MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE – SP. Autor: Melina Fushimi Faculdade de Ciências e Tecnologia, Campus de Presidente Prudente FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) INTRODUÇÃO Na pesquisa desenvolvida por Nunes et al. 2006 intitulada “Mapeamento geomorfológico do perímetro urbano de Presidente Prudente – SP.”, foi desenvolvido o mapa geomorfológico das formas de relevo do perímetro urbano de Presidente Prudente-SP, onde foram delimitados três principais compartimentos geomorfológicos e suas respectivas morfologias das áreas do perímetro urbano e adjacências da cidade de Presidente Prudente-SP, sendo eles: os topos suavemente ondulados das colinas convexizadas; o domínio das vertentes convexo-côncavas e retilíneas e as planícies aluviais e alvéolos. Com referência ao município de Presidente Prudente, com exceção de Figueiredo (1970), Sudo (1980) e Nunes (2002 e 2006), ainda não foi confeccionado um documento mais amplo em escala compatível (1:25.000), que abrangesse, de modo geral, as principais características geomorfológicas presentes na paisagem urbana e rural de todo o município de Presidente PrudenteSP. A falta deste tipo de documento, em escala adequada (1:25.000), tem gerado uma lacuna, principalmente na elaboração de estudos acadêmicos, onde a morfologia do relevo apresenta-se como importante aspecto a ser considerado na compreensão dos fatores responsáveis pela história de ocupação e expansão sobre as diversas formas de relevo do município de Presidente Prudente. Assim o presente trabalho de pesquisa intitulado “Mapeamento Geomorfológico do município de Presidente Prudente – SP.”, aprovado pela FAPESP, dá continuidade ao “Mapeamento geomorfológico do perímetro urbano de Presidente Prudente-SP.”. Após seu término, poderá servir como base para o direcionamento de importantes pesquisas tanto no campo acadêmico interdisciplinar bem como para a administração pública local (prefeitura e órgão públicos). Esta é uma temática relativamente nova no âmbito das pesquisas na Faculdade de Ciências e Tecnologia, Campus de Presidente Prudente. Trata-se de um trabalho de mapeamento em continuidade, que tem gerado resultados significativos no que se refere à ampliação e fortalecimento das pesquisas na área de Geomorfologia, Pedologia, Engenharia Ambiental, Engenharia Cartográfica e Geografia. Após a finalização do trabalho, seus resultados, sendo o principal deles a elaboração do Mapa Geomorfológico do município de Presidente Prudente, pretendem servir como material cartográfico para pesquisas acadêmicas, bem como no auxílio de elaboração de projetos de planejamento ambiental urbano para o município de Presidente Prudente. OBJETIVOS Como objetivo principal, tem-se a elaboração do Mapa Geomorfológico do município de Presidente Prudente – SP, que representa os diferentes compartimentos de relevo e os processos morfodinâmicos relacionados à sua formação e dinâmica atual, sendo parte das atividades junto ao Departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia/UNESP, Campus de Presidente Prudente. Para atingir o objetivo geral, apresentam-se como objetivos específicos: identificação dos principais compartimentos de relevo (topos, vertentes e fundos de vale) da área de estudo, relacionando-os com a geomorfologia e geologia regional; caracterização das morfologias do relevo (vertentes côncavas, convexas e retilíneas e vales em berço e em “V”) identificando as diferentes feições através da aerofotointerpretação; e por fim, trabalhos de campo para eliminação de possíveis dúvidas e levantamento de dados que não foram obtidos através da estereoscopia. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para se alcançar os objetivos propostos, a presente pesquisa foi baseada na caracterização geomorfológica e geológica, elaborada de acordo com os dois primeiros níveis de abordagem proposta por Ab’Saber (1969:1-23): Compartimentação Topográfica e Estrutura Superficial da Paisagem. O primeiro nível compreende “[...] o entendimento da compartimentação da topografia regional, assim como, da caracterização e descrição, tão exatas quanto possíveis, das formas de relevo de cada um dos compartimentos estudados” (AB’SABER, 1969: 1 e 2). No segundo nível, a Estrutura Superficial da Paisagem: [...] procura-se obter informações sistemáticas sobre a estrutura superficial das paisagens referentes a todos os compartimentos e formas de relevos observados. Através deste estudo e da estrutura superficial, até certo ponto estáticos, obtêm-se