AGROPECUáRIA E EMPREGO NA ECONOMIA

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XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
Agropecuária e Emprego na Economia Brasileira: uma Análise InsumoProduto
Fernanda Sartori de Camargo
CPF:223182178-82
Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’
Bacharel em Ciências Econômicas pela ESALQ/USP
Mestranda em Economia Aplicada pela ESALQ/USP
Avenida de Cillo, nº784, Centro, Santa Bárbara D’oeste, São Paulo
[email protected]
Joaquim José Martins Guilhoto
CPF:030788068-04
Professor Titular da Universidade de São Paulo
Professor Associado do Regional Economics Applications Laboratory
Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, FEA II, sala 217 - Cidade Universitária
São Paulo, SP 05508-900,Brasil
[email protected]
12- Mercado de Trabalho Agrícola
Pôster
2
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“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
Agropecuária e Emprego na Economia Brasileira: uma Análise InsumoProduto
Resumo
O setor agropecuário tem grande importância na formação sócio-econômica
brasileira. Seu desenvolvimento ao longo da história possibilitou o surgimento de outras
atividades e, portanto, de novos postos de trabalho. A reorganização da economia,
caracterizada pela crescente globalização, tem provocado mudanças nas estruturas
produtivas desse setor e, conseqüentemente, mudanças nas características de emprego. Nesse
contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar o pessoal ocupado nesse setor, ao
longo da década de noventa, sob a ótica do Modelo de Insumo-Produto, mostrando a
evolução dos empregos gerados diretamente, indiretamente e induzidos. Alguns dos
resultados apontam que, apesar dos empregos totais se reduzirem ao longo do período
analisado, o setor ainda é o segundo que mais gerou empregos na economia brasileira no
ano de 1999: 209 empregos a cada R$ 1 milhão de produção.
PALAVRAS-CHAVE: Agropecuária, Empregos, Insumo-Produto, Evolução
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“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
Agropecuária e Emprego na Economia Brasileira: uma Análise InsumoProduto
1. INTRODUÇÃO
O Setor Agropecuário tem grande importância na formação sócio-econômica brasileira. Seu
desenvolvimento ao longo da história possibilitou o surgimento de outras atividades e,
portanto, de novos postos de trabalho.
A reorganização da economia, caracterizada pela crescente globalização, tem provocado
mudanças nas estruturas produtivas desse setor, como a mecanização dos meios de produção,
devido ao aumento da competitividade internacional. Contudo o setor ainda é o segundo que
mais gerou empregos no ano de 1999. A cada R$ 1 milhão investidos na produção, foram
gerados 114 empregos diretos, valor apenas abaixo do setor artigos do vestuário (139
empregos diretos) (Camargo e Guilhoto 2002).
Atualmente, tem se polemizado a proposta de criação de empregos na agropecuária, supondo
o deslocamento de desempregados no meio urbano para o trabalho no campo. Contudo,
mesmo que essa proposta seja voltada para pequenos agricultores ou para a agricultura
familiar, parece pouco provável que o setor venha a absorver um número considerável de
pessoas, visto que a tendência é exatamente contrária: historicamente, o preço pago aos
produtores tem declinado e a exigência de renda maior para as famílias dos produtores, requer
um volume maior de produção e, portanto, maior eficiência produtiva, possivelmente oriunda
da mecanização (Contini, 2002).
Nesse contexto, o presente trabalho se propôs a analisar o pessoal ocupado nesse setor, ao
longo da década de noventa. O trabalho está dividido em 5 seções, além dessa breve
introdução: objetivo; caracterização setor agropecuário; a metodologia a ser utilizada; os
resultados; as conclusões, referências bibliografias e, por fim, o anexo.
2. OBJETIVO
O presente trabalho tem como objetivo comparar a relação da média dos setores da economia
brasileira com o setor agropecuário, utilizando-se para isso a metodologia do Modelo de
Insumo-Produto.
