Você é alienado, alienante ou “alienista”? Por Cristiano Bodart Qual sua posição no mundo social? Você é alienado, alienante ou “alienista”? Antes de tentar a autoclassificação apresentaremos brevemente o que chamamos aqui de “alienado”, “alienante” e “alienista”. Na sua origem etimológica a palavra alienação vem do latim alienus, que significa “alheio”, “o que pertence a um outro”. A palavra alienação tem significados diferentes porém próximos. No Direito, a alienação está ligado a transferência da posse ou do direito de propriedade para uma outra pessoa. Na psiquiatria alienação foi durante muito tempo sinônimo de grave doença mental, a ponto de o indivíduo perder sua noção de identidade e de realidade. Na Filosofia o conceito de alienação foi trazido em evidência por Hegel e retomado, posteriormente, por Feuerbach e Marx. No século XX, autores como Luckács, Marcuse e Sartre tornam o conceito central em muitas de suas análises. Em todos os casos, com pequenas diferenças, os significados dado a palavra “alienação” convergem à definição de Allen W. Wood. Para este autor, “a alienação refere-se, fundamentalmente, a uma espécie de atividade na qual a essência do agente é afirmada como algo externo ou estranho a ele, assumindo a forma de uma dominação hostil sobre o agente” (WOOD, 1998, p.179). Ser alienado, para a Sociologia, é estar alheio a vida social em muitos de seus sentidos. É deixar de ser agente histórico para ser conduzido por outros… marionetes seria uma boa analogia! O alienado não tem opinião e ação própria… enfim, vida própria. Existe como se vivesse em outro mundo, que não o mundo real… em última instância, uma espécie de alien, típico do filme americano “Alien: o 8º passageiro”, de 1979. Paralelamente ao alienado, existem os alienantes. Estes de dois tipos: 1. O consciente, quer manterse no controle dos alienados; 2. Aqueles que inconscientemente aliena os demais indivíduos para serem controlados por terceiros. Os alienantes do “tipo 1” são aqueles que estão com as cordas de controle dos marionetes de forma consciente e planejada. Aqueles que possuem o controle do alienado; são os manipuladores de fato. O alienante do tipo 1 utiliza-se de vários recursos para impor sua vontade ou ideologia, tais como a mídia, a escola e a religião. O que pode ocorrer de forma tão sutil que o alienado, em sua condição de “desinteresse pelo mundo social”, nem tem consciência de que está sendo controlado. O alienante do “tipo 2” é típico do indivíduo que é alienado e acredita fielmente que não é. Ele, sem que saiba, retransmite as ideologias dos verdadeiros dominadores. Reproduz os mesmos discursos, a mesma perspectiva do mundo, conduzindo seus ouvintes aos interesses de seus representados, em outras palavras, levando seus ouvintes à alienação; a ficarem sob o comando de terceiros. São típicos desse tipo de alienantes a retransmissão de assuntos fúteis, superficiais e reacionários. O significado da palavra “alienista”, na psiquiatria, está ligado a alguém que se especializou tratamento de alienados. Nosso célebre escritor Machado de Assis escreveu livro sob esse título, “O Alienista”. O alienista de Machado tratava doentes clínicos. Tomamos, aqui, a liberdade de ampliar tal termo ao campo Filosofia e da Sociologia. Desta forma podemos apontar a existência alienado, do alienante e do alienista. no um de da do O alienista seria, dentro de nossa delimitação conceitual, aquele que aponta para a existência das cordas do dominador das vontades de outrem; que colabora para que o alienado tenha vida própria; que denuncia a manipulação ideológica. O alienista é o indivíduo que acredita que é possível que o outro também seja agente da história. Não impõe sua visão de mundo, antes conduz as pessoas as diversas janelas de contemplação de uma mesma realidade social. Dito isto, retornamos a pergunta alienante ou alienista? inicial: você é alienado, Referências SERRA, J. M. Paulo. Alienação. Covilha, 2008. Allen W. Wood, “Alienation”, in Edward Craig (Org.), Routledge Encyclopedia of Philosophy, Vol. 1, Londres e Nova Iorque, Routledge, 1998, pp. 178-181.