Economia internacional (PDF - 67 Kb)

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Relatório de Inflação
Março 2003
4 – Economia internacional
O cenário macroeconômico internacional apresentou-se instável nos
primeiros meses de 2003, respondendo à elevação das tensões
políticas envolvendo o Oriente Médio. A recuperação da demanda
agregada foi dificultada pela compressão da renda disponível
motivada pela alta nos preços do petróleo e pelo impacto da incerteza
sobre as expectativas de empresários e consumidores.
Os mercados internacionais apostam, entretanto, em solução rápida
para a crise, com desdobramentos favoráveis sobre a oferta
internacional de petróleo e os preços do produto, contribuindo para
a retomada da economia mundial ainda em meados deste ano. Caso
essas expectativas não se concretizem, há que se considerar a
perspectiva de nova deterioração do nível de confiança e aumento
da aversão ao risco, com impactos indesejados sobre fluxos de
capitais, consumo, investimento, produção e emprego.
A retomada do crescimento econômico em escala mundial está
condicionada, adicionalmente, ao desempenho da economia norteamericana, face à persistente insuficiência da demanda interna para
sustentação das economias na Área do Euro e no Japão. Assinale-se,
nesse sentido, a reduzida eficácia da política monetária, assim como
as restrições inerentes à utilização de estímulos fiscais, para promover
a expansão da atividade econômica nas principais economias.
4.1 Crescimento e emprego
A recuperação da economia mundial, a partir do impulso originado
da economia norte-americana, tornou-se menos iminente do que
sugeriam os primeiros resultados para 2002. O crescimento do PIB
69
Relatório de Inflação
Março 2003
PIB - Estados Unidos1/
norte-americano mostrou significativa
desaceleração no quarto trimestre, quando a taxa
de expansão trimestral anualizada declinou para
4
1,4%, após atingir 4% no trimestre precedente.
2
O crescimento do PIB em 2002 alcançou 2,4%,
0
comparativamente a 0,3% em 2001. O
arrefecimento do ritmo de expansão do PIB no
-2
II
IV
II
IV
II
IV
último trimestre de 2002 resultou de
2000
2001
2002
Fonte: Bureau of Labor Statistics
desacelerações no consumo privado e no
1/ Variação trimestral anualizada e dessazonalizada.
investimento em estoques, além de forte
contração nas exportações. Tais movimentos
foram parcialmente compensados por expansões em gastos públicos
e investimentos em residências. A edição de fevereiro do Beige Book,
pesquisa compilada pelo Federal Reserve (Fed) com base em
relatórios produzidos em seus doze distritos, confirmou a tendência
de moderação dos gastos em consumo nos dois primeiros meses de
2003.
%
6
PIB - Área do Euro1/
%
4
3
2
1
0
-1
II
III
IV
I
II
III
IV
2000
2001
Fonte: Eurostat
1/ Variação trimestral anualizada e dessazonalizada.
70
Na Área do Euro, é pouco provável que o
crescimento econômico volte a se aproximar de
sua trajetória potencial ao final de 2003, como
se estimava há poucos meses. Nesse sentido, após
expandir 0,8% em 2002, a variação do PIB da
região deverá situar-se entre -0,1% e 0,3%, no
primeiro trimestre, e entre 0,2% e 0,5%, no
I
II
III
IV
segundo trimestre de 2003, de acordo com a
2002
Comissão Européia. No último trimestre de 2002,
o consumo privado permaneceu desaquecido em
decorrência do pessimismo dos consumidores
face às taxas de desemprego crescentes e à elevação dos preços do
petróleo. As exportações, componente que mais contribuiu para o
crescimento do PIB em 2002, declinaram em novembro e dezembro,
refletindo a evolução contida da atividade econômica mundial e a
forte apreciação do euro. A trajetória da moeda européia frente ao
dólar deverá prosseguir em 2003, tendo em vista os elevados e
crescentes déficits em conta corrente dos Estados Unidos. Em
conseqüência, a contribuição dos saldos comerciais para a
sustentação do crescimento do PIB tende a reduzir-se neste ano,
comparativamente ao ano anterior.
