X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 ALGUMAS DIFERENÇAS ENTRE A GEOMETRIA EUCLIDIANA E AS GEOMETRIAS NÃO EUCLIDIANAS – HIPERBÓLICA E ELÍPTICA – A SEREM ABORDADAS NAS SÉRIES DO ENSINO MÉDIO. Donizete Gonçalves da Cruz1 Rede pública estadual da cidade de Curitiba [email protected] Carlos Henrique dos Santos2 Universidade Federal do Paraná [email protected] Resumo: O objetivo deste artigo é expor algumas diferenças entre a Geometria Euclidiana e Geometrias Não Euclidianas Hiperbólica e Elíptica, com vistas a contribuir para que as mesmas sejam conhecidas por professores de Matemática que atuam na educação básica e alunos que estudam no ensino médio. Focalizamos a investigação em elencar e apresentar conceitos de Geometrias Não Euclidianas – Hiperbólica e Elíptica – a serem abordados nos anos do ensino médio. É parte de uma pesquisa que estamos realizando, na qual defendemos um ensino e uma aprendizagem de Matemática que possibilitem aos alunos compreender conceitos geométricos, em coexistência, da Geometria Euclidiana e de Geometrias Não Euclidianas. Para tanto, procuramos respaldá-lo teoricamente nos autores que investigam tais conceitos no cenário da educação matemática, bem como em autores que possuem pontos de contatos com a educação matemática. Palavras-chave: Geometria; Geometria Euclidiana; Geometrias Não Euclidianas. 1. INTRODUÇÃO A Secretaria Estadual de Educação (SEED), no período de 2003 a 2006, com sua política educacional, realizou várias ações em seu programa de formação inicial e continuada. Uma dessas ações foi um amplo debate com os professores das disciplinas de tradição curricular, que resultou na elaboração dos textos das Diretrizes Curriculares. Fruto desse debate, e acompanhando o movimento das investigações nos programas 1 Formado em Matemática, Especialista em Ciências Exatas e Mestre em Educação Matemática, professor do ensino fundamental e médio da rede pública estadual na cidade de Curitiba, Paraná. 2 Professor orientador. Professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Paraná. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 1 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 de Pós-Graduação de destacadas universidades3 do país que discutem a importância de as Geometrias Não Euclidianas serem abordadas desde as séries iniciais até as séries finais da educação básica, os professores de Matemática elencaram, entre os conteúdos específicos, o conteúdo Noções de Geometrias Não Euclidianas. Com isso, os professores da rede pública estadual lançaram para si o desafio de delimitar quais Geometrias Não Euclidianas serão abordadas nas diferentes séries da Educação Básica. Ao encontrar uma resposta ou algumas respostas a esse problema, deveriam e deverão produzir material didático pedagógico que sirva de apoio para a abordagem desse conteúdo matemático nos níveis de 5ª a 8ª séries e anos do Ensino Médio. Dessa forma, a delimitação apontada por este trabalho focaliza a investigação em elencar e apresentar conceitos de Geometrias Não Euclidianas – Hiperbólica e Elíptica –, a serem abordados nos anos do Ensino Médio. Para tanto, como diz o título deste artigo, é importante que os conceitos, objeto deste estudo, sejam apresentados de forma tal que percebamos diferenças entre as geometrias. Para isso, defendemos que, na prática docente, a abordagem seja realizada concomitantemente com a geometria euclidiana. Justifica-se a elaboração deste estudo pela necessidade, em um primeiro momento, de situarmos as diferenças, e, na sequência, avançarmos nas abordagens dessas diferenças, com o intuito de que elas venham a ser exploradas em sala de aula com os alunos. Correlato a isso, buscamos contribuir para que, de alguma forma, este estudo venha a agregar-se a outros de mesma natureza e, assim, colaborar para consolidar as Geometrias Não-Euclidianas como um conteúdo matemático presente no saber escolar. Historicamente, na educação básica da rede pública estadual, o ensino e a aprendizagem de Geometria limitaram-se, e limitam-se, à Geometria Euclidiana abordada nos livros didáticos, ou seja, esta prevalece nas produções didáticas, pois na elaboração do conhecimento matemático cristalizou-se a idéia de que seus objetos e conceitos fossem considerados absolutos e os únicos apropriados para descrever o mundo em que vivemos. Bicudo (2004, p. 67), em suas investigações, escreve que entre os estudiosos da Matemática e o consequente conhecimento sistematizado por meio das investigações desses matemáticos, prevaleceu a crença de “que a geometria euclidiana descrevia, 3 Destacam-se os Programas da UEM, UNICAMP, PUC-SP, UFF e UNESP-Rio Claro. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 2 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 abstratamente, o espaço físico circundante, e, então, qualquer sistema geométrico, não em concordância absoluta com Euclides, representaria um óbvio contra-senso”. Mas, as descobertas de outras Geometrias, definidas como Não Euclidianas, introduziram outros objetos e conceitos que representam, descrevem e estabelecem respostas consistentes para certos fenômenos do Universo, para os quais a Geometria Euclidiana deixa lacunas. Escreve Martos (2002) que, a partir das grandes descobertas e invenções, o ser humano tem buscado nos meios científicos respostas para problemas concernentes às medidas geométricas. A partir de então tem-se constatado que, para algumas medidas, os conceitos da Geometria Euclidiana respondem satisfatoriamente, em geral para os problemas que envolvem as pequenas medidas. Para as medidas de grande escala, são necessários os conceitos de Geometrias Não Euclidianas. Lenart (1996) defende a abordagem de Geometrias Não Euclidianas na educação básica. Ele cita alguns pontos favoráveis, como os a seguir descritos. 1) Tais geometrias inserem mais do que a geometria euclidiana, a noção de infinito. 2) Outra vantagem é que, no caso da geometria esférica, muitos de seus conceitos sempre estiveram presentes no currículo de outra disciplina escolar, a Geografia. O sistema de coordenadas geográficas, por exemplo, introduz mais do que conceitos elementares de geometria esférica, em um momento relativamente cedo da vida escolar dos estudantes. Dessa forma, o trabalho docente pode ser valioso na medida em que a abordagem da geometria esférica ocorra em um contexto interdisciplinar com a Geografia. Essa relação interdisciplinar pode ajudar os estudantes a perceberem a importância e o significado da geometria esférica no espaço em que eles vivem. 3) A geometria esférica desempenha um importante e vital papel em várias disciplinas escolares e das ciências como um todo. Dentro da própria disciplina de Matemática é amplamente usada em geometria espacial, trigonometria, topologia, cálculo infinitesimal, geometria projetiva, geometria diferencial, teoria dos números complexos e teoria das funções. Muitos conteúdos da Matemática do ensino superior dependem dos conceitos de geometria esférica. 4) Além das fronteiras da Matemática, a geometria esférica tem muitas aplicações na Física, na Química Orgânica e Inorgânica, na Cristalografia, nas Ciências da Terra, na Astronomia, Desenhos artístico, técnico e industrial e nas engenharias de forma geral. Nesse mesmo contexto, Kasner e Newman, ao responder à pergunta sobre qual das Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 3 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 geometrias é a mais apropriada para o espaço que nos cerca imediatamente e para a superfície em que vivemos, argumentam que: A Geometria de Euclides é a mais conveniente e, em conseqüência, a que continuaremos a usar para construir nossas pontes, túneis, edifícios e rodovias. As geometrias de Lobachevsky, ou de Riemann, se devidamente utilizadas, serviriam da mesma forma. Nossos arranha-céus se manteriam, assim como nossas pontes, túneis e rodovias; nossos engenheiros não. A Geometria de Euclides é mais fácil de ensinar, enquadra-se mais rapidamente no bom senso mal orientado, e, acima de tudo, é mais fácil de usar. (KASNER e NEWMAN, 1968, p.p. 149-150) Escrevem os autores que a sistematização de outras geometrias diferentes da euclidiana fizeram com que nossas perspectivas fossem ampliadas e nossa visão esclarecida. Ao abordá-las, no contexto do ensino e da aprendizagem matemática, conceitos matemáticos, tradicionalmente não vistos, são assimilados pelos alunos