oficina socioeducativa para famílias do programa

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ESCOLA DE FORMAÇÃO DE GOVERNANTES – EFG
SEDES – SECRETARIA DE ESTADO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO
MARANHÃO
UNICEF – FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA
ADRIANA LÍGIA ALVARENGA OLIVEIRA FRÓES
OFICINA SOCIOEDUCATIVA PARA FAMÍLIAS DO
PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA, NO MUNICÍPIO DE
CANTANHEDE (MA)
CANTANHEDE – MA
2008
1
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE GOVERNANTES – EFG
SEDES – SECRETARIA DE ESTADO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO
MARANHÃO
UNICEF – FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA
ADRIANA LÍGIA ALVARENGA OLIVEIRA FRÓES
OFICINA SOCIOEDUCATIVA PARA FAMÍLIAS DO
PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA, NO MUNICÍPIO DE
CANTANHEDE (MA)
Relatório Técnico-Científico apresentado
como finalização dos Módulos do Curso
de Gestão do SUAS – Sistema Único da
Assistência Social, Escola de Formação
de Governantes – EFG, do ano 2008.
CANTANHEDE – MA
2008
2
AGRADECIMENTOS
A Deus, meu Senhor e criador, todo louvor, toda honra e toda a glória, Àquele que
me capacita a cada dia, e me coloca à sombra de suas asas.
Aos meus pais, Rosa e Ribamar, que sempre me incentivaram em minhas
conquistas.
À minha avó, Adília Frazão, que me ensinou a construir tudo o que sou hoje, que
me deu amor, afeto, e compreensão.
Ao meu amado esposo, Lourival Fróes, que é um grande companheiro, amigo de
todas as horas, um presente de Deus em minha vida.
Ao Grupo de Oração Efésios 6, grupo de combate, força e poder de Deus, pelos
amigos, irmãos que sempre estão a meu lado, orando e intercedendo por mim junto ao Pai.
À minha irmã Ornella, pelo presente abençoado que me concedeu, Maria
Manuella, que por esses dias estará chegando para alegrar minha vida.
Às minhas Tias, Rosário e Santinha, minhas grandes amigas, mães, que
completam a minha vida.
3
LISTA DE SIGLAS
BPC – Benefício de Prestação Continuada
CRAS – Centro de Referência da Assistência Social
CF – Constituição Federal de 88
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
EFG – Escola de Formação de Governantes
OAB – Ordem dos Advogados do Brasil
PBF – Programa Bolsa Família
PSB – INFÂNCIA – Proteção Social Básica à Infância
PSF – Programa de Saúde da Família
PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
SUS – Sistema Único de Saúde
4
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 6
2
CONFIGURAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CANTANHEDE.............................................. 9
3
FAMÍLIAS NO CONTEXTO ATUAL ........................................................................... 11
4
AÇÕES SÓCIO-EDUCATIVAS COM AS FAMÍLIAS DO PBF – CANTANHEDE
(MA) ......................................................................................................................................... 13
5
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 15
6
RECURSOS MATERIAIS ............................................................................................... 16
7
RECURSOS HUMANOS ................................................................................................. 17
8
PÚBLICO-PARTICIPANTE/ LOCAL DE REALIZAÇÃO/ PERÍODO DE
REALIZAÇÃO ......................................................................................................................... 18
9
OFICINAS DE CAPACITAÇÃO SOBRE “FORMAS DE PARTICIPAÇÃO” ............. 19
9.1 GRUPOS DE CRIANÇAS ............................................................................................... 19
9.2 GRUPO DE ADOLESCENTES/ JOVENS ...................................................................... 21
9.3 GRUPOS DE ADULTOS ................................................................................................. 26
10 MULTIPLICAÇÃO DA TEMÁTICA “FORMAS DE PARTICIPAÇÃO” .................... 28
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 30
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 31
ANEXOS..................................................................................................................................32
ANEXO A.................................................................................................................................33
5
APRESENTAÇÃO
O presente Relatório tem a finalidade de apresentar os resultados obtidos com as
