FACULDADE PAULISTA DE ARTES Pós-graduação em Psicopedagogia com utilização da arte como recurso terapêutico AS ARTES NA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E NA PLASTICIDADE CEREBRAL DE PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN JULIANA DALLA COSTA São Paulo 2016 FACULDADE PAULISTA DE ARTES Pós-graduação em Psicopedagogia com utilização da arte como recurso terapêutico AS ARTES NA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E NA PLASTICIDADE CEREBRAL DE PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN JULIANA DALLA COSTA Artigo Científico apresentado ao curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia com utilização da arte como recurso terapêutico da Faculdade Paulista de Artes como requisito para aprovação. Orientador: Prof. Dr. Maurício de Carvalho Teixeira São Paulo 2016 “Talvez devêssemos aprender algo sobre relações humanas com nossas crianças com síndrome de Down. Parece-me que é uma pena que a realidade tenha mostrado ser necessário ensiná-los sobre o lado negro da natureza humana, com o objetivo de protegê-los dos outros, e mesmo de seu próprio senso natural de generosidade e afetividade. No entanto, é preciso que sejamos realistas o suficiente para reconhecer que o mundo de hoje não foi feito para acomodar a inocência das pessoas com síndrome de Down. Parece estranho que sejam as pessoas ditas ‘inteligentes’ que não conseguem lidar com a inocência; assim, precisamos manipular a natureza ingênua das pessoas com síndrome de Down, para que não se tornem vítimas do lado nefasto do quadro da humanidade.” (Brian Stradford, 1997) RESUMO Resumo: Este trabalho estabeleceu relações entre a Psicopedagogia, as artes e a síndrome de Down. Através da revisão bibliográfica, descrevo desde aspectos históricos da síndrome de Down até os benefícios das intervenções psicopedagógicas com artes. Abordo também as lesões cerebrais ocasionadas em pessoas com síndrome de Down que são consequências da alteração cromossômica, chamada de Trissomia 21. Também veremos que as redes neurais relacionadas com diversos aspectos do processamento cognitivo se mostram menos ativas no grupo com síndrome de Down. Ao final são apresentadas oito propostas de intervenções psicopedagógicas com artes para pessoas com síndrome de Down. O objetivo deste trabalho foi verificar como as artes contribuem na intervenção psicopedagógica e na plasticidade cerebral de pessoas com síndrome de Down. As conclusões apresentadas são de que as artes, tanto a música, artes visuais, teatro e dança, sendo formas de comunicação não verbal, ajudam no desenvolvimento cognitivo dessas pessoas, melhorando também a autoestima. Palavras-chave: Psicopedagogia, Síndrome de Down, Artes, Cérebro, Plasticidade Cerebral, Intervenções Psicopedagógicas. ABSTRACT Abstract: This research established relations between psycho pedagogy, arts and Down’s syndrome. Through the bibliographic review, are described since historical aspects of Down’s syndrome until the benefits about psycho pedagogical interventions using arts. Are addressed the brain injuries occasioned with people who has Down’s syndrome, as consequences of chromosome changes named trisomy 21. We will be also seen, that the neural networks related to various aspects of the cognitive processing, are shown less active in the Down’s syndrome group. At the end it will be presented eight proposals of psycho pedagogical interventions using arts to Down’s syndrome people. This research’s objective was to examine how the arts could contribute in the psycho pedagogy’s interventions and in the brain’s plasticity of people with Down’s syndrome. The conclusions reached are that even in arts, music, visual arts, theater and dance as non verbal communications, help on the cognitive development of these people, also improving their self –esteem. Keywords: Psycho Pedagogy; Down’s syndrome; Arts; Brain; Brain Plasticity; psycho pedagogy’s interventions. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................6 2. HISTÓRIA DA SÍNDROME DE DOWN.................................................................8 3. COMO OCORRE A SÍNDROME DE DOWN......................................................11 4. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS..........................................................................14 5. FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO NA SÍNDROME DE DOWN...................18 6. PLASTICIDADE CEREBRAL E A SÍNDROME DE DOWN.............................21 6.1 SISTEMA NERVOSO.................................................................................................21 6.1.1 Sistema Nervoso Central.....................................................................................21 6.1.2 Sistema Nervoso Periférico.................................................................................22 6.1.3 Células Nervosas.................................................................................................22 6.2 PLASTICIDADE CEREBRAL...................................................................................23 6.2.1 Plasticidade Cerebral e a Síndrome de Down........................................................25 7. DESENVOLVIMENTO APRENDIZAGEM DAS COGNITIVO PESSOAS E COM DIFICULDADES SÍNDROME DE DE DOWN............................................................................................................................27 8. INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS COM ARTES.................................29 9. PROPOSTAS DE INTERVENÇÕES......................................................................32 10. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................36 ANEXOS.........................................................................................................................39 6 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como tema a psicopedagogia e a síndrome de Down. O interesse por este tema surgiu durante o curso de pós-graduação em Psicopedagogia com utilização da arte como recurso terapêutico. A partir de estudos na disciplina de Neurofisiologia surgiu o interesse também em Plasticidade Cerebral, além das intervenções psicopedagógicas. A curiosidade em síndrome de Down já existe há muitos anos, sendo anterior à graduação, quando em 2007 trabalhei como voluntária em uma APAE do interior de São Paulo com aulas de música e desde então participo de simpósios de educação musical especial, crescendo meu interesse pelas diversas deficiências, em especial a Síndrome de Down. Neste trabalho se buscou unir estes pontos de interesse e, através da revisão de literatura, conceituar a Síndrome de Down e a Plasticidade Cerebral, abordar as dificuldades de aprendizagem que envolvem estas pessoas e as intervenções psicopedagógicas através das artes, necessárias para contribuir para a autonomia, independência, melhora da autoestima e melhora no desenvolvimento cognitivo destas pessoas. O artigo em questão mostra a importância de se conhecer a plasticidade cerebral, que é feita através de novas conexões neurais, para se realizar as intervenções psicopedagógicas com artes de pessoas com Síndrome de Down. A questão central desta pesquisa foi: Qual a contribuição das artes como intervenção psicopedagógica na plasticidade cerebral de pessoas com síndrome de Down? A hipótese desta pesquisa é que se possa contribuir para o desenvolvimento da autonomia e independência das pessoas com síndrome de Down. Visa também a melhora da autoestima que ajudará no desenvolvimento destes aspectos e, consequentemente, um melhor desenvolvimento cognitivo através das artes. Desta forma, o objetivo geral foi verificar como as artes contribuem na intervenção psicopedagógica e na plasticidade cerebral de pessoas com síndrome de Down e os específicos foram conceituar síndrome de Down, conceituar plasticidade cerebral, relacionar arte com desenvolvimento cognitivo e articular os conhecimentos adquiridos com a intervenção psicopedagógica. 