idéia da cronogeomorfologia e as primeiras proposições interpretativas sobre a seqüência dos processos paleo-climáticos e morfoclimáticos da área em estudo (AB’SABER,1969: 2). Na primeira etapa de elaboração do Mapa Geomorfológico do município de Presidente Prudente, foi realizado, no laboratório de Geologia, Geomorfologia e Recursos Hídricos da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente, o trabalho de fotointerpretação de feições geomorfológicas a partir de fotografias aéreas na escala 1:25000, em um total de 86 fotos, abrangendo as faixas 4, 5, 6 e 7, produzidos pela Base SA, cujo vôo é de setembro de 1995. Foi utilizado o estereoscópio de espelhos da marca TopCon na extração das feições geomorfológicas. De acordo com Anderson e Ribeiro (1982, p.66), o estereoscópio de espelhos, desvia os raios óticos através de espelhos, aumentando a separação entre as linhas de visão. Assim, é possível ver todo o modelo tridimensional (60% de recobrimento) sem superposição das fotos. Isto permite uma melhor fixação das mesmas na mesa de trabalho. Ao observar somente uma fotografia, tem-se uma idéia limitada do relevo. De maneira geral, as fotografias de uma região tendo tonalidade uniforme, aparecerá plana, especialmente se não houver sombras, mesmo que a região seja acidentada. Dessa forma, a estereoscopia, ou seja, a habilidade de perceber a visão tridimensional aumenta a precisão ao extrair as feições. “O estereoscópio é um instrumento ótico que permite examinar as fotografias em três dimensões;” (RICCI e PETRI, 1965). A visão binocular possibilita a percepção de tridimensionalidade dos objetos. A imagem que se forma na retina de cada olho é plana. Mas, há uma pequena diferença entre elas, já que os olhos estão separados por 5 a 8cm. O cérebro se encarrega de fundir essas duas imagens em uma só, resultando no efeito tridimensional. A visualização da terceira dimensão é obtida através de duas fotografias sucessivas de uma mesma faixa de vôo; a área observada é comum às duas fotografias. Os vôos são preferencialmente realizados na direção leste-oeste, de maneira que o sentido norte sempre esteja na parte superior da foto produzida, e estas devem ter uma sobreposição de aproximadamente 60% em sentido lateral (na direção do vôo) e em torno de 25% no sentido transversal. Para isso, é necessário o uso de um equipamento específico: o estereoscópio. Como em qualquer outra técnica, na fotogeomorfologia, considera-se importante a prática do intérprete, o qual deve ter uma boa visão de conjunto. Fotografias aéreas podem ser definidas, segundo Ray, (1963, p.2) “como um combinado de imagens fotográficas, que reúnem os elementos de reconhecimento usuais para a interpretação.” Os mais significativos elementos visuais de reconhecimento, ou seja, as principais chaves de interpretação são: a tonalidade, a qual refere-se ao brilho relativo ou cor de objetos em uma imagem. Cinza escuro indica região úmida, feições hídricas. A textura corresponde ao arranjo das variações tonais em áreas particulares de uma cena, ou seja, a associação diz respeito a certos objetos em uma cena, que pode assim, determinar o tipo de vegetação, por exemplo. O padrão é o arranjo repetitivo de objetos visíveis na cena, exemplo, cursos de água em uma área, apresentando ângulos retos pode ser definido com padrão retangular. A forma se refere ao modo como o objeto se apresenta, podendo ser um indício importante para a sua identificação. Por exemplo: bordas retas sugerem cidades ou campos agrícolas; linhas retas podem significar linhas de transmissão ou estradas. As formas dos objetos construídos pelo homem geralmente são regulares. O tamanho dependente da escala. Esse fato pode ajudar no caso de interesse de avaliação de usos da terra, onde a presença de vários edifícios grandes como fábricas ou armazéns podem sugerir atividades comerciais, enquanto outra área, com edificações menores, pode sugerir uso residencial; Assim como no mapeamento geomorfológico do perímetro urbano de Presidente Pudente – SP realizado por Nunes et al. 2006, através da aerofointerpretação, estão sendo delimitadas os principais compartimentos de relevo, como os topos, vertentes e fundos de vale do município de Presidente Prudente, além da caracterização das morfologias das vertentes e fundos de vale, sendo as vertentes vertentes côncavas, convexas ou retilíneas, e fundos de vale em berço ou em “V”. A extração das feições geomorfológicas seguiu uma seqüência: primeiramente foram extraídos os cursos d’água, em