Relatório de Inflação
Março 2003
PIB - Japão1/
No Japão, não se confirmou a recuperação do
consumo privado, que se configurava até meados
2
de 2002, como indicam dados relativos ao
0
dispêndio das famílias e ao início de construções
-2
habitacionais, nos últimos meses do ano. O PIB
-4
registrou variação anualizada e dessazonalizada
-6
de 2% no quarto trimestre de 2002, após
II
IV
II
IV
II
IV
2000
2001
2002
expansões de 2,6% e 3,2% no segundo e no
Fonte: Economic Planning Agency
terceiro trimestres. Ao mesmo tempo, persistem
1/ Variação trimestral anualizada e dessazonalizada.
os problemas estruturais que vêm determinando
a estagnação da economia japonesa: o processo
deflacionário, que inibe a demanda agregada, ao desestimular
consumo e investimento, e o elevado comprometimento do sistema
bancário com empréstimos de baixa qualidade, que, combinado com
o elevado grau de endividamento das empresas, restringe o papel do
crédito na ativação da economia.
%
4
Enquanto nos Estados Unidos é esperado importante impulso fiscal
a partir dos cortes de impostos programados pelo governo, em outras
regiões a possibilidade de recurso a estímulos macroeconômicos está
sujeita a sérias restrições. Na Área do Euro, a necessidade de
adequação ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, que impõe limites
ao endividamento público, exigirá consideráveis ajustes fiscais pelos
próximos anos, nas três principais economias da região, Alemanha,
França e Itália. No Japão, o quadro fiscal também dificulta a utilização
de políticas expansivas, ao passo que resta pouco espaço para
aplicação de estímulos monetários.
Entre os países emergentes, seguiram apresentando crescimento
expressivo as economias asiáticas, com destaque para a China, e,
em menor grau, os países da Europa Oriental. China e outros
emergentes asiáticos devem continuar crescendo de forma acelerada
em 2003, impulsionados pelo sólido desempenho da demanda interna,
que tem compensado oscilações na demanda externa. A economia
chinesa cresceu 8% em 2002, comparativamente a 7,3% em 2001.
Em 2003, a expansão deve novamente situar-se em torno de 8%.
Em sentido inverso, registrou-se contração de 0,5% na economia
da América Latina e Caribe, resultado associado, fundamentalmente,
71
Relatório de Inflação
Março 2003
à severa contração das economias da Argentina, do Uruguai e da
Venezuela. Assinale-se, entretanto, que os demais países
apresentaram taxas de crescimento do produto pouco expressivas,
no período. O desempenho econômico da região foi condicionado
por fatores externos, entre os quais a dificuldade de acesso aos fluxos
internacionais de capital, sobretudo no que se refere aos países do
Mercado Comum do Sul (Mercosul), a desaceleração da economia
norte-americana, com impacto mais acentuado sobre a economia
mexicana, e a deterioração dos termos de troca, que, nos últimos
anos, afetou sobretudo Peru, Chile e Brasil. A Comissão Econômica
para América Latina e Caribe (Cepal) estima que em 2003 o
crescimento médio das economias da região alcance 2,1%, a se
confirmar a tendência de recuperação demonstrada a partir do final
de 2002.
Em meio à incerteza que caracteriza o cenário econômico atual,
observa-se evolução positiva e sincronizada da produção industrial
em algumas regiões, entre as quais Estados Unidos, Japão e países
emergentes asiáticos, nos últimos meses de 2002 e no início de 2003.
Em países como China, Coréia do Sul, Tailândia e Turquia a expansão
da produção industrial, em relação a iguais períodos do ano
precedente, manteve-se próxima ou acima de 10%. Desempenho
favorável também foi observado em economias latino-americanas,
como Brasil, Chile e Peru, e nas economias da Europa Oriental.
Confiança do consumidor
120
110
100
90
80
70
60
Fev Abr
2001
Jun
Ago
Out
Dez
Fev Abr
2002
EUA
Fonte: Conference Board , Comissão Européia
72
Contudo, o comportamento recente dos principais
indicadores de confiança do setor empresarial e
de consumidores nos países industrializados não
sugere que esteja em curso uma recuperação
consistente do nível de atividade econômica. Ao
contrário, as expectativas parecem sinalizar o
pessimismo decorrente do acirramento das
Jun Ago Out Dez Fev
2003
tensões no Oriente Médio e da elevação das taxas
Área do Euro
de desemprego nas principais economias
desenvolvidas. Esse sentimento é mais nítido entre
os consumidores, cujos índices de confiança vêm
registrando declínios acentuados desde meados de 2002. Nos dois
primeiros meses de 2003, a evolução foi particularmente desfavorável
nos Estados Unidos e na França.
