ELETROTERAPIA EM UM CANINO SUBMETIDO À

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
LÍVIA MAINERI PINTO
ELETROTERAPIA EM UM CANINO SUBMETIDO À
COLOCEFALECTOMIA FEMORAL - RELATO DE CASO
PORTO ALEGRE – RS
2012
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LÍVIA MAINERI PINTO
ELETROTERAPIA EM UM CANINO SUBMETIDO À
COLOCEFALECTOMIA FEMORAL - RELATO DE CASO
Monografia apresentada a Universidade Federal
Rural do Semi-Árido UFERSA, Departamento de
Ciências Animais para obtenção do título de
especialização em Clínica Médica de Pequenos
Animais.
Orientador: Dr. Kleber Tochetto Gomes
PORTO ALEGRE – RS
2012
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LÍVIA MAINERI PINTO
ELETROTERAPIA EM UM CANINO SUBMETIDO À
COLOCEFALECTOMIA: RELATO DE CASO
Monografia apresentada ao Departamento de
Ciências Animais para obtenção do título de
especialista em Clínica Médica de Pequenos
Animais.
Orientador: Dr. Kleber Tochetto Gomes
APROVADA EM: ........../........../...........
BANCA EXAMINADORA:
.......................................................................
Professor (a)
(UFERSA)
Presidente
.......................................................................
Professor (a)
(UFERSA)
Primeiro Membro
.......................................................................
Professor (a)
(UFERSA)
Segundo Membro
4
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Darcy e Eliana, por toda força que sempre me deram, me apoiando em
todas minhas decisões, pelo amor, pela amizade, por tudo, vocês são meu exemplo, meu porto
seguro, não teriam palavras pra agradecer aqui, amo muito vocês!
Ao meu pai, um obrigada especial, pela força que me deu no fim do trabalho, meu
orgulho por ti aumenta a cada dia mais. E a minha mãe, minha guerreira, minha parceira,
obrigada por todo carinho e preocupação.
Aos meus irmãos Vítor e Bruno, que mesmo às vezes não tão perto, eu sei que estão
sempre comigo, vocês são minha base, podem contar sempre comigo também, amo muito
vocês.
A minha parceira, Nina que me acompanhou em todas as tentativas de escrever esse
trabalho, deitada quietinha nos meus pés, pelo seu amor canino incondicional, por fazer meus
dias cada vez mais felizes.
Ao meu orientador Kleber pela ajuda e orientação, por todos os seus pacientes
encaminhados para fisioterapia no pós-operatório, obrigada mesmo.
A todos meus colegas de trabalho do HVRS, por me “agüentarem” falando do trabalho
e pela colaboração emprestando livros, dando idéias, ajudando com o inglês, Ale, Ana, Cata,
Dê, Felipe, Gustavo, Geisi, Lisi, Lu, Rê e Zilda, cada um de seu jeito, vocês também foram
muito importantes nessa conquista. E também aos meus amigos fisioterapeutas Lu e Vini pela
disponibilidade de vocês sempre.
Um muito obrigado por tudo pras minhas “novas amigas de infância”, Aline, Camile,
Dai, Gabi C., Gabi K. e Mari, amigas que a pós me deu de presente, companheiras de aula,
conversas, conselhos, as lembranças dos nossos finais de semana de aula, serão as melhores
sempre.
E por fim aos meus pacientes, razão de estar sempre buscando mais conhecimentos, e
por me darem a oportunidade de aprender cada dia mais em cada encontro nosso.
5
RESUMO
A fisioterapia e, mais especificamente, a reabilitação, são áreas de atuação cada vez mais
presentes na medicina veterinária. A clássica indicação de reabilitação para as doenças
neurológicas e ortopédicas hoje em dia é acompanhada de programas específicos para
recuperação funcional em pós-operatório. O presente estudo relata o caso de um cão
submetido à colocefalectomia para correção de luxação coxofemoral pós traumática. As
sessões de fisioterapia empregadas tiveram a finalidade de reverter à atrofia muscular, o que
foi alcançado com sucesso, através da eletroterapia associada a um protocolo fisioterápico
específico. Uma revisão da literatura pertinente ao tema e a discussão criteriosa das
alternativas terapêuticas completam o presente relato.
.
Palavras-chave: cão, colocefalectomia, fisioterapia veterinária e eletroterapia
6
ABSTRACT
Physical therapy and, particularly rehabilitation, are increasingly taking place in Veterinary
Science. The classic indication of rehabilitation services for neurological and orthopedic
dysfunctions nowadays are followed by specific programs in order to obtain functional
recovery after surgery. The present study reports the case of a dog submitted to a
colocefalectomy for correction of post traumatic hip luxation. Physiotherapy sessions were
used in order to revert muscle atrophy, which was successfully achieved through
electrotherapy associated with a specific physical therapy protocol. A review of the literature
concerning the matter and discussion of treatment options carefully completes this work.
Keywords: dog, colocefalectomy, veterinary physiotherapy and electrotherapy.
