RICARDO DALLA ZANNA DIVERSIDADE GENÉTICA DE BIOMPHALARIA TENAGOPHILA (ORBIGNY, 1835) (GASTROPODA: PLANORBIDAE) NO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, para obtenção do Título de Mestre em Ciências. Área de Concentração: Pesquisas Laboratoriais em Saúde Pública (PLSP) Orientador: Profª Drª Toshie Kawano (in memorium) Orientador: Drª Roseli Tuan São Paulo 2010 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pelo Centro de Documentação – Coordenadoria de Controle de Doenças/SES-SP Óreprodução autorizada pelo autor, desde que citada a fonte Zanna, Ricardo Luiz Dalla Diversidade genética de Biomphalaria tenagophila (Orbigny, 1835) (Gastropoda: Planorbidae) no Estado de São Paulo, Brasil / Ricardo Luiz Dalla Zanna - São Paulo, 2010. Dissertação (mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ciências da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Área de concentração: Pesquisas Laboratoriais em Saúde Pública Orientadora: Toshie Kawano 1. Biomphalaria 2. Schistosoma mansoni 3. Complexo IV da cadeia de transporte de elétrons 4. Variação genética 5. Biomphalaria/genética 6. Filogenia SES/CCD/CD-233/10 “Nada em biologia faz sentido exceto à luz da evolução” Theodosius Dobzhansky ii AGRADECIMENTOS Ao Programa de Pós Graduação em Ciências da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde pela oportunidade de realização do curso de mestrado. A Superintendência de Controle de Endemias – SUCEN, pela infra-estrutura oferecida ao longo de cinco anos, desde a etapa de aprimoramento profissional e ao Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular da SUCEN, onde todas as etapas deste trabalho foram realizadas com exceção da etapa de seqüenciamento. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo auxílio à pesquisa, Processo 2007/03458-7 e a CAPES pela concessão de bolsa de mestrado. Às minhas orientadoras, Dra. Roseli Tuan por orientar-me durante cinco anos, com muita dedicação, empenho e paciência. Pelos seus conselhos, tanto na área científica, quanto na área pessoal. Em especial a Profa. Dra. Toshie Kawano, que, sem me conhecer, acolheu-me como seu aluno de mestrado dedicando-se integralmente ao desenvolvimento desse e de outros estudos mesmo debilitada. Meu sincero agradecimento e pêsames aos familiares da Dra Toshie que me mostrou dedicação à pesquisa em Saúde Pública tornando-se um exemplo, assim como Wladimir Lobato Paraense, dentro da pesquisa malacológica e parasitológica. Ao Prof. Dr. Douglas Mascara, por estar ao meu lado no inicio da minha carreira, ser um grande amigo e, pessoalmente, um exemplo de profissional a qual admiro e tento me espelhar. iii À Dra. Maria de Fátima Costa Pires por toda ajuda e compreensão, principalmente na fase final do meu mestrado. Suas ajudas, no que diz respeito à parte burocrática da pós-graduação, tornaram possível a conclusão da minha dissertação. Obrigado também pelos conselhos profissionais. E, ainda, obrigado pelas críticas construtivas no exame de qualificação. Ao Dr. André Gustavo Tempone pela ajuda como presidente da área de Pesquisas Laboratoriais em Saúde Pública, pelo apoio moral e incentivo, pelos bate-papos e sua preocupação constante em relação à minha moto. Aos Doutores Ana Maria Ribeiro de Castro Duarte e Pedro Luis Silva Pinto pelos questionamentos e críticas construtivas no exame de qualificação. Aos dois, ainda quero agradecer pelas conversas informais, conselhos e apoio moral. Aos Doutores integrantes da banca de defesa de mestrado Ana Maria Ribeiro de Castro Duarte e Pedro Paulo Chieffi. Aos integrantes do Laboratório de Malacologia da SUCEN, em especial à Dra Fernanda Pires Ohlweiler, pelo apoio na identificação dos caramujos e empenho em conseguir amostras do estado do Rio Grande do Sul; a minha grande amiga Fernanda Yoshika Takahashi, por tudo que fez por mim, inclusive no auxílio à identificação dos caramujos. Ao grande amigo Kleber Jose Withaker por toda assistência e companheirismo tanto no Laboratório de Biologia Molecular da SUCEN como em viagens de coleta. iv Aos demais integrantes do Laboratório de Biologia Molecular da SUCEN: Dr. Adriano Pinter e Dr. José Eduardo Bracco. Aos estagiários: Diego, Roberta, Eliane’s, Nadia e especialmente à Raquel, por toda ajuda e amizade. Ao meu grande amigo Janduí Amorim, pelas conversas, xingamentos, trocas de experiências, pelos desabafos e por aí vai. Agradeço sua amizade e ajuda. A minha grande amiga, que tenho muitas saudades, Natália Góes dos Santos Barom. Agradeço por tudo que você e sua família já fizeram por mim. Paz e bem. Aos familiares da Dra Roseli Tuan, seu marido Ricardo e sua filha Marina, por não se incomodarem pelo fato de algumas vezes eu ir trabalhar junto com a Dra Roseli Tuan em sua residência. Aos meus amigos-irmãos Hamilton e Rafael, pela amizade desde que nascemos, pela torcida, pelas preocupações, enfim, por tudo. Ao meu outro amigo-irmão André, residente na Austrália, pela amizade desde a graduação. Agradeço pela república, surf, shows, e tantas outras coisas. Agradeço até pela saudade, pois percebo como convivência com um amigo como você é importante. A minha amiga-irmã e também bióloga, Juliana Montovani por toda amizade e carinho. Aos meus amigos praticantes de surf: Diego, Marcelo, Alan, Vitor, Fernando, Cleber, Humberto e tantos outros que juntos fazem com que a vida se torne mais fácil por desfrutarmos momentos especiais em ocasiões especiais, como surfar. v Agradeço especialmente ao meu pai, Hugo; minha mãe, Ana; e minha segunda mãe, Catia, por todo amor e carinho, por me educarem, incentivarem, apostarem em mim, e tantas outras coisas que talvez não conseguisse se não fossem por vocês. Minhas irmãs, Mariana e Marcia, meus sobrinhos, Letícia, Eduardo e Raul, e meu cunhado Antônio, pela torcida e por fazerem parte da minha vida. A todos meus outros familiares (“Dalla Zanna”, “Soriano” e “Letizio”) tios, tias, primos e primas. Aos meus queridos avôs Anna e Candido; Pietro e Cesira (in memorium), por todo amor e carinho. Inclusive os pais da esposa do meu pai, Roberto e Amélia (in memorium) por me amarem e se preocuparem como a um neto e por eu amá-los como avós. A saudade será eterna. Aos meus sogros Luiz e Márcia, por sempre orarem por mim. Aos tios da minha esposa Marco Antônio e Roseli; e tio Fernando. Aos primos Vitor, Fred, Vitória, Luciana, Felipe e Cassiane pela amizade e carinho. Agradeço especialmente a minha esposa Juliana Quero Reimão pelo amor e carinho, pela paciência e admiração, pelo apoio e luta nos momentos difíceis; por ser exemplo de profissional, por todo incentivo e preocupação; por fazer de mim uma pessoa feliz e dividir comigo a emocionante tarefa de constituir uma família. vi RESUMO A esquistossomose é uma doença parasitária, causada por trematódeos do gênero Schistosoma, com cerca de 150 e 200 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo segundo a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, a esquistossomose mansônica foi descrita em 18 estados e no Distrito Federal. A expansão da doença está ligada à distribuição geográfica do caramujo hospedeiro intermediário. No Brasil são descritas dez espécies e uma subespécie de caramujos do gênero Biomphalaria. No estado de São Paulo são encontradas oito espécies e a maior ocorrência dos casos autóctones de esquistossomose está relacionada à transmissão da doença nas bacias hidrográficas Paraíba do Sul, Litorânea e Tietê. Neste estudo foram realizadas análises genéticas a partir do gene mitocondrial Citocromo Oxidase I (COI) de caramujos B. tenagophila originários das bacias hidrográficas do estado de São Paulo com descrição de casos autóctones de esquistossomose. O gene COI é utilizado com confiabilidade na identificação molecular de espécies, por esta razão foram adicionadas a este estudo amostras de DNA de caramujos pertencentes ao Complexo Tenagophila (B. occidentalis e a subespécie B. tenagophila guaibensis – amostras de DNA de caramujos originários do estado do Rio Grande do Sul) e amostras de DNA do grupo de espécies hospedeiras naturais (B. glabrata e B. straminea) do Brasil. Os resultados revelaram a presença de duas populações geneticamente distintas de B. tenagophila no estado de São Paulo. Populações de B. tenagophila pertencentes às bacias hidrográficas Paraíba do Sul, Litoral Norte e Paranapanema não apresentaram valores de divergência genética, sendo, portanto populações geneticamente homogêneas. Populações de B. tenagophila pertencentes às bacias hidrográficas do Ribeira do Iguape e Tietê apresentaram 92% de divergência genética entre si, constituindo grupo geneticamente heterogêneo. Confirmam os valores observados as topologias de árvores filogenéticas geradas por vii Neighbor-Joining e análise Bayesiana, que revelaram dois clados distintos da espécie B. tenagophila. As análises de diversidade e distância genética das espécies do Complexo Tenagophila revelaram maior relação evolutiva entre B. tenagophila guaibensis com a espécie B. occidentalis do que com B. tenagophila. Neste sentido sugere-se, a partir de novos estudos, a reavaliação taxonômica das espécies deste complexo, agregando avaliações genéticomoleculares aos estudos morfológicos. Do ponto de vista filogenético, o gene COI mostrou-se um marcador molecular capaz de distinguir de modo efetivo as espécies de caramujos do gênero Biomphalaria avaliadas nesse estudo, identificando valores de divergência genética intra e inter populacionais. Esta ferramenta mostrou-se eficaz para estudos taxonômicos e pode ser aplicada com segurança em programas de vigilância malacológica. viii ABSTRACT Schistosomiasis is a parasitic disease, caused by trematodes of the Schistosoma genus, with 150 to 200 million of infected people in the world, according to the World Health Organization. In Brazil, the Schistosomiasis Mansoni was described