III Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais 12 a 14 de março de 2013 – São Pedro - SP DETERMINAÇÃO DE PH COM AMOSTRA REDUZIDA DE RESÍDUOS ORGÂNICOS E COMPOSTO Paulo Oliveira de Souza*¹; Caio de Teves Inácio²; e Larissa de Sales Andrade³. ¹ Graduando em Engenharia Agronômica, UFRRJ – Seropédica – RJ, E-mail: [email protected] ² Doutorando CPGA – CS, UFRRJ. Pesquisador B, EMBRAPA SOLOS, Rua Jardim Botânico, 1024 - Jardim Botânico Rio de Janeiro - RJ, 22460-000. E-mail: [email protected] ³ Graduanda em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental, UFF – Niterói – RJ, E-mail: [email protected] RESUMO: O pH é um fator ecológico no processo de compostagem por afetar a atividade biológica e a volatilização de amônia. Visando adequar o método de determinação de pH às condições de estudos em bancada com redução de tamanho de amostra foram comparados quatro métodos de determinação de pH. Em cada método houve variação do tamanho da amostra (40g e 3g), proporção de diluição (1:5; 1:10; 1:20). O método 04.11 Electrometric pH determinations for compost (Test Methods for Examination of Composting and Compost: Method-TMECC) foi utilizado como padrão. Seis tipos de materiais diferentes foram utilizados (bagaço de cana-de-açúcar; bagaço de laranja; cama de cavalo; composto orgânico; esterco de gado leiteiro e esterco de aves poedeiras). Tanto o tamanho de amostra quanto a diluição mostraram influência na determinação de pH, entretanto, este efeito foi diferente entre os tipos de materiais orgânicos. Os métodos alternativos não diferiram estatisticamente do método padrão para composto orgânico, bagaço de cana e esterco de poedeira, mas foram discrepantes para bagaço de casca de laranja, cama de cavalo, e esterco de gado leiteiro. Para a diluição maior (1:20) a redução de tamanho de amostra não é recomendada. Palavras-Chave: biorreatores de bancada; compostagem; método padrão DETERMINATION OF pH USING REDUCED SAMPLE OF ORGANIC WASTES AND COMPOST ABSTRACT: The pH is an ecological factor in composting by its effect on biological activity and ammonia volatilization. The aim of this study was to adjust the pH method for benchscale experiments with reduced sample. Four pH methods were compared. Amount (4g and 3g) and dilution of sample (1:5; 1:10; 1:20) were tested. The Method 04.11 Electrometric pH determinations for compost (Test Methods for Examination of Composting and Compost TMECC) was used as standard method. Six different materials were used; sugarcane bagasse, orange fruit bagasse, horse bedding manure, compost, dairy manure, poultry manure. Both amount and dilution of sample show influence on pH values determination, however, this effect was different among organic materials. The alternative methods show no significant statistical difference from standard method for compost, sugarcane bagasse, and poultry manure, meanwhile they were significant different for orange fruit bagasse, horse bedding manure, and dairy manure. For the higher dilution (1:20) is not recommended a reduced sample. Keywords: bioreactors bench; composting; standard method INTRODUÇÃO A compostagem é um processo biológico aeróbio de tratamento e estabilização de resíduos orgânicos para a produção do composto, fertilizante orgânico ou condicionador de solo assim produzido (Inácio & Miller, 2009). O pH é um dos parâmetros que exercem grande influência no processo de compostagem. Segundo Vandergheynst (2000) o pH baixo (< 6) de alguns resíduos pode aumentar o tempo necessário para a compostagem e seu ajuste pode favorecer a taxa de decomposição desses materiais. Na fase inicial da compostagem há formação de ácidos orgânicos, tornando o meio mais ácido. Esta fase caracteriza-se pela presença de intensa atividade dos microrganismos mesófilos presentes na massa em decomposição, assim, há elevação da temperatura entre 40-45ºC e, em decorrência de sua atividade, liberam também C orgânico na forma de CO2 para a atmosfera (Tuomela, et al. 2000). Durante a faze termofílica (>45°C) o pH tende a subir (pH >7). A amônia e o pH são interdependente, uma vez que a amonificação causa elevações no pH característico durante o período ativo da compostagem afetando o equilíbrio entre NH3/NH4+ (Miller, 1992). Já Victoria et al. (1992) afirmam que este equilíbrio é originado da hidrólise da amônia ocasionando aumento de pH, devido à produção de hidroxilas, transformando-se em íon amônio. Em relação ao composto Kiehl (1998) comenta que, o pH inferior a 6,0 indica fase inicial de processo. Já a faixa 6,0 7,5 demonstra que o composto está estabilizado e finalmente acima de 7,6 o composto esta maturado. A pesquisa