7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
cm
Centímetros
EMS
Eletroestimulação Neuromuscular
FES
Estimulação Elétrica Funcional
FNS
Estimulação Neuromuscular Funcional
Hz
Hertz
mW
Milliwatt
NMES
Eletroestimulação Neuromuscular
TENS
Eletroestimulação Nervosa Transcutânea
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Cinesioterapia: exercício proprioceptivo, adução e abução da articulação
coxofemoral em um canino................................................................................................14
Figura 2 - Alongamento com auxílio de rolo de fisioterapia em um cão...........................14
Figura 3- Cão durante exercício proprioceptivo com prancha de equilíbrio.......................15
Figura 4- Percurso com obstáculo realizado por um cão – exercício ativo.........................15
Figura 5- Cão durante aplicação de laserterapia em articulação coxofemoral....................18
Figura 6- Magnetoterapia em região cervical de um cão...................................................19
Figura 7- Cão durante exercício em hidroesteira..................................................................21
Figura 8- Exame radiográfico evidenciando luxação da cabeça do fêmur do lado direito
(seta)......................................................................................................................................27
Figura 9- Aplicação de laser em região coxofemoral durante sessão de fisioterapia..........28
Figura 10- Eletroterapia em região do músculo quadríceps..................................................29
Figura 11- Relação da perimetria (em cm) da coxa direita do animal, durante as dez sessões
de fisioterapia........................................................................................................................31
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................10
2 REVISÃO DE LITERATURA..............................................................................11
2.1 COLOCEFALECTOMIA FEMORAL.....................................................................12
2.2 FISIOTERAPIA VETERINÁRIA............................................................................12
2.2.1 MODALIDADES FISIOTERÁPICAS..............................................................13
2.2.1.1 CINESIOTERAPIA............................................................................................13
2.2.1.2 TERAPIA MANUAL.........................................................................................16
2.2.1.3 CRIOTERAPIA..................................................................................................16
2.2.1.4 TERMOTERAPIA..............................................................................................17
2.2.1.5 LASERTERAPIA...............................................................................................18
2.2.1.6 MAGNETOTERAPIA........................................................................................19
2.2.1.7 TERAPIA POR ONDAS DE CHOQUE EXTRACORPÓREAS......................19
2.2.1.8 HIDROTERAPIA...............................................................................................20
2.3 ELETROTERAPIA..................................................................................................22
2.3.1 TENS.....................................................................................................................23
2.3.2 NMES....................................................................................................................24
2.3.3 FES........................................................................................................................24
2.3.4 IONTOFORESE...................................................................................................25
2.3.5 CONTRA-INDICAÇÕES....................................................................................25
3 RELATO DE CASO ...............................................................................................27
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................30
5 CONCLUSÕES........................................................................................................32
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................33
10
1 INTRODUÇÃO
Devido ao aumento da expectativa de vida dos animais, e o estreitamento da relação
entre paciente e proprietário, a fisioterapia se torna uma importante ferramenta adjuvante no
tratamento de cães com diversas lesões ortopédicas, como a luxação coxofemoral. Todos os
cães com problemas neurológicos ou ortopédicos são candidatos para reabilitação física, além
dos cães em reabilitação pós-cirúrgica (LEVINE et al., 2008).
Entre as diversas modalidades dentro da fisioterapia veterinária, a eletroterapia é uma
técnica, na qual são utilizados estímulos elétricos terapêuticos sobre tecido muscular e nervos
periféricos. A eletroterapia é usada na reabilitação de pequenos animais, com diversos
propósitos, entre eles a produção de analgesia, fortalecimento muscular, prevenção de atrofia
muscular, relaxamento de espasmos musculares entre outros sendo usada muito
frequentemente no tratamento pós-operatório de animais com disfunções ortopédicas.
Devido à fisioterapia ter se mostrado muito eficiente no tratamento pós-operatório de
pacientes ortopédicos, este trabalho tem como objetivo avaliar o efeito benéfico da
fisioterapia, principalmente da eletroterapia, através do ganho de massa muscular, em um cão
submetido à cirurgia de colocefalectomia após luxação da cabeça do fêmur.
11
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 COLOCEFALECTOMIA FEMORAL
A excisão da cabeça e do colo femoral para permitir a formação de pseudoarticulação
fibrosa é também denominada excisão artroplástica ou ostectomia da cabeça e do colo
femorais ou ainda colocefalectomia femoral (BRINKER et al., 1999).
Segundo Olmestead (2008), a colocefalectomia é um procedimento cirúrgico
relativamente simples, que visa aliviar ou suprimir a dor pela eliminação de contato ósseo
entre o fêmur e a pelve, à medida que o tecido de cicatrização óssea se interpõe entre essas
estruturas (ALVARENGA; PEDRO, 2009).
Também permite a formação de uma
pseudoarticulação de tecido fibroso, a fim de substituir a junta articular (OLMESTEAD,
2008).
Esta técnica é recomendada nos casos de necrose asséptica da cabeça do fêmur,
fraturas que envolvam o acetábulo ou a cabeça e o colo femoral, luxações recorrentes,
luxações crônicas com alterações da cabeça femoral e acetábulo, artropatia degenerativa e
displasia coxofemoral (MANLEY, 1998;VASSEUR, 1996).
Para Hulse; Johnson (2002), a colocefalectomia é o último recurso a ser utilizado
como tratamento para luxação coxofemoral, e pode ser considerada um procedimento de
salvamento, quando todas as outras técnicas falharam (MANLEY, 1998). Porém para
Alvarenga; Pedro (2009), a colocefalectomia femoral é a primeira opção de tratamento de
processos patológicos da articulação coxofemoral de cães de qualquer idade ou porte, sendo
indiciada primordialmente para cães jovens de pequeno porte.