3. O SETOR AGROPECUÁRIO
O setor agropecuário sempre teve um papel importante no desenvolvimento do Brasil. Suas 5
funções principais, segundo Bacha (p.29, 2003), são:
-
“fornecer alimento para a população total,
-
fornecer capital para a expansão do setor não-agrícola,
-
fornecer mão-de-obra para o conhecimento e diversificação de atividades na
economia,
-
fornecer divisas para a compra de insumos e bens de capitais necessários ao
desenvolvimento de atividades econômicas,
-
constituir-se em mercado consumidor para os produtos do setor não- agrícola”.
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Do início da colonização até 1930, os produtos agrícolas (Pau-Brasil, cana-de-açúcar, fumo,
algodão, café, borracha e cacau) foram os principais geradores de renda (Lanzer et al, 2003).
A partir de 1920, e mais intensamente, em 1930, a indústria brasileira desenvolve-se com
maior intensidade. Tal crescimento é baseado na riqueza gerada pela agropecuária, embora os
investimentos desse período em diante tenham beneficiado muito mais a indústria do que a
própria agropecuária. Somente na década de 1950 é que a riqueza interna gerada pelos setores
industrial e de serviços, ultrapassa a riqueza interna gerada pela agropecuária, e passam, dessa
forma, a ganhar cada vez mais destaque na economia. Porém, isso não significa que a
agropecuária tenha diminuído sua importância para o desenvolvimento do país, uma vez que
continua cumprindo suas funções, cabendo destacar a geração de divisas através das
exportações de produtos agropecuários, o que tem sustentado o superávit primário na balança
de pagamentos (Lanzer et al, 2003).
No final da década de 1960 e, principalmente, na década de 1970, o Governo estimulou o
setor através do fornecimento de investimentos (crédito rural, programa moderfrota), de
centros de pesquisas agrícolas (EMBRAPA) e desenvolvimento da infra-estrutura de
transporte e comunicação. Dessa forma, mesmo quando a crise mundial vem à tona e cessa os
investimentos públicos no setor, o estoque já havia sido formado. Há, portanto, um
crescimento do setor devido aos ganhos de produtividade. Assim, a Agropecuária foi o único
setor que continuou crescendo nos anos 80, mesmo diante de um cenário macroeconômico tão
desfavorável.
Esse aumento da produtividade possibilitou o aumento do poder de compra do produtor rural,
que passa a se autofinanciar. Nesse processo, porém, muitos pequenos produtores acabaram
sendo absorvidos por grandes produtores. Em 2002, a participação da terra concentrada nos
5% maiores estabelecimentos é de 68%, enquanto que, 2,3% da terra, pertence aos 50%
menores estabelecimentos (Hoffmann, 2002). A Agropecuária tornou-se, então, extremamente
eficiente e concentrada.
Em conseqüência das transformações ocorridas no setor em questão, as relações de trabalho
têm-se alterado rapidamente nos últimos anos. Segundo Basaldi (1997), ao se tratar do
emprego agrícola, deve-se observar dois aspectos com mais atenção: “a tendência de queda do
emprego direto nas tradicionais atividades agropecuárias e o crescimento de novas atividades,
modernas e intensivas, como alternativas de trabalho e renda” (Basaldi, p.1,1997).
Nos últimos 20 anos, houve uma redução da população ocupada nas atividades agrícolas. Essa
redução, contudo, não tem significado uma continuidade do êxodo rural, mas, sim, uma
mudança do pessoal ocupado em atividades agrícolas para às não-agrícolas (Schneider, 2003).
Segundo Grossi e Silva (2003), “a população, que reside em áreas rurais e estão ocupadas em
outras atividades (PEA rural não-agrícola), tem apresentado um extraordinário crescimento,
impedindo até que a PEA rural decrescesse no período 1992/98” (Grossi & Silva, p.3, 2003).