7 Este trabalho justifica-se pela importância em contribuir para minha formação profissional enquanto psicopedagoga, acrescentando conhecimentos sobre o tema, pois pretendo atuar na área. Também visa contribuir para os conhecimentos na área de intervenção psicopedagógica de pessoas com Síndrome de Down através das artes, já que há uma carência acadêmica interligando estes assuntos, havendo apenas publicações destes assuntos separadamente. Justifica-se também pela importância em saber qual a influência desta intervenção na plasticidade cerebral destas pessoas e desenvolver técnicas de intervenção através do conhecimento adquirido. A metodologia utilizada será a revisão de literatura em livros e periódicos de cunho acadêmico já publicados e relacionados ao tema aqui exposto. Esta metodologia é necessária para ampliar minhas fontes sobre o tema pesquisado e desta forma poder reforçar, comparar, demonstrar e apresentar as contribuições que até o momento foram divulgadas sobre o tema. O trabalho está dividido em dez itens, sendo o primeiro a introdução. O item dois apresentará a história da síndrome de Down, desde descobertas antes de Cristo até a oficial publicação da doença. O terceiro item aborda como ocorre a síndrome de Down, ou seja, como geneticamente ocorre essa alteração cromossômica. O quarto item trata das características clínicas das pessoas com síndrome de Down, como são fenotipicamente. O quinto item fala do cérebro de pessoas com essa síndrome, ou seja, quais partes cerebrais são afetadas por conta da alteração cromossômica e o que ocorre com cada uma dessas partes ao ser afetada. O sexto item traz uma revisão bibliográfica sobre a plasticidade cerebral, como ocorre esse processo e como ocorre especificamente na síndrome de Down. O sétimo item trata do desenvolvimento cognitivo e das dificuldades de aprendizagem das pessoas com síndrome de Down, demonstrando porque apresentam lentidão em diversas tarefas e como é o processo de aprendizagem dessas pessoas. O oitavo item fala da contribuição das intervenções psicopedagógicas com artes para a plasticidade cerebral e para o desenvolvimento cognitivo dessas pessoas, contribuindo assim para a melhora da autoestima, autonomia e independência dessas pessoas. O nono item traz algumas propostas de intervenções para se trabalhar com pessoas com síndrome de Down e o décimo item são as considerações finais 8 2. HISTÓRIA DA SÍNDROME DE DOWN: A história da síndrome de Down é tão antiga quanto a história da humanidade, porém apesar das proposições históricas que citarei, não houve nenhum registro oficial em relação à síndrome de Down publicada antes do século XIX d. C. Segundo Rodrigues (2015, p.23), há algumas hipóteses para isso: em primeiro lugar porque não existiam muitas revistas médicas naquela época; em segundo lugar, os pesquisadores não se interessavam em crianças deficientes; em terceiro, outras doenças predominavam na época e ofuscavam os problemas genéticos e más-formações e em quarto, metade das mães não sobreviviam além dos 35 anos de vida e muitas crianças que nasciam com a síndrome de Down morriam até os dois anos de idade. As evidências mais antigas sobre a síndrome datam de mil e quinhentos anos antes de Cristo. Foram registradas em textos, relevos e esculturas pelos artistas cuneiformes1, da cultura Olmec, país que hoje conhecemos como México. Essas estatuetas, segundo Pueschel (apud Rodrigues, p. 23), apresentavam traços faciais que foram considerados semelhantes aos de pessoas com síndrome de Down, porém os exames relativos às estatuetas ainda geram dúvidas. Há um registro antropológico, datado do século VII d. C., a respeito da síndrome de Down referente às escavações existentes de um crânio saxônico que apresentava modificações estruturais que eram vistas em crianças com SD. Outros registros remontam ao século V a.C., na cultura da Grécia Antiga e ao século IX d. C., na Europa cristã, no período dos anglo-saxões. Nesta época, a principal corrente de pensamento era a de que a deficiência mental se originava no pecado, ou seja, com comportamentos não convencionais dos pais, o nascimento de uma criança deficiente era visto como vingança divina. Muitos também diziam que o nascimento de tais crianças seria uma intervenção diabólica e a implicação de relações pecaminosas com o diabo, por parte das mães destas crianças. 1 A escrita cuneiforme foi criada pelos sumérios, e sua definição pode ser dada como uma escrita que é produzida com o auxilio de objetos em formato de cunha. A escrita cuneiforme é uma das mais antigas do mundo, apareceu mais ou menos na mesma época dos hieróglifos, foi criada por volta de 3.500 a.C. No começo a escrita era meio enigmática, mas com o passar do tempo foram se tornando mais simples. Fonte: <http://www.infoescola.com/civilizacoes-antigas/escrita-cuneiforme/> Acesso em: 05 de setembro de 2016. 9 Enquanto no século V d.C. Santo Agostinho assinalava a inocência dos deficientes, no século XVI, segundo STRADFORD (1997, p.24), Martinho Lutero interpretava que o diabo havia tomado o lugar da criança deficiente e, portanto, ela não possuía alma. Sua solução para tais crianças era de que elas deveriam ser mortas e as mães queimadas, por causa de suas ligações com o diabo. Mesmo pensadores avançados na Grécia Antiga, como Aristóteles, disseram “que nenhum deficiente viva”. Apenas no final do século XVIII e início do século XIX foi que muitos cientistas começaram a se questionar sobre as causas da deficiência mental e iniciaram uma busca pelo conhecimento. Segundo Stradford (1997, p.33), naquele tempo, por exemplo, uma concepção firmemente estabelecida era a de que a causa primária da deficiência metal era a regressão atávica, um tipo de retorno a uma forma mais primitiva de existência. Ainda segundo o mesmo autor, a primeira descrição científica de uma criança que supostamente teria a síndrome de Down foi em 1838, por Jean Esquirol, um psiquiatra francês. Em seguida, em 1846, Édouard Séguin, médico e educador francês, descreveu um paciente com características semelhantes à síndrome de Down. Mas foi em 1866, com o médico inglês John Langdon Down, que a síndrome teve de fato uma descrição mais precisa e elaborada ao registrar que “estes indivíduos possuíam um rosto largo e plano, uma língua grossa, um nariz pequeno e capacidades cognitivas limitadas” (MOTA, 2013). Ao trabalhar com pessoas com deficiência intelectual ele reparou que muitas delas tinham o rosto parecido, podendo até serem confundidas como irmãos. Esses traços lembravam os habitantes da Mongólia, país asiático e distante, naturalmente mais primitiva do que Londres, capital da ciência, onde as pessoas possuem aparência oriental. Por isso, antes da descrição oficial de Langdon Down, a síndrome era aceita como mongolismo. O que até então era denominado mongolismo passou a ser descrito como síndrome de Down como resultado da crescente popularidade do trabalho de Langdon Down, publicado em 1866 no London Hospital Reports com o título rude de “Observações sobre uma classificação étnica de idiotas”. Dez anos mais tarde, dois investigadores, Frazer e Mitchell, chegaram a afirmar que teriam identificado a própria região da Mongólia onde o quadro teria se originado. Denominaram a condição de Idiotia Kalmuc, por causa da tribo que habitava uma região sul da Mongólia. (STRADFORD. 