Relatório de Inflação
Março 2003
Indicadores de confiança empresariais
Indicadores que aferem expectativas de
empresários do setor manufatureiro mostram
55
evolução menos uniforme, mas, de forma geral,
também descrevem trajetórias declinantes. Nos
50
Estados Unidos, o índice do Institute for Supply
45
Management (ISM) declinou continuamente nos
40
dois primeiros meses de 2003. Na Área do Euro,
Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev
2001
2002
2003
tais indicadores atingiram, no ano, seu patamar
EUA - PMI
Área do Euro - Reuters PMI
Fonte: Institute for Supply Management (ISM), Reuters
mais baixo em dezembro de 2002, mostrando
ligeira recuperação nos dois meses seguintes. No
Japão, o índice Tankan está em ascensão desde o
primeiro trimestre de 2002, embora continue apresentando resultados
negativos, sinalizando, ainda, pessimismo entre as empresas
consultadas.
60
As taxas de desemprego mantiveram-se elevadas nas principais
economias ao longo de 2002, apresentando crescimento nos últimos
meses do ano e no início de 2003. Nos Estados Unidos, a taxa de
desemprego declinou para 5,7% em janeiro, comparativamente a
6% no mês anterior, em decorrência de contratações no setor
varejista. No Japão, o desemprego atingiu 5,5% em janeiro,
registrando estabilidade em relação a dezembro de 2002, porém
mantendo-se em patamar elevado para o padrão do país. Além da
desaceleração da economia mundial, a reestruturação ocorrida no
setor corporativo japonês e as restrições ao crédito motivadas pelas
dificuldades do setor bancário têm contribuído para pressionar as
condições de emprego. Na Área do Euro, a taxa de desemprego
alcançou 8,6% em janeiro, após situar-se em 8,5% no mês anterior.
Entre os países da América Latina e Caribe, a taxa média de
desemprego alcançou 9,1% em 2002, ante 8,4% em 2001. A situação
é particularmente grave na Argentina, onde a taxa atingiu 21%.
4.2 Política monetária e inflação
Os bancos centrais das principais economias retomaram os cortes de
juros ao final de 2002 e início desse ano. As taxas básicas de juros
foram reduzidas sucessivamente de 1,75% a.a. para 1,25% a.a., em
novembro, pelo Federal Reserve; de 3,25% a.a. para 2,75% a.a., em
73
Relatório de Inflação
Março 2003
dezembro, e para 2,50% a.a., em março, pelo Banco Central Europeu
(BCE); e de 4% a.a. para 3,75% a.a., em fevereiro, pelo Banco da
Inglaterra. Como resultado, as taxas de juros nos Estados Unidos e
no Reino Unido encontram-se, atualmente, nos níveis mais reduzidos
dos últimos quarenta anos, enquanto no Japão permanecem
praticamente nulas.
Nos Estados Unidos e na Área do Euro, os cortes de juros recentes
decorreram da percepção mais clara quanto à falta de dinamismo de
ambas as economias. O Federal Reserve manteve as taxas inalteradas
a partir de novembro, explicitando a visão de que os riscos futuros
se encontram igualmente distribuídos entre a menor atividade
econômica e a maior pressão inflacionária. Além disso, o Fed avalia
que os mecanismos de transmissão da política monetária ainda não
esgotaram completamente os efeitos dos cortes agressivos de juros
dos últimos dois anos, o que, aliado aos ganhos de produtividade,
poderá favorecer o cenário econômico norte-americano. Todavia,
os últimos indicadores sugerem fragilidade da recuperação americana.
Na Área do Euro, a inflação tem se mantido acima do limite de 2%
ao ano, em que pese o fraco desempenho da região, espelhado na
perspectiva de recessão em sua maior economia, a Alemanha, o que
tem intensificado as críticas ao arcabouço de política monetária do
BCE e ao Pacto de Estabilidade e Crescimento da União Européia.