in 18 states and in Distrito Federal. The disease expansion is linked with the geographical distribution of the intermediate host. In Brazil ten species and a subspecies of clams of the Biomphalaria genus are described. In São Paulo State, where are found eight specie and the major occurrence of the autochthonous cases of Schistosomiasis is related to the transmission of the disease in the hydrographic basins of Paraíba do Sul, Litorânea and Tietê. In this study, genetic analyses were accomplished starting from the mitochondrial gene Cytochromo Oxidase I (COI) of B. tenagophila clams from the hydrographic basins of the São Paulo State, with description of autochthonous cases of Schistosomiasis. The COI gene is used with reliability in the molecular identification of species, for this reason clam DNA samples from the Tenagophila Complex (B. occidentalis and the subspecie B. tenagophila guaibensis - clam DNA samples from Rio Grande do Sul State) were added to this study together with DNA samples from natural hosts (B. glabrata and B. straminea) from Brazil. The results revealed the presence of two genetically different populations of B. tenagophila in the São Paulo State. B. tenagophila populations from the hydrographic basins of Paraíba do Sul, Litoral Norte and Paranapanema didn't present genetic divergence values, being genetically homogeneous populations. B. tenagophila populations from the hydrographic basins of Ribeira do Iguape and Tietê presented 92% of genetic divergence, constituting genetically heterogeneous groups. The topology of the phylogenetic trees generated by Neighbor-Joining and Bayesian analysis confirm the observed values, which revealed two different clades from B. tenagophila species. The diversity analyses and genetic distance of the species from the ix Tenagophila Complex revealed larger evolutionary relationship among B. tenagophila guaibensis and B. occidentalis than among B. tenagophila. Then, it is suggested, starting from new studies, the taxonomic reevaluation of the species from this complex linking the results of genetic-molecular evaluations to the morphologic studies. The COI gene was a molecular marker capable to distinguish in an effective way the Biomphalaria species, identifying genetic divergence values intra and inter-population. This is an effective tool for taxonomic studies and can be applied with safety in malacological surveillance programs. x LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS π – diversidade de nucleotídeos °C – graus Celsius µL – microlitro µM – micromolar B. glabrata – Biomphalaria glabrata B. occidentalis – Biomphalaria occidentalis B. straminea – Biomphalaria straminea B. tenagophila – Biomphalaria tenagophila B. tenagophila guaibensis – Biomphalaria tenagophila guaibensis bp – base pair COI – Citocromo Oxidase I COX 1 – Cytochromo Oxidase 1 CVE – Centro de Vigilância Epidemiológica DNA – ácido desoxirribonucléico DNAmt – DNA mitocondrial dNTP – di-Nucleotide Tri-Phosphate GTR – General Time Reversible H – haplótipos HCO – High Cytochromo Oxidase Hd – diversidade de haplótipos ITS 1 – Internal Transcribed Spacer 1 ITS 2 – Internal Transcribed Spacer 2 K – número médio de diferenças nucleotídicas K2p – Kimura dois parâmetros LBBMSU – Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular da Superintendência de Controle de Endemias LCO – Low Cytochromo Oxidase xi MgCl2 – cloreto de magnésio mL – microlitro mM – milimolar ng – nanograma NJ – Neighbor-Joining OMS – Organização Mundial de Saúde pb – pares de base PCR – Polimerase Chain Reaction rDNA – DNA ribossômico RNA – ácido ribonucléico S – sítios de nucleotídeos variáveis S. mansoni – Schistosoma mansoni SigRH – Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos SUCEN – Superintendência de Controle de Endemias U – unidade UV – ultravioleta WHO – World Health Organization xii LISTA DE TABELAS Tabela 1: Número de casos autóctones de esquistossomose no estado de São Paulo, distribuído por bacia hidrográfica.................................................. 5 Tabela 2: Espécies de Biomphalaria descritas no Brasil, assinalando as hospedeiras naturais, potenciais e não hospedeiras de S. mansoni.............. 6 Tabela 3: Relação do histórico de casos de esquistossomose dos municípios e bacias hidrográficas de origem das amostras de DNA de caramujos utilizadas........................................................................................ 23 Tabela 4: Relação de espécies, municípios e bacias hidrográficas de origem das amostras de DNA de caramujos utilizadas................................... 24 Tabela 5: Diversidade genética calculada para Biomphalaria tenagophila e para os grupos de populações de Biomphalaria tenagophila distintos geneticamente................................................................................................. 34 Tabela 6: Parâmetros de divergência genética (Fst) entre populações de Biomphalaria tenagophila................................................................................ 35 Tabela 7: Diversidade genética calculada para espécies que compõem o Complexo Tenagophila.................................................................................... 39 Tabela 8: Matriz de distância genética entre espécies do Complexo Tenagophila..................................................................................................... 39 Tabela 9: Diversidade genética do grupo de espécies hospedeiras naturais............................................................................................................ 42 Tabela 10: Matriz de distância genética entre espécies do Complexo Tenagophila..................................................................................................... 42 Tabela 11: Diversidade genética calculada para populações de Biomphalaria.................................................................................................... 44 Tabela 12: Matriz de distância genética entre espécies do Gênero Biomphalaria.................................................................................................... 45 xiii LISTA DE FIGURAS Figura 1: Áreas endêmicas e focais da esquistossomose mansônica............ Figura 2: Esquema de identificação morfológica de Biomphalaria tenagophila...................................................................................................... Figura 3: Esquema de identificação morfológica de 8 Biomphalaria straminea......................................................................................................... Figura 5: Esquema de identificação morfológica de 7 Biomphalaria glabrata............................................................................................................ Figura 4: Esquema de identificação morfológica de 4 9 Biomphalaria occidentalis...................................................................................................... 10 Figura 6: Esquema de identificação morfológica de Biomphalaria tenagophila guaibensis.................................................................................... 11 Figura 7: Conchas das espécies e da subespécie de Biomphalaria que ocorrem no Brasil............................................................................................ 12 Figura 8: Distribuição geográfica de Biomphalaria glabrata, Biomphalaria tenagophila e Biomphalaria straminea no Brasil............................................ 14 Figura 9: Distribuição de Biomphalaria tenagophila no estado de São Paulo............................................................................................................... 15 Figura 10: Esquema de molécula de DNA mitocondrial de B. glabrata A seta azul indica oposicionamento do gene Citocromo Oxidase I (COX1)............................................................................................................ 18 Figura 11: Mapa do estado de São Paulo indicando os municípios de origem das amostras de DNA de caramujos do gênero Biomphalaria.................................................................................................... 23 Figura 12: Bacias hidrográficas do estado de São Paulo................................ 24 Figura 13: Fotografia de gel de agarose com amostras de DNA de caramujos amplificadas................................................................................... 28 xiv Figura 14: Imagem do software Chromas, utilizado para visualização de cromatogramas e correções de seqüências de DNA...................................... 29 Figura 15: Imagem do software de alinhamento de seqüências de DNA BioEdit............................................................................................................. 30 Figura 16: Imagem do software DNAsp utilizado para cálculos de diversidade genética........................................................................................ 31 Figura 17: Rede de haplótipos de Biomphalaria tenagophila gerada no software TCS................................................................................................... 36 Figura 18: Cladogramas de populações de Biomphalaria tenagophila do estado de São Paulo obtidas a partir de análise Bayesiana (A) e análise Neighbor-Joining – NJ (B)............................................................................... 37 Figura 19: Cladogramas das espécies que compõem o Complexo Tenagophila obtidos a partir de análise Bayesiana (A) e análise NeighborJoining – NJ (B)............................................................................................... 40 Figura 20: Cladogramas das espécies que compõem o grupo Hospedeiras Naturais obtidos a partir de análise Bayesiana (A) e análise NeighborJoining – NJ (B)............................................................................................... 