seguida, delimitados os divisores de água, topos das colinas, planícies aluviais e alvéolos e, por fim, a caracterização da vertente (côncava, convexa ou retilínea). Além disso, trabalhos de campo realizados com freqüência e de acordo com as necessidades que foram sendo apresentadas, para eliminação de possíveis dúvidas e levantamento de dados que não foram obtidos através da estereoscopia. Os trabalhos de campo são importantes, constatandose in loco a situação em que se encontra a área de estudo. De acordo com Ray (1963, p. III), o mapeamento através da fotointerpretação elaborado no âmbito de gabinete, deve ser considerado primeiramente como um mapa de reconhecimento. Após as verificações em campo, pode ser estabelecido como definitivo. Após a finalização desta etapa, as feições serão passadas para um overlay de menor tamanho e corrigidas, pois as fotos aéreas possuem certa distorção no sentido das bordas. Através da aerofotointerpretação e de trabalhos de campo, verificou-se que o relevo do município de Presidente Prudente é constituído predominantemente por colinas amplas suavemente onduladas. Em alguns trechos, apresenta-se mais acidentado, indicando a presença de carbonato de cálcio. DESCRIÇÃO DOS ASPECTOS REGIONAIS E LOCAIS DA ÁREA DE ESTUDO O Município de Presidente Prudente O município de Presidente Prudente está localizado no extremo oeste do estado de São Paulo e é sede 10ª Região Administrativa do Estado. Possui uma área territorial de 562 km² e 202.789 habitantes (de acordo com o censo realizado em 2007 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE). É composto, além do perímetro urbano de Presidente Prudente, por quatro distritos: Montalvão, Floresta do Sul, Eneida e Ameliópolis. A colonização da cidade de Presidente Prudente foi realizada através da construção de loteamentos, e disputada pelos coronéis Francisco de Paula Goulart e José Soares Marcondes, ao longo da estrada de ferro Sorocabana, a qual segmentou a cidade em dois setores, ou seja, zona oeste e zona leste. Na zona oeste da ferrovia originou-se a Vila Goulart, predominando relevos de colinas amplas e topos suavemente ondulados. Este aspecto favoreceu a comercialização dos lotes, cujos preços eram mais baixos, proporcionando crescimento espacial. Além disso, o processo de obtenção de lotes era simples, muitas vezes realizada apenas com a autorização do coronel Goulart. Na porção leste, desenvolveu-se a Vila Marcondes, caracterizada pela topografia mais acidentada e vertentes muito declivosas, não favorecendo a expansão urbana. Além disso, para aquisição dos lotes o processo era mais burocrático, necessitando de registro em cartório. O processo de expansão urbana nos município brasileiros, incluindo a cidade de Presidente Prudente-SP, está vinculado aos interesses dos agentes especuladores imobiliários, sem respeitar a lei orgânica e os planos diretores. Spósito (1983) afirma que uma “segregação social do espaço” é promovida, através das diferenças sócio-econômicas, as quais determinam a qualidade ambiental e de vida na cidade. Significa, no caso de Presidente Prudente que, de modo geral, parte da população possui condições econômicas de ocupar áreas onde predominam encostas com médias a baixas declividades (colinas amplas de topos suavemente ondulados), enquanto a outra parte da população pode adquirir somente lugares caracterizados por vertentes com declividades médias a altas (colinas pequenas de topos convexos) e solos com baixa ou muito baixa resistência à erosão. Geomorfologia No município de Presidente Prudente, conforme IPT (1981b: 71) as formas de relevo dominante são os Morrotes Alongados e Espigões e as Colinas Médias. No caso dos Morrotes Alongados e Espigões, relevo no qual situa-se o núcleo urbano da cidade de Presidente Prudente, predominam declividades médias a altas acima de 15%, com amplitudes locais inferiores a 100 metros. De modo geral, predominam interflúvios sem orientação preferencial, com topos angulosos e achatados e vertentes ravinadas com perfis retilíneos. A drenagem é de média a alta densidade, com padrão dendrítico e vales fechados. Nas Colinas Médias, predominam as baixas declividades até 15% e amplitudes locais inferiores a 100 metros. Os interflúvios compreendem áreas em torno de 1 a 4 km2, cujos topos são aplainados. As vertentes têm um perfil convexo a retilíneo, com uma drenagem de média a baixa densidade de padrão sub-retangular. Os vales são abertos a fechados, tendo planícies aluviais interiores restritas, com a presença eventual de