com compostagem pode ser realizada em leiras ou em biorreatores em diferentes escalas. Biorreatores de bancada em escala piloto são utilizados para citaram algumas fontes de estudos para avaliação do processo; composição dos gases de saída; destino dos compostos específicos, incluindo tóxicos; enumeração e sobrevivência microbiana; preparação e avaliação do composto e degradação do substrato (Mason & Milke, 2005). Os biorreatores de bancada são utilizados para pesquisas em laboratório e com volume pequeno de material (por ex. 3 L) e isso limita a frequência de amostragem e, principalmente, o tamanho das amostras. O objetivo deste trabalho foi comprar métodos para determinar a menor quantidade possível de matéria que pode ser usada para proceder à leitura de pH e a diluição mais adequada para amostras de compostagem realizada em laboratório. MATERIAIS E MÉTODOS As medições de pH em cada tipo de amostra foi utilizado um medidor Orion- Analyser. A água utilizada na diluição das amostras foi água de padrão ultra pura, retirada de um aparelho Milli-Q. No experimento foram utilizados 6 materiais: bagaço de cana-de-açúcar; bagaço de laranja; cama-de-cavalo; composto orgânico; esterco de gado leiteiro e esterco de aves poedeiras. O método padrão (Method 04.11 Electrometric pH determinations for compost. Thompson, 2002), utilizado para comparação, necessita de 40g de amostra de composto ou resíduo seco, adicionando água destilada na proporção de 1:5. O preparo da amostra foi feito com um dia de antecedência à leitura do pH. Parte do material foi levada a estufa onde ficou por 24 horas à 60º C. Após a diluição em água as amostras foram agitadas em uma mesa agitadora a 180 RPM por 20 minutos. Sundberg, et al. (2004) utilizaram 3g de material para se realizar as análises de pH e diluição de 1:5 de água destilada. Baseado nesta referência as amostras foram retiradas com o auxilio de um amostrador com garra. O instrumento tem capacidade de amostrar aproximadamente 3g de material a cada amostragem. Foram usados 3 diferentes diluições (1:5; 1:10; 1:20), resultando em um total de 32 amostras (4 métodos com 8 repetições) para cada tipo de material e um total de 192 amostras (6 tipos de resíduos para 4 métodos com 8 repetições). As análises foram feitas com a matéria fresca, a velocidade e o tempo de agitação foram mantidos os mesmos do método padrão. Em alguns materiais houve necessidade de realizar adaptações para que a leitura do pH fosse possível. O bagaço da cana foi triturado, sendo utilizado em pó, e devido à grande capacidade de absorção, foi necessário usar o extrato. O bagaço da laranja foi picado em pedaços pequenos e depois foi moída. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 apresenta dos resultados das médias e desvios padrão de valores de pH obtidos com os diferentes métodos por tipo de material orgânico. Os coeficientes de variação observados para cada bateria de amostras foram baixos, sendo o maior valor (CV = 6,5%) observado nos resultados das amostras de esterco de aves com emprego do método que utiliza 3g/1:20. Quando agrupamos os resultados por tipo de resíduo, independente do método de determinação de pH empregado, os CV’s se encontraram na faixa de 1,75%, nas amostras de bagaço de cana, até 4,97%, nas amostras de esterco de gado. Outros dois experimentos com esterco de gado e casca de laranja foram descartados por apresentaram CV > 5,0%, provavelmente devido ao conjunto de amostras não ter sido analisado no mesmo dia e também pelas diferentes formas de conservação das amostras utilizadas no mesmo experimento. A figura 1 apresenta os gráficos com a comparação das médias e intervalos para cada tipo de material. A análise de variância dos resultados observados para cada material orgânico foi significativa (p > 0,05) para o efeito dos diferentes métodos de determinação de pH em 5 resíduos (bagaço de cana; bagaço de laranja; cama de cavalo; composto orgânico; esterco de gado), demonstrando, também, que tanto o tamanho da amostra como a diluição influíram nos valores de pH. Entretanto, para esterco de aves não foi significativo. As médias dos tratamentos (métodos) diferiram estatisticamente (Dunnett’s test, p > 0,05) do método padrão, nos casos do esterco de gado, bagaço de laranja e cama de cavalo. No entanto, para bagaço de cana e composto orgânico, os métodos com diluição 1:5 e 1:10 (ambos com amostra de 3,0 g MF) apresentaram valores estatisticamente similares ao padrão (Dunnett’s test, p > 0,05). Já para esterco de aves as médias não diferiram estatisticamente (Dunnett’s test, p > 0,05) do método padrão. Nestes três casos, a redução do tamanho da amostra (de 40g MF para 3 g MS) não interferiu significativamente nos valores de pH como ocorreu com os demais materiais. Na maioria dos casos a diluição resultou em uma pequena, mas estatisticamente significativa, elevação dos valores médios de pH, no entanto, sem apresentar um padrão definido. O efeito da diluição só não foi significativo para a cama de cavalo e esterco de ave. Pelos resultados obtidos, pode-se observar que o tipo de material influiu no desempenho do método e, consequentemente, na comparação dos métodos. O material que apresentou maior discrepância entre o método padrão e os métodos alternativos foi o esterco de gado, e a menor discrepância foi observada com o esterco de aves seguido pelo bagaço de cana e composto orgânico. CONCLUSÃO Tanto o tamanho de amostra quanto a diluição mostraram influência na determinação de pH, entretanto, este efeito foi diferente entre os tipos de materiais orgânicos. Os métodos alternativos não diferiram estatisticamente do método padrão para composto orgânico, bagaço de cana e esterco de poedeira, mas foram discrepantes para bagaço de casca de laranja, cama de cavalo, e esterco de gado leiteiro. No entanto, quando aumentamos a diluição (1:20) a redução de tamanho de amostra não é recomendada. LITERATURA CITADA INÁCIO, C. T; MILLER, P. R. M. Compostagem: ciência e pratica para a gestão de resíduos orgânicos. 1° Ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2009. KIEHL, E. J. Manual de compostagem: maturação e qualidade do composto. Editado pelo autor. Piracicaba, 1998. MASON, I.G. & MILKE, M.W. Physical modeling of the composting environment: A review. Part 1: Reactor systems. Waste Management, 25: 481-500. 2005a. MILLER, F. C. Composting as a process base on the control of ecologically selective factors. In: Metting Jr., F.B. Soil microbial ecology: Applications in agricultural and environmental management. New York, N.Y: Marcel Dekker, Inc., 1992. Cap.18, p.515-541. SUNDBERG, C; SMARS, S; JONSSON, H. Low pH as an inhibiting factor in the transition from mesophilic to thermophilic phase in composting. Bioresource Technology, 95: 145-150, 2004. THOMPSON, W.H. (Ed.) Test Methods for the Examination of Composting and Compost. US Composting Council Research and Education Foundation & US Department of Agriculture. CD-ROM Edition. 2002. Method 04.11. Electrometric pH determinations for compost. 2002. CD-ROOM. TUOMELA, M; VIKMAN, M; HATAKKA, A. Biodegradation of lignin in a compost environment: a review. Bioresource Technology, 72: 169 – 183, 2000. VANDERGHEYNST, J.S; LEI, F. The effect of microbial inoculation and pH on microbial community structure changes during composting. Process Biochemistry, 35: 923 – 929, 2000. VICTORIA, R.L., M.C. PICCOLO E A.T. VARGAS. O ciclo do nitrogênio. In: Cardoso, E.J.B.N., S.M. Tsai, M.C.P. Neves. Microbiologia do solo. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. Campinas. p. 105-119. 1992. TABELAS E FIGURAS Tabela 1 – Resultados de determinação de pH de diferentes materiais orgânicos com diferentes métodos conforme o tamanho da amostra e diluições. Material orgânico CVa 40g/1:5b 3g/1:5c 3g /1:10c 3g/1:20c % pH, média ± desvio padrão (CV, %) Bagaço de cana-de-açúcar 1,8 3,38 ±0,05 3,25 ±0,31 3,40 ±0,0 3,45 ±0,05 (1,4) (2,2) (0,0) (1,5) Bagaço de laranja 3,5 4,45 ±0,05 4,79 ±0,08 4,95 ±0,05 4,88 ±0,05 (1,1) (1,7) (1,1) (0,9) Cama de cavalo 2,4 8,05 ±0,08 8,34 ±0,18 8,41 ±0,12 8,41 ±0,14 (0,9) (2,1) (1,5) (1,6) Composto orgânico 1,9 7,45 ±0,05 7,44 ±0,05 7,49 ±0,06 7,75 ±0,11 (0,7) (0,7) (0,9) (1,4) Esterco de gado leiteiro 5,0 7,80 ±0,22 8,66 ±0,09 8,83 ±0,12 8,56 ±0,05 (2,8) (1,1) (1,3) (0,6) Esterco de aves poedeiras 3,8 7,66±0,13 7,63±0,22 7,65±0,21 7,52±0,49 (1,7) (2,8) (2,7) (6,5) A Coeficiente de variação do conjunto de dados para cada tipo de material orgânico. B Test methods for the examination of composting and compost (Thompson, 2002). C Amostra de 3g de massa fresca seguida de diluição e agitação. Composto Orgânico Casca de Laranja 7,9 Cama - de - Cavalo 5,0 8,5 4,8 8,4 8,3 pH pH 4,9 7,7 pH 7,8 7,6 4,7 8,2 7,5 4,6 8,1 7,4 4,5 40g/1:5 3g/1:5 3g/1:10 3g/1:20 8,0 40g/1:5 Métodos 3g/1:5 3g/1:10 3g/1:20 40g/1:5 Métodos Bagaço de Cana - de - Açucar 3g/1:5 3g/1:10 3g/1:20 Métodos Esterco de Aves Poedeiras Esterco de Gado Leiteiro 8,0 9,0 7,8 8,7 7,6 8,4 3,48 3,36 3,32 3,28 pH 3,40 pH pH 3,44 7,4 8,1 7,2 7,8 7,0 40g/1:5 3g/1:5 3g/1:10 Métodos 3g/1:20 7,5 40g/1:5 3g/1:5 3g/1:10 Métodos 3g/1:20 40g/1:5 3g/1:5 3g/1:10 3g/1:20 Métodos Figura 1 – Médias e intervalos de confiança (95%) de resultados de quatro métodos de determinação de pH. Métodos: massa da amostra (g) e diluição em (g/l).