ANÍZIA CONCEIÇÃO DE ASSUNÇÃO OLIVEIRA Doutoranda e Mestre em Geografia pelo NPGEO/UFS. Licenciada e Bacharel em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected] SINDIANY SUELEN CADUDA DOS SANTOS Bióloga Licenciada - UFS e Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA/UFS. E-mail: [email protected] ROSEMERI MELO E SOUZA Profª Drª Associada da UFS dos Cursos de Graduação e Pós-graduação em Geografia/NPGEO/UFS e do Curso de Mestrado e Doutorado do PRODEMA, Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Geoecologia e Planejamento Territorial/GEOPLAN/UFS/CNPq e Bolsista em Produtividade em Pesquisa do CNPQ. E-mail: [email protected] Este trabalho recebeu apoio financeiro da Fapitec-SE DINÂMICA AMBIENTAL DAS DUNAS COSTEIRAS DA PRAIA DE JATOBÁ, BARRA DOS COQUEIROS, SERGIPE FRENTE ÀS FORMAS DE USO E OCUPAÇÃO. INTRODUÇÃO O litoral é um espaço dinâmico em que convergem sistemas ambientais formados por elementos físicos e socioeconômicos complexos pela natureza, ritmo e intensidade dos processos geográficos neles atuantes. É marcante no litoral a convergência de usos múltiplos pela concentração de assentamento humano, infra-estrutura diversa e pelos tipos de atividades caracterizadas, em especial, pela rapidez das transformações e pela dependência dos atrativos cênicos e paisagísticos. Tais transformações fazem com que o litoral se traduza em um espaço dinâmico movido por ações constantes de construção e reconstrução em que as mudanças são tidas como respostas às alterações advindas das ações de caráter tanto natural quanto antrópico. Como marca de um histórico de processos de industrialização acelerada, urbanização desordenada e crescimento turístico desenfreado, o espaço litorâneo sofre mecanismos de forte pressão antrópica em que os altos níveis de vulnerabilidade biofísica presenciados principalmente em sistemas litorâneos frágeis dotados de serviços ambientais importantes e as mudanças negativas ocorridas na vida de comunidades tradicionais podem ser explicados pelos tipos de instalações humanas e pelo padrão desordenado de ocupação do território. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 Somado a isso, tem-se que as políticas de desenvolvimento aplicadas não são comumente conectadas a construção de uma integração socioambiental fazendo prevalecer, ao contrário, processos de desestruturação sociocultural das comunidades locais e de acentuação dos níveis de vulnerabilidade de muitos sistemas naturais que promovem constantemente formas de degradação ambiental. Instalam-se empreendimentos e equipamentos turísticos e urbanos, no geral com o aval do Poder Público que, vinculados a lógica da racionalidade econômica incorporam práticas desequilibradas de gestão do território e sem uma política de conservação das paisagens naturais, colaboram para a degradação ambiental. Os conflitos inerentes a produção do espaço litorâneo são regulados por interesses de diversos atores sociais, interesses estes que transformam o litoral num espaço de disputas. Conforme Diegues (2001), os conflitos de uso e ocupação desordenada surgem no âmbito do modo de produção econômica vigente onde os ambientes litorâneos e seus ecossistemas correspondentes exercem inúmeras funções econômicas e sociais implicando em conflitos que se expressam através das distintas formas de usos e por meio da formação de grupos sociais diferenciados que surgem a partir da apropriação dos recursos naturais. Atualmente no espaço litorâneo de Sergipe o adensamento de equipamentos humanos está representado por segundas residências, por estabelecimentos comerciais, por redes de hotelaria controladas por grandes empresários da construção civil, por proprietários de terras, por comerciantes, estando, no geral, articulados à atividade turística. Esta, considerada como um dos fatores de aceleração do desenvolvimento moderno, promove a territorialização de grandes empreendimentos que atuam como agentes de transformação espacial por se apropriarem de determinadas áreas do litoral e definirem novas dinâmicas. No tocante as dunas costeiras de Sergipe, o estabelecimento de instalações humanas associado à contínua especulação imobiliária faz com que estes ambientes apresentem-se descaracterizados em virtude de formas de uso e ocupação do solo que definem um quadro delicado quanto à permanência das características naturais responsáveis pela manutenção do equilíbrio dinâmico desses sistemas. Processos biofísicos como os de acresção dunar e de fixação da cobertura vegetal regulados por fatores estruturantes representados pela intensidade dos ventos, baixa