Relatório de Inflação Março 2003 4 – Economia internacional O cenário macroeconômico internacional apresentou-se instável nos primeiros meses de 2003, respondendo à elevação das tensões políticas envolvendo o Oriente Médio. A recuperação da demanda agregada foi dificultada pela compressão da renda disponível motivada pela alta nos preços do petróleo e pelo impacto da incerteza sobre as expectativas de empresários e consumidores. Os mercados internacionais apostam, entretanto, em solução rápida para a crise, com desdobramentos favoráveis sobre a oferta internacional de petróleo e os preços do produto, contribuindo para a retomada da economia mundial ainda em meados deste ano. Caso essas expectativas não se concretizem, há que se considerar a perspectiva de nova deterioração do nível de confiança e aumento da aversão ao risco, com impactos indesejados sobre fluxos de capitais, consumo, investimento, produção e emprego. A retomada do crescimento econômico em escala mundial está condicionada, adicionalmente, ao desempenho da economia norteamericana, face à persistente insuficiência da demanda interna para sustentação das economias na Área do Euro e no Japão. Assinale-se, nesse sentido, a reduzida eficácia da política monetária, assim como as restrições inerentes à utilização de estímulos fiscais, para promover a expansão da atividade econômica nas principais economias. 4.1 Crescimento e emprego A recuperação da economia mundial, a partir do impulso originado da economia norte-americana, tornou-se menos iminente do que sugeriam os primeiros resultados para 2002. O crescimento do PIB 69 Relatório de Inflação Março 2003 PIB - Estados Unidos1/ norte-americano mostrou significativa desaceleração no quarto trimestre, quando a taxa de expansão trimestral anualizada declinou para 4 1,4%, após atingir 4% no trimestre precedente. 2 O crescimento do PIB em 2002 alcançou 2,4%, 0 comparativamente a 0,3% em 2001. O arrefecimento do ritmo de expansão do PIB no -2 II IV II IV II IV último trimestre de 2002 resultou de 2000 2001 2002 Fonte: Bureau of Labor Statistics desacelerações no consumo privado e no 1/ Variação trimestral anualizada e dessazonalizada. investimento em estoques, além de forte contração nas exportações. Tais movimentos foram parcialmente compensados por expansões em gastos públicos e investimentos em residências. A edição de fevereiro do Beige Book, pesquisa compilada pelo Federal Reserve (Fed) com base em relatórios produzidos em seus doze distritos, confirmou a tendência de moderação dos gastos em consumo nos dois primeiros meses de 2003. % 6 PIB - Área do Euro1/ % 4 3 2 1 0 -1 II III IV I II III IV 2000 2001 Fonte: Eurostat 1/ Variação trimestral anualizada e dessazonalizada. 70 Na Área do Euro, é pouco provável que o crescimento econômico volte a se aproximar de sua trajetória potencial ao final de 2003, como se estimava há poucos meses. Nesse sentido, após expandir 0,8% em 2002, a variação do PIB da região deverá situar-se entre -0,1% e 0,3%, no primeiro trimestre, e entre 0,2% e 0,5%, no I II III IV segundo trimestre de 2003, de acordo com a 2002 Comissão Européia. No último trimestre de 2002, o consumo privado permaneceu desaquecido em decorrência do pessimismo dos consumidores face às taxas de desemprego crescentes e à elevação dos preços do petróleo. As exportações, componente que mais contribuiu para o crescimento do PIB em 2002, declinaram em novembro e dezembro, refletindo a evolução contida da atividade econômica mundial e a forte apreciação do euro. A trajetória da moeda européia frente ao dólar deverá prosseguir em 2003, tendo em vista os elevados e crescentes déficits em conta corrente dos Estados Unidos. Em conseqüência, a contribuição dos saldos comerciais para a sustentação do crescimento do PIB tende a reduzir-se neste ano, comparativamente ao ano anterior. Relatório de Inflação Março 2003 PIB - Japão1/ No Japão, não se confirmou a