lagoas perenes ou intermitentes. Sudo (1980), ao abordar os aspectos da compartimentação geomorfológica observada na região da Bacia Hidrográfica do Alto rio Santo Anastácio, delimitou três unidades principais de relevo: Superfície de Cimeira Regional (acima de 500 metros); Interflúvios Escalonados (de 480 metros até 380 metros); Terraços e planícies de inundação. O primeiro grande compartimento de relevo compreende o domínio dos chapadões rebaixados pela erosão neogênica do extremo Oeste Paulista. De modo geral, os chapadões ou espigões suavemente convexos, cujos topos em boa parte são oriundos de formas residuais, são sustentados por camadas areníticas ainda coerentes. Conforme Sudo (1980: 71), o conjunto que compreende este domínio geomorfológico forma um [...] espigão maior que se comporta como divisor principal das águas da bacia do Santo Anastácio, pelo lado oeste, das águas da bacia do Ribeirão do Mandaguari, pelo lado norte-nordeste, e das da bacia do Ribeirão da Laranja-Doce, a lestesudeste”. Neste espigão maior que está situada a cidade de Presidente Prudente, considerado como o divisor principal de águas, que “[...] corresponde a um ramo digitado da superfície cimeira regional cuja extensão mais expressiva encontra-se na região de Martinópolis (SUDO, 1980: 72). O compartimento dos interflúvios colinosos escalonados altimetricamente está localizado nas bordas da superfície de cimeira (480 m) até os níveis de terraço (380 m). É o domínio do relevo de colinas côncavo-convexas de topos suavemente ondulados, geralmente com colúvios de pouca espessura, resultante de processos morfoclimáticos oriundos de clima seco a úmido. O compartimento dos terraços e planícies de inundação se apresenta de modo descontínuo ao longo do rio Santo Anastácio. Outro trabalho importante analisado é o Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo na escala 1: 500.000 elaborado por Ross e Moroz (1996:50). Neste trabalho, o município de Presidente Prudente encontra-se localizado na Bacia Sedimentar do Paraná (morfoestrutura) e no Planalto Ocidental Paulista (morfoescultura), mais precisamente no Planalto Centro Ocidental, cujas formas de relevo predominante são as colinas amplas e baixas com altimetria em torno de 300 a 600 metros, declividades variando entre 10 a 20% e predomínio de Latossolos e de Argissolos. Em trabalho recente elaborado por Nunes et al. (2006), intitulado “Mapeamento geomorfológico do perímetro urbano de Presidente Prudente-SP”, foram identificados na área mapeada, três compartimentos de relevo, que se associam, topograficamente, com as seguintes formações geológicas e pedológicas: topo suavemente ondulado das colinas convexizadas (430 a 480 metros), com predomínio de formações de alteração do tipo manto de intemperismo ou regolito. Em alguns setores, afloram os arenitos da Formação Adamantina, com ocorrência dos topos para as médias altas vertentes de Latossolo Vermelho e, em alguns setores, Argissolo Vermelho Amarelo; domínio das vertentes convexo-côncavas e retilíneas (420 a 450 metros), com predomínio de depósitos coluviais (setor oeste) e afloramento da Formação Adamantina (setor leste) e ocorrência de Argissolo Vermelho Amarelo e Neossolos Regolíticos; e Planícies aluviais e alvéolos (380 a 420 metros), com predomínio de Formações Aluviais Quaternárias e Planossolos Hidromórficos e Gleissolo. O autor descreve que a forma de relevo dominante são as colinas convexizadas de topos suavemente ondulados, cujas declividades variam em média de 2 a 10%. No compartimento do Domínio das vertentes côncavo-convexas e retilíneas, apresentam-se declividades que variam de 10 à maior que 20%. Nas Planícies aluviais e alvéolos, os valores apresentam-se entre 0 a 5%. A morfologia formada pela seqüência de relevos de colinas côncavo-convexas possui de médios a amplos interflúvios, que se interligam com outras colinas através de colos rasos e pouco alongados, formando pequenos espigões desgastados pela pediplanação neogênica (AB’ SABER, 1969:4), cujas altitudes variam de aproximadamente 486 metros (setor sudeste e central) a 380 metros (setor sudoeste) próximos à represa da SABESP. Para Nunes et al. 2006, o compartimento dos topos, por estes serem planos a suavemente ondulados, historicamente têm sido o principal compartimento de relevo a ser ocupado. A ocupação urbana anteriormente restrita ao topo suavizado do espigão expandiu-se para as áreas de nascentes e fundos de vales, que levou por parte das sucessivas administrações públicas, a necessidade de