Diabetes TEMAS DE mellitus INTERESSE Prezado(a) colega, O diabetes mellitus acomete 7,5% das pessoas entre 30 e 60 anos. Com o aumento da idade, na parcela da população maior de 60 anos o diabetes passa a atingir 17,4%. A incidência é crescente conforme a idade e a doença é uma importante questão de saúde pública, uma vez que frequentemente está associada a complicações que comprometem a produtividade, qualidade de vida e sobrevida dos indivíduos afetados, além do alto custo envolvido no seu tratamento e no cuidado com suas complicações. A doença é um fator de risco significativo para eventos coronarianos e contribui, consideravelmente, para o surgimento de outras enfermidades como cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca, acidente vascular encefálico e hipertensão arterial sistêmica. O diabetes é também a principal causa de cegueira adquirida e de amputação dos membros inferiores, além de ser responsável por 26% dos pacientes que ingressam em programas de diálise. A tendência da medicina, assim como de outras ciências, por meio de novas tecnologias disponíveis no mercado e a facilidade para a promoção de pesquisas e estudos, é garantir diagnósticos mais precisos e seguros. São modernos sistemas, equipamentos e tratamentos que colaboram, significativamente, com o médico e a favor do paciente para prevenção, detecção e acompanhamento de doenças, entre elas o diabetes. Dessa forma, com o objetivo de trocar com os colegas experiências, informações sobre temas relevantes e atuais na especialidade, compilamos dados importantes estudados pela equipe médica da Diagnósticos da América sobre o diabetes e publicados em informes exclusivos da companhia. Diagnósticos da América. sumário A importância da Glicemia Média Estimada 4 Sistema de monitorização contínua de glicose ou Holter de glicose 6 Interpretação clínica e laboratorial da função renal O que não devemos esquecer: Parte I creatina, creatinina, uréia, clearence e filtração glomerular estimada 9 Parte II proteinúria: como melhor interpretar seus resultados 15 Como e quando procurar doença coronariana em pessoas com diabetes 25 Inibidor do ativador do plasminogênio 1 como preditor de doença macrovascular no diabetes tipo 2 31 Canal do Médico 34 3 A IMPORTÂNCIA DA GLICEMIA MÉDIA ESTIMADA A determinação da hemoglobina glicada (A1C) consiste em método padrão ouro no monitoramento do controle glicêmico dos pacientes diabéticos. A sua associação com o risco de desenvolvimento de complicações em longo prazo resultou no estabelecimento de metas específicas de A1C com o objetivo de prevenir ou retardar tais complicações. O tratamento do paciente diabético é ajustado baseado nos resultados da A1C, expressos em percentagem de glicação de hemoglobina, que por sua vez reflete o montante de exposição de glicose que os tecidos sofrem. O controle glicêmico de médio e longo prazo (A1C) é expresso em percentagens de hemoglobina glicada, enquanto o monitoramento diário do paciente (através do uso de glicosímetros) é baseado em níveis de glicose em miligramas por decilitro (mg/dL). A maioria dos pacientes e médicos não endocrinologistas está mais familiarizada com níveis de glicemia expressos em mg/dL, e não com a percentagem de glicação de hemoglobina, tornando difícil a compreensão exata do que realmente expressa a A1C e, consequentemente, resultando no retardo em mudanças no esquema terapêutico assim como em dificuldade na compreensão dessas mudanças. Tais dificuldades poderiam ser contornadas se o controle glicêmico de médio e longo prazo fosse expresso também em mg/dL, ou seja, nas mesmas unidades de medida empregadas no monitoramento diário das glicemias. Vários estudos já tentaram estabelecer uma correlação entre A1C e glicemia média das útlimas 5-12 semanas. A maioria dos estudos, entretanto, apresenta várias limitações, tais como: número pequeno de pacientes incluídos, amostra muito homogênea (incluindo apenas pacientes com diabetes tipo 1) assim como número insatisfatório de glicemias capilares registradas para obter a glicemia média. Neste contexto Nathan e colaboradores, representando o A1C-Derived Average Glucose Study Group (ADAG) realizaram um estudo multicêntrico internacional com 507 pacientes (268 com diabetes tipo 1, 169 com diabetes tipo 2 e 80 não diabéticos) para examinar a correlação entre A1C e a glicemia média, acessada de forma mais completa possível com a combinação do monitoramento contínuo da glicose e monitoramento frequente (sete vezes ao dia) através de glicemia capilar. Os resultados do estudo ADAG confir4 maram a existência de uma relação linear entre os níveis de A1C e de glicemia média em um intervalo clinicamente relevante de variação glicêmica. O estudo permitiu ainda definir a relação matemática entre A1C e a glicemia média, ou seja, permitiu estimar a glicemia média (GME) através de uma equação matemática: 28,7 x A1C - 46,7. A American Diabetes Association (ADA) disponibiliza no site www.diabetes.org/professional/eAG a possibilidade de se obter, a partir da A1C, os valores da GME e vice versa. A tabela abaixo resume os valores de correlação entre A1C e GME na faixa de resultados de A1C entre 6 e 10%. Novas correlações entre níveis de A1C e de glicemia média Nível de A1C (%) Nível de Glicemia Média Estimada Nível de A1C (%) Nível de Glicemia Média Estimada 6 126 8,5 197 6,5 140 9 212 7 154 9,5 226 7,5 169 10 240 8 183 Fórmula de cálculo da glicemia média estimada: 28,7 x A1C - 46,7 CORRELAÇÕES ENTRE A1C E GME NA FAIXA DE RESULTADOS DE A1C ENTRE 6 E 10% Em resumo, a A1C e a GME representam a mesma coisa, entretanto, a GME deixa a compreensão do controle glicêmico mais fácil já que expressa o grau de controle do diabetes nas mesmas unidades que os pacientes e clínicos gerais estão habituados, ou seja em mg/dL. Diante do exposto, a ADA, a European Association for the Study of Diabetes (EASD) e a International Diabetes Federation (IDF) estão promovendo ações conjuntas para promover o conceito de glicemia média estimada (GME), recomendando inclusive que o laudo da A1C venha acompanhado do resultado da GME. Este procedimento ganha ainda mais relevância diante do fato do diabetes representar uma doença onde o paciente participa ativamente do tratamento. Ou seja, quanto melhor o paciente compreende o que realmente a A1C está expressando, maiores são as possibilidades de adesão ao tratamento. 