43 Figura 21: Cladogramas de espécies do gênero Biomphjalaria obtidos a partir de análise Bayesiana (A) e análise Neighbor-Joining – NJ (B).............. 46 xv ÍNDICE RESUMO.......................................................................................... vii ABSTRACT...................................................................................... ix LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS........................................... xi LISTA DE TABELAS........................................................................ xiii LISTA DE FIGURAS........................................................................ xiv 1 INTRODUÇÃO.............................................................................. 3 1.1 A Esquistossomose mansônica............................................ 3 1.2 O gênero Biomphalaria......................................................... 5 1.2.1 A importância da biologia e dos estudos de marcadores moleculares aplicados aos caramujos do gênero Biomphalaria........................................................ 15 1.3 JUSTIFICATIVA......................................................................... 20 2 OBJETIVOS.................................................................................. 21 2.1 Objetivos Específicos............................................................ 21 2.2 Objetivos Gerais.................................................................... 21 3 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................. 22 3.1 Amostras de DNA de caramujos do gênero Biomphalaria............................................................................... 22 3.2 Procedimentos Moleculares.................................................. 27 3.2.1 Extração de DNA.................................................... 27 3.2.2 Amplificação do gene Citocromo Oxidase I (COI).. 27 3.2.3 Purificação e Seqüenciamento de DNA.................. 28 3.3 Análises Genéticas............................................................... 29 3.3.1 Alinhamentos.......................................................... 29 3.3.2 Variabilidade genética............................................. 30 3.3.3 Análise Filogenética................................................ 31 4 RESULTADOS.............................................................................. 33 4.1 Análise da variabilidade genética de Biomphalaria tenagophila................................................................................. 33 1 4.2 Análise da variabilidade genética das espécies do Complexo Tenagophila............................................................... 38 4.3 Análise da variabilidade genética das espécies do Grupo Hospedeiras Naturais................................................................. 41 4.4 Análise da variabilidade genética de quatro espécies e uma subeapécie do gênero Biomphalaria.................................. 44 5 DISCUSSÃO................................................................................. 47 6 CONCLUSÕES............................................................................. 51 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................. 53 ANEXOS.......................................................................................... 62 Anexo I: Carta de aprovação do Comitê de Ética em experimentação Animal.............................................................. 63 2 1 INTRODUÇÃO 1.1 A Esquistossomose Mansônica A esquistossomose humana é uma infecção parasitária comum na região tropical em países em desenvolvimento com áreas de baixo índice de desenvolvimento humano, o que a torna um problema de saúde pública. É a segunda doença mais prevalente depois da malária e causa mais óbitos do que a dengue (WHO 1993, 1999). A esquistossomose mansônica é registrada em 54 países, principalmente na África e América. Na América do Sul, destacam-se a região do Caribe, Venezuela e Brasil. Na África e Leste do Mediterrâneo, atinge as regiões do Delta do Nilo e países como Egito e Sudão (Ministério da Saúde, 2008). O número de pessoas com esquistossomose em todo o mundo foi estimado entre 150 e 200 milhões (WHO, 2010). No Brasil, admite-se existirem de seis a oito milhões de indivíduos infectados (Ministério da Saúde, 2007; Ohlweiler et al., 2010). O trematódeo Schistosoma mansoni, agente etiológico da esquistossomose mansônica, possui formas adultas que habitam os vasos mesentéricos do hospedeiro definitivo e as formas intermediárias se desenvolvem em caramujos gastrópodes aquáticos do gênero Biomphalaria (Ministério da Saúde, 2008). O homem é o hospedeiro definitivo principal, embora alguns roedores, marsupiais, carnívoros silvestres e ruminantes já tenham sido encontrados naturalmente infectados no Brasil. (Ministério da Saúde, 2006). Os ovos do S. mansoni são eliminados pelas fezes do hospedeiro definitivo. Na água, estes eclodem, liberando uma larva ciliada denominada miracídio que infecta o caramujo vetor. Após quatro a seis semanas, os moluscos infectados começam a eliminar uma outra forma larvária – as cercarias. O contato humano com águas infectadas pelas cercarias é a 3 maneira pela qual o indivíduo adquire a esquistossomose (Ministério da Saúde, 2008). A transmissão da doença depende da contaminação fecal de ambientes aquáticos e da existência de pessoas infectadas que apresentam contato freqüente com as coleções de água doce colonizadas por moluscos suscetíveis (Pieri, 1995). A manutenção e expansão da doença está ligada com a distribuição geográfica do caramujo hospedeiro intermediário e a sua compatibilidade com as diferentes linhagens do parasita (Hagan e Gryseels, 1994). No Brasil, a esquistossomose é considerada tradicionalmente como endemia rural, mas há crescente número de casos notificados em cidades altamente urbanizadas e de maior porte (Katz et al., 1993). No país, a doença foi descrita em 18 estados e no Distrito Federal (Figura 1). Os estados das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-oeste são os mais afetados. Estima-se que cerca de 25 milhões de pessoas vivem em áreas sob o risco de contrair a doença (Ministério da Saúde, 2009). Figura 1: Áreas endêmicas e focais da esquistossomose mansônica (Ministério da Saúde, 2008). 4 No estado de São Paulo, a maior ocorrência dos casos autóctones de esquistossomose está relacionada à transmissão da doença nas bacias hidrográficas Paraíba do Sul, Litorânea e Tietê, respectivamente (tabela 1) (Ministério da Saúde 2006, 2008). Tabela 1: Número de casos autóctones de esquistossomose no estado de São Paulo, distribuído por bacia hidrográfica. Períodos Bacia Hidrográfica Total 1981 – 1990 1991 – 2000 2001 – 2008 3 4 6 13 Litorânea 8564 1654 595 10813 Paraíba do Sul 9442 2723 393 12558 Paranapanema 989 234 46 1269 Rio Grande 150 67 66 283 0 0 3 3 Tietê 1551 1207 1034 3792 Total 20699 5889 2143 28731 Aguapeí - Peixe São José dos Dourados Fonte: CVE, 2008 (modificado). 1.2 O gênero Biomphalaria Os hospedeiros intermediários do S. mansoni pertencem ao Filo Mollusca, Classe Basommatophora, Gastropoda, Família Subclasse Planorbidae e Pulmonata, Gênero Ordem Biomphalaria. Os caramujos deste gênero são amplamente distribuídos na África, América do Sul, Caribe, sudoeste da Ásia (Arábia Saudita e Iêmen), na América Central e sul dos Estados Unidos (Bandoni et al., 1995). No Brasil, o gênero Biomphalaria compreende dez espécies e uma subespécie (tabela 2), sendo B. glabrata, B. tenagophila e B. straminea as espécies responsáveis pela transmissão da esquistossomose mansônica no país. 5 Tabela 2: Espécies de Biomphalaria descritas no Brasil, assinalando as hospedeiras naturais, potenciais e não hospedeiras de S. mansoni (Ministério da Saúde, 2008). Grupo de Espécie espécies Hospedeiras naturais Biomphalaria glabrata (Say, 1818) Biomphalaria tenagophila (Orbigny, 1835) Biomphalaria straminea (Dunker, 1848) Hospedeiras Biomphalaria amazonica Paraense, 1966 potenciais Biomphalaria peregrina (Orbigny, 1835) Biomphalaria intermedia (Paraense & Deslandes, 1962) Biomphalaria kuhniana (Clessin, 1883) Não Hospedeiras Biomphalaria schrammi (Crosse, 1864) Biomphalaria oligoza (Paraense, 1975) Biomphalaria occidentalis (Paraense, 1981) Biomphalaria tenagophila guaibensis (Paraense, 1984) Nota: Hospedeiras potenciais são espécies de caramujos do gênero Biomphalaria infectadas experimentalmente por Schistosoma mansoni. A identificação específica dos caramujos do gênero Biomphalaria, com exceção de B. glabrata e B. tenagophila que são identificadas pela presença de uma crista renal em B. glabrata, que está ausente em B.tenagophila (Paraense e Deslandes, 1959), é definida exclusivamente através de características morfológicas do aparelho reprodutor, conforme estabelecido pelo malacologista Wladimir Lobato Paraense (Paraense WL, 1975; 1981; 1984) (Figura 2, 3, 4, 5 e 6). As características conquiológicas dos caramujos (Figura 7) do gênero Biomphalaria são inapropriadas para a identificação espécie-específica. 6 A B C Figura 2: A) Desenho da concha de B. tenagophila: vista do lado direito, vista frontal e vista do lado esquerdo, respectivamente; B) manto mostrando o tubo renal liso; C) sistema reprodutor: canal coletor do ovoteste (cc), encruzilhada genital (eg), ovispermiduto proximal (odp), ovispermiduto distal (odd), ovoteste (ot) e vesícula seminal (vs); estruturas masculinas: bainha do pênis (bp), canal deferente (cd), espermiduto (ed), músculos do complexo peniano [retrator (mr) e protrator (mp)], prepúcio (pp) e próstata (pr); estruturas femininas: bolsa do oviduto (bo), bolsa vaginal (bv), espermateca (es), glândula nidamental (gn), oviduto (ov), vagina (va) e útero (ut); coração (co), pericárdio (pe), glândula de albúmen (ga), veia pulmonar (vp), veia renal (vr), tubo renal (tr), crista lateral (cl), colar do manto (cm), ureter (ur), meato do ureter (mu) e pneumóstoma (pn) (Fonte: Paraense, 1975). 