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Preventive Behavior and Perception of Vulnerability
to HIV in Young Adults in Stable Relationship
Comportamentos Preventivos e Percepção de
Vulnerabilidade ao HIV de Adultos Jovens em
Relacionamento Estável
Elís Amanda Atanázio Silva, Iria Raquel Borges
Wiese, Francisca Marina de Souza Freire Furtado
Degmar Francisco dos Anjos, Ana Alayde Werba
Saldanha Pichelle
Universidade Federal da Paraíba – UFPB - Programa de Pós
em Psicologia Social; João Pessoa – Brasil
[email protected]; [email protected]
Universidade Federal da Paraíba – UFPB - Programa de Pós
em Psicologia Social; João Pessoa – Brasil
[email protected]; [email protected]
Abstract - The beliefs around the affective-relate sexually so
stable, guided by ideals of romantic love, have negative
implications on vulnerability to HIV. The objective of this study
was to investigate the preventive behaviors and perception of
vulnerability to HIV of young adults in steady relationship. Told
with 400 participants between 20 and 29 years, with 200 of each
sex. Using quantitative and qualitative techniques for data
analysis. Most of the participants makes use of the condom in the
relationship just sometimes, however most young pointed out
have no risk of contracting the HIV virus. Women judged more
vulnerable to HIV than men (p0 .02). Therefore, grounded in the
ideals of romantic love and the sense of invulnerability, the nonacceptance of condom use within the relationship, which leads to
situations of greater vulnerability to HIV in the population
studied.
I.
INTRODUÇÃO
O presente estudo parte do pressuposto de que as crenças e
formas instituídas em torno do relacionar-se afetivosexualmente de modo estável, guiadas pelos ideais do amor
romântico, têm implicações negativas na vulnerabilidade ao
Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV). O conceito de
vulnerabilidade aqui é entendido como "o movimento de
considerar a chance de exposição das pessoas ao adoecimento
como a resultante de um conjunto de aspectos não apenas
individuais, mas também coletivos [e] contextuais", voltados,
ao mesmo tempo, à disponibilidade de recursos de
enfrentamento e assistência [8].
Conforme dados divulgados pela última Pesquisa de
Comportamento, Atitudes e Práticas da População Brasileira –
PCAP [1], para os jovens que se encontram na faixa etária
entre 13 a 24 anos o uso do preservativo decresce à medida
que este se envolve em uma parceria fixa e estável, embora
97% tenham alegado ter consciência de que o preservativo é a
maneira mais eficaz de se evitar a contaminação pelo HIV.
Ainda de acordo com divulgação recente pelo Ministério da
Saúde[1], verifica-se o aumento do número de casos de
mulheres jovens com a Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (AIDS).
Diante desses dados, o principal ponto de exploração deste
estudo é entender como se dá, nos dias atuais, as práticas
preventivas e percepção de vulnerabilidade ao HIV entre
jovens heterossexuais em relacionamentos amorosos estáveis.
Levando em consideração que essas percepções e práticas são
atravessadas pelos pressupostos de gênero construídos ao
longo da história, ao se analisar a vulnerabilidade ao HIV em
relacionamentos estáveis, se faz necessário considerar as
relações estabelecidas enquanto cenário particular de
estratégias de poder de gênero, pois nessa vertente ela se
esboça como um acordo, frente às múltiplas formas
contratuais de relações entre homens e mulheres. [2] [3].
Keywords - young adult; perception of vulnerability; HIV;
preventive practices; steady relationship
Resumo - As crenças em torno do relacionar-se afetivosexualmente de modo estável, guiadas pelos ideais do amor
romântico, têm implicações negativas na vulnerabilidade ao HIV.
O objetivo do estudo foi investigar os comportamentos
preventivos e a percepção de vulnerabilidade ao HIV de adultos
jovens em relacionamento estável. Contou-se com 400
participantes entre 20 e 29 anos, sendo 200 de cada sexo.
Utilizaram-se técnicas quantitativas e qualitativas para análise
dos dados. A maioria dos participantes faz uso do preservativo no
relacionamento apenas às vezes, contudo a maioria dos jovens
assinalou não possuir nenhum risco de contrair o vírus do HIV.