Animais que pesam mais de 18 quilos, obesos, com comportamento mais letárgico e
menos ativos, com distúrbios ortopédicos coexistentes e cronicidade da patologia primária,
podem ter um prognóstico reservado na sua reabilitação (VASSEUR, 1996).
A formação da pseudoarticulação no local da cirurgia é instável, podendo ocorrer
sequelas no período pós-operatório, como encurtamento do membro, atrofia muscular e
bloqueio articular, levando a alguma perda na taxa de movimentação do membro operado ou a
persistência de alguma anormalidade na deambulação, por isso então se recomenda o uso
ativo e precoce do membro e o emprego da fisioterapia visando reduzir o tempo de
12
recuperação e melhorar a qualidade de vida do paciente (ALVARENGA; PEDRO, 2009;
BARTÉ et al., 2001).
2.2 FISIOTERAPIA VETERINÁRIA
A especialização é uma das maiores mudanças ocorridas na clínica de pequenos
animais na última década. O desenvolvimento de novas técnicas, associado ao estreitamento
da relação proprietário/animal cria novos desafios, levando o clínico a oferecer alternativas
distintas da eutanásia em casos onde a função e/ou sobrevida do animal estão ameaçados. Por
isso, especialidades como geriatria, oncologia, cardiologia, fisioterapia, entre outras, têm
recebido grande atenção (MIRACCA, 2009).
A fisioterapia vem sendo aplicada há pouco tempo na medicina veterinária, sendo esta
uma das especialidades mais recentes (PEDRO; MIKAIL, 2009), aparecendo com força na
década de 70 e sendo um pouco esquecida nos anos 80 (RABELO, 2005). Atualmente tem
sido utilizada como uma valiosa ferramenta complementar de tratamento em numerosos casos
neurológicos, traumáticos, ortopédicos e mistos, isto devido ao avanço progressivo da
tecnologia promovendo novos desafios aos clínicos e cirurgiões veterinários (DIGÓN, 2003).
Segundo Levine et al. (2008), a fisioterapia tem diversas aplicações clínicas dentro da
medicina veterinária que visam tanto à recuperação, quanto a manutenção e a promoção da
melhor funcionalidade física, sendo benéfica em recuperação pós-cirúrgica, artroplastias,
cirurgias de coluna e outras lesões e doenças tanto em humanos como nos animais.
Cada plano terapêutico deve ser único para cada paciente baseado no seu histórico
clínico, diagnóstico e a evolução durante o tratamento fisioterápico. Sempre considerando
qualquer alteração, piora no quadro, idade, disposição do cão, expectativas futuras, urgência
da recuperação, equipamentos disponíveis, habilidades do fisioterapeuta e custo do
tratamento.
13
Pode-se citar como objetivos da fisioterapia veterinária o aumento da amplitude de
movimento sem dor e da flexibilidade, melhora do uso do membro e redução da claudicação,
aumento da massa e força muscular, melhora da função diariamente e auxílio na prevenção de
lesões adicionais (MILLIS, 2008). Levine et al. (2008), incluiram para cães os programas de
monitoramento de perda de peso e ajuda no controle de condições crônicas ou progressivas.
2.2.1 Modalidades Fisioterápicas
Existem várias modalidades dentro da fisioterapia. As técnicas podem ser utilizadas
isoladamente ou combinadas. A escolha é feita conforme o objetivo da terapia, presença de
doenças concomitantes, presença de imobilizações, comportamento do paciente e
disponibilidade do proprietário.
2.2.1.1 Cinesioterapia
É o tratamento através do movimento, podendo ser ativo, passivo, ativo assistido e
ainda pode ser na forma de alongamento, fortalecimento com ou sem sobrecarga e resistidos
(AMARAL, 2009).
Os exercícios passivos são produzidos totalmente por uma onda externa, sem contração
muscular voluntária do paciente, e têm como objetivo manter a mobilidade articular e de
tecido mole, minimizar a formação de contraturas e manter a elasticidade muscular. Esta
terapia consiste basicamente em flexão, extensão, rotação e abdução das articulações (Figura
1) (RABELO, 2005).
14
Figura 1- Cinesioterapia - exercício
passivo, adução e abdução da
articulação coxofemoral em
um canino.
O alongamento (Figura 2) refere-se ao processo de proporcionar um aumento de
comprimento muscular, podendo ser realizado de diversas maneiras, dependendo do objetivo,
da capacidade do animal e do tipo de treinamento que o músculo foi e está sendo submetido
(AMARAL, 2009).
Figura 2- Alongamento com auxílio de
rolo de fisioterapia em um
cão.
Segundo Rabelo (2005), os exercícios ativos resistidos são usados quando o paciente
está incapacitado de completar um exercício, precisando da ajuda do terapeuta para iniciar ou
completar os movimentos. O autor cita andar apoiando em uma toalha ou pela cauda, como
exemplo de técnica de exercício ativo resistido.
Ainda podemos citar os exercícios proprioceptivos, que auxiliam o animal a readquirir
sua habilidade em usar e posicionar de forma adequada seus membros, e incluem desvio de
15
peso de uma lado para o outro do corpo, atividades em pranchas de equilíbrio (Figura 3) e
bola suíça ou PhisioRolls (rolo de fisioterapia) (MILLIS, 2008).