famílias do Programa Bolsa Família, do município de Cantanhede – MA, numa amostra de
2% do total de 6.000 famílias atendidas pelo Programa no Município, o que representou 120
famílias, com seus grupos de crianças, adolescentes/ jovens, e adultos, inseridos nos serviços
socioeducativos, com a perspectiva de socialização destes grupos, contribuindo para o
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
O Programa Bolsa Família criado pelo Governo Federal para apoiar as famílias
mais pobres na garantia do direito à alimentação, também promove o acesso destas à
educação e à saúde, sendo as famílias grandes incentivadoras da permanência e da freqüência
de seus filhos na escola, e devendo manter o acompanhamento da saúde, principalmente às
crianças e gestantes.
A atividade realizada junto às famílias do Bolsa Família, em Cantanhede (MA),
constitui-se como serviço socioeducativo realizado em forma de Oficina de Capacitação sobre
a temática “Formas de Participação”, com grupos de crianças, adolescentes/ jovens e adultos,
com carga horária de 24 horas com os três grupos, e posteriormente, ocorrendo a
multiplicação da temática pelos próprios membros dos grupos que foram monitorados pela
Técnica responsável pela capacitação, para que venham a disseminar as informações
apreendidas na Capacitação para os demais membros de suas comunidades, com carga horária
de 03 horas.
6
1 INTRODUÇÃO
O sistema de proteção social no Brasil tem seu marco inicial no período entre
1930 e 1943, com a passagem do modelo de desenvolvimento agro-exportador para o modelo
urbano-industrial, e com o Estado Nacional passando a assumir mais diretamente a provisão
direta na educação, saúde, previdência, programas de alimentação e nutrição, dividindo-se
entre o desenvolvimento econômico e a promoção do bem-estar da população.
No período da ditadura militar, o sistema acima citado se expandiu como
compensação pela repressão aos movimentos sociais e ao movimento sindical, como espécie
de estratégia de controle social por parte do Estado via programas sociais, o que não impediu
o surgimento de novos movimentos sociais, partidos políticos, que vêm resgatar a concepção
de cidadania.
A Constituição Federal de 1988 instituiu a Seguridade Social que incorpora a
Saúde, Assistência Social e Previdência Social, como políticas públicas, direito do cidadão e
dever do Estado, porém todo o processo de ampliação dos direitos sociais com a Constituição
foi interrompido quando o Brasil aderiu durante a década de 1990 à ideologia neoliberal, que
estagnou o crescimento econômico, precarizou e instabilizou o trabalho, acirrando a pobreza.
O que passamos a assistir é o desmonte dos direitos sociais e trabalhistas
legitimados na CF 88, em nome de um padrão de competitividade na economia mundial
globalizada, o que segundo Silva et al. (2004, p. 42), constitui:
[...] no plano da intervenção estatal no social, um movimento orientado por
posturas restritivas, com a adoção de critérios cada vez de maior rebaixamento do
corte de renda para fixação da linha de pobreza, para permitir acesso das
populações, por exemplo, aos Programas de Transferência de Renda em grande
expansão no Brasil, a partir de 2001.
Nesse contexto, apresenta-se a necessidade de uma reforma dos programas
sociais, e os Programas de Transferência de Renda são apontados como possibilidades para o
enfrentamento da pobreza e do desemprego, acirrados com a reestruturação produtiva e com
os programas de ajuste econômico.
Assim, serão esses programas compensatórios e residuais, mantenedores dos
interesses de mercado? Ou serão mecanismos provisórios para permitir a inclusão social de
cidadãos?
7
No Brasil, atualmente, tem-se vários programas dessa natureza, mas aqui
destacaremos apenas o Bolsa Família que constitui-se como um programa de transferência
direta de renda, com condicionalidades, a famílias em situação de pobreza (com renda mensal
de 60,01 por pessoa a R$120,00), e em extrema pobreza (com renda mensal por pessoa de até
R$60,00).
O PBF integra as ações do Fome Zero, que é uma estratégia impulsionada pelo
Governo Federal para garantir o direito humano à alimentação adequada às pessoas com
dificuldades de acesso aos alimentos, promovendo a segurança alimentar e nutricional, na
conquista da cidadania das populações mais vulneráveis, articulando-se a três dimensões, que
são:

a promoção do alívio imediato à pobreza através da transferência de renda
à família;

reforço ao exercício da cidadania pelo cumprimento das condicionalidades
na Educação e na Saúde, rompendo o ciclo vicioso da pobreza
intergeracional;

coordenação de programas complementares em âmbito federal, estadual e
municipal, para combater as desigualdades e promover a inclusão social,
considerando a realidade local , e as especificidades da população a ser
atendida, são programas como, Alimentação Escolar – PNAE, Restaurantes
Populares, Economia Solidária e Inclusão Produtiva, Microcrédito
produtivo, CRAS, parcerias com empresas e entidades, conselhos da área
social.
Em um só programa, foi integrado o Programa Auxílio-Gás, o Bolsa Alimentação,
e o Cartão Alimentação, incluindo também famílias que não recebiam nenhum desses
benefícios e estão nos critérios de inclusão.
Assim, as famílias são cadastradas no Cadastramento Único dos Programas
Sociais, através das Prefeituras Municipais, que possuem um Gestor que coordena o
Cadastramento.
O cadastro da família é preenchido, as informações são enviadas para o Governo
Federal, que analisa as informações, e identifica as famílias com perfil para o programa, às
8
quais passam a esperar o recebimento do benefício, através do cartão, que chega às suas casas
ou pelo Correio, ou por entrega via Caixa Econômica no município.
As famílias devem manter sempre atualizados seus cadastros junto às Prefeituras
municipais, atualizando seus endereços, rendas, transferência de escolas das crianças,
composição familiar, para garantir a lisura nos cadastros, retratando fielmente a realidade das
famílias de baixa renda.
Dentro da organização do SUAS – Sistema Único de Assistência Social, o
programa Bolsa Família configura-se como programa de proteção social básica, que previne
situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, fortalecendo
vínculos familiares e comunitários, das populações que vivem em situação de vulnerabilidade
social, em decorrência da pobreza, privação, fragilidade de vínculos afetivos, relacionais.
Na perspectiva dos serviços de proteção básica da assistência social, estes devem
potencializar a família como unidade de referência, por meio do protagonismo de seus
membros, dos serviços locais de convivência, socialização, e acolhimento, promoção da
integração ao mercado de trabalho.
Os serviços de proteção social básica são executados pelos Centros de Referência
da Assistência Social – CRAS, de forma direta e em outras unidades básicas de assistência
social, e de forma indireta pelas entidades e organizações de assistência social das áreas de
abrangência dos CRAS.
9
2 CONFIGURAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CANTANHEDE
O município de Cantanhede – MA dispõe de uma área de 844,1 km2, fica situado
na Zona de Itapecuru, microrregião que se caracteriza por ser uma região de planície, com
vegetação de matas, cerrados e extensos babaçuais, possui 17.715 habitantes, segundo o
penúltimo Censo do IBGE.
Limita-se ao norte com Itapecuru-Mirim, ao sul com Pirapemas e São Mateus, a
leste com Vargem Grande, a oeste com Matões do Norte.
O Rio Itapecuru é muito importante para o município, serve de via de transporte
para as pessoas e cargas, banha o município em uma extensão de 31 km. Quanto aos Igarapés,
tem-se o Jundiaí, que separa Cantanhede de Matões do Norte, além dos igarapés dos Lopes,
do campinho, São Sebastião e Santa Catarina, todos desembocam no Itapecuru.
Destacamos como recursos naturais de Cantanhede, a pedra-jacaré, a pedra-seixo,
a areia, piçarra e barro, como recursos minerais, o babaçu, o tucum, o guarimã, a taboca, o
cedro, o pau d’arco, como recursos vegetais, sendo o babaçu importante para a sobrevivência
de inúmeras famílias de Cantanhde, e dentre os recursos animais, aves, como o nambu,
rolinhas, uma variedade de peixes, como o surubim, Curimatá, piau de vara, etc.
Quanto à estrutura fundiária, possui dois assentamentos do governo federal,
Galvão Cantanhede e São Patricio, e 5 projetos casulos: Ingá, Vila Monteiro, Vila Palmeira, e
Garrafinha.
Não existe regularização fundiária feita pelo Estado.
A BR – 135 liga São Luís a Matões do Norte, que fica à margem dessa rodovia, e
a MA - 332 liga Matões a Cantanhede, numa distância de 20 km.
O município de Cantanhede é uma planície e possui 30 ruas, 3 travessas, 4
avenidas, 6 praças, 1 quadra de esporte, 1 ginásio esportivo e 1 estádio de futebol.
No dia 25 de julho de 1995, Cantanhede Maranhão e Cantanhede Portugal
geminaram-se em ato solene nos Paços do Concelho de Cantanhede Portugal, e a ratificação
aconteceu na Câmara de Cantanhede, nos anos 1996.
A geminação foi o acordo de paz e integração entre os povos luso e brasileiro,
sendo, assim, providenciada a legalidade política da Geminação.
No que se refere aos aspectos sociais, a saúde do município já teve grandes