canalização de alguns córregos, ocasionando interferência no fluxo e na qualidade das águas, devido à carga detrítica advindo das ocupações à montante. É importante destacar que, foi justamente sobre este espigão divisor de água, que se construiu primeiramente a estrada de Ferro Sorocabana, cujos trilhos chegaram à região de Presidente Prudente em 1917. A estrada de Ferro Sorocabana serviu como um dos marcos históricos impulsionadores do crescimento demográfico, urbano e econômico para a cidade de Presidente Prudente. Posteriormente, foi construída sobre o mesmo espigão a rodovia Raposo Tavares (SP-270). Os topos apresentam altitudes que variam de 450 a acima de 480 metros, e cuja linha de cumeada, por onde passa a estrada de Ferro Sorocabana está no sentido NW-SE. Paralelamente à expansão da malha ferroviária, a ocupação histórica do relevo ocorreu inicialmente dos topos das colinas e espigões rasos, direcionando-se, posteriormente, para as áreas mais baixas, os fundos de vales e várzeas. Em relação às áreas de declividade acentuada (de 10 a <20%), Nunes, et al. 2006 destaca que na sua maioria localizam-se no setor leste, apresentando vários sistemas de embaciamento de águas, com morfologia de cabeceiras de drenagem em anfiteatros, cujo sistema de drenagem, nas áreas em que afloram os arenitos da Formação Adamantina, é dendrítico. Muitas destas morfologias foram ocupadas pela expansão da malha urbana. Outro aspecto importante refere-se à relação entre a declividade e o comprimento de rampa das vertentes, que expressam a sua morfologia. Esta se apresenta de forma heterogênea, ou seja, a morfologia da vertente pode ser caracterizada como côncava, convexa ou retilínea. A formação desse modelado está associada a processos morfogenéticos oriundos de clima úmido, ocasionaram a formação de relevos mais arredondados (colinosos) ou semi-mamelonizados, sob as antigas superfícies de cimeira, remanescentes nos chapadões do Oeste Paulista (AB’SABER, 1969) e ou atuais espigões (SUDO, 1980) desgastados pela erosão neogênica. Geologia Segundo Nunes (2002 e 2006), em alguns setores entre o domínio das vertentes e as planícies aluviais, a dinâmica de escoamento de subsuperfície, principalmente, em Argissolos Vermelhos com presença de horizontes Bt, tem ocasionado erosões internas e também várias rupturas configuradas em forma de sulcos erosivos laminares e lineares. Em setores onde se encontram solos rasos, tem-se um controle estrutural que impede o avanço dos processos erosivos, fato esse exercido pelo afloramento dos arenitos da Formação Adamantina sustentados por carbonato de cálcio. Geralmente, estes aqüíferos freáticos são chamados de suspensos, devido à sua pouca profundidade. Este processo ocorre porque a água, ao se infiltrar no subsolo, quando encontra camadas impermeáveis de sedimentos síltico-argilosos da Formação Adamantina – unidade KaIV, acaba sendo confinada. Nunes et al. 2006, destaca que no setor leste e nordeste do perímetro urbano e adjacências da cidade de Presidente Prudente-SP, onde predominam as colinas de poucas extensões e topos curtos e ondulados, cujas declividades variam entre 15% a <20%, devido a estas características morfológicas, historicamente tem sido o setor que mais recebeu depósitos de resíduos sólidos domésticos, ocasionando sérios problemas aos moradores dos bairros de baixa renda próximos as área de despejo. Quanto ao setor oeste do perímetro urbano e adjacências da cidade de Presidente PrudenteSP, dominam as colinas amplas de topos suavemente ondulados, com declividade que variam entre 0 a 10%. Predominam nestas áreas os Latossolos Vermelhos profundos e bem drenados. Ocorre também uma predominância de interflúvios sem orientação preferencial, com topos angulosos e achatados, e vertentes com perfis retilíneos. A drenagem é de média a alta densidade, com padrão dendrítico e vales fechados. Conforme a coluna litoestratigráfica da bacia do Paraná (IPT, 1981 a: 48), as formações geológicas dominantes que afloram na região do Pontal do Paranapanema, pertencem ao Grupo São Bento – Formação Serra Geral-JKsg (4,3%); ao Grupo Bauru – Formações Caiuá-Kc (28,7%), Santo Anástácio-Ksa (2,7%), Adamantina-Ka (62,2%), e os Depósitos Cenozóicos-Qa (2,1%). Especialmente para o município de Presidente Prudente, a Formação Adamantina apresentase como a mais importante e amplamente documentada, pois a maioria das pesquisas geológicas desenvolvidas na região do Pontal do Paranapanema apresenta-na como a de maior expressão e representatividade. É