As alterações nas formas de ocupação, todavia, não são as únicas modificações ocorridas
nesse período. Segundo Bacha (2003), outras características surgiram nas últimas décadas e
deverão permanecer na primeira década do século XXI, dentre elas, cabe destacar a grande
integração dos setores agropecuário e industrial. A forte inter-relação e importância desses
segmentos pode ser comprovada pela participação PIB do agronegócio na economia
brasileira.
Nesse ínterim, pode-se afirmar que a agropecuária pode contribuir para a geração de
empregos, mesmo em outras e/ou novas atividades, sejam essas ligadas direta ou
indiretamente, a esse setor. Na próxima seção será apresentada a metodologia do trabalho, na
qual será possível examinar a evolução da mão-de-obra empregada na agropecuária.
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4. O MODELO INSUMO-PRODUTO
A análise da estrutura intersetorial será realizada através da aplicação da metodologia de
insumo-produto.
A matriz de insumo produto traz informações sobre a estrutura de produção da economia e a
origem setorial da renda gerada (Rodrigues & Guilhoto, 1998). Retrata as relações produtivas
na economia, a partir da aplicação do modelo desenvolvido por Leontief. Na verdade, a idéia
fundamental de que uma economia funciona, em grande parte, para equacionar a demanda e a
oferta dentro de uma vasta rede de atividades, surgiu com os economistas europeus Quesnay e
Walras. Todavia, demandou do gênio de Wassily Leontief, ganhador do prêmio Nobel de
Economia em 1973, a transformação dessa idéia geral em um modelo prático para as análises
econômicas. “O que Leontief conseguiu realizar foi a construção de uma ‘fotografia
econômica’ da própria economia; nessa fotografia, ele mostrou como os setores estão
relacionados entre si - ou seja, quais setores suprem os outros de serviços e produtos e quais
setores compram de quem” (Schor, & Guilhoto, p.6, 2001).
O modelo proposto toma como referência os fluxos entre as diferentes atividades econômicas,
cuja base de dados deve descrever as relações dessas atividades entre si com a demanda final
(formação bruta de capital fixo, exportações, variação de estoques, consumo do governo,
consumo das famílias), sua renda e importações (Feijó, et al, 2001).
Assume que a produção de produtos domésticos utiliza: insumos domésticos, ou seja, obtidos
através da produção doméstica; insumos importados; e insumos primários (trabalho, capital, e
terra). “Por sua vez os produtos domésticos são utilizados pelas indústrias como insumos
intermediários no processo produtivo ou são consumidos pela demanda final como produtos
finais (exportações, consumo das famílias, gastos do governo, investimentos, etc). As
importações podem ser de insumos intermediários que se destinam ao processo produtivo, ou
de bens finais que são diretamente consumidos pela demanda final” (Schor, & Guilhoto, p.6,
2001).
É através da remuneração do trabalho, capital e terra agrícola, que a renda da economia é
gerada. Essa renda é utilizada no consumo dos bens finais (sejam eles destinados ao consumo
ou ao investimento). A receita do governo é obtida através do pagamento de impostos pelas
empresas e pelos indivíduos. O modelo ainda assume que existe equilíbrio em todos os
mercados da economia.
Dessa forma, dadas as suposições e restrições do modelo, faz-se necessário a construção de
duas matrizes que servirão de base para a aplicação do modelo teórico: Matriz de Produção e
Matriz de Uso e Recursos. A Matriz de Produção é uma matriz composta, horizontalmente, de
produtos e, verticalmente, de setores. Os valores da tabela podem ser encontrados na matriz
de insumo-produto do IBGE (articuladas a partir dos dados das Contas Nacionais), de cada
ano em específico, na tabela de recursos de bens e serviços/ Produção das atividades, planilha
Valor da Produção das atividades. Já a Matriz de Uso e recursos é uma matriz que comporta
setores, produtos, demanda final, importações, Impostos Indiretos Líquidos, Componentes do
Valor Adicionado, Total da Produção e por fim, Pessoal Ocupado. Sua composição também
pode ser encontrada nas matrizes de insumo-produto do IBGE, nas demais tabelas agrupadas
por ano, tais como: tabela de Usos de Bens e Serviços/ componentes do Valor Adicionado,
tabela de Oferta e Demanda de Produtos Importados, etc.