1997, p.35) 10 Mesmo após a descrição da síndrome, ela só passou a ser reconhecida por médicos da Europa a partir do final do século XIX. E foi somente no século XX, em 1958, através do médico, pediatra e geneticista francês Jérôme Lejeune, e com os progressos no método de visualização de cromossomos, que foi possível descobrir que as crianças com síndrome de Down possuem um cromossomo a mais no par 21. Somente mais tarde, no século XX, após vários estudos envolvendo os cromossomos humanos, Jérône Lejeune, cientista francês, descobriu que pessoas com essa síndrome tinham 47 cromossomos agrupados por células ao invés de 46. Passado alguns anos, ele mesmo identificou o cromossomo extra, localizado no par 21. Em sua homenagem, como é de hábito no meio científico, a síndrome ficou catalogada como Down. (MACHADO. 2014, p. 205) 11 3. COMO OCORRE A SÍNDROME DE DOWN A síndrome de Down se origina por um erro genético, ou seja, por um erro na distribuição dos cromossomos das células. Assim como afirma Stradford (1997, p.83), a síndrome de Down é uma condição genética determinada pelo número de cromossomos. Tal como acontece no caso de ser menino ou menina, alto ou baixo, loiro ou moreno ou qualquer outra variação física do corpo, geneticamente determinada, a síndrome de Down não configura uma doença. Ela ocorre em cerca de 1 a cada 800 nascimentos e afeta todas as etnias e ambos os sexos. Também é conhecida como Trissomia do 21, pois ocorre a duplicação do cromossomo 21, geralmente vindo da mãe. Esse erro genético tem como fator preponderante a idade avançada da mãe. Segundo Mota (2013), estima-se que o risco de ter uma criança com síndrome de Down aos 25 anos de idade é de 1/1300, aos 35 anos é de 1/135 e aos 45 anos é de 1/30. Toda herança biológica que recebemos de nossos pais está dentro de duas células que chamamos de óvulo (gameta feminino) e espermatozoide (gameta masculino). Cada uma dessas células carrega consigo 23 cromossomos cada e na fecundação, quando eles se fundem formam uma nova célula, o ovo ou zigoto, passam a ter 46 cromossomos (ALVES, 2011). Porém, uma dessas células (óvulo ou espermatozoide) pode enviar um cromossomo a mais no par 21 (trissomia do 21) e o novo ser gerado terá então 47 cromossomos ao invés de 46. Essa nova célula, o zigoto, com 47 cromossomos continuará a de dividir e, portanto, todas as células de seu corpo apresentarão 47 cromossomos. Na figura abaixo vemos a fertilização de um zigoto trissômico: 12 2 Figura 1 Geralmente esse cromossomo extra vem do óvulo, pois como já foi citado, provém do risco da mãe de ter um filho em idade avançada. Porém, para ter certeza de onde vem esse cromossomo a mais, os pais podem solicitar um procedimento chamado cariótipo por meio de um exame denominado cariograma que, segundo Alves (2011, p.31), é a representação do conjunto de cromossomos de uma célula. Esse exame pode ser realizado antes do nascimento, depois da décima primeira semana. Esse excesso de material genético no cromossomo 21 pode ocorrer de três maneiras distintas: - Não-disjunção: responsável por cerca de 95% dos casos. Segundo Rodrigues (2015, p.35), pode ocorrer em três momentos: no espermatozoide, no óvulo ou durante a primeira divisão celular, após a formação do zigoto. Mota (2013), afirma que após este acontecimento ocorre o desenvolvimento do embrião, e como consequência o cromossomo extra é replicado em todas as células do corpo. - Translocação cromossômica: responsável por cerca de 4% dos casos. Na translocação, parte do cromossomo 21 rompe durante a divisão celular e atribui a outro cromossomo [geralmente o 14] essa informação genética. Como na não-disjunção, a translocação ocorre antes ou no momento da concepção. Mas ao contrário da nãodisjunção, na translocação a idade da progenitora não é considerada fator de risco. (MOTA, 2013) 2 Figura 1: Fonte: STRADFORD, Brian. Crescendo com a Síndrome de Down. Brasília: CORDE, 1997, p. 49 13 - Mosaicismo: responsável por cerca de 1% dos casos, sendo bastante raro. De acordo com Mota (2013) e Rodrigues (2015), decorre da não-disjunção do cromossomo 21 após a fertilização, na segunda ou terceira divisão da concepção no desenvolvimento do embrião. Com isso, algumas células serão normais, com 46 cromossomos, enquanto outras terão 47. Os indivíduos afetados pela translocação cromossômica são indistinguíveis fenotipicamente dos afetados pela não-disjunção, porém os indivíduos mosaicos apresentam, geralmente, um quadro clínico, com características físicas e mentais, mais leves. 14 4. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Uma das principais características das pessoas com síndrome de Down é a deficiência intelectual, ou seja, possuem um atraso cognitivo, o que faz com que tenham uma aprendizagem mais lenta. Alves (2011) afirma que esta limitação cognitiva provoca um retardo de leve a moderado e não é progressiva nem contagiosa, e que as pessoas podem, inclusive, obter melhoras através de uma correta estimulação, pois seu Sistema Nervoso Central (SNC) continua a amadurecer com o tempo. Outra característica bem evidente é a hipotonia muscular que é uma alteração no tônus muscular gerando flacidez. (...) a hipotonia muscular está presente em 100% dos casos recémnatos, tendendo a diminuir com a idade. (...) Essa condição faz com que o desenvolvimento inicial fique um pouco mais lento, demorando mais para controlar a cabeça, rolar, sentar, arrastar, engatinhar, andar e correr. (...) há necessidade de um trabalho específico para o equilíbrio, a postura e a coordenação dos movimentos. (SILVA, 2006) Diversos autores como Stradford (1997), Alves (2011), Mota (2013), Machado (2014) e Rodrigues (2015), apontam várias características relacionadas à síndrome de Down. Cito aqui as abordadas entre os autores: dobra epicântica na pálpebra, o que deu origem ao rótulo descritivo errôneo de “Mongol”; baixa estatura; os dentes demoram mais a chegar que os de uma criança normal e há alterações no alinhamento dos dentes; os pés mostram um amplo espaço entre o primeiro e o segundo dedo; Reflexo de Moro3 fraco; articulações com flexibilidade exageradas; o pavilhão das orelhas é pequeno e disfórmico; a face é achatada e arredondada; crânio apresenta braquicefalia, ou seja, crânio mais largo que comprido, com o occipital achatado; 3 O Reflexo de Moro é um reflexo apresentado somente em neonatos, nos três primeiros meses de vida. É considerado um reflexo primitivo. Se caracteriza por abdução e extensão brusca de membros superiores, geralmente associado a movimento semelhante de membros inferiores e choro forte. Normalmente ocorre quando a criança apoia bruscamente suas costas em uma superfície, ou quando há movimentos da própria superfície. A ausência do Reflexo de Moro em ambos os lados do corpo sugere danos no cérebro ou na espinal medula. Fonte: <http://www.minhavida.com.br/saude/temas/reflexo-de-moro> e <http://www.farmaciasaude.pt/site/index.php?option=com_content&view=article&id=478:reflexos-demoro&catid=53:sintomas&Itemid=226> Acesso em: 22 de maio de 2016. 