Figura 3- Cão durante exercício
proprioceptivo com prancha
de equilíbrio.
.
Já os exercícios ativos envolvem a contração ativa da musculatura através da
articulação, possuem os mesmos objetivos dos exercícios passivos, mas mantêm a
elasticidade e contratilidade fisiológica, promovendo um feedback sensorial e um estímulo
para integridade óssea, além de incrementar a circulação (RABELO, 2005). A técnica de
estimular os movimentos ativos do animal é dirigida para aumentar a força, a coordenação, o
equilíbrio e as aptidões funcionais (McGONAGLE, 2004).
O mesmo autor cita como exemplo de exercícios ativos caminhadas em figura de “8”,
uso de escadas e planos inclinados, movimentos repetidos de levantar e sentar, andar em
hidroesteira e realizar percursos com obstáculos, que exigem saltos e agilidade (Figura 4).
Figura 4- Percurso com obstáculo realizado
por um cão – exercício ativo.
16
2.2.1.2 Terapia Manual
A terapia manual inclui técnicas como a mobilização e a manipulação de articulações e
tecidos moles. São realizados movimentos manuais que visam melhorar a extensibilidade
tecidual, aumentar a amplitude de movimentos, induzir relaxamento, controlar a dor, reduzir
edema e inflamação (SAUNDERS et al., 2008). Bauer e Mikail (2009) citam ainda a liberação
de fáscias. Indicada no tratamento da dor e na perda de mobilidade secundária, a disfunção
neuromusculoesquelética, e também para relaxar e acalmar os animais.
A massagem é uma técnica de manipulação sistemática dos tecidos, usada para
promover o aumento do fluxo sanguíneo para os músculos, para "aquecer" a área antes da
atividade, e para diminuir a rigidez após a atividade (MILLIS, 2001).
2.2.1.3 Crioterapia
A aplicação do frio como método em reabilitação é denominada crioterapia. Suas
formas de aplicação são bolsas de gelo, bolsas de gel, imersão em gelo e água e massagem
com gelo. O uso da crioterapia em pequenos animais é indicada no tratamento de inflamações
agudas, traumatismos, diminuição do espasmo muscular e outras ocasiões, porém seu uso está
contraindicado em pacientes com doenças cardíacas e respiratórias, feridas abertas e áreas
isquêmicas (LOPES, 2009). A principal preocupação pelo uso do frio para Steiss e Levine
(2008) é evitar a ulceração.
Segundo Millis (2001) as bolsas de gelo comercialmente disponíveis ou gelo envolto
em uma toalha podem ser aplicados em uma área de 15 a 20 minutos, 3 a 6 vezes por dia. O
membro inteiro ou todos os membros podem ser imersos em água fria ou em água com gelo
para diminuir inflamação.
17
2.2.1.4 Termoterapia
Por convenção literária, termoterapia é o uso do calor com fins terapêuticos. Steiss e
Levine (2008) classificam o aquecimento proveniente de agentes térmicos como calor
superficial, que penetram até 2 cm de profundidade, ou profundo que aquecem tecidos em
profundidades maiores ou iguais a 3 cm.
Como exemplo de agentes de aquecimento superficial pode-se citar as bolsas térmicas,
jatos de água quente, turbilhão, banhos de parafina, colchões térmicos elétricos e lâmpadas de
infravermelho. Estão indicados em traumatismos e condições inflamatórias agudas e
subagudas, em rigidez e/ou contratura muscular (base do princípio de alongamento e
aquecimento) e alívio da dor devido o calor aumentar o limiar de excitação das fibras
nervosas sensitivas. O uso do calor superficial está contra-indicado em pacientes com
sangramento ativo, insuficiência cardíaca, circulação sanguínea diminuída na área a ser
tratada, febre, neoplasia e déficit do controle da temperatura corpórea (STEISS e LEVINE,
2008).
Segundo Steiss e Levine (2008), a aplicação do calor profundo é realizada através da
utilização do ultrassom terapêutico e da diatermia de ondas curtas, prática pouco usada em
veterinária. Para Araújo (2009), mesmo o ultrassom produzindo efeitos térmicos, ele deve ser
abordado separadamente dos agentes térmicos, pois sua energia encontra-se dentro do
espectro acústico, enquanto os outros agentes se situam no espectro eletromagnético, além do
ultrassom também produzir efeitos mecânicos não-térmicos.
Os efeitos terapêuticos provocados nos tecidos pelo ultrassom pulsado são alivio da
dor e redução do espasmo muscular, facilitação da reabsorção de coleções líquidas como
edemas e hematomas, otimização de todas as fases do processo inflamatório, facilitação do
processo de reparação tecidual, alongamento de tecidos conjuntivos entre outras aplicações
(ARAÚJO, 2009). Já os efeitos térmicos causados pelo ultrassom térmico são aumento da
extensibilidade do colágeno, do fluxo sanguíneo, da velocidade de condução do estímulo
nervoso, da atividade macrofágica, da atividade enzimática e do limiar do dor, bem como dos
espasmos musculares (STEISS e LEVINE, 2008).
18
É contraindicado o uso desta técnica em regiões de olhos, coração, útero gestante,
além de testículos, placas epifisárias, tromboflebites, tumores malignos, endoproteses de
natureza não-metálico (acrílico ou ligas de cimento biológico) e tumores malignos.
