condutância da casca de ovos férteis

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS
CONDUTÂNCIA DA CASCA DE OVOS FÉRTEIS
Itallo Conrado Sousa de Araújo
Orientadora: Profa. Dra. Nadja Susana Mogyca Leandro
GOIÂNIA
2011
ii
ITALLO CONRADO SOUSA DE ARAÚJO
CONDUTÂNCIA DA CASCA DE OVOS FÉRTEIS
Seminário apresentado junto à Disciplina
Seminários Aplicados do Programa de PósGraduação em Ciência Animal da
Escola de Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Goiás
Nível: Mestrado
Área de Concentração:
Produção Animal
Linha de Pesquisa:
Manejo e avaliação de sistemas de produção animal
Orientadora:
Profa. Dra. Nadja Susana Mogyca Leandro – EVZ/UFG
Comitê de Orientação:
Profa. Dra. Elisabeth Gonzales – FMVZ/UNESP, BOTUCATU
Profa. Dra. Heloisa Helena de Carvalho Mello – EVZ/ UFG
GOIÂNIA
2011
iii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..............................................................................................1
2 REVISÃO DA LITERATURA...........................................................................3
2.1 A formação do ovo e suas propriedades..........................................................3
2.2 Qualidade da casca do ovo...........................................................................5
2.3 Condutância.................................................................................................7
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................15
REFERÊNCIAS..............................................................................................16
1 INTRODUÇÃO
O Brasil se destaca na produção de pintos de corte e, de acordo com
AVISITE (2011), no ano 2010 produziu cerca de 5,998 bilhões de pintos e, neste
ano, até o mês de maio alcançou o valor de 2,448 bilhões. Essa crescente
produção de pintos faz com que se procure cada vez mais melhorar a produção
avícola e entender mais profundamente a incubação de ovos férteis.
Para manter os números de produção de frangos de corte e elevar a
sua qualidade é importante realizar uma incubação que considere os fatores que
contribuem para uma eclosão exitosa. Por isso são estudados fatores como
tempo e temperatura de armazenamento dos ovos férteis, umidade da máquina
de incubar, temperatura de incubação, ventilação e viragem dos ovos. Além
desses fatores têm-se estudos dos elementos relacionados ao ovo, como o peso
do ovo no início da incubação, sua qualidade microbiológica e também a
qualidade da casca do ovo.
Uma das propriedades da casca do ovo é a condutância que está
relacionada à capacidade que o ovo tem de realizar trocas gasosas (oxigênio, gás
carbônico e vapor de água) com o ambiente, que acontece através dos poros
presentes por toda superfície da casca. Essa permeabilidade é essencial para o
bom desenvolvimento do embrião e para melhorar os parâmetros de incubação.
Uma troca de vapor de água excessiva pode acarretar em desidratação do
embrião, o que prejudica o seu desenvolvimento embrionário.
A permeabilidade da casca do ovo depende de diversos fatores
relacionados a ave, ao ambiente em que o ovo é submetido durante a coleta e
seu armazenamento e também às condições de incubação.
Com relação a ave, é importante conhecer seu estado nutricional,
disponibilizar a alimentação balanceada para a adequada formação da casca do
ovo no oviduto minimizando falhas que possam prejudicar a qualidade da casca
dos ovos. Os ovos defeituosos, de casca fina ou irregular devem ser evitados no
processo de incubação, pois resultam em pintainhos de pior qualidade.
A idade da matriz também é um importante fator relacionado à
qualidade de casca. Galinhas mais jovens ou muito velhas produzem geralmente,
2
menor número de pintos vendáveis. As cascas dos ovos de ambas as aves
podem apresentar defeitos que prejudicam a troca gasosa e dessa forma a
eclosão.
No ambiente em que os ovos devem ser armazenados, é importante
assegurar uma ocorrência mínima de perda de peso com troca gasosa ideal, pois,
nesse momento o embrião precisa de uma parada no seu desenvolvimento, e
para atingir esse objetivo a temperatura do ambiente deve estar abaixo do zero
fisiológico (24ºC).