5 Leitura complementar Sugerida American Diabetes Association: Standards of medical care of diabetes. Diabetes Care 2007; 30 (Suppl 1):4-41. Consensus Committee: Consensus statement on the worldwide standardization of the hemoglobin A1C measurement: the American Diabetes Association, European Association for the Study of Diabetes, International Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine, and the International Diabetes Federation. Diabetes Care 2007; 30:2399-400. DirectNet Study Group: Relationship of A1C to glucose concentrations in children with type 1diabetes: assessments by high frequency glucose determination by sensors. Diabetes Care 2008; 31:381-5. Nathan DM, et al. Translating the A1C Assay Into Estimated Average Glucose Values. Diabetes Care 2008; 31:1-6. Sistema de monitorização contínua de glicose (CGMS) ou holter de glicose Figura 1: Monitor de CGMS 6 Figura 2: Registro gráfico dos níveis glicêmicos O exame de monitorização contínua da glicose (CGMS) ou holter de glicose consiste em um registro detalhado dos níveis glicêmicos que tem relevância em algumas situações clínicas de distúrbios na homeostase da glicose. É um sistema eficaz que, a cada 5 minutos, grava os valores de glicemia (288 medidas/ dia), e são colocados num gráfico para facilitar a visualização. Sucintamente o exame consiste na aplicação de um sensor na região subcutânea do paciente que é acoplado a um monitor (figura 1), que é manuseado pelo paciente. Para calibrar o aparelho, o paciente deve realizar 4 glicemias capilares durante o dia e inserir os valores no monitor. Este é de fácil manuseio e o paciente recebe um treinamento detalhado antes de ser dispensado para suas atividades cotidianas. No monitor registra-se também os eventos do dia, como o uso de medicamentos, aplicação de insulina, atividade física, sintomas sugestivos de hipoglicemia e refeições. Isto é importante, pois será correlacionado com os valores de glicemia registrados no momento do evento, assim como nos momentos seguintes. A monitorização de glicose pode ser feita durante 24, 48 ou até 72 horas, de acordo com a solicitação médica. No entanto, atualmente preconiza-se que períodos maiores sejam utilizados, pois esses mostraram oferecer informações mais ricas, já que nos primeiros dias o paciente pode tender a procurar fazer um melhor controle, fora do seu hábito, em função de estar com o aparelho; efeito este que diminui com maior número de dias com o mesmo. Na prática, o paciente fica com o sensor e o monitor, exercendo suas atividades diárias normalmente. Completado o período de monitorização, o paciente dirige-se ao laboratório para a retirada do sensor. Os dados registrados no monitor não são visualizados diretamente e devem ser baixados por um programa de computador específico e então são obtidos os relatórios e gráficos que expressam os valores glicêmicos obtidos durante o período (figura 2). Um aspecto importante a ser ressaltado é que o CGMS representa uma ferramenta educacional útil, melhorando a motivação e a colaboração dos pacientes no controle metabólico. A demonstração objetiva de que os hábitos alimentares, a atividade física e o uso de medicamentos interferem diretamente no comportamento da glicemia, visualizado de forma gráfica e didática, representa um estímulo para obter um melhor controle glicêmico. Isto contribui na orientação 7 das modificações comportamentais requeridas para alcançar o bom controle do diabetes. CGMS é indicado em todos os pacientes diabéticos, além de ter utilidade em pacientes não diabéticos com suspeita de anormalidades na homeostase da glicose. O exame pode ainda ser indicado na avaliação de situações particulares, como: níveis elevados de hemoglobina glicada (HbA1C), episódios de hipoglicemia com perda de consciência em indivíduos diabéticos e não-diabéticos, episódios de hiperglicemia, cetoacidose diabética, alterações dos níveis glicêmicos sem causa aparente, avaliação de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica (confirmação da suspeita da síndrome de Dumping), diabetes gestacional, pré-concepção, gravidez e amamentação, avaliação de modificações no regime terapêutico de pacientes diabéticos, avaliação das modificações comportamentais que afetam o controle glicêmico, em pacientes que utilizam medicações que interferem nos níveis de HbA1C, tornando-os ineficazes para controlar o diabetes (por ex., eritropoetina). É importante ressaltar que durante a realização do CGMS, o paciente tem à sua disposição um canal direto de comunicação com o nosso serviço, o qual deve ser acionado nas situações de dúvidas ou intercorrências que necessitem orientação ou auxílio de um profissional capacitado. As dificuldades técnicas na realização do exame são minimizadas com a boa orientação e treinamento do paciente, e se necessário, dos familiares. O CGMS hoje representa uma excelente abordagem de avaliação dinâmica dos níveis glicêmicos, correlacionando-os com os eventos diários. leitura complementar Sugerida Boland EA, Tamborlane VW. Continuous glucose monitoring in youth with type 2 diabetes: overcoming barriers to successful treatment. Diabetes Technol Ther 2000; 2:S53-59. Djakoure-Platonoff C, Radermercker R, Reach G, Slama G, Selam JI. Accuracy of the continuous glucose monitoring system in inpatient and outpatient conditions. Diabetes Metab 2003;29 (2Pt1):159-62. 8 Kaufman FR. Role of continuous glucose monitoring in pediatric patients. Diabetes Technol Ther 2000; 2:S49-52. Sachedina N, Pickup JC. Performance assessment of the Medtronic-Minimed Continuous Glucose Monitoring System and its use for measurement of glycaemic control in Type 1 diabetic subjects. Diabet Metab 2003;20:1012-5. Schaepelynck-Belicar P, Bague P, Simonin G, Lassmann-Vague V. Improved metabolic control in diabetic adolescents using the continuous glucose monitoring system (CGMS). Diabet Metab 2003;29:608-12. Sites consultados http://www.minimed.com/products/cgms http://diabetes.webmd.com/continuous-glucose-monitoring Interpretação Clínica e laboratorial da função renal: O que não devemos esquecer: Parte I Creatina, creatinina, uréia, clearence e filtração glomerular estimada Uma aprendizagem significativa dos exames laboratoriais solicitados para avaliar a função renal é de suma importância para o reconhecimento precoce da disfunção renal e para estabelecer uma conduta clínica adequada. Na prática clínica utilizamos entre outros parâmetros a creatinina, creatinúria, uréia e clearance de creatinina para o diagnóstico de doenças renais. Nesta publicação abordaremos os principais significados destes parâmetros e a análise crítica dos seus resultados. Creatina É uma substância natural que pode ser encontrada na carne e no peixe e pode também ser produzida pelo fígado, pâncreas e rins a partir dos aminoácidos arginina, glicina e metionina. 