7 A B C D Figura 3: A) Desenho da concha de B. glabrata: vista do lado direito, vista frontal e vista do lado esquerdo, respectivamente; B) manto de um exemplar adulto, onde se vê a crista renal; C) manto de um exemplar jovem com linha renal pigmentada; D) sistema reprodutor: canal coletor do ovoteste (cc), encruzilhada genital (eg), ovispermiduto proximal (odp), ovispermiduto distal (odd), ovoteste (ot) e vesícula seminal (vs); estruturas masculinas: bainha do pênis (bp), canal deferente (cd), espermiduto (ed), músculos do complexo peniano [retrator (mr) e protrator (mp)], prepúcio (pp) e próstata (pr); estruturas femininas: bolsa do oviduto (bo), bolsa vaginal (bv), espermáteca (es), glândula nidamental (gn), oviduto (ov), vagina (va) e útero (ut); coração (co), pericárdio (pe), glândula de albúmen (ga), veia pulmonar (vp), veia renal (vr), tubo renal (tr), crista lateral (cl), crista renal (cr), linha renal pigmentada (lr), colar do manto (cm), ureter (ur), meato do ureter (mu) e pneumóstoma (pn) (Fonte: Paraense, 1975). 8 A B C Figura 4: A) Desenho da concha de B. straminea: vista do lado direito, vista frontal e vista do lado esquerdo, respectivamente; B) manto, onde se vê o tubo renal liso; C) sistema reprodutor: canal coletor do ovoteste (cc), encruzilhada genital (eg), ovispermiduto proximal (odp), ovispermiduto distal (odd), ovoteste (ot) e vesícula seminal (vs); estruturas masculinas: bainha do pênis (bp), canal deferente (cd), espermiduto (ed), músculos do complexo peniano [retrator (mr) e protrator (mp)], prepúcio (pp) e próstata (pr); estruturas femininas: bolsa do oviduto (bo), enrugamento vaginal (ev), espermáteca (es), glândula nidamental (gn), oviduto (ov), vagina (va) e útero (ut); coração (co), pericárdio (pe), glândula de albúmen (ga), veia pulmonar (vp), veia renal (vr), tubo renal (tr), crista lateral (cl), colar do manto (cm), ureter (ur), meato do ureter (mu) e pneumóstoma (pn) (Fonte: Paraense, 1975). 9 A B C Figura 5: A) Desenho da concha de B. occidentalis: vista do lado direito, vista frontal e vista do lado esquerdo, respectivamente; B) manto mostrando o tubo renal liso; C) sistema reprodutor: canal coletor do ovoteste (cc), encruzilhada genital (eg), ovispermiduto proximal (odp), ovispermiduto distal (odd), ovoteste (ot) e vesícula seminal (vs); estruturas masculinas: bainha do pênis (bp), canal deferente (cd), espermiduto (ed), músculos do complexo peniano [retrator (mr) e protrator (mp)], prepúcio (pp) e próstata (pr); estruturas femininas: bolsa do oviduto (bo), espermáteca (es), glândula nidamental (gn), oviduto (ov) e vagina (va) (Fonte: Paraense, 1981). 10 A B Figura 6: Desenho da concha de B. tenagophila guaibensis: vista do lado direito, vista frontal e vista do lado esquerdo, respectivamente; B) sistema reprodutor: glândula nidamental (ng), oviduto (ov), músculo protator (pm), bolsa do oviduto (po), prepúcio (pp) próstata (pr) bainha do pênis (ps), músculo retarator (rm), espermiduto (sd), espermateca (sp), útero (ut), vagina (va), canal deferente (vd). (Fonte: Paraense, 1984). 11 Figura 7: Conchas das espécies e da subespécie de Biomphalaria que ocorrem no Brasil: A) Biomphalaria glabrata (Say, 1818); B) Biomphalaria tenagophila (Orbigny, 1835); C) Biomphalaria straminea (Dunker, 1848); D) Biomphalaria amazonica (Paraense, 1966); E) Biomphalaria peregrina (Orbigny, 1835); F) Biomphalaria intermedia (Paraense, Deslandes, 1962); G) Biomphalaria kuhniana (Clessin, 1883); H) Biomphalaria schrammi (Crosse, 1864); I) Biomphalaria oligoza (Paraense, 1975); J) Biomphalaria occidentalis (Paraense, 1981); L) Biomphalaria tenagophila guaibensis (Paraense, 1984). Escala: 5mm. (Fonte: Ministério da Saúde, 2008). 12 Das dez espécies e uma subespécie de Biomphalaria descritas no Brasil, no estado de São Paulo são encontradas oito espécies (B. glabrata, B. tenagophila, B. straminea, B. peregrina, B. occidentalis, B. schrammi, B.intermedia e B. oligoza) (Estrada et al., 2006; Ohlweiler et al., 2010), incluindo as três espécies hospedeiras naturais do S. mansoni. Biomphalaria glabrata é encontrada nos seguintes estados: Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe (Ohlweiler et al., 2010). Constitui o mais eficiente vetor da esquistossomose mansônica nas Américas, sendo responsável pelos focos mais ativos. Em laboratório infecta-se, geralmente, com muita facilidade, em proporções próximas a 100% e nos ambientes naturais já foi encontrada com taxas de positividade da ordem de 70% (Souza e Lima, 1990; Rey, 2001). A distribuição de B. tenagophila abrange os seguintes estados: Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo (Ohlweiler et al., 2010). Em geral, é encontrada com taxas de infecção naturais muito baixas, mesmo nos períodos mais favoráveis (Souza e Lima, 1990; Rey, 2001). Biomphalaria straminea é encontrada com freqüência em quase todas as bacias hidrográficas do Brasil; sua distribuição geográfica abrange todo território brasileiro, não havendo registro somente nos estados de Amapá e Rondônia. No Nordeste do país, desempenha importante papel na transmissão da esquistossomose, pois sua abundância em criadouros naturais compensa o fato de apresentar baixas taxas de infecção (Souza e Lima, 1990; Rey, 2001; Ministério da Saúde, 2008; Ohlweiler et al., 2010). A figura 8 mostra a distribuição geográfica de B. glabrata, B. tenagophila e B. straminea no Brasil (Ministério da Saúde, 2008). 13 A B C Figura 8: Distribuição geográfica de B. glabrata (A), B. tenagophila (B) e B. straminea (C) no Brasil (Fonte: Ministério da Saúde, 2008). Biomphalaria tenagophila é a espécie mais abundante no estado de São Paulo. Conforme demonstram os sucessivos levantamentos malacológicos, realizados por Teles (2005), dos caramujos do gênero Biomphalaria coletados, 91,7% foram da espécie B. tenagophila (Figura 9). 14 Figura 9: Distribuição de Biomphalaria tenagophila no estado de São Paulo (Fonte: SUCEN, 2004). 1.2.1 A importância da biologia e dos estudos de marcadores moleculares aplicados aos caramujos do gênero Biomphalaria Duas características biológicas são fundamentais para expansão e manutenção das populações de caramujos na natureza. A primeira delas relaciona-se ao modo de reprodução. Caramujos do gênero Biomphalaria se reproduzem tanto por fecundação cruzada quanto por autofecundação (Paraense, 1955), pois óvulos e espermatozóides são produzidos simultaneamente na glândula hermafrodita – o ovotestis. Além disso, a capacidade de sobrevivência dos caramujos em situações de privação completa e duradoura de água aumenta significativamente a capacidade de sobrevivência de uma fração de caramujos. Trata-se neste caso do processo denominado dessecação, um estado fisiológico vegetativo, que permite aos caramujos sobreviver em estado fisiológico basal por mais de trinta dias recolhidos à concha (Tuan e Simões, 1989). Por exemplo, no município de Tremembé / SP, 255 15 espécimes de B. tenagophila foram coletados numa vala de arroz completamente seca. Todos os espécimes estavam dessecados; em laboratório seis deles retornaram a atividade biológica alimentando-se e reproduzindo-se após reconstituição do ambiente aquático (comunicação pessoal, Tuan 2010). Esta é uma situação comum em populações de caramujos de regiões onde seca e enchente são intercaladas, constituindo habitats férteis para estudos sobre os mecanismos de manutenção dessas populações, cuja sobrevivência deve depender, sobretudo da autofecundação. A identificação morfológica das espécies do gênero Biomphalaria é de alta relevância para estudos epidemiológicos (Mascara e Morgante, 1995), mas, o que se observa na rotina de diagnóstico dos caramujos é que há dúvidas sobre a identificação de muitos animais devido à alta variação dos caracteres morfológicos dentro de uma mesma espécie. A análise e a comparação de seqüências de DNA têm permitido identificar com precisão espécies de difícil identificação morfológica, caracterizar populações, bem como estabelecer relações filogenéticas em numerosos grupos de organismos. Contudo, nem todas as regiões das seqüências de DNA são igualmente capazes de elucidar um mesmo problema (Barros-Battesti, 2006). A região espaçadora interna do DNA ribossômico tem sido empregada na diferenciação entre espécies crípticas (Di Muccio et al., 2000; Depaquit et al., 2002; Marcilla et al., 2001). Em Biomphalaria resultados significativos foram alcançados com o rDNA. Spatz e colaboradores (1999) conseguiram padrões moleculares diferenciados para B. tenagophila, B.tenagophila guaibensis e B. occidentalis (espécies de difícil caracterização morfológica) por meio de marcadores de rDNA (ITS1). Vidigal e colaboradores (2000), utilizando a mesma técnica, conseguiram padrões moleculares diferenciados para seis espécies e duas subespécies de Biomphalaria, com exceção de B. occidentalis, B. tenagophila guaibensis, B.oligoza e B. peregrina. 