auxiliam na medicamentoso correto e a prática de cicatrização e cura de feridas em Pé atividade física, como a caminhada, que Diabético, as quais serão detalhadas abaixo: auxilia no controle metabólico e diminui os LIMPEZA DA FERIDA: A limpeza da riscos de doenças cardiovasculares; ferida constitui uma etapa essencial no Destacar a importância de bons processo de cicatrização, tendo como hábitos alimentares, a fim de proporcionar objetivo a potencialização do ambiente de cura e diminuição do risco de infecção. Pois 147 reduz a carga microbiana, remove tecido o autolítico que utiliza o produto para necrótico e corpos estranhos, preserva degradação natural do tecido desvitalizado; tecidos viáveis e minimiza o odor. A melhor o enzimático degrada o tecido necrótico técnica de limpeza da ferida do Pé Diabético sem afetar o tecido viável; e o cirúrgico que é a lavagem do leito da ferida com soro degrada todo o tecido necrótico”. fisiológico a 0,9% em jato, sendo realizada TRATAMENTO DE uma ou duas vezes ao dia, ou de acordo com antibioticoterapia é a sistêmica e dependerá da gravidade da necessidade (FERIDAS INFECÇÃO: A obrigatoriamente INCRIVELMENTE FÁCIL, 2005). infecção. Na presença de osteomielite a CURATIVOS: A escolha do curativo antibioticoterapia adequado dependerá da condição da úlcera. recomendada, por 6 semanas (BRASIL, Sendo indicados ainda curativos que 2013). venosa é a mais mantenham a umidade da ferida, pois aceleram a cicatrização. Os curativos REVASCULARIZAÇÃO: recomendados para cada tipo de úlcera probabilidade de cicatrização for baixa, ou estão relacionados na tabela 04 nos anexos. se o paciente apresentar dor isquêmica ALÍVIO DA PRESSÃO PLANTAR: O persistente e em repouso, a revascularização alívio da pressão das superfícies plantares é deve a base do tratamento da neuropatia diabética indicação para a revascularização é a e prevenção para pacientes em risco de claudicação intermitente. desenvolver lesões. Essa estratégia visa AMPUTAÇÃO: A amputação consiste na controlar, limitar ou remover os fatores remoção cirúrgica de um membro ou parte intrínsecos e extrínsecos que aumentem a dele. Infelizmente, constitui um recurso pressão na superfície dos pés (FERIDAS terapêutico muito utilizado em pacientes INCRIVELMENTE FÁCIL, 2005). portadores de úlceras em Pé Diabético com DESBRIDAMENTO: Para Hirota (2008), presença de infecção ou gangrena extensa. ser considerada. Se Uma a segunda “o desbridamento envolve a remoção de tecido necrótico e é um método auxiliar, 3.7 Cuidados de enfermagem desvitalizados, A Sistematização da Assistência de auxiliando no controle da infecção e Enfermagem (SAE) é um importante estimulando da instrumento que auxilia a equipe de cicatrização. Pode ser classificado como: o enfermagem na organização dos serviços mecânico que inclui a fricção com gaze na prestados aos seus pacientes, o qual permite ferida, irrigação da ferida com jato de soro; a pois remove tecidos a fase proliferativa identificação de problemas, a 148 programação e cuidados avaliação e a implementação dos de Dentre as etapas da SAE, o resultados diagnóstico de enfermagem se destaca, pois alcançados. possibilita que o enfermeiro faça uma Para Truppel et al (2009), “a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) configura-se como uma abordagem individual e objetiva de seu paciente, dando-lhe mais eficácia a assistência prestada. metodologia para organizar e sistematizar o E permite o melhor entendimento cuidado, com base nos princípios do do método científico. Tem como objetivos relacionadas a patologia, facilitando o identificar as situações de saúde-doença e as planejamento do cuidado prestado a esse necessidades de cuidados de enfermagem, grupo, contribuindo para obtenção e bem como subsidiar as intervenções de manutenção do autocuidado (ANDRADE, promoção, et al, 2012). prevenção, recuperação e profissional acerca de questões reabilitação da saúde do