recuperação do consumo privado, que se configurava até meados 2 de 2002, como indicam dados relativos ao 0 dispêndio das famílias e ao início de construções -2 habitacionais, nos últimos meses do ano. O PIB -4 registrou variação anualizada e dessazonalizada -6 de 2% no quarto trimestre de 2002, após II IV II IV II IV 2000 2001 2002 expansões de 2,6% e 3,2% no segundo e no Fonte: Economic Planning Agency terceiro trimestres. Ao mesmo tempo, persistem 1/ Variação trimestral anualizada e dessazonalizada. os problemas estruturais que vêm determinando a estagnação da economia japonesa: o processo deflacionário, que inibe a demanda agregada, ao desestimular consumo e investimento, e o elevado comprometimento do sistema bancário com empréstimos de baixa qualidade, que, combinado com o elevado grau de endividamento das empresas, restringe o papel do crédito na ativação da economia. % 4 Enquanto nos Estados Unidos é esperado importante impulso fiscal a partir dos cortes de impostos programados pelo governo, em outras regiões a possibilidade de recurso a estímulos macroeconômicos está sujeita a sérias restrições. Na Área do Euro, a necessidade de adequação ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, que impõe limites ao endividamento público, exigirá consideráveis ajustes fiscais pelos próximos anos, nas três principais economias da região, Alemanha, França e Itália. No Japão, o quadro fiscal também dificulta a utilização de políticas expansivas, ao passo que resta pouco espaço para aplicação de estímulos monetários. Entre os países emergentes, seguiram apresentando crescimento expressivo as economias asiáticas, com destaque para a China, e, em menor grau, os países da Europa Oriental. China e outros emergentes asiáticos devem continuar crescendo de forma acelerada em 2003, impulsionados pelo sólido desempenho da demanda interna, que tem compensado oscilações na demanda externa. A economia chinesa cresceu 8% em 2002, comparativamente a 7,3% em 2001. Em 2003, a expansão deve novamente situar-se em torno de 8%. Em sentido inverso, registrou-se contração de 0,5% na economia da América Latina e Caribe, resultado associado, fundamentalmente, 71 Relatório de Inflação Março 2003 à severa contração das economias da Argentina, do Uruguai e da Venezuela. Assinale-se, entretanto, que os demais países apresentaram taxas de crescimento do produto pouco expressivas, no período. O desempenho econômico da região foi condicionado por fatores externos, entre os quais a dificuldade de acesso aos fluxos internacionais de capital, sobretudo no que se refere aos países do Mercado Comum do Sul (Mercosul), a desaceleração da economia norte-americana, com impacto mais acentuado sobre a economia mexicana, e a deterioração dos termos de troca, que, nos últimos anos, afetou sobretudo Peru, Chile e Brasil. A Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) estima que em 2003 o crescimento médio das economias da região alcance 2,1%, a se confirmar a tendência de recuperação demonstrada a partir do final de 2002. Em meio à incerteza que caracteriza o cenário econômico atual, observa-se evolução positiva e sincronizada da produção industrial em algumas regiões, entre as quais Estados Unidos, Japão e países emergentes asiáticos, nos últimos meses de 2002 e no início de 2003. Em países como China, Coréia do Sul, Tailândia e Turquia a expansão da produção industrial, em relação a iguais períodos do ano precedente, manteve-se próxima ou acima de 10%. Desempenho favorável também foi observado em economias latino-americanas, como Brasil, Chile e Peru, e nas economias da Europa Oriental. Confiança do consumidor 120 110 100 90 80 70 60 Fev Abr 2001 Jun Ago Out Dez Fev Abr 2002 EUA Fonte: Conference Board , Comissão Européia 72 Contudo, o comportamento recente dos principais indicadores de confiança do setor empresarial e de consumidores nos países industrializados não sugere que