nutrição e crescimento de porta-enxertos de caramboleira em

Propaganda
NUTRIÇÃO E CRESCIMENTO DE PORTA-ENXERTOS DE CARAMBOLEIRA
EM FUNÇÃO DO CULTIVO EM DIFERENTES SOLUÇÕES NUTRITIVAS
NUTRITION AND GROWTH OF ROOTSTOCKS OF STAR FRUIT, IN FUNCTION OF THE
CULTURE IN SOME NUTRITIONAL SOLUTIONS
1
1
1
PRADO, R.M. ; ROZANE, D.E. ; NATALE, W.
1
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Campus de
Jaboticabal, Departamento de Solos e Adubos, Via de acesso Paulo Donato Castellane, s/nº,
CEP 14884-900, Jaboticabal, SP, Brasil. *E-mail: [email protected]
Resumo
O trabalho foi desenvolvido objetivando estudar o efeito de diferentes soluções
nutritivas sobre o crescimento e o estado nutricional de porta-enxertos de caramboleira. O
delineamento experimental empregado foi inteiramente casualizado, com quatro soluções
nutritivas e três repetições. Como solução padrão foi utilizada a de Hoagland & Arnon,
comparada à outras três soluções. O experimento foi conduzido em condições de casa de
vegetação, em recipientes plásticos de oito litros. Após 150 dias do transplantio, foram
determinados a matéria seca e o teor de nutrientes. As soluções nutritivas de Furlani, de
Castellane & Araújo e de Sarruge foram semelhantes na produção de matéria seca da planta
inteira de porta-enxertos de caramboleira. O uso da solução nutritiva de Hoagland & Arnon
resultou em menor acúmulo de matéria seca na planta inteira. As soluções nutritivas promovem
maior alteração no teor de nutrientes no caule, comparado às folhas e raízes.
Abstract
The work was developed objectifying to study the effect of different nutritional solutions
on the growth and the nutritional state of star fruit rootstocks. The used experimental delineation
entirely randomized, with four nutritional solutions and three repetitions. As solution standard it
was used of Hoagland & Arnon, compared with the others the three solutions. The experiment
was lead in conditions of vegetation house, in plastic containers of eight liters. After 150 days of
the transplant, had been determined the shoot dry and the text of nutrients. The nutritional
solutions of Furlani, Castellane & Araújo and Sarruge had been similar in the production of
shoot dry of the full plant of star fruit root-stocks. The use of the nutritional solution of Hoagland
& Arnon resulted in lesser accumulation of shoot dry. The nutritional solutions promote greater
alteration in the text of nutrients in stems, compared with leaf and roots.
Introdução
A caramboleira é uma frutífera originária da Ásia e está expandindo-se para regiões
tropicais. Essa frutífera, apesar de sua rusticidade, apresenta alto potencial de produção, se
atendidas as suas exigências nutricionais. Assim, Donadio et al. (2001) informam que devido às
poucas informações científicas sobre a cultura, colocam-se como prioritários estudos sobre
calagem, adubação e nutrição mineral. Evidenciando assim a necessidade de pesquisas sobre
nutrição e as exigências nutricionais dessa frutífera, especialmente na fase de produção de
mudas, haja vista que no estabelecimento de um pomar, o estado nutricional da planta torna-se
fundamental para garantir a qualidade das mudas, a homogeneidade, o rápido crescimento e o
início precoce da produção.
Como o solo é um meio altamente complexo e interativo para que sejam analisados os
efeitos isolados dos nutrientes. Com isso há a necessidade de estudos de nutrição mineral de
plantas empregando meios artificiais mais simples, que permitam um melhor controle das
proporções dos nutrientes, implicando em trabalhar com soluções nutritivas aeradas contendo
os elementos necessários ao crescimento vegetal.
No Brasil, diversas soluções nutritivas já foram propostas, entretanto não há uma
solução ideal para todas as espécies vegetais e condições de cultivo, uma vez que a absorção
de nutrientes é muito influenciada pela concentração dos nutrientes na solução, pela espécie
vegetal, cultivares e ambiente.
Tendo em vista o exposto, o objetivo do trabalho foi estudar o efeito de diferentes
soluções nutritivas sobre o estado nutricional e o crescimento de porta-enxertos de
caramboleira.
Material e Métodos
O experimento foi realizado em casa de vegetação, sob hidroponia, na FCAV/Unesp
campus Jaboticabal-SP.
