1 AÇÕES DE CONSEVAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA DO SUL DA BAHIA: REPRESENTATIVIDADE DAS ONGs, DAS REDES E DOS PRODUTORES RURAIS Renata dos Santos¹, Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, [email protected]; Raquel Maria de Oliveira², Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, PRODEMA, [email protected]; Paulo Hellmeister Filho³, Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, PRODEMA, [email protected] Resumo: A Mata Atlântica do sul da Bahia apresenta uma expressiva biodiversidade e um alto grau de fragmentação, fato que tem ocasionado a perda de muitas espécies, e o aumento do efeito de borda nos fragmentos. Esforços vêm sendo intensificados por ONGs, pesquisadores e ambientalistas para a conservação dos últimos remanescentes da Mata Atlântica locais. Dentre os esforços realizados está à criação de leis, como exemplo a lei da Mata Atlântica, bem como decretos e programas de reflorestamento que contam com a população rural local, para a obtenção de mudas e sementes. O objetivo deste trabalho é analisar as ações de conservação que têm sido realizadas pela ONGs, redes e pelo grau de conhecimento e prática do produtor rural na coleta de mudas e sementes da Mata Atlântica do sul da Bahia. Uma vez que a adesão dos produtores rurais aos projetos de restauração ou plantios florestais, depende em grande parte, de alternativas associadas à questão econômica, à geração de renda e a sua manutenção no campo, que gerem alternativas para a produção, desta forma, há uma diminuição da pressão sobre a mata nativa. O projeto “Nossas Árvores” através de cursos de capacitação em coletas de mudas e sementes, vem realizando trabalhos com os pequenos agricultores para a realização da coleta das mudas e sementes de espécies arbóreas nativas da região. Até o momento mais de cem mil mudas foram vendidas para programas de reflorestamento, garantido ao produtor uma renda e a sustentabilidade ambiental da região. Palavras-chave: Mata Atlântica do sul da Bahia, Produtores rurais, ONGs e Redes. Abstract: The Atlantic Forest of the Southern Bahia demonstrates an expressive biodiversity in high level of fragmentation, a true fact that has caused a loss of various species and also an increase the affect on the fragments edge. The efforts have been intensified by ONGs, researchers and environmentalist for the conservation of last remaining enclaves of local Atlantic Forest. Law making is part of our ongoing efforts, as we portrait the Law of the Atlantic Forest, which decrees the reforestation program that counts with the help of the local rural population in order to obtain seeds and root-balls. The objective of this work is to analyze the actions of conservation that have been carried out by ONGs, networks and by the knowledge level and the skills of rural producers about collecting root-balls and seeds of the Atlantic Forest of the southern Bahia. Once the conjunction of rural producers to the restoration projects or forest plantations, in which, will need in great part, of alternatives associated with economic issues, raising funds ad also its field maintenance that could generate alternative for production, in a way the will diminishes the pressure above the native forest. The project “Our Trees”, through the courses of collecting root-balls and seeds, has been working with the small agricultures to achieve the so called root-balls and seeds collections of tree plants species of the native region. At the present time, more than one-hundred thousands root-balls have been sold to the reforestation program, guaranteeing the producer a substantial profit and a sustainable region environment. Key-words: Atlantic Forest of southern Bahia, rural producers, ONGs and Networks 1 - INTRODUÇÃO O planeta Terra é composto por vários b iomas, dentre eles estão às florestas tropicais que possuem as maiores e mais ricas reservas de diversidade biológica do globo e grandes perdas de habitat, devido ao 2 processo de degradação a qual vem sendo submetidas. Dentre as florestas tropicais, a Mata Atlântica brasileira, embora possua alta riqueza e diversidade biológica, encontra-se totalmente fragmentada, tendo a sua área reduzida em menos de 8% (CÂMARA, 2005). Tornado-se um dos biomas mais ameaçado do planeta. Os remanescentes de Mata Atlântica, que se distribuem pelo sul da Bahia, apresentam um dos maiores índices de riquezas de espécies arbóreas por área do planeta, com muitos endêmicos restritos (THOMAS et al. 1998). Também conserva ainda uma grande diversidade de espécies da fauna como o mico-leão-decara-dourada (Leontophitecus chrysomelas) e o macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus apella xanthosternos) que são espécies símbolos desta região. Estes animais silvestres não são encontrados em nenhum outro lugar do mundo. A Mata Atlântica do sul da Bahia encontra-se altamente ameaçada, devido à expansão do turismo costeiro; aos elevados índices de desmatamento causado pelas atividades de exploração de madeira e agropecuária, provocando fragmentação de habitat (SAATCHI et al. 2001). Devido à situação atual da Mata Atlântica do sul da Bahia esforços vêm sendo intensificados por ONGs, pesquisadores e ambientalistas, no sentido de conservar os fragmentos florestais remanescentes e implantar corredores biológicos, através do reflorestamento de matas ciliares, reservas legais e do incentivo ao uso de sistemas agroflorestais de baixo impacto. Entre os principais entraves existentes estão à falta de conhecimento sobre as espécies nativas e o seu status de conservação, além da dificuldade na obtenção de sementes e mudas de árvores nativas. Visando esta falta de conhecimentos sobre as florestas, projetos universitários e de ONGs estão trabalhando com agricultores da região capacitando-os e auxiliando-os na coleta de mudas e sementes, além de enfatizar a conservação da floresta e sobre a importância da sustentabilidade ambiental. Com o grau de ameaça da Mata Atlântica da Bahia o reflorestamento é algo indispensável para a continuidade da floresta, pois assim possibilitará a junção de fragmentos e por sua vez à continuidade