No ambiente de incubação os ovos realizam trocas gasosas que vão
fazer com que a incubação seja ou não bem sucedidas. É muito importante que o
ambiente da incubação permita a realização de trocas gasosas do ovo e, dessa
forma, o nascimento de pintainhos saudáveis e com peso adequado.
Com este seminário, estabeleceu-se como objetivo principal conceituar
a condutância da casca do ovo, ilustrar técnicas que os pesquisadores utilizam
para calcular a condutância e mostrar os últimos estudos referentes a
condutividade da casca do ovo de matrizes férteis, além de fazer referência aos
fatores que podem influenciar no valor dessa condutância da casca e como essa
permeabilidade tem influenciado a produção de frangos de corte.
3
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A formação do ovo e suas propriedades
A formação do ovo acontece no oviduto da ave. O oviduto é um órgão
tubular dividido em cinco regiões: infundíbulo, magno, istmo, glândula da casca ou
útero e vagina. Para iniciar o processo, ocorre um desprendimento de um óvulo
do ovário da fêmea e em seguida sua captação pelo infundíbulo, levando em
média 15 minutos para percorrer suas dimensões, é nessa região que acontece o
início da síntese do albúmen e a fecundação. Em seguida o ovo segue para o
magno onde permanece cerca de três horas, terminando a formação do albúmen.
Depois, o ovo chega até o istmo onde as membranas da casca são formadas e
envolvem a gema e o albúmen. Após, o ovo segue para a glândula da casca onde
inicia a deposição mineral sobre suas membranas, permanecendo nessa região
por aproximadamente 20 horas. Por fim o ovo passa pela vagina onde recebe
uma cutícula alcançando a cloaca por onde ocorre a oviposição. (SOLOMON,
1991).
O óvulo é um corpo unicelular, formado no ovário e oviduto da galinha.
Compõe-se de protoplasma, vesículas germinativas e envoltórios, e contém os
nutrientes essenciais para nutrir o embrião quando fecundado (ORNELLAS,
1985). As quatro partes principais do ovo são a casca, a membranas da casca, a
gema e o albúmen, sendo que a casca representa 10% do peso do ovo, a gema
30% e o albúmen, 60% do peso do ovo, sendo o peso da membrana da casca
muito pequeno (SOUZA-SOARES & SIEWERDT, 2005).
Um ovo de galinha doméstica pesando 65g é constituído de cerca de
8g de casca, 38g de albúmen e 19g de gema, gerando após 21 dias de incubação
um pintainho com aproximadamente 44 g. (GONZALES et al., 2009).
A casca do ovo é composta principalmente por carbonato de cálcio
(CaCO3), associado a magnésio, fósforo e cloro. A casca é constituída de 4% de
proteína, 1% de água e 95% dos elementos inorgânicos (NASCIMENTO &
SALLE, 2003). E a quantidade de cálcio encontrada na casca do ovo está entre
1,6 e 2,4 gramas.
4
A casca do ovo contém poros que permitem a difusão de gases (O2,
CO2 e água) os quais são cobertos por uma cutícula protéica que previnem a
entrada de microrganismos para o interior da casca (BOARD, 1977).
WHITHEAD (1991) cita que a casca do ovo possui duas principais
funções: fonte de cálcio para o embrião e órgão de trocas gasosas, regulando a
perda de vapor de água entre o embrião e o ambiente. Também pode-se destacar
a proteção física natural contra microrganismos presentes no ambiente, mantendo
a integridade do material nutritivo que será utilizado pelo embrião.
O ovo é dividido em três partes de acordo com a região de sua casca:
a região apical (mais delgada), a região do equador e a região de ponta larga
(câmara de ar) conforme a Figura 1.
Região da câmara de ar/ponta larga
FIGURA 1 – Esquematização de um ovo, mostrando suas regiões de acordo com
cada um dos locais da casca.