Para a produção dos porta-enxertos de caramboleira utilizou-se a propagação por
sementes, como indicado por Donadio et al. (2001). Para isto, foram escolhidos frutos em um
pomar de caramboleiras adultas (cultivar Malásia) dos quais extraiu-se as sementes, que após
germinarem, permaneceram por mais 4 meses em tubetes preenchidos com substrato à base
de casca de pinus e vermiculita, para posterior transplantio para as soluções hidropônicas.
O delineamento experimental empregado foi inteiramente casualizado, com quatro
tratamentos e três repetições. Para cada repetição considerou-se quatro plantas. Os
tratamentos foram constituídos por quatro soluções nutritivas: Hoagland & Arnon (1950),
Sarruge (1975), Castellane & Araújo (1995) e Furlani et al. (1999).
Durante os primeiros 15 dias após o transplante, os porta-enxertos foram mantidos nas
1
respectivas soluções nutritivas, diluídas a /4 da concentração preconizada por cada autor.
Após esse período de adaptação, as plantas foram submetidas às soluções originais, até 150
dias após o transplante, acondicionadas em recipientes plásticos (polipropileno virgem), com 8
L de capacidade. As soluções foram, oxigenadas constantemente e renovadas a cada 25 dias.
Para o manejo das soluções nutritivas ao longo do período de estudo utilizou-se água
destilada para reposição da água evapotranspirada. O pH foi monitorado diariamente,
-1
ajustando-se a 5,5 ±0,5, usando-se solução NaOH ou HCl 0,1 M.L . A condutividade elétrica
-1
das soluções nutritivas esteve na faixa de 1,8 a 1,9 dS.m entre o período de troca (25 dias),
indicando que a troca da solução nutritiva a cada 25 dias foi suficiente para manter a
-1
condutividade elétrica próxima de 2,4 dS m .
Na colheita, as plantas foram divididas em raízes, caule e folhas. Todo o material
vegetal foi lavado em água destilada, seco em estufa com circulação de ar à temperatura de 65
a 70ºC, até peso constante.
Em seguida determinou-se o teor de nutriente nos diferentes órgãos das plantas,
segundo metodologia descrita por Bataglia et al. (1983). Realizaram-se análises de variância e
comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
Efeitos da solução nutritiva sobre a altura, o diâmetro do caule, o número de
folhas, a área foliar e a produção de matéria seca dos cultivares.
Para as variáveis altura, diâmetro do caule, número de folhas, área foliar e matéria
seca do caule não houve diferença significativa, em função dos tratamentos, durante o período
experimental (Tabela 1). Entretanto, verifica-se que solução nutritiva proposta por Furlani et al.
(1999) foi superior a de Hoagland & Arnon (1950) para a produção de matéria seca das folhas,
das raízes e da planta inteira. Observa-se, ainda, através da Tabela 1, que para as mesmas
características avaliadas não houve diferença estatística entre as soluções de Furlani et al.
(1999), Sarruge (1975) e Castellane & Araújo (1995).
Tais diferenças, na produção de matéria seca, podem ser atribuídas à associação das
menores eficiências em cada solução utilizada. Franco & Prado (2006), empregando as
mesmas soluções, observaram semelhança no acúmulo de matéria seca total em mudas de
goiabeira. De acordo com os autores, as concentrações e relações entre elementos das
soluções empregadas, foram suficientemente adequadas para atender a exigência nutricional
das plantas.
A ausência de efeito das diferentes soluções nutritivas sobre as variáveis de
crescimento pode ser explicada pela presença dos nutrientes nas soluções, nas quantidades
exigidas pelos porta-enxertos.Soma-se a isso, o fato da caramboleira ser considerada uma
planta rústicas tendo certa tolerância às pequenas variações das concentrações de nutrientes
nas soluções nutritivas utilizadas; Além disso, cada porta-enxerto tem uma carga genética
diferenciada, pois as sementes são provenientes de polinização aberta, devido a autoincompatibilidade de polinização.
Tabela 1. Altura, diâmetro de caule, número de folhas, área foliar e matéria seca de portaenxerto de caramboleira, sob cultivo em diferentes soluções nutritivas durante 150
dias (média de quatro plantas)
Fontes de
Variação
Solução 1
Solução 2
Solução 3
Solução 4
Q.M.