9 ✔ O que não devemos esquecer:: • O paciente é portador de insuficiência hepática grave? Se sim, haverá uma produção insuficiente de creatina e por consequência de creatinina, limitando ainda mais a avaliação da função pela creatinina endógena; • O paciente relata uma dieta copiosa de carne no dia anterior ao exame? Importante, pois a ingestão de carne é um dos fatores determinantes da geração de creatinina. O cozimento da carne transforma a creatina em creatinina podendo causar um aumento de 1 mg/dL na creatinina sérica. Se não bem interpretada pode erroneamente ser interpretada como importante perda da função renal. Creatinina É um produto da degradação da fosfocreatina no músculo e é geralmente produzida em uma taxa constante pelo corpo – taxa de produção diretamente proporcional à massa muscular. É livremente filtrada e não sofre reabsorção. Entretanto, 15% a 25% são secretadas pelos túbulos proximais. ✔ O que não devemos esquecer: • Que há fatores extra renais que aumentam e diminuem os níveis de creatinina. Aumentam: rabdomiomiólise, exercício vigoroso, esteróides anabólicos, creatina da dieta, bloqueio da secreção da creatinina por drogas como trimetropim e fenofibratos entre outros. Diminuem: cirrose, diminuição da massa muscular, tetraplegia, amputações, dieta vegetariana, entre outros; • A avaliação da função renal pela creatinina sérica tem baixa sensibilidade, pois não há uma correlação linear entre a perda da função renal e a creatinina sérica. Os nefrons remanescentes hiperfiltram e há um aumento da secreção da creatinina na insuficiência renal, fazendo com que os níveis de creatinina ultrapassem seus valores de referência somente quando há perda de 50% da função renal. Caso você acompanhe um paciente que apresente um aumento da creatinina progressivo, detectado por dosagens sequenciais de 0.8 mg/dL para 1.2 mg/dL, estes valores podem estar dentro dos valores de referência do laboratório mas já representam uma perda da função renal em torno de 30%; • A principal eliminação da creatinina se faz pelos rins, porém, em caso 10 de insuficiência renal, pode haver 68% de degradação da creatinina ao nível do intestino através das bactérias da secreção intestinal. Assim, algumas vezes podemos observar elevação de creatinina sérica secundária à diminuição das bactérias intestinais nos pacientes em uso de antibióticos. Fato este que pode ser erroneamente interpretado como agudização da insufiência renal pré-existente; • Existe uma variação dos níveis de referência da creatinina sérica entre os laboratórios. Alguns colocam uma referência única para homens, mulheres e crianças, já outros colocam referências diferentes para cada sexo e crianças. Assim, o médico deve escolher um único laboratório para indicar a seu paciente. Uréia É a principal forma de eliminação dos grupos amino derivados dos aminoácidos e responde por mais de 90% dos componentes nitrogenados da urina. É livremente filtrada, porém, 40 a 50% são reabsorvidas no túbulo contornado proximal. ✔ O que não devemos esquecer: • Existem fatores extras renais responsáveis pelo o aumento da uréia – Causas pré-renal, falência cardíaca, hemorragias gastrointestinais, hiperalimentação, uso de corticóide e tetraciclina, infecção entre outros; • Existem fatores extras renais responsáveis pela diminuição da uréia - Cirrose, desnutrição protéica, hiper hidratação entre outros; • Devemos constantemente verificar a relação da uréia/ creatinina. Se maior de 30-40, lembrar dos fatores extras renais responsáveis pelo aumento da uréia; • Além do aumento do catabolismo protéico, qualquer situação clínica que estimule a reabsorção tubular de sódio determinará um aumento dos níveis sanguíneos de uréia desproporcional ao da creatinina, por exemplo: estado de hipovolemia e glomerulonefrite pós-infecciosa. 11 Clearence de Creatinina ✔ O que não devemos esquecer: • As indicações principais da solicitação são: Screnning para presença da doença renal, verificar o prognóstico e o efeito terapêutico estabelecido através da avaliação da progressão da doença renal, e determinar a indicação do tratamento dialítico; • Devido à secreção tubular, a taxa de filtração glomerular é superestimada por este parâmetro e além desta limitação sempre há uma coleta inadequada da urina de 24 horas; • A creatininúria auxilia a avaliação da filtração glomerular e serve para verificar a precisão da coleta de urina de 24 horas, com base em níveis relativamente constantes de excreção de creatinina; • Primeiramente devemos checar a cratininúria de 24 horas que em torno de 20 a 25 mg/Kg em homens e 15 a 20 mg/Kg em mulheres. Se maior ou menor que os valores de referência, devemos checar os clearences históricos ou repetir o exame. Os resultados elevados podem representar uma coleta de mais de 24 horas ou uma secreção tubular de creatinina aumentada, e os valores diminuídos podem representar uma coleta menor de 24 horas ou uma secreção diminuída de creatinina como nos casos de uma perfusão renal prejudicada, doença renal ocasionada pela obstrução do trato urinário, pielonefrite bilateral crônica, doença renal policística entre outros; • A alteração do clearance de creatinina não implica necessariamente em doença renal. Devemos verificar a presença de: gravidez, diminuição da perfusão renal, uso de anti-inflamatórios não hormonais, dieta rica em proteínas, glicemia, pressão arterial e uso de anti-hipertensivos; • A partir da terceira década perdemos 1 mL/min de clearence por ano. O idoso é portador de insuficiência renal secundária ao envelhecimento fisiológico dos rins. 12 Clearance de uréia ✔ O que não devemos esquecer: • Como 40 a 50% da uréia é reabsorvida, seu clearance subestima a taxa de filtração glomerular. Alguns autores recomendam fazer a média do clearance de creatinina e uréia para uma melhor estimação da taxa de filtração glomerular. Filtração glomerular estimada A limitação do uso de creatinina sanguínea e de sua depuração na avaliação da função renal levou vários autores a proporem diferentes fórmulas: Cockcroft-Gault (mL/min) = 140 – idade(anos) x peso (Kg)/72 x Scr Se mulher, multiplicar por 0,85. Como está fórmula estima apenas o clearance de creatinina, seus valores superestimam a taxa de filtração glomerular. Além disso, em idades extremas os resultados são subestimados quando comparados ao clearence de creatinina e em jovens são superestimados. Modification of Diet in Renal Disease (MDRD) (mL/min/1.73 m2) A fórmula pode ser encontrada no site da Sociedade Brasileira de Nefrologia (www.sbn.org.br). Para utilizar esta fórmula é recomendável um estudo com nossa população e recalibrar o ensaio de dosagem de creatinina sanguínea ao laboratório central da Cleveland Clinic, onde se processaram todas as dosagens do estudo. Atualmente os kits de creatinina utilizados em nossos labaratórios permitem sua utilização na fórmula proposta do MDRD. MDR D Cockroff-Gault Taxa de filtração glomerular Depuração de creatinina (iotalamato-125) Peso Peso