Teoricamente, no modelo de Leontief, os fluxos intersetoriais podem ser determinados por
fatores tecnológicos e econômicos a partir de um sistema de equações:
X = AX + Y
(1)
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onde X representa um vetor (n x 1) com o valor da produção total por setor, Y é um vetor (n x
1) com os valores da demanda final setorial e A é uma matriz (n x n) com os coeficientes
técnicos diretos da produção. O vetor de produção total é determinado unicamente pelo vetor
de demanda final, considerado exógeno ao sistema:
X = L *Y
(2)
onde L é a matriz inversa de Leontief (L= (I - A)-1) , cujos coeficientes captam os efeitos
diretos e indiretos de modificações exógenas da demanda final sobre o nível de produção dos
setores.
Consegue-se avaliar, partindo da equação (2), o impacto que as mudanças ocorridas na
demanda final e em cada um de seus componentes teriam sobre a produção total por setor.
Compõem a demanda final Y, o consumo das famílias (Y f ), as exportações ( Ye ) os gastos
do governo ( Y g ) e os investimentos (Y k ).
Para a análise pretendida de empregos, inicialmente, calcula-se os coeficientes diretos de
emprego, a partir da divisão do ‘pessoal ocupado’ pelo ‘Valor Bruto da Produção’:
CE = pessoal ocupado/VBP;
Onde:
CE = coeficiente de empregos;
VBP = Valor Bruto da Produção.
A partir desse cálculo e da matriz inversa de Leontief, obtém-se o gerador de empregos. Por
exemplo, a geração de empregos é calculada da seguinte forma:
n
GEij = ∑ lij * CEi;
i =1
Onde:
GEij = geração de empregos (tipo I), coluna j;
lij = elemento da linha i, coluna j da matriz inversa de Leontief;
CEij = coeficiente de empregos da linha i;
O gerador indica para cada unidade monetária produzida na demanda final, o quanto se gera,
direta e indiretamente, no caso do exemplo, de empregos na economia.
A intensidade das relações setoriais é o principal ponto de análise. Imagine que aumente a
demanda por álcool. Em conseqüência, aumenta, no longo prazo, a produção de cana-deaçúcar. Ao mesmo tempo, pode-se aumentar a produção de maquinas próprias a essa cultura,
de implementos agrícolas, construções e assim sucessivamente. O que se observa é o processo
conhecido como multiplicador.
Este efeito multiplicativo, que se restringe somente à demanda de insumos intermediários, é
chamado de multiplicador do tipo I. No entanto, os efeitos também se repetem do lado dos
insumos primários de uma forma diferente: “um aumento na demanda por mão-de-obra fará
com que haja um aumento no poder aquisitivo das famílias, gerando desta forma um aumento
na demanda destas por produtos finais. Isto fará com que haja um aumento, novamente, no
nível de atividade dos setores produtores, que por sua vez vão aumentar a demanda pelos
diversos tipos de insumos, inclusive mão-de-obra, que causará um novo aumento no poder
aquisitivo, causando um aumento na demanda final das famílias, e assim sucessivamente até
que o sistema chegue ao equilíbrio. Este aumento do emprego causado devido ao aumento na
demanda do consumo das famílias é chamado de efeito induzido (multiplicadores do tipo II)”
(Guilhoto, p.7, 2001).
