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BRASIL: SÃO PAULO
Cotia
PADRE INÁCIO
Casa do Padre Inácio
Foto: Dalton Sala 1986
Erguida em taipa de pilão, com planta quadrada e volumetria equilibrada e
harmoniosa, a casa se revelou um perfeito exemplo do agenciamento característico da
arquitetura bandeirista: o alpendre dá acesso a uma grande sala, e esta aos cômodos
distribuídos à sua volta; aos fundos, uma escada conduz ao andar superior,
originalmente utilizado como depósito de gêneros alimentícios e outras mercadorias.
Externamente, a cobertura em quatro águas se estende por longos beirais
apoiados em cachorros de madeira da mesma lavra dos entalhes geométricos que
ornamentam as colunas do alpendre, das almofadas das portas e janelas.
Build of rammed earth, with a square floor plan and balanced, harmonious
proportions, the house is a perfect example of the characteristic layout of bandeirante
architecture: the recessed front porch is just outside the main room, which is surrounded
by smaller bedrooms; at the back, a set of stairs leads to the upper floor, originally used
for the storage of foodstuffs and other goods.
Externally, the hipped roof rests on modillions, providing for wide eaves. The
ends of these modillions display carvings similar to those seen on the porch columns,
windows shutters, and doors.
Casa do Padre Inácio: Janela da Varanda para o Salão
Foto: Germano (Herman Hugo Graeser)
1942
Arquivo Fotográfico da 9ª SR-IPHAN-SP
Casa do Padre Inácio: detalhe da coluna do alpendre
Foto: Dalton Sala 1986
Casa do Padre Inácio: Porta da Capela
Foto: Dalton Sala 2007
A Casa do Padre Inácio foi construída na segunda metade do Século XVII; sua
importância transcende a excelência de sua arquitetura; pois, ao que parece, foi esta casa
a primeira a ser reconhecida, em artigo intitulado Arquitetura Tradicional, publicado
pela revista A Cigarra, em sua edição de 31 de Março de 1916, e assinado pelo arquiteto
Ricardo Severo. 1
1.SEVERO, Ricardo. ARQUITETURA VELHA. A Cigarra: nº 39, p s/nº (20-22). São Paulo, 31 de Março
de 1916.
“Nesta simples casa de Cotia está pois um exemplo de arquitetura tradicional
com um caráter definido sob o ponto de vista da origem lusitana e da sua adaptação ao
meio brasílico, no que diz respeito, no que diz respeito à forma, materiais e estilo. Que o
aproveitem e aperfeiçoem os que sentem a expressão artística destas rudes formas, os
que interpretam a eloquente mudez destas ruínas, e saibam traduzi-las na linguagem
moderna com a limpidez cristalina das obras verdadeiras sinceras.” 2
2.SEVERO, Ricardo. Obra citada, p. 22.
Está aberto o caminho para o reconhecimento dessas casas pelos intelectuais
modernistas (Mário de Andrade, Luís Saia, Lúcio Costa, Rodrigo Melo Franco de
Andrade), incluindo a adoção de uma postura que pode ser definida como modernista na
interpretação e no restauro desses monumentos.
Dentro desta postura, não é de ignorar a identificação dos processos construtivos
que utilizam a terra, nomeadamente as taipas de pilão e de sopapo (pau a pique), com os
processos que utilizam concreto e concreto armado.
“Aliás, o engenhoso processo de que são feitas – barro armado com madeira –
tem qualquer coisa do nosso concreto armado e, com as devidas cautelas, afastando-se o
piso do terreno e caiando-se convenientemente as paredes, para evitar-se a humidade e o
barbeiro 3, deveria ser adotado para casas de verão e construções econômicas de um
modo geral.” 4
3.Inseto transmissor da Doença de Chagas.
4.COSTA, Lúcio. DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional: nº 1, p. 31-39. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, 1937, p. 34.