mL/min/1,73 mL/min 13 ✔ O que não devemos esquecer: Quando não aplicar as fórmulas acima: 1. Idade e massa corporal extremas; 2. Desnutrição e obesidade severa; 3. Doença do músculo esquelético; 4. Paraplegia e tetraplegia; 5. Dieta vegetariana; 6. Mudança abrupta da função renal; 7. Gravidez. É importante ressaltar que em muitas situações clínicas, excetuando reajuste de dosagem de medicamentos, o exato conhecimento da taxa de filtração glomerular não é necessário. O que é importante é saber se o paciente portador de doença renal está com a taxa de filtração glomerular estável ou não. Monitorização esta que pode ser realizada utilizando a creatinina sérica, clearance de creatinina ou pela estimação da taxa de filtração glomerular apesar das limitações acima relatadas. leitura complementar Sugerida Lesley A. Stevens & Andrew S. Levey. Measurement of Kidney Function.. Med Clin N Am 2005; 89: 457-73. Lesley A. Stevens, Josef Coresh, Tom Geene and Andrew S. Levey. Assessing Kidney Function - Measured and Estimated Glomerular Filtration Rate. N Engl J Med 2006; 354: 2473-83. Stevens A & Levey S. Assessment of kidney function: Serum creatinine; BUN; and GFR.. Disponível em: URL. http:/www.uptodate.com ( acessado em 20/01/2009). 14 Parte II Proteinúria: como melhor interpretar seus resultados A proteinúria (PTN) é reconhecida como um fator de risco independente de doença renal e um marcador para doença cardiovascular. A presença do aumento da excreção da proteína tem valor diagnóstico e prognóstico na descoberta inicial e confirmação da doença renal e a sua quantificação é importante na avaliação da eficácia terapêutica e da progressão da doença. A NKF (National Kidney Foundation) recomenda a utilização da excreção urinária de proteína como instrumento de investigação nos pacientes de risco para desenvolvimento de doença renal. O aumento da excreção de proteína ou albumina tem sido utilizado para se detectar precocemente várias condições específicas como nefropatia diabética, pré-eclâmpsia, nefrotoxidade por drogas entre outras. Em todas as situações clínicas é reconhecido que o padrão ouro na quantificação da proteinúria é a sua dosagem em urina de 24 horas, já que a excreção de proteínas tem ritmo circadiano. Os valores normais, assim como os alterados constam no quadro 1. No entanto, os erros são frequentes na coleta da amostra, o que pode influenciar negativamente a sua interpretação. Atualmente, começa-se a utilizar as razões albumina/creatinina ou proteína total/creatinina, numa amostra aleatória de urina, em alternativa à proteinúria de 24 horas. Vale ressaltar que para uma análise crítica adequada e para melhor interpretar os resultados dos exames laboratoriais utilizados para detecção e quantificação da proteinúria se faz necessário o conhecimento sobre a sua indicação bem como da limitação de cada exame solicitado. Assim, abordaremos nesta publicação, tópicos importantes a serem lembrados no momento da interpretação clínico e laboratorial dos seguintes exames: • • • • • • • • Tiras teste/sumário de urina; Tiras teste para detecção de microalbuminúria; Proteinúria de 24 horas; Razão proteína/creatinina em amostra de urina aleatória; Microalbuminúria de 24 horas; Razão albumina/creatinina em amostra de urina aleatória; Eletroforese das proteínas urinárias; Testes de turvação da urina. 15 Proteínas totais Normal (adultos) < 150 Proteinúria > 150 Nefrótica > 3500 Albumina Normal 2-30 Microalbuminúria 30-300 Macroalbuminúria > 300 Quadro 1: Classificação da excreção diária de proteínas (mg/24h) Tiras teste/sumário de urina É o método mais comum de medir a proteinúria. O resultado é dado em cruzes, de 0 a 4+ e a avaliação é semiquantitativa. Deve-se salientar que a determinação da proteinúria por tira teste, numa amostra isolada de urina, não traduz necessariamente a excreção urinária de proteínas nas 24 horas. Uma proteinúria significativa pode, por exemplo, não ser detectada por tira teste, se o débito urinário for muito elevado. No quadro 2 consta a correspondência entre cruzes de proteinúria e sua concentração. Traços 15-30 mg/dl 1+ 30-100 mg/dl 2+ 100-300 mg/dl 3+ 300-1000 mg/dl 4+ > 1000 mg/dl Quadro 2: Correspondência entre cruzes obtidas em tira teste para pesquisa de proteinúria e a concentração estimada de proteína na amostra 16 ✔ O que precisamos lembrar: • Método fácil, rápido; • Mede a concentração de proteínas através de uma reação colorimétrica entre albumina e o azul de tetrabromofenol; • A cor indicadora se altera de acordo com a quantidade de proteína; • Detecta somente albumina. Não detecta globulinas, mucoproteínas e proteína de Bence-Jones; • Reflete proteinúria glomerular; • Reflete a concentração da proteína urinária e não valores absolutos. Em presença de urina diluída ou baixas concentrações urinárias de proteínas pode fornecer resultados falso negativos; • São úteis na detecção de lisozima urinária, uma proteína que surge na leucemia mielo-monocítica aguda; • Não é um método adequado quando se suspeita de proteinúria de sobrecarga ou proteína tubular: as tiras teste são altamente específicas para a albumina, que é carregada negativamente; por isso podem fornecer resultados falso negativos em presença de proteínas catiônicas, como cadeia leves de imunoglobulina ou beta-2 microglobulina; • Relativamente insensível: limite de detecção de 10-30 mg/ dl. Positivo quando PTN 24 hs > 300-500 mg/dia; • Falso negativos: proteínas pequenas e positivamente carregadas (cadeias leves) e urina diluída; • Falso positivos: radiocontrastes (< 24 horas da realização do exame), Pyridium, antissépticos, pH > 8,0, hematúria macroscópica e urina concentrada. Tiras teste para detecção de microalbuminúria Existem testes semi-quantitativos com tiras reagentes próprias. A sensibilidade e a especificidade desses testes variam entre 80-97% e 33-80%, respectivamente. ✔ O que precisamos lembrar: Como os resultados dessas tiras podem ser influenciados pelas variações nas concentrações da urina, essas devem ser utilizadas quando não é possível fazer uma avaliação quantitativa da microalbuminúria. 