2.2.1.5 Laserterapia
O laser usado em ferimentos e em doenças é o laser de baixa potência ou terapêutico,
que normalmente emite entre 1 e 5 mW (miliwatt) de energia. A aplicação terapêutica do laser
tem sido investigada desde os anos 1970 (OWEN, 2006).
O uso da laserterapia (Figura 5) é maior em três grandes áreas: analgesia, regeneração
de tecidos e como anti-inflamatório, além de outros efeitos terapêuticos como, por exemplo, a
consolidação de fraturas e lesões de nervos periféricos (MIKAIL, 2009c) e no reparo de
feridas complicadas em pacientes com alteração do metabolismo (MILLIS et al., 2008). Seu
uso é contraindicado em regiões de neoplasias, útero grávido, placas epifisárias, gânglios
simpáticos, nervo vago e região cardíaca (MIKAIL, 2009c).
Figura 5- Cão durante aplicação de
laserterapia em articulação
coxofemoral.
19
2.2.1.6 Magnetoterapia
Magnetoterapia (Figura 6) é a terapia por meio de campos magnéticos, aumentando o
fluxo sanguíneo local, provavelmente liberando endorfinas e produzindo efeitos antiinflamatórios (MILLIS et al., 2008). Suas principais indicações de uso são para o tratamento
de fraturas, prevenção de massa óssea, osteoartrites, osteoartroses, tendinites, desmites,
periostites, feridas crônicas e necrose asséptica da cabeça do fêmur. Porem não deve ser usado
em casos que o aumento da circulação não é desejado e na região de útero grávido em cães e
gatos (MIKAIL, 2009d).
Figura 6-: Magnetoterapia em
região cervical de
um cão.
2.2.1.7 Terapia por Ondas de Choque Extracorpóreas
A terapia por ondas de choque extracorpóreas vem sendo usada em humanos desde a
década de oitenta e já tem sua aplicação totalmente aprovada dentro da medicina veterinária,
porém em cães e começou a ser usada recentemente
Segundo Owen (2006) para a aplicação desta técnica é necessária sedação ou
anestesia, como a maioria dos pacientes que fazem uso desta terapia são geriátricos Millis et
al. (2008) recomenda a realização tanto de um exame clínico completo quanto de exames
20
complementares (hemograma, radiografias, perfil bioquímico e análise de urina) antes de
iniciar o tratamento.
Os efeitos clínicos deste tratamento incluem redução da inflamação e edema, analgesia
curta, melhora na vascularização e da formação de novos vasos (podendo estimular o reparo
de tecidos moles), auxílio na consolidação óssea, realinhamento das fibras tendíneas e
aceleração da cicatrização de feridas. Mesmo ainda não tendo seu mecanismo de ação bem
esclarecido, pesquisas recentes têm analisado, os efeitos da pressão das ondas de choque sobre
as células e as suas respostas, incluindo a liberação e produção de fatores do crescimento
(MILLIS et al., 2008).
Seu uso é indicado no tratamento de calcificações e tendinites do ombro, osteoartrose
crônica do cotovelo ou da articulação coxofemoral, sendo benéfica para pacientes que não
toleram o tratamento com anti-inflamatórios não esteróides ou outros medicamentos, devido a
distúrbios gastrointestinais ou doença hepática (MILLIS et al., 2008).
Os efeitos adversos causados pela terapia por ondas de choque extracorpóreas são as
lesões teciduais causadas por efeitos térmicos e mecânicos. Podem ocorrer lesões térmicas
caso haja uma liberação excessiva de energia, além de formações de petéquias, hematomas
locais e hemorragias. A aplicação desta técnica não é recomendada para o tratamento de
artrite infecciosa, doença articular imunomediada, neoplasias, discoespondilite, fraturas
agudas instáveis ou disfunções neurológicas (MILLIS et al., 2008). Também não deve ser
aplicada sobre os pulmões, cérebro, coração, vasos sanguíneos calibrosos, nervos ou útero
gravídico (OWEN, 2006).
2.2.1.9 Hidroterapia
A hidroterapia é um tipo de fisioterapia, que utiliza exercícios na água para recuperar ou
melhorar o desempenho de grupos musculares. É uma terapia bastante antiga, que nas últimas
décadas sofreu um impulso maior devido à sua utilização sistemática, basicamente na
recuperação de deficientes físicos, e em medicina esportiva (MIKAIL, 2009b; MIRACCA
2009).
21
A hidroterapia possui inúmeras indicações como alívio de dores, diminuição de
espasmos musculares, aumento da amplitude de movimentos em pacientes neurológicos ou
idosos, hipertrofia muscular, entre outras e está contraindicada na presença de feridas abertas,
infecções, disfunções cardíacas e respiratórias, incontinência urinária e diarréia (MIKAIL,
2009b).
Figura 7- Cão durante exercício em
hidroesteira.
22
2.3 ELETROTERAPIA
Ainda como modalidade dentro da fisioterapia há a eletroterapia técnica na qual são
utilizados estímulos elétricos terapêuticos sobre tecido muscular e nervos periféricos
(BRASILEIRO et al., 2002). Basicamente, todos os equipamentos, destinados à fisioterapia,
que emitem corrente (independente de ser corrente direta alternada ou pulsada) por meio de
eletrodos colocados na pele são chamados transcutâneos (BATALHA, 2006).