do fluxo gênico entre as espécies existentes nestas áreas. A promoção do reflorestamento é importante também pela sua capacidade de absorção de carbono, contribuindo para a redução do efeito estufa, podendo gera créditos de carbono, que poderão ser aplicados num mercado que esta em expansão (seqüestro de carbono). Os remanescentes florestais do sul da Bahia possuem um altíssimo grau de variedade genética, principalmente vegetal, visando essa diversidade é que se propõe o reflorestamento de áreas degradas, já que esta região nos últimos anos foi bastante desmatada devido à agropecuária e outras atividades econômicas. Para a prática do reflorestamento recorrem-se as mudas e sementes de preferência as espécies arbóreas nativas da região. Possibilitando a esta uma melhor adaptação edafoclimatica e uma resistência maior a patógenos encontrados na região. No sul da Bahia o grau de endemismo é grande, fazendo desta 3 região uma região única. Isto permite aos produtores de mudas de espécies arbóreas nativas um trabalho mais detalhado e minucioso, principalmente na identificação da espécie. Implicando em um apoio técnico ou de especialistas. A coleta das mudas e sementes passa a ter uma importância relevante para a região, tanto do ponto de vista ambiental, quanto econômico, já que o conhecimento da prática permite aos agricultores, terem uma ligação direta com a mata, criando laços de conservação e o desejo que seus descentes possam desfrutar desses recursos. Além do beneficiamento com as vendas das mudas, e o artesanato com as sementes que aumentam a renda familiar destes pequenos agricultores. Sendo assim, uma análise do grau do conhecimento e das práticas de coletas de sementes e mudas realizadas por estes produtores é relevante, pois demonstram o quanto os atores diretamente envolvidos com a Mata Atlântica, compostos por agricultores e trabalhadores rurais podem contribuir com a conservação dos últimos fragmentos de Mata Atlântica ainda existentes no sul da Bahia. 1.1. Objetivo geral Analisar os impactos da fragmentação da Mata Atlântica regional e as ações de conservação pelas ONgs, redes e o grau de conhecimento e prática do produtor rural na coleta de mudas e sementes da Mata Atlântica do sul da Bahia. 1.2. Objetivos específicos Este estudo se propõe a analisar: - os impactos causados pela fragmentação e pelo efeito de borda na Mata Atlântica. - a representatividade das ONGs e Redes na conservação da Mata Atlântica. - o desempenho dos produtores rurais no conhecimento e prática de coleta e seleção de mudas e sementes nativas, e sua contribuição na conservação dos remanescentes de Mata Atlântica. 2 - BIODIVERSIDADE O termo biodiversidade, segundo Artigo 2 da Convenção sobre Diversidade Biológica (BRASIL, 2002), pode ser entendido como a variabilidade dos organismos vivos de todas as origens, abrangendo os ecossistemas terrestres, marinhos, e outros ecossistemas aquáticos, incluindo seus complexos; e compreendendo a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas. Dentro deste conceito é importante ressaltar a inclusão da espécie humana como componente fundamental do sistema e altamente dependente dos serviços e bens ambientais oferecidos pela natureza. Sem recorrer ou dispor da diversidade biológica natural ou da reserva biológica do planeta, a vida humana correria sérios ou até insuperáveis riscos (DOUROJEANNI & PÁDUA, 2001). Nas florestas tropicais, a biodiversidade está organizada de maneira muito fragmentada no tempo e no espaço, em razão da alta heterogeneidade de ambientes físicos (microclima, solos, topografia), bióticos, 4 fisiológicos (variação química do metabolismo secundário) e, especialmente, sucessionais (pela freqüência de perturbação brandas e imprevisíveis) nesses sistemas (REIS et al., 1992). A perda da biodiversidade nas florestas tropicais, ressaltando a Mata Atlântica, pode incluir a perda de ecossistemas, populações, variabilidade genética, espécies e processos ecológicos e evolutivos que mantêm essa diversidade. Na Mata Atlântica as causas e dinâmica da perda de biodiversidade são extraordinariamente complexas, historicamente impulsionadas por um sistema desigual de posse da terra e por relações comerciais locais, nacionais e internacionais. As causas específicas dessa perda incluem tantos incentivos mais amplos e o próprio mercado global (LEAL & CAMARA, 2005). O conjunto de fitofisionomias que constitui a Mata Atlântica proporcionou uma grande diversidade ambiental o que, por sua vez deu origem a um complexo biótico de natureza vegetal e animal rico (CAMPANILI & PROCHNOW, 2006). A Mata Atlântica apesar de seu grave estado de fragmentação, abriga mais de 20 mil espécies de plantas, tendo 8 mil endêmicas. Sendo a floresta mais rica do mundo em diversidade de espécies arbóreas. No sul da Bahia, foram identificadas 454 espécies distintas em somente um hectare (BRASIL, 2006). Estima-se que existam mais de 1.6 milhões de espécie animais. No caso de mamíferos foram catalogadas 261 espécies sendo 75 endêmicas, 620 espécies de aves, das quais 181 são endêmicas, 280 espécies de anfíbio, sendo 253 endêmicos. Quanto aos répteis foram catalogadas 200 espécies das quais 60 são endêmicas (CAMPANILI & PROCHNOW, 2006). 3 - A MATA ATLÂNTICA DO SUL DA BAHIA O processo histórico de ocupação do território sul baiano revestiu-se de um caráter predatório, com a extração do pau-brasil desde a época da colonização nas matas próximo ao litoral. Segundo Leite, citado por Sambuichi (2003), em seguida no século XVI surgiram as primeiras plantações de cana-de-açúcar que depois de um breve período de expansão entrou em decadência devido a ataques indígena e a competição com outros centros de produção de cana do nordeste. Por mais de 200 anos a região permaneceu praticamente selvagem, com a colonização não indo além de 10 km da costa em direção ao interior (SAMBUICHI, 2003). Posteriormente surgiram as primeiras plantações de cacau denominadas, cabruca (floresta misturada com pés de cacau), um sistema agroflorestal. O manejo das áreas de cabruca consiste na retirada ou raleamento da vegetação arbustiva e a permanência das árvores de grande porte para o sombreamento dos pés de cacau. Com isso muitos exemplares de árvores foram conservados nas cobrucas. A região sul da Bahia ganhou destaque nacional devido a sua grande produção e exportação de cacau. A cultura cacaueira preponderou do final do século XVIII até o final do século XX, quando uma crise abateu-se sobre a região, devido a uma a praga denominada vassoura de bruxa (Crinipellis perniciosa) que dizimou as plantações de cacau na região. 