17 Proteinúria de 24 horas A medida da excreção de proteínas numa coleta de urina de 24 horas, apesar de ser um método largamente usado, não deixa de apresentar alguns inconvenientes: o incômodo para o doente e a possibilidade de incorreções por coleta incompleta. ✔ O que precisamos lembrar: A dosagem simultânea de creatinina na amostra de urina de 24 horas pode ser útil na detecção de erros de coleta. Em indivíduos com função renal estável, a excreção diária de creatinina varia entre 1000 e 2000 (16 a 26 mg/kg) no homem, e 750 e 1400 (12 a 24 mg/kg) na mulher. Resultados maiores ou menores da creatininúria podem ser secundários a uma coleta inadequada. Razão proteína/creatinina (P/C) em amostra de urina aleatória São exames mais simples de executar, com menores custos e maior comodidade para os doentes. Essas medidas correlacionam-se estreitamente com as excreções diárias de proteínas em g/1,73 m2 de superfície corporal. ✔ O que precisamos lembrar: • Útil quando a coleta adequada de urina de 24 horas é difícil: crianças pequenas, pacientes incontinentes; • Sempre que possível, deve-se utilizar a segunda micção da manhã. Vale lembrar que o importante é coletar sempre na mesma hora, devido à variação circadiana na excreção protéica; • O índice aproxima-se da excreção urinária de proteínas nas 24 horas em g/dia/1,73m2. Os quadros 3 e 4 mostram resultados normais e alterados: Normal Quadro 3: Razão proteína/creatinina em amostra de urina, quando proteína e creatinina urinárias liberadas em mg/dl 18 Doença renal Síndrome nefrótica < 0,2 0,2-3,5 > 3,5 Exemplo: Paciente em coleta aleatória de urina tem PTN de 100 mg/dl (dipstick com ++) Creatinina urinária de 50 mg/dl Relação proteína/creatinina na urina = 100mg/dl = 2 50 mg/dl Normal Quadro 4: Razão proteína/creatinina em amostra de urina, quando proteína e creatinina urinárias liberadas em mg/g Doença renal Síndrome nefrótica < 200mg/g 200-3500mg/g > 3500mg/g Exemplo: Paciente em coleta aleatória de urina tem PTN de 100 mg/dl (dipstick com ++) Creatinina urinária de 0,05g/dl Relação proteína/creatinina na urina = 100mg/dl = 2000mg/g 0,05 g/dl PTN de 24 horas = aproximadamente 2g/dia/1,73m2 Está indicado na prática clínica se o objetivo for detectar a presença de níveis críticos de proteinúria, por exemplo proteinúria > 1g, e quando sua modificação ao longo do tempo for mais importante que seus os valores absolutos. A razão P/C é uma alternativa, especialmente para monitorizar a excreção de proteína nas condições onde medidas repetidas são mandatórias para o sucesso da conduta clínica, como por exemplo nas glomerulopatias. Subestima a excreção protéica em homens musculosos, com alta taxa de excreção de creatinina. Superestima o grau de proteinúria em paciente caquético com massa muscular e excreção de creatinina muito reduzidas. 19 Microalbuminúria A detecção da microalbuminúria é medida importante para identificar indivíduos com maior risco de doença cardiovascular e com lesão renal passível de progressão para a insuficiência renal. Os valores de albuminúria utilizados para micro e macroalbuminuria em pacientes diabéticos são mostrados no quadro 5. Amostra isolada mg/ml Amostra isolada mg/g Creatinina Amostra de 24h mg Amostra de 12h diurnas µg/min Amostra de 12h noturnas µg/min Normoalbuminúria <20 <30 <30 <20 <5 Microalbuminúria 20-199 30-199 30-299 20-199 15-150 ≥300 ≥200 ≥150 Macroalbuminúria ≥200 ≥300 Quadro 5: caracterização de albuminúria normal ou patológica em diferentes amostras de urina ✔ O que precisamos lembrar: • Uma vez que existe certa variabilidade na excreção urinária de albumina, considera-se que duas ou três medidas dentro de um período de 3 a 6 meses devam se mostrar anormais, utilizando-se qualquer um dos métodos de coleta de urina para que se possa estabelecer o diagnóstico de microalbuminúria; • Podemos ter microalbuminúria em varias situações entre elas, exercícios, infecções ou febre no período prévio de 24 horas. Além disso, um controle inadequado dos níveis glicêmicos ou da pressão arterial, insuficiência cardíaca ou infecção urinária e até mesmo hematúria e doença periodontal podem elevar a excreção de albumina acima dos valores normais; • Embora a coleta de 24 horas represente o padrão ouro para o diagnóstico de microalbuminúria, tem sido sugerido a coleta de urina de 12 h (de preferência a noturna em virtude da menor interferência postural), amostra isolada ou a razão albumina/ creatinina como testes de rastreamento da microalbuminúria; • A melhor avaliação é obtida quando a determinação é feita na primeira urina da manhã, evitando-se as variações diurnas que 20 ocorrem com a atividade física. A ocorrência de microalbuminúria é pouco provável se, em uma amostra isolada de urina, a concentração de albumina for menor que 20 a 30 mg/dl; • O rastreamento para microalbuminúria, segundo as recomendações da ADA (American Diabetes Association) e da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), deve ser feito anualmente em pacientes diabéticos do tipo 1 a partir do quinto ano do diagnóstico e em pacientes com diabetes do tipo 2 a partir do diagnóstico. A presença de microalbuminúria requer maior atenção para as medidas de controle da pressão arterial, que deve ser mantida em níveis inferiores a 130/80 mmHg, assim como para as medidas de controle dos lípides e glicemia, além da adoção de medidas eficazes na redução da excreção urinária de albumina como o uso de inibidores da ECA ou de antagonistas da angiotensina; • O rastreamento poderá ser feito, igualmente, entre os pacientes não diabéticos com risco aumentado para doença renal crônica ou cardiovascular como hipertensão arterial e síndrome metabólica. Razão albumina/creatinina em amostra de urina aleatória É recomendada atualmente como teste de rastreamento de escolha para microalbuminúria para todos os pacientes diabéticos. O efeito do volume é amenizado e valores superiores a 30 mg/g de creatinina ou a 3,4 mg/mmol de creatinina levam a crer que a excreção de albumina nas 24 horas deve estar ultrapassando 30 mg/dia e, portanto, são indicativas de microalbuminúria. ✔ O que precisamos lembrar: • A razão albumina/creatinina urinária é um marcador mais sensível que a proteína total na detecção de fases incipientes de doença renal devido a diabetes, hipertensão ou outras doenças glomerulares; • Deve ser evitado exercício vigoroso 24 horas antes do exame; • Alguns autores recomendam a coleta aleatória de urina no meio da manhã ou da tarde; • A eficácia do método é diminuída caso a excreção de creatininúria seja significativamente diferente da esperada, por exemplo em pessoas musculosas (subestima os resultados) e em pessoas caquéticas (superestima os resultados); 21 • Podemos ter microalbuminúria em várias situações entre elas, exercícios, infecções ou febre no período prévio de 24 horas. Além disso, um controle inadequado dos níveis glicêmicos ou da pressão arterial, insuficiência cardíaca ou infecção urinária e até mesmo hematúria e doença periodental podem elevar a excreção de albumina acima dos valores normais; • Perdas urinárias dentro de um determinado período subestimam a excreção urinária de albumina quando esta é expressa em mg/min. Isto nos faz concluir que as medidas das concentrações de albumina e creatinina em amostras isoladas, permitindo o cálculo da relação entre elas, podem ser suficientes para o