15 4 5 Figura 2 Figura 3 6 Figura 4 o pescoço (alado) é curto e grosso, apresentando excesso de pele na parte posterior; posterior displasia pélvica7; tendência para luxação atlanto atlanto-axial8; a boca é aberta, muitas vezes mostrando a língua sulcada (enrugada, com fendas) e saliente; 4 Figura2: Fonte: <http://maternagemviva.blogspot.com.br/2015/09/por http://maternagemviva.blogspot.com.br/2015/09/por-que-nao-manter manter-o-bebedeitado.html> Acesso em: 22 de maio de 2016. 5 Figura3: Fonte: < https://plus.google.com/103480395342606405383/posts https://plus.google.com/103480395342606405383/posts> > Acesso em: 22 de maio de 2016. 6 Figura4: Fonte: <http://pequenhascosas.blogspot.com.br/2012_09_01_archive.html tp://pequenhascosas.blogspot.com.br/2012_09_01_archive.html> > Acesso em: 22 de maio de 2016. 7 A displasia do quadril é um termo abrangente que inclui um amplo espectro de alterações na bacia da criança. Uma é a luxação congênita, quando a articulação está fora do lugar. Fonte: Disponível em: <http://www.semprematerna.com.br/displasia <http://www.semprematerna.com.br/displasia-do-quadril-que-bicho-e-esse/> esse/> Acesso em: 22 de maio de 2016. 8 O problema ortopédico mais conhecido em crianças com síndrome de Down é a instabilidade atlantoatlanto axial, que significa ica um movimento maior do que o usual entre a primeira e a segunda vértebra do pescoço. Estima-se se que 15% das crianças com síndrome de Down apresentem essa condição. A instabilidade atlanto-axial é uma preocupação por causa do risco presumido de danos na espinha e dorsal, caso uma das vértebras pressione a mesma. Fonte: < http://www.movimentodown.org.br/2013/01/questoes http://www.movimentodown.org.br/2013/01/questoes-ortopedicas-2/> > Acesso em: 22 de maio de 2016. 16 9 Figura 5 as mãos são curtas, largas e pequenas, frequentemente com uma única prega palmar transversa, chamada de prega simiesca, ou seja, relativo ou semelhante ao macaco; Figura 6 10 as fontanelas (moleiras) demoram mais a fechar do que em uma criança normal; os cabelos são finos e escassos; nariz pequeno; o tórax é afunilado, podendo apresentar problemas respiratórios e cardíacos, ou o osso peitoral pode estar projetado (peito de pomba); existem Manchas de Brushfield11 ao redor da margem da íris. 9 Figura 5: Fonte: <http://saude-info.info/lingua-fissurada.html> Acesso em: 22 de maio de 2016. Figura 6: Fonte: <http://www.farmaciasaude.pt/site/index.php?option=com_content&view=article&id=467:pregasimiesca&catid=53:sintomas&Itemid=226> Acesso em: 22 de maio de 2016. 11 As Manchas de Brushfield (nome dado em homenagem ao médico Thomas Brushfield, que descreveu a doença em 1924) são pequenos pontos brancos presentes na periferia da íris do olhos humano, lembrando grãos de sal. Ocorrem na síndrome de Down e geralmente são visíveis no período neonatal e desaparecem durante o primeiro ano de vida. Fonte texto e figura 7: <http://apoioparaidosos.blogspot.com.br/2012/01/manchas-de-brushfield.html> Acesso: 22 de maio de 2016. 10 17 Figura 7 Mota (2013) ainda salienta que Além das características físicas típicas e do atraso no desenvolvimento psicomotor, também apresentam outros problemas de saúde associados à SD, como: pouco aumento de peso nos bebês, defeitos cardíacos, mal-formações nomeadamente intestinais e/ou do sistema renal, diminuição da audição, problemas oculares, deficiência na produção hormonal por parte da tiroide (hipotireoidismo), problemas esqueléticos. 18 5. FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO NA SÍNDROME DE DOWN O cérebro é o órgão mais importante e organizado do corpo humano, sendo o responsável pelo controle das funções cognitivas e motoras. Segundo Morin (1996, apud SOUSA, 2014), “o cérebro exerce a função de controlar os movimentos, receber e interpretar os estímulos sensitivos, coordenar os atos da inteligência, da memória, do raciocínio e da imaginação”. Porém, as pessoas com síndrome de Down apresentam um cérebro diferenciado por decorrência da alteração genética causada pelo cromossomo 21. Uma das principais alterações é no tamanho do cérebro. Pessoas com síndrome de Down nascem com microcefalia, o que compromete todo o desenvolvimento cerebral, neuronal e também o funcionamento de diversas funções corporais. Segundo Cosenza e Guerra (2011, p.132), “a alteração genética tem consequências bioquímicas, que levam à modificação da formação e do funcionamento de sinapses do sistema nervoso”. Os mesmos autores também afirmam que A síndrome de Down produz alterações no tamanho de estruturas do sistema nervoso, no número de neurônios e na taxa de formação de sinapses. Por isso, prejudica várias funções cognitivas importantes para a aprendizagem como a linguagem, a memória, a função executiva, entre outras. O desempenho cognitivo alterado resulta em diferentes graus de deficiência mental. (COSENZA, GUERRA; 2011, p.133) Autores como Silva (2006), Mota (2013) e Flórez (29014) dizem que o cérebro na síndrome de Down, além de apresentar um volume menor (microcefalia) com relação ao de sujeitos normais, apresenta também outras alterações como redução no número de neurônios, redução no tamanho do hipocampo, cerebelo, córtex pré-frontal, sistema límbico temporal e redução em determinadas circunvoluções do lóbulo temporal. De acordo com Flórez e Troncoso (1997), todos os neurônios formados são afetados da maneira como se organizam em diversas áreas do sistema nervoso e não só há alterações na estrutura formada pelas redes neurais, mas também nos processos funcionais da comunicação de um com o outro (...) afetando a instalação e as consolidações das conexões de redes nervosas necessárias para estabelecer os mecanismos da atenção, memória, a capacidade de 19 correlação e análise, o pensamento abstrato, entre outros. Ainda, para os mesmos autores, o cérebro da pessoa com SD, em seu conjunto, tem um volume menor que o das pessoas normais. A criança nasce frequentemente com hipoplasia12 nos lóbulos frontais e occiptais, redução no lóbulo temporal em até 50% dos casos, que pode ser unilateral ou bilateral. Em alguns cérebros, observa-se diminuição do corpo caloso, da comissura anterior e do hipocampo. (SILVA, 2006) O hipocampo faz parte das