NAKAGE et
al. (2002), estudando ovos férteis de perdizes,
encontraram que o número de poros é maior na região apical da câmara de ar e
que a distribuição de poros não acontece de forma aleatória, mas obedece a um
padrão. Entretanto, GONZALES et al.(2009) citaram que a maior concentração
de poros está no equador do ovo, conferindo uma estrutura forte o suficiente para
suportar o peso da galinha durante o choco. A resistência é conferida pela forma
do ovo, distribuindo a força da pressão sobre a casca, e pela maior espessura da
casca na região do equador, já que o ovo fica posicionado horizontalmente no
ninho em relação ao seu eixo maior.
5
Segundo SILVA (2003), a porosidade e a espessura da casca do ovo
são
os
fatores
que
mais
influenciam
o
desenvolvimento
embrionário,
correlacionando positivamente à qualidade da casca e a qualidade do neonato.
2.2 Qualidade da casca do ovo
Pode-se definir como ovos de boa qualidade e adequados para a
incubação, aqueles que têm boa aparência, forma ovóide, boa textura da casca,
bom tamanho e limpo. Os ovos de boa qualidade geralmente rendem uma alta
eclodibilidade. Depois da postura a qualidade dos ovos pode ser mantida ou
reduzida, nunca melhorada (ELGUERA, 1999).
A qualidade externa do ovo é julgada com base na textura, cor, forma,
integridade, densidade e grau de limpeza da casca (USDA, 2000). Cor e textura
dizem respeito à aparência da casca e são características consideradas
importantes para o setor de produção de ovos de mesa. Para a produção de
pintainhos as características mais importantes são a espessura e integridade da
casca e da cutícula externa.
A qualidade externa do ovo pode ser influenciada pelos seguintes
fatores: manejo, melhoramento genético, ambiente, sanidade, fisiologia, e, ainda,
pela nutrição (FARIA, 1996).
Os fatores mais críticos para a produção de pintainhos estão
relacionados com a densidade do ovo, a forma e a integridade da estrutura da
casca, pois refletem a resistência e a espessura da casca, que alteram
diretamente a condutância da casca do ovo. Quando a condutância é alterada de
maneira errônea influencia negativamente o desenvolvimento embrionário e,
portanto, a produtividade do incubatório, como demonstrado por DE LOS
SANTOS et al. (2007), (Tabela 1). Os autores concluíram que ovos com defeito
na casca e principalmente os lavados, apresentaram piores resultados de
eclodibilidade, mortalidade embrionária e contaminação.
6
Tabela 1. Resultados de incubação de ovos com defeito de casca.
Índices
Controle
Trincado
Deformado
Trincado e
lavado
Deformado
e lavado
Fertilidade, %
95,1
97,2
94,7
95,8
94,1
Eclodibilidade, %
82,9a
57,3b
31,1c
42,0b
21,2c
Mort.embrion., %
8,0a
22,2b
45,4c
23,6b
34,0bc
Contaminação
0,3a
10,9b
24,3c
26,0c
36,1c
dos ovos,%
Médias com letras diferentes na mesma linha são estatisticamente diferentes
(p<0,01). Adaptado: DE LOS SANTOS et al. (2007).
A qualidade da casca é reduzida com a idade da matriz pelo
incremento no tamanho dos ovos e pela maior porosidade da casca (SILVA,
2007). Para um bom desenvolvimento do embrião e a manutenção da integridade
dos componentes internos da casca é necessária uma boa qualidade externa do
ovo. Vários fatores influenciam a composição do ovo e a qualidade da casca
como, por exemplo, a linhagem, a idade da ave, a temperatura ambiente,
presença de fatores estressantes ou de agentes infecciosos e a disponibilidade e
oferta de alimento para a ave reprodutora (NASCIMENTO & SALLE, 2003).
As aves mais velhas produzem ovos com maior peso e com maior
conteúdo de gema, mas com reduzida espessura de casca (STRINGHINI et al.,
2011). Dessa forma, ovos de matrizes mais velhas são menos resistentes e
apresentam maior probabilidade de apresentarem defeitos que prejudicam os
parâmetros de qualidade da casca e maiores probabilidades de contaminação
devido à menor espessura da casca com o passar da idade da ave.