rastreamento e mesmo para a avaliação da eficácia de medidas adotadas para a redução da microalbuminúria. Eletroforese das proteínas urinárias É um método para avaliação qualitativa da proteinúria, especialmente indicado na suspeita de proteinúria de sobrecarga (transbordamento ou overflow). ✔ O que precisamos lembrar: • Identifica picos monoclonais na fração gama, relacionados com a presença de cadeias leves de imunoglobulinas (proteínas de Bence-Jones) e característicos das discrasias plasmocitárias; • A sua associação à imunofixação (imunoeletroforese) permite identificar o tipo de cadeia em causa (k), aumentando a sensibilidade para detecção da paraproteína. Testes de turvação da urina São testes qualitativos, pouco utilizados atualmente. Os dois mais empregados são o Teste do Ácido Sulfossalicílico e o Teste de Precipitação pelo Calor. ✔ O que precisamos lembrar: • Podem ser indicados sempre que haja suspeita da presença de outra proteína na urina, que não a albumina (por exemplo: em situações de insuficiência renal aguda inexplicada, com sedimento urinário benigno e sem proteínas urinárias detectáveis pelas tiras teste). 22 leitura complementar Sugerida Boulware LE, Jaar BG, Tarver-Carr ME, et al. Screening for proteinuria in US adults: a costeffectiveness analysis. JAMA 2003; 290: 3101-14. Busby DE, Bakris GL. Comparison of commonly used assays for the detection of microalbuminuria. J Clin Hypertens 2004; 6(Suppl 3): 8-12. Carroll MF, Temte JL. Proteinuria in adults: a diagnostic approach. Am Fam Physician september 15, 2000. www. aafp.org (acessado em 21/03/09). Chitalia VC, Kothari J, Wells EJ, et al. Cost-benefit analysis and prediction of 24-hour proteinuria from the spot urine protein-creatinine ratio. Clin Nephrol 2001; 55: 436-47. Eknoyan G, Hostetter T, Bakris GL, et al. Proteinuria and other markers of chronic kidney disease: A position statement of the National Kidney Foundation (NKF) and the National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIDDK). Am J Kidney Dis 2003; 42: 617-25. Ferrer F, Oliveira N, Lopes K, Figueiredo A, Maia P, Carreira A. Proteinúria: como valorizar o seu significado. Rev Port Clin Geral 2008; 24: 235-47. Ginsberg JM, Chang BS, Matarese RA, Garella S. Use of single voided urine samples to estimate quantitative proteinuria. N Engl J Med 1983; 309: 1543-6. Gross JL, de Azevedo MJ, Silveiro SP. Diabetic nephropathy: Diagnosis, prevention, and treatment. Diabetes Care 2005; 28:164-76. Guy M, Newall R, Borzomato J, Kalra PA, Price C. Use of a first-line urine protein-to-creatinine ratio strip test on random urines to rule out proteinuria in patients with chronic kidney disease. Nephrol Dial Transplant 2009; 24: 1189-93. Jones CA, Francis ME, Eberhardt MS, et al. Microalbuminuria in the US population: Third National Health and Nutrition Examination Survey. Am J Kidney Dis 2002; 39: 445-59. Kashif W, Siddiqi N, Dincer HE, Dincer AP, Hirsch S. Proteinuria: How to evaluate an important finding. Cleveland Clin J Med 2003; 70(6): 535-47. 23 Mattix HJ, Hsu Cy C, Shaykevich S, Curhan G. Use of the albumin/creatinine ratio to detect microalbuminuria: Implications of sex and race. J Am Soc Nephrol 2002; 13:1034-9. Miller WG, Bruns DE. Laboratory issues in measuring and reporting urine albumin. Nephrol Dial Transplant 2009; 24: 717–18. Redon J. Measurement of microalbuminuria-what the nephrologist should know. Nephrol Dial Transplant 2006; 21:573-7. Rose BD, Barkis GL. Microalbuminuria and cardiovascular disease. Disponível em: URL. Http:www.uptodate.com (acessado em 21∕03∕2009). Santos AMR, Lemos CCS, Bregman R. Revisão: Proteinúria- marcador clássico de comprometimento glomerular. J Bras Nefrol 2003; 23(4) : 217-20. Shidham G, Hebert LA. Timed urine collections are not needed to measure urine protein excretion in clinical practice. Am J Kidney Dis 2006; 47:8-14. Schwab SJ, Christensen RL, Dougherty K, Klahr S. Quantitation of proteinuria by the use of protein-to-creatinine ratios in single urine samples. Arch Intern Med 1987; 147: 943-4. Zanella MT. Microalbuminúria: fator de risco cardiovascular e renal subestimado na prática clínica. Arq Bras Endocrinol Metab 2006; 50 (2): 313-21. 24 Como e Quando Procurar Doença Coronariana em Pessoas com Diabetes Doença cardiovascular é a maior causa de morte em pacientes diabéticos. Os números em algumas estatísticas chegam a 80%, daí a importância que as doenças coronarianas sejam diagnosticadas e tratadas precocemente. Os seguintes fatos justificam esta necessidade: 1. Aterosclerose coronariana e isquemia silenciosa são altamente prevalentes em pacientes com diabetes; autópsias mostram que 50% dos indivíduos assintomáticos têm lesões em mais de um vaso coronariano; 2. A identificação dos pacientes com aterosclerose sub-clínica e isquemia assintomática é útil e importante para a estratificação de risco e para orientar a terapia; diabetes é considerada uma doença de risco equivalente à doença arterial coronariana (DAC) já diagnosticada; 3. Pacientes com diabetes e DAC têm um prognóstico significativamente pior do que aqueles com diabetes, mas sem DAC; 4. Muitos infartos do miocárdio se originam de placas ateroscleróticas que não são obstrutivas e não são, pois detectadas por testes para isquemia miocárdica; 5. A prevalência de calcificação coronariana em indivíduos assintomáticos com diabetes tipo 2 é similar à de pessoas com DAC e sintomáticas. A questão que surge então é: Quando e como procurar DAC em diabéticos assintomáticos? A detecção precoce pode melhorar o prognóstico, a conduta do caso e mesmo o alerta aos pacientes sobre a necessidade de uma melhor adesão aos tratamentos clínicos que estão sendo propostos. Em alguns casos a colocação de um “stent” ou mesmo de revascularização podem salvar vidas. Existem várias diretrizes a respeito de detecção de isquemia silenciosa nas pessoas que vão iniciar a atividade física e entre eles citaríamos as do American College of Cardiology/American Heart Association e da American Diabetes Association. 