Ambos são considerados pouco flexíveis para permitir os estímulos
monetário e fiscal de que carece a região. A tendência recente de
apreciação do euro abre a possibilidade de novos cortes de juros
nos próximos meses.
Contrastando com a postura cautelosa do BCE, o Banco da Inglaterra
optou pela redução dos juros em fevereiro, apesar da recente escalada
de preços. Assim, a inflação em dezembro situou-se pouco acima da
meta central de 2,5% a.a., mas tal elevação, na opinião majoritária
dos membros do comitê de política monetária, se deveu, basicamente,
a fatores temporários. Na ausência de pressões subjacentes, a redução
das taxas de juros objetivou compensar os efeitos deflacionários da
recente apreciação da libra esterlina.
74
Relatório de Inflação
Março 2003
No Japão, a armadilha de liquidez continua retirando eficácia à
política monetária. Desde fevereiro de 1999, quando o banco central
adotou a chamada política de juro zero, a taxa de juros básica,
uncollateralized call rate, então fixada em 0,25% a.a., declinou
continuamente, situando-se atualmente em 0,001% a.a. Por decisão
do banco central, a taxa será mantida em torno de zero, devendo
ocorrer alterações significativas somente quando a inflação ao
consumidor voltar a apresentar tendência de elevação.
Na América Latina, a menor dinâmica da economia norte-americana
e a maior instabilidade dos mercados financeiros internacionais têm
levado a distintas posturas de política monetária entre blocos de
países. Onde os efeitos da volatilidade financeira são mais sentidos,
como nos países do Mercosul, a política monetária tem sido
contracionista, procurando compensar a maior pressão sobre os
mercados cambiais. Inversamente, nos países andinos e no México,
onde o reflexo do lento crescimento da economia dos Estados Unidos
da América (EUA) é mais significativo, a política monetária tem
sido mais expansionista.
Também na Ásia as taxas de juros se encontram em níveis baixos,
com exceção da Indonésia, cuja política de controle da inflação vem
exigindo taxas mais elevadas. A evolução dos preços na região tem
apresentado certa dispersão entre países, observando-se deflação
na China e em Hong-Kong, inflação moderada na Coréia do Sul e
inflação elevada na Indonésia.
4.3 Mercados financeiros internacionais
As projeções para 2003 indicam recuperação moderada dos fluxos
de capitais privados direcionados aos países emergentes. De acordo
com estimativas do Institute of International Finance (IIF), o
ingresso líquido de capitais nesses países deve registrar expansão,
atingindo US$137,1 bilhões, comparativamente a US$112,5 bilhões
em 2002, não obstante permaneça em patamar deprimido com relação
ao observado na segunda metade da década de 1990.
75
Relatório de Inflação
Março 2003
A expansão dos ingressos líquidos de capitais para
países emergentes sustenta-se na recuperação dos
1/
2/
2002
2003
2001
fluxos destinados a investimento em portfólio,
125,7
112,5
137,1
especialmente para os mercados asiáticos, uma
47,8
25,2
35,5
134,3
106,6
107,7
vez que os investimentos diretos devem manter54,0
35,6
33,7
se estáveis, respondendo tanto a uma tendência
10,2
-4,7
8,9
global de redução das operações de fusões e
0,7
-1,8
0,4
-26,3
-4,8
-2,6
aquisições em nível supra-nacional quanto à
-10,1
-7,5
-4,7
descontinuidade dos processos de reformas
7,5
15,3
23,1
3,2
-1,2
6,2
estruturais e privatização que alavancaram os
14,7
12,2
10,4
investimentos direcionados a algumas economias
22,4
14,0
17,7
emergentes na última década. Simultaneamente,
empréstimos bancários e não-bancários devem
apresentar crescimento limitado, ainda sob
impacto das incertezas em relação ao desempenho
econômico dos países latino-americanos e à perspectiva de retração
nos lucros obtidos nos mercados financeiros asiáticos.