investimentos par sua melhoria, dispondo de um Hospital, o Santa Filomena, mantido pela
Prefeitura, conveniado com o SUS – Sistema Único de Saúde; conta com 08 equipes de PSF –
10
Programa de Saúde da Família, e 03 equipes de PSB- Programa de Saúde Bucal, tendo, ainda,
54 Agentes Comunitários de Saúde.
O Hospital possui 59 leitos, 12 para cirurgias, os exames preventivos são colhidos
em Cantanhede e analisados em São Luís.
Além disso, a Saúde municpal é parceira do PBF na condicionalidade na saúde,
por meio do SISVAN (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional).
No município de Cantanhede, a assistência social encontra-se na gestão básica, o
município é de pequeno porte I, possui um CRAS – Centro de Referência da Assistência
Social, com 02 equipes técnicas, possui o PSB – Infância, o Programa Iodos Ativo, que
atende 100 idosos, e é potencializado pelo CRAS, o Pró-Jovem Adolescente com 125 jovens,
o PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, que funciona em 01 povoado e na
sede do município, o programa Bolsa Família, com aproximadamente, 6000 famílias
cadastradas e recebendo benefício mensal, o BPC (Benefício de Prestação Continuada) ,
destinado a idosos a partir de 65 anos e a pessoas com deficiência, cuja renda mensal familiar
per capita seja igual ou inferior a ¼ do salário mínimo vigente.
Na Educação, o município possui uma Secretaria Municipal, órgão gestor da
política de educação, possui 04 pré-escolas, 9 escolas municipais, de ensino fundamental, 44
escolas dessa categoria na zona rural, 01 escola estadual, de ensino fundamental e médio.
O quadro de docentes é permanentemente capacitado, e além disso, atua na gestão
das condicionalidades do Bolsa Família, através da freqüência escolar.
Em relação ao nível superior, a Secretaria de Educação possui parceria com a
UEMA – Universidade Estadual do Maranhão, através do PQD – Programa de Qualificação
para Docentes, com os cursos de Matemática, Pedagogia, Geografia, que concluíram seus
cursos em novembro de 2007, e o NEAD – Núcleo de Ensino à Distância, através do curso de
Magistério Superior para as Séries Iniciais, com 4 turmas, que irão concluir o curso até o final
do ano. Está fortalecendo uma parceria com a ULBRA – Universidade Luterana do Brasil,
com a implantação dos Cursos de Administração de Empresas, Letras, Serviço Social, e
Ciências Sociais.
11
3
FAMÍLIAS NO CONTEXTO ATUAL
Vivemos num país onde os recursos de sobrevivência são privados haja vista que
os serviços públicos de educação, saúde, habitação, são precários, e os movimentos de pressão
social, embora avançados, ainda são frágeis, a mediação entre a população vulnerabilizada
pela pobreza e a vida no meio urbano, e nas situações de exclusão impostas pela sociedade, é
feita pela família.
Assim, a presença do estado na regulação da vida familiar é inegável, na
legislação, nas políticas públicas, sendo a família o centro do processo de reprodução social,
importante lugar para intervir sobre realidades sociais indesejáveis, como a pobreza e o baixo
capital humano (Itaboraí).
As políticas sociais têm se destinado a atender dimensões da vida social das
famílias, através da prestação de serviços de saúde, educação, assistência social sobretudo,
voltadas às necessidades materiais, de segmentos vulneráveis, como crianças/ adolescentes,
gestantes, idosos, pessoas com deficiência, através de programas de complementação de renda
que se articulam à exigência de manter as crianças na escola, e reforçam valores sociais e
familiares.
A família vem se tornando cada vez mais objeto para a formulação de políticas
públicas, as crises ocorridas com os Estados de Bem-Estar, contribuem para maior
visibilidade na provisão das responsabilidades sociais entre o Estado, o mercado e a família.
A crise da sociedade salarial, conforme aponta CASTEL (2004) juntou a velha à
nova pobreza, excluídos estruturais de longa data aos novos excluídos arrastados pela
reestruturação do capitalismo.
Esping-Andersen trabalha com o conceito de “desfamiliarização”, que se refere:
[...] às políticas que reduzem a dependência individual em relação à família e que
maximizam a disponibilidade de recursos econômicos para o indivíduo
independentemente das reciprocidades familiares ou conjugais. (ESPINGANDERSEN 2000, p. 66).
No cerne da questão, devemos nos questionar se:
- Face ao processo de pauperização cada vez maior de famílias, as políticas
públicas que são construídas estão coerentes com a pluralidade de famílias
presentes na sociedade?
12
- As políticas têm considerado os diferentes ciclos de vida da família e suas
demandas específicas?
- As políticas de renda mínima devem continuar atreladas à presença de filhos?
- A mulher com seu papel de responsável legal pelos benefícios está fortalecida ou
tendo legitimada sua função de gerente da casa?
A família ainda continua reproduzindo valores de cunho conservador, como as