As mulheres se julgaram mais vulneráveis ao HIV do que os
homens (p=0,02). Portanto, alicerçados nos ideais do amor
romântico e na percepção de invulnerabilidade, verifica-se a não
aceitação do uso do preservativo dentro do relacionamento, o que
leva a situações mais acentuadas de vulnerabilidade ao HIV na
população estudada.
Palavras-chave - adulto jovem; percepção de vulnerabilidade;
HIV; práticas preventivas; relacionamento estável
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A partir dos achados históricos, a Idade Moderna (14531789) caracteriza-se como a época de apogeu do ideal do amor
romântico, firmado no “ser do outro” em detrimento do “ser
de si”, o que demarcou diversas formas de dependências e
subordinação objetivas e subjetivas, e influenciou diretamente
nas crenças sobre as relações afetivo-conjugais, as quais
evidenciavam tais ideais como um dos orientadores da
subjetividade, principalmente a feminina. Tal subjetividade foi
apreendida como um dos principais pontos de naturalização de
alguns discursos e práticas concernentes aos papeis de gênero
na vivência da sexualidade da época. No que diz respeito à
naturalização, esta implicou, consequentemente, na
fragilização das ações de prevenção e de promoção da saúde, e
consequentemente em situação de vulnerabilidade ao
HIV/Aids. [2][3][4][5].
Deste modo, pactua-se que os ideais do amor romântico
ocasionaram influências significativas e imediatas nas crenças
sobre as interações afetivo-matrimoniais e sociais da
contemporaneidade. Estudos [5][6][7] relatam, por exemplo,
que o uso do preservativo pelas mulheres é substituído por
outros métodos devido, dentre outros, à passividade frente ao
desejo do parceiro afetivo de não usá-lo, o que representa o
ideal do mito do amor romântico. Logo, a mulher se submete à
imposição do parceiro, em função das suas crenças pessoais,
voltando sua identidade para a díade afetiva, a partir do
momento que a constitui no relacionamento e não mais nela
mesma.
Portanto, partindo do pressuposto de que a forma como se
estabelece a dinâmica das relações afetivas repercutem nos
processos de decisão quanto à saúde reprodutiva e sexual de
homens e mulheres, espera-se que ao abordar as formas de
sociabilidade amorosa, seja desvelado o que é capitalizado no
processo de negociação entre os pares. Nesse âmbito, é
possível afirmar que esta investigação poderá subsidiar um
aprofundamento nos achados literários acerca do mito do amor
romântico e suas consequências à saúde sexual e reprodutiva
de adultos jovens, bem como intervenções preventivas
direcionadas à população em foco, no que se refere à
prevenção do HIV/Aids.
II.
objetiva/fechada, variando de 0 (nenhum risco) à 10 (alto
risco). Analisou-se ainda a afirmação do uso do preservativo
nas relações sexuais com seu parceiro(a) (nunca, quase
nunca, quase sempre e sempre). Para essas duas questões
citadas constaram duas perguntas abertas/subjetivas, para que
os participantes explicassem a sua resposta anterior (objetiva).
Constaram ainda no questionário duas questões referentes
ao uso do preservativo na última relação sexual (sim/não) e à
realização do teste HIV (sim/não). Ademais, foi aplicado um
questionário sócio-demográfico com variáveis como: sexo,
idade, grau de escolaridade, tipo de relacionamento afetivo
(namoro/casamento), tempo de relacionamento e convivência,
dentre outros.
C. Análise dos dados
Os dados decorrentes do questionário quantitativo foram
analisados através de estatísticas descritivas (média, desvio
padrão) e estatísticas inferenciais (test t e qui-quadrado), a fim
de verificar possíveis associações entre as variáveis do estudo.
No tocante à pesquisa qualitativa procedeu-se a análise
categorial temática das respostas às questões subjetivas, que se
trataram de justificativas das questões objetivas anteriores.
Para analisá-las foram designadas categorias em que as
respostas dos participantes foram agrupadas nas categorias,
por critérios de semelhança. Em seguida, foi feita uma análise
por frequências, caracterizando as respostas em maior
relevância para cada categoria temática.
III.
RESULTADOS: COMPORTAMENTOS PREVENTIVOS E
PERCEPÇÃO DE VULNERABILIDADE AO HIV
A. Comportamentos Preventivos
Com o objetivo de investigar as diferenças entre as
variáveis de comportamentos preventivos (Uso do
preservativo e Uso do preservativo na última relação),
associadas às diferenças no masculino e feminino, foram
realizados testes estatísticos, cujas associações podem ser
observadas na Tabela I.