Fluxo líquido de capital para economias emergentes
US$ bilhões
Discriminação
Fluxos privados
América Latina
Investimento direto líquido
América Latina
Investimento de portfólio líquido
América Latina
Empréstimos bancários
2000
185,6
62,6
135,6
60,6
14,3
-6,2
-4,4
América Latina
1,0
Outros capitais privados
40,1
América Latina
7,3
Capital oficial total
-3,0
América Latina
-6,7
Fonte: IIF - janeiro 2003
1/ Estimativa.
2/ Projeção.
No que tange aos fluxos de capitais privados direcionados aos países
latino-americanos, as estimativas do IIF indicam crescimento de US$25,2
bilhões, em 2002, para US$35,5 bilhões, em 2003, o que sugere gradual
recuperação da confiança nos mercados latinos americanos, atingidos
pelas incertezas relacionadas à crise econômica argentina e à crise de
confiança que afetou a economia brasileira em 2002.
O sistema bancário internacional apresenta-se, de modo geral,
lucrativo e capitalizado, embora, em alguns países, perdas no mercado
doméstico e no exterior tenham comprometido a rentabilidade no
âmbito nacional. Nos Estados Unidos, a influência das incertezas
relativas à conjuntura econômica e aos ganhos corporativos reduziu
a rentabilidade dos bancos com atividade concentrada em
investimentos e em seguros, ao passo que favoreceu as instituições
de varejo. Na Europa, o setor bancário apresenta fundamentos
adequados em termos de capitalização e solidez. Entretanto, os
bancos alemães sofrem os efeitos do ambiente de baixas taxas de
rentabilidade e crescimento discreto da economia, o que inibe a
expansão de crédito no país. No Japão, o sistema bancário mantémse como foco de instabilidade, na ausência de uma ação mais efetiva
destinada a resolver o problema dos empréstimos vencidos e não pagos.
76
Relatório de Inflação
Março 2003
Nesse cenário, em janeiro, os maiores bancos japoneses executaram
operações de aumento de capital, por meio de oferta de ações, iniciativa
insuficiente, contudo, para eliminar os riscos de nova crise bancária.
Ativos bancários internacionais
Distribuição por regiões
Período
Todos os Países
países
2001
2002
Am. Lat.
em desenv. e Caribe
I
11 315,5
1 289,9
518,1
II
11 190,9
1 285,6
521,9
III 11 577,2
1 332,4
558,4
IV 11 497,5
1 357,6
562,3
I
11 464,6
1 327,7
528,1
II
12 426,5
1 330,7
487,9
III 12 512,9
1 292,0
449,2
Fonte: BIS. Consolidated Banking Statistics
1/ Países em desenvolvimento.
Em 2002, acompanhando tendência comum às
demais modalidades de fluxos de capitais, os
US$ bilhões
1/
1/
empréstimos bancários internacionais destinados
Europa
Ásia
Brasil
aos países desenvolvidos sofreram elevação, ao
mesmo tempo em que declinaram os ingressos
388,2
239,3 136,2
direcionados a países em desenvolvimento. Nesse
375,0
245,9 139,9
375,1
256,0 138,5
sentido, de acordo com o Banco de
376,6
275,8 142,4
Compensações Internacionais (BIS), no terceiro
387,7
270,6 134,9
393,6
296,5 123,3
trimestre de 2002 o total dos ativos internacionais
397,8
293,7 105,1
dos bancos que reportam ao BIS alcançou
US$12,5 trilhões, crescendo 0,7% e 8,8% em
relação, respectivamente, ao período
imediatamente anterior e ao mesmo trimestre do
ano precedente. A participação das linhas
bancárias para países desenvolvidos elevou-se para 81,5% do total,
enquanto aquelas destinadas a países em desenvolvimento alcançaram
10,3%. Cabe destacar a redução da participação da América Latina
e Caribe nos ativos mantidos nos países em desenvolvimento, de
41,9%, em 2001, para 34,8%, no ano subseqüente.
Bolsas de valores - EUA
6.1.2003=100
110
100
90
80
6.1
2003
16.1
Dow Jones
Fonte: Bloomberg
29.1
10.2
S&P 500
21.2
5.3
Nasdaq
Os mercados acionários globais também
enfrentam oscilações movidas pelas incertezas a
respeito das perspectivas de aceleração do
crescimento econômico e seus efeitos sobre os
resultados das corporações. No que se refere ao
desempenho das bolsas americanas, reflete a
questão relacionada ao Oriente Médio e a
recuperação econômica mais lenta do que a
esperada. Nesse contexto, os índices Dow Jones
Industrial Average e Standard and Poor´s (S&P)
500, da Bolsa de Valores de Nova Iorque
(NYSE), e o Nasdaq registraram contração
mensal de 1% a 5%, em fevereiro.
