Vigilância sorológica para Influenza Aviária e Laringotraqueíte Infecciosa das Galinhas DIVULGAÇÃO TÉCNICA em material genético avícola brasileiro destinado à exportação no período de 2011 a 2012. VIGILÂNCIA SOROLÓGICA PARA INFLUENZA AVIÁRIA E LARINGOTRAQUEÍTE INFECCIOSA DAS GALINHAS EM MATERIAL GENÉTICO AVÍCOLA BRASILEIRO DESTINADO À EXPORTAÇÃO NO PERÍODO DE 2011 A 2012 R.L. Luciano, A.L.S.P. Cardoso, E.N.C. Tessari, G.F.Z. Stoppa, C.M.P. Villa, A.M.I. Kanashiro, A.G.M. Castro Instituto Biológico, Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola, Rua Bezerra Paes, 2278, CEP 13.690-000, Descalvado, SP, Brasil. E-mail: [email protected] RESUMO A avicultura industrial brasileira ocupa posição de destaque no cenário internacional. Atualmente, somos o maior exportador mundial e o terceiro maior produtor de carne de frango. Nesse contexto, o país também tem exportado material genético (matrizes, avós e bisavós) para diversos países, sendo que é de extrema importância a garantia de que esse material cumpra as exigências sanitárias determinadas pelo Código Zoossanitário Internacional (CZI). Todo material exportado deve conter um certificado veterinário internacional de acordo com os requisitos estabelecidos pelo país importador. Uma das técnicas preconizadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) para o diagnóstico de Influenza Aviária (IA) e Laringotraqueíte Infecciosa das Galinhas (LTI) é a prova de imunodifusão em gel de ágar (IDGA). O Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola (CAPTAA), do Instituto Biológico (IB), localizado em Descalvado, SP, é um laboratório credenciado pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para realização do diagnóstico sorológico para IA e LTI. No período de novembro de 2011 a dezembro de 2012, foram analisadas 21.364 amostras de soros sanguíneos de galinhas, provenientes de matrizes, avós e bisavós destinadas à exportação, que foram encaminhadas para o CAPTAA e submetidas ao diagnóstico sorológico de IA e LTI, através da prova de IDGA. Não houve detecção de anticorpos para IA e LTI em nenhum dos lotes analisados, o que contribuiu para atestar que o status sanitário dessas amostras destinadas à exportação, material genético, foi considerado como livre de IA e LTI. PALAVRAS-CHAVE: Diagnóstico sorológico, IDGA, Influenza Aviária, Laringotraqueíte Infecciosa das Galinhas, aves, material genético. ABSTRACT SEROLOGICAL SURVEILLANCE FOR AVIAN INFLUENZA AND INFECTIOUS LARYNGOTRACHEITIS IN GENETIC MATERIAL FROM BRAZILIAN POULTRY EXPORTS DURING 2011-2012. Brazilian poultry industry ranks important position in the international scene. Currently, the country kept its position as largest exporter and the third principal producer of poultry meat. In respect this, Brazil has exported genetic material from poultry (breeders, grandparent breeders and great grandparent breeders) to many countries, so that is extremely important to certify that these material obey the sanitary requirements ordered by the International Zoo-sanitary Code (IZC). All exporting products must having the international zoosanitary certificate (IZC) according with the establishment of requirements by the importing country. One of techniques adopted by World Organization for Animal Health (OIE) to diagnosis of avian influenza (AI) and infectious laryngotracheitis (ILT) is agar gel immunodiffusion test (AGID). The Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio Avícola (CAPTAA), Instituto Biológico (IB), located in Descalvado, SP, Brazil is a laboratory accredited by the Ministry of Agriculture, Livestock and Food Supply (MAPA) to perform the serological diagnostic to AI and ILT. During November, 2011 to December 2012, 21.364 serum samples from breeders, grandparent breeders and great grandparent breeders destined for exportation were forwarded to CAPTAA and submitted to the serological diagnosis to AI and ILT by IDGA tests. There was no detection of antibodies to AI and ILT in any of the flocks, which contributes to attest that the health status of these samples, intended to exporting of Brazilian poultry genetic material was considerate free to AI and ILT. KEY WORDS: Serological diagnosis, AGID, avian influenza, infectious laryngotracheitis, poultry, genetic material. Biológico, São Paulo, v.76, n.1, p.13-17, jan./jun., 2014 