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A divisão dos geradores pelo respectivo coeficiente direto gera os multiplicadores. O
multiplicador indica o quanto é gerado, direta e indiretamente, de empregos, para cada
unidade de emprego direto criado. Ainda, através da aplicação da metodologia pode-se obter
os dados da quantidade de empregos gerados diretamente, indiretamente e induzidos. Por
exemplo, o quanto foi criado de emprego direto, ou melhor, àqueles ligados diretamente ao
setor de análise; o quanto foi criado de empregos indiretos, pela demanda do setor principal
em outros setores; e os empregos induzidos, que representam a endogeinização do consumo
das famílias, ou seja, o quanto se gera de empregos pelo consumo.
4.1 Tratamento dos dados
A metodologia Insumo-Produto foi aplicada nos anos referentes à década de 1990, tendo
como base os preços de 1999. Os dados das matrizes de insumo produto, dos anos de 1990 a
1996, foram montados em duas matrizes (Produção e Uso e Recurso) e obtidos do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), bem como a classificação utilizada por setores e
produtos. Os 42 setores utilizados estão especificados no anexo A. Os dados de 1997 a 1999
foram estimados por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’
(ESALQ) (Guilhoto, et al, 2002) e, gentilmente, cedidos na forma da Matriz de Uso e
Recursos e Matriz de Produção. Através dessas matrizes tornou-se possível o enfoque da
tecnologia baseada na indústria, setor versus setor (veja Miller e Blair, 1985).
Nas próximas seções serão apresentados os resultados, a discussão e conclusões.
5. RESULTADOS
O multiplicador de emprego indica o quanto é gerado, direta e indiretamente, de empregos
para cada unidade de emprego diretamente gerada. Os dados referentes aos multiplicadores de
emprego (Tipo I e Tipo II) do setor agropecuário, ao longo do período estudado, mostram
uma certa estabilidade desse indicador (ver figuras 1 e 2).
Os multiplicadores do tipo II que endogeinizam efeito renda das famílias aumentam após o
Plano Real, como esperado, visto que o plano econômico possibilitou o aumento da
capacidade de consumir dos mesmos.
6.06
6
5
4
3
2
1
0
5.92
1.27 1.26
5.46
5.39
5.88 5.86
1.29 1.29 1.27 1.26
1.28
6.11 5.67
1.27 1.27
6.00
1.29
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Agropecuária
Média dos 42 setores
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 1. Multiplicadores de Emprego (Tipo I)
5.41
anos
8
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“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
15
12.33
13.18
13.42
14.38 16.16
15.23
15.96
14.76
11.59 10.78
10
5
1.62 1.66
1.66
1.72
1.61 1.66
1.84 1.80
1.79
1.83
0
1990
an
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
os
Agropecuária
Média dos 42 setores
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 2. Multiplicadores de Emprego (Tipo II)
No entanto, cabe lembrar que se deve tomar cuidado ao analisar os multiplicadores, pois esses
são uma fração, onde o numerador é o coeficiente direto e indireto e o denominador é o
coeficiente direto e, portanto, devem ser analisados juntamente com esses índices.
A Tabela 1 apresenta o coeficiente direto de emprego, (o qual indica a relação de pessoas
ocupadas no setor agropecuário em relação ao Valor Bruto da Produção) e os geradores de
emprego do tipo I e tipo II (para cada unidade monetária produzida na demanda final, o
quanto se gera, direta e indiretamente, de empregos e, inclui os empregos induzidos no tipo II)
do setor agropecuário ao longo do período analisado. Nota-se que, embora no ano de 1991, os
três índices tenham aumentado, nos demais anos caíram e permaneceram abaixo do valor no
início da década.