e agregados ao seu conhecimento; correlato a isso, abordar Geometrias Não Euclidianas na Educação Básica significa contribuir para que o aluno amplie seu horizonte de conhecimento, pois tais Geometrias baseiam-se na negação do quinto postulado de Euclides que aborda o conceito de paralelas. Entendemos que o quinto postulado pode ser aceito como verdadeiro se considerarmos o nível plano, porém se ele estiver em uma superfície não plana pode perder validade. Afinal, o meio em que estamos tem suas porções planas e outras não planas e, para estas últimas, torna-se necessário explorar os conceitos matemáticos delas oriundos. Para escrevermos sobre algumas diferenças entre a Geometria Euclidiana e as Geometrias Não Euclidianas, Hiperbólica e Elíptica, é imprescindível tratarmos das contribuições de Euclides e focalizarmos nas investigações realizadas por Lobachevsky e Riemann. 2. IMPORTANTES CONTRIBUIÇÕES 2.1. AS CONTRIBUIÇÕES DE EUCLIDES Os Elementos têm uma importância excepcional na história da Matemática e exerce influência até os dias atuais. Mesmo existindo atualmente outras Geometrias, o ensino dela, presente nos programas e nas propostas de ensino no âmbito educacional escolar brasileiro, em todos os seus níveis, aborda, principalmente, a Geometria sistematizada nos Elementos. Em relação ao conhecimento geométrico, Elementos é obra que contempla a Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 4 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 geometria plana, geometria de figuras semelhantes e esteriometria, que estuda as relações métricas da pirâmide, do prisma, do cone e do cilindro, polígonos regulares, especialmente do triângulo e do pentágono (CAJORI, 2007). Tais Geometrias, em seu conjunto, são denominadas Geometria Euclidiana. Esta possui coesão lógica e concisão de forma caracterizada por axiomas e postulados. Para Davis e Hersh (1995, p. 207), não há uma distinção clara entre as palavras axiomas e postulados, tanto que, atualmente, essas palavras são usadas quase de maneira indiferente. Antigamente, “significava uma verdade evidente ou reconhecida universalmente, uma verdade aceita sem prova. Na geometria dedutiva, o axioma funciona como o pilar em que as outras conclusões assentam”. A contribuição de Euclides para o conhecimento matemático inicia com duas definições fundamentais, a de reta e a de ponto. Ponto é o que não tem partes e reta, um comprimento sem medida. A partir desses conceitos realiza-se uma sistematização geométrica por meio de cinco axiomas ou postulados. Os enunciados, em linguagem atual, dos cinco postulados de Euclides nos quais assenta sua geometria são: 1. Dois pontos distintos determinam uma reta. 2. A partir de qualquer ponto de uma reta dada é possível marcar um segmento de comprimento arbitrário. 3. É possível obter uma circunferência com qualquer centro e qualquer raio. 4. Todos os ângulos retos são iguais. 5. Dados um ponto P e uma reta r, existe uma única reta que passa pelo ponto P e é paralela a r. Inseridos no conhecimento geométrico, os postulados 1, 2, 3 e 4 de Euclides são simples e evidentes. Entretanto, o postulado cinco, conhecido como postulado das paralelas é diferente, ou seja, é complicado e pouco evidente. Foram realizadas investigações para provar sua validade, isto é, deduzi-lo a partir dos quatro anteriores, porém as tentativas falharam. Hoje, dentro do conhecimento matemático, é consenso que sua validade depende diretamente da opção da superfície geométrica para realizar sua prova. O resultado dos estudos e das tentativas para provar esse postulado é visto como uma grande contribuição para o conhecimento matemático. Esses estudos propiciaram avanços em magnitude e importância ao conhecimento matemático. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 5 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 2.2. A CONTRIBUIÇÃO DE LOBATCHEVSKY Lobatchevsky foi um matemático com uma ampla visão sobre o conhecimento matemático. Realizou estudos em vários campos da Matemática. A Geometria é um dos campos que foram seu objeto de estudo. Na geometria suas pesquisas alcançaram grandes destaques. Realizou investigações sobre o postulado das paralelas, pelas quais assumiu a contradição em relação ao quinto postulado de Euclides e, com os conceitos elaborados, ampliou significativamente o campo da geometria. A Geometria de Lobachevsky apresenta teoremas que introduzem conceitos na Matemática diferentes dos sistematizados na geometria euclidiana nos conteúdos que tratam sobre: a)a disposição das retas paralelas; b) a soma dos ângulos em triângulos e polígonos; c) as áreas; d) os polígonos inscritos e circunscritos na circunferência; e) a semelhança e congruência de figuras; f) a trigonometria; g) o teorema de Pitágoras; h) as medições do círculo e suas partes. (RIBNIKOV, 1987, p. 434) Em sua geometria consta, em dizeres de hoje, a afirmação: “por um ponto P fora de uma reta r passa mais de uma reta paralela à reta r” (COUTINHO, p. 40, 2001). Esse postulado e os teoremas consequentes levaram à configuração de uma Geometria Não Euclidiana, posteriormente denominada Hiperbólica por Félix Klein. Pouco tempo antes, porém sem publicar o resultado dos estudos, Bolyai chegara aos mesmos resultados a que Lobachevsky chegaria em um futuro próximo. Dessa forma, a Geometria Hiperbólica pode ser considerada criação de Lobachevsky e Bolyai. 2.3. AS CONTRIBUIÇÕES DE RIEMANN Riemann também contribui de maneira significativa para a ampliação do conhecimento geométrico, ao reunir em um corpo de doutrina outra Geometria Não Euclidiana oriunda dos estudos na superfície esférica, também denominada elíptica. Suas investigações foram diferentes das de Bolyai e Lobachevsky. Enquanto os dois últimos criaram uma nova geometria com um postulado sobre paralelas, diferente do postulado das paralelas de Euclides, “Riemann caracterizou as geometrias por aquilo que hoje chamamos sua métrica, ou seja, a maneira como a distância entre dois pontos infinitamente próximos é expressa em função das diferenças de coordenadas daqueles pontos” (GARBI, 2006, p. 261). Com seus estudos, Riemann concluiu ser possível criar Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 6 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 quantas geometrias quisermos. Para tanto, é necessário estabelecer as maneiras pelas quais se expressa o elemento distância em função das coordenadas. Por meio de uma fórmula geral para o elemento distância e mediante a variação de seus parâmetros, um número infinito de novas geometrias pode ser criado. Investigou e propôs que por um ponto do plano não se pode traçar nenhuma reta paralela a uma reta dada. Essa hipótese tem sua validade na superfície esférica e o enunciado do axioma que contraria o quinto postulado de Euclides é: “Quaisquer duas retas em um plano têm um ponto de encontro” (COUTINHO, p. 73, 2001). Para Davis e Hersh (1995, p. 206), o aparecimento dessas geometrias veio acompanhado de certo choque e ceticismo. Entretanto, elas são apresentadas dentro de um sistema axiomático, no qual se deduz, de forma sistemática, consequências a partir de axiomas diferentes daqueles aceitos pela Geometria Euclidiana. Com as Geometrias Não Euclidianas e outros conteúdos matemáticos – e não há por que citá-los aqui –, a Matemática entra na etapa denominada matemática abstrata ou moderna. Essas descobertas descaracterizaram a concepção que constituía a Matemática como instrumento de compreensão da realidade física, dada anteriormente. A partir desse período a Matemática também é tida como um conhecimento que possibilita a sistematização de ideias pelas quais se faz a crítica. É essa uma razão para se abordar tais ideias na educação básica e no nível de ensino médio. O Postulado da Geometria Hiperbólica e o da Geometria Elíptica, que contrariam o quinto postulado de Euclides, representam o fundamento que provocou mudanças em conceitos geométricos. Embora esses postulados difiram apenas do postulado das paralelas da Geometria Euclidiana, a partir deles é que outros tantos teoremas surgem. Dessa forma, o conhecimento geométrico se amplia e, uma vez abordado na Educação Básica, propicia ao aluno o conhecimento de outras geometrias com várias características interessantes e únicas. Entretanto, não se trata de que a abordagem no Ensino Médio, para os alunos, seja de caráter axiomático. Da mesma forma, na medida em que as produções ocorram, a maturidade e a segurança dos professores se ampliam. Assim, em algum momento a abordagem axiomática para alguns ou para todos os conteúdos referentes às Geometrias Não Euclidianas poderá ser realizada. Mesmo que as abordagens das Geometrias Hiperbólica e Elíptica não sejam de caráter axiomático, é fundamental que o professor busque, para sua segurança, apropriar-se desse conhecimento. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 7 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 Este trabalho propõe uma abordagem das Geometrias Não Euclidianas Hiperbólica e Elíptica que caracterize um material de apoio aos professores e alunos do Ensino Médio da Rede Pública Estadual. No próximo item apresentam-se algumas diferenças que, entende-se, contribuirão para a compreensão dos conhecimentos geométricos nas geometrias em questão. 3. COMPARAÇÕES ENTRE ALGUNS CONTEÚDOS GEOMÉTRICOS NAS DIFERENTES GEOMETRIAS Há livros que trazem estudos pormenorizados sobre comparações entre Geometria Euclidiana e Geometrias Não Euclidianas. Aqui, nesse estudo, o objetivo é apresentar algumas diferenças. Reportamo-nos a uma tabela comparativa entre as Geometrias Euclidiana, Hiperbólica e Elíptica apresentadas por Davis e Hersh (1995, p. 211). A fonte de pesquisa de Davis e Hersh está no livro Basic Concepts of Geometry de Prenowitz e Jordan. 3.1 COMPARAÇÕES ENTRE AS GEOMETRIAS EUCLIDIANA, HIPERBÓLICA E ELÍPTICA CONTEÚDO GEOMETRIA MATEMÁTICO EUCLIDIANA Duas retas distintas interseptam em Dada uma reta L e um ponto P exterior a L, existe(m) GEOMETRIAS NÃO EUCLIDIANAS LOBACHEVSKIANA RIEMANNIANA Em dois pontos antípodas. Uma reta e só uma Pelo menos duas retas Não há reta que que passa por P e é que passam por P e é passa por P e é paralela a L. paralela a L. paralela a L. É dividida em duas É dividida em duas Não é dividida em Uma reta por um ponto por um ponto duas por um ponto Nunca são As retas paralelas São equidistantes Não existem equidistantes Se uma reta Como não há Pode ou não intercede intercede uma de Intercede a outra paralelas, isto não a outra duas paralelas ocorre. A hipótese de Saccheri válida é a Ângulo reto Ângulo agudo Ângulo obtuso do Duas retas distintas perpendiculares a São paralelas São paralelas Interceptam-se uma terceira A soma das medidas dos Igual a 180º Menor do que 180º Maior do que 180º ângulos internos de Um ponto Um ponto Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 8 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 um triângulo é A área de triângulo é um Independente da Proporcional ao Proporcional ao soma dos seus defeito da soma de excesso da soma de ângulos seus ângulos seus ângulos. Dois triângulos com ângulos Semelhantes correspondentes iguais são Soma dos ângulos internos de Igual a 360º quadrilátero Congruentes Congruentes Menor do que 360º Maior do que 360º Outras diferenças, segundo Martos (2002), estão a seguir elencadas. CONTEÚDO GEOMETRIA MATEMÁTICO EUCLIDIANA Bissetrizes de um triângulo Alturas de um triângulo Medianas de um triângulo GEOMETRIAS NÃO EUCLIDIANAS: ELÍPTICA Possui três. São semirretas Possui três. São círculos que dividem o ângulo ao máximos. meio Possui três. São círculos Possui três. São segmentos de retas máximos. Possui três. São círculos Possui três. São segmentos de retas máximos. São ângulos com vértices no Lados de um triângulo São segmentos de retas centro da esfera. São medidos em graus. Retângulo: 1 ângulo reto Acutângulo: ângulos Classificação de triângulos internos agudos quanto aos ângulos Obtusângulo: um dos ângulos é obtuso Isósceles: dois lados com a mesma medida e dois ângulos congruentes. Equilátero: três lados com Classificação de triângulos medidas iguais e três quanto aos lados ângulos congruentes. Escaleno: dois lados quaisquer não são congruentes Retângulo: um ângulo reto Birretângulo: dois ângulos retos Trirretângulo: três ângulos retos Retilátero: um lado mede 90º Birretilátero: dois lados medem 90º Trirretilátero: cada um dos lados mede 90º Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 9 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 Soma dos ângulos externos É a soma dos internos não Varia entre 0o e 360º