A eletroterapia é uma área ainda pouco conhecida dentro da medicina veterinária, mas
já vem se mostrando muito eficaz para vários propósitos entre eles aumento da amplitude de
movimento, melhora da função do membro, melhora do tônus muscular, controle da dor,
administração transdermal de medicamentos (iontoforese) e redução de espasmo muscular
(JOHNSON; LEVINE, 2004; MIKAIL, 2009a; STEISS; LEVINE, 2008).
No entanto, para Baxter e McDonough (2007), é importante ressaltar que a
eletroterapia é raramente usada isoladamente por fisioterapeutas, geralmente é associada com
exercícios terapêuticos e técnicas manuais.
Segundo Steiss; Levine (2008),à terminologia relacionada a eletroterapia é ambígua e
tem sido padronizada. O seu uso para estimular o neurônio motor e causar contração muscular
é denominado eletroestimulação neuromuscular (NMES), sendo este o tipo mais utilizado e
nele, estão incluídas todas as aplicações de eletroterapia para fortalecimento muscular (exceto
em casos de músculos denervados). O uso de eletroterapia na excitação direta do músculo
denervado é denominado eletroestimulação muscular (EMS) e o termo eletroestimulação
nervosa transcutânea (TENS) representa o uso da estimulação elétrica no controle da dor.
Para Mikail (2009a), a sigla FES (estimulação elétrica funcional) só deve ser utilizada quando
a finalidade é a estimulação funcional, quando o objetivo é produzir a contração em músculos
privados do controle nervoso.
Baxter; McDonought (2007) ressaltam que as formas de ondas usadas em TENS e
NEMS são essencialmente as mesmas, além disso, as correntes possuem a mesma capacidade,
ou seja, a intensidade elétrica produzida é idêntica. Os efeitos diferentes que cada terapia
produz são baseados na seleção de adequados parâmetros, particularmente a duração de pulso,
largura e frequência.
23
2.3.1 TENS
É uma forma eficiente de produzir analgesia via corrente elétrica, através de
mecanismos como a inibição pré-sináptica do corno dorsal da medula espinhal, controle
endógeno da dor (via endorfinas, encefalinas e dinorfinas) e pela inibição direta de um nervo
excitado anormalmente (MIKAIL, 2009a).
O uso de eletroanalgesia é indicado para dores de diversas etiologias, tais como dores
agudas como as do pós-operatório, entorses de ligamentos e fraturas, além de dores músculoesqueléticas crônicas como dores na coluna, também é indicada no caso que o uso de
medicações é contra-indicado ou uma dosagem inferior de medicamentos é desejada. Porém
tende a produzir melhores efeitos em dores localizadas, com intensidade moderada onde o
sítio da dor é mais superficial (BAXTER ; McDONOUGH, 2007; DAVIDSON, 2009).
Os eletrodos geralmente são posicionados diretamente sobre a área da dor, de maneira
que garanta maior estímulo no local, principalmente estimulo nervoso. Podem ainda ser
posicionados próximo ao local da dor, diretamente sobre o nervo periférico que abastece a
área afetada, ou ainda sobre as raízes nervosas da coluna vertebral, sendo que para a eficácia
de ambos os tipos de aplicação depende de um adequado conhecimento de anatomia
(BAXTER; McDONOUGH, 2007).
As diretrizes para o tratamento do controle da dor em pequenos animais é limitada, e
são baseadas no tratamento de humanos e em pequenos estudos realizados com cães (OWEN,
2006).
Quando o TENS é utilizado para o controle da dor, Mikail (2009a) afirma que se
podem testar diferentes freqüências e intensidades para achar o resultado mais confortável ao
paciente, isso devido há uma variação individual existente. No TENS convencional é utilizado
uma alta freqüência (40-150 Hz) e uma baixa intensidade, apenas no limiar sensitivo.
A analgesia costuma ocorrer imediatamente ou nos primeiros vinte minutos, mas a
duração é curta, cessando logo após a interrupção do estimulo, e o tratamento pode ser
utilizado diariamente (MIKAIL, 2009a; STEISS; LEVINE, 2008).
24
2.3.2 NMES
A eletroestimulação neuromuscular ou NMES é um recurso que vem sendo utilizado
com maior frequência para atingir objetivos terapêuticos como fortalecimento muscular,
redução de edema, reeducação muscular, manutenção ou ganho de amplitude de movimento,
entre outros (KITCHEN, 2003; MILLIS, 2001).
É um tipo de corrente, no qual os pulsos são agrupados em trens de pulsos em forma
de trapézio com um período de subida, um platô e um período de descida, sendo que estas três
fases compõem o período em que há emissão (ON time), e o período entre esses trens de pulso
é chamado OFF time (MIKAIL, 2009a).
Os eletrodos podem ser colocados de diversas formas, sendo uma delas nas
extremidades do ventre muscular, de modo que eletrodos sejam de tamanhos iguais e grandes
suficientes para cobrir a maior parte do músculo (sem tocar uma na outra) (BAXTER;
McDOUGHT, 2007).
Segundo Owen (2006) o protocolo ideal para a eletroestimulação é desconhecido, mas
pequenos estudos clínicos sugerem que freqüências entre 20 e 50 Hz produzem contração
titânica forte, minimizando a fadiga muscular, sendo também aconselhado manter o período
OFF time maior ou igual ao de ON time prevenindo a fadiga muscular (MIKAIL, 2009a),
sendo preferível o tratamento em dias alternados, permitindo períodos adequados de
estimulação intercalados com “períodos de recuperação” (BAXTER ; McDOUGHT, 2007).