5 Estima-se que aproximadamente 6.800 km2 de florestas na região tenham sido transformadas em plantações de cacau, dos quais cerca de 70% ainda seriam de cabrucas (Franco et al. 1994). Graças a cabruca a região sul da Bahia permaneceu a área mais florestada da Mata Atlântica, só que devido à crise cacaueira, muitos produtores começaram a devasta as áreas de cabrucas e da própria floresta, em busca de madeira ou para a formação de pastagens. Tendo ainda a ocupação indiscriminada que atingiu duramente as áreas mais apropriadas para a manutenção de florestas, principalmente às planícies costeiras as áreas de morro e as matas ciliares. Calcula-se que cerca de um bilhão de árvores foram derrubadas nessa região entre os anos de 1985 e 1990 (Fundação SOS Mata Atlântica, 2008). Com todos os problemas encontrados na região sul da Bahia os fragmentos de mata existentes ainda guardam grande endemismo. Estudos feitos em duas áreas de floresta nativa encontraram níveis de 28,1% e 26,5% de espécies vegetais endêmicas a essa região. Os níveis de diversidade de espécies são também muito altos na região, com 425 a 450 espécies arbóreas por hectare (THOMAS & CARVALHO, 1997). 4 - RECURSO NATURAL Segundo Portugal (1992) “... A palavra recurso significa algo a que se possa recorrer para a obtenção de alguma coisa”. Para esse autor, o homem recorre aos recursos naturais, isto é, aqueles que estão na natureza, para satisfazer suas necessidades. Para Art (1998) recurso pode ser: a) componente do ambiente (relacionado com freqüência à energia) que é utilizado por um organismo e b) qualquer coisa obtida do ambiente vivo e não-vivo para preencher as necessidades e desejos humanos. Devido a situação atual das florestas do Brasil e principalmente a Mata Atlântica, devi-se buscar formas menos agressiva ao meio ambiente para a utilização dos recursos naturais. Assim pode-se empregar o uso do manejo sustentável que consiste num planejamento das operações em determinada área prevendo a continuidade da disponibilidade dos recursos naturais. De acordo com a Lei no. 9.985/2000, o uso sustentável é a exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável. O manejo e uso dos recursos naturais de forma planejada, racional e sustentável se justificam devido à rápida destruição dos ambientes naturais. Dessa forma o planejamento adequado das áreas de desenvolvimento econômico deve ser considerado ação prioritária para assegurar a proteção dos recursos naturais, o equilíbrio natural e a produtividade das terras (AQUINO, 2009). 4.1. A busca por madeira Segundo dados do IBAMA, em meados de 1970 a Mata Atlântica ainda contribuía com 475 de toda a madeira em tora do país, com um total de 15 milhões de m³. Produção drasticamente reduzida para a 6 metade (7,9 milhões de m³) em 1988, dando o esgotamento dos recursos devido à exploração não sustentável. A exploração madeireira no sul da Bahia nos últimos 30 anos foi mais expressiva do que a ocorrida ao longo de 4 séculos no Brasil (CUNHA, 2006). Desde a abertura da BR 101, as madeireiras avançam sobre a floresta. A floresta ombrófila densa e algumas áreas de transição para a floresta estacional semidecidual continuam sendo alvos de devastação, em intensidade variável conforme a demanda por madeira nativa e a conjuntura socioeconômica da região (MACIEL, 2007). Em 1998 a resolução 240/98 CONAMA suspendeu a exploração madeireira até a apresentação de estudos comprovando a sustentabilidade dessa atividade. Os estudos nunca foram realizados de modo a atender o que foi preconizado. Devido à intensa pressão dos madeireiros sobre os governos Estadual e Federal, as exigências foram flexibilizadas na resolução CONAMA 248/99. Essa última determinou, entre outros, estudos sobre o estoque das espécies comerciais e o mapeamento atualizado dos remanescentes (MACIEL, 2007). 5 - A IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO Embora a Mata Atlântica do sul a Bahia apresente grande endemismo tanto de fauna quanto de flora a mata está totalmente fragmentada. Segundo Lovejoy (1986), a fragmentação florestal é o processo no qual, áreas continuas são subdivididas em áreas de tamanho reduzido devido à destruição do habitat; por sua vez constituindo ilhas do ecossistema original inserido em uma matriz com diferentes ecossistemas (SOUNDERS et al, 1991). Porém nem sempre fragmentos podem ser inferidos como ilhas, pois dependendo da permeabilidade da matriz e do grau de isolamento, o remanescente pode ter um alto fluxo de animais e propágulos (METZGER, 2000 e STEFFAN. DEWENDER et al. 2002). 5.1. A fragmentação e a perda da biodiversidade devido à fragmentação As fragmentações normalmente estão associadas a uma série intervenções na floresta, tais como extração de espécies madeireiras e outras de interesse econômico, caça e queimadas, que têm efeitos sinergéticos com a fragmentação florestal, contribuindo para a perda de biodiversidade (LAURANCE et al., 2001; TABARELLI et al., 2004). Segundo Viana 1995, o maior impacto da fragmentação florestal é a perda da biodiversidade regional, e quanto mais fragmentadas e perturbadas as paisagens, maiores são os desafios para conservação da biodiversidade. Efeitos da fragmentação podem ser fortes ou fracos, suas implicações dependem do tipo de organismo envolvido, do tipo de paisagem, ambiental, de sua dinâmica e, claro do tipo do envolvimento e uso pelo homem na região fragmentada (WHITTAKER, 1998). A perda de diversidade em fragmentos ocorre 7 basicamente de duas formas. A primeira e mais evidente e a perda imediata de espécies por conseqüência da diminuição da área. Espera-se que espécies habitavam (exclusivamente) a área desmatada não esteja presente nos remanescentes (FERNANDEZ, 2004). A segunda forma é mais longa e sutil e demanda uma escala de tempo mais longa. As populações eventualmente presentes em determinado fragmento não necessariamente persistirão como população ao longo do tempo, mesmo que o ambiente não seja mais alterado. Uma população pequena, restrita a um fragmento isolado esta sujeita a: 1) aleatoriedade demográfica, ou seja, quando populações pequenas e isoladas geram filhotes do mesmo sexo e, portanto, ficam impedidas de se reproduzir; 2) aleatoriedade ambiental quando condições globais como, um ano com pouca produção de alimentos faz com que os indivíduos morram: e 3) aleatoriedade genética quando o endocruzamento pode provocar o surgimento de deletérios e dominância levando a extinção em longo prazo (FERNANDEZ, 2004). Com a fragmentação, algumas espécies são imediatamente perdidas devido a sua ausência nos fragmentos remanescentes de hábitat natural (BIERREGAARD et al., 1992; LAMB et al., 1997). Nesta redução imediata do tamanho das populações, são particularmente afetadas as espécies que têm intrinsecamente uma densidade populacional baixa. As espécies que têm um grande raio de ação ou são territoriais são também imediatamente afetadas pela fragmentação, pela falta de espaço adequado para sua sobrevivência (BIERREGAARD et al., 1992). Grande parte dos sistemas fragmentados não sustenta a mesma diversidade de espécies encontradas em ecossistemas originais por influencia do “efeito de borda”. 5.2. Efeito de borda A relação perímetro/ superfície causados pelo processo de fragmentação florestal incrementa sua permeabilidade a condições ambientais e penetração de espécies exóticas encontradas nos ambientes periféricos (ESTRADA et al 2002). O efeito de borda é definido por Forman & Godron (1986), como uma modificação na abundância relativa e na composição de espécies na parte marginal de um fragmento. Já Murcia (1995), define “efeito de borda” como uma zona ecótone, resultante da interação de ecossistemas, o florestal e o adjacente separados por uma transição abrupta. Segundo (Laurence et al. 1997 e Murcia 1995), existem três tipos de efeito causado por ações da borda: os abióticos, os bióticos diretos e os indiretos, os efeitos abióticos envolvem alterações nas condições microclimáticas, os bióticos diretos são as mudanças na composição, distribuição à abundância das espécies devido às alterações físicas próxima a borda, e os efeitos bióticos indiretos, que são as mudanças nas interações ecológicas como parasitismo, competição, predação, polinização e dispersão de sementes, decorreste das mudanças causadas pelos efeitos bióticos diretos. 8 6 - ASPECTOS LEGAIS DAS ÁREAS DEGRADADAS No Brasil a legislação de proteção a Mata Atlântica e recente data do ano de 1965 com o estabelecimento do Código Florestal – Lei Federal 4771/65. O código florestal institui áreas de preservação permanente onde somente o poder público executivo pode autoriza a supressão de vegetação, sendo que as floretas são bens de interesse comum a todos os habitantes do País. Determinou também à necessidade das propriedades apresentarem áreas de reservas florestais e normativa toda a política florestal brasileira. Só que esta lei não oferecia nenhum mecanismo suficiente para a proteção da biodiversidade existente nas florestas como apresenta hoje a lei. A lei federa 6938/81 - lei de Políticas Nacional de Meio Ambiente. Foi primeira lei no sentido de realmente organizar a política de meio ambiente e toda a estrutura governamental, no nível federal, estadual e municipal, ligada aos assuntos ambientais. Criou o CONAMA e o SISNAMA (Regulamentada pelo decreto n° 88.351 de 01 junho de 1983). A Constituição Federal de 1988 - artigo 225. A Mata Atlântica é considerada patrimônio nacional e sua utilização far-se-á, na forma de lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao seu uso dos recursos naturais. Posteriormente, seguindo a orientação da Constituição Federal, diversos Estados inseriram em suas Constituições dispositivos, transformando seus remanescentes de Mata Atlântica em áreas especialmente protegida, sendo que alguns Municípios criaram dispositivos específicos em suas Leis Orgânicas (CAPOBIANCO, 2001). Resolução CONAMA nº. 240/98 Determina ao IBAMA e aos órgãos ambientais da Bahia, em conformidade com suas competências, a imediata suspensão das atividades madeireiras que utilizem como matéria-prima árvores nativas da Mata Atlântica, bem como de qualquer tipo de autorização de exploração ou desmate de florestas nativas concedidas pelo IBAMA ou pelos órgãos ambientais estaduais, na área de Mata Atlântica do Estado da Bahia. A Lei 11.428 de 22.12.2006, conhecida como Lei da Mata Atlântica, foi um passo importantíssimo para a conservação dos remanescentes dessa floresta. A lei manteve a definição do Decreto nº 750/93. Ela define e regulamenta os critérios de uso e proteção do bioma cria incentivos financeiros para a restauração dos ecossistemas, estimula doações de iniciativas privadas para projetos de conservação, regulamenta o artigo da Constituição que define a Mata Atlântica como Patrimônio Nacional, delimita o seu domínio, proíbe o desmatamento de floresta primarias e cria regras para exploração econômica. Decreto 6660 no dia 21.11.2008, que regulamenta a Lei 11.428, é outro passo decisivo para a consolidação da legislação que protege a Mata Atlântica e cria uma segurança jurídica, na medida em que estabelece em detalhes “o que”, “como” e “onde” pode haver intervenção ou uso sustentável da floresta e 9 ecossistemas associados. Ele atende reivindicações históricas, principalmente dos pequenos produtores rurais e populações tradicionais. O Decreto também detalha os tipos de vegetação protegidos pela Lei da Mata Atlântica os quais são delimitados no “Mapa da Área de Aplicação da Lei 11.428, de 2006”, elaborado pelo IBGE. A Lei e o Decreto procuram proteger efetivamente o que restou da Mata Atlântica ao estabelecer que quaisquer novos empreendimentos na região abrangida, sejam referencialmente implementados em áreas já substancialmente alteradas ou degradadas. Um destaque importante é que o regime jurídico da Lei e deste Decreto somente se aplica aos remanescentes de vegetação nativa, não interferindo em áreas já ocupadas legalmente com agricultura, cidades, pastagens e florestas plantadas ou outras áreas desprovidas de vegetação nativa. O Decreto também estabelece procedimentos simplificados para o uso sustentável da Mata Atlântica para pequenos produtores rurais e população tradicional e os requisitos mínimos necessários para a coleta de subprodutos como folhas, frutos e sementes, manutenção da prática do pousio e até mesmo da exploração de espécies arbóreas pioneiras, tudo em perfeita harmonia com a determinação constitucional de se promover à proteção e o uso sustentável dos recursos naturais. Além disso, ele estimula o plantio de espécies nativas para recuperação de áreas já desmatadas e também para a produção de matéria prima florestal para uso econômico. 