16 Análises com o segundo espaçador interno (ITS2) mostraram maior eficácia na comparação entre diferentes espécies de Biomphalaria (Vidigal et al., 1998; Spatz et al., 1999; Vidigal et al., 2000) permitindo a reconstrução filogenética destes grupos. Tuan e Santos (2007) mostraram por meio de ITS2 que B. tenagophila é tão variável geneticamente quanto B. glabrata e que o padrão de distribuição genética pode estar relacionado com diferenças na adaptação a diferentes habitats de água doce (Tuan, 2009). O DNAmt reúne muitas características desejáveis que devem possuir um marcador genético, por isso, tem sido amplamente utilizado para analisar as relações evolutivas entre espécies e a dinâmica das trocas que se produzem em níveis micro e macro-evolutivos (Barros-Battesti, 2006). Também apresenta como característica importante o fato de apresentar variações de uma ou poucas bases de DNA (Barros-Battesti, 2006) que podem ser usadas no cálculo de parâmetros de fluxo gênico e deriva genética. O DNAmt é herdado maternalmente e não recombina, permitindo análise filogenética de linhagens maternais (Mérida et al., 1999; Costa-daSilva et al., 2005). O DNAmt é igualmente importante para estudos evolutivos porque apresenta segmentos conservados intercalados a segmentos variáveis que permitem o seqüenciamento de genes específicos (Avise, 1994). A estrutura do DNAmt é simples (figura 10); com raras exceções, o DNAmt é uma molécula circular, com 15-20 kilobases de nucleotídeos arranjados em genes que codificam proteínas do sistema de transporte celular de elétrons e da fosforilação oxidativa, além de genes que codificam RNAs transportadores, ribossômicos e mensageiros. Os íntrons, famílias de nucleotídeos repetidos e pseudogenes são raros (Avise, 1994). Nos últimos anos uma porção do gene citocromo oxidase I (COI) tem sido usada como fonte de identificação de espécies animais caracterizando o código de barras da vida (Barcoding of Life) (Herbert, 2003). No gênero Biomphalaria, regiões codificadoras do DNA mitocondrial para os genes COI e a porção 16S de rDNA permitiram confirmar a caracterização genética entre espécies similares, cujo status taxonômico 17 pode ser questionado quando utilizamos apenas características morfológicas (Spatz et al., 1999, DeJong et al., 2001, 2003, Mavárez et al., 2002, Pointier et al., 2005). Outras modalidades de marcadores moleculares são empregadas para: 1) diagnosticar a diversidade genética em espécies diferentes de caramujos (Stothard e Rollinsson, 1997; Kristensen et al., 1999); 2) estimar diferenças genéticas em espécimes de caramujos de uma mesma espécie de localidades geográficas diferentes (Vidigal et al., 1994); 3) comparar linhagens estabelecidas em condições de laboratório (Larson et al., 1996); 4) discriminar progênies produzidas por autofecundação e fecundação cruzada. Figura 10: Esquema de molécula de DNA mitocondrial de B. glabrata. A seta azul indica o posicionamento do gene Citocromo Oxidase I (COX1). (Fonte: DeJong et al., 2004). 18 Há vários loci de microsatélites descritos para caramujos hermafroditas, principalmente B. glabrata (Jones et al., 1999). Não raramente esses trabalhos apontam para deficiência de heterozigotos nas populações naturais em conseqüência dos efeitos do endocruzamento, ou da transitoriedade das populações naturais e alta fragmentação da variabilidade genética total em subpopulações de uma mesma espécie (Woodruff et al., 1999). A aplicação de ferramentas moleculares permitiu a caracterização da variabilidade genética nos hospedeiros intermediários do S. mansoni. No caso de B. glabrata, a espécie está estruturada em seis clados geneticamente distintos (DeJong et al., 2001, 2003). A diversidade genética identificada em caramujos hospedeiros intermediários do S. mansoni levou alguns autores a supor que B. glabrata (Mavárez et al., 2002), B. tenagophila (Spatz et al., 1999), e B. straminea (Paraense, 1988) sejam formados por complexos de espécies similares, que podem apresentar diferenças na suscetibilidade ao S. mansoni. 19 1.3 Justificativa O estudo dos hospedeiros intermediários da esquistossomose (incluindo sua taxonomia, genética, distribuição e ecologia) é importante para que se possa interpretar corretamente o papel que cumprem na transmissão da doença e se possa orientar as medidas de controle, adequadas a cada localidade, dirigidas aos caramujos (Ministério da Saúde, 2008). Dessa forma, as ações de vigilância malacológica são estratégicas no controle da esquistossomose. 20 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivos Específicos Avaliar a diversidade genética molecular da espécie Biomphalaria tenagophila por meio do gene mitocondrial Citocromo Oxidase I (COI), amplificado a partir de amostras de DNA genômico obtidas de caramujos coletados em diferentes bacias hidrográficas do estado de São Paulo, ao longo de dez anos, e depositados na “DNAteca” (biblioteca de DNA) do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular da Superintendência de Controle de Endemias - LBBMSU. 2.2 Objetivos Gerais Porque Biomphalaria tenagophila pertence a um complexo de espécies que inclui a B. occidentalis e a subespécie B. tenagophila guaibensis, a análise genético-molecular foi ampliada para estimar a diversidade de cada um destes componentes dentro do Complexo Tenagophila. Analisar a eficiência do gene Citocromo Oxidase I (COI) para o desenvolvimento de um sistema de identificação molecular (Barcode) de caramujos do gênero Biomphalaria. 21 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Amostras de DNA de caramujos do gênero Biomphalaria Foram utilizadas 62 amostras de DNA de caramujos do gênero Biomphalaria componentes do banco de DNAs (DNAteca) preservados em freezer -70ºC no Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular da Superintendência de Controle de Endemias. Da DNAteca não fizeram parte amostras de DNA de caramujos parasitados com cercárias de qualquer espécie. Cada uma das amostras de DNA corresponde a um animal identificado ao nível de espécie de acordo com as características morfológicas do aparelho reprodutor (Paraense, 1975; 1981; 1984) (figuras 2, 3, 4, 5 e 6). Os vouchers foram preservados em fixador Raillet-Henry. As amostras foram usualmente identificadas também quanto a origem de coleta dos animais e ao código de referência do banco de DNAs. As amostras utilizadas pertencem a doze municípios do estado de São Paulo (Araraquara, Cândido Mota, Caraguatatuba, Ipauçu, Juquiá, Martinópolis, Ourinhos, Pindamonhangaba, Presidente Prudente, Registro, Sorocaba e Taubaté) (figura 11) e a dois municípios do estado do Rio Grande do Sul (Esteio e Porto Alegre). As amostras de DNA de caramujos do gênero Biomphalaria pertencentes ao município de São Paulo representam municípios e bacias hidrográficas com diferentes taxas de transmissão da esquistossomose, segundo Centro de Vigilância Epidemiológica (Ministério da Saúde, 2008) (tabela 3 e figura 12). Das 62 amostras de DNA utilizadas, 41 amostras são B.tenagophila, duas amostras são da subespécie B. tenagophila guaibensis, oito de B. occidentalis, quatro de B. glabrata e sete de B. straminea (tabela 4). 22 Figura 11: Mapa do estado de São Paulo indicando os municípios de origem das amostras de DNA de caramujos do gênero Biomphalaria. Tabela 3: Relação do histórico de casos de esquistossomose dos municípios e bacias hidrográficas de origem das amostras de DNA de caramujos utilizadas. Bacia Hidrográfica Municípios 1981 - 1990 1991 - 2000 2001 – 2008 Total Caraguatatuba 1 33 61 95 Juquiá 22 1 4 27 Registro 4 2 2 8 Pindamonhangaba 1254 312 51 1617 Taubaté 923 157 25 1105 Cândido Mota 0 0 1 1 Ipauçu 5 4 0 9 Martinópolis 0 0 2 2 Ourinhos 896 214 19 1129 Presidente Prudente 0 1 1 2 Araraquara 1 131 23 155 Sorocaba 0 2 2 4 Litorânea Paraíba do Sul Períodos Paranapanema Tietê Fonte: CVE, 2008 (modificado). Nota: A bacia hidrográfica do rio Ribeira do Iguape está inserida na parte sul da bacia hidrográfica Litorânea. 23 Figura 12: Bacias hidrográficas do estado de São Paulo (Fonte: SigRH, 2010 modificado). Tabela 4: Relação de espécies, municípios e bacias hidrográficas de origem das amostras de DNA de caramujos utilizadas. Espécie Nº DNA LBBMSU Origem Bacia hidrográfica Código LBBMSU B. tenagophila 019 Sorocaba Tietê 019 Btt B. tenagophila 020 Sorocaba Tietê 020 Btt B. tenagophila 021 Sorocaba Tietê 021 Btt B. tenagophila 022 Sorocaba Tietê 022 Btt B. tenagophila 024 Sorocaba Tietê 024 Btt B. tenagophila 272 Ourinhos Paranapanema 272 Btt B. tenagophila 273 Ourinhos Paranapanema 273 Btt B. tenagophila 274 Ourinhos Paranapanema 274 Btt B. tenagophila 288 Ipauçu Paranapanema 288 Btt B. tenagophila 289 Ipauçu Paranapanema 289 Btt 24 Espécie Nº DNA LBBMSU Origem Bacia hidrográfica Código LBBMSU B. tenagophila 290 Ipauçu Paranapanema 290 Btt B. tenagophila 296 Ipauçu Paranapanema 296 Btt B. tenagophila 297 Ipauçu Paranapanema 297 Btt B. tenagophila 298 Ipauçu Paranapanema 298 Btt B. tenagophila 299 Ipauçu Paranapanema 299 Btt B. tenagophila 308 Ourinhos Paranapanema 308 Btt B. tenagophila 309 Ourinhos Paranapanema 309 Btt B. tenagophila 310 Ourinhos Paranapanema 310 Btt B. tenagophila 335 Ipauçu Paranapanema 335 Btt B. tenagophila 336 Ipauçu Paranapanema 336 Btt B. tenagophila 351 Registro Ribeira do Iguape 351 Btt B. tenagophila 352 Registro Ribeira do Iguape 352 Btt B. tenagophila 354 Juquiá Ribeira do Iguape 354 Btt B. tenagophila 355 Juquiá Ribeira do Iguape 355 Btt B. tenagophila 356 Juquiá Ribeira do Iguape 356 Btt B. tenagophila 357 Juquiá Ribeira do Iguape 357 Btt B. tenagophila 359 Juquiá Ribeira do Iguape 359 Btt B. tenagophila 372 Caraguatatuba Litorânea 372 Btt B. tenagophila 373 Caraguatatuba Litorânea 373 Btt B. tenagophila 374 Caraguatatuba Litorânea 374 Btt B. tenagophila 375 Caraguatatuba Litorânea 375 Btt B. tenagophila 376 Caraguatatuba Litorânea 376 Btt B. tenagophila 377 Caraguatatuba Litorânea 377 Btt B. tenagophila 378 Caraguatatuba Litorânea 378 Btt B. tenagophila 381 Pindamonhangaba Paraíba do Sul 381 Btt B. tenagophila 383 Pindamonhangaba Paraíba do Sul 383 Btt B. tenagophila 385 Taubaté Paraíba do Sul 385 Btt B. tenagophila 391 Taubaté Paraíba do Sul 391 Btt B. tenagophila 395 Ipauçu Paranapanema 395 Btt B. tenagophila 409 Ipauçu Paranapanema 409 Btt 25 Espécie Nº DNA LBBMSU Origem Bacia hidrográfica Código LBBMSU B. tenagophila 422 Araraquara Tietê 422 Btt B.t. guaibensis 365 Porto Alegre (RS) - 365 Btg B.t. guaibensis 366 Porto Alegre (RS) - 366 Btg B. occidentalis 234 Cândido Mota Paranapanema 234 Boc B. occidentalis 235 Presidente Prudente Paranapanema 235 Boc B. occidentalis 293 Ourinhos Paranapanema 293 Boc B. occidentalis 