precipitação, Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 capacidade estabilizadora da cobertura vegetal, tipo de sedimento e natureza do fornecimento sedimentar são contribuintes expressivos na permanência do equilíbrio dos sistemas dunares. A importância dos sistemas dunares está ligada diretamente ao papel regulador que as dunas exercem sobre as águas subterrâneas, além da função protetora da costa contra o ataque erosivo das ondas. Ao atuarem como barreiras naturais, as dunas favorecem o processo de acumulação de sedimentos contribuindo para o equilíbrio de fatores ambientais relacionados à dinâmica costeira, ao passo que, o desmonte das dunas em função da ocupação desordenada na faixa da praia facilita a invasão pelas águas marinhas, podendo acarretar efeitos negativos ligados a erosão praial e a modificações subseqüentes no perfil litorâneo. Nesse contexto, a formação dos ambientes dunares além de depender dos fatores associados à dinâmica costeira local contam ainda com os processos de vulnerabilidade dunar ligados à intervenção humana (MELO E SOUZA & OLIVEIRA, 2006). Os danos provenientes das práticas antropogênicas caracterizam-se como os mais impactantes, sendo que dentre os maiores contribuintes à vulnerabilidade dunar podem-se observar o extrativismo animal e vegetal, edificações urbanas, portuárias, de turismos e lazer, a prática indiscriminada da agricultura, pastagens e a silvicultura (MELO e SOUZA, 2003). Na Praia de Jatobá, localizada no município de Barra dos Coqueiros os fatores estruturantes, por sua vez supracitados, sofrem a influência de ações humanas degradantes que interferem nas características das feições e são, em sua maioria, responsáveis pelas mudanças fitofisionômicas presenciadas na paisagem. Tem-se que a vegetação é fator determinante na formação das feições de dunas litorâneas, entretanto, prevalece na Praia do Jatobá um ambiente marcado por alterações nos setores de dunas incipientes, dunas semi-fixas e dunas fixas em que o arrasamento das feições está intimamente relacionado à interferência na sucessão das espécies vegetais típicas do ecossistema. Nessa perspectiva, o presente artigo objetivou analisar o grau de sensibilidade das dunas da Praia de Jatobá pertencente ao município de Barra dos Coqueiros localizado na porção norte do estado de Sergipe frente às formas de uso e ocupação do solo que afetam diretamente a vegetação dunar. O papel da vegetação como um dos fatores estruturantes para a formação e desenvolvimento de feições dunares é assim destacado, bem como os processos desencadeados pelo uso e ocupação indevidos. A metodologia utilizada baseou-se em coletas Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 de informações bibliográficas, observações ao longo de um ano da área estudada e discussões envolvendo a comunidade da Praia. FATORES E PROCESSOS ATUANTES NOS AMBIENTES DUNARES: O PAPEL DA VEGETAÇÃO Segundo os estudos de Carvalho (2004), em Sergipe a zona costeira é caracterizada por uma linha de costa com 163Km de extensão estabelecida entre os rios São Francisco, ao norte e o Piauí/Real ao sul, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre. No estado sergipano, 23 municípios compreendem a faixa terrestre da zona costeira, e de acordo com o Plano de Gerenciamento Costeiro II (PNGC II), a Barra dos Coqueiros está inclusa na relação destes municípios. As variáveis físicas do município da Barra dos Coqueiros/SE, segundo Martin et al. (1998) apud Santana (2006), no tocante aos aspectos climáticos possui clima Megatérmico Subúmido Úmido C2 A’ a’’, que se destaca como o clima mais úmido do estado e é responsável pelos bons excedentes hídricos no final do outono e no inverno, e carência hídrica moderada no verão. As precipitações variáveis na área de estudo está ligada ao predomínio da circulação do anticiclone semi-estacionário do Atlântico Sul, fator primordial ao estabelecimento do tempo estável e das estações secas na primavera e verão. O regime de ventos alíseos oriundos desse anticlone alcança a zona costeira a partir de duas direções principais SE e NE. Todavia, Barbosa (1997) apud Santana (2006), afirma que a concessão da circulação à passagem periódica e sazonal da atuação de sistemas frontológicos que adquirem características individuais na Frente Polar Atlântica (FPA) e nas correntes perturbadas de Leste, favorece a permanência de regime pluviométrico caracterizado por chuvas em abundância no período outono-inverno. A geografia tropical, a baixa altitude e a posição litorânea do município, ocasionam temperaturas médias compensadas anualmente que variam em torno de 24°C e 