esteja em curso uma recuperação consistente do nível de atividade econômica. Ao contrário, as expectativas parecem sinalizar o pessimismo decorrente do acirramento das Jun Ago Out Dez Fev 2003 tensões no Oriente Médio e da elevação das taxas Área do Euro de desemprego nas principais economias desenvolvidas. Esse sentimento é mais nítido entre os consumidores, cujos índices de confiança vêm registrando declínios acentuados desde meados de 2002. Nos dois primeiros meses de 2003, a evolução foi particularmente desfavorável nos Estados Unidos e na França. Relatório de Inflação Março 2003 Indicadores de confiança empresariais Indicadores que aferem expectativas de empresários do setor manufatureiro mostram 55 evolução menos uniforme, mas, de forma geral, também descrevem trajetórias declinantes. Nos 50 Estados Unidos, o índice do Institute for Supply 45 Management (ISM) declinou continuamente nos 40 dois primeiros meses de 2003. Na Área do Euro, Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev 2001 2002 2003 tais indicadores atingiram, no ano, seu patamar EUA - PMI Área do Euro - Reuters PMI Fonte: Institute for Supply Management (ISM), Reuters mais baixo em dezembro de 2002, mostrando ligeira recuperação nos dois meses seguintes. No Japão, o índice Tankan está em ascensão desde o primeiro trimestre de 2002, embora continue apresentando resultados negativos, sinalizando, ainda, pessimismo entre as empresas consultadas. 60 As taxas de desemprego mantiveram-se elevadas nas principais economias ao longo de 2002, apresentando crescimento nos últimos meses do ano e no início de 2003. Nos Estados Unidos, a taxa de desemprego declinou para 5,7% em janeiro, comparativamente a 6% no mês anterior, em decorrência de contratações no setor varejista. No Japão, o desemprego atingiu 5,5% em janeiro, registrando estabilidade em relação a dezembro de 2002, porém mantendo-se em patamar elevado para o padrão do país. Além da desaceleração da economia mundial, a reestruturação ocorrida no setor corporativo japonês e as restrições ao crédito motivadas pelas dificuldades do setor bancário têm contribuído para pressionar as condições de emprego. Na Área do Euro, a taxa de desemprego alcançou 8,6% em janeiro, após situar-se em 8,5% no mês anterior. Entre os países da América Latina e Caribe, a taxa média de desemprego alcançou 9,1% em 2002, ante 8,4% em 2001. A situação é particularmente grave na Argentina, onde a taxa atingiu 21%. 4.2 Política monetária e inflação Os bancos centrais das principais economias retomaram os cortes de juros ao final de 2002 e início desse ano. As taxas básicas de juros foram reduzidas sucessivamente de 1,75% a.a. para 1,25% a.a., em novembro, pelo Federal Reserve; de 3,25% a.a. para 2,75% a.a., em 73 Relatório de Inflação Março 2003 dezembro, e para 2,50% a.a., em março, pelo Banco Central Europeu (BCE); e de 4% a.a. para 3,75% a.a., em fevereiro, pelo Banco da Inglaterra. Como resultado, as taxas de juros nos Estados Unidos e no Reino Unido encontram-se, atualmente, nos níveis mais reduzidos dos últimos quarenta anos, enquanto no Japão permanecem praticamente nulas. Nos Estados Unidos e na Área do Euro, os cortes de juros recentes decorreram da percepção mais clara quanto à falta de dinamismo de ambas as economias. O Federal Reserve manteve as taxas inalteradas a partir de novembro, explicitando a visão de que os riscos futuros se encontram igualmente distribuídos entre a menor atividade econômica e a maior pressão inflacionária. Além disso, o Fed avalia que os mecanismos de transmissão da política monetária ainda não esgotaram completamente os efeitos dos cortes agressivos de juros dos últimos dois anos, o que, aliado aos ganhos de produtividade, poderá favorecer o cenário econômico norte-americano. Todavia, os últimos indicadores sugerem fragilidade da recuperação americana. Na Área do Euro, a inflação tem se mantido acima do limite de 2% ao