13 14 R.L. Luciano et al. Segundo a OIE, a Influenza Aviária (IA) é uma infecção em aves, causada por qualquer vírus da influenza do tipo A ou por qualquer vírus de influenza aviária que cause uma mortalidade de, pelo menos, 75% de aves suscetíveis inoculadas. No Código Sanitário para os Animais Terrestres da OIE, as doenças causadas pelo vírus da Influenza Aviária são de notificação obrigatória. A doença se manifesta de três maneiras: forma severa, com sinais clínicos generalizados (Influenza Aviária de Alta Patogenicidade – IAAP); forma branda, com sintomatologia respiratória (baixa patogenicidade – IABP) e sob a forma assintomática. A estimativa do impacto da IAAP nos países afetados varia bastante, conforme a estrutura do setor avícola, a rapidez no controle do surto e o método utilizado para estimar os impactos. Desde que o primeiro surto ocorreu no sudeste da Ásia, no final de 2003, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e a OIE, em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS) têm coordenado a prevenção, o controle e a erradicação internacional da doença, inclusive fornecendo o suporte necessário aos países em risco. No Brasil, a doença é considerada exótica, com vigilância sanitária e epidemiológica permanentes, além do monitoramento das aves migratórias aquáticas. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), elaborou o Plano Operacional de Prevenção à Influenza Aviária, prevendo ações para a proteção dos plantéis avícolas nacionais. Essas ações se devem ao fato de o Brasil ser o terceiro maior plantel mundial de frangos e o maior exportador avícola mundial. A Instrução Normativa nº 32, de 13 de maio de 2002, estabelece as normas técnicas de vigilância para a Doença de Newcastle e a Influenza Aviária, definindo as provas laboratoriais que podem ser executadas no diagnóstico, incluindo o IDGA. Essa técnica também é recomendada pela OIE como uma alternativa para o diagnóstico de IA em amostras destinadas ao comércio internacional. O princípio é que todos os vírus de influenza do tipo A possuem semelhanças entre os antígenos do nucleocapsídeo e antígenos da matriz. Com a utilização dessa técnica é possível detectar anticorpos para os antígenos grupo específicos do vírus influenza tipo A: ribonucleoproteína (RNP) e matriz (M), permitindo a detecção de anticorpos para todos os subtipos do vírus da Influenza A. Assim sendo, essa prova é amplamente e rotineiramente empregada na detecção de anticorpos específicos em aves (galinhas e perus), bem como é um indicativo de quadros infecciosos causados pelo agente etiológico. A Laringotraqueíte Infecciosa das Aves (LTI) é uma enfermidade respiratória altamente contagiosa e aguda. O agente etiológico pertence à família Herpesviridae, gênero Itovirus e espécie gallid herpesvirus 1. As manifestações clínicas e patológicas podem variar de quadros severos (com aves mortas por asfixia), até formas mais brandas, e as aves podem tornarse latentes e reexcretar o vírus tardiamente, sem apresentar sintomatologia. Os prejuízos ocasionados incluem alta morbidade e mortalidade, com queda na produção de ovos e diminuição no desempenho de frangos de corte. Ocorrem mais frequentemente em regiões com intensa produção avícola. É uma enfermidade de notificação obrigatória à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e ao MAPA. O diagnóstico sorológico de LTI inclui diversas provas utilizadas para a detecção de anticorpos específicos para esse patógeno, tais como virusneutralização, ELISA, imunofluorescência e IDGA. A importância econômica e social da avicultura brasileira coloca o setor em evidência no âmbito nacional e internacional, visto que o Brasil é o maior exportador mundial e o terceiro maior produtor de carne de frango. Dentre os produtos exportados, encontra-se o material genético avícola, composto por matrizes, avós e bisavós que são comercializados para diversos países. O Código Zoossanitário Internacional (CZI) estabelece os requisitos para a exportação de produtos de origem animal, sendo que uma das exigências sanitárias é a emissão de um certificado veterinário internacional de acordo com os requisitos estabelecidos pelos países importadores. Uma das técnicas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) para o diagnóstico de Influenza Aviária (IA) e Laringotraqueíte