27°C, enquanto que as temperaturas médias anuais das máximas sugerem índices térmicos que oscilam entre 29°C a 30° C, e das mínimas de 20°C a 22°C (SANTANA, 2006). As variáveis físicas do meio ambiente estão intrinsecamente ligadas à biodiversidade. Conforme Cordazzo et al. (2006), as variáveis físicas associadas a topografia variada e aos Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 distintos gradientes expressados pelo meio, proporcionam habitats diferenciados que abrigam as mais distintas espécies vegetais, demonstrando a heterogeneidade florística do ecossistema, por sua vez, disposto em faixas. O ambiente dunar tem demonstrado ao longo dos anos grande valor científico apresentado em função da diversidade peculiar de flora e fauna e sua dinâmica ambiental singular. Segundo Cordazzo et al. (2006), as dunas costeiras são marcadas pela diversificação de ambientes que podem variar em função dos diferentes nichos, os quais existem em virtude da intercomunicação das distintas características biológicas, geomorfológicas e climáticas. Rizzini (1997) expõe a relevância da flora para formação das feições dunares. Para Passos (2003), além de forte contribuinte às definições das paisagens, a vegetação atua como refletora paisagística no que concerne à questão humana. É por intermédio da análise fitogeográfica, linha de pesquisa que trata da distribuição dos seres vegetais, que possivelmente pode-se compreender, mesmo que temporariamente, a paisagem e sua dinâmica, além das mudanças que determinado ecossistema atravessa. As dunas litorâneas segundo Rizzini (1997), ecossistemas de destaque de praias arenosas quaternárias, apresentam-se com aspectos fisiográficos diferenciados, especialmente pela composição da vegetação, que permite a subdivisão do território. De acordo com Rizzini (1997), na faixa de praia, região sujeita as inundações das marés, as plantas estão ausentes, apesar de raramente alguns halófitos rasteiros aparecerem. Na segunda faixa que segue em direção ao continente encontram-se as antedunas, as quais se situam entre o limite da maré de sizígia e o começo das dunas. Ainda conforme o mesmo autor, as dunas semi-fixas ou móveis são compostas por sedimento pobre em nutrientes. Nessa faixa, as plantas são comumente xerófilas, rastejantes ou de pequenas dimensões e ainda estão sujeitas para Cordazzo et al. (2006) à fortes de estresses físicos relacionados ao vento e sua multiplicidade de efeitos, à instabilidade intensa dos sedimentos, à deficiência de nutrientes, além do estresse hídrico que depende do lençol freático e da temperatura. As dunas fixas são dotadas de substrato mais estável comparando-se à região de dunas móveis. Apresentam-se coberta por inúmeras espécies de vegetais e demonstram maiores quantidades de biomassa com diminuição do pH em relação às paisagens supracitadas. A Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 vegetação depara-se com as limitações impostas pela distância do lençol freático que determina a presença de algumas áreas secas e outras úmidas. É nesse contexto que o integrado sistema de dunas litorâneas estabelece suas relações que comunicam fatores abióticos com presença de espécies vegetais. Segundo Assis (2000), as plantas além de elemento primário essencial à vida, podem ser consideradas como reguladoras do equilibrado funcionamento do sistema ambiental onde estão localizadas em associação com os vários fatores pertencentes ao sistema. Os estudos das paisagens dunares sob uma perspectiva global devem abarcar componentes não só relacionados ao meio biofísico, onde os fatores da dinâmica costeira e os condicionantes geológico-geomorfológicos e oceanográficos controlam a dinâmica natural, mas também devem focalizar componentes humanos, posto que, em virtude do acelerado poder impactante, as práticas humanas impensadas acabam por interferir no desenvolvimento das características biofísicas originárias de tais ambientes e conduzindo a processos degradantes, muitas vezes irreversíveis (OLIVEIRA, 2008). Os estudos de Oliveira (2008) mostram que no que diz respeito à caracterização vegetal (perfil biogeográfico) representada pela distribuição dos tipos de vegetação por zona dunar, pelo estado de danificação da cobertura vegetal e pela presença de vegetação na frente dunar percebem-se inter-relações existentes entre tais fatores e os de ordem estrutural como altura e largura das dunas, extensão das antedunas, variação sazonal do campo dunar, além do tipo de duna encontrada, uma vez que, o desenvolvimento das dunas depende da capacidade de estabilização da cobertura vegetal, a qual exerce papel