294 Ourinhos Paranapanema 294 Boc B. occidentalis 321 Ourinhos Paranapanema 321 Boc B. occidentalis 330 Ourinhos Paranapanema 330 Boc B. occidentalis 438 Martinópolis Paranapanema 438 Boc B. occidentalis 439 Martinópolis Paranapanema 439 Boc B. glabrata 340 Esteio (RS) - 340 Bgl B. glabrata 341 Esteio (RS) - 341 Bgl B. glabrata 412 Ourinhos Paranapanema 412 Bgl B. glabrata 414 Ourinhos Paranapanema 414 Bgl B. straminea 430 Araraquara Tietê 430 Bst B. straminea 431 Presidente Prudente Paranapanema 431 Bst B. straminea 432 Presidente Prudente Paranapanema 432 Bst B. straminea 433 Presidente Prudente Paranapanema 433 Bst B. straminea 434 Presidente Prudente Paranapanema 434 Bst B. straminea 436 Presidente Prudente Paranapanema 436 Bst B. straminea 437 Presidente Prudente Paranapanema 437 Bst 26 3.2 Procedimentos Moleculares 3.2.1. Extração de DNA O pé de cada caramujo foi retirado para obtenção de tecido para extração de DNA. Esse procedimento inicia-se esmagando o animal vivo entre duas placas de Petri com força moderada para que a concha seja quebrada e o animal permaneça vivo. Então são retirados os fragmentos de concha da parte mole do animal, utilizando pinças de ponta afiada e estiletes para remoção dos pés. A partir de então, os procedimentos de extração de DNA foram realizados utilizando-se o kit DNEasy Tissue Kit (Qiagen®) com a metodologia de extração descrita pelo fabricante. Para conferir a eficiência da extração do DNA genômico, as amostras foram submetidas à eletroforese em gel de agarose 1,5% e visualizadas por meio de Trans-iluminador Eletrônico UV (Ultra-Lum). 3.2.2 Amplificação do gene Citocromo Oxidase I (COI) Para a amplificação específica do gene Citocromo Oxidase I (COI) foi empregada à metodologia da Reação em Cadeia da Polimerase – PCR (Polymerase Chain Reaction), que consiste em replicar, de modo exponencial, seqüências específicas do DNA a partir de iniciadores (primers). Os primers utilizados foram os descritos por Folmer (1994), nomeados: LCO (5’ GGTCAACAAATCATAAAGATATTGG 3’) HCO (5’ TAAACTTCAGGGTGACCAAAAAATCA 3’) Reações de PCR foram preparadas utilizando as seguintes concentrações finais: 1x Green Buffer Promega®, 1,5mM MgCl2, 0,2mM de cada dNTP, 0,5µM de cada primer, 1U de TaqPolimerase, DNA mãe em 27 concentração máxima abaixo de 250ng/µL e água bidestilada autoclavada para completar o volume final de 50µL de reação para cada microtubo de 0,5mL. As reações ocorreram em termociclador MJResearch® com o seguinte protocolo de amplificação: temperatura inicial de 95ºC durante 3 minutos para desnaturação da dupla fita de DNA; 25 ciclos à 95ºC durante 1 minuto, 47ºC durante 1 minuto para hibridação dos primers, 72ºC durante 1 minuto e 30 segundos para extensão do trecho do DNA alvo, finalizando por extensão final à 72ºC por 7 minutos. A eficiência da amplificação das amostras de DNA foi observada por meio de eletroforese em gel de agarose 1,5% (figura 13) e os géis foram verificados por meio de Trans-iluminador Eletrônico UV (Ultra-Lum). Fotografias digitais dos géis de agarose foram obtidas por meio de câmera Canon® acoplada a computador. As fotografias foram analisadas por meio do software Launch Doc-ItLS. Figura 13: Fotografia de gel de agarose com amostras de DNA de caramujos amplificadas. Cada amostra corresponde a 600pb. 3.2.3 Purificação e seqüenciamento de DNA Os produtos da PCR foram purificados através do kit QIAquick Purification Kit (Qiagen®) utilizando a metodologia de purificação descrita pelo fabricante. As purificações dos produtos de PCR foram realizadas para eliminar resíduos de baixo peso molecular como sais, primers e dNTPs, possibilitando o sequenciamento das amostras. Os produtos de purificação foram submetidos à eletroforese em gel de agarose 1,5%. O marcador de peso molecular 100bp Low Mass Ladder (Invitrogen®) foi utilizado para estimar visualmente a quantidade de DNA 28 obtida após o processo de purificação. Em seguida as amostra foram quantificadas utilizando espectrofotômetro BioMate3 (Thermo Electron Corporation). Amostras com mínimo de 20ng de DNA/µL foram encaminhadas para o Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan, onde foram seqüenciadas utilizando seqüenciador automático ABI3100 (Applied Byosistems®). 3.3 Análises Genéticas 3.3.1 Alinhamentos As seqüências de DNA foward e reverse foram corrigidas simultaneamente no software Chromas (figura 14). Após as correções, as seqüências foram alinhadas por meio de algoritmos implementados pelo software Clustal X (Thompson et al., 1997). Para otimização dos alinhamentos foram feitos ajustes visualmente. Conjuntos de alinhamentos foram editados em BioEdit (Hall, 1999) (figura 15). Figura 14: Imagem do software Chromas, utilizado para visualização de cromatogramas e correções de seqüências de DNA. 29 Figura 15: Imagem do software de alinhamento de seqüências de DNA BioEdit. 3.3.2 Variabilidade genética A análise da distribuição da variabilidade de nucleotídeos nas seqüências de um mesmo grupo ou de grupos distintos foi calculada com o uso do software DNAsp (Rozas et al., 2003) (figura 16) que estima parâmetros de diversidade de nucleotídeos (π), diversidade de haplótipos (Hd) e os parâmetros de divergência genética entre diferentes populações (Fst). 30 Figura 16: Imagem do software DNAsp utilizado para cálculos de diversidade genética. 3.3.3 Análise filogenética Foram utilizados dois métodos para as inferências filogenéticas. No primeiro método as distâncias genéticas entre seqüências foram calculadas utilizando o modelo de substituição de nucleotídeos Kimura 2 Parâmetros – 31 K2p (Kimura, 1980) e o método de agrupamento de vizinhos (NeighborJoining) implementados no software de análises filogenéticas MEGA (Tamura et al., 2007). Para a reconstrução filogenética inferidas por meio de análise Bayesiana foi utilizado o programa MrBayes (Huelsenbeck, Ronquist, 2001; Ronquist, Huelsenbeck, 2003), que se baseia na distribuição de probabilidades posteriores conforme o teorema de probabilidades de Bayes. Neste caso, a seleção do modelo de substituição de nucleotídeos, mais ajustado aos conjuntos de sequências alinhadas, foi determinada pelo cálculo de verossimilhança no software PAUP (Swofford, 2002). O menor valor de verossimilhança foi calculado no software MrModeltest 2.3 (Nylander, 2004). Foram geradas 1,5 x 106 gerações de árvores, salvas a cada 100 gerações. As primeiras 1500 amostras de cada geração de árvores foram descartadas como “burn-in”. Com o uso do software TCS 2.1 (Clement et al., 2000) foi realizado o cálculo para a estimativa de genealogia genética, representada por uma rede de haplótipos. 32 4 RESULTADOS 4.1. Análise da variabilidade genética de Biomphalaria tenagophila Foi analisada a diversidade genética do gene mitocondrial COI de 41 amostras de DNA de caramujos da espécie B. tenagophila, sendo uma amostra do município de Araraquara, sete amostras do município de Caraguatatuba, onze de Ipauçu, cinco de Juquiá, seis de Ourinhos, duas de Pindamonhangaba, duas de Registro, cinco de Sorocaba e duas de Taubaté. Após o alinhamento e edição, as 41 seqüências do gene COI apresentaram 572 pares de base (pb), composto por 23 sítios de nucleotídeos variáveis (S) e nove subgrupos de seqüências polimórficas – haplótipos (H) com 53% de diversidade haplotípica (Hd). Ao distribuir os subgrupos de haplótipos conforme a bacia hidrográfica de origem dos caramujos foram observados um grupo de seqüências sem polimorfismo distribuída em municipios localizados nas bacias hidrográficas Paraíba do Sul, Paranapanema e Litoral Norte, aqui denominado Grupo I, e um segundo grupo de seqüências polimórficas entre si, 92% de diversidade haplotípica (Hd), de caramujos oriundos de municípios das bacias hidrográficas do Ribeira do Iguape e Tietê, denominado Grupo II (tabela 5). Os valores do índice inbreeding – Fst (Wright, 1931) que indica o grau de divergência genética entre as populações dos municípios do Grupo I (Paranapanema, Litoral Norte e Paraíba do Sul) e as populações dos municípios do Grupo II (Paraíba do Sul e Tietê) são apresentados na tabela 6. Os municípios pertencentes ao Grupo I não apresentaram divergência genética (Fst = 0,00) entre si, indicando homogeneidade genética. Os municípios pertencentes ao Grupo II apresentaram valores de divergência genética entre 0,04 e 0,40 entre si, indicando heterogeneidade. Foi observada divergência genética de 40% entre as populações dos municípios de Juquiá e Registro, e de 30% entre as populações de Juquiá e Sorocaba; 33 enquanto que as populações dos municípios de Registro e Sorocaba apresentaram valor de divergência genética igual a 4%. Os valores extremos do coeficiente Fst entre populações das bacias hidrográficas do Paranapanema, Paraíba do Sul e Litoral Norte, e das bacias hidrográficas do Ribeira do Iguape e Tietê (Fst de 84% a 88%) confirmam a divergência entre as populações dos Grupos I e II (tabela 6). Tabela 5: Diversidade genética calculada para Biomphalaria tenagophila e para os grupos de populações de Biomphalaria tenagophila distintos geneticamente. População N H S K Hd Π B. tenagophila 41 9 23 4,758 0,532 ± 0,093 0,0083 ± 0,0012 Grupo I 28 1 0 0,0000 0,000 ± 0,000 0,0000 ± 0,0000 Grupo II 13 8 16 4,0769 0,923 ± 0,050 0,0071 ± 0,0010 N= Número de seqüências, H= Número de haplótipos; S= Número de sítios variáveis; K= Número médio de diferenças nucleotídicas; Hd= Diversidade haplotípica; Π= Diversidade nucleotídica. A rede de haplótipos para B. tenagophila relacionada ao gene mitocondrial COI apresenta conexões entre haplótipos que aparecem em 95% das soluções encontradas para o número de mutações analisadas pelo software TCS (Clement, 2000) (figura 17). A distinção entre os grupos I e II de B. tenagophila foi igualmente observada em árvores que descrevem as relações genéticas evolutivas, geradas pelo método de Neighbor-Joining (NJ), calculada pelo modelo evolutivo Kimura 2 parâmetros (K2p); e pelo método de análise Bayesiana, calculada pelo modelo General Time Reversible (GTR). As topologias resultantes são congruentes e apresentam dois clados distintos (figura 18). 