Tabela 1. Geradores de emprego do setor agropecuário - 1990 a 1999
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Geração de emprego
Direto e indireto
(Tipo I)
197 200 192 192 194 186 164 162 156 147
Geração de emprego
direto, indireto e induzido 251 262 246 239 255 255 235 230 220 209
(Tipo II)
Geração de
emprego direto
155 158 148 149 153 148 128 128 123 114
Fonte: Dados da pesquisa
Os empregos gerados diretamente na agropecuária, embora continuassem bem acima da
média na economia, tiveram uma queda de 26 %, enquanto que a média dos 42 setores caiu
cerca de 10,5 % entre 1990 a 1999 (figura 3). Há uma tendência de queda do emprego direto
9
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em pregos /m ilhões de
R$
nas tradicionais atividades agropecuárias, mas há também um crescimento de novas
atividades no meio rural (terceirização, turismo rural, etc), o que pode ser uma das
explicações do emprego indireto não ter caído tanto como os demais setores da economia
brasileira.
Como pode ser observado na figura 4, o emprego gerado indiretamente pelo setor em análise,
também permaneceu acima da média, mas com uma diferença bem menor entre si. A queda
dos empregos indiretos foi de 21,5% e 30, 9%, na agropecuária e na média da economia,
respectivamente.
anos
200
155
158
148
149
153
150
148
128
128
123
114
36
36
36
34
100
50
38
39
39
38
38
38
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
Agropecuária
Média
Fonte: Dados da pesquisa
em pregos /m ilhõ es de R $
Figura 3. Empregos Diretos por R$ 1 milhão de produção
55
42
42
43
43
41
45
35 42
41
39
37
39
25
38
37
36
34
34
33
32
32
33
29
15
5
-5
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
anos
Agropecuária
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 4. Empregos Indiretos por R$ 1 milhão de produção
Média
10
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Por sua vez, os empregos induzidos no setor agropecuário seguiram a tendência da média da
economia, sofrendo queda maior no ano de 1993 e recuperando-se nos anos seguintes, sendo
o ano de 1996, o ano com maior número de empregos alcançado por ambos. A média da
economia terminou a década com valor inferior ao do início: queda de 9 %. Os empregos
induzidos na agropecuária subiram 14 %, se comparados apenas os valores dos anos em
extremos, (1990 e 1999), mas se comparados com base no ano de 1991, nada se alterou.
empregos/milhões de R$
100
69
80
60
74
62
54
40
70
65
75
57
68
77
71
72
68
60
54
69
63
64
62
1998
1999
48
20
0
1990
1991
1992
anos
1993
1994
1995
1996
Agropecuária
1997
Média
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 5. Empregos Induzidos por R$ 1 milhão de produção
em pregos /m ilhõ es de R $
Os empregos totais, que são a soma dos empregos diretos, indiretos e induzidos, sofreram
queda na década de 1990, cerca de 16 % na agropecuária e 15 % na média total dos setores na
economia brasileira (figura 6)
300
250
251 262
246
200
239
255
anos
235
230
220
209
150
100
255
149 155
143
133
1992
1993
147
149
1994
1995
147
138
137
126
1996
1997
1998
1999
50
0
1990
1991
A gropec uária
M édia
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 6. Empregos Totais por R$ 1 milhão de produção
Embora a capacidade de gerar empregos do setor agropecuário tenha diminuído, no ano de
1999, ele foi o segundo setor que mais absorveu mão-de-obra por R$ 1milhão na produção
final.
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Tabela 2. Ranking dos setores por geração de empregos por R$ 1 milhão de produção
R a n k in g S e to r e s
1
A r t ig o s d o V e s t u á r io
2
A g r o p e c u á r ia
3
S e r v . P r e s t a d o s à f a m ília
4
A b a t e d e a n im a is
5
C o m é r c io
6
M a d e ir a e m o b iliá r io
7
I n d ú s t r ia d o c a f é
8
A d m in is t r a ç ã o p ú b lic a
9
B e n e f . p r o d u t o s v e g e t a is
10
F a b r ic a ç ã o d e c a lç a d o s
11
S e r v iç o s p r e s t . à f a m ília
12
I n d ú s t r ia d e la t ic ín io s
13
F a b ó le o s v e g e t a is
14
F a b r ic a ç ã o d e a ç ú c a r
15
O u t r o s p r o d u t o s a lim e n t .