TABELA I USO DE PRESERVATIVO POR SEXO
Sexo
TRATO METODOLÓGICO
A. Características do estudo e Participantes
O estudo apresentou um delineamento correlacional e
descritivo, tendo um corte transversal, utilizando-se de
técnicas qualitativas e quantitativas.
Participaram do estudo 400 adultos jovens residentes na
cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil, sendo 200 de cada
sexo; com faixa etária de 20 a 29 anos; heterossexuais e que se
encontram em relacionamento estável há no mínimo 1 (um)
ano.
F
Variável
N
TOTAL
M
%
N
%
P
N
%
45
12
.07
117
29
Uso de Preservativo
Nunca
18
5
27
7
Inicio relacionamento
53
13
64
16
Às vezes
76
19
53
13
129
32
Sempre
53
13
56
14
109
27
74
18
77
20
151
38
12
5
32
12
1
30
246
62
Preservativo
relação sexual
Sim
B. Instrumentos
A percepção de vulnerabilidade foi operacionalizada por
meio da questão em que o participante classificou seu risco de
contrair HIV, e o risco do amigo contrair o vírus. Ambos
analisados numa escala de intensidade tipo Likert
Não
última
.72
Na variável Uso do preservativo 12% dos participantes
declararam nunca ter feito uso do preservativo em seu
relacionamento atual, sendo 60% masculinos. Em sequência,
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29% alegaram ter usado apenas no início do relacionamento;
enquanto a maioria (32%) disse usar o preservativo apenas às
vezes o uso do preservativo. O uso do preservativo associado
ao sexo dos participantes foi representado por um p=0,07,
logo, revelando uma tendência de proximidade de diferença
estatisticamente significativa entre as duas variáveis.
Referente à segunda variável, Uso do preservativo na última
relação, 62% (n=246) dos adultos jovens responderam não ter
feito uso, conforme se observa na Tabela 1.
Na análise das justificativas dadas pelos participantes,
referentes ao uso ou ausência do preservativo nas relações
sexuais, emergiram sete categorias: Uso de anticoncepcional;
Confiança no(a) parceiro(a); Prevenção; Método para evitar
gravidez; Diminuição do prazer; Não premeditação do ato, e
por último, Problemas com pílula anticoncepcional,
totalizando 289 respostas, como pode-se observar na tabela II.
Categorias
TABELA II USO DO PRESERVATIVO
Feminino
Masculino
f
1ª) Uso de pílula
2ª) Confiança no parceiro
3ª) Prevenção
4ª) Método p/ evitar gravidez
5ª) Diminuição do prazer
6ª) Não premeditação do ato
7ª) Problemas com pílula
Total
%
46 16
25 9
31
11
22
8
14
4
9
3
9
4
156
54
f
%
31 11
29 10
23 8
26 9
17
6
6
2
1
133
46
respeito ao parceiro(a), como por prevenção à Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST’s):
“Acho que me protejo e protejo meu parceiro desde
uma gravidez indesejada à doença corriqueira.”
(Fe396).
Na 4ª categoria, Método para evitar gravidez, emergiu
17% das respostas. Aqui os participantes reportaram que
fazem o uso do preservativo sempre, todavia, com o cuidado
focado para não engravidar:
“Usamos sim, mas a preocupação é mais com filhos do
que com DST’s.” (Ma379).
A categoria Diminuição do prazer abarcou 31 respostas
(10%). Os participantes afirmaram não utilizar o preservativo
devido o incômodo ou redução do prazer sexual que ele
provoca, sobretudo para o sexo masculino. Vale salientar que
as mulheres, em suas falas, enfatizaram a diminuição do
prazer relatada por seus parceiros, como descrito:
“O uso da camisinha incomoda muito, é em relação à
perda do estímulo, que tira um pouco do prazer no
ato.” (Ma196).
Na sexta categoria, Não premeditação do ato, 5% dos
adultos jovens responderam não usar o preservativo porque na
maioria das vezes que o ato sexual aconteceu, eles estavam
desprevenidos, logo, não portavam o preservativo consigo:
Total
F
77
54
54
48
31
15
10
289
%
27
19
19
17
10
5
4
“Nem sempre posso prever quando irá ser necessário,
pois existem situações inesperadas, mas sempre que
possível, quando estou portando-os, faço uso dos
mesmos” (Ma250).