desigualdades de gênero, classe, geração, pois se encontra envolta em uma sociedade que
legitima ainda mais esses valores e, portanto, não pode ser culpada por não saber gerir seus
recursos, e ocasionar o fenômeno da pobreza, pois isso seria reduzir a uma esfera particular o
que é macrossocial.
Atualmente, a família tem lugar de destaque na política social brasileira, onde se
discute a centralidade na família, para que estas venham a se reproduzir e viver com
dignidade, no entanto, a focalização dos serviços públicos deixa de fora um grande
contingente de famílias, excluídas e vulnerabilizadas.
Nesse cerne, tem-se o retrato de uma família onde:
[...] o desemprego e as situações imprevistas levam os projetos familiares a serem
constantemente refeitos, se os filhos não estão estudando como seria desejável, se
sacrifícios com os quais não se contava podem estar em curso dentro das inúmeras
estratégias de sobrevivência dos pobres urbanos [...]. Sabemos que as possibilidades
de melhorar de vida esbarram esbarraram nos limites da recessão econômica
agravada nos anos 80 (SARTI, 2007, p. 31).
13
4 AÇÕES SÓCIO-EDUCATIVAS COM AS FAMÍLIAS DO PBF – CANTANHEDE
(MA)
O Programa Bolsa Família, além do repasse mensal às famílias, que varia de
R$17,00 a R$120,00 mensais, na perspectiva da proteção social básica compreende a
importância dos serviços socioeducativos, para a maior socialização dos membros do
agregado familiar, fortalecendo seus vínculos de pertencimento.
O Centro de Referência da Assistência Social - CRAS é a unidade pública estatal
que organiza, coordena a rede socioassistencial local, os serviços da proteção social básica,
em articulação às demais políticas públicas locais.
No município de Cantanhede (MA), o CRAS possui essa atribuição também, além
de organizar campanhas educativas, acompanhar as ações do Programa Idoso Ativo, do PróJovem Adolescente, do ASEF, desenvolver atividades de inclusão produtiva, realizar palestras
educativas com famílias, dentre outras ações.
O Trabalho ora proposto a ser realizado junto às famílias do PBF – Cantanhede
será desenvolvido pela Técnica responsável pela Secretaria Municipal de Assistência Social
do município, órgão gestor local da política de assistência, encarregado de coordenar,
acompanhar, avaliar os Programas da Proteção Social Básica e Especial, dentre estes, o Bolsa
Família.
O Programa Bolsa Família, em Cantanhede, possui, aproximadamente, 6.000
famílias cadastradas e efetivamente recebendo seus benefícios via cartão, porém para realizar
a atividade proposta, retiramos uma amostra de 2% desse total, o que corresponde a 120
famílias, distribuídas em grupos de crianças, adolescentes/ jovens, e adultos, os quais
participaram de serviços socioeducativos organizados da seguinte forma:
 Oficinas de Capacitação – estas Oficinas aconteceram nos três grupos
acima citados, e tiveram carga horária de 8 horas, totalizando 24 horas de
capacitação, sendo 01 dia para cada grupo, sobre a temática “Formas de
Participação”, escolhida pelas famílias em reunião prévia de apresentação
do trabalho a ser desenvolvido.
 Multiplicação da temática – após as Oficinas de Capacitação, dentre cada
grupo, foram escolhidos representantes para receber o material da
capacitação, aprofundar-se do mesmo, marcar uma data para multiplicar a
14
temática nos Pólos, convocando a participar outras pessoas das
comunidades que não estiveram na Oficina, e de preferência, que
estivessem de fora da amostra de 2% das famílias do PBF. Essa etapa foi
de grande importância, pois permitiu às famílias tornarem-se agentes de
multiplicação de um tema, que pode levar a comunidade onde estão
inseridos a uma mudança, a uma percepção diferenciada da sua realidade,
em que estes são valorizados na sua forma de interpretar essa realidade, e
construir sua cidadania. As multiplicações tiveram carga horária de 3
horas, aproximadamente.
 Elaboração do Relatório – após a realização das Oficinas de Capacitação, e
das multiplicações das temáticas, a sistematização das atividades foi
realizada através de Relatório Técnico-Científico, documento importante
que registra as ações, serve de referência para outras, ficando na Secretaria
de Assistência Social, e também sendo apresentado à Sedes – Secretaria de
Estado de Desenvolvimento Social do Maranhão, e à EFG – Escola de
Formação de Governantes, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil),
como conclusão do Curso de Gestão do SUAS.
15
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a realização dos serviços socioeducativos junto às famílias do PBF, tomamos
por referência a perspectiva crítico-dialética, à qual nos permite uma visão da realidade,
enquanto totalidade dinâmica e contraditória, rompendo com abordagens unilaterais e
equivocadas da realidade.
Assim, foram utilizados os seguintes procedimentos:

Apresentação de filmes abordando a temática a ser desenvolvida;

Exposição Dialogada;

Realização de dinâmicas de grupo, de integração;

Realização de brincadeiras de roda com crianças;

Utilização de fantoches;

Realização de trabalhos de grupo para melhor assimilação do conteúdo.
16
6 RECURSOS MATERIAIS

01 datashow;

01 aparelho de Tv com DVD;

Papel Madeira;

01 Flip-chart;

Pincel atômico;

Giz de cera;

Canetas Hidrocor;

Papel Chamex;

Canetas esferográficas;

Papel Crepon.
17
7 RECURSOS HUMANOS

01 Assistente Social;

05 Monitores do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.
18
8 PÚBLICO-PARTICIPANTE/ LOCAL DE REALIZAÇÃO/ PERÍODO DE
REALIZAÇÃO
As Oficinas de Capacitação e as Multiplicações sobre a temática “Formas de
Participação”, foram realizadas junto a 120 famílias do Programa Bolsa Família, do município
de Cantanhede (MA), das 04 ruas de maior vulnerabilidades social do município, a saber, Rua
Projetada, Rua do Escondido, Rua do Mutirão, Alto da Torre, distribuídas em 03 grupos de
crianças, adolescentes/ jovens, e adultos.
As Ações Socioeducativas aconteceram no Centro Comunitário de Múltiplo Uso,
em Cantanhede, no período de:
- Dias 8 a 10/05, das 8h às 18 horas; 15 a 17/05 – etapa das Oficinas de
Capacitação;
- Dia 21/05, das 8h às 11h, com crianças; das 18h às 21h, com jovens e adultos –
1.ª Multiplicação;
- Dia 26/05, das 8h às 11h, com crianças; das 18h às 21h, com jovens e adultos –
2.ª Multiplicação.
19
9 OFICINAS DE CAPACITAÇÃO SOBRE “FORMAS DE PARTICIPAÇÃO”
9.1 GRUPOS DE CRIANÇAS
A Capacitação com as crianças das 120 famílias do PBF a serem trabalhadas nas
ações socioeducativas ocorreu em 2 etapas, com crianças diferentes, para atingir a meta
desejada, sendo uma realizada no dia 08 de maio, das 8h às 12h, pois com crianças trabalhouse somente um turno para não ser exaustivo para as mesmas, e a outra, no dia 15 de maio,
também das 8h às 12h, pois dividindo dessa forma, acredita-se que as ações foram melhor
desenvolvidas.
Assim, cada grupo de crianças, contou com a participação de 30 crianças,
aproximadamente, na faixa etária de 5 a 11 anos, que eram levadas ao local das oficinas pelos
pais/ responsáveis, tendo sido encaminhado Ofício à Secretaria Municipal de Educação,
comunicando as atividades educativas que estavam sendo realizada com as crianças do PBF,
não tendo estas atividades coincidido com período de provas das crianças, e tendo a Secretaria
de Educação compreendido a relevância desta atividade para as crianças.
Durante as capacitações e também nas multiplicações com as crianças, a
Assistente Social contou com a colaboração de 05 Monitores do PETI local, e com 05 adultos
das Ruas participantes para auxiliar as crianças durante a etapa das multiplicações.
A Capacitação com crianças teve início no dia 08 de maio, como já citado, às
8horas, sendo realizada da seguinte forma:

Dinâmica de integração e apresentação – brincadeira das cores, cada grupo
de cores tinha uma qualidade específica e tinha que representar essa
qualidade, eram entregues tiras de cores variadas para as crianças, feitas de
papel crepon, e cada grupo de cores, após se encontrar, se apresentava e
cada uma dizia seu nome.

Música de Bom Dia;

Apresentação às crianças sobre o que significa “Formas de Participação”,
com ênfase na concepção de direitos, o que é ser cidadão; o que significa
participar para ter melhores condições de vida.

Ilustração do tema, com a Historinha Infantil “O rei que não sabia de
nada”, de Ruth Rocha (ver Anexo A), através de Fantoches – esse Rei vivia
20
enganado por seus ministros que compraram uma máquina, que ao invés de
trazer o progresso prometido para a população, trouxe foi destruição, mas o
rei não sabia de nada, porque os ministros lhe omitiam tudo, e a população
nunca lhe recalamava, até que um dia ele resolveu passear pelo reino e
descobriu a mentira de seus ministros, entrou na casa de súditos que lhe
receberam sem saber que era o rei, e contaram toda a destruição que estava
ocorrendo no reino, e ao descobrirem que lê era o rei, ofereceram-lhe ajuda
para reconstruir o reino destruído, pois acreditavam que se todo o povo
desse sua opinião e ajudasse o rei, o reino seria melhor, e assim aconteceu.
Ao final da história, as crianças deram suas opiniões sobre o que
entenderam da historinha, e afirmaram que o reino era destruído porque o
rei não sabia de nada, e porque o povo não foi aonde o rei reclamar, isso
demonstra que a história instigou nas crianças uma postura crítico-reflexiva
sobre o que é participar, pois estas entenderam que o reino era destruído
pela ausência da participação das pessoas na vida do seu reino.

Intervalo para o lanche;

Resgate de Cantigas de Roda;

Brincadeira alusiva sobre ‘formas de participação” – brincadeira da
grande roda, que se divide em duas, e a roda de dentro torna-se a maior,
sendo que na de fora, ficam apenas 06 crianças, tentando adentrar a
roda grande, ao final somente uma consegue entrar na maior roda,
destacando-se com isso que participar é um desafio, e que sempre
vamos encontrar um grande grupo de poderosos que vai impedir nossa
participação social. Uma das crianças que não conseguiu entrar na
roda, disse ter ficado triste, e a Técnica explicou que esse é o
sentimento de quem se sente excluído, sua presença, sua participação
não é bem-vinda, é assim que o povo é tratado na sociedade.