ano, em que pese o fraco desempenho da região, espelhado na perspectiva de recessão em sua maior economia, a Alemanha, o que tem intensificado as críticas ao arcabouço de política monetária do BCE e ao Pacto de Estabilidade e Crescimento da União Européia. Ambos são considerados pouco flexíveis para permitir os estímulos monetário e fiscal de que carece a região. A tendência recente de apreciação do euro abre a possibilidade de novos cortes de juros nos próximos meses. Contrastando com a postura cautelosa do BCE, o Banco da Inglaterra optou pela redução dos juros em fevereiro, apesar da recente escalada de preços. Assim, a inflação em dezembro situou-se pouco acima da meta central de 2,5% a.a., mas tal elevação, na opinião majoritária dos membros do comitê de política monetária, se deveu, basicamente, a fatores temporários. Na ausência de pressões subjacentes, a redução das taxas de juros objetivou compensar os efeitos deflacionários da recente apreciação da libra esterlina. 74 Relatório de Inflação Março 2003 No Japão, a armadilha de liquidez continua retirando eficácia à política monetária. Desde fevereiro de 1999, quando o banco central adotou a chamada política de juro zero, a taxa de juros básica, uncollateralized call rate, então fixada em 0,25% a.a., declinou continuamente, situando-se atualmente em 0,001% a.a. Por decisão do banco central, a taxa será mantida em torno de zero, devendo ocorrer alterações significativas somente quando a inflação ao consumidor voltar a apresentar tendência de elevação. Na América Latina, a menor dinâmica da economia norte-americana e a maior instabilidade dos mercados financeiros internacionais têm levado a distintas posturas de política monetária entre blocos de países. Onde os efeitos da volatilidade financeira são mais sentidos, como nos países do Mercosul, a política monetária tem sido contracionista, procurando compensar a maior pressão sobre os mercados cambiais. Inversamente, nos países andinos e no México, onde o reflexo do lento crescimento da economia dos Estados Unidos da América (EUA) é mais significativo, a política monetária tem sido mais expansionista. Também na Ásia as taxas de juros se encontram em níveis baixos, com exceção da Indonésia, cuja política de controle da inflação vem exigindo taxas mais elevadas. A evolução dos preços na região tem apresentado certa dispersão entre países, observando-se deflação na China e em Hong-Kong, inflação moderada na Coréia do Sul e inflação elevada na Indonésia. 4.3 Mercados financeiros internacionais As projeções para 2003 indicam recuperação moderada dos fluxos de capitais privados direcionados aos países emergentes. De acordo com estimativas do Institute of International Finance (IIF), o ingresso líquido de capitais nesses países deve registrar expansão, atingindo US$137,1 bilhões, comparativamente a US$112,5 bilhões em 2002, não obstante permaneça em patamar deprimido com relação ao observado na segunda metade da década de 1990. 75 Relatório de Inflação Março 2003 A expansão dos ingressos líquidos de capitais para países emergentes sustenta-se na recuperação dos 1/ 2/ 2002 2003 2001 fluxos destinados a investimento em portfólio, 125,7 112,5 137,1 especialmente para os mercados asiáticos, uma 47,8 25,2 35,5 134,3 106,6 107,7 vez que os investimentos diretos devem manter54,0 35,6 33,7 se estáveis, respondendo tanto a uma tendência 10,2 -4,7 8,9 global de redução das operações de fusões e 0,7 -1,8 0,4 -26,3 -4,8 -2,6 aquisições em nível supra-nacional quanto à -10,1 -7,5 -4,7 descontinuidade dos processos de reformas 7,5 15,3 23,1 3,2 -1,2 6,2 estruturais e privatização que alavancaram os 14,7 12,2 10,4 investimentos direcionados a algumas economias 22,4 14,0 17,7 emergentes na última década. Simultaneamente, empréstimos bancários e não-bancários devem apresentar crescimento limitado, ainda sob impacto das incertezas em relação ao desempenho econômico dos países latino-americanos e à perspectiva de retração nos lucros obtidos nos mercados financeiros asiáticos. Fluxo líquido de capital para economias emergentes US$ bilhões Discriminação Fluxos privados América Latina Investimento direto líquido América Latina Investimento de portfólio líquido América Latina Empréstimos bancários 2000 185,6 62,6 135,6 60,6 14,3 -6,2 -4,4 América Latina 1,0 Outros capitais privados 40,1 América Latina 7,3 Capital oficial total -3,0 América Latina -6,7 Fonte: IIF - janeiro 2003 1/ Estimativa. 