16
T r a n s p o r tes
17
I n d ú s t r ia s d iv e r s a s
18
I n s t it u iç õ e s f in a n c e ir a s
19
O u t r o s m e t a lú r g ic o s
20
C e lu lo s e , p a p e l e g r á f .
21
C o n s t r u ç ã o c iv il
22
E x t r a t . M in e r a l
23
M in e r a l n ã o m e t á lic o
24
I n d ú s t r ia t ê x t il
25
E le m e n t o s q u ím ic o s
26
A r t ig o s p lá s t ic o s
27
M á q u in a s e e q u ip a m e n t o s
28
P e ç a s e o u t r o s v e íc u lo s
29
F a r m a c . e v e t e r in á r ia
30
C o m u n ic a ç õ e s
31
M a t e r ia l e lé t r ic o
32
In d d a b o r r a c h a
33
Q u ím ic o s d iv e r s o s
34
S .I.U .P .
35
S id e r u r g ia
36
E q u ip a m e n t o s e le t r ô n ic o s
37
P e t r ó le o e G á s
38
A u t o m / C a m / Ô n ib u s
39
M e t a lu r g ic o s n ã o f e r r o s o s
40
A lu g u e l d e im ó v e is
41
R e f in o d o p e t r ó le o
234
209
206
169
167
159
154
146
146
144
144
133
132
131
130
129
113
108
106
104
103
100
99
98
95
91
89
87
87
82
82
79
78
78
77
76
74
73
72
62
60
Fonte: Dados da pesquisa
Nos dados gerados pela matriz agregada, o setor artigos do vestuário ocupa a primeira
posição, seguido do setor agropecuário. Já na matriz desagregada, o setor milho e o setor aves
são os primeiros da lista.
12
XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
Tabela 3. Ranking dos geradores de emprego (Tipo I) nos 10 maiores setores – matriz de 1999
P o s iç ã o
S e to r e s
E m p r e g o s d ir e to s e in d ir e to s /
R $ 1 m ilh ã o
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
A r t ig o s d o V e s t u á r io
A g r o p e c u á r ia
S e r v . P r e s t a d o s à fa m ília
A b a t e d e a n im a is
I n d ú s t r ia d o c a fé
M a d e ir a e m o b iliá r io
C o m é r c io
B e n e f. p r o d u t o s v e g e t a is
F a b r ic a ç ã o d e c a lç a d o s
I n d ú s t r ia d e la t ic ín io s
165
147
124
107
95
92
89
87
82
78
Fonte: Dados da pesquisa
Enfim, muito embora o setor tenha sofrido com as transformações ocorridas recentemente,
não se pode esquecer que continuou contribuindo com suas funções e continuou sendo o
segundo setor que mais gerou empregos na economia brasileira.
7. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das informações das Contas Nacionais, este trabalho buscou analisar a evolução do
pessoal ocupado na Agropecuária, ao longo da última década do século passado.Os resultados
obtidos por meio do instrumental Insumo-Produto, vêm a confirmar a diminuição do potencial
de geração de postos de trabalho na década de 1990, no setor agropecuário, provocado por
mudanças na economia brasileira, tais como as políticas macroeconômicas e o contínuo
processo de globalização.
Foi possível verificar que os efeitos multiplicadores do setor em questão, praticamente, não se
alteraram, porém essa certa estabilidade ocorreu em virtude da diminuição tanto dos
coeficientes diretos de emprego, quanto dos geradores de emprego. Assim, como a obtenção
dos multiplicadores é através da divisão desses índices, o multiplicador não teve grandes
alterações.
Os empregos diretos da agropecuária tiveram queda de 26 %, embora representem o segundo
setor que mais gerou empregos durante a década. Os empregos indiretos, por sua vez, caíram
21,5 %, no entanto essa queda foi inferior ao da média dos 42 setores da economia (30,9 %).