Apresentação do Filme “Vida de Inseto”, que retrata a forma de
organização das formigas em sua sociedade, como elas se dividem na
execução das tarefas, a sua união e força no dia a dia.
Após o filme, as crianças expressaram seu entendimento sobre o
mesmo através de desenhos, apresentando-os no final. Muitos grupos
desenharam as formigas juntas no formigueiro, e destacaram que elas
21
são fortes, trabalhadoras e unidas, e assim que nós devemos ser
também.
Depois de uma manhã de Oficina com crianças, estas foram
liberadas, após a compreensão do conteúdo, e fora marcado para o dia
21 de maio, das 8h às 11h, a Multiplicação da temática pelas crianças,
com o auxílio de um grupo de adultos das ruas presentes na atividade.
9.2 GRUPO DE ADOLESCENTES/ JOVENS
No dia 09 de maio, das 8h às 18h, no Centro Comunitário de Múltiplo Uso, foi
realizada a Oficina de Capacitação sobre “Formas de Participação” com adolescentes/ jovens,
na faixa etária de 12 a 19 anos.
Os Adolescentes/ jovens participantes foram mobilizados através da reunião
ocorrida para apresentar às famílias a proposta das capacitações, e nesse mesmo dia forma
escolhidas pessoas das ruas inseridas no projeto para apoiar na mobilização e divulgação das
oficinas, tendo sido, ainda, utilizado o anúncio via Rádio Alternativa Fm, a rádio do
município, para convocar as famílias.
A atividade deu-se início com uma dinâmica de apresentação, quebra-gelo, a
dinâmica de marcar o tempo com a caixa de fósforo e se apresentar.
Em seguida, os jovens assistiram a um Vídeo breve de 7 minutos sobre o período
das Diretas Já no Brasil, que marcou o fim da ditadura militar e a reivindicação popular para
eleições diretas para Presidente da República no Brasil, a mobilização popular força uma
transição para a democracia. A partir de então, encerra-se no Brasil, uma fase de repressão
política, de ideais, e princípios, para um processo de democratização, que culmina com o
governo José Sarney, e com a promulgação da nova Constituição brasileira de 1988.
Após o vídeo, instigamos um debate inicial com os jovens sobre o mesmo, e sua
relação com a temática a ser trabalhada que é Formas de Participação, alguns jovens relataram
que nessa época do Brasil foi muito importante que todos estivessem unidos para mudar a
realidade do país, que era cruel naquele momento, e que essa participação maior do povo é o
que tem faltado atualmente no país, principalmente para lutar por Leis mais duras no combate
à violência em todos os níveis.
22
Assim, conseguimos preparar os participantes para a discussão inicial sobre
Formas de Participação, apontando que a participação e o controle social têm sido
fundamentais em nossa história política na luta pela garantia de direitos.
A participação faz parte de todo o processo de existência humana, posto que:
O primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda história, é
que os homens e mulheres devem estar em condições de viver para poder fazer
história. E para viver é preciso antes de tudo comer, beber, ter habitação, vestir-se e
algumas coisas mais. (MARX; ENGELS, 1996, p. 55).
A respeito do controle social, foi enfatizado que até boa parte do século XX, o
significado de controle social remetia ao controle exercido pelo Estado sobre indivíduos e
grupos sociais, e no presente momento, refere-se à participação social e à fiscalização por
parte da população sobre as políticas públicas. Cabe ressaltar a importância das Conferências
e Conselhos como mecanismos de participação e controle social.
Segundo Souza (1991, p.83), a participação é requisito de realização do próprio
ser humano e para seu desenvolvimento social requer participação nas definições e decisões
da vida social.
A participação, de uma forma ou de outra, sempre esteve presente na realidade
sócio-política brasileira, através da participação comunitária, da participação popular e da
participação social.
A participação comunitária surge no início do século XX, com a ideologia dos
centros comunitários norte-americanos que nesse contexto, a comunidade representa um
mesmo ambiente onde um agrupamento de pessoas coabitam e compartilham das condições
ecológicas de existência (CARVALHO, 1995).
No contexto do desenvolvimentismo no Brasil, a participação comunitária
consistia em envolver as comunidades em atividades que reproduzissem a lógica de
dominação da sociedade, nada que viesse a fazer a comunidade se organizar por melhores
condições de vida e de trabalho.
Nos anos 1950-1960, a idéia de comunidade era que esta completava o Estado, na
execução de políticas sociais, por meio da cultura do voluntariado e da solidariedade, muito
semelhante com a idéia do atual contexto neoliberal de desresponsabilização estatal.
A participação popular se fortalece no período dos anos 1970, com o
aprofundamento das críticas de oposição ao estado e à vida política daquele momento, em que
os novos movimentos sociais adentram no cenário para lutar pela redemocratização do
Estado, com a reação da população às imposições do período ditatorial.
23
Nesse período, os direitos políticos foram suspensos, foram denominados de “os
anos do terror”, deixando a luta política na clandestinidade, muitos militantes foram
torturados, exilados, os guerrilheiros eram apresentados como terroristas, inimigos da pátria,
agentes subversivos, pois todas as críticas ao governo eram censuradas, nos jornais, na tevê,
quem desrespeitou isso sofreu drasticamente.
Para Touraine (1977), novos movimentos sociais são frutos de uma vontade
coletiva, eles façam de si próprios como agentes de liberdade, de igualdade, de justiça social,
de apoio à liberação de novas forças, num mundo de privilégios, preconceitos e tradições