25 As recomendações são que a investigação seja feita inicialmente com a solicitação de um teste de esforço para os indivíduos que vão iniciar exercícios físicos. Os critérios de indicação para o teste de esforço são: • Idade > 35 anos; • Idade < 25 anos com diabetes do tipo 2 e mais de 10 anos de duração da doença, ou do tipo 1 com mais de 15 anos de diagnóstico; • Qualquer fator de risco adicional para DCV (pressão arterial elevada, obesidade, fumo, antecedentes, etc); • Existência de doença microvascular (retinopatia proliferativa, neuropatia, nefropatia – incluindo microalbuminúria – e doença vascular periférica). Quanto maior for a presença destes fatores, maior é a probabilidade que o teste seja positivo para a presença de algum dano cardiovascular. A acurácia do teste é aumentada quando se combina com diagnósticos de imagem. A Associação Americana de Cardiologia e a Associação Americana de Medicina Nuclear sugerem a realização de um SPECT (single-photon emission computed tomography) em todos os pacientes diabéticos assintomáticos e considera a repetição do estudo a cada 2 anos, caso o primeiro tenha sido normal. O uso de CAC para estratificação de risco em indivíduos assintomáticos é uma das mais promissoras tecnologias atuais, tendo em vista que um valor alto pode levar a uma maior aderência para mudança de hábitos de vida e uso de terapias para baixar o risco de DAC. Além disso, a medida do “Escore de Cálcio das Coronárias” (CAC) é preditora independente de eventos e acrescenta valor prognóstico em relação aos fatores de risco tradicionais de Framingham. Evidências recentes mostram que a combinação de escore de cálcio das coronárias e cintilografia de perfusão miocárdica são mais efetivas do que o SPECT sozinho para determinar a necessidade de terapia medicamentosa mais agressiva em população diagnóstica. 26 A vantagem da combinação destas técnicas é que a radiação do exame de cálcio das coronárias é relativamente baixa, sendo um pouco maior do que o de uma tomografia de tórax. Além disso não é preciso a injeção de qualquer contraste. O fluxograma para a indicação destes testes pode ser visto a seguir: Idade: < 60 anos Duração do diabetes: >7 e <15 anos Idade: > 60 anos Duração do diabetes: <15 anos Rastrear para ateroesclerose sub-clínica com escore de cálcio Rastrear para isquemia miocárdica com cintilografia Aterosesclerose negativa Aterosesclerose mínima Aterosesclerose moderada Isquemia negativa Isquemia mínima Isquemia moderada Continuar a terapia em uso Ajustar a terapia Ajustar a terapia e rastrear isquemia Pensar em teste para ateroesclerose sub-clínica ou intensificar terapia Ajustar a terapia médica Ajustar a terapia médica e realizar arteriografia coronária Adaptado de: Ali YS, Maron DJ in Clinical Diabetes 2006,24,p169-173 Resultados e Interpretação O escore de cálcio quantifica a calcificação arterial coronária (CAC), um marcador da presença e extensão da doença aterosclerótica1. A calcificação é definida como uma lesão acima de 130 Hounsfield (HU) e pode ser calculada a partir da soma ponderada das densidades acima se 130 HU (Escore de Agaston) ou por métodos de cálculo de volume ou massa de cálcio. Aceita-se que o escore de cálcio traga informações como as que se seguem: 1. Escore de Cálcio Negativo (CAC=0) indica uma baixa probabilidade de Doença Arterial Coronariana e de qualquer placa indentificável. Ausência de CAC é preditiva de baixo risco em um período de 2-5 anos; 2. Escore de Cálcio Positivo (CAC > 1 < 99 ou percentil < 75%) confirma a presença de uma placa leve de DAC e risco moderado-baixo em um período de 2-5 anos; 27 3. Escore de Cálcio Alto (de 100 a 399 ou > percentil 75 p/ idade e sexo) significa risco moderado-alto de eventos clínicos em 2-5 anos; 4. Escore de Cálcio > 400 – significa ateroesclerose intensa e alto risco. Estas categorias de Escore de Cálcio diferenciam, portanto, os portadores de risco baixo, moderado-baixo, moderado-alto e alto risco de doenças cardiovasculares e, além disso, podem alterar a conduta clínica, principalmente em pacientes de risco intermediário (moderado-baixo e moderado-alto) 3, 4. Estudo realizado em 4903 pacientes, e publicado no Journal of the American College of Cardiology1 para determinar a acurácia prognóstica do EBCT e a relação do escore de cálcio com fatores de risco tradicionais e eventos CV confirma os dados acima. Escore N Eventos RR (risco relativo) 0 1504 0,54% 1 1-99 1973 1% 1,9 100-399 686 5,5% 10,2 >400 450 14% 26,2 Angiotomografia de Coronárias O escore de cálcio é um grande avanço para a detecção precoce de aterosclerose, porém sua limitação é detectar apenas placas com conteúdo calcificado. Sabemos que o processo de calcificação na fisiopatologia da aterosclerose não é um evento imediato, necessitando anos para instalação. Então como detectar mais precocemente de forma não-invasiva placas de conteúdo estritamente fibroso ou lipídico? Talvez a angiotomografia de coronárias possa ter uma aplicabilidade neste tópico. Em artigo publicado em julho de 2006 na JACC2, apontou-se que até 6,2% dos pacientes apresentam aterosclerose exclusivamente com placas não-calcificadas, ou seja, apresentam escore de cálcio zero, porém possuem doença coronária. Em outro artigo mais recente5, também da JACC, após realizar angiotomografia de coronárias e acompanhar esses pacientes por uma média de 16 meses, mostrou que o simples fato de possuir placas apre28 sentou poder prognóstico: pacientes que possuem placas têm mais eventos que pacientes com angiotomografia com ausência de placas. Os serviços de imagem da Diagnósticos da América colocam à disposição dos médicos e dos pacientes rotineiramente estes exames. Algumas das imagens obtidas nos nossos serviços estão mostradas a seguir: Angiotomografia de Aorta e Coronárias Escore de Cálcio elevado (placas em rosa) Reconstrução tridimensional do coração com múltiplas placas Angiotomografia de coronárias com múltiplas placas mistas 29 leitura complementar Sugerida Arad, Y., et al., Coronary calcification, coronary disease risk factors, C-reactive protein, and atherosclerotic cardiovascular disease events: the St. Francis Heart Study. J Am Coll Cardiol, 2005. 46(1): p. 158-65. Livre acesso no site da JACC. Hausleiter, J., et al., Prevalence of noncalcified coronary plaques by 64-slice computed tomography in patients with an intermediate risk for significant coronary artery disease. J Am Coll Cardiol, 2006. 48(2): p. 312-8. Livre acesso no site da JACC. Rochitte, C.E., et al., [Cardiovascular magnetic resonance and computed tomography imaging guidelines of the Brazilian Society of Cardiology]. Arq Bras Cardiol, 2006. 87(3): p. e60-100. Livre acesso no site da SBC. Greenland, P., et al., ACCF/AHA 2007 clinical expert consensus document on coronary artery calcium scoring by computed tomography in global cardiovascular risk assessment and in evaluation of patients with chest pain: a report of the American College of Cardiology Foundation Clinical Expert Consensus Task Force (ACCF/AHA Writing Committee to Update the 2000 Expert Consensus Document on Electron Beam Computed Tomography) developed in collaboration with the Society of Atherosclerosis Imaging and Prevention and the Society of Cardiovascular Computed Tomography. J Am Coll Cardiol, 2007. 49(3): p. 378-402. Livre acesso no site da JACC. Pundziute, G., et al., Prognostic value of multislice computed tomography coronary angiography in patients with known or suspected coronary artery disease. J Am Coll Cardiol, 2007. 