2/ Projeção. No que tange aos fluxos de capitais privados direcionados aos países latino-americanos, as estimativas do IIF indicam crescimento de US$25,2 bilhões, em 2002, para US$35,5 bilhões, em 2003, o que sugere gradual recuperação da confiança nos mercados latinos americanos, atingidos pelas incertezas relacionadas à crise econômica argentina e à crise de confiança que afetou a economia brasileira em 2002. O sistema bancário internacional apresenta-se, de modo geral, lucrativo e capitalizado, embora, em alguns países, perdas no mercado doméstico e no exterior tenham comprometido a rentabilidade no âmbito nacional. Nos Estados Unidos, a influência das incertezas relativas à conjuntura econômica e aos ganhos corporativos reduziu a rentabilidade dos bancos com atividade concentrada em investimentos e em seguros, ao passo que favoreceu as instituições de varejo. Na Europa, o setor bancário apresenta fundamentos adequados em termos de capitalização e solidez. Entretanto, os bancos alemães sofrem os efeitos do ambiente de baixas taxas de rentabilidade e crescimento discreto da economia, o que inibe a expansão de crédito no país. No Japão, o sistema bancário mantémse como foco de instabilidade, na ausência de uma ação mais efetiva destinada a resolver o problema dos empréstimos vencidos e não pagos. 76 Relatório de Inflação Março 2003 Nesse cenário, em janeiro, os maiores bancos japoneses executaram operações de aumento de capital, por meio de oferta de ações, iniciativa insuficiente, contudo, para eliminar os riscos de nova crise bancária. Ativos bancários internacionais Distribuição por regiões Período Todos os Países países 2001 2002 Am. Lat. em desenv. e Caribe I 11 315,5 1 289,9 518,1 II 11 190,9 1 285,6 521,9 III 11 577,2 1 332,4 558,4 IV 11 497,5 1 357,6 562,3 I 11 464,6 1 327,7 528,1 II 12 426,5 1 330,7 487,9 III 12 512,9 1 292,0 449,2 Fonte: BIS. Consolidated Banking Statistics 1/ Países em desenvolvimento. Em 2002, acompanhando tendência comum às demais modalidades de fluxos de capitais, os US$ bilhões 1/ 1/ empréstimos bancários internacionais destinados Europa Ásia Brasil aos países desenvolvidos sofreram elevação, ao mesmo tempo em que declinaram os ingressos 388,2 239,3 136,2 direcionados a países em desenvolvimento. Nesse 375,0 245,9 139,9 375,1 256,0 138,5 sentido, de acordo com o Banco de 376,6 275,8 142,4 Compensações Internacionais (BIS), no terceiro 387,7 270,6 134,9 393,6 296,5 123,3 trimestre de 2002 o total dos ativos internacionais 397,8 293,7 105,1 dos bancos que reportam ao BIS alcançou US$12,5 trilhões, crescendo 0,7% e 8,8% em relação, respectivamente, ao período imediatamente anterior e ao mesmo trimestre do ano precedente. A participação das linhas bancárias para países desenvolvidos elevou-se para 81,5% do total, enquanto aquelas destinadas a países em desenvolvimento alcançaram 10,3%. Cabe destacar a redução da participação da América Latina e Caribe nos ativos mantidos nos países em desenvolvimento, de 41,9%, em 2001, para 34,8%, no ano subseqüente. Bolsas de valores - EUA 6.1.2003=100 110 100 90 80 6.1 2003 16.1 Dow Jones Fonte: Bloomberg 29.1 10.2 S&P 500 21.2 5.3 Nasdaq Os mercados acionários globais também enfrentam oscilações movidas pelas incertezas a respeito das perspectivas de aceleração do crescimento econômico e seus efeitos sobre os resultados das corporações. No que se refere ao desempenho das bolsas americanas, reflete a questão relacionada ao Oriente Médio e a recuperação econômica mais lenta do que a esperada. Nesse contexto, os índices Dow Jones Industrial Average e Standard and Poor´s (S&P) 500, da Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE), e o Nasdaq registraram contração mensal de 1% a 5%, em fevereiro. 