2.3.3 FES
Segundo Kitchen (2003), a estimulação elétrica funcional ou estimulação
neuromuscular funcional (FES/FNS) é utilizada quando o objetivo da reabilitação é promover
movimentos funcionais para prevenir atrofia muscular, manter a amplitude de movimento
articular e recuperar a sensibilidade e a motricidade das áreas afetadas pela denervação,
25
O uso desta corrente é abordado na literatura quase que exclusivamente para com
pacientes neurológicos, pois a estimulação elétrica ativa músculos esqueléticos sadios que não
respondem ao comando voluntário, sendo aplicada no neurônio motor inferior intacto para
promover a contração de músculos paralisados, de modo a produzir movimento funcional
(KITCHEN, 2003, LOW; REED, 2001).
2.2.4 Iontoforese
O termo Iontoforese significa “migração de íons” e é utilizado para denominar a
aplicação de medicação através da pele via corrente elétrica, sendo necessária a utilização de
drogas ionizáveis, isto é, que sejam capazes de dissociar-se (BRUNO et al. 2001, MIKAIL,
2009a).
Este método tem como vantagem não ser invasivo e diminuir os efeitos colaterais
sistêmicos, já que sua aplicação é mais localizada e as principais drogas utilizadas são os antiinflamatórios não esteróides, esteróides, anestésicos locais e antibióticos e fibrolíticos
(BRUNO et al. 2001; MIKAIL 2009a).
Porém para Bruno et al. (2001) suas aplicações clínicas são restritas, principalmente
por duas razões: a penetração além da superfície da pele é variável e específica de cada droga,
e mesmo se uma substância passa através da epiderme, o fluxo sanguíneo local pode
rapidamente removê-la da área a ser tratada e distribui la através do corpo.
2.3.5 Contra-indicações
Recomenda-se evitar o uso da corrente elétrica em olhos ou gônadas, pacientes com
marcapasso, seios carotídeos, gânglios cervicais, pacientes epiléticos, em lesões de pele, em
regiões próximas a tumores malignos, áreas que possuam alteração na sensibilidade (ausência
26
ou hipersensibilidade) ou com trombose ou tromboflebite e onde qualquer movimento ativo
esteja contra-indicado (MIKAIL, 2009a; STEISS; LEVINE, 2008).
Jhonson; Levine (2004) ainda citam que se deve usar a eletroterapia com precaução
em regiões pélvicas, abdominal e lombar de animais gestantes e áreas com irritação de pele.
27
3 RELATO DE CASO
Foi encaminhado para fisioterapia, um canino, fêmea, da raça Schnauzer, de 11 anos
de idade, não castrada, após ter sofrido uma queda e ter luxado a cabeça do fêmur do membro
pélvico direito, conforme foi diagnosticado no exame radiográfico (Figura 8) e realizada
cirurgia de colocefalectomia de fêmur. A indicação da fisioterapia veio do médico veterinário
que realizou o procedimento cirúrgico, pois o animal não apoiava o membro e apresentava
atrofia muscular significativa, provavelmente pelo desuso do membro durante o período que
sucedeu o pós-operatório.
Figura 8- Exame radiográfico
evidenciando luxação
da cabeça do fêmur do
lado direito (seta).
Durante a avaliação, o proprietário relatou que o animal apresentava dor ao toque,
relutância em apoiar o membro e prostração, porém antes da retirada de pontos, 10 dias após a
cirurgia, o animal apoiava o membro e estava ativo, entretanto não soube informar se o animal
sofreu alguma lesão durante o período pós-operatório. Ao exame clínico o animal apresentou
atrofia muscular, não apoiando o membro em estação e durante a deambulação e também
desconforto à palpação. Reflexo de retirada e dor profunda presentes.
28
As sessões iniciaram dois dias após a avaliação do animal, com o objetivo de reduzir a
dor e a atrofia muscular, além de restabelecer a função do membro mais rapidamente.
Na primeira sessão foi realizada tricotomia do membro, sendo possível medir de forma
mais adequada, a perimetria da coxa direita do animal com uma fita maleável (em cm), foi
escolhido o ponto médio entre o trocanter maior e o epicôndilo do fêmur como padrão para
mensuração. O paciente apresentou bastante desconforto ao ser manipulado, principalmente
na região da cirurgia.
Como planejamento para reabilitação do paciente, nas primeiras duas sessões foi
adotado o seguinte protocolo: laserterapia em articulação coxofemoral (Figura 9), fêmur-tíbiopatelar e região metatársica; cinesioterapia (exercícios de extensão e flexão do membro
posterior direito/ abdução e rotação da articulação coxofemoral), exercícios de propriocepção
(escovação do coxim do membro afetado); e aplicado TENS na região da articulação
coxofemoral, durante vinte minutos. O aparelho utilizado durante a laserterapia foi o modelo
Physiolux dual, da marca BIOSET.
Figura 9- Aplicação de laser em região
coxofemoral durante sessão
de fisioterapia.