indivíduo, família e comunidade”. Contudo, o presente estudo por se A SAE é uma atividade privativa tratar de revisão bibliográfica, abordará do enfermeiro, conforme descrito na Lei somente algumas etapas da SAE, dentre Exercício do Profissional7.498 de 25/06/86. elas A enfermagem RESOLUÇÃO revogou a COFEN 358/2009, RESOLUÇÃO COFEN o cuidados, problema, e todos a o diagnóstico de implementação de relacionados com o 272/2002, e dispõe sobre a Sistematização paciente em risco e/ou com a úlcera do Pé da Assistência de Enfermagem e a Diabético. implementação 1. do Processo de PROBLEMA: Adaptação ao Enfermagem em ambientes, públicos ou tratamento prejudicada privados. DIAGNÓSTICO: Controle ineficaz do De acordo com esta resolução, a regime terapêutico relacionado a não SAE é composta por cinco etapas inter- aceitação da doença, caracterizado por mau relacionadas, comportamento e hábitos de vida. recorrentes: interdependentes Coleta Enfermagem (ou de dados Histórico e de CUIDADOS DE ENFERMAGEM: de Verificar os fatores que impedem a adesão Enfermagem); Diagnóstico de do paciente ao tratamento; Enfermagem; Planejamento de Orientar o paciente e a família sobre a Enfermagem; Implementação e Avaliação importância do tratamento, e informar sobre de Enfermagem. 149 as medidas que contribuem para uma musculoesquelético, melhor qualidade de vida; incapacidade de realizar a higienização. Orientar o paciente para o autocuidado; CUIDADOS DE ENFERMAGEM: Realizar a avaliação periódica dos pés do Orientar para que o paciente permaneça paciente, com o auxilio dos instrumentos com os pés limpos, que seque bem entre os para identificação precoce de úlceras, como dedos; o monofilamento Semmes-Weistein (SW), Estimular para manter os pés hidratados; o diapasão de 128 Hertz, percepção de Incentivar para que o corte de unha seja picada e/ou reflexo aquileu, avaliação feito da a forma correta, e evitar de ir à vascular periférica e a palpação de pulsos. manicure; 2. Ressaltar a importância de se avaliar PROBLEMA: Mau controle caracterizado por glicêmico diariamente os pés. DIAGNÓSTICO: Nutrição desequilibrada: Pedir ajuda a alguém quando não conseguir mais do que as necessidades corporais realizar os cuidados acima. relacionada à ingestão excessiva em relação às necessidades metabólicas, caracterizado 4. por padrão de alimentação disfuncional comprometida de membros inferiores relatado ou observado. DIAGNÓSTICO: Risco para integridade da CUIDADOS DE ENFERMAGEM: PROBLEMA: Vascularização pele prejudicada relacionado a retinopatia e Incentivar a melhoria da qualidade da comprometimento alimentação, levando em consideração a extremidades. realidade de cada paciente; CUIDADOS DE ENFERMAGEM: Estimular a prática de atividade física, e o Examinar periodicamente nas consultas os controle do peso; membros inferiores, atentando para o Planejar de forma sistemática a assistência aspecto da pele do paciente; prestada a esse grupo populacional; Orientar o paciente a cortar as unhas para Facilitar a comportamentos identificação alimentares a dos serem mudados, e elogiar os esforços realizados. circulatório em evitar lesões ao coçar a pele; Informar ao paciente sobre a importância de retirar móveis do percurso no ambiente domiciliar e ter mais cuidado com objetos 3. PROBLEMA:Higienização dos pés pontiagudos e outros; inadequada Estimular a ingestão de líquidos para DIAGNÓSTICO: Déficit de autocuidado hidratar a pele, reduzindo o risco de lesões. para banho/higiene relacionada a prejuízo 150 5. PROBLEMA: Presença de úlceras em membros inferiores DIAGNÓSTICO: CUIDADOS DE ENFERMAGEM: Administrar Integridade tissular analgésico, conforme prescrição médica; relacionado à lesão de membros inferiores, Realizar uma avaliação abrangente da dor; caracterizado Investigar com a paciente os fatores que por tecido lesado ou destruído. aliviam ou pioram a dor; CUIDADOS DE ENFERMAGEM: Reduzir ou eliminar os fatores que Orientar o paciente, família e/ou cuidador precipitem ou aumentem a experiência de quanto aos cuidados a serem adotados com dor. a pele fragilizada e lesões; 8. Realizar curativos, a fim de melhorar o perturbada processo de cicatrização e cura da ferida; DIAGNÓSTICO: Distúrbio na imagem Supervisionar a ferida e monitorar sinais corporal relacionada à perda de falanges flogísticos; podálicas ou todo o membro, caracterizada Proteger as lesões contra infecção. por expressão verbal. 