77 Relatório de Inflação Março 2003 Em relação às bolsas européias, a expectativa de recuperação dos preços das ações não se materializou, mantendo-se tendência descendente à medida que a ameaça de guerra induziu o processo de revisão dos ganhos das corporações. Na Inglaterra, o Financial Times Securities Exchange Index (FTSE 100) da bolsa de Londres retraiu 9,4% em fevereiro, enquanto, na Alemanha, o Deutscher Aktienindex (DAX), da bolsa de Frankfurt, recuou 13,1%. Bolsas de valores - Europa e Japão No Japão, as perspectivas negativas relacionadas à recuperação da economia local têm influenciado os mercados financeiros. Nesse sentido, o índice Nikkei, da bolsa de Tóquio, apresentou variação negativa de 3%, nos dois primeiros meses de 2003, após contração de 21% em 2002. 6.1.2003=100 110 100 90 80 70 6.1 2003 16.1 29.1 FTSE 100 10.2 21.2 DAX 5.3 Nikkey 225 Fonte: Bloomberg Cotações do dólar 1,12 Iene (escala inversa) 100 1,10 110 1,08 120 1,06 130 1,04 140 1,02 150 Euro 1,00 7.1 2003 160 15.1 24.1 3.2 Euro Fonte: Bloomberg 11.2 20.2 28.2 Iene 10.3 No mercado de câmbio, a tendência, iniciada em 2002, de depreciação do dólar frente ao euro e ao iene, aprofundou-se no primeiro trimestre de 2003. Nesse sentido, a moeda americana apresentou depreciação de 5,3% de janeiro a início de março, em relação ao euro, atingindo cotação de US$1,105/ em 10 de março, enquanto a moeda japonesa registrou apreciação de 1,4% em relação ao dólar, no mesmo período. Os movimentos de declínio do dólar nos mercados internacionais refletem preocupações em relação à recuperação econômica e ao crescimento do déficit em conta corrente nos Estados Unidos, bem como as baixas taxas de retornos nos mercados de renda fixa e renda variável americanos. 4.4 Comércio mundial Os resultados do comércio exterior no quarto trimestre de 2002, não foram favoráveis, de forma geral, aos países que integram o Nafta. Nos Estados Unidos, as exportações decresceram, sobretudo em dezembro, refletindo o enfraquecimento da demanda mundial, e as importações mantiveram tendência de alta ao longo do período, 78 Relatório de Inflação Março 2003 sustentada pelo aumento das compras de bens de consumo e automóveis, superior à retração nas importações de petróleo. No Canadá, o comércio externo foi neutro em relação à evolução do PIB, após ter contribuído significativamente no trimestre anterior. O saldo comercial apresentou declínio pouco expressivo em relação ao terceiro trimestre, com incremento nas importações e decréscimo nas exportações. No México, o déficit comercial se ampliou, refletindo crescimento sazonal das importações. As exportações atingiram o patamar mais elevado do ano, não obstante apresentassem crescimento moderado, refletindo a lenta recuperação da economia norte-americana, destino de 90% das exportações do país. Na América Latina, a melhora no saldo da balança comercial em 2002 esteve associada à acentuada redução das importações, dadas as dificuldades experimentadas por algumas economias da região, especialmente Argentina e Venezuela. Na Argentina, o resultado do quarto trimestre confirmou a tendência de obtenção de superávits robustos na balança comercial, garantindo a manutenção do fluxo de dólares para o mercado de câmbio. No Chile, a balança comercial manteve relativa estabilidade, gerando superávit mensal médio de US$250 milhões no trimestre outubro/dezembro. A greve geral na Venezuela, no início de dezembro, afetou a produção de petróleo, que sofreu declínio de cerca de 25% no último trimestre de 2002, ante igual período de 2001. Considerando que a