C.V. (%)
Altura
da planta
cm
53,71
54,83
60,17
55,67
ns
24,04
8,8
Diâmetro
do caule
mm
5,48
5,47
5,77
5,71
ns
0,75
7,5
Número
de folhas
9,20
9,67
10,06
11,20
ns
37,44
24,5
Área
Foliar
dm²
9,03
8,97
9,83
10,95
ns
41,06
21,2
Matéria Seca
Folhas Caule Raízes
Planta inteira
-1
---------------- g planta ----------------6,18b
1,91
2,57b
10,66b
6,83ab
2,23
3,49a
12,55ab
6,93ab
2,44
3,42a
12,79a
7,61a
2,25
3,40a
13,26a
*
ns
**
*
16,37
2,35
9,04
62,75
6,8
9,7
5,4
6,0
** ; * e ns - Significativo a 1% e a 5 % de probabilidade e não significativo, respectivamente. As médias seguidas da
mesma letra na vertical, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Solução 1:
Hoagland & Arnon (1950); Solução 2: Sarruge (1975); Solução 3: Castellane & Araújo (1995) e Solução 4: Furlani et al.
(1999).
Apesar disso, é importante testar diferentes soluções nutritivas que permitam obter
melhor crescimento dos porta-enxertos. Na literatura existem muitas formulações de soluções
nutritivas que muitas vezes são derivadas da solução de Hoagland & Arnon (1950). Santos
(2000), estudando várias soluções nutritivas para o cultivo de alface, hidropônico, concluiu que
a solução proposta por Castellane & Araújo (1995) apresentou produção superior às demais,
bem como melhor aspecto qualitativo. Como inexistem estudos indicando uma solução nutritiva
ideal para o cultivo de porta-enxertos de caramboleira, a confrontação dos resultados com a
literatura fica prejudicada.
Efeito dos tratamentos sobre o teor de macro e micronutrientes nas folhas, caule
e raízes dos porta-enxertos de caramboleira
Nas folhas, não houve efeito significativo das soluções nutritivas estudadas sobre o
teor de N, P, Ca, B, Cu e Zn (Tabela 2). Entretanto, observou-se que a solução de Castellane &
Araújo (1995) foi superior às demais quanto ao teor de potássio. Tal efeito pode ser explicado
pela alta concentração do elemento na referida solução, comparativamente às demais. Efeito
semelhante foi observado por Franco & Prado (2006) no cultivo de mudas de goiabeira, em
hidroponia, utilizando as mesmas soluções nutritivas.
Na presente pesquisa o teor foliar de Mg, na solução proposta por Furlani et al. (1999)
foi superior à de Castellane & Araújo (1995) e semelhante a de Hoagland & Arnon (1950) e
Sarruge (1975) (Tabela 2), embora tivesse maior concentração de Mg em sua composição em
relação à Castellane & Araújo (1995) e menor em relação as soluções de Hoagland & Arnon
(1950) e Sarruge (1975).
O teor de S na folha, apesar da solução proposta por Furlani et al. (1999) ter a menor
concentração do elemento em sua formulação, a mesma mostrou-se superior à solução
Hoagland & Arnon (1950) e semelhante às demais soluções, apesar de que a solução de
Castellane & Araújo (1995) foi semelhante a Hoagland & Arnon (1950) (Tabela 2).
Comparativamente ao Fe, os teores de Mn, são praticamente o dobro nas folhas dos
porta-enxertos de caramboleira (Tabela 2). Apesar da concentração do Fe nas soluções ser
praticamente 10 vezes superior à do Mn.
No caule, não houve diferença significativa entre os tratamentos sobre os teores de Ca,
Mg, B, Mn e Zn. Entretanto, para N e P a solução de Furlani et al. (1999) foi superior à de
Castellane & Araújo (1995) e semelhante às demais (Tabela 2), apesar da solução de Furlani et
al. (1999) ter a metade da concentração de P da solução de Castellane & Araújo (1995).
A solução de Castellane & Araújo (1995) proporcionou maior teor de K no caule do que
a solução de Sarruge (1975), mas, foi semelhante às soluções de Hoagland & Arnon (1950) e
Furlani et al. (1999). Já para o teor de S e de Fe no caule, a solução Hoagland & Arnon (1950)
foi superior à Castellane & Araújo (1995), não diferindo das demais (Tabela 2).
A solução de Furlani et al. (1999) apresentou teor de Cu no caule e nas raízes superior
às demais soluções. Entretanto, o maior teor de Fe e de Mn nas raízes foi promovido pela
solução de Hoagland & Arnon (1950) (Tabela 2).
Para o teor de Zn nas raízes, a solução de Castellane & Araújo (1995) foi superior à
solução de Sarruge (1975) e, semelhante às demais (Tabela 2), o que era esperado, pois
apresenta maior concentração de Zn em sua composição.
Tabela 2. Teor de nutrientes nas folhas, caule e raízes dos porta-enxertos de caramboleira em
função dos tratamentos após 150 dias de cultivo hidropônico, em diferentes
soluções nutritivas (média de quatro plantas)
Fontes de
Variação
Solução 1
Solução 2
Solução 3
Solução 4
Q.M.