principais estruturas anatômicas envolvidas na memória, por isso, uma diminuição em seu volume, afeta a aprendizagem dessas pessoas. Seu lado esquerdo domina principalmente a aprendizagem verbal e memória, enquanto o lado direto domina a memória não-verbal. Alterações cerebelares tornam as pessoas com síndrome de Down mais lentas e acabam por simplificar seus movimentos, já que a função do cerebelo, segundo Silva (2006), “é ajustar os movimentos corporais, integrando as informações proprioceptivas e as sensações sinestésicas para realizar os movimentos voluntários, contribuir para manter o equilíbrio e ajudar a relacionar os padrões de movimentos”. A mesma autora também descreve a função do córtex frontal: O córtex frontal é essencial para que se possa estruturar o pensamento abstrato e organizar as condutas (...). Uma lesão nesta área, dependendo de sua extensão e localização, ocasiona uma diminuição na capacidade de reconhecimento, de concentração, tendência à distração e dificuldade em manter o olhar. Além disso, existe a possibilidade de que lesões nessa área também possam promover alterações do comportamento social, como, por exemplo, a demonstração de impulsos sexuais em situações inapropriadas. (SILVA, 2006) Flórez (2014) afirma que a intensidade com que tais limitações se mostram varia muito de umas pessoas com síndrome de Down a outras, tanto no grau de diminuição do cérebro como no modo como tal diminuição se distribui por ele. Outro fator de destaque não é apenas a redução no número de neurônios, mas também o déficit na proliferação neural, o comprometimento nas sinapses e o atraso na mielinização dos neurônios no período pós-natal em 25% dos casos. Esses fatores fazem com que haja uma menor riqueza de redes neurais e com que as conexões cerebrais 12 Hipoplasia: med desenvolvimento defeituoso ou incompleto de tecido ou órgão, gerado por diminuição do número de células. 20 fiquem mais lentas. Com isso as crianças com síndrome de Down apresentam muitas dificuldades no desenvolvimento motor e cognitivo. Mota (2013) destaca que, em geral as capacidades mais afetadas são a linguagem, a aprendizagem e a memória, fazendo com que o quociente de inteligência (QI) destes indivíduos seja entre 30 e 70, com uma média de 50, enquanto o QI de um sujeito normal em média é 100. Observa-se no mesencéfalo de crianças com síndrome de Down a diminuição do receptor muscarínio, que acarreta em uma lentidão para despertar atenção. Também há um mau funcionamento no sistema de neurônios colinérgicos, que sintetizam e liberam acetilcolina. Silva (2006) declara que (...) o mau funcionamento no sistema de neurônios colinérgicos pode ser responsável pelas dificuldades cognitivas na SD, ocasionando uma significativa redução do funcionamento intelectual e limitações significativas no comportamento adaptativo. 21 6. PLASTICIDADE CEREBRAL E A SÍNDROME DE DOWN Para entender o que é plasticidade cerebral precisamos entender um pouco sobre nosso organismo, principalmente o sistema nervoso, o que o compõe e no que ele e contribui para que ocorra a aprendizagem. Pois somente conhecendo sua estrutura é que compreenderemos seu funcionamento. 6.1 SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso é dividido em duas partes: o sistema nervoso central, formado pelo cérebro, cerebelo e medula espiral; e o sistema nervoso periférico, formado por nervos, gânglios e terminações nervosas. 13 Figura 8 6.1.1 Sistema Nervoso Central: O cérebro, que é dividido em duas regiões, o hemisfério direito e o esquerdo, é recoberto por uma camada chamada córtex cerebral. Esta camada é formada por pregas, originando os lobos e por isso apresenta uma aparência enrugada. O corpo caloso é quem une as duas regiões e que permite aos dois hemisférios compartilharem a 13 Figura 8: Fonte: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema sistema-nervoso/sistemanervoso-central.php> central.php> Acesso: 24 de maio de 2016. 22 aprendizagem e a memória, já que cada região do cérebro é especializada em uma determinada atividade (EQUIPE CULTURAL, 2014). 14 Figura 9 O cerebelo faz conexão entre a medula e o cérebro, e é a parte responsável pelo nosso equilíbrio e coordenação de movimentos. A medula espinhal é protegida pela coluna vertebral e é formada por células nervosas. Ela conecta-se ao cerebelo e transmite mensagens do cérebro ao corpo e do corpo ao cérebro (EQUIPE CULTURAL, 2014). 6.1.2 Sistema Nervoso Periférico: Como já citado anteriormente é formado por nervos, gânglios e terminações nervosas. Está presente em todas as partes do sistema nervoso, exceto no cérebro e na medula espinhal. 6.1.3 Células Nervosas: As células nervosas ou neurônios são o principal componente do cérebro. O funcionamento do cérebro depende do fluxo de informação através de elaborados circuitos que consistem em redes de neurônios. (EQUIPE CULTURAL, 2014) 14 Figura 9: Fonte: <http://www.culturamix.com/cultura/curiosidades/maiores-partes-do-corpo-humano/> Acesso: 24 de maio de 2016. 23 O neurônio é composto pelo corpo celular, que tem ramificações chamadas dendritos e que captam as mensagens enviadas de uma célula à outra; e pelo axônio, que é o prolongamento por onde são transmitidas as informações de um neurônio ao outro. Esta conexão entre os neurônios é chamada de sinapse e ocorre entre o axônio de uma célula e o dendrito de outra. Para que a sinapse ocorra é fundamental a presença de substâncias químicas chamadas neurotransmissores. 15 Figura 10 6.2 PLASTICIDADE CEREBRAL Até meados do século passado, supunha-se que os neurônios não possuíam capacidade de se dividirem, sendo impossível de se fazer algo quando as conexões e neurônios eram perdidos em consequência de lesões. A falta de conhecimentos específicos sobre a maleabilidade cerebral acabava favorecendo uma inércia terapêutica, em que se esperava apenas por uma recuperação espontânea das funções danificadas. Hoje, sabe-se, porém, que ao ocorrer uma lesão cerebral, as áreas relacionadas podem assumir em parte ou totalmente as funções daquela área lesada. ‘Essa plasticidade envolve todos os níveis do sistema nervoso, do córtex e até da medula espinhal’ (GAZZANIGA, HEATHERTON, 2005). (SILVA, 2006) O cérebro é um órgão com abundantes circuitos neurais e por isso com uma grande capacidade adaptativa, superior ao de outros órgãos. Os neurônios do sistema nervoso central são capazes de gerar novas ramificações e conexões, formando assim novas sinapses e renovando os circuitos neurais. A esta adaptação neural chamamos de plasticidade cerebral ou neuroplasticidade e isto ocorre em todas as fases da vida, porém com maior eficácia durante o desenvolvimento ou em cérebro jovens, em comparação com adultos e idosos. 15 Figura 10: Fonte: <http://ajudaescolar.weebly.com/tecido-nervoso.html> Acesso: 24 de maio de 2016. 