77
Relatório de Inflação
Março 2003
Em relação às bolsas européias, a expectativa de recuperação dos
preços das ações não se materializou, mantendo-se tendência
descendente à medida que a ameaça de guerra induziu o processo
de revisão dos ganhos das corporações. Na Inglaterra, o Financial
Times Securities Exchange Index (FTSE 100) da bolsa de Londres
retraiu 9,4% em fevereiro, enquanto, na Alemanha, o Deutscher
Aktienindex (DAX), da bolsa de Frankfurt, recuou 13,1%.
Bolsas de valores - Europa e Japão
No Japão, as perspectivas negativas relacionadas
à recuperação da economia local têm influenciado
os mercados financeiros. Nesse sentido, o índice
Nikkei, da bolsa de Tóquio, apresentou variação
negativa de 3%, nos dois primeiros meses de
2003, após contração de 21% em 2002.
6.1.2003=100
110
100
90
80
70
6.1
2003
16.1
29.1
FTSE 100
10.2
21.2
DAX
5.3
Nikkey 225
Fonte: Bloomberg
Cotações do dólar
1,12
Iene (escala
inversa)
100
1,10
110
1,08
120
1,06
130
1,04
140
1,02
150
Euro
1,00
7.1
2003
160
15.1
24.1
3.2
Euro
Fonte: Bloomberg
11.2
20.2
28.2
Iene
10.3
No mercado de câmbio, a tendência, iniciada em
2002, de depreciação do dólar frente ao euro e
ao iene, aprofundou-se no primeiro trimestre de
2003. Nesse sentido, a moeda americana
apresentou depreciação de 5,3% de janeiro a
início de março, em relação ao euro, atingindo
cotação de US$1,105/ em 10 de março,
enquanto a moeda japonesa registrou apreciação
de 1,4% em relação ao dólar, no mesmo período.
Os movimentos de declínio do dólar nos mercados
internacionais refletem preocupações em relação
à recuperação econômica e ao crescimento do
déficit em conta corrente nos Estados Unidos, bem
como as baixas taxas de retornos nos mercados de
renda fixa e renda variável americanos.
4.4 Comércio mundial
Os resultados do comércio exterior no quarto trimestre de 2002,
não foram favoráveis, de forma geral, aos países que integram o
Nafta. Nos Estados Unidos, as exportações decresceram, sobretudo
em dezembro, refletindo o enfraquecimento da demanda mundial,
e as importações mantiveram tendência de alta ao longo do período,
78
Relatório de Inflação
Março 2003
sustentada pelo aumento das compras de bens de consumo e
automóveis, superior à retração nas importações de petróleo.
No Canadá, o comércio externo foi neutro em relação à evolução
do PIB, após ter contribuído significativamente no trimestre anterior.
O saldo comercial apresentou declínio pouco expressivo em relação
ao terceiro trimestre, com incremento nas importações e decréscimo
nas exportações. No México, o déficit comercial se ampliou,
refletindo crescimento sazonal das importações. As exportações
atingiram o patamar mais elevado do ano, não obstante apresentassem
crescimento moderado, refletindo a lenta recuperação da economia
norte-americana, destino de 90% das exportações do país.
Na América Latina, a melhora no saldo da balança comercial em
2002 esteve associada à acentuada redução das importações, dadas
as dificuldades experimentadas por algumas economias da região,
especialmente Argentina e Venezuela. Na Argentina, o resultado do
quarto trimestre confirmou a tendência de obtenção de superávits
robustos na balança comercial, garantindo a manutenção do fluxo
de dólares para o mercado de câmbio. No Chile, a balança comercial
manteve relativa estabilidade, gerando superávit mensal médio de
US$250 milhões no trimestre outubro/dezembro. A greve geral na
Venezuela, no início de dezembro, afetou a produção de petróleo,
que sofreu declínio de cerca de 25% no último trimestre de 2002,
ante igual período de 2001. Considerando que a venda de petróleo
corresponde, em média, a 85% das exportações do país, as
exportações declinaram 29%, no trimestre, e as importações, 16,5%,
relativamente ao trimestre precedente.