34 Tabela 6: Parâmetros de divergência genética (Fst) entre populações de Biomphalaria tenagophila. Municípios Car* Ipa* Juq** Our* Pin* Reg** Sor** Tau* Car* - - - - - - - - Ipa* 0,0000 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Juq** 0,8437 0,8437 Our* 0,0000 0,0000 0,8437 Pin* 0,0000 0,0000 0,8437 0,0000 Reg** 0,8421 0,8421 0,3023 0,8421 0,8421 Sor** 0,8854 0,8854 0,4090 0,8854 0,8854 0,0400 Tau* 0,0000 0,0000 0,8437 0,0000 0,0000 0,8421 0,8854 - Municípios: Car = Caraguatatuba; Juq = Juquiá; Our = Ourinhos; Pin = Pindamonhangaba; Reg = Registro; Sor = Sorocaba e Tau = Taubaté. * : municípios pertencentes ao Grupo I (Paranapanema, Litoral Norte e Paraíba do Sul). ** : Municípios pertencentes ao Grupo II (Paraíba do Sul e Tietê). Nota: O software DNAsp, para cálculos de divergência genética (Fst), não calcula populações representadas por apenas uma seqüência, razão pela qual o município de Araraquara não estar incluído nesta análise. 35 Figura 17: Rede de haplótipos de Biomphalaria tenagophila gerada no software TCS. 36 A B Figura 18: Cladogramas de populações de Biomphalaria tenagophila do estado de São Paulo obtidas a partir de análise Bayesiana (A) e análise Neighbor-Joining – NJ (B). Em azul (■) estão representadas as populações de Biomphalaria tenagophila pertencentes às bacias hidrográficas do Paranapanema, Paraíba do Sul e Litoral Norte. Em laranja (■) estão representadas as populações de Biomphalaria tenagophila pertencentes às bacias hidrográficas Ribeira do Iguape e Tietê. 37 4.2. Análise da variabilidade genética das espécies do Complexo Tenagophila Foram analisadas 51 seqüências de DNA de caramujos do gênero Biomphalaria que compõem o Complexo Tenagophila de difícil identificação morfológica, ou seja, 41 seqüências de DNA de B. tenagophila descritas anteriormente (tópico 4.1); mais oito seqüências de DNA de B. occidentalis, sendo uma amostra do município de Cândido Mota, uma de Presidente Prudente, quatro amostras do município de Ourinhos e duas amostras do município de Martinópolis; e duas seqüências de DNA da subespécie B. tenagophila guaibensis do município de Porto Alegre situado no estado do Rio Grande do Sul. As seqüências de DNA do gene mitocondrial COI alinhadas apresentaram 572 pares de base (pb), composto por 50 sítios de nucleotídeos variáveis (S) e treze haplótipos (H) com 68% de diversidade haplotípica (Hd) (tabela 7). Os valores de diversidade genética de B. tenagophila foram descritos anteriormente (tópico 4.1). As seqüências de B. occidentalis apresentaram dois sítios de nucleotídeos variáveis (S) e três haplótipos (H) distintos, resultando em 46% de diversidade haplotípica (Hd). As seqüências de B.tenagophila guaibensis não apresentaram valores de diversidade genética e possuem haplótipo comum entre as seqüências analisadas (tabela 7). 38 Tabela 7: Diversidade genética calculada para espécies que compõem o Complexo Tenagophila. População N H S K Hd Π Complexo Tenagophila 51 13 50 12,006 0,686 ± 0,069 0,0218 ± 0,0030 B. tenagophila 41 9 21 4,439 0,532 ± 0,093 0,0080 ± 0,0012 B. occidentalis 8 3 2 0,500 0,464 ± 0,200 0,0009 ± 0,0004 B. tenagophila guaibensis 2 1 0 0,000 0,000 ± 0,000 0,0000 ± 0,0000 N= Número de seqüências, H= Número de haplótipos; S= Número de sítios variáveis; K= Número médio de diferenças nucleotídicas; Hd= Diversidade haplotípica; Π= Diversidade nucleotídica. A matriz de distância genética, que indica valores de proximidade evolutiva entre as espécies, foi calculada no software MEGA para as espécies do Complexo Tenagophila e indicou maior proximidade genética entre B. tenagophila guaibensis e B. occidentalis (0,358) que B. tenagophila guaibensis e B. tenagophila (0,435) (tabela 8). Tabela 8: Matriz de distância genética entre espécies do Complexo Tenagophila. Espécies B.tenagophila guaibensis B. occidentalis B. tenagophila B.tenagophila guaibensis - - - B. occidentalis 0,0358 - - B. tenagophila 0,0435 0,0543 - Foram geradas árvores filogenéticas pelo método de Neighbor-Joining (NJ), calculada pelo modelo evolutivo Kimura 2 parâmetros (K2p) e pelo método de análise Bayesiana, calculada pelo modelo General Time Reversible + I (GTR + I). As topologias resultantes são congruentes e apresentam dois grupos filogenéticos distintos (figura 19). 39 A B Figura 19: Cladogramas obtidos a partir de análise Bayesiana (A) e análise Neighbor-Joining – NJ (B), composto por caramujos do gênero Biomphalaria pertencentes ao Complexo Tenagophila. Em verde (■) Biomphalaria tenagophila; em amarelo (■) Biomphalaria occidentalis; em cinza (■) a subespécie Biomphalaria tenagophila guaibensis. 40 4.3. Análise da variabilidade genética das espécies do Grupo Hospedeiras Naturais Foram analisadas 52 seqüências de DNA de caramujos do gênero Biomphalaria que compõem o grupo responsável pela transmissão do S.mansoni no Brasil. As 41 seqüêncas de DNA de B. tenagophila descritas anteriormente (tópico 4.1); mais sete amostras de DNA de B. straminea, sendo uma amostra do município de Araraquara e seis amostras de Presidente Prudente; mais quatro amostras de DNA de B. glabrata, sendo duas do município de Esteio, situado no estado do Rio Grande do Sul e duas amostras do município de Ourinhos, estado de São Paulo. As seqüências de DNA do gene mitocondrial COI alinhadas apresentaram 550 pares de base (pb), 83 sítios de nucleotídeos foram variáveis (S) e quinze haplótipos (H) com 70% de diversidade haplotípica (Hd) (tabela 9). Os valores de diversidade genética de B. tenagophila foram descritos anteriormente (tópico 4.1). Biomphalaria straminea apresentou oito sítios de nucleotídeos variáveis (S) e três haplótipos (H) distintos, resultando em 71% de diversidade haplotípica (Hd). Biomphalaria glabrata apresentou dezesseis sítios de nucleotídeos variáveis (S) e quatro haplótipos (H) distintos, resultando em 83% de diversidade haplotípica (Hd). (tabela 9). 41 Tabela 9: Diversidade genética do grupo de espécies hospedeiras naturais. População N H S K Hd Π Hospedeiras Naturais 52 15 83 19,881 0,705 ± 0,069 0,0361 ± 0,0060 B. tenagophila 41 9 21 4,439 0,532 ± 0,093 0,0080 ± 0,0012 B. straminea 7 3 8 3,428 0,714 ± 0,127 0,0062 ± 0,0015 B. glabrata 4 3 16 10,000 0,833 ± 0,222 0,0181 ± 0,0052 N= Número de seqüências, H= Número de haplótipos; S= Número de sítios variáveis; K= Número médio de diferenças nucleotídicas; Hd= Diversidade haplotípica; Π= Diversidade nucleotídica. A matriz de distância genética, que indica valores de proximidade evolutiva entre espécies, foi calculada no software MEGA e apresentou valores entre 89% e 95% para as espécies do grupo Hospedeiras Naturais (tabela 10). Tabela 10: Matriz de distância genética entre espécies do Complexo Tenagophila. Espécie B. tenagophila B. straminea B. glabrata B. tenagophila - - - B. straminea 0,0892 - - B. glabrata 0,0936 0,0955 - Foram geradas árvores filogenéticas pelo método de Neighbor-Joining (NJ), calculada pelo modelo evolutivo Kimura 2 parâmetros (K2p) e pelo método de análise Bayesiana, calculada pelo modelo General Time Reversible + I (GTR + I). As topologias resultantes são congruentes e apresentam três grupos filogenéticos distintos (figura 20). 42 A B Figura 20: Cladogramas obtidos a partir de análise Bayesiana (A) e análise Neighbor-Joining – NJ (B) composto por caramujos do gênero Biomphalaria pertencentes ao grupo de espécies hospedeiras naturais, responsáveis pela transmissão da esquistossomose mansônica no Brasil. Em verde (■) Biomphalaria tenagophila; em azul (■) Biomphalaria straminea; em vermelho (■) Biomphalaria glabrata. 43 4.4. Análise da variabilidade genética de quatro espécies e uma subespécie do gênero Biomphalaria Foram analisadas 62 seqüências de caramujos do gênero Biomphalaria que após alinhamento e edição apresentaram 550 pares de base (pb), 94 sítios de nucleotídeos variáveis (S) e dezenove haplótipos (H) com 78% de diversidade haplotípica (Hd) (tabela 11). As informações referentes às espécies, sua origem, e cálculos de diversidade genética foram descritas anteriormente (tópicos 4.1, 4.2 e 4.3). Tabela 11: Diversidade genética calculada para populações de Biomphalaria. População N H S K Hd Π Biomphalaria 62 19 94 22,868 0,785 ± 0,052 0,0416 ± 0,0049 B. tenagophila 41 9 21 4,439 0,532 ± 0,093 0,0080 ± 0,0012 B. glabrata 4 3 16 10,000 0,833 ± 0,222 0,0181 ± 0,0052 B. straminea 7 3 8 3,428 0,714 ± 0,127 0,0062 ± 0,0015 B. occidentalis 8 3 2 0,500 0,464 ± 0,200 0,0009 ± 0,0004 2 1 0 0,000 0,000 ± 0,000 0,0000 ± 0,0000 B. tenagophila guaibensis N= Número de seqüências, H= Número de haplótipos; S= Número de sítios variáveis; K= Número médio de diferenças nucleotídicas; Hd= Diversidade haplotípica; Π= Diversidade nucleotídica. A matriz de distância genética, que indica valores de proximidade evolutiva entre espécies, foi calculada no software MEGA e apresentou valores entre 35% e 95% para as espécies e subespécie do gênero Biomphalaria estudadas (tabela 12). 44 Tabela 12: Matriz de distância genética entre espécies do Gênero Biomphalaria. Espécies B.tenagophila B.glabrata B.straminea B.occidentalis B.tenagophila guaibensis B.tenagophila - - - - - B.glabrata 0,0936 - - - - B.straminea 0,0892 0,0955 - - - B.occidentalis 0,0543 0,0949 0,0918 - - 0,0435 0,0902 0,0837 0,0358 - B.tenagophila guaibensis Foram geradas árvores filogenéticas pelo método de Neighbor-Joining (NJ), calculada pelo modelo evolutivo Kimura 2 parâmetros (K2p); e pelo método de análise Bayesiana, calculada pelo modelo General Time Reversible + G (GTR + G). As topologias resultantes são congruentes e apresentam quatro grupos filogenéticos distintos (figura 21). 