SÉRGIO BRITO COLUNA GESTÃO EMPRESARIAL POR LUIZ BERSOU, BCA - WCS CONSULTORIA : [email protected] AGREGAR VALOR ÀS NOSSAS ATIVIDADES m grande grupo empresarial solicitou recente- U A amostra, embora pequena, tem alto significado, mente o desenvolvimento de um programa para porque as empresas envolvidas, todas importantes, tive- estimular a agregação de valor em todas as ati- ram forte presença no mercado nacional. Analisando o vidades da cadeia produtiva. Iniciei, então, uma pesquisa resultado, fica logo evidente a necessidade de responder para fundamentar esse programa de trabalho sob o título à questão que chamamos “lição de casa”: nossa empre- Técnicas Inovadoras de Agregação de Valor. sa está agregando ou destruindo valor? Encontrada a Em se tratando desse assunto, é indiscutível a impor- resposta, resta ainda a seguinte pergunta: qual o senti- tância do PIB como indicador, embora atualmente seja do de trabalharmos para agregar valor em um ambiente bastante questionado diante de indicadores mais mo- no qual, em condições “não percebidas”, estamos des- dernos, que monitoram qualidade de vida e não somente truindo valor? crescimento econômico. O fato, porém, é que a ocorrência O que percebemos é que geralmente a agregação de de queda do PIB significa que a agregação de valor em valor é percebida pelos interessados, pois vitórias são um universo de população crescente é menor e que todos sempre proclamadas. Por outro lado, raramente se nota ficam mais pobres. a destruição de valor, de modo a não gerar o necessário Como o Brasil está com PIB negativo – e deve ficar estado de consciência em relação ao problema. nessa situação por alguns anos –, faz bastante sentido Reforçamos aqui a expressão “condições não perce- buscar técnicas inovadoras para agregar valor. No caso bidas” para frisar que muitas vezes os gestores olham das empresas, podemos tentativamente considerar a e até discutem, mas não percebem, pois desconhecem evolução de seu grau de capitalização como indicativo o poder da microerosão nas estruturas, a cascata de de sua condição de agregar valor às atividades. Assim, mini-não-qualidades em sequência, tão comum hoje em a referência final a medir-se no trabalho que será rea- dia, afetando as estruturas encarregadas da geração de lizado torna-se a taxa de capitalização que a empresa valor nas empresas. consegue ter ao longo do tempo por conta das metodologias a serem introduzidas. Além disso, uma das principais causas dessa miopia de leitura corporativa está no fato de muitas de nossas empresas estarem ainda organizadas para fazer a gestão da Uma amostra, uma surpresa Em amostra de 247 empresas observadas ao longo de monotonia, quando vivemos hoje o mundo do complexo, o que acaba por agravar o problema. um arco de tempo suficiente para validar a informação, percebemos que apenas 22 tiveram ciclos de vida com Um check list surpreendente agregação de valor. As demais apresentaram ciclos de vida Elaboramos uma check list que inclui 18 temas e seus com manutenção ou destruição de valor. Como atualmente diversos desdobramentos, os quais constituem poten- estamos convivendo com uma forte inflação oculta, manu- ciais fatores de destruição de valor. Inversamente, tais tenção de valor significa também perda de valor. potenciais valores são também fatores de agregação de 32 Revista O Papel - dezembro/December 2015 COLUNA GESTÃO EMPRESARIAL valor. Temos, então, uma via de mão dupla para des- que pregam a teoria de que a autoanálise se basta por truir valor e para agregar valor. si só. Em virtude disso, ocorre o distanciamento do mun- A apresentação da lista gerou impacto interessante. do real, tendo como referência apenas a análise focada De início, uma descrença no valor da lista. Uma das mui- em seu próprio trabalho, o que leva os colaboradores a tas frases (e nunca imaginei que isso tivesse a ver com achar que o que fazem é bom e está correto. nosso caso) reflete a questão e o resultado do pequeno A dificuldade em pesquisar o que acontece com os grau de abertura, tão típico de tantas profissões, no en- concorrentes é muito mais estratégica do que operacio- tendimento do ambiente que ao redor, seja dentro, seja nal. Fica ainda mais estratégico verificar o que acontece fora da empresa – visão dos que vivem a prática das ati- nos mercados das nações mais desenvolvidas. Estranha- vidades especializadas, prática de regimes taylorianos mente existe uma percepção de que com o Brasil é dife- puros, especialização acima de tudo em detrimento de rente, mas acontece que não é! uma abertura de visão de horizonte. Decorre a percepção de que a falta de visão dos fatores contributivos à condição competitiva de nossas em- Análise e ação – a necessidade de melhorarmos os nossos Modelos de Análise presas se faz notar entre nossos colaboradores de forma No decorrer dos debates ficou muito claro que um dos muito mais pesada do que imaginamos. A pergunta que fatores de destruição de valor surge de uma típica con- fica é a seguinte: como construir competitividade, pro- dição brasileira de não analisar nem definir claramente dutividade e agregação de valor com profissionais que o problema e as etapas necessárias para resolvê-lo. En- têm dificuldade em estabelecer relações de causa e efei- tramos na comparação folclórica com os japoneses, que to nos fenômenos que os cercam? levam três anos para analisar e seis meses para realizar tudo, enquanto nós levamos seis meses para analisar e Uma comparação preocupante Quando entramos no debate dos temas da check list, emergiu aos poucos uma questão que precisa ser muito dez anos para fazer o que der, sem nunca entregarmos nada completo. Como isso fica evidente na realidade comparativa entre os países! mais estudada. Em boa parte por razões de ideologia Em todos os casos discutidos, houve a preocupação de nas universidades, está acontecendo um distanciamento apontar a causa, ainda de forma bastante genérica, e uma progressivo de visão do que significa ser competitivo, dificuldade imensa em pontuar sequencialmente os pas- saber agregar valor, tal como está acontecendo no Bra- sos, que significam o ataque eficaz e definitivo ao proble- sil e, comparativamente, nos países do primeiro mundo, ma. Uma das causas percebidas está no folclórico jeitinho justamente naqueles onde mais se agrega valor às ati- brasileiro: “Nós resolvemos na mão, sem necessidade de vidades realizadas. tanto planejamento. Na hora certa, damos um jeito”. Esse distanciamento está provocando perda de percepção do que seja produtividade, desempenho, com- Neutralizar a ação de destruição de valor para nos petitividade e, em decorrência, da capacidade de agre- concentramos na construção de valor gar valor, seja para a empresa, seja para o país, em um Este é um tema bom para caracterizarmos o plane- mundo onde todos se encontram e mostram as armas jamento estratégico de muitas empresas. No mundo de sua condição competitiva. A visão rigorosa de onde atual, em que o desconhecido chega cada vez mais devemos chegar está fazendo falta. depressa e cada vez com mais impacto (como explica Isso acontece porque nossos executivos estão perden- Nassin Taleb ao descrever o mapa genealógico do in- do a capacidade de comparar. Há entre os gestores uma certo), estar com a empresa sincronizada e contar com enorme dificuldade de analisar concorrentes, as compa- grande coerência de ação entre as partes e simplici- rações que fazem se relacionam a referências muito po- dade de gestão são fatores que levam à condição tão bres. De certa forma esse fenômeno reflete uma condi- necessária de ter mais condições para pensar em pro- ção de prática de análise crítica de nossas universidades, fundidade antes de agir. n dezembro/December 2015 - Revista O Papel 33