Outras modalidades de luta social (como a ecológica, a feminista, a dos negros,
dos homossexuais, dos jovens etc.) são como o mundo contemporâneo tem mostrado em
abundância, de grande significado, na busca de uma individualidade e de uma sociabilidade
dotada de sentido (ANTUNES, 1997).
Embora houvesse repressão, muitos movimentos surgiram na década de 1970,
como por exemplo, o movimento contra a alta do custo de vida, liderado por mulheres das
periferias, com o apoio das CEB’s – comunidades Eclesiais de Base; o movimento pela
anistia dos presos e exilados políticos, através da Comissão de Justiça e Paz, da Arquidiocese
de São Paulo; o movimento pela luta por melhores salários, que culminou com o movimento
sindical do ABC paulista, região formada pelas cidades de Santo André, São Caetano e São
Bernardo.
A participação social surgida nos anos 1980 traz à tona uma nova categoria, que
não mais comunidade, nem povo, agora sociedade. A sociedade organizada lutou pela
liberdade e democracia, nas manifestações nas ruas, organização de agrupamentos sociais, nas
eleições, nas organizações de trabalhadores e trabalhadoras rurais, na luta das mulheres por
seus direitos, na luta dos negros, dos estudantes, vários segmentos sociais desrespeitados que
buscaram sua valorização e reconhecimento enquanto sujeitos de direitos e cidadãos.
Esse processo de participação social culminou com a sociedade mobilizada nas
Campanhas das Diretas Já, e na organização dos diversos segmentos pela sua inclusão social,
e pela ampliação de seus direitos sociais.
Em 1983, é criado o primeiro Conselho da Condição Feminina, em São Paulo,
com expansão pra outros lugares do Brasil, tinha caráter apenas consultivo, e assessorava as
políticas de combate à discriminação contra as mulheres.
O poder que era centralizado, desde os anos 1930, deu lugar à descentralização e
participação social nas decisões políticas, e ao controle social por outro viés, com a inserção
24
de Conselhos de políticas públicas e de direitos, os municípios passaram a ser entes federados
autônomos, tendo seus recursos repassados para os mesmos, e autonomia decisória.
A Constituição de 1988 é um marco por ser a constituição mais cidadã da história
do Brasil, por assegurara uma série de direitos, instituindo o Estado democrático de direito,
assegurando os direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, inova na gestão das
políticas públicas, por meio da descentralização político-administrativa, instituiu entes
responsáveis pelo cuidado e proteção à criança e ao adolescente, que culminaria mais tarde
com o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Dessa forma, a democracia participativa foi instituída em nosso país,
regulamentou direitos humanos, e ampliou a participação dos cidadãos na vida política.
A CF 88 criou as condições jurídico-políticas para a criação de órgãos de natureza
plural com função de controle social e participação social na gestão pública, através dos
Conselhos de políticas públicas e de direitos, formas institucionais de exercício da cidadania.
A finalidade de controle popular na administração da coisa pública é constatar se
as ações desta estão se pautando em bases legais e atendendo aos interesses coletivos, pelo
bem comum.
Em seguida à exposição, fora realizado um trabalho de grupo, onde os
participantes tinham que discutir em grupos e expor aos demais a sua percepção acerca da
participação social e se, em suas comunidades, está ocorrendo a participação de todos na
defesa dos seus interesses coletivos.
Os grupos foram divididos em 03 com 8 participantes cada, e os resultados
obtidos foram os seguintes:
 Grupo I – para esse grupo, a participação significa atitude das pessoas, deixar
de concordar com tudo que é imposto e passar a discutir, perguntar, e mudar
a sua própria realidade.
Sobre a participação de suas comunidades, responderam que quase não há,
as pessoas vivem cada uma em suas casas, mas nunca houve nenhuma
participação, nem com criação de Associação de moradores.
Os participantes do grupo eram de ruas diversas, mas nenhuma destas
possuía experiência de participação.
 Grupo II – para esse grupo, participação é sinônimo de mudança, quem não
participa da vida da comunidade, não consegue mudá-la, quem não participa
das ações de sua cidade, cobrando, discutindo, também não pode mudar
nada, nem reclamar do que está feito, pois não teve atitude de participar.
25
A experiência de participação relatada pelo grupo é de alguns membros que
às vezes, quando podem, assistem às Sessões na Câmara Municipal;
participam do Colegiado de alunos na Escola Estadual Getúlio Vargas.
 Grupo III – esse grupo apresentou uma pequena encenação teatral, onde estes
eram moradores de um bairro que era totalmente desestruturado, não tinha
luz, não tinha água, só de vez em quando, a segurança era precária, e de
repente um grupo de jovens da comunidade achou que aquela situação
deveria mudar, e aí reuniram-se numa sala da Escola que existia no bairro,
convocando os demais comunitários, e nessa reunião foi decidido que um
comitê sairia dali com o propósito demarcar uma reunião com a Prefeita
Municipal , elevar as principais demandas da comunidade, e assim fizeram,
e marcaram a reunião com a Prefeita, e o dia da reunião chegou, e eles
foram discutir com a mesma as necessidades do bairro, que logo convocou o
Secretário de Obras, que foi averiguar a situação da área, fazer o orçamento
para tomar as devidas providências; no final aparece o grupo de jovens
conversando sobre as melhorias alcançadas na comunidade com a
organização e participação destes, e resolvem fundar um Comitê