7 - RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS O tema Recuperação de Áreas Degradas (RAD) tem sido objeto de numerosos estudos nas últimas décadas, adquirindo caráter de uma nova área de conhecimento que tem como definição os aspectos teóricos e práticos relacionados com a recuperação e o funcionamento da integridade ecológica de ecossistemas, dentro de uma abordagem holística, envolvendo inclusive os aspectos sociais e econômicos (RODRIGUES & GANDOLFI, 1996). O conjunto de ações e estratégias para a recuperação de florestas dependerá dos objetivos pretendidos, sendo possível à utilização de diferentes métodos. Nessa abordagem da recuperação, muitos são os termos sugeridos, assim como restauração e reabilitação, no entanto, a recuperação de fragmentos florestais degradados não pode ser discutida sem que se tenha clareza sobre os fatos responsáveis pela degradação dessas áreas, que por sua vez, estão inseridos no contexto de uso e ocupação do solo (RODRIGUES & GANDOLFI, 2000). Segundo Barbosa (2008), os trabalhos de reflorestamento de trechos de matas ciliares iniciaram-se com modelos que incluíam somente espécies exóticas, principalmente por não se conhecer as estruturas das florestas nativas tropicais e pela indisponibilidade de sementes e mudas de espécies nativas. O que se tem 10 constatado, no entanto, é que os projetos para restauração florestal não têm atendido aos requisitos mínimos necessários para o restabelecimento dos processos ecológicos nas áreas em recuperação, requisitos esses relacionados principalmente com a diversidade florística e genética das florestas implantadas. O Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais - DEPRN tem constatado que dentre outras formas de Recuperação de Áreas Degradadas, os plantios realizados têm apresentado resultados mais satisfatórios a partir dos critérios técnicos para a escolha e combinação das espécies, estabelecidos na Resolução SMA 21/01, resolve: Art. 1º - A recuperação de áreas degradadas exige elevada diversidade, que pode ser obtida com o plantio de mudas e/ou outras técnicas tais como semeadura direta, indução e/ou condução da regeneração natural. § 1 - O caput deste artigo não se aplica para áreas de recuperação com menos de 1,0 (um) hectare, nas quais deverão ser utilizadas, no mínimo, 30 espécies. § 2 - Respeitando-se as formações de ocorrência, recomenda-se a utilização de espécies ameaçadas de extinção, e/ou atrativas da fauna associada. §3 - As espécies escolhidas deverão contemplar os dois grupos ecológicos: pioneiras (pioneiras e secundárias iniciais) e não pioneiras (secundárias tardias e climácicas), considerando-se o limite mínimo de 40% para qualquer dos grupos. §4 - Com relação ao número de indivíduos por espécie, nenhuma espécie poderá ultrapassar o limite máximo de 20% do total do plantio. Art. 2º - A recuperação florestal de áreas degradadas nas formações de floresta ombrófila, floresta estacional, semidecidual e savanas florestadas (cerradão), será efetivada mediante o plantio de mudas de, no mínimo, 80 (oitenta) espécies arbóreas das formações vegetais de ocorrência regional, exemplificadas na listagem do Anexo a esta resolução, não excluindo espécies levantadas regionalmente. Art. 3º - Na execução dos trabalhos de recuperação florestal, deverão ser priorizadas as seguintes áreas: a) as áreas consideradas de preservação permanente pela Lei Federal 4771/65, em especial aquelas localizadas em nascentes e olhos d'água; b) de interligação de fragmentos florestais remanescentes na paisagem regional (corredores ecológicos); c) de elevado potencial de erodibilidade; Visto que o que está em jogo é não somente a implantação de mudas no campo, mas sim procedimentos que garantam a sustentabilidade da floresta implantada os processos ecológicos deverão ser restabelecidos através do uso da diversidade florística e genética com características adaptáveis aos regimes hidrográficos, geomorfológicos e vegetacionais (BEDUSCHI, 2006). 11 8 - A GARANTIA DA QUALIDADE DE MUDAS E SEMENTES SEGUNDO O DECRETO N° 5.153, DE 23 DE JULHO. Projetos de replantios, recuperação de matas ciliares, de áreas desflorestadas ou recomposição de reserva legal geralmente vêm acompanhados da promessa de plantio de alguns milhares de árvores. Mas, antes das árvores crescidas, é preciso arranjar as mudas. E, antes das mudas, as sementes. Embora seja tão elementar pensar nisso, em pleno país da biodiversidade não é fácil arrumar sementes de espécies nativas brasileiras, o que compromete o sucesso de qualquer iniciativa de reflorestamento (FANZERES, 2008). As espécies florestais nativas ocupam importante e crescente espaço no mercado de sementes. Porém, até o momento, ainda existe uma lacuna para se formalizar as atividades de comercialização e controle de qualidade com sementes oriundas de espécies nativas, tanto por falta de conhecimento do comportamento biológico de muitas espécies como de padrões estabelecidos para sua comercialização. Apesar do grande número de espécies nativas comercializadas no Brasil para fins de recomposição florestal, poucas estão incluídas nas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992b). As sementes de espécies florestais nativas em seu estado natural comportam grande variabilidade