Infecciosa das Galinhas (LTI) é a prova de IDGA. O Centro Avançado de Pesquisa do Agronegócio Avícola – Instituto Biológico, localizado em Descalvado (SP) é um órgão vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. Desde agosto de 2011, o laboratório encontra-se credenciado pelo MAPA, para realizar o diagnóstico sorológico oficial de IA e LTI, através da prova de IDGA. Princípios da técnica de IDGA A prova de IDGA é uma reação de soroprecipitação entre o antígeno e o anticorpo, correspondente em meio gelificado, onde ambos os reagentes se difundem um contra o outro, encontrando-se na área de reação. A difusão do antígeno e do soro a ser testado ocorre em uma placa de Petri contendo ágar gel. A reação que indica que os anticorpos entraram em contato com o antígeno é uma precipitação do complexo antígeno-anticorpo, com a formação de uma linha de precipitação. O an- Biológico, São Paulo, v.76, n.1, p.13-17, jan./jun., 2014 Vigilância sorológica para Influenza Aviária e Laringotraqueíte Infecciosa das Galinhas em material genético avícola brasileiro destinado à exportação no período de 2011 a 2012. tígeno é colocado em um reservatório perfurado no ágar e os soros a serem testados são colocados em reservatórios perfurados no gel, próximos aos orifícios com os antígenos. A placa é incubada a 22 ± 2 ºC, por 24 horas. Durante esse período, os anticorpos e os antígenos se difundem pelo ágar gel. Quando entram em contato, o complexo produzido se precipita, formando uma linha, que indica a presença de anticorpos no soroteste. A velocidade de difusão de uma substância é regida pelas leis de difusão, além do tamanho do poro de gel, da temperatura, da concentração do ágar e sua pureza; a velocidade de difusão de um antígeno depende especialmente de duas variáveis, que são: concentração e tamanho da molécula. Há também alguma influência da forma ou configuração molecular. No período de novembro de 2011 a dezembro de 2012, foram encaminhadas para o CAPTAA 21.364 amostras de soros sanguíneos, provenientes de matrizes, avós e bisavós destinadas à exportação. Esse material foi submetido ao diagnóstico sorológico de IA e LTI, através da prova de IDGA, sendo coletado de aves com idades entre 16 e 95 semanas, provenientes de 586 núcleos, loca- 15 lizados em 4 estados brasileiros. As Tabelas 1 e 2 mostram o agrupamento dessas amostras, por tipo de exploração, unidade da federação, idade, número de núcleos amostrados e quantidade de soros analisados. Procedimentos da prova de IDGA O ágar gel (pH entre 7,2 ± 0,2) foi distribuído em placas de Petri (90 x 15 mm), até que estivesse completamente polimerizado. As placas de Petri foram marcadas com o molde (perfurador) para demarcação das cavidades onde foram distribuídos os soros-testes, os controles e os antígenos para a realização da prova. IDGA para IA Foram adicionados 50 µL de cada amostra de soro a ser testada, nas posições 1, 3 e 5 (Fig. 1); 50 µL do soro controle positivo, nas posições 2, 4 e 6. Por último, foram acrescentados 50 µL do antígeno na posição 7. Em cada grupo de placas testadas foram acrescentados, na última roseta, os soros controles (positivo fraco, positivo forte e negativo), nas posições 1, 3 e 5. Tabela 1 – Amostras de soro de galinha, provenientes de material genético destinado à exportação, submetidas ao diagnóstico sorológico de IA e LTI, através da prova de IDGA, no período de novembro de 2011 a dezembro de 2012, CAPTAA, Instituto Biológico, Descalvado, SP. Exploração Bisavós Avós Matrizes Total Núcleos n° (%) 115 (19,62) 350 (59,73) 121 (20,65) 586 (100) Amostras IDGA IA n° (%) 4.412 (20,65) 13.382 (62,64) 3.570 (16,71) 21.364 (100) Amostras IDGA LTI n° (%) 4.371 (23,95) 10.310 (56,49) 3.570 (19,56) 18.251 (100) Tabela 2 – Estratificação por unidades da federação (UF) das amostras submetidas ao diagnóstico sorológico de IA e LTI, através da prova de IDGA, para exportação de material genético, no período de novembro de 2011 a dezembro de 2012, CAPTAA, Instituto Biológico, Descalvado, SP. Exploração UF Núcleos n° (%) Amostras IDGA IA n° (%) 95 (16,21) 3.812 (17,84) 20 (3,41) 600 (2,81) 285 (48,63) 11.432 (53,51) Avós 17 (2,90) 510 (2,39%) 48 (8,19) 1.440 (6,74) 64 (10,92) 1.920 (8,99) 3 (0,51) 30 (0,14) Matrizes 6 (1,02) 180 (0,84) 48 (8,19) 1.440 (6,74) Total 586 (100) 21.364 (100) a expressa a variação