relevante na caracterização do grau de mobilidade e do dimensionamento do campo. Entretanto, a mesma autora ressalta que a vegetação também pode gerar um quadro de desequilíbrio dunar. Isso depende do poder de fixação da cobertura vegetal (dunas totalmente fixadas), da posição que uma seção de dunas ocupa no sistema (porções interiores) e da dinâmica atuante (débito de alimentação de sedimentos) situação que contribui para a formação de um campo inativo em que a capacidade evolutiva do sistema cessa. Por serem caracterizados como os mais impactantes, os danos derivados de atividades antrópicas remontam a uma situação de alerta quanto à manutenção da integridade biofísica dos sistemas dunares litorâneos. No tocante as pressões exercidas sobre os sistemas dunares destacam-se fatores como: avanço da prática agrícola a exemplo de plantações e pastagens; Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 atividades de turismo e lazer que estão relacionados ao trânsito de veículos, ao pisoteio e abertura de caminhos, às edificações e construções de casas de veraneio sobre a linha de costa e na zona de acumulação praial, além de outros. Tais fatores acarretam efeitos negativos de grande amplitude os quais podem comprometer os de ordem estrutural como a fonte de alimentação praia-duna, a altura e largura das dunas, a extensão das antedunas, etc, caracterizando, dessa forma, a situação de vulnerabilidade biofísica acentuada em que se encontram as dunas em Sergipe. RESULTADOS Em se tratando da Praia de Jatobá, o que se tem observado é uma sobrecarga dos sistemas dunares decorrente das ações humanas, as quais estão expressas pelas diferentes formas de uso e ocupação e conseguintemente são responsáveis pela alteração da dinâmica do sistema dunar. Ao longo das visitas à Praia do Jatobá pôde-se observar uma fisionomia marcada pelas ações humanas expressas pela forte presença de lixo, como latas, recipientes de plástico, garrafas de vidro, jornal, material de barro (tijolo) etc., deixados na praia por moradores ou turistas, provocando um primeiro efeito negativo no integrado sistema praial. Além do lixo, as ações antrópicas degradantes ampliam-se na localidade com a presença de veículos estacionados e trilhas dos carros que transitam pelas seções de dunas. No tocante a faixa de dunas incipientes (antedunas) constatou-se a presença do gado solto na praia, que além de pisotear as espécies vegetais dispostas no setor em questão, usavam-nas como alimento alterando a composição da vegetação da localidade e mais uma vez comprometendo a dinâmica praial, tendo em vista que tal setor é composto por dunas em estado embrionário (pequenos montículos) essenciais para o desenvolvimento estrutural das feições posteriores (dunas semi-fixas e fixas) e evolução do sistema como um todo. Nesse sentido, poucas espécies vegetais foram vistas, são elas: a Ipomoea pes caprae (L.) R. Br, a Paspalum maritimum Trin e a Chamaesyce cf. thymifolia. Destaca-se que a ação do gado pode provocar a introdução de novas espécies através dos excrementos depositados ou por meio do ato de herbivoria que favorece a chegada de outros seres vegetais descaracterizando o ecossistema dunar. Seguindo a partir das dunas incipientes encontrar-se-á uma estrada que segue a linha das casas e bares, além daquela que permite o acesso à praia na direção continente-praia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 Posteriormente, é encontrado o primeiro sinal de dunas semi-fixas em meio à paisagem. Nas dunas semi-fixas da praia do Jatobá a fitofisionomia é marcada por vegetação herbácea e arbórea, onde se pode encontrar as espécies herbáceas Conocliniopsis prasiifolia (DC.) R.M. King & H. Rob, Fabaceae sp., Vernonia sp. e Poaceae sp. Como medida de livrar-se do lixo que além de ser jogado na lixeira formada é espalhado por toda a região, a comunidade pratica a incineração constantemente. Esse fenômeno recorrente na área acaba erodindo o substrato e destruindo a vegetação, que além de sofrer com as queimadas, lida com os reflexos da erosão do solo e mais uma vez compromete a biodiversidade local. Ademais, a saúde humana fica comprometida com toda a problemática do lixo e das queimadas (Foto 01). A estrada que dá acesso a praia separa o sistema de dunas, e o que se observa é uma paisagem diferenciada e fragmentada. No que se refere ao setor de dunas fixas nota-se uma predominância sendo que se observa um difícil acesso em virtude da cobertura vegetacional de porte arbustiva e arbórea. Para demonstrar a síntese dos processos mais dominantes, foram produzidos para a Praia do Jatobá dois cenários que refletem o estado das dunas. A primeira rede de relações expõe uma seqüência clássica que resume a combinação típica e necessária de fatores e processos para a formação e estabilidade de dunas. A competência e intensidade dos ventos somada à disponibilidade de sedimentos pela fonte de alimentação praia-duna possibilitam a atuação dos processos de acresção que dependendo das condições do ambiente dunar exerce efeito positivo no desenvolvimento e estabilidade dos campos dunares (Figura 1). A segunda rede de relações exibe um cenário mais característico da Praia do Jatobá com tendência ao desequilíbrio dos sistemas tendo em vista a presença de fatores como barreiras antrópicas que interrompe o regime de fornecimento sedimentar comprometendo o fluxo contínuo de sedimentos e conseqüentemente os processos de acresção exercendo efeitos de vulnerabilidade dunar. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 Figura 1 – Quadro síntese com definição dos processos mais atuantes para as dunas costeiras de da Praia do Jatobá-Barra dos Coqueiros/SE. Fonte: Elaboração das autoras. Assim, a barreira geográfica constituída por uma linha de casas e bares que percorrem a faixa do litoral atrás das dunas incipientes (antedunas), interfere na dinâmica dos ventos gerando um déficit de sedimentos que faz limitar a formação das posteriores dunas semi-fixas e fixas. Nesse contexto, assiste-se atualmente a uma situação de risco, principalmente em porções de antedunas (Foto 02). Isso pode ser explicado, quer pelo fato de haver um crescente processo de ocupação desordenada pela expansão dos loteamentos e empreendimentos turísticos, quer por não existirem medidas de proteção que vislumbrem a contenção de processos como desmontes de dunas realizados ilegalmente. Fotos 01-Depósitos de lixo em setores de dunas degradadas. Foto 02-Barreira antrópica impedindo a fonte de alimentação praia-duna. Fonte: Trabalho de campo, 2009. Ademais, muitas seções de dunas fixas aparecem em zonas mais interiores, principalmente nas proximidades de loteamentos e regiões ocupadas por casas de veraneio em que tais feições quando isoladas acabam por sofrerem débito de alimentação eólica e conseqüentemente perdem sua capacidade evolutiva. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9 Diante da explanação, o que pode constatar que a utilização do sistema dunar na Praia de Jatobá é um fator de impacto negativo na área. A especulação imobiliária, práticas de despejo de lixo sobre o solo e incineração destroem o ambiente, consequentemente a vegetação e o sistema dunar como um todo encontra-se comprometido apresentando uma tendência ao completo arrasamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS A marcante presença humana na Praia de Jatobá expressada entre outros fatores pelas instalações humanas, bares e residências especialmente, sobre a faixa de dunas incipientes pode ser considerada como um dos fatores mais agressivos à permanência da dinâmica dunar, uma vez que, a barreira antrópica observada pela faixa retilínea de casas impede a retroalimentação sedimentar inerente ao ecossistema quando em seu estado natural, ou seja, não modificado. Além disso, esta problemática é fator de interferência na sucessão das espécies vegetais características do ecossistema. Por outro prisma, a Praia de Jatobá é palco de práticas destrutivas recorrentes, por parte da população turística e residente, no que concerne a intensa deposição de resíduos orgânicos e inorgânicos sobre dunas incipientes e semi-fixas. A partir desta perspectiva, medidas que visem à modificação de práticas destrutivas devem ser tomadas urgentemente. Uma alternativa para diminuir gradativamente a destruição recorrente é através de uma reflexão coletiva acerca da importância de um ambiente ecologicamente equilibrado e da implantação de políticas públicas efetivas que recorram à recuperação do meio natural e discutam acerca das formas de uso e ocupação da Praia do Jatobá. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, José Santino de. Biogeografia e conservação da biodiversidade. Maceió: Edições Catavento, 2000. CARVALHO, M. E. S. A Carcinicultura na Zona Costeira do Estado de Sergipe. 2004. 178 p. Dissertação (Mestrado em Geografia). Núcleo de Pós-Graduação em Geografia, Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 10 Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, São Cristovão, 2004. CORDAZZO, C. V; PAIVA, J. B; SEELIGER, U. Guia Ilustrado Plantas das Dunas da Costa Sudoeste Atlântico. Pelotas: USEB, 2006. DIEGUES, Antônio Carlos. 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