VI SIMPÓSIO DE CIÊNCIAS DA UNESP – DRACENA VII ENCONTRO DE ZOOTECNIA – UNESP DRACENA DRACENA, 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2010 REVISÃO DE LITERATURA CECOTROFAGIA EM CAPIVARAS (Hydrochaeris hydrochaeris) 1Alves, L.F.S, 1Felix, G.A, 1Seno, L.O., 1Almeida Paz, I.C.L., Santana, M.R., ¹Narimatsu, K.H. 1Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, MS. Programa de Educação Tutorial – PET/ZOO, MEC/SESu. INTRODUÇÃO: A etologia é o estudo científico do comportamento individual ou coletivo dos animais, no seu meio natural ou habitual, animado ou inanimado. O comportamento dos animais se constitui em relações dinâmicas, influenciados por estímulos externos e internos e em permanente mudança. Neste sentido, a etologia tem muito a contribuir, pois para realizar o manejo de qualquer espécie animal são necessários estudos detalhados sobre o comportamento reprodutivo, social e alimentar (MACHADO FILHO et al., 2005). O comportamento alimentar das espécies é dependente da distribuição espacial e da disponibilidade quantitativa e qualitativa do alimento. Diversos estudos procuram entender as alterações no comportamento alimentar e a forma com que as espécies determinam o local de pastejo e a biomassa ideal de forragem. Outro fator importante, que deve ser estudado detalhadamente é a adaptação de animais herbívoros com estômago simples como as capivaras (Hydrochaeris hydrochaeris), que possuem ceco funcional e realizam a cecotrofia que permite uma repetitiva exposição da digesta às ações físicas e químicas do processo digestivo. Desta forma este grupo de animais aproveita melhor o alimento ingerido. Novos conhecimentos a cerca dos processos que ocorrem no ceco desta espécie é de suma importância para se entender o comportamento e hábito alimentar visando futuros planos de manejos para controle populacional bem como para conservação da espécie. DESENVOLVIMENTO A capivara, o maior roedor conhecido, pertence à família Hydrochaeridae, que inclui apenas uma espécie no Brasil, Hydrochoerus hydrochaeris. É um animal semiaquático e essencialmente herbívoro, chegando a ingerir de 3 a 4 kg de vegetação fresca ou aquática diariamente, digerindo mais da metade da matéria orgânica, inclusive fibras (DEUTSCH & PUGLIA, 1988; BRESSAN et al., 2005). Por ser um animal monogástrico (MENDES, 1999), sua capacidade digestiva inicia-se por uma excelente trituração das forragens, passando por um processo de fermentação que ocorre no ceco por populações de microorganismos que vivem em relação de mutualismo, digerindo os carboidratos estruturais das plantas, pastam rente ao chão, cortando a grama com os dentes incisivos e triturando o alimento com os molares (MOREIRA & MACDONALD, 1997). As capivaras apresentam um comportamento de coprofagia, que é o consumo de fezes após serem depositadas no chão Herrera (1986), porém segundo Mendes (1999), esta espécie realiza a cecotrofia, ou seja, ingestão da VI SIMPÓSIO DE CIÊNCIAS DA UNESP – DRACENA VII ENCONTRO DE ZOOTECNIA – UNESP DRACENA DRACENA, 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2010 cecotrofe após a fermentação microbiana no ceco diretamente da região retal pelo animal que o produziu, possuindo alto valor protéico e vitamínico, o que aumenta consideravelmente o aproveitamento dos alimentos. De acordo com Andrade et al., (1996) a capivara, utiliza mecanismo semelhante a cecotrofia em coelhos para manter o equilíbrio protéico. Cunha (2000) descreve que cecotrofia (cecotrofagia) é um processo particular da coprofagia, sendo observada nos herbívoros como consequência da adaptação do processo digestivo de animais de pequeno porte submetidos a condições alimentares particularmente difíceis. Trata-se de um fenômeno digestivo mais complexo do que a simples ingestão de fezes: os animais que realizam tal processo produzem dois tipos de fezes - as duras e as moles - ingerindo apenas as últimas (BRESSAN, 2005). Estas por terem uma composição química muito semelhante à do conteúdo do ceco, tem sido denominadas cecotrofos e o fenômeno, cecotrofia. Em coelhos, o ceco é o órgão fundamental da cecotrofia e comporta-se como uma câmara de fermentação similar ao rúmen dos animais com estômagos compartimentalizado (BASSAN et al., 1999). A síntese de vários nutrientes ocorre em graus variados no intestino grosso da maioria dos animais, sendo que a síntese de vitaminas B e K é especialmente significantes. As vitaminas podem ser absorvidas pela mucosa ou podem ser eliminadas nas fezes. Neste caso, a coprofagia é um padrão comportamental que suplementa os requerimentos diários de vitaminas em algumas espécies de mamíferos a coprofagia é um comportamento fixo, como uma adaptação para o aproveitamento mais eficiente do alimento consumido. CONCLUSÃO O ceco é um órgão importante no processo de digestão, porque realiza funções que, aliadas às dos outros órgãos do aparelho digestório, favorecem um bom aproveitamento do alimento como fonte nutricional e energética. Por esta razão, torna-se importante desenvolver estudos que possibilitem um maior entendimento sobre o comportamento alimentar dos animais silvestres, principalmente as capivaras, que possuem alto potencial zootécnico, pois este conhecimento permitirá desenvolver e implantar sistemas alternativos que otimizem a produção destes animais para consumo, bem como para conservação da espécie. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ANDRADE, P. C. M.; LAVORENTI, A.; NOGUEIRA, S. L. G. Efeitos de níveis de proteínas e energia em rações para capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris L. 1766) em Crescimento. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35, 1996, Fortaleza. Anais... Fortaleza: SBZ, p. 248-251, 1996. BASSAN, N. et al. Células Enteroendocrinas intraepiteliales em ciego y apéndice de conejo sensibilizados com ovoalbumina. Acta Gastroenterologica Latinoamericana, v. 29, n. 5, p. 313-317, 1999. VI SIMPÓSIO DE CIÊNCIAS DA UNESP – DRACENA VII ENCONTRO DE ZOOTECNIA – UNESP DRACENA DRACENA, 06 A 08 DE OUTUBRO DE 2010 BRESSAN, M.S.; FONSECA, C.C.; MENIN, E.; PAULA, T.A.R. Aspectos Anátomo-Histológicos e Neuroendócrinos do ceco da Capivara Hydrochoerus hydrochaeris Linnaeus, 1766 (Mammalia, Rodentia). Arq. ciên. vet. zool. UNIPAR, 8(2): p. 197-203, 2005. CUNHA, L.F. Nutrição e Alimentação: Fisiologia Digestiva do Coelho. Aspectos mais relevantes. Disponível em: <http://www.utad.pt/apez/APEZNorte/2000/Cunicultura/S2.htm>. Acesso em: 05 ago. 2010. DEUTSCH, L. 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Brasília: Sociedade Civil Mamirauá, p.186-213, 1997.