24 A plasticidade é muito importante para a reaprendizagem de pessoas que sofreram lesões cerebrais ou que possuem alguma deficiência. Porém, vamos definir exatamente o que seria a plasticidade: A plasticidade neuronal pode ser definida como a capacidade das conexões sinápticas de um neurônio serem substituídas, aumentadas ou diminuídas em quantidade e de modificarem a atividade funcional, provavelmente influenciada por fatores químicos liberados pelas células alvo. (ODA; SANT´ANA; CARVALHO, 2002) Através da estimulação o cérebro é capaz de aprender e se adaptar, de melhorar e se aperfeiçoar através de novas conexões, ou seja, o cérebro é flexível e está continuamente reorganizando-se. Porém, como cita Louro (2009), a plasticidade não é capaz de realizar milagres. A capacidade do sistema nervoso central de formar novas conexões depende de diversos fatores como: idade, tipo de lesão, dimensão da região lesionada, data da ocorrência (se recente ou antiga), estímulos externos adequados, questões genéticas, motivação, saúde global da pessoa etc. Também não se pode saber ao certo como a plasticidade ocorrerá. Não há como prever de que maneira, quanto ou quando o cérebro vai conseguir se reorganizar. A capacidade de recuperação é uma coisa bastante particular; a neuroplastia também. (LOURO, 2012) A recuperação após uma lesão pode variar de pessoa a pessoa, contudo as terapias são de grande importância para ajudar na regeneração nervosa. É muito importante que haja esta estimulação, tanto sensorial quanto motora, pois quanto maior o número de estímulos, maior o número de sinapses e conexões, portanto mais rápida se dará a aprendizagem. A motivação também é de suma importância para os resultados de qualquer terapia de reaprendizagem (ODA; SANT’ANA; CARVALHO, 2002). Segundo Louro (2006), a plasticidade pode ocorrer de diversas formas: por morte programada de neurônios, por regeneração de axônios (no sistema nervoso periférico), por alterações morfológicas dos neurônios, por reorganização neuronal em novas regiões do cérebro e por fortalecimento de sinapses já existentes. O tipo de plasticidade que ocorrerá será determinado por fatores neurológicos e ambientais. 25 As conexões cerebrais, apesar de intrincadas e precisas, são altamente maleáveis e segundo Silva (2006), podem ser “rearranjadas a cada nova experiência, enquanto tantas outras sinapses são reforçadas, envolvendo múltiplas possibilidades de respostas”. Desta forma, o cérebro se modifica aos poucos, fisiológica e estruturalmente, como resultado da experiência. 6.2.1 Plasticidade Cerebral e a Síndrome de Down: Diversos são os exemplos que podemos citar para evidenciar a plasticidade e comprovar o quanto nosso sistema nervoso é adaptável e pode reorganizar-se mesmo após lesões sérias no cérebro. A plasticidade cerebral em pessoas com síndrome de Down é um dos exemplos, pois como já vimos, muitas são as lesões que acometem o cérebro dessas pessoas e grandes são os avanços cognitivos e motores que elas podem conseguir através de uma correta estimulação precoce, que ofereçam uma otimização de sua qualidade de vida, viabilizando a construção de sua autonomia. Quanto mais se oferecer um ambiente solicitador, que promova autonomia e diferentes possibilidades de descobertas de seu potencial, melhor será o seu desenvolvimento. Reconhecendo as características do fenótipo de pessoas com SD, deveríamos concentrar as atividades nas áreas em que há maior potencial. Assim, na medida em que o sujeito percebe que pode realizar determinadas tarefas com êxito, haverá satisfação e maior motivação para enfrentar aquelas que ele tem maior dificuldade, contribuindo para que, dessa forma, seu desenvolvimento físico e mental vá avançando passo a passo. (SILVA, 2006) O cérebro, por meio da experiência e estimulação, reorganiza-se continuamente, modifica-se estruturalmente criando novas conexões em áreas cerebrais mais ativas e, desta maneira, viabiliza novos caminhos para a aprendizagem, inclusive de pessoas com síndrome de Down. Flórez (2014) afirma que, as redes neurais estabelecem-se de forma distinta na síndrome de Down, resultando em uma organização distinta do cérebro, com potencial distorção no resultado final do processamento. Essas novas redes, talvez defeituosas, nos indicam a presença de uma diferença no processo completo do gerenciamento da informação cerebral. Ele salienta que “sua detecção e presença nos ajudam a estabelecer 26 formas de intervenção que aproveitem sua existência e ajudem a estabelecer respostas as mais próximas possíveis à normalidade”. O número de unidades neurais e de suas conexões está reduzido em certas zonas do cérebro da síndrome de Down, por isso as redes e circuitos que a formam terão uma menor extensão e uma menor capacidade organizativa, o que constitui a base da diminuição na expressão de determinadas habilidades. Mas, é possível que na síndrome de Down a redução da atividade de uma zona cerebral afetada possa ser substituída ou compensada pela atividade de outra, menos ou nada afetada? (...) São numerosos os exemplos em que a região de uma lesão cerebral deu lugar à ação substitutiva ou compensatória de outra, recuperando-se a função total ou parcialmente. (FLÓREZ, 2014) Diante destes fatos apresentados, podemos afirmar, segundo Equipe Cultural (2014), que as experiências de aprendizagem fomentam a produção de novas sinapses, ou seja, a aprendizagem realiza novos padrões de organização do cérebro através da plasticidade e que “uma estimulação bem estruturada pode promover o desenvolvimento da criança com SD, minimizando suas dificuldades e evidenciando a possibilidade da plasticidade” (SILVA, 2006). 27 7. DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DAS PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN Como já foi visto anteriormente, as pessoas com síndrome de Down, em decorrência da alteração cromossômica, apresentam lesões em diversas áreas do cérebro. Essas lesões afetam áreas importantes da cognição e por isso pessoas com SD não conseguem aprender com a mesma facilidade e agilidade das pessoas que nascem ‘normais’. Contudo, não podemos afirmar que as pessoas com SD não são capazes de aprender; muito pelo contrário, estes sujeitos apresentam dificuldades de aprendizagem de leve a moderada e com uma correta estimulação multiprofissional desde a infância, as pessoas com SD podem ter grandes avanços tanto cognitivos quanto motores. Todo processo evolutivo da criança com Síndrome de Down deve ser acompanhado por diversas áreas afins, tais como: fonoaudiologia, terapia ocupacional, musicoterapia, fisioterapia, psicologia, psicomotricidade, psicopedagogia, entre outros, se necessário. Quanto maior for sua estimulação, mais internalizados serão os domínios. (ALVES, 2011, p.39) Porém, como há uma disfunção de ordem neurológica, é claro que, mesmo com toda estimulação precoce, não podemos esperar de crianças com SD a mesma resposta de crianças ‘padrões’, pois a idade cronológica delas não é a mesma das crianças ‘normais’. Segundo Alves (2011), “a inteligência da criança com SD evolui até a possibilidade de cada uma”. Crianças com SD apresentam dificuldades de atenção, concentração, memória, processamento de informações, linguagem, motricidade, esquema corporal, integração social e autonomia. Porém, todas essas dificuldades são possíveis de serem superadas. Pinheiro (2011) afirma que todo trabalho de estimulação deve ser focado em uma dinâmica que a torne ativa através de “experiências que a façam descobrir seu mundo, as relações entre as coisas e as pessoas, entre sua pessoa e os outros e, principalmente, que descubra as suas próprias possibilidades e tenham a oportunidade de fazer pleno uso delas”. O importante é que, por meio de atividades terapêuticas, sejam trabalhados cooperação, organização, constituição, movimentos, autonomia, compreensão, exploração, com propostas lúdicas e materiais diversos e, por meio de comandos, sejam realizadas 28 atividades motoras como correr, pular, rolar, subir, descer, rasgar, pintar, empilhar, colar, picotar, amassar, arrastar, manusear, desenhar, reconhecer cores e formas, facilitando o desenvolvimento social, afetivo, cognitivo, motor, da linguagem, de grafismo, dos hábitos e das atitudes. (ALVES, 2011, p. 40) Ao apresentarem problemas de motricidade, a aquisição da escrita será um processo lento, pois o traçado das letras depende da motricidade fina e de firmeza ao segurar objetos pequenos como lápis e caneta. Esse processo precisa ser bem mais organizado e sistemático mediante essa dificuldade. Flórez (2014) também ponta que crianças com SD apresentam complexas dificuldades na fala devido a problemática existente nos centros nervosos da linguagem e apresentam alterações nos mecanismos de processamento da audição de palavras, ou seja, em sua capacidade de decodificar os fonemas adequadamente. Já a memória visual desenvolve-se mais rápido que a auditiva devido à maior quantidade de estímulos (SILVA, 2006). Devemos lembrar, contudo, que apesar das dificuldade de aprendizagem apresentadas pelas pessoas com SD, que “ por trás do cérebro que aprende, existe alguém que tem um ritmo próprio e um estilo diferente de aprender e que, como tal, precisa ser respeitado em sua individualidade”(SOUSA, 2014, p.30). A grande contribuição que a neurociência nos deu foi a descoberta de que o “cérebro de uma criança com SD amadurece continuamente e com isso há melhoras progressivas, principalmente quando estimulada, quando levada a pensar, expressar-se e descobrir soluções” (MACHADO, 2014, p.206). 29 8. INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS COM ARTES “A Psicopedagogia é uma área de conhecimento que desempenha um papel específico nas dificuldades do processo de aprendizagem. Tem um caráter preventivo e terapêutico”. (RAMALHO, 2015, p.23) Mediante o exposto pela citação acima, podemos concluir que o psicopedagogo pode ser um grande facilitador das dificuldades de aprendizagem, inclusive as apresentadas pelas pessoas com SD, pois “podem ser estabelecidas intervenções que permitam enfocar áreas de potencial que minimizem áreas de defasagem” (FIDLER, 2005 apud SILVA, 2006). No entanto, precisamos primeiro compreender o papel da Psicopedagogia Clínica e quais caminhos ela segue. Ramalho (2015), explica: Dentro da clínica, o papel da Psicopedagogia é constituído por quatro etapas: acolher em primeiro lugar a família que chega com suas angústias, queixas, dúvidas, inseguranças e desconhecimento sobre esta área tão rica em uma entrevista que chamamos de anamnese. Em seguida, avaliar cada caso com seus instrumentos próprios da Psicopedagogia, como provas operatórias (PIAGET), provas projetivas (desenhos), EOCA (Entrevista Operatória Centrada na Aprendizagem) e sessões lúdicas, sempre com olhar e escuta atentos a tudo, devolver à família a sua hipótese diagnóstica (laudo) e começar as intervenções terapêuticas planejadas de acordo com cada caso. As intervenções psicopedagógicas devem visar o sucesso cognitivo do sujeito, sempre priorizando o crescimento e amadurecimento cognitivo. A anamnese é de suma importância para o Psicopedagogo. É nesta conversa/entrevista com os pais, ou pessoas mais próximas ao sujeito, que o profissional passa a ter conhecimento de aspectos relevantes no desenvolvimento passado da criança e sua relação com o mundo. É este documento que permite ao profissional investigar e fazer da melhor forma as intervenções necessárias. Nesta entrevista o profissional deve estar atento à fala e visão da família sobre a história do sujeito, seus preconceitos, frustrações, afetos, conhecimentos e tudo aquilo que é depositado sobre ele. É de grande importância investigar fatores de como foi a gravidez, o parto, o período neonatal, história clínica, doenças, diferentes laudos, sequelas, queixas, história 30 do desempenho escolar, hábitos familiares, hábitos diários, desenvolvimento neuropsicomotor e interações sociais. Todas essas informações são muito importantes e servem de subsídio para as futuras intervenções a serem aplicadas junto ao sujeito. As provas operatórias de Piaget também podem ser aplicadas às crianças e adultos com SD para que se perceba o grau do déficit intelectual e em que estágio cognitivo este sujeito está, ou seja, que pontos apresentam mais dificuldades e que pontos já foram superados. Diversas são as provas operatórias de Piaget que servem de avaliação psicopedagógica, porém este trabalho não se deterá em apresentar minuciosamente cada um deles; apenas citarei algumas delas que são apresentadas por Ramalho (2015): - Prova de conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos; - Prova de conservação da quantidade da matéria; - Prova de conservação do peso; - Prova de conservação do volume; - Prova de conservação do comprimento ou distância - Prova de conservação de quantidade de líquido; - Prova de conservação da superfície; - Prova de dicotomia (mudança de critério); - Prova de seriação - palitos ou varetas; - Prova de intercessão de classes; - Prova de combinação de fichas; - Prova de permutações simples com um conjunto determinado de fichas, - Prova de predição. As provas projetivas tratam-se de desenhos que também avaliam a cognição e a personalidade das pessoas. Também podem ser aplicadas em acrianças e adultos com síndrome de Down. Carneiro (2010) nos conta que César Lombroso em 1888 também fazia uso da análise de desenhos e outras expressões artísticas para descobrir mais acerca das doenças mentais, mas que foi Mohr, em 1906, quem levantou a possibilidade de se aplicarem desenhos como testes de personalidade. 