100
Na categoria Uso de pílula (anticoncepcional), os
participantes justificaram a não utilização do preservativo no
relacionamento em função do uso de outro método
contraceptivo, a pílula. Essa categoria foi a de maior
frequência das respostas (27%), sendo a maior parte feminina
(16%). Para ilustrar essa categoria, tem-se a seguir, respostas
de um participante do sexo feminino (Fe) e do sexo masculino
(Ma), seguidas do respectivo número de identificação (6; 263),
respectivamente:
“Logo no início do namoro iniciei o uso de pílulas
anticoncepcionais e aos poucos deixamos de usar a
camisinha.” (Fe6)
“Eu e minha namorada concluímos que o
anticoncepcional seria mais interessante e cômodo.”
(Ma263)
A categoria Confiança no(a) parceiro(a) apresentou a
segunda maior frequência das respostas (19%). Aqui os
participantes enfatizaram que deixaram de usar o preservativo
porque adquiriram confiança em seus respectivos parceiros
(as) com o decorrer do relacionamento:
“Após algum tempo de relacionamento, a confiança
veio e deixamos de usar” (Fe60).
A terceira categoria, Prevenção, traz as respostas
concernentes aos jovens que assinalaram o uso constante do
preservativo em suas relações sexuais; apresentou o segundo
maior número de respostas (19%), sendo a maioria feminino
(11%). Aqui eles expõem o uso como indispensável tanto por
Por fim, a categoria desta classe temática foi nomeada
Problemas com pílula anticoncepcional, totalizando 4% do
total dos respondentes. Observou-se uma diferença
estatisticamente significativa entre os sexos (X² = 5,41, p=
0,02) na frequência das respostas, indicando que as mulheres
reportam mais escolhas no não uso devido problemas com a
pílula:
“Deixei de tomar anticoncepcional por questões de
saúde e tivemos que adotar o preservativo” (Fe22)
Ainda a partir de testes estatísticos para verificar
associação entre as variáveis, observou-se que o Tipo de
Relacionamento apresentou diferença estatisticamente
significativa com o uso de preservativo (t(394)= 3,187,
p=,002), com média de uso maior para o namoro (M=2,84,
DP=1,00) em relação ao casamento (M=2,54, DP=,906).
Logo, enquanto os jovens que estavam na condição de namoro
alegaram fazer mais uso do preservativo do que os que
estavam na condição de casados.
B. Percepção de vulnerabilidade ao HIV
A vulnerabilidade à Aids foi verificada ainda a partir das
variáveis Percepção pessoal de vulnerabilidade à Aids e
Percepção de vulnerabilidade dos amigos à AIDS. Para tanto,
utilizou-se uma escala tipo Likert, variando de 0 a 10 pontos,
em que assinalar o (0) zero significou a ausência de percepção
de risco ao HIV; o (1) um, (2) dois e (3) três significaram
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pouca chance de risco; os números (4) quatro, (5) cinco e (6)
seis representaram o risco médio; o (7) sete, (8) oito e (9) nove
o risco alto e, por fim, o número (10) dez representou o risco
total na percepção de vulnerabilidade ao HIV. Os resultados
obtidos podem ser observados na Tabela III.
TABELA IV
TABELA III PERCEPÇÃO VULNERABILIDADE AO HIV POR SEXO
DOS PARTICIPANTES
Categorias
1ª) Confiança no parceiro(a)
Feminino
Masculino
f
%
f
%
f
83
31
34
12
117
2ª) Prevenção
37
14
13
73
27
50
18
3ª) Alta percepção pessoal
23
8
27
10
4ª) Risco por outras vias
10
4
17
6
27
10
2
0
155
1
57
1
2
117
1
43
3
2
272
1
1
100
5ª) Confiança na fé
6ª) Grupos de risco
Total
Sexo
Total
(%)
43
36
AUTOPERCEPÇÃO DE VULNERABILIDADE AO
HIV
Variável
Autopercepção
de
vulnerabilide ao HIV
Nenhuma
Pouca
Média
Muita
Total
Percepção vulnerab. amigos
Nenhuma
Pouca
Média
Muita
Total
Fez teste de HIV
Sim
Não
A variável Percepção pessoal de vulnerabilidade à Aids,
em que os respondentes reportam acerca da sua percepção
individual do risco de se contrair o vírus do HIV, apresentou
média de 1,5 (DP=2,10 – variando de 0 a 10). A maior parte
deles (45%) assinalou não possuir nenhum risco de contrair o
vírus do HIV, sendo 24% masculinos. As mulheres se
mostraram com uma autopercepção de vulnerabilidade à Aids
maior do que os homens [t(390)=2,463; p=0,02].