Já os empregos induzidos, se comparados apenas os valores em extremo, 1990 a 1999,
subiram 14 %; contudo, se levarmos em consideração o ano de 1991 como base, os empregos
induzidos, apesar de variarem nos outros anos, terminaram o período com o mesmo valor. O
ano de 1993 foi o ano que apresentou os menores valores e os anos de 1995, 1996 e 1997
apresentaram os maiores valores, possivelmente, por conta do efeito renda provocado pelo
Real.
Plano
XLIII CONGRESSO DA SOBER
“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAMARGO, F.S.; GUILHOTO, J.J.M. O Impacto da Globalização sobre o Setor Têxtil na
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HOFFMANN, R. Distribuição de renda e da posse da terra no Brasil. Texto para Discussão,
Instituto de Economia, UNICAMP. Campinas, abril de 2002. Mimeo, 39 páginas.
INSTITUTO
GEOGRAFIA
E
ESTATÍSTICA
(IBGE),
BRASILEIRO
DE
http//:www.ibge.gov.br, (12/03/03).
MILLER, R.E., e P.D. BLAIR. Input-Output Analysis: Foundations and Extensions.
Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1985.
RODRIGUES, R.L.; GUILHOTO, J.J.M. Uma análise dos impactos da abertura comercial
sobre a estrutura produtiva da economia brasileira: 1990 a 1995. In : MONTOYA, M.A.
Relações interessetoriais do Mercosul e da economia brasileira: uma abordagem de
equilíbrio geral do tipo insumo-produto. Passo Fundo : Universidade de Passo Fundo,
1998. p.131-150.
SCHOR, S.M. e J.J.M. Guilhoto (2001). “Geração de Emprego e de Impostos nos Programas
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Paulo, São Paulo, 10 a 11 de dezembro de 2001.
13
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
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“Instituições, Eficiência, Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial”
ANEXO A: DESCRIÇÃO DOS 42 SETORES DA MATRIZ INSUMO-PRODUTO
DO BRASIL, SEGUNDO O IBGE
CÓDIGO
01
DESCRIÇÃO
AGROPECUÁRIA
02
EXTRAT. MINERAL
03
PETRÓLEO E GÁS
04
MINERAL Ñ METÁLICO
05
SIDERURGIA
06
METALURG. Ñ FERROSOS
07
OUTROS METALÚRGICOS
08
MÁQUINAS E EQUIP.
10
MATERIAL ELÉTRICO
11
EQUIP. ELETRÔNICOS
12
AUTOM./CAM/ONIBUS
13
PEÇAS E OUT. VEÍCULOS
14
MADEIRA E MOBILIÁRIO
15
CELULOSE, PAPEL E GRÁF.
16
IND. DA BORRACHA
17
ELEMENTOS QUIMICOS
18
REFINO DO PETRÓLEO
19
QUÍMICOS DIVERSOS
20
FARMAC. E VETERINÁRIA
21
ARTIGOS PLÁSTICOS
22
IND. TÊXTIL
23
ARTIGOS DO VESTUÁRIO
24
FABRICAÇÃO CALÇADOS
25
INDÚSTRIA DO CAFÉ
26
BENEF. PROD. VEGETAIS
27
ABATE DE ANIMAIS
28
INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS
29
FABRICAÇÃO DE AÇÚCAR
30
FAB. ÓLEOS VEGETAIS
31
OUTROS PROD. ALIMENT.
32
INDÚSTRIAS DIVERSAS
33
S.I.U.P.
34
CONSTRUÇÃO CIVIL
35
COMÉRCIO
36
TRANSPORTES
37
COMUNICAÇÕES
38
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
39
SERV. PREST. À FAMÍLIA
40
SERV. PREST. À EMPRESA
41
ALUGUEL DE IMÓVEIS
42
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
14
Ribeirão Preto, 24 a 27 de Julho de 2005
Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural
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