genética, resultando em ampla variedade de características morfofisiológicas que, por sua vez, são determinantes no comportamento ecológico dos indivíduos de mesma espécie. Além disso, pelo fato dessas espécies estarem distribuídas em uma grande extensão geográfica, encontram-se sujeitas às variações edafoclimáticas em escalas espaciais e temporais. Somam-se a isso outros fatores relacionados ao manejo de coleta e pós-coleta, capazes de influenciar diretamente na qualidade germinativa das sementes. Estes fatores exigem cautela na definição de um padrão que seja característico para determinada espécie, especialmente no que tange às sementes e a seu comportamento germinativo (WIELEWICKI,et al, 2006). Em relação aos padrões, a falta de informações sistematizadas sobre a germinação e outras características fisiológicas das sementes nativas dificulta ainda mais a elaboração de manuais de controle de qualidade destas sementes (WIELEWICKI, et al, 2006). As sementes de espécies florestais nativas são as responsáveis pela manutenção e perpetuação destas na natureza, seja pela germinação natural ou por programas de formação de mudas para a recomposição florestal. O uso de testes rápidos para avaliar a qualidade das sementes e fornecer aos produtores ou viveiristas informações precisas quanto ao desempenho na semeadura é de grande importância no processo de produção de mudas. A qualidade das sementes é um somatório de uma série de aspectos, dentre os quais a qualidade sanitária assume importância fundamental. A associação de microorganismos patogênicos nas sementes pode influenciar na viabilidade, longevidade e na transmissão para a planta resultante. 12 A edição da Lei n° 10.711, de 05 de agosto de 2003, regulamentada pelo Decreto n° 5.153, de 23 de julho de 2004 (BRASIL, 2004), objetiva garantir a identidade e a qualidade do material de multiplicação e de reprodução vegetal produzido, comercializado e utilizado em todo o território nacional, torna o comércio de sementes e mudas mais rigoroso, pois para que estas sementes possam ser comercializadas serão sujeitas à fiscalização, pelo Ministério de Agricultura, Abastecimento e Pecuária (MAPA) e, a oferta será organizada pelo registro de coletores de sementes devidamente capacitados, os quais terão que fornecer sementes cuja qualidade será avaliada. De acordo com o decreto n° 5.153 Brasil, 2004, as sementes antes de serem liberadas para comercialização, precisam passar por exame de qualidade, incluindo itens como verificação da pureza física, capacidade de germinação, qualidade genética e teor de água. Conforme devera está escrito na etiqueta da embalagem. A verificação da qualidade das sementes é norteada por padrões, que serão realizados em laboratório de análise, próprios para cada espécie. A certificação da produção de sementes e de mudas de espécies florestais poderá ser realizada não só pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, mas também por entidades certificadoras e por certificadores privados. Isso altera substancialmente os procedimentos adotados até então, pois a certificação era exclusividade do MAPA, que delegava esta atividade às Secretarias de Agricultura Estaduais. A partir de agora, o MAPA poderá credenciar pessoas físicas ou jurídicas que atendam aos requisitos exigidos neste regulamento para exercer as atividades de certificador, de entidade certificadora e de coletor de sementes (HIGA, 2004). Segundo o decreto n° 5.153 o certificador e as entidades certificadoras devem atender os seguintes requisitos: termo de compromisso firmado pelo responsável técnico; comprovação da existência de corpo técnico qualificado em produção de sementes ou de mudas compatível com as atividades a serem desenvolvidas, de acordo com o estabelecido em normas complementares; comprovação da disponibilidade de laboratório de análise de sementes ou de mudas, próprio ou de terceiros mediante contrato, credenciado de acordo com a legislação vigente; programa de capacitação e atualização contínua do corpo técnico e; manual de procedimentos operacionais, atendendo às normas complementares estabelecidas pelo MAPA (HIGA, 2004). 8.1. A rede brasileira de sementes florestais Para Jacobi (2008), a problemática das redes tem adquirido uma importância crescente e singular nas duas últimas décadas, quando se observa um crescimento numérico das organizações das sociedades civil e a crescente transnacionalização das iniciativas da sociedade. Além disso, verifica-se o envolvimento com a questão ambiental proativa, não somente das ONGs, mas de entidades do governo, como a formação de 13 secretarias municipais de meio ambiente e outras formas de atuação governamental em parceria com organizações da sociedade civil, públicas e privadas. O Ministério de Meio Ambiente, interessado em promover a estruturação e disponibilizar mudas de qualidade para os processos de recuperação de formações vegetais, detectou um problema crucial para a produção de mudas de espécies florestais nativas: a pouca disponibilidade de sementes de qualidade. Frente a este problema o FNMA lançou um edital para a criação das Redes de Sementes no intuito de diagnosticar o real panorama da oferta de sementes no Brasil, estimular o comércio de sementes e mudas nas diferentes regiões do país e capacitar agentes públicos e privados na correta escolha de áreas produtoras de sementes, marcação de matrizes, beneficiamento e armazenamento de sementes bem como a produção de mudas. Como oportunidade de consolidação e disseminação de uma imensa quantidade de informações e tecnologias ligadas ao setor de sementes, foi criada a Rede Brasileira de Sementes Florestais - RBSF – uma organização multi-institucional que visa o fomento do comércio e a melhoria da qualidade das sementes e mudas de espécies nativas. No país existem 08 redes regionais de sementes florestais criadas através do fomento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA). É um espaço de união de esforços e de articulação política para fortalecimento das redes regionais. Com essa interação, em pouco tempo o Brasil poderá vivenciar um novo panorama na produção florestal (IAR, 2009). As 08 redes regionais de sementes florestais foram aprovadas em julho de 2001 pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente sendo elas; Rede de Sementes da Amazônia; Rede de Sementes da Amazônia Meridional; Rede de Sementes do Pantanal; Rede de Sementes do Cerrado; Rede Sementes Sul; Rede de Sementes Florestais Rio - São Paulo; Rede Mata Atlântica de Sementes Florestais RIOESBA; Rede de sementes Caatinga. Para a concretização dos objetivos as redes houve a necessidade da unificação da linguagem utilizada na obtenção dos parâmetros técnicos para que os trabalhos desenvolvidos nas diferentes regiões do Brasil tivessem um formato semelhante. Cada Rede de Sementes vem enfrentando desafios próprios de cada região e desempenhando suas atividades na tentativa de solucionar os problemas e dinamizar o setor de produção de mudas, adequando-o à demanda de sua região. 