A partir da terceira sessão foi adotado o uso da corrente FES (Figura 10) na região do
músculo quadríceps, não fazendo mais uso do TENS. . O modelo de eletroestimulador
utilizado, foi o Physiotonus II da marca BIOSET.O FES foi utilizado no final da sessão após
o uso das outras modalidades fisioterápicas, os parâmetros utilizados para corrente foram os
seguintes:

Intensidade: suficiente para vencer uma carga adequada e de acordo com a tolerância
do animal.
29

“RISE” (rampa de subida do pulso) – 1 segundos

“DECAY” (rampa de descida do pulso) - 3 segundos

“ON TIME” (tempo ligado) - 08 segundos

“OFF TIME” (tempo desligado) - 12 segundos

Duração: 15 minutos
Figura 10- Eletroterapia em região do
músculo quadríceps.
Foi utilizado gel para facilitar a condução do estímulo elétrico, e os eletrodos foram
fixados com auxilio de esparadrapo, e nova tricotomia realizada quando necessário sendo
realizado um total de dez sessões
30
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a realização das sessões de fisioterapia o paciente apresentou uma progressiva
melhora, com ganho de massa muscular e recuperação da funcionalidade do membro quase
que por completa, diminuindo significativamente a claudicação durante a deambulação. O
proprietário também relatou que o animal voltou a realizar suas atividades rotineiras, ficando
mais ativo.
A aplicação da laserterapia, neste protocolo, teve como finalidade promover analgesia,
regeneração dos tecidos e ainda como antiinflamatório (OWEN, 2006), mesmo não havendo
muitos trabalhos publicados, Mikail (2009d) afirma que frequentemente há relatos de clínicos
e pesquisadores referenciando à eficácia do laser no controle da dor, devido ao aumento no
nível de endorfinas, a alteração no nível de substâncias relacionadas à dor, a diminuição da
velocidade de condução do nervo sensorial e a diminuição da excitabilidade dos receptores da
dor.
Os exercícios passivos, como extensão e flexão do membro posterior direito e a
rotação e abdução da articulação coxofemoral, foram utilizados para manter a mobilidade
articular e a elasticidade muscular, além de minimizar a formação de contraturas musculares
(RABELLO, 2005), porém Bruno et al. (2001) advertem que estes exercícios não previnem a
atrofia muscular tampouco aumentam a força muscular e assistem à circulação na mesma
intensidade que um exercício ativo. Já os exercícios proprioceptivos, como a escovação foram
adotados para auxiliar o animal a usar e posicionar de forma adequada seu membro (MILLIS,
2008).
Berté et al. (2011) ressaltam que o protocolo fisioterápico deve ser empregado de
maneira gradual, iniciando com exercícios passivos seguido de exercícios ativos assistidos e
por fim, exercícios ativos. Respeitando, desta maneira, as fases de cicatrização.
Nas duas primeiras sessões a corrente TENS foi realizada, pois o paciente apresentou
intenso desconforto na região do acesso cirúrgico, seguindo a indicação de Baxter e Mc
Donough (2007) que descrevem o uso desta corrente em dores de pós-operatório,
proporcionando uma analgesia imediata ou nos primeiros vinte minutos, porém sua duração é
curta (MIKAIL 2009a), justificando seu uso em apenas duas sessões conforme estabelecido
no protocolo para este animal.
31
Segundo Morrissey et al. (1985) a atrofia muscular pode ocorrer nos casos em que há
necessidade de implementação de imobilização para o repouso local após lesões musculares,
ósseas, ainda em luxações e em rupturas de ligamento além de outras afecções ortopédicas
que necessitam ou não a correção cirúrgica (APPEL, 1986).
A eletroestimulação neuromuscular foi empregada porque auxilia na prevenção da
atrofia pelo desuso o que foi comprovada no caso deste animal (Millis et al., 2004) e também
com a finalidade de promover fortalecimento muscular (KITCHEN, 2003) sendo este o
principal objetivo deste trabalho.
Como se pode observar na Figura 11, houve um aumento de ganho de massa muscular
durante as sessões realizadas, em estudo recente realizado por Pelizzari et al. (2008) em cães
com atrofia muscular induzida, o uso da eletroestimulação neuromuscular de baixa
frequência, na modalidade de estimulação elétrica funcional (FES) se mostrou eficiente na
reabilitação destes animais, resultando em hipertrofia significativa do músculo vasto lateral.
Figura 11- Relação da perimetria (em cm) da coxa direita do animal, durante as dez sessões
de fisioterapia
Perimetria Coxa Direita
16
.
Sessão 1 23/11
Sessão 2 25/11
Sessão 3 28/11
Sessão 4 30/11
Sessão 5 05/12
Sessão 6 07/12
Sessão 7 09/12
Sessão 8 14/12
Sessão 9 19/12
Sessão 10 22/12
16
17
19
20
21
21
22
22
22
32
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A possibilidade de poder acompanhar um paciente encaminhado por outro colega,
durante sua reabilitação, mostrou que a fisioterapia veterinária, mesmo sendo uma modalidade
nova dentro da medicina veterinária está ganhando cada vez mais respeito e credibilidade
tanto dos profissionais veterinários quanto dos proprietários.
Através deste relato de caso, foi possível comprovar que a tanto a fisioterapia quanto a
eletroterapia se mostraram muito eficazes, pois proporcionaram ganho de massa muscular,
melhorando a qualidade de vida do animal.
33
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