31 A arte, segundo Jung, pode e deve ser usada como componente de “cura”, além de a criatividade poder ter essa função em si mesma. (CARVALHO, 1995 apud CARNEIRO, 2010) No caso de pessoas com síndrome de Down, sabemos que apresentam muitas dificuldades de aprendizagem e a arte assume o papel de facilitadora desta aprendizagem, possibilitando que desenvolvam a autoestima, autonomia, formas de expressão de ideias que estimulem a imaginação, a memória, o raciocínio e a coordenação motora. “Desta forma, pessoas com SD percebem, através da arte, que possuem habilidades, sentimentos, desejos e opiniões como qualquer outra pessoa, apesar das suas limitações.” (CORRÊA, 2015). As artes fazem parte do lúdico, que atrai a grande maioria das pessoas com síndrome de Down, por isso, utilizar recursos das artes plásticas, música, dança e teatro são de grande valia para as intervenções desses sujeitos, pois oferecem um campo rico de experimentações e possibilitam a expressão de sentimentos, ideias e informações, interferindo e beneficiando no processo de aprendizagem (TEIXEIRA, 2006). Teixeira (2006) defende o uso das artes com pessoas com síndrome de Down: (...) a arte rompe o limite do racional e com o estigma da diferença. (...) pode favorecer compreensões mais amplas para que o [sujeito] desenvolva sua sensibilidade, afetividade, seus conceitos e posicionamento crítico. (...) As artes vem sendo uma forte aliada na construção de uma identidade dos indivíduos com síndrome de Down, desenvolvendo a autoestima, autoconfiança e independência. Flórez (2014) também defende o uso das artes em geral, pois diz que o perfil neurocognitivo das pessoas com síndrome de Down se caracteriza por terem uma maior habilidade em atividades não verbais que nas verbais, ou seja, as artes se enquadram perfeitamente nas atividades não verbais. Também Pinheiro (2011) afirma que a interação da música e da dança ajudam pessoas com SD a combater a agressividade, canalizando o excesso de energia; cria meios para que enfrentem o isolacionismo, desenvolve o espírito de iniciativa e auto expressão. 32 9. PROPOSTAS DE INTERVENÇÕES Neste capítulo, sugiro algumas propostas de intervenções com artes para pessoas com síndrome de Down. O grau de dificuldade das atividades apresentadas pode variar de sujeito a sujeito, pois como já dissemos anteriormente, cada indivíduo é único e apresenta as suas particularidades. Proposta 1: Trabalhar a coordenação motora e atenção. Imprimir letras e números, dois por folha modelo A4 e, em uma primeira etapa, pedir para que pinte com tinta a dedo. Segunda etapa: pedir para que pinte com giz de cera grosso. Terceira etapa: usar guache e pincel. Quarta etapa: contornar as letras/números com canetinha hidrográfica e pintar com lápis de cor. Proposta 2: Trabalhar a coordenação motora fina. Desenhar as letras e números com os dedos, em caixas de areia e também modelar com massinha. Proposta 3: Trabalhar a concentração e atenção. Utilizar quebra-cabeça com peças gigantes, de aproximadamente 15 cm x 10 cm. 16 Figura 11 16 Figura 11: Foto de arquivo pessoal. 33 Proposta 4: Trabalhar com atenção, memória visual e estimulação de noções de parte e todo. Dominó “Abstração de Partes” da Simgue, Binquedos Educativos. Joga-se como um dominó convencional, porém para pessoas com deficiência indico, em um primeiro momento, o uso das peças viradas para cima e o sujeito vai encontrando as peças que tenham o objeto todo ou o objeto em partes. 17 Figura 12 Proposta 5: São atividades sugeridas no livro “Atividades Neuropsicopedagógicas de intervenção e reabilitação – Vol.4” de Simana Sampaio. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2016. Cada atividade proposta tem em sua parte superior o que se pretende estimular. Algumas destas atividades selecionadas encontram-se em anexo nas páginas 38 à 44. Proposta 6: É uma atividade sugerida no livro “Toc, toc... plim, plim!: Lidando com as emoções, brincando com o pensamento através da criatividade” de Ângela M. Rodrigues Virgolim. 13ª edição. Campinas-SP: Papirus, 2012. 17 Figura 12: Foto de arquivo pessoal. 34 A atividade selecionada trabalha com a criatividade e coordenação motora fina. Encontra-se em anexo na página 45. Proposta 7: Trata-se de uma atividade inserida no livro “Exercite sua mente: atividades para memória, atenção, concentração, raciocínio e habilidades mentais” de Anna Puig. 3ª edição. Petrópolis-RJ: Vozes, 2014. A atividade proposta trabalha com habilidade e coordenação motora fina. Encontra-se em anexo na página 46. Proposta 8: São atividades propostas pelo site Movimento Down, criadas especialmente para crianças com síndrome de Down. Trata-se de atividades criadas a partir de jogos conhecidos como Quebra-Gelo18, Pula-Pirata19, Super-Memória20, Pizzaria Maluca21 e Cara-a-Cara22. 18 Fonte: <http://www.movimentodown.org.br/wp-content/uploads/2013/09/1.-Quebra-Gelo-Caderno-de- Atividades.pdf> Acesso em: 20 de junho de 2016. 19 Fonte: <http://www.movimentodown.org.br/wp-content/uploads/2013/09/2.-Pula-Pirata-Caderno-de- Atividades_ok.pdf> Acesso em: 20 de junho de 2016. 20 Fonte: <http://www.movimentodown.org.br/wp-content/uploads/2013/09/3.-Super-Mem%C3%B3riaCaderno-de-Atividades.pdf> Acesso em: 20 de junho de 2016. 21 Fonte: <http://www.movimentodown.org.br/wp-content/uploads/2013/09/4.-Pizzaria-Maluca-Caderno- de-Atividades.pdf> Acesso em: 20 de junho de 2016. 22 Fonte: <http://www.movimentodown.org.br/wp-content/uploads/2013/09/5.-Cara-a-Cara-Caderno-de- Atividades.pdf> Acesso em: 20 de junho de 2016. 35 10. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir desta pesquisa pude constatar o quanto as intervenções psicopedagógicas com artes beneficiam as pessoas com síndrome de Down, pois por apresentarem um déficit intelectual, a maturação neurológica acontece lentamente através da plasticidade cerebral e isso faz com que as artes, que são formas de comunicação não verbal, ajudem no desenvolvimento cognitivo dessas pessoas. Além dos benefícios cognitivos, as artes também propiciam um ambiente facilitador de aprendizagem e faz com que as pessoas com síndrome de Down se sintam ativas e mais estimuladas, com uma melhora na autoestima e autonomia. A arte, neste caso, não tem por fim a arte, mas sim o prazer em realizá-la e os benefícios oferecidos a quem possui deficiência intelectual. O psicopedagogo, neste caso, tem a função de facilitar a aprendizagem dessas pessoas, proporcionando intervenções que estimulem suas capacidades e habilidades. Porém, sempre com olhar atento de também intervir nos aspectos que precisam de melhora. Compreender o funcionamento do cérebro das pessoas com síndrome de Down e suas características clínicas faz toda diferença na hora de planejar atividades direcionadas a esse público e saber adaptá-las se necessário. É importante entendermos também que, mesmo a pessoa tendo síndrome de Down, cada uma é única e apresenta particularidades em suas dificuldades de aprendizagem. Com isso, não podemos generalizar quanto aos avanços cognitivos dessas pessoas, pois vai depender individualmente de suas características e tamanho da área lesionada no cérebro. O principal é que haja uma estimulação multiprofissional contínua desde o início da vida e o psicopedagogo saber corretamente como utilizar as ferramentas de expressão artística, sendo estas as artes visuais, música, dança e teatro, pois facilitarão na aprendizagem, autonomia e independência das pessoas com síndrome de Down. 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Fátima. Para Entender Síndrome de Down. Rio de Janeiro. 2ª edição. Wak Editora, 2011. CARNEIRO, Celeste. Arte, Neurociência e Transcendência. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010. CORRÊA, Solânia M. F. A arte para os portadores de síndrome de Down. 2015. Disponível em: <https://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/posdistancia/53554.pdf> Acesso: 20 de maio de 2016. COSENZA, Ramon M.; GUERRA, Leonor B. Neurociência e Educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011. EQUIPE CULTURAL. Transtornos de aprendizagem e autismo. Abacus Gráfica, S.L. 2014. FLÓREZ, Jesús. 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