A resistência da casca do ovo pode ser medida pela sua espessura,
pela porcentagem da casca em relação ao peso do ovo, por resistência à
trepidação e pela gravidade específica (BRADLEY & KING, 1991).
Existe uma associação entre a resistência da casca e o sucesso da
incubação. Entre os vários fatores que afetam a qualidade da casca do ovo,
podem-se ressaltar a fonte e os níveis de cálcio provenientes da ração, pois a
casca do ovo é constituída na sua quase totalidade por carbonato de cálcio (ITO,
1998). Esses níveis de cálcio são ajustados para cada uma das fases de
desenvolvimento da reprodutora.
7
2.3 Condutância
A condutância da casca do ovo é a capacidade de trocas gasosas que
acontecem através dos poros que estão presentes na casca do ovo. A porosidade
da casca é um importante fator a ser considerado para estimar a condutância.
(DEEMING, 2002).
A condutância da casca depende da diferença de pressão interna e
externa para o processo de trocas de O2, vapor de água e CO2. A região entre a
câmara de ar e a membrana da casca está normalmente saturada de vapor de
água o que faz com que a taxa de troca gasosa dependa da condutância da
casca e da umidade da incubadora (BAMELIS et al. 2008).
Do ponto de vista físico a condutância da casca do ovo representa o
potencial de difusão de gases através dos seus poros. A equação matemática que
descreve esse potencial é baseada na lei de difusibilidade de Fick, válida também
para calcular a condutância de O2 e CO2, como sugerido por VLECK (1991):
MH20 = GPH 0 (PovoH2O –PaH2O)
2
Onde:
M H20 = taxa de perda de água em mg/d;
G H20 = condutância da casca ao vapor d’água em mg H20/d/Torr;
PovoH2O (pressão de vapor de água no interior do ovo) - PaH2O (pressão de
vapor de água no ambiente de incubação) = pressão do vapor d’água.
A condutância da casca do ovo de diversas espécies foi estimada por
AR et al. (1974) por meio da perda de peso diária dos ovos. Os ovos foram
identificados e colocados em um dessecador com umidade próxima a zero e uma
vez por dia os ovos eram pesados para que pudessem estimar a condutância da
casca adotando-se a fórmula descrita acima (Tabela 2).
8
Tabela 2 – Valores de condutância de vapor de água da casca do ovo de
diferentes espécies.
Espécie
Cortunix cortunix japonica
Nº ovos
Peso ovos (g)
Condutância (mg*dia*torr-1)
12
9,62
3,09
12
53,89
14,36
11
87,76
14,49
8
80,2
12,32
(codorna japonesa)
Gallus gallus domesticus
(galinha doméstica)
Meleagris gallopavo
(peru doméstico)
Cairina moschata
(pato doméstico)
Adaptado: AR et al. (1974)
A partir dessa primeira mensuração de valores de condutância, esse
fator passou a ser estudado com maior ênfase e foram desenvolvidas novas
técnicas com a finalidade de elucidar quais eram os fatores que interferiam
diretamente nesse parâmetro de incubação e de qual maneira era possível utilizar
esse conhecimento a favor da produção de pintos dentro de um incubatório
comercial.
Em experimento para avaliar a taxa de condutância da casca de ovos
LA SCALA JR et al. (2003) observam que esse valor pode ser calculado por meio
da diferença entre o peso de um ovo colocado em um dessecador com
temperatura constante do dia um até o dia 20.
Outra técnica para avaliar a condutância foi desenvolvida por O’DEA et
al. (2004), que avaliaram ovos provenientes de diferentes idades de matrizes,
esses ovos avaliados eram primeiramente padronizados de acordo com seu peso
e em seguida colocados diretamente em um dessecador (medindo 30x30x26cm)
onde foram mantidos por nove dias, sendo que a avaliação iniciou no segundo dia
(desprezaram os dados do primeiro e segundo dia). Foi retirado um ovo por dia do
dissecador para estimar a perda de umidade. Os valores de condutância foram
medidos pela razão entre a taxa de perda de água diária e a pressão de vapor
saturado (mg de H2O/mmHg).