6. PROBLEMA: Imagem corporal PROBLEMA: Limitações físicas DIAGNÓSTICO: Mobilidade física CUIDADOS DE ENFERMAGEM: prejudicada, relacionado à amputação de Encorajar o paciente a demonstrar como ele membros inferiores, caracterizado por se vê, e exteriorizar suas angústias pela amplitude limitada dos movimentos. perda do membro; CUIDADOS DE ENFERMAGEM: Proporcionar Estimular o paciente a deambular sozinho; favorável Orientar quanto à escolha de uma prótese; indagações sobre seu problema. Demonstrar a importância da fisioterapia na Proporcionar maior número de informações reabilitação; confiáveis possíveis. Orientar para a retirada de obstáculos do Fornecer apoio emocional ao paciente, caminho. quanto às perdas corporais para que ele 7. supere a fase da raiva e chegue à PROBLEMA: Dor em MMII devido ao para paciente que o ambiente mesmo faça à amputação compreensão e melhor adaptação do seu DIAGNÓSTICO: Dor aguda relacionada estado. com 4 CONCLUSÃO o tratamento, comportamento chorar). caracterizada expressivo por (agitação, Este estudo revelou a importância do enfermeiro capacitado nas diversas etapas do cuidado aos pacientes diabéticos 151 com risco de desenvolverem úlceras nos Assim, para uma assistência eficaz pés, seja na prevenção, tratamento ou e completa é necessário o investimento em reabilitação, possibilitando uma melhor capacitação e treinamento dos enfermeiros qualidade de vida aos mesmos. Além de e equipe de saúde, pois possibilita a precoce permitir uma redução dos gastos públicos, detecção de complicações decorrentes do pois mau controle glicêmico, podendo evitar as diminuem as procedimentos, internações e decorrentes de consequências incapacitantes. complicações do diabetes não controlado, destas, principalmente o Pé Diabético e 5 REFERÊNCIAS amputações. O papel do enfermeiro vai além da realização de curativos ou administração de medicamentos. Ele é o agente primordial de transformação das condições de saúde dos ANDRADE, Joyce Paloma Xavier et al. Principais diagnósticos de enfermagem da NANDA para portadores de diabetes tipo II nas equipes de saúde da família do município de Arcoverde – PE. Saúde Coletiva em Debate, pacientes suscetíveis ao desenvolvimento 2012. de lesões em membros inferiores, através http://fis.edu.br/revistaenfermagem/artigos/vol especialmente, de atividades educativas. 02/artigo01.pdf. Acesso em: 08 de outubro de O enfermeiro possui uma Disponível em: 2015. importante ferramenta para a realização de BRASIL, Ministério da Saúde: Secretaria de seu trabalho, a SAE, que o auxilia na Atenção à Saúde. Departamento de Atenção organização dos cuidados designados aos Básica. Diabetes Mellitus. Brasília: Ministério pacientes diabéticos com risco de lesões. A qual possibilita a implementação da consulta de enfermagem, que serve como proteção às complicações nos membros da Saúde, 2006. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: Diabetes Mellitus. inferiores contribuindo para a avaliação e Brasília: Ministério da Saúde, 2013. classificação o COELHO, Maria Seloi. "Representações intervenções sociais do pé diabético para pessoas com dos pés planejamento individualizadas, em de a educação risco, para o diabetes mellitus tipo 2."RevEscEnferm USP autocontrole, a motivação e participação de 43.1. São Paulo, 2009: 65-71. pacientes e família na prevenção e adesão em:http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43n1/08. ao pdf. Acesso em: 11 de dezembro de 2014. tratamento, reforçando assim, a responsabilidade do indivíduo sobre sua saúde. Disponível CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência 152 de Enfermagem e a implementação do GRUPO DE TRABALHO INTERNACIONAL Processo de Enfermagem em ambientes, SOBRE públicos ou privados, em que ocorre o Internacional Sobre Pé Diabético. Brasília: cuidado profissional de Enfermagem, e dá Secretaria de Estado de Saúde do Distrito outras providências. RESOLUÇÃO COFEN Federal, Brasília, 2001. 