A tendência de crescimento da corrente de comércio dos países da
Área do Euro foi interrompida nos dois últimos meses de 2002, com
as exportações registrando contração superior às importações, o que
resultou em redução de 17% no superávit comercial no quarto
trimestre, relativamente ao período anterior. Na Alemanha, as
exportações cresceram, porém, em ritmo inferior ao do trimestre
precedente, implicando redução do superávit comercial. Na França,
houve redução nas importações e exportações.
79
Relatório de Inflação
Março 2003
A recuperação da demanda externa, a partir do terceiro trimestre de
2002, impactou favoravelmente o comércio exterior japonês, em
especial impulsionando o crescimento das exportações em novembro.
Simultaneamente, registrou-se retração nas importações, resultando
em elevação do superávit comercial no quarto trimestre, para
US$22,5 bilhões.
Na China, as exportações registraram aceleração ao longo do último
trimestre de 2002, com expansão ainda mais significativa em
dezembro. Vem aumentando a participação chinesa no mercado de
eletro-eletrônicos dos Estados Unidos, ameaçando a liderança dos
produtos provenientes do Japão e do Sudeste Asiático.
4.5 Commodities
Ouro
US$ por onçatroy
400
380
360
340
320
3.1
2003
14.1
Fonte: Bloomberg
23.1
3.2
12.2
21.2
4.3
13.3
24.3
A cotação do ouro aproximou-se do patamar de
US$382 por onça-troy, no início de fevereiro,
recuando para o nível de US$330 por onça-troy na
última semana de março, tendo oscilado
consideravelmente no período. Nos primeiros meses
de 2002, o preço do metal oscilava em torno de
US$300 por onça-troy. O aumento do preço é
atribuído, especialmente, à incerteza crescente no
cenário político mundial, estando associado,
adicionalmente, ao declínio do mercado acionário
norte-americano e à depreciação do dólar.
O anúncio da venda de trinta toneladas de suas reservas em ouro pelo
Banco de Portugal, em fevereiro, não foi suficiente para conter a alta
das cotações. As expectativas são de que os preços permaneçam
voláteis enquanto perdurar a incerteza no cenário internacional. Outros
metais, tanto os preciosos como prata e paládio, quanto os de base,
como cobre, alumínio, níquel e zinco, têm também experimentado
elevações significativas de preços no mercado internacional.
80
Relatório de Inflação
Março 2003
4.6 Petróleo
EUA - Estoques comerciais
Milhões de
barris/dia
330
320
310
300
290
280
270
260
18.10
8.11
29.11
20.12
10.1
2001-2002
31.1
21.2
2002-2003
Fonte: Depto de Energia/EUA
Mercado de petróleo
US$ por barril
40
36
32
28
24
20
3.1
2003
15.1
27.1
6.2
18.2
28.2
Brent
12.3
24.3
WTI
Fonte: Bloomberg
Petróleo - Mercado futuro
US$ por barril
36
34
32
30
28
26
24
Jun
2002
Jul
Ago
t+1
Fonte: Bloomberg
Set
Out
t+2
Nov
t+3
Dez
Jan
2003
t+4
Fev
A Organização dos Países Produtores de Petróleo
(Opep), em reunião de 12 de janeiro,
considerando a conjuntura de demanda e oferta
para o primeiro trimestre de 2003, decidiu
aumentar a meta de produção de 23 milhões de
barris por dia, estipulada em dezembro de 2002,
para 24,5 milhões de barris por dia, a partir de
primeiro de fevereiro. Os preços do produto
sofreram elevação superior a 40% de dezembro
a março, em conseqüência da greve do setor na
Venezuela, que comprometeu as exportações para
os Estados Unidos. Ademais, o mercado de
petróleo foi pressionado pela iminência de ataque
ao Iraque e pela demanda crescente por
combustível para aquecimento, em razão do
rigoroso inverno no hemisfério norte. Vale ressaltar
que a Venezuela e o Iraque são responsáveis por
7% da produção mundial de petróleo.