9
BAMELIS et al. (2008) desenvolveram uma técnica para estimar a
condutância da casca, com o ovo íntegro, antes do período de incubação, pela
associação de duas técnicas (ressonância acústica e transmissão de luz para
verificar a porosidade), e foi possível determinar a condutância aproximada da
casca do ovo. Assim, seria possível realizar uma classificação dos ovos de acordo
com a sua condutância na seleção dos ovos para a incubação, podendo separar
os ovos de acordo com os níveis de condutância, visando uma melhora nas taxas
de eclosão.
Já GONZALES et al. (2009) explicaram que na prática do incubatório a
condutância pode ser avaliada por meio da percentagem de perda de peso do ovo
entre o dia zero e o décimo oitavo dia de incubação (transferência), e essa perda
de peso deve estar entre 10 e 14%. O ovo perde água durante a incubação, e
dessa forma, presume-se que a perda de peso do ovo corresponda à perda do
peso em água, o que poderia ser chamado de condutância da casca.
Uma técnica desenvolvida por PORTUGAL et al. (2010) não utiliza
ovos íntegros para estimar a condutância da casca do ovo, os autores fazem uso
de fragmentos de diferentes locais da casca fixados em microtubos de 0,25mL
completados com água destilada (200µL) e em seguida colocados em um
dissecador a 25ºC e pesados três vezes ao dia para a obtenção de um valor de
condutância de vapor de água da casca. A Figura 2 mostra que essa técnica foi
eficiente para calcular a condutância e com uma repetividade regular para as
espécies estudadas: Gallus gallus domesticus (galinha doméstica), Numida
meleagris (galinha d’angola) e Anas platyrhynchos domesticus (pato). Os autores
concluíram que a técnica utilizada foi suficiente para encontrar diferenças
significativas entre as três espécies estudadas e também para as regiões da
casca do ovo submetidas ao experimento.
10
FIGURA 2 - Taxa de condutância de vapor de água para galinhas (quadrados),
patos (círculos) e angolas (triângulos). Os símbolos brancos indicam a
região da câmara de ar da casca do ovo, os cinzas representam a
região do equador do ovo e os pretos indicam a extremidade
pontiaguda da casca. Adaptado: PORTUGAL et al. (2010)
A técnica desenvolvida por PORTUGAL et al. (2010) demonstrou
aplicação prática, pois o autor fez uma comparação entre a técnica já conhecida
que utiliza o ovo inteiro para calcular a condutância e a sua técnica que utiliza
fragmentos da casca do ovo, encontrando uma mínima variação entre os valores
de condutância encontrados. Essa normalidade encontrada para a condutância da
casca dos ovos, permite utilizar essa técnica após o nascimento dos pintainhos
para estimar dados relacionados a incubação e ao desenvolvimento do pinto
neonato. Também relacionar esses dados de condutância com outros parâmetros
da incubação como por exemplo horário de nascimento, intervalo de nascimento e
também a qualidade do pintainho neonato.
Um dos fatores que afetam diretamente a condutância da casca do ovo
é a idade da matriz, ROSA et al. (2002) afirmaram que ovos de matrizes velhas
são freqüentemente maiores, com redução de densidade e maior porosidade na
casca, o que favorece as trocas gasosas entre o ovo e o meio externo. Entretanto,
ovos de matrizes mais velhas apresentam porosidade que permitem maior
11
passagem de bactérias e esporos de fungos (SILVA, 2003), o que facilita a
contaminação interna.
De acordo com O’DEA et al. (2004), a porcentagem de perda de peso
dos ovos aumenta com idade das matrizes, e que há uma redução na
condutância da casca de acordo com o aumento da idade da matriz 37-45
semanas, não havendo diferença significativa entre os ovos produzidos por
linhagens de 45 e 53 semanas de idade (Tabela 3). Estes autores não
encontraram diferença entre linhagens, o que não foi consistente com estudos
anteriores. A seleção genética não resultou em mudanças na condutância da
casca.