Por outro lado, no tocante à Percepção de vulnerabilidade
dos amigos, os números se inverteram, obtendo-se média de
4,2 (DP=2,64 – variando de 0 a 10). Foi reportado pela
minoria (10%) dos participantes que seus amigos não
possuíam nenhuma chance de contrair o vírus do HIV e a
maioria, são os que admitem um nível médio de chance.
A partir desses resultados entre a autopercepção de
vulnerabilidade à Aids em comparação com a percepção de
vulnerabilidade dos amigos, infere-se que os participantes
evidenciam uma tendência de transferência do risco ao outro,
uma vez que 45% deles afirmaram não possuir nenhuma
chance de contrair o vírus, ao passo que apenas 10% deles
reportaram essa mesma percepção para com os amigos. No
tocante à realização do teste de HIV pelos participantes, 45%
afirmaram já tê-lo realizado, dos quais a maioria (52%) são
casados, observando uma associação entre essas variáveis
(p=0,000), sendo a maioria (55%) do sexo feminino.
As justificativas dadas à percepção pessoal de
vulnerabilidade ao HIV apresentou um total de 272 respostas,
emergindo seis categorias: Confiança no(a) parceiro(a),
Prevenção; Alta percepção pessoal; Risco por outras vias;
Grupos de risco e por fim, Confiança na fé, conforme se
observa na Tabela IV.
Total
Feminino
Masculino
N
%
N
%
85
75
26
12
02
21
19
6
3
1
94
86
09
06
01
24
22
3
1
-
20
52
79
45
04
4
13
20
12
1
18
68
74
24
08
6
18
19
6
1
98
102
24
26
80
116
21
29
p
.02
.15
.10
N
%
179
161
35
18
03
45
41
9
4
1
38
120
153
69
12
10
31
39
18
2
178
218
45
55
A primeira categoria, Confiança n(a) parceiro(a), foi
representada pelo maior número de respostas (43%), sendo
apresentando as mulheres índices maiores de confiança nos
parceiros (X²=16,31, p= 0,001), o que justifica os baixos
índices de percepção pessoal de vulnerabilidade como reporta
a resposta que segue:
“Nem sempre eu faço uso do preservativo com meu
namorado, mas confio que ele não me traia. Ao menos,
advirto que se ele me trair use camisinha. É o que digo
sempre. Mas só me resta confiar.” (Fe2)
A segunda categoria, Prevenção, apresentou 27% das
respostas, em que os participantes justificaram os baixos
índices de autopercepção de vulnerabilidade à Aids, alegando
se prevenirem das DST/Aids com o uso do preservativo nos
relacionamentos:
“Nenhuma chance, pois uso camisinha em todas as
relações e tenho um parceiro fixo (...)” (Fe12)
Na terceira categoria, denominada Alta percepção pessoal,
emergiu 18% das respostas. Os participantes demonstraram
aqui ter plena consciência do risco a que estão expostos ao
realizarem suas práticas sexuais de maneira desprotegida.
Ressalta-se que nem todos os participantes cujas respostas
encontram-se nessa categoria assinalaram altos índices de
risco no instrumento de autopercepção. Tal dado demonstra
uma dissonância nas respostas desses participantes, visto que
no instrumento quantitativo, o instrumento de Percepção
pessoal de vulnerabilidade à Aids, se perceberam como
possuindo pouca chance de risco ao HIV, entretanto, na
questão subjetiva, afirmaram encontrar-se em situação de
vulnerabilidade ao vírus, como explicitado abaixo:
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“Há conscientização e formação para evitar, mas não
é 100%, visto depender da atitude da minha parceira”
(Ma283).
No questionário objetivo o participante do sexo masculino
assinalou “2” na mesma escala de autopercepção, ou seja, com
pouco risco. Todavia, é notória a dissonância quando se
compara as respostas da escala com a resposta à questão
subjetiva. Esses dados auxiliam no esclarecimento do porque
da maioria (45%) dos adultos jovens respondentes da pesquisa
terem assinalado nenhum (zero) risco ao HIV no referido
instrumento.
