E então, 44 anos depois

Propaganda
Mogi das Cruzes, doMiNgo, 4 de abril de 2010
O DIÁRIO
CHICO ORNELLAS
CADERNO A 5
do iNsTiTuTo HisTÓriCo e geogrÁFiCo de sÃo Paulo
[email protected]
CARTA A UM AMIGO
E então, 44 anos depois...
arquivo pEssoal
“Caro Chiquinho,
Que delicia ter notícias e ver
sua matéria no Diário sobre o
Roteiro do Ouro (N. do E.: viagem de colegiais do Instituto
de Educação Dr. Washington
Luiz às cidades históricas de
Minas Gerais em 1966). Até
hoje mantenho amizade com o
Lima – Edson de Lima Franco,
da turma do Curso Clássico; ele
guardou para mim a página do
jornal com a matéria e então fui
procurar nos meus guardados e
achei as fotos em slide, daquela
maravilhosa viagem.
Hoje procurei na Telefônica
(tudo pela internet – maravilha
das maravilhas) o seu telefone
e não achei, mas achei uma foto
do aniversário de sua neta e o
nome de seu genro... fácil, coloquei na pesquisa da Telefônica e
obtive o telefone dele. Expliquei
para ele o motivo de meu tele-
fonema e consegui o seu telefone....
Bem, depois do Clássico fui
para São Paulo, fiz Escola Superior de Propaganda, não achei
que era aquilo e fui fazer Psicologia na PUC. Formei-me em
1976, trabalhei na área ate 1980,
consegui um bom dinheiro e fui
pra Europa. Morei quase seis
anos em Londres, no segundo
ano que estava lá consegui um
emprego no escritório da Globo e durante quatro anos fiz
parte da equipe de reportagem.
Viajei por toda a Europa, pedaço do Oriente médio e África
do Sul fazendo matérias, curti
e conheci um monte de lugares que, como turista, me seria
impossível. Estive até em Lion
com o Vilela!!!!!!
Voltei e tive uma loja em Ribeirão Preto e já faz um bom
tempo que moro outra vez em
Guararema.
Tenho uma pequena empresa de brindes em couro, vivo
de fazer chaveiros para concessionárias de carros e outras
artes..... assim toco a vida. Não
me casei nem tenho filhos. Vivo
uma vidinha tranquila, mantendo meu apartamento em São
Paulo, onde tenho minha vida
social, e Guararema onde tenho
minha mãe viúva e muito saudável e muito ar puro....
Então, vamos agitar esta de
reunir o pessoal da viagem?
Nunca mais vi as pessoas do
Clássico, as únicas que mantenho contato são o Lima que
já lhe falei e a Maria Inês Melo
Freire. Começo já a procurar
projetor de slides !!!
Grande abraço pra você e
pra Nanci ,
Cláudio Marcondes Machado”.
CLÁUDIO From
Guararema para
o mundo
SER MOGIANO É....
.... ter passeado no
Largo do Jardim
MOGI DE A A Z
De boticão em boticão
Nunca conheci, dentre o
meu círculo de amigos e os seis
– também amigos – que já me
atenderam, um cirurgião-dentista que não tenha histórias
para contar. Poucas são pueris,
quase todas valem como lição
de vida. Jamais fiz anotações de
qualquer delas; ficaram nos escaninhos da memória.
“O galo cego renunciou”.
Era sexta-feira, 25 de agosto de
1961. Eu tinha 14 anos e o severo
advogado que irrompeu, sem
bater à porta, no gabinete dentário, chegou trazendo a notícia
de que o presidente Jânio Quadros, eleito no ano anterior, havia renunciado ao seu mandato.
Fazia pouco que eu frequentava
o gabinete dentário deste profissional, na Rua Flaviano de
Mello, proximidades do Largo
da Matriz. Foi ali que, pela primeira vez, vi um aparelho de
alta rotação. Antes tratava os
dentes em outro gabinete, também na Flaviano de Mello, porém mais próximo da Rua Isabel
de Bragança. Neste, o motor era
de baixa rotação e os jovens de
hoje, que se queixam dos equipos atuais, sequer imaginam o
suplício que isto impunha. De
qualquer forma, menor do que
aqueles suportados pelas gerações que me antecederam: a
broca do dentista era movida a
pedal. Sim, a pedal.