Mar
As cotações do petróleo cru atingiram, no início
de março, o patamar mais elevado desde a Guerra
do Golfo, em resposta à declaração do
Departamento de Energia dos Estados Unidos
quanto à retração dos estoques americanos de
petróleo, óleos refinados e gasolina. As reservas
americanas diminuíram em um milhão de barris,
atingindo 271,9 milhões de barris na semana de
21 de fevereiro, volume 14% inferior ao
verificado na mesma data no ano anterior. Com o
início da invasão no Iraque, as cotações do
petróleo recuaram mais de 20%.
O petróleo tipo Brent foi negociado, no final de dezembro, a
US$29,99, no final de janeiro a US$31,45, e aproximou-se do
patamar de US$35 no início de março, recuando para US$26,60
em 24 de março. Em Nova Iorque, o barril do petróleo tipo West
Texas Intermediate (WTI) foi transacionado a US$31,37 no final
81
Relatório de Inflação
Março 2003
de dezembro, a US$33,51 no final de janeiro e atingiu US$37 no
início de março, retraindo para US$29,56 no dia 24 do mesmo
mês. No mercado futuro, as cotações do petróleo tipo Brent
mostraram-se decrescentes para prazos subseqüentes de entrega.
4.7 Commodities agrícolas
As cotações das commodities agrícolas, em média, apresentaram alta
no início de 2003. Apesar de as atuais estimativas sinalizarem aumentos
adicionais de preços para algodão, milho, cítricos e outras commodities,
os fundamentos para este ano não sustentam elevação considerável das
cotações internacionais, que podem declinar até o final do ano, na
hipótese de estabilização do cenário geopolítico mundial.
No mercado de açúcar, a expectativa é de manutenção de fortes
cotações no médio prazo, relacionada, em parte, à perspectiva de
elevação da produção de álcool, em detrimento da produção de
açúcar, na próxima safra brasileira. No que se refere ao trigo, a
produção mundial na temporada 2003/2004 deverá atingir 595
milhões de toneladas, 30 milhões a mais que no período 2002/2003.
4.8 Conclusão
O desempenho da economia mundial não demonstra o dinamismo
que caracterizaria um cenário de nítida recuperação. Ao contrário,
o pessimismo aferido pelos indicadores de confiança das principais
economias desenvolvidas faz prever evolução desfavorável do nível
de atividade econômica nos próximos meses, não obstante a
recuperação da produção industrial nos primeiros meses de 2003.
Assinale-se os indícios de retração do consumo privado nos Estados
Unidos, suscitando preocupação quanto à recuperação da economia
norte-americana, com desdobramentos sobre a evolução da
economia mundial.
Os baixos patamares em que se situam as taxas de inflação nas
principais economias favorecem a aplicação adicional de estímulos
de política monetária, tendo como objetivo a retomada do
82
Relatório de Inflação
Março 2003
crescimento. Assim, não havendo recuperação no médio prazo, é
provável que novos cortes de taxas de juros venham a ocorrer tanto
nos Estados Unidos como na Área do Euro. A economia norteamericana pode contar ainda com o auxílio de estímulos fiscais, já
programados pelo governo. Economias emergentes como as latinoamericanas devem permanecer sofrendo restrições tanto à utilização
de políticas fiscais, dada a necessidade de buscarem trajetórias
sustentáveis para o endividamento público, quanto à implementação
de políticas monetárias expansivas, face à dependência desses países
em relação aos fluxos internacionais de capitais. Por outro lado, a
partir da solução das tensões no Oriente médio, espera-se que haja
recuperação dos níveis de confiança por parte dos investidores
internacionais, com conseqüente redução adicional da aversão ao
risco, facilitando o acesso, em especial das economias emergentes,
aos mercados financeiros internacionais.
A confirmação das expectativas quanto à solução rápida da crise
mencionada contribuirá para a recuperação da economia mundial,
incorporando o cenário provável de redução de incerteza e declínio
dos preços do petróleo. Se a reversão de expectativas for significativa
nos Estados Unidos, o reaquecimento da economia americana poderá
se propagar, estimulando a recuperação econômica em escala global.
83
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