Tabela 3. Peso dos ovos frescos e média da condutância da casca de ovos férteis
Idade da matriz
Número de ovos
Peso do ovo
Condutância da
(semanas)
fresco (g)
casca (mg de
H2O/mmHg)
37
30
59c
17,25a
45
30
58,3b
15,87b
53
30
64,3a
15,42b
Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna apresentam diferença
significativa (p<0,05). Adaptado: O’DEA et al. (2004)
HAMIDU et al. (2007) estudando diferentes linhagens comerciais e
diferentes idades de matrizes, encontraram que para as duas linhagens
estudadas não houve
diferença entre os valores de condutância observados.
Entretanto, esses autores não encontraram diferença significativa para as
diferentes idades de matrizes, resultados esses contrários aos observados
anteriormente (Tabela 4).
12
Tabela 4 – Efeito da linhagem comercial e da idade da matriz sobre a condutância
da casca de ovos férteis.
Condutância da casca (mg de H2O/mmHg)
Linhagem
Ross 308
19,15
Cobb 500
18,4
Idades da matriz
Jovem (29 semanas)
19,36
Pico (34 – 36 semanas)
18,06
Pós-pico (40 semanas)
18,39
Madura (45 semanas)
17,46
Velha (55 semanas)
20,2
Muito Velha (59 semanas)
19,17
Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna apresentam diferença
significativa (p<0,05). Adaptado HAMIDU et al. (2007)
CHRISTENSEN et al. (2006), testando a viabilidade de embriões de
perus oriundos de ovos de diferentes pesos e diferentes condutâncias de casca,
incubados em duas diferentes umidades: alta (65% U.R.) e padrão (50% U.R.),
encontram que perus oriundos de ovos com condutância média ou alta tiveram
um desempenho superior ao atingirem três e seis semanas quando comparados
aos de baixa condutância (Tabela 5). Aves advindas de ovos com baixa
condutância mostraram ainda glicogênio cardíaco deprimido, lactato sanguíneo
elevado e os intestinos imaturos. Dessa forma, o autor afirmar que a condutância
pode influenciar na maturidade intestinal de embriões de perus e a consequente
sobrevivência e crescimento do mesmo.
13
Tabela 5 – Peso (g) de perus em diferentes idades (semanas) oriundos de ovos
com diferentes taxas de condutância (alta, média ou baixa), incubados
em umidade alta ou padrão.
3 semanas
6 semanas
Condutância/Umidade
Alta
Baixa
Alta
Baixa
Média
Alta
637
648
2351
2344
2348A
Média
635
665
2234
2383
2309A
Baixa
579
631
2067
2245
2156B
Média Geral
617b
648a
2218b
2348a
-
da incubadora
Médias seguidas por letras diferentes diferem entre si (p = 0,1). Adaptado:
CHRISTENSEN et al. (2006).
Matrizes jovens produzem ovos e gemas com pesos mais uniformes do
que matrizes mais velhas. Embriões de ovos mais pesados apresentam maior
mortalidade a partir de 15 dias de incubação, resultando em menor taxa de
eclosão. Ainda, os embriões desenvolvidos nos ovos maiores são menos
tolerantes ao excessivo calor metabólico produzido no final do período de
incubação (LOURENS et al., 2006).
ROCHA et al. (2008) verificaram que ovos maiores oriundos de
matrizes de idades diferentes (31, 38 e 43 semanas) apresentaram menor
eclodibilidade quando comparados aos ovos de peso menor.
Ovos provenientes de matrizes de diferentes idades necessitam do
mesmo tempo para incubação não havendo prejuízos na qualidade de neonatos
pelo tempo de permanência no nascedouro (ALMEIDA et al. 2006).
À medida que a galinha envelhece, ocorre aumento de até 20% no
peso do ovo, porém não ocorre aumento proporcional no peso da casca. Todo
cálcio presente para formação da casca do ovo precisa ser distribuído por uma
superfície maior (LLOBET, 1989). Isso resulta em maior condutância dos gases
do interior dos ovos para o meio externo (CARVALHO, et al. 2007), e esse
aumento pode ser prejudicial ao desenvolvimento embrionário a partir de certo
período de incubação.