C.V. (%)
Solução 1
Solução 2
Solução 3
Solução 4
Q.M.
C.V. (%)
Solução 1
Solução 2
Solução 3
Solução 4
Q.M.
C.V. (%)
N
P
K
Ca
Mg
S
B
Cu
Fe
Mn
Zn
Folhas
--------------------- g kg-1 ------------------------------------------- mg kg-1 ----------------------32,9
2,9
25,0b
14,8 4,9ab 3,1b
69
3
116b
266b
40
33,2
2,6
24,7b
15,1
5,8a
3,6a
81
3
135ab
387ab
35
30,0
2,6
33,7a
12,5
4,2b 3,5ab
74
4
124ab
433a
43
32,2
3,1
26,3b
13,6
5,9a
4,0a
79
4
144a
320ab
46
6,11ns 0,19ns 54,04** 4,44ns 1,88** 0,38** 77,88 ns 0,44ns 467,88* 16178,97* 57,64ns
9,2
7,8
4,0
9,7
7,3
4,7
7,7
12,3
6,8
13,5
9,9
Caule
18,3a 5,4ab 15,2ab 13,6
5,8
2,8a
31
4b
82a
35
56
17,5ab 4,8ab 12,8b
12,5
5,2
2,5ab
32
4b
67ab
51
55
15,7b
4,2b 18,7a
13,0
5,1
2,4b
29
4b
60b
41
70
19,3a
5,6a 14,7ab 10,7
5,5
2,7ab
30
8a
76ab
50
78
173,19ns 389,44ns
7,03** 1,16* 18,60* 4,47 ns 0,32ns 0,13* 7,22 ns 10,31** 275,33**
4,8
9,2
11,7
10,7
7,8
6,10
12,6
10,1
8,6
16,6
15,9
Raízes
27,3
8,9
30,1
4,2
3,8
4,3
37
15b
929a
265a
46ab
22,9
8,3
29,4
5,0
4,3
3,9
38
10c
334c
147b
40b
22,9
7,6
29,4
5,2
3,8
3,5
36
12c
700b
104c
49a
26,0
9,2
30,8
4,2
4,0
4,6
35
19a
602b
133bc
48ab
15,20ns 1,48ns 1,39ns 0,80ns 0,17ns 0,67ns 5,64ns 38,97** 1825,56** 15048,22** 49,64*
17,0
10,9
13,6
11,4
10,0
15,8
17,6
6,1
8,8
8,7
6,4
** ; * e ns - Significativo a 1% e a 5 % de probabilidade e não significativo, respectivamente. As médias seguidas da
mesma letra na vertical, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Solução 1:
Hoagland & Arnon (1950); Solução 2: Sarruge (1975); Solução 3: Castellane & Araújo (1995) e Solução 4: Furlani et al.
(1999).
Conclusões
As soluções nutritivas de Furlani, Castellane & Araújo e de Sarruge foram semelhantes
na produção de matéria seca da planta inteira de porta-enxertos de caramboleira. O uso da
solução nutritiva de Hoagland & Arnon resultou em menor acúmulo de matéria seca na planta
inteira.
Referências
DONADIO, L.C.; SILVA, J.A.A.; ARAÚJO, P.S.R.; PRADO, R.M. Caramboleira (Averrhoa
carambola L.). Jaboticabal: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 2001.81p.
SARRUGE, J.R. Soluções nutritivas. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.1, n.3, p.231-233,
1975.
CASTELLANE, P.D.; ARAÚJO, J.A.C. de. Cultivo sem solo: hidroponia. 4.ed. Jaboticabal:
FUNEP, 1995. 43p.
FRANCO, C.F.; PRADO, R.M. Nutrição de micronutrientes em duas cultivares de goiabeira em
resposta ao uso de soluções nutritivas. Acta Scientiarum, v.30, n.3,p.403-408,2008.
HOAGLAND, D.R.; ARNON, D. I. The water culture method for growing plants without
soils. Berkeley: California Agricultural Experimental Station, 1950. 347p.
FURLANI, P.R.; SILVEIRA, L.C.P.; BOLONHEZI, D.; FAQUIN, V. Cultivo hidropônico de
plantas. Campinas: IAC, 1999. 52 p. (Boletim Técnico 180).
BATAGLIA, O.C.; FURLANI, A.M.C.; TEIXEIRA, J.P.F.; FURLANI, P.R.; GALLO, J.R. Métodos
de análise química de plantas. Campinas: Instituto Agronômico, 1983. 48p. (Boletim Técnico,
78).
Download