A quarta categoria, Risco por outras vias, os jovens
anunciaram serem vulneráveis ao HIV, todavia pela atribuição
a outras vias de contágio:
“Sei que não depende apenas das relações sexuais com
o meu parceiro, mas de coisas como contrair através
de outras vias, instrumentos infectados, por exemplo,
tanto eu quanto ele, pode acontecer. Sei que a Aids
pode ser adquirida de outras formas: manicure,
seringa não descartada, contato permanente com
sangue alheio(...)” (Ma3)
A quinta categoria foi nomeada Confiança na fé, pois aqui
participantes (1%) utilizaram-se da religiosidade para justificar
a ausência do risco de vulnerabilidade. Embora se tratem de
idiossincrasias, tornam-se importantes para compreender o
papel da religiosidade nesse âmbito:
“Chance zero, porque somos um casal cristão”
(Ma318).
A última categoria, Grupos de risco, é representada por
apenas duas respostas, tratando-se, portanto, de idiossincrasias
também. Nela, os participantes reportaram não estarem
preocupados com o risco de infecção ao HIV, pois não fazem
parte ou não estão em contato com os grupos de risco,
denominação ainda decorrente da estigmatização do início da
epidemia:
“Não tenho atitudes características dos grupos de
risco” (Ma377).
IV.
de proteção e imunidade ligadas ao sentimento de amor,
trocam o preservativo por outros métodos contraceptivos. Essa
dependência subjetiva denota uma assimetria na capacidade de
tomar decisões e efetivá-las, apontando para uma maior
vulnerabilidade da mulher às DST/Aids [2][5][18].
Esses dados sugerem que a negociação do uso do
preservativo entre os casais baseia-se no fato de que as
mulheres não estão realmente abrindo mão do preservativo por
elas próprias, mas sim porque incomoda os seus parceiros.
Nesse sentido, observa-se a presença de uma escolha
conformada pelo “ideal do amor romântico” como um dos
orientadores da subjetividade feminina – ser do outro em
detrimento do ser de si –, firmado nas assimétricas relações de
poder e nas diferenças de gênero, construídas socialmente
[3][12][15][16].
O conceito de fidelidade confere a sensação de sexo mais
seguro ao casal, o que pode resultar na decisão em não aderir
ao preservativo, por haver confiança na díade. Logo, a
solicitação do seu uso pode demonstrar suspeitas de
infidelidade [17][19]. Pesquisa realizada [16] com
participantes masculinos chegou a conclusão que é complexo
negociar o preservativo no relacionamento conjugal, pela sua
representação simbólica de traição e de desconfiança. Para
esses participantes, propor o seu uso constitui pôr sua própria
fidelidade em discussão e ambiguidades aos olhos da esposa, o
que expõe a convivência ao risco. Nessa direção, percebe-se
que no lugar do preservativo, as mulheres usam a própria
fidelidade, a confiança e o conhecimento do parceiro como
uma fantasiosa forma de prevenção [22].
Pesquisa realizada com 29 mulheres [19], com faixa etária
entre 15 a 24 anos, identificou alguns motivos pelos quais
essas participantes alegaram ser contra o uso do preservativo
em suas relações sexuais, a saber: queixas relacionadas aos
inconvenientes de quebrar o clima por ter de parar para
colocar o preservativo; diminuição do prazer e da
sensibilidade; o incômodo físico, como sensações de ardor;
alteração na ereção do parceiro; não confiar no método por
poder rasgar; e não ter preservativo à disposição em todos os
momentos.
Outras pesquisas [20][8] com adolescentes paraibanos,
constaram que relatos desse tipo se tornam uma crença
negativa aos jovens inexperientes sexualmente, que ao ouvir
do seu grupo de pertença a informação acerca do preservativo
como inibidor do prazer, acabam criando tabus e estereótipos,
o que pode acarretar de forma significativa na insegurança em
utilizar corretamente os meios de prevenção.