constituída por [...] arenitos finos a muito finos, podendo apresentar cimentação e nódulos carbonáticos com lentes de siltitos arenosos e argilítos ocorrendo em bancos maciços, estratificação plano-paralela e cruzada de pequeno a médio porte (IPT, 1981 a: 48). Conforme levantamento feito por Soares et al. (1980, In: Relatório Zero da UGRHI do Pontal do Paranapanema, 1999: 38), as fácies deposicionais observadas na Formação Adamantina indicam uma deposição “[...] em um extenso sistema fluvial meandrante dominantemente pelítico a sul, gradando para psamítico a leste e norte e parcialmente nessas regiões com transição para anastomosado”. Isso significa que os cursos d’água com configuração pelítica são extremamente sinuosos, desenvolvidos em planícies aluviais de agradação ou planícies deltáicas arenosas. Apresenta uma relação lama/areia de moderada a alta, em áreas de baixa declividade e descargas altas e uniformes (SUGUIO e BIGARELLA, 1990: 152). Os cursos d’água de configuração psamítico são bem menos sinuosos, predominando em área de maior declividade, com descarga de sedimentos menos uniforme e predomínio de carga de fundo cujo material é mais heterogêneo (SUGUIO e BIGARELLA, 1990: 152). E o sistema fluvial anastomosado predomina em áreas sob condições de alto declive, cujos rios apresentam uma elevada quantidade de sedimentos de fundo, com descargas altas e periódicas. Neste tipo de sistema fluvial quase não ocorre a existência de sedimentos argilosos de fácies de transbordamento típico de sistema pelítico (SUGUIO e BIGARELLA, 1990: 154). É importante também destacarmos os trabalhos elaborados por Fernandes (1998) e Fernandes e Coimbra (1998), que em pesquisa sobre a estratigrafia e a evolução geológica do Grupo Bauru, na sua porção oriental, passaram a denominá-lo Bacia Bauru, abrangendo dois grupos: Caiuá e Bauru. No Grupo Bauru, os autores reuniram as Formações Vale do Rio do Peixe, São José do Rio Preto, Araçatuba, Marília, Uberaba, os analcimitos Taiúva e Presidente Prudente. Ainda segundo Fernandes e Coimbra (1998), no caso da Formação Presidente Prudente (Kppr-Cretácio superior) apresentam-se com arenitos muito finos a finos, de seleção moderada a má, matriz lamítica, de cores marrom-avermelhado claro a bege, e lamitos argilosos marrom-escuro (chocolate); feições de preenchimento de canais rasos, com estratificação cruzada acanalada; corpos tabulares com estratificação sigmoidal interna, e com estratificação plano-paralela; e estruturas de fluxo aquoso, de regime inferior dominante e maciço. O ambiente de sedimentação deu-se sob um sistema fluvial meandrante arenoso fino de canais rasos. Para esta pesquisa, litoestratigraficamente optou-se pela classificação proposta pelo IPT (1981 a), pôr entender que os principais trabalhos desenvolvidos na região do Extremo Oeste Paulista, e especialmente para o município de Presidente Prudente, destacam os arenitos da Formação Adamantina como a litologia existente. A partir da caracterização das formações geológicas presente no Oeste Paulista, mostrou-se que a Formação Adamantina é a de maior representatividade na região e no município de Presidente Prudente. CONSIDERAÇÕES FINAIS A elaboração do mapa geomorfológico finalizado permitirá complementar o reconhecimento da morfologia do relevo anteriormente realizada no perímetro urbano e adjacências, analisando de modo amplo o espaço geográfico do município de Presidente Prudente. Este documento auxiliará, em conjunto com outros documentos cartográficos de naturezas diversas, em projetos de planejamento sócio-ambientais urbanos, associado ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, a Lei Orgânica Municipal e ao mapa de zoneamento urbano do município. Através dos resultados obtidos com as constatações de campo realizadas no projeto anterior por Nunes et al., 2006, foi possível analisar o grau de eficiência da metodologia adotada para a expansão do mapeamento para a área do município. Assim, espera-se que o mapa finalizado sirva de modelo de técnica cartográfica para a representação das formas de relevo, de modo que o documento seja legível para todos os leitores, com a possibilidade da metodologia utilizada ser elaborada em outras áreas e municípios, desde que se tenham os materiais necessários. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AB’SABER, Aziz Nacib. Um conceito de geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o quaternário. Geomorfologia. São Paulo, no 18, p. 1-23, 1969. 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