venda de petróleo corresponde, em média, a 85% das exportações do país, as exportações declinaram 29%, no trimestre, e as importações, 16,5%, relativamente ao trimestre precedente. A tendência de crescimento da corrente de comércio dos países da Área do Euro foi interrompida nos dois últimos meses de 2002, com as exportações registrando contração superior às importações, o que resultou em redução de 17% no superávit comercial no quarto trimestre, relativamente ao período anterior. Na Alemanha, as exportações cresceram, porém, em ritmo inferior ao do trimestre precedente, implicando redução do superávit comercial. Na França, houve redução nas importações e exportações. 79 Relatório de Inflação Março 2003 A recuperação da demanda externa, a partir do terceiro trimestre de 2002, impactou favoravelmente o comércio exterior japonês, em especial impulsionando o crescimento das exportações em novembro. Simultaneamente, registrou-se retração nas importações, resultando em elevação do superávit comercial no quarto trimestre, para US$22,5 bilhões. Na China, as exportações registraram aceleração ao longo do último trimestre de 2002, com expansão ainda mais significativa em dezembro. Vem aumentando a participação chinesa no mercado de eletro-eletrônicos dos Estados Unidos, ameaçando a liderança dos produtos provenientes do Japão e do Sudeste Asiático. 4.5 Commodities Ouro US$ por onçatroy 400 380 360 340 320 3.1 2003 14.1 Fonte: Bloomberg 23.1 3.2 12.2 21.2 4.3 13.3 24.3 A cotação do ouro aproximou-se do patamar de US$382 por onça-troy, no início de fevereiro, recuando para o nível de US$330 por onça-troy na última semana de março, tendo oscilado consideravelmente no período. Nos primeiros meses de 2002, o preço do metal oscilava em torno de US$300 por onça-troy. O aumento do preço é atribuído, especialmente, à incerteza crescente no cenário político mundial, estando associado, adicionalmente, ao declínio do mercado acionário norte-americano e à depreciação do dólar. O anúncio da venda de trinta toneladas de suas reservas em ouro pelo Banco de Portugal, em fevereiro, não foi suficiente para conter a alta das cotações. As expectativas são de que os preços permaneçam voláteis enquanto perdurar a incerteza no cenário internacional. Outros metais, tanto os preciosos como prata e paládio, quanto os de base, como cobre, alumínio, níquel e zinco, têm também experimentado elevações significativas de preços no mercado internacional. 80 Relatório de Inflação Março 2003 4.6 Petróleo EUA - Estoques comerciais Milhões de barris/dia 330 320 310 300 290 280 270 260 18.10 8.11 29.11 20.12 10.1 2001-2002 31.1 21.2 2002-2003 Fonte: Depto de Energia/EUA Mercado de petróleo US$ por barril 40 36 32 28 24 20 3.1 2003 15.1 27.1 6.2 18.2 28.2 Brent 12.3 24.3 WTI Fonte: Bloomberg Petróleo - Mercado futuro US$ por barril 36 34 32 30 28 26 24 Jun 2002 Jul Ago t+1 Fonte: Bloomberg Set Out t+2 Nov t+3 Dez Jan 2003 t+4 Fev A Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), em reunião de 12 de janeiro, considerando a conjuntura de demanda e oferta para o primeiro trimestre de 2003, decidiu aumentar a meta de produção de 23 milhões de barris por dia, estipulada em dezembro de 2002, para 24,5 milhões de barris por dia, a partir de primeiro de fevereiro. Os preços do produto sofreram elevação superior a 40% de dezembro a março, em conseqüência da greve do setor na Venezuela, que comprometeu as exportações para os Estados Unidos. Ademais, o mercado de petróleo foi pressionado pela iminência de ataque ao Iraque e pela demanda crescente por combustível para aquecimento, em razão do rigoroso inverno no hemisfério norte. Vale ressaltar que a Venezuela e o Iraque são responsáveis por 7% da produção mundial de petróleo. Mar As cotações do petróleo cru atingiram, no início de março, o patamar mais elevado desde a Guerra do Golfo, em resposta à declaração do Departamento de Energia dos Estados Unidos