9 – A PARTICIPAÇÃO DAS ONGS E DOS AGRICULTORES NA CONSERVAÇÃO DAS FLORESTAS 14 9.1. As ONGs e Redes Com o grande contingente populacional vivendo em áreas de domínio da Mata Atlântica, demonstra que a questão ambiental deve ser tratada de forma integrada com os aspectos socioeconômicos. Neste sentido, torna-se indispensável à participação de organizações da sociedade civil na formulação e na implantação de estratégias de conservação da Mata Atlântica, em especial daquelas que apresentam parcelas da população em contato direto com os remanescentes florestais, as unidades de conservação e as demais áreas protegidas (PDA, 2009). Nas últimas décadas foram criadas por todo o território brasileiro umas dezenas de Organizações não Governamentais – ONGs por ambientalistas que visavam proteger e restaurar os remanescentes do Bioma Mata Atlântica. Do Nordeste ao Sul do Brasil, as ONGs perceberam que seriam muito mais eficiente e efetiva a essa luta se tivesse uma organização que representasse todas elas, a fim de formar uma grande teia de informação e de relações entre as entidades para fortalecer a defesa da Mata Atlântica. Durante a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), que o movimento ambientalista da Mata Atlântica deu o passo decisivo na sua organização e atuação nacional, com a criação de sua rede. Surge assim, a Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA). A RMA foi criada por 46 ONGs, tendo como objetivo de tecer uma rede para a defesa, preservação e recuperação da Mata Atlântica, através da promoção de intercâmbio de informações, da mobilização, da ação política coordenada e do apoio mútuo entre as ONGs e, dessa forma, produzir o fortalecimento das ações locais e regionais das entidades filiadas. A RMA atua nacionalmente no monitoramento e articulação de políticas públicas do poder executivo e legislativo, formulando propostas para o aprimoramento da legislação e promovendo a participação mais abrangente e influente da sociedade civil organizada. A RMA tem obtido conquistas importantes com a implantação do Núcleo para a Mata Atlântica dentro do Ministério de Meio Ambiente – NAPMA e a criação de programas voltados para a obtenção de recursos para as ONGs desenvolveram seus projetos, com os Projetos Demonstrativos – PDA. O PDA foi criado em 1994, dentro do Programa Piloto Para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7). Desde o início das discussões do PPG7, a RMA reivindicou maior espaço para a Mata Atlântica dentro do programa. Mais recentemente a RMA teve papel fundamental na aprovação da Lei da Mata Atlântica no congresso nacional, sancionada no dia 22 de dezembro de 2006. (NEAL, PROCHOW & MARCUZZO, 2009). 9.2. Os produtores rurais Devido à situação ambiental atual do Brasil e as necessidades da proteção da biodiversidade existente. Entra em cena o poder participativo da sociedade civil em programas de reflorestamento visando o 15 planejamento, a implementação de planos de manejo e de gestão e educação ambiental. Autores como Freire (1983) e Demo (1994), distinguem a importância da participação como o cerne da sociedade democrática; sendo assim, a participação civil e a participação política são formas de construção do desenvolvimento que, atualmente, mais do que nunca deve estar baseado nas dimensões humanas e ambientais. O público envolvido diretamente nos programas florestais está representado pelos produtores rurais, pois considera-se que em última análise os usuários dos recursos naturais locais são aqueles que tomam a decisão (DIEGUES, 2005) e agem sobre o ambiente e de suas ações, sendo que a sustentabilidade ambiental local não é totalmente garantida. A possibilidade de adesão dos produtores rurais aos projetos de restauração ou plantios florestais depende em grande parte, de alternativas associadas à questão econômica, à geração de renda e a sua manutenção no campo, que gerem alternativas para a produção, desta forma, há uma diminuição da pressão sobre a mata nativa. Já que programas voltados à recuperação ambiental, bem como ao estabelecimento de Reserva Florestal Legal, envolvem a produção de mudas de inúmeras espécies, preferencialmente nativas, sendo uma prática comum de diversas instituições públicas e privadas (CARVALHO, 2000). Visando a importância da proteção dos últimos remanescestes florestais e da geração de renda, muitos produtores rurais do sul da Bahia, com apoio de algumas ONGs, começaram a produzir mudas de espécies nativas da região para programas de reflorestamento. Muitos desses produtores têm em suas propriedades remanescentes florestais, das quais coletam as sementes e mudas. Constroem em suas propriedades viveiros para a plantação e manutenção das mudas até a comercialização destas, assim aumentam a renda familiar. 