Dentro de certos limites, os problemas de inadequada perda de peso
do
ovo
por
condutância
alta/baixa
da
casca
podem
ser
corrigidos,
14
aumentando/diminuindo a umidade do ambiente de incubação. Também, a
eliminação da cutícula antes de incubar os ovos promove certa melhora na
condutância da cascas de estruturas muito complexas e espessas, como é o caso
de ovos de patos, codornas e avestruzes. Para os galiformes, entretanto, a
retirada da cutícula prejudica a eclodibilidade (PEEBLES et al, 1987).
A perda excessiva de água do ovo pode acarretar em desidratação e
aumento do metabolismo do embrião resultando em rápida utilização dos
recursos da gema (PRINGLE & BARROTT, 1937). Já a perda de vapor de água
extremamente lenta pode resultar em um desempenho pior para o pinto neonato
(AR & RAHN, 1980). Portanto, para o sucesso da incubação, é necessário
estabelecer um padrão adequado de perda de peso do ovo durante a incubação,
entre o primeiro e o décimo oitavo dia que está situado na faixa de 10 a 14%. Os
pesquisadores têm buscado medir a taxa de perda de água, ou seja, o valor da
condutância da casca com a finalidade de entender as características
determinantes da incubação.
15
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Distúrbios no parâmetro de condutância da casca do ovo fértil afetam o
desenvolvimento do embrião e consequentemente a qualidade do pinto neonato e
o seu desempenho final, além de prejudicar os resultados de eclodibilidade.
Os principais fatores que afetam a condutância da casca do ovo são idade,
nutrição e sanidade da matriz que afetam a qualidade da casca. Outros fatores,
como o manejo do ovo e do ambiente de incubação também podem afetar a
condutância da casca e interferir com a perda de água dos ovos, necessária e
importante para possibilitar a troca gasosa do embrião com o meio ambiente.
Como são diversos os fatores que interferem na condutância da casca do
ovo incubável, tecnicamente não é possível estabelecer um valor fixo de
condutância para os diferentes tipos de ovos e, portanto, determinar
antecipadamente as taxas de umidade que devem ser mantidos no interior das
incubadoras. De modo prático, o processo de incubação deve manter a perda da
perda do peso dos ovos do primeiro ao 18º ou 19º dia de incubação entre 10% e
14%. Esse valor é uma indicação indireta da condutância da casca e através de
sua determinação é possível estabelecer parâmetros de umidade que deve ser
mantido no ambiente da incubadora.
No entanto, é necessário conhecer os padrões de condutância dos ovos
incubáveis e suas correlações com os índices de produtividade do incubatório,
não só a eclodibilidade, mas também como esse parâmetro (condutância) pode
afetar a distribuição do nascimento, isto é, a denominada janela de eclosão.
Em geral, as mensurações da condutância da casca envolvem a utilização
do ovo integro, o que torna difícil correlacionar a condutância com parâmetros
como a hora de nascimento, ou qualidade do neonato, ou mesmo a taxa de
desenvolvimento dos embriões.
Assim, é necessário desenvolver metodologias que permitam estimar a
condutância da casca de diferentes tipos de ovos para adequar as condições de
incubação e permitir que as trocas gasosas sejam melhor controladas com o
objetivo de otimizar a produção de pintos de qualidade.
16
REFERÊNCIAS
1.
ALMEIDA, J. G.; DAHLKE, F.; MAIORKA, A.; FARIA FILHO, D. E.; OELKE,
C. A. Efeito da idade da matriz no tempo de eclosão, tempo de permanência
do neonato no nascedouro e o peso do pintainho. Archives of Veterinary
Science, v. 11, n. 1, p. 45-49, 2006
2.
AR, A.; PAGANELLI, I. C. V.; REEVES, R. B.; GREENE, D. G.; RAHN, H.
The avian egg: water vapor conductance, shell thickness, and functional pore
area. The Condor, v.76, p. 153-158, 1974.
3.
AR, A.; RAHN, H. Water in the avian egg overall budget of incubation.
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