adjacentes 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS É evidente que as abordagens do conhecimento geométrico no cenário das Geometrias Não Euclidianas na educação pública estadual estão iniciando. Temos, portanto, desafios pela frente, ou seja, buscar pela investigação matemática e no contexto da educação matemática a sistematização de materiais de cunho didático-pedagógico para que professores e alunos tenham, a seu alcance, meios para se apropriarem desse conhecimento geométrico. É interessante refletirmos sobre nossa prática pedagógica e, por meio dessa reflexão, propiciar que os alunos também reflitam sobre conceitos matemáticos. Assim, é possível que nosso poder de análise, de conjectura e de sistematização de ideias seja ampliado. Uma forma para buscarmos isso é colocar nas mãos de nossos alunos conhecimentos diferentes sobre um mesmo conteúdo, em que as comparações conceituais possam ser feitas. Ao mesmo tempo, é coerente discutir tais conhecimentos articulados com a nossa vivência e nossa experiência, cuja base é a materialidade na qual estamos inseridos. Martos (2002, p. 132) realizou uma investigação com base em uma proposta que possibilitou aos alunos, em grupos, explorar e realizar comparações, em coexistência, entre os conceitos de Geometria Euclidiana e conceitos de Geometria Não-Euclidiana. Segundo a autora, em vários momentos da pesquisa houve constatações pelos alunos, as quais possibilitaram perceber as diferenças entre os conceitos geométricos da Geometria Não Euclidiana abordada, a esférica, e a Geometria Euclidiana do plano. Isso fez com que os alunos verbalizassem as relações existentes entre os conceitos das geometrias abordadas. A pesquisadora destaca que na realização dos trabalhos “apareceram muitos termos em evidência, entre eles interação dos grupos, dialogicidade, significado na aprendizagem e inovação”. As constatações de Martos dão consistência ao nosso trabalho, pois defendemos a abordagem das Geometrias Não Euclidianas, em coexistência, com a Geometria Euclidiana. Defendemos propostas de ensino e de aprendizagem de Matemática que possibilitem aos alunos compreender conceitos geométricos básicos, de forma que Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 10 X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA, 7 a 9 de Julho de 2010 conheçam as dimensões geométricas da Geometria Euclidiana e de Geometrias NãoEuclidianas. É interessante que o conhecimento dos conceitos geométricos estejam articulados à capacidade de manipulação das fórmulas matemáticas e à visualização e experimentação por meios de materiais manipuláveis. Entendemos que conhecer Geometria é ter possibilidades de intervir na mudança do espaço onde o estudante circula e vive. É um meio pelo qual uma formação coerente é possível, de maneira que os alunos atuem com instrumentos teóricos e práticos, vislumbrando mudanças de caráter social. REFERÊNCIAS BICUDO, I. Peri apoidexeos/de demonstratione. In: BICUDO, M.A.V. ; BORBA, M. C. (Orgs.). Educação matemática: pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, 2004. p. 58 – 76. CAJORI, F. Uma história da matemática. Rio de Janeiro: Editora ciência moderna, 2007. COUTINHO, L. Convite às geometrias não-euclidianas. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2001. DAVIS, P. J. ; HERSH, R. A experiência Matemática. Lisboa: Gradiva, 1995. GARBI, G. A rainha das ciências: um passeio histórico pelo maravilhoso mundo da matemática. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2006. KASNER, E. ; NEWMAN, J. Matemática e imaginação: o mundo fabuloso da matemática ao alcance de todos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968. LÉNÁRT, I. Non-Euclidean Adventures on the Lénárt Sphere – investigations in planar and spherical geometry. Berkeley: Key Curriculum Press, 1996 MARTOS, Z. G. Geometrias Não Euclidianas: uma proposta metodológica para o ensino de Geometria No Ensino Fundamental. Rio Claro, 2002. 179 f. Dissertação. (Mestrado em Educação Matemática) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. RIBNIKOV, K. História de las matemáticas. Moscou: Mir, 1987. Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática Comunicação Científica 11