entre a idade mínima e a idade máxima dos núcleos avaliados Bisavós São Paulo Minas Gerais São Paulo Minas Gerais Mato Grosso do Sul São Paulo Minas Gerais Mato Grosso do Sul Rio Grande do Sul Idade (semanas)a 26 – 67 24 – 60 17 – 95 26 – 65 25 – 67 16 – 73 27 – 52 25 – 64 25 – 69 Biológico, São Paulo, v.76, n.1, p.13-17, jan./jun., 2014 Amostras IDGA LTI n° (%) 3.771 (20,66) 600 (3,29) 8.360 (45,81) 510 (2,79) 1.440 (7,89) 1.860 (10,19) 90 (0,49) 180 (0,99) 1.440 (7,89) 18.251 (100) 16 R.L. Luciano et al. Fig. 1 - Identificação das cavidades na roseta para distribuição das amostras e dos controles na prova de IDGA para IA. IDGA para LTI Os soros sanguíneos foram inativados a 56 ºC, por 45 minutos. Foram adicionados 25 µL de cada amostra de soro a ser testada, nas posições de 1 a 17 (Fig. 2); 25 µL do soro controle positivo, na posição “AC”. Por último, foram acrescentados 25 µL do antígeno na posição central de cada roseta. Também foram incluídos os soros controles negativo e positivo em cada grupo de placas analisadas. Interpretação dos resultados As placas foram transferidas para um recipiente com algodão umedecido, sendo posteriormente fechadas e incubadas por 24 horas, à temperatura ambiente (22 ± 2 ºC). Após esse período, foram examinadas em uma sala escura, com uma fonte de luz, registrando-se o resultado no formulário específico. As amostras foram consideradas positivas, quando houve formação de uma linha contínua (linha de identidade) similar entre a linha formada entre as cavidades do controle positivo e o antígeno. Amostras inconclusivas ou suspeitas foram retestadas em triplicata. O lote com maior idade (95 semanas) correspondeu a uma propriedade de avós, proveniente do Fig. 3 – Leitura dos soros controles utilizados na prova de IDGA para IA, CAPTAA, Instituto Biológico, Descalvado, SP. Legenda: WP – soro controle fraco positivo; SP – soro controle forte positivo; NEG – soro controle negativo; Ag – antígeno (IA); AC – soro controle positivo (IA). Fig. 2 - Identificação das cavidades nas rosetas para distribuição das amostras e dos controles na prova de IDGA para ILT. Estado de São Paulo, enquanto que o núcleo com menor idade foi de matrizes (16 semanas), localizado no mesmo Estado. O maior número de núcleos amostrados (48,63%) foi proveniente de granjas de avós, em São Paulo, sendo que nessas propriedades também foi realizado o maior número de testes de IDGA para IA (53,51%) e LTI (45,81%), respectivamente. Em contrapartida, o menor número de núcleos em que houve coleta de amostras foi encontrado em propriedades compostas de matrizes, localizadas em Minas Gerais, correspondendo a 0,51% do total de lotes analisados, com a realização de apenas 0,14% do total de IDGA para IA e 0,49% de IDGA para LTI. As Figuras 3, 4 e 5 ilustram os resultados das leituras realizadas nas placas de IDGA. Em nenhuma das amostras analisadas houve detecção de anticorpos contra IA e LTI, o que comprova a ausência de resposta sorológica à circulação do vírus de IA e LTI nos lotes avaliados. Tal fato pode ser explicado pela ausência de contato prévio com os vírus avaliados. Isso corrobora com o fato de que IA nunca foi reportado no país, que é considerado livre dessa enfermidade. No caso de LTI, pode-se concluir que o material avícola analisado também é livre dessa doença. Os dados encontrados neste estudo contribuem para assegurar que o material genético avícola analisado possui um elevado padrão sanitário, atestando sua qualidade e possibilidade de entrada nos países importadores. Fig. 4 – Leitura de soros negativos para a prova de IDGA IA, CAPTAA, Instituto Biológico, Descalvado, SP. Legenda: 1, 3 e 5 – amostras de soros; Ag – antígeno (IA); AC – soro controle positivo (IA). Biológico, São Paulo, v.76, n.1, p.13-17, jan./jun., 2014 Vigilância sorológica para Influenza Aviária e Laringotraqueíte Infecciosa das Galinhas em material genético avícola brasileiro destinado à exportação no período de 2011 a 2012. Moraes, H.L.S.; Salle, C.T.P.; Caron, L.F. Influenza aviária. In: Berchieri Junior, A.; Silva, E.N.S.; Fábio, J.D.; Sesti, L.; Zuanaze, M.A.F. (Ed.). Doenças das aves. 2.ed. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas, 2009. cap.5.3, p.611-627. Mota, M.A.; Lima, F.S.; Oliveira, P.F.N.; Guimaraes, M.P. 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