358/2009, de 15 de outubro de 2009.Brasília- GUIMARÃES, J. P. C. Avaliação de Risco DF. para Pé Diabético em Idosos portadores de DANTAS, Daniele Vieira et al.Atuação do Diabetes Mellitus tipo 2. Belo Horizonte: Enfermeiro na Prevenção do Pé Diabético e Dissertação Mestrado: Escola de Enfermagem, suas Complicações: Revisão de Literatura. Universidade Federal de Minas Gerais, 2010. Carpe Diem: Revista Cultura e Científica do HIROTA, Cristina MiyukiOkumoto, Maria do UNIFACEX, Carmo Lourenço Haddad, and Maria Helena 2013. Disponível em: PÉ DIABÉTICO. Consenso https://sigaa.ufrn.br/sigaa/verProducao?idProd Dantas de Menezes Guariente. Pé diabético: o ucao=2329970&key=6e6aaa5e982eac13bef23 papel do enfermeiro no contexto das 6f52ed2db71. Acesso em: 05 de outubro de inovações 2015. 10.4025/cienccuidsaude. v7i1. 4955." Ciência, Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: Cuidado e Saúde 7.1 (2008): 114-120. 2013-2014. São Paulo: Sociedade Brasileira de Disponível Diabetes AC Farmacêutica, 2014. Disponível http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencC em: uidSaude/article/view/4955/3218. Acesso em: http://www.diabetes.org.br/para-o- terapêuticas.DOI: em: publico/. Acesso em: 01 de outubro de 2015. 02 de outubro 2015. Feridas: Incrivelmente Fácil. Rio de Janeiro: JORGE, Silvia Angélica; DANTAS, Sônia Guanabara Koogan, 2005. Regina P.E. Abordagem Multiprofissional do GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de Tratamento de Feridas. São Paulo: Atheneu, Pesquisa Social. 6.ed.São Paulo: Editora Atlas, 2005. 2008. MINAS GERAIS: Secretaria de Estado de GROSS, Jorge Luis, and Marcio Nehme. Saúde. Detecção e tratamento das complicações hipertensão e diabetes. 2. ed. Belo Horizonte: crônicas do diabetes mellito: Consenso da SAS/MG, 2007. Sociedade Brasileira de Diabetes e Conselho OCHOA-VIGO,Kattia e PACE,AnaEmilia. Pé Brasileiro diabético: estratégias para prevenção. Acta de Oftalmologia.Revista da Atenção Saúde Adulto: Paul 279-284. em:http://www.scielo.br/pdf/ape/v18n1/a14v18 em: 2005. do Associação Médica Brasileira 45.3 (1999): Disponível Enferm, a Disponível http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artt n1. Acesso em: 09 de dezembro de 2014. ext&pid=S0104-42301999000300014. Acesso OLIVEIRA, Maria Marly de. Como Fazer em: 09 de dezembro de 2014. Projetos, Relatórios, Monografias, 153 Dissertações E Teses.3.ed.Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. SILVA, Roberto Carlos Lyra da; FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida de; MEIRELES, Isabella Barbosa. Feridas fundamentos e atualizações em enfermagem. São Caetano do Sul: Yendis Editora, 2007. SMELTZER, Suzanne C. Brunner & Suddarth, Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. SBD nas Redes. Disponível em: http://www.diabetes.org.br/para-o-publico/. Acesso em: 01 de outubro de 2015. TEIXEIRA, Carla Regina de Souza et al. Validação de intervenções de enfermagem em pessoas com diabetes mellitus. Rev. Esc. Enferm. USP. São Paulo, 2011. Disponível em: www.scielo.br/pdf/reeusp/v45n1/24.pdf. Acesso em: 14 de outubro de 2015. TRUPPEL,Thiago Sistematização Enfermagem Christelet da em al. Assistência Unidade de de Terapia Intensiva.Rev. Bras. Enferm. Brasília, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artt ext&pid=S0034-71672009000200008 Acesso em: 23 de outubro de 2015. Recebido em: 10/05/2015 Revisões Requeridas: 23/10/2015 Aceito em: 04/03/2016 Publicado em: 21/07/2016 154