quanto à retração dos estoques americanos de petróleo, óleos refinados e gasolina. As reservas americanas diminuíram em um milhão de barris, atingindo 271,9 milhões de barris na semana de 21 de fevereiro, volume 14% inferior ao verificado na mesma data no ano anterior. Com o início da invasão no Iraque, as cotações do petróleo recuaram mais de 20%. O petróleo tipo Brent foi negociado, no final de dezembro, a US$29,99, no final de janeiro a US$31,45, e aproximou-se do patamar de US$35 no início de março, recuando para US$26,60 em 24 de março. Em Nova Iorque, o barril do petróleo tipo West Texas Intermediate (WTI) foi transacionado a US$31,37 no final 81 Relatório de Inflação Março 2003 de dezembro, a US$33,51 no final de janeiro e atingiu US$37 no início de março, retraindo para US$29,56 no dia 24 do mesmo mês. No mercado futuro, as cotações do petróleo tipo Brent mostraram-se decrescentes para prazos subseqüentes de entrega. 4.7 Commodities agrícolas As cotações das commodities agrícolas, em média, apresentaram alta no início de 2003. Apesar de as atuais estimativas sinalizarem aumentos adicionais de preços para algodão, milho, cítricos e outras commodities, os fundamentos para este ano não sustentam elevação considerável das cotações internacionais, que podem declinar até o final do ano, na hipótese de estabilização do cenário geopolítico mundial. No mercado de açúcar, a expectativa é de manutenção de fortes cotações no médio prazo, relacionada, em parte, à perspectiva de elevação da produção de álcool, em detrimento da produção de açúcar, na próxima safra brasileira. No que se refere ao trigo, a produção mundial na temporada 2003/2004 deverá atingir 595 milhões de toneladas, 30 milhões a mais que no período 2002/2003. 4.8 Conclusão O desempenho da economia mundial não demonstra o dinamismo que caracterizaria um cenário de nítida recuperação. Ao contrário, o pessimismo aferido pelos indicadores de confiança das principais economias desenvolvidas faz prever evolução desfavorável do nível de atividade econômica nos próximos meses, não obstante a recuperação da produção industrial nos primeiros meses de 2003. Assinale-se os indícios de retração do consumo privado nos Estados Unidos, suscitando preocupação quanto à recuperação da economia norte-americana, com desdobramentos sobre a evolução da economia mundial. Os baixos patamares em que se situam as taxas de inflação nas principais economias favorecem a aplicação adicional de estímulos de política monetária, tendo como objetivo a retomada do 82 Relatório de Inflação Março 2003 crescimento. Assim, não havendo recuperação no médio prazo, é provável que novos cortes de taxas de juros venham a ocorrer tanto nos Estados Unidos como na Área do Euro. A economia norteamericana pode contar ainda com o auxílio de estímulos fiscais, já programados pelo governo. Economias emergentes como as latinoamericanas devem permanecer sofrendo restrições tanto à utilização de políticas fiscais, dada a necessidade de buscarem trajetórias sustentáveis para o endividamento público, quanto à implementação de políticas monetárias expansivas, face à dependência desses países em relação aos fluxos internacionais de capitais. Por outro lado, a partir da solução das tensões no Oriente médio, espera-se que haja recuperação dos níveis de confiança por parte dos investidores internacionais, com conseqüente redução adicional da aversão ao risco, facilitando o acesso, em especial das economias emergentes, aos mercados financeiros internacionais. A confirmação das expectativas quanto à solução rápida da crise mencionada contribuirá para a recuperação da economia mundial, incorporando o cenário provável de redução de incerteza e declínio dos preços do petróleo. Se a reversão de expectativas for significativa nos Estados Unidos, o reaquecimento da economia americana poderá se propagar, estimulando a recuperação econômica em escala global. 83