49(1): p. 62-70. Pundziute, G., et al., Noninvasive assessment of plaque characteristics with multislice computed tomography coronary angiography in symptomatic diabetic patients. Diabetes Care, 2007. 30(5): p. 1113-9. Pundziute, G., et al., Impact of coronary calcium score on diagnostic accuracy of multislice computed tomography coronary angiography for detection of coronary artery disease. J Nucl Cardiol, 2007. 14(1): p. 36-43. Ali, Y; Maron, DJ. Screening for coronary disease in diabetes: When and How. Clinical Diabetes, 2006. 24: p. 169-173. Livre acesso no site da Clinical Diabetes. 30 Inibidor do ativador do plasminogênio 1 como preditor de doença macrovascular no diabetes tipo 2 Estudos clínicos e epidemiológicos têm demonstrado a presença de um estado pró-coagulante ou pró-trombótico em pacientes hiperinsulinêmicos, particularmente em diabetes tipo 2, explicando desta forma, pelo menos em parte, a alta incidência de doença macrovascular assim como a resistência à trombólise encontrada nesses pacientes, manifesto, por exemplo, através do alto índice de reperfusões incompletas ou reoclusões precoces após procedimentos de angioplastia. Três mecanismos parecem estar envolvidos com a condição pró-coagulante da doença: • alterações da função plaquetária; • ativação da via intrínseca da coagulação; • diminuição da atividade fibrinolítica. Esta última está relacionada com o aumento do inibidor do ativador do plasminogênio 1 (PAI-1) que vem merecendo importância crescente na fisiopatologia da doença macrovascular do paciente diabético. O PAI-1 consiste no principal inibidor do sistema fibrinolítico promovendo, portanto, o estado pró-trombótico. Trata-se de glicoproteína sintetizada pelas células endoteliais, plaquetas, hepatócitos e, conforme recentemente demonstrado, pelos adipócitos (explicando os altos valores encontrados nos pacientes obesos). Além da sua ação pró-trombótica, estudos tanto in vitro como in vivo mostraram que o PAI-1 possui atividade aterogênica promovendo a migração de células de músculo liso e inibição da apoptose. Os mecanismos envolvidos com o aumento do PAI-1 nos pacientes diabéticos ainda não estão bem estabelecidos, mas fatores como a glicose, a obesidade, os triglicerídeos, o VLDL e em especial a pró-insulina e a insulina parecem estimular a sua produção. Particularmente a insulina vem merecendo destaque crescente na literatura mundial com vários estudos mostrando a relação direta da hiperinsulinemia com a diminuição da atividade fibinolítica demonstrada pelo aumento do PAI‑1. 31 No indivíduo normal os níveis séricos de PAI-1 são extremamente baixos, elevando-se nos pacientes com hiperinsulinemia como acontece na síndrome metabólica e no diabetes tipo 2. Dentre outras condições patológicas que cursam com elevação do PAI-1 citam-se: o tromboembolismo venoso, sepse, doença neoplásica, doença arterial coronariana (DAC) e obesidade. Os níveis séricos de PAI-1 mostram uma variação diurna em indivíduos normais, com valores mais altos pela manhã e declínio no decorrer do dia, explicando a maior incidência de infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) e morte súbita nas primeiras horas do dia. Nos pacientes diabéticos se observa uma alteração deste ritmo circadiano e consequentemente maior incidência destes eventos no período da tarde. Vários estudos já demonstram a eficácia na diminuição dos níveis de PAI-1, e consequentemente a melhora do estado pró-trombótico, através de medidas simples que, em última instância, resultam na diminuição da resistência insulínica, tais como: perda de peso, atividade física, alterações na dieta e uso de medicações como metformina e glitazonas. O PAI-1 tem surgido, portanto, como importante marcador do estado prótrombótico assim como indicador de risco aterogênico aumentado, ganhando importância crescente como um dos principais fatores preditores de doença macrovascular no paciente com diabetes tipo 2. leitura complementar Sugerida Bastard JP, Pieroni L and Hainaque B. Relationship between plasma plasminogen activator inhibitor 1 and insulin resistance. Diabetes Metab Res Ver 2000; 16(3):192-201. Carmassi F, Morale M et al. 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Marso SP, Lincoff AM, Ellis SG, et al. Optimizing the percutaneous interventional outcomes for patients with diabetes mellitus. Results of the EPISTENT (Evaluation of Platelet I/III Inhibitor for Standing Trial) diabetic substudy. Circulation 1999; 100:2477-84. Meigs JB, Mittleman MA et al. Hyperinsulinemia, hyperglycemia, and impaired hemostasis: the Framingham Offspring Study. JAMA 2000; 283(2):221-8. Mertens I, Van Gaal LF. Obesity, haemostasis and the fibrinolytic system. Obes Ver 2002; 3(2):85-101. Reusch JE. Current concepts in insulin resistance, type 2 diabetes mellitus, and the metabolic syndrome. Am J Cardiol 2002 90(5A):19G-26G. Sobel BE, Woodcock-Mitchell J et al. Increased Plasminogen Activator Inhibitor Type 1 in Coronary Artery Atherectomy Specimens From Type 2 Diabetic Compared With Nondiabetic Patients. Circulation 1998; 97:2213-21. Wilman B. Plasminogen activator inhibitor 1 (PAI-1) in plasma: Its role in thrombotic disease. Thromb Haemost 1995; 74:71-6. 33 Canal do Médico O Canal do Médico é formado por uma equipe médica de diversas especialidades, com ampla experiência em assessoria aos serviços diagnósticos. Nossos especialistas atuam como elos entre os núcleos técnico-operacionais (que processam os testes de nossos clientes), as áreas de imagens e métodos gráficos, e o médico assistente do paciente. O objetivo do Canal do Médico é atender colegas médicos na discussão de resultados e casos clínicos como metodologias utilizadas, valores de referência aplicados e possibilidades de diagnósticos. Esse contato poder ser realizado da maneira que mais se adequa à disponilidade do médico, seja por telefone, chat online do Canal do Médico, ou ainda, pessoalmente, em visita a um dos nossos núcleos técnicos ou unidades. São Paulo: (11) 3047-4484 Rio de Janeiro: (21) 2227-8090 Paraná: (41) 4004-0106 / (41) 4004-0103 Distrito Federal: 4004-9669 / (61) 4004-3883 Bahia: (71) 4004-0107 Ceará: (85) 3462-6034 Goiás: (62) 4004-8860 Santa Catarina: (48) 4004-1300 34 Portal do conhecimento Médico Priorizando levar informações atualizadas aos profissionais médicos, a Diagnósticos da América disponibiliza o Portal do Conhecimento Médico, uma inovadora ferramenta de comunicação. Acesse: http://portalmedico.danet.com.br Para ter acesso ao chat online acesse o link Canal do Médico presente no portal. Diagnósticos da América S. A. Av. Juruá, 434 Alphaville 04560-010 Barueri - SP w w w.diagnosticosdaamerica.com.br