Embora os jovens não usem preservativo em suas relações
estáveis, os participantes não se consideram vulneráveis ao
vírus. Ao analisar 1.068 adolescentes, um estudo [21] obteve
resultados similares aos expostos, em que 37% dos
adolescentes se perceberam com chances de se contaminar
com o vírus HIV, enquanto 43% acham possível que um
amigo se contamine. Percebe-se assim que há um componente
cultural de projeção do risco, onde o “outro” passa a ser o
portador de tudo aquilo que causa temor ou repulsa, onde se
DISCUSSÃO
Com base nos resultados deste estudo, observou-se que
ainda é, de certo modo, incipiente o uso do preservativo entre
os jovens que se encontram em relacionamento estável.
Tomados pelo fascínio da plena completude na relação
amorosa, sintonizam suas demandas na crença romântica da
confiança consistente na pessoa ideal. O resultado dessa
premissa é a não aceitação do uso do preservativo dentro do
relacionamento, o que leva a situações mais acentuadas de
vulnerabilidade ao HIV, conforme reproduzido em pesquisas
ao longo da última década [2][4][7][14].
Pôde-se perceber que a crença do ideal do amor romântico,
centrado na confiança, encontra-se mais presente dentre as
mulheres. O não uso e a não exigência do preservativo por
parte destas fêmeas é visto como prova de fidelidade e
confiança no parceiro. Na medida em que o relacionamento
amoroso se torna estável, as jovens, como prova de amor,
confiança e fidelidade ou como uma consequência da sensação
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desloca a possibilidade para o longínquo e não é reconhecido
em si [22].
A autopercepção de menor vulnerabilidade ao vírus pelos
homens, pode ter um viés na negligência desses com relação à
sua própria saúde no que se refere à procura dos serviços, uma
vez que raramente se beneficiam de campanhas e programas
voltados à sua saúde reprodutiva e sexual [23].
Ademais, percebe-se que alguns jovens ainda acreditam
que a Aids não deixou de ser uma doença de homossexuais,
guetos ou de profissionais do sexo. Tal doença já passou por
várias rotulações desde a década de 80, todavia nos dias atuais
o conceito utilizado é o de "vulnerabilidade social” [24] que
postula que para ser infectado pelo HIV basta ser humano,
considerando aspectos biológicos, econômicos, sociais,
cognitivos e psicológicos.
V.
angariar intervenções sociais à população avaliada, sobretudo
no que diz respeito à campanhas preventivas em HIV/Aids.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1]
[2]
[3]
[4]
[5]
CONCLUSÕES
[6]
A não utilização do preservativo, bem como a
impossibilidade de sua negociação, sobretudo em
relacionamentos estáveis, a falta de diálogo a respeito, a
autopercepção de invulnerabilidade ao HIV, a transferência
dessa vulnerabilidade para o outro, têm se mostrado como uma
árdua questão a ser enfrentada nesta seara. É importante
observar a necessidade de mais estudos com casais em
relações estáveis acerca da temática em questão, visto que a
naturalização de alguns discursos e crenças que estão envoltos
nessa forma de relacionar-se podem acarretar maiores
situações de vulnerabilidade.
Outra implicação presente situa-se no contraponto de
alguns dos jovens aqui estudados terem demonstrado em suas
respostas a consciência das consequências que estão expostos
sexualmente ao não se prevenirem. Enfatiza-se a necessidade
do aumento no número de informações sobre DST/Aids
voltados a homens e mulheres envolvidos em relacionamentos
estáveis. Tal enfoque se justifica pelas campanhas midiáticas
atuais ainda serem focadas nos jovens solteiros, à exemplo das
campanhas no período carnavalesco, em que há a conotação
social da “festa dos solteiros”. Portanto, a informação pode
chegar aos jovens envolvidos amorosamente de maneira
equivocada, atribuindo o uso do preservativo apenas àqueles
que não possuem compromisso estável.
De modo geral, conclui-se que os objetivos deste estudo
foram alcançados. A junção dos métodos quantitativos e
qualitativos para investigação demonstrou-se eficiente, uma
vez que os números geraram questões que puderam ser mais
bem aprofundadas com as respostas qualitativas, as quais
apontaram, inclusive, contradições no que foi alegado no
questionário quantitativo. Nesse sentido, é importante ressaltar
a possibilidade de vieses no estudo decorrentes de respostas
socialmente
esperadas,
fenômeno
denominado
de
desejabilidade social, a qual é apontada como uma das
limitações deste trabalho.
A ênfase principal dos resultados e discussões aqui obtidos
será o encaminhamento ao Ministério da Saúde, bem como a
divulgação através da comunidade científica, na tentativa de
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