9.2.1. Projeto de capacitação em coletas de mudas e sementes no sul da Bahia O projeto “Nossas Árvores” foi criado no ano de 2007, na Universidade Estadual de Santa Cruz inserida no município de Ilhéus na região Sul da Bahia. Este projeto é integrado por vários docentes da instituição entre, engenheiros agrônomos, biólogos, geógrafos e geneticistas, além de alguns alunos da instituição. O projeto é de caráter extensivo e tem por objetivo ampliar o conhecimento sobre coleta e manutenção de mudas e sementes da flora nativa da região diretamente com as comunidades, através de palestras e cursos. O projeto de iniciação científica, integrado ao projeto “Nossas Árvores”, tendo como objetivo acompanhar e avaliar a eficiência do curso, em relação ao público envolvido que, em sua maioria era composto pelos produtores rurais, permitiu analisar o conhecimento e as ações deste público. Público este, integrado por pessoas simples que vivem de suas pequenas lavouras, e que, porém ainda apresentam em suas 16 propriedades remanescentes de mata atlântica, alguns ainda considerados preservados, propiciando uma nova atividade à comercialização de mudas e sementes, muitos já praticam esta atividade, mas sem nenhuma técnica ou orientação. O curso de capacitação e extensão “Nossas Árvores” conta com a atuação de profissionais capacitados, desenvolvido em quatro momentos distintos, a saber: uma palestra para selecionar interessados em participar do curso; o curso subdivido, em duas etapas e a avaliação no curso, realizada a partir de uma visitação programada em um ano após a segunda etapa do curso, para avaliar se os participantes estão praticando os ensinamentos apreendidos ao longo do curso. O primeiro momento ocorreu na sede da ONG Floreta Viva com uma palestra inicial, o qual abordava a importância da conservação da Mata Atlântica e onde foram selecionados trintas participantes interessados em participar do curso de capacitação. O segundo momento foi a aplicação do curso na sede do Parque Estadual Serra do Conduru- PESC, com duração de dois dias, o qual teve aulas teóricas e práticas em campo onde os participantes receberam treinamento de coleta de sementes ainda nas árvores utilizando podão e com técnicas de subida em árvores, pois antes as sementes só eram adquiras através de “catagem” (termo utilizado pelos agricultores definido como recolher, coletar no chão), assim as sementes não tinham garantia da qualidade contra patógenos e da sua origem genética. Além de treinamento sobre a escolha das matrizes à distância entre elas e a identificação tanto das espécies quanto das mudas e sementes, já que muitas mudas eram retiradas na própria mata às vezes aos pés de sua genitora. O terceiro momento ocorreu três meses depois, no viveiro do Resort Txai, com aulas sobre quebra de dormência das sementes, forma de climatizar as mudas, e espessura da tela para diferentes tipos de espécies arbóreas. O quarto e último momento ocorreu um ano depois da realização do curso com a visitação a cada produtor, que estava produzindo mudas, verificando se as técnicas ensinada pelo curso estava sendo aplicadas na produção de mudas e a situação do mercado em relação a demanda e procura. A partir da participação no referido curso de capacitação, muitos produtores sentiram-se aptos a plantação de mudas e sementes e com a ajuda de custo vinda da ONG Floresta Viva, construíram em suas propriedades viveiros contendo mudas de espécies nativas e endêmicas da região sul da Bahia. Atendendo assim a demanda de mudas para projetos de reflorestamento. Hoje mais de 80% dos agricultores participantes do primeiro curso realizado pelo projeto “Nossas Árvores” estão plantando e comercializando suas mudas para alguns projetos de reflorestamento que integram a região. Mais de 100 mil mudas já foram vendidas. Foram vendidas 73 mil mudas de espécies arbóreas nativas do sul da Bahia para os projetos, O Programa Bahia Floresta Global ,um programa do governo da Bahia comprou, 33 mil mudas as quais foram 17 plantadas em 20 hectares do Parque Estadual Serra do Conduru, com o auxilio da ONG Floresta Viva. E o Programa Bahia da CARE uma ONG internacional, comprou 40 mil mudas. O curso de capacitação “Nossas Árvores” é um curso de extensão, que continua prestando serviço às diversas comunidades que se interessam pelo curso, levando conhecimento e técnicas a diversas comunidades com em assentamento de sem terra, e várias outras comunidades rurais. 10 - CONCLUSÃO A fragmentação das áreas naturais pode levar à redução da biodiversidade através da eliminação ou diminuição de populações, do desequilíbrio ecológico, da destruição ou degradação dos habitats, entre outros. Este trabalho partiu da questão que os efeitos de fragmentação podem ser contidos e amenizados com projetos que visem o reflorestamento de áreas degradadas, utilizando e auxiliando os pequenos agricultores que trabalham com mudas e sementes de espécies arbóreas da região sul da Bahia. É preciso que haja alternativas para a sustentabilidade social e econômica. As iniciativas devem ter como base à necessidade local e devem também considerar potenciais atividades geradoras de renda. Como a venda de mudas e sementes que pode sanar a procura destas pro projetos de reflorestamento, sem falar que a conservação das remanescentes será maior por parte dos agricultores, que está encontrando na floresta a sua fonte de renda. A partir da análise da eficiência e eficácia do projeto “Nossas Árvores”, pode-se observar que os agricultores possuíam baixa escolaridade, porém em contra partida apresentaram um ótimo conhecimento sobre a mata. Este conhecimento tradicional deve ser visto como aliado e não inimigo, que junto com as técnicas aprendidas no curso realizado pelo projeto “Nossas Árvores”, este público envolvido terá capacidade de continuar a produção de mudas, e até de transformarem suas propriedades em Unidades de Conservação de uso sustentável para a garantia da floresta (recurso natural) para as gerações futuras. 11- REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ALMEIDA, Danilo Sette. Recuperação Ambiental da Mata Atlântica. Ed. Editus. Ilhéus, 2000. AQUINO. Fabiano de Goiás. Manejo dos Recursos Naturais. Agência de Informações Embrapa. Disponível em: <www.agencia.cnptia.embrapa.br>. Acessada em 19/01/2009. BARBOSA, L. M; MANTOVANI, W. Degradação ambiental: conceituação e bases para o reflorestamento vegetal. In: Workshop sobre Recuperação de Áreas Degradadas da Serra do Mar e Formações Florestais Litorâneas, São Sebastião, 2000. Documentos ambientais. São Paulo: SMA, 2000. p.33-38. BARBOSA, L.M. 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