Em um tempo no qual os serviços dentários em Mogi nem de
perto de aproximavam à qualidade de hoje, era comum que
ONTEM E HOJE Há
muita diferença
entre uma cadeira de
dentista de 100 anos
atrás e de hoje. As
histórias, entretanto,
não diferem
as famílias procurassem, para
cuidados mais específicos e na
segunda dentição, profissionais em São Paulo. Eu fui pouco; a primeira dentição cuidei
mesmo por aqui e só na adolescência estive no consultório
de um paulistano, primeiro na
Rua Marconi, depois na Avenida Paulista. Parecia dentista de
Mogi, tantos eram os conterrâneos que o procuravam.
“Bem que eu falei para ele
quando disse que enviaria
uma namoradinha para cuidar
dos dentes aqui”. O causo a ser
relatado quase sempre começa assim. Você não pergunta
nada, não pode reagir com a
boca aberta para o tratamento; só lhe resta escutar. Neste,
um paciente antigo, já entrado
para lá dos 40 e com a família
toda sob os cuidados do mesmo profissional, resolveu enviar uma jovem agregada para
cuidar dos dentes. “Bem que
eu falei para ele, que ainda me
provocou, perguntando se eu o
denunciaria”.
É claro que o dentista manteve o sigilo profissional, mas não
podia controlar a conversa na
recepção do consultório, onde
o benfeitor da agregada pediu
para marcar hora para uma “sobrinha”. Hora marcada, compareceu ela a todas as consultas;
tratamento completo. Já nos
finalmente, a filha compareceu
ao agendado e ouviu da recepcionista a informação de que
“sua prima” estivera ali no dia
anterior.
“Que prima?!?!” Sobrou
mais uma vez para o dentista.
“Bem que eu falei que não controlava conversa na recepção;
pior mesmo foi que fiquei no
prejuízo – o cliente rompeu o
affaire, a agregada, sobrinha ou
prima, seja lá o que fosse, nunca
mais apareceu. Não recebi nada
dele, tampouco dela e ainda
perdi a família cliente”.
Prejuízo também sofreu ouarquivo pEssoal
O MELHOR DE MOGI
A instantaneidade
com que o
engenheiro Jamil
Hallage costuma
reagir às heresias
praticadas contra o
interesse da Cidade.
Exemplo disso
ele deu na coluna
“Cartas” deste jornal,
na última terça-feira
fotos arquivo pEssoal
Flagrante do
Século XX
FORMANDOS DE
1966 Os formandos
de 1966 do curso
ginasial do Liceu
Braz Cubas, na
foto do álbum que
preserva lembranças
tro dentista amigo meu. Ele não
soube administrar os limites da
amizade com um paciente de
ares juvenis: o paciente, certa
tarde, irrompeu em seu consultório, extintor de incêndio à
mão. Sobre o equipo, cadeira e
tudo o mais lançou aquela espuma pegajosa.
Há uma outra máxima entre
os profissionais do ramo: evitar,
na medida do possível e com o
esforço viável, a interferência
entre profissões: evite ser dentista de seu advogado, do seu
contador, do seu médico. Um
conhecido meu ignorou a regra
e deu-se mal. Pelo lado que menos poderia esperar: o mecânico de seu automóvel.
Certo período e aí já se vão
coisa de 10 anos, ele passou a
receber insistentes telefonemas femininos de uma voz que
não se identificava. Mas que se
dizia ultrajada pela desatenção. A mulher estava apaixonada e não admitia ser menosprezada. “O que eu podia fazer?
Ainda não havia identificador
de chamadas; a mulher não
dizia quem era e eu naquela
situação esdrúxula. Demorou
bem dois meses para, enfim,
se identificar: era a sogra do
rapaz que consertava carro nos
finais de semana. Eu ia à casa
dele e cumprimentava a sogra
viúva. Mais nada. Enfim, quando ela se identificou, eu lhe disse: agora é minha vez. Ou pára
com isso ou conto à sua filha e
ao seu genro. Parou”.
O PIOR DE MOGI
Faz muito, muito
tempo que a
Cidade não
vivia, como hoje,
um período
de tantos
buracos em
vias públicas. O
símbolo maior
é a Avenida
Miguel Gemma
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