45 A B Figura 21: Cladogramas obtidos a partir de análise Bayesiana (A) e análise Neighbor-Joining – NJ (B), composto por caramujos do gênero Biomphalaria. Em verde (■) Biomphalaria tenagophila, em amarelo (■) Biomphalaria occidentalis, em cinza (■) a subespécie Biomphalaria tenagophila guaibensis, em azul (■) Biomphalaria straminea, em vermelho (■) Biomphalaria glabrata. 46 5 DISCUSSÃO A fragmentação genética de B. tenagophila em populações distintas havia sido anteriormente demonstrada a partir de evidências de diferenciação do gene nuclear ITS-2 em escala microgeográfica (Tuan e Santos, 2007). Ao ampliar a análise para populações de diferentes regiões, por meio de marcador genético mitocondrial, podemos ampliar o conhecimento sobre os mecanismos genéticos e evolutivos que permitiram a diferenciação de grupos distintos de caramujos da espécie B. tenagophila. Os dados obtidos a partir das análises de diversidade genética do COI em B. tenagophila mostram que a espécie está estruturada em dois clados geneticamente distintos, os Grupos I e II, e estão associados a diferentes bacias hidrográficas. De forma inesperada, foram observadas populações geneticamente homogêneas distribuídas em bacias hidrográficas distintas (Paranapanema e Paraíba do Sul) separadas pelo extenso e caudaloso rio Tietê que, em teoria deveria causar interrupção significativa no fluxo gênico entre as populações. O eixo entre as bacias hidrográficas do Paraíba do Sul e do Paranapanema caracteriza-se por uma vasta distribuição de várzeas e campos abertos formados a partir do final do Pleistoceno (Viadana e Cavalcanti, 2007) que pode ter facilitado a colonização adaptativa de uma única linhagem de B.tenagophila. A ausência de polimorfismo genético nas populações contemporâneas de caramujos de Taubaté (Paraíba do Sul) e Ourinhos (Paranapanema) pode resultar também da colonização destes habitats por descendentes de um reduzido número de caramujos que sobreviveram às inúmeras e consecutivas aplicações de moluscicida químico (Baylucide ®) que foram realizadas durante as ações do programa de controle da esquistossomose (Tuan, 1996). A extinção local de caramujos seguida de recolonizacão a partir de poucos indivíduos sobreviventes caracteriza um gargalo populacional com efeitos genéticos homogeneizadores. Nestas 47 populações a prática constante da autofecundação como estratégia reprodutiva poderia expurgar a variabilidade genética, tornando as populações mais homogêneas entre si. Esta é uma hipótese sujeita a comprovação suplementar. Por outro lado foram encontradas populações com baixas, porém significativas, taxas de heterogeneidade genética, em caramujos de localidades vizinhas, como Juquiá e Registro dentro de mesma bacia hidrográfica (Bacia do Ribeira do Iguape), e entre caramujos que habitam bacias distintas, porém geograficamente próximas (Ribeira do Iguape e Tietê). Nas regiões do rio Tietê (Araraquara e Sorocaba) e do rio Ribeira do Iguape (Juquiá e Registro) afloram inúmeros pequenos habitats fluviais independentes encravados entre a Serra do Mar e o oceano Atlântico que podem ter permitido o isolamento e a diferenciação destas populações das demais populações de B. tenagophila analisadas neste estudo. Outro aspecto importante: o rio Ribeira do Iguape localiza-se num dos mais ricos biomas originais do planeta. A possibilidade destas populações apresentarem um nível de polimorfismo associado à preservação de características ancestrais da espécie B. tenagophila, é uma hipótese a ser considerada. A análise da rede de haplótipos mostra que as seqüências ancestrais (aquelas com maior número de ramos conectados entre si) pertencem às localidades de Sorocaba e Juquiá, do Grupo II. Sendo assim, supõe-se que as regiões do Ribeira do Iguape e baixo Tiete são populações que integram um corredor natural (hot spot) de variabilidade da espécie B. tenagophila. Os resultados filogenéticos apóiam esta hipótese, pois as seqüências de B. tenagophila do Grupo II estão numa posição basal (ancestral) em relação ao Grupo I. Os resultados reprodutivos quantificados em populações de caramujos de Tremembé, município situado às margens do rio Paraíba do Sul, indicaram que os caramujos desta população são significativamente mais homogêneos entre si do que os caramujos de uma população de 48 Sorocaba que apresentaram índices reprodutivos mais heterogêneos (Guimarães, 2008). Os caramujos originários dos municípios de Taubaté e Sorocaba foram coletados em ecótopos diferentes: em Taubaté os caramujos habitavam valas de irrigação sujeitas à secas periódicas e em Sorocaba os caramujos foram coletados em uma lagoa no perímetro urbano. A análise molecular do gene mitocondrial COI destas amostras mostram o mesmo padrão descrito por Guimarães (2008), ou seja, homogeneidade genética em Taubaté (bacia hidrográfica do Paraíba do Sul) e heterogeneidade genética em Sorocaba (bacia hidrográfica do Tietê). Em relação à esquistossomose é preciso associar cautelosamente as características genéticas e evolutivas dos caramujos ao padrão da dinâmica epidemiológica da doença que foi introduzida no estado de São Paulo no século XVIII e disseminada em função dos processos de agricultura e urbanização (Silva, 1985). Primeiro porque a distribuição da B.tenagophila no estado de São Paulo é maior do que a distribuição da doença. Segundo porque não há ainda evidências experimentais relacionando as diferenças genéticas identificadas neste trabalho e o grau de infecção do hospedeiro pelo S. mansoni. As seqüências de nucleotídeos de uma fração do gene COI são utilizadas com confiabilidade na identificação molecular de espécies taxonomicamente definidas ou ainda na identificação de novas espécies (Hebert et al., 2003). O protocolo básico para a amplificação do gene COI é fácil e direto e o resultado elimina a possibilidade de análises subjetivas sobre o status taxonômico das espécies. Essas são facilidades que estimulam a construção de um banco de dados moleculares de caramujos que pode ter valor significativo para a análise epidemiológica da esquistossomose. Os dados obtidos a partir da diversidade e distância genética encontrada entre as espécies que compõem o Complexo Tenagophila revelaram maior relação evolutiva entre B. tenagophila guaibensis com a espécie B. occidentalis do que com B. tenagophila. Trabalhos anteriores mostram a mesma relação de similaridade entre os dois taxa (Spatz,1999, 49 Vidigal et al., 2004; Tuan e Santos, 2007). As inferências filogenéticas mostram que B. tenagophila guaibensis é grupo irmão de B. occidentalis. Uma vez que não há na literatura descrição de resultados de testes de cruzamento entre a espécie nominal e a subespécie, uma revisão morfológica das três espécies, acrescida de análise molecular pode tornar mais clara a relação evolutiva entre B. tenagophila, B. occidentalis e a subespécie B. tenagophila guaibensis. Em relação aos resultados de sequências de COI de diferentes espécies do gênero Biomphalaria, foi observado congruência total entre os dados moleculares e a análise morfológica das espécies. Do ponto de vista filogenético, pode-se afirmar que os marcadores moleculares podem ser utilizados com segurança para a discriminação, tanto de espécies distantes quanto para complexos de espécies próximas. O gene COI é, portanto uma ferramenta molecular eficaz em estudos taxonômicos e pode ser utilizada com seguranca na vigilância malacológica. 50 6 CONCLUSÕES Populações de Biomphalaria tenagophila do estado de São Paulo estão fragmentadas em dois grupos distintos geneticamente divididos por bacias hidrográficas. As populações de B. tenagophila dos municípios das bacias hidrográficas dos rios Paranapanema e Paraíba do Sul são geneticamente homogêneas, ainda que separadas geograficamente. Historicamente, municípios pertencentes a essas bacias hidrográficas apresentam quadro de elevada transmissão da esquistossomose. As coleções hídricas sofreram sucessivas aplicações de moluscicidas na tentativa de controle de caramujos, acarretando em afunilamentos das populações de moluscos. Como estratégia de sobrevivência, a autofecundação poderia ter prevalecido nessas populações sobreviventes, reduzindo a variabilidade genética do gene mitocondrial de origem maternal (COI). As populações de B. tenagophila dos municípios das bacias hidrográficas dos rios Tietê e Ribeira do Iguape são geneticamente heterogêneas. Pode-se associar essa heterogeneidade à conservação da variabilidade genética natural da espécie, uma vez que os municípios dessas bacias hidrográficas sofreram menor intervenção de medidas de controle de caramujos, pois apresentavam quadro de baixa transmissão da esquistossomose em comparação aos municípios das bacias hidrográficas dos rios Paranapanema e Paraíba do Sul. Para as espécies B. tenagophila, B. occidentalis e B. tenagophila guaibensis, componentes do Complexo Tenagophila, sugere-se uma reavaliação taxonômica das espécies do grupo agregando aos estudos morfológicos, os aspectos genéticos e moleculares 51 Por fim, conclui-se que o sistema de identificação genômica, baseado na diversidade de uma fração da seqüência da subunidade 1 do gene mitocondrial citocromo oxidase (COI), mostrou resultados confiáveis na discriminação de espécies de caramujos do gênero Biomphalaria e pode ser utilizado como referência molecular de espécies, apresentando os prérequisitos necessários para integrar qualquer programa de identificação de caramujos relacionados com a esquistossomose, conforme preconizado pelo Projeto Bar Coding of Life. 52 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Avise JC. Molecular Markers, Natural History and Evolution, Chapman and Hall, New York (NY); 1994; p. 511. Bandoni SM, Mulvey M, Loker ES. 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