“Documentação Necessária, ensaio de Lúcio Costa publicado na primeira edição
da Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1937), é
emblemático documento da missão, à qual os modernistas do IPHAN se entregaram, de
ligar o passado arquitetônico colonial à nova estética arquitetônica, ignorando quase
dois séculos – o período intermediário, de ‘desarrumação’, nas palavras de Lúcio, entre
o barroco e o modernismo”. 5
5. MAYUMI, Lia. TAIPA, CANELA PRETA E CONCRETO: ESTUDO SOBRE O RESTAURO DE CASAS
BANDEIRISTAS. São Paulo, Romano Guerra Editora, 2008, p. 29.
“Em 1945, um grupo de empresários paulistas, liderados pelo advogado
Rivadavia de Mendonça, adquire a Casa do Padre Inácio e doa-o à União. Neste mesmo
ano se inicia o processo de tombamento federal e, logo em seguida, tem início o
processo de restauro.” 6
6. CERQUEIRA, Carlos Gutierrez; SAIA Neto, José. PESQUISAS EM TORNO DE UM MONUMENTO
(SÍTIO DO PADRE INÁCIO). São Paulo, 9ª Coordenadoria do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, 1997, p. 13-14.
A Casa do Padre Inácio foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional em 8 de Outubro de 1951 7 e pelo Conselho do Patrimônio Histórico,
Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo – CONDEPHAAT, em 23 de
Setembro de 1974 8.
7.Inscrição no Livro de Belas Artes nº 401; Processo 0355-T.
8.Inscrição no Livro do Tombo Histórico nº 86; Processo 00338/73.
Casa do Padre Inácio em 1916, na oportunidade da visita de Washington Luís, Victor Dubugras e Aguiar
de Andrade.
Foto: Washington Luís
circa 1916
Casa do Padre Inácio por volta de 1945, antes da restauração.
CF Autoria IPHAN
Visita de Washington Luís, em companhia de Afonso de Escragnole Taunay, à Casa do Padre Inácio, em
1948, durante as obras de restauro.
CF Autoria SMC SP
Dalton Sala e Luiz Bernini, funcionário do IPHAN responsável pela guarda da Casa do Padre Inácio.
Foto: Tiago Sala
2003
A Casa do Padre Inácio é uma construção erudita, perfeito exemplo do
agenciamento característico da arquitetura bandeirista, de volumetria equilibrada e
harmoniosa.
Foi erguida em taipa de pilão, com planta quadrada; em suas paredes brancas as
sombras produzidas pelo telhado assemelham-se às de um relógio de sol, marcando as
horas do dia.
Entrando-se pelo alpendre à sua frente, ao centro está a sala principal, com os
cômodos distribuídos à sua volta e, aos fundos, o acesso para o andar superior, uma
ampla plataforma que domina os dois lados e os fundos do edifício. Nesse grande sótão,
as janelas estão no nível do chão, acentuando o caráter de fortificação do edifício, pela
possibilidade de uma situação defensiva superior, facilitando a cobertura do terreno.
Ordinariamente, deve ter sido depósito de gêneros alimentícios e outras mercadorias.
Internamente, esse patamar tem uma abertura sobre a capela, que permitia que se
assistisse a missa privadamente.
As quatro águas da cobertura do telhado, de elegantes curvaturas, terminam
apoiadas em longos beirais com cachorros de madeira entalhada. Também as colunas do
alpendre e as almofadas das portas e janelas exibem entalhes geométricos em relevo.
Um curioso ornamento de barro cozido, com quatro pontas em curva, encima o
ponto onde se encontram as quatro águas do telhado.
A casa está no centro de um conjunto de caminhos coloniais que interligava as
casas bandeiristas: seguindo-se a estrada que está à sua frente, vai-se até Itapevi,
passando por Cotia.
Nas vertentes às suas costas, duas minas de água garantiam o abastecimento da
casa e a irrigação das plantações.
O amplo alpendre lembra as funções senhoriais da casa, onde seu proprietário
recebia e deliberava, tendo à sua esquerda a capela, à sua direita o quarto de hóspedes e,
às suas costas, o salão da família, vedado aos visitantes.
No pátio, ainda remanescem duas pedras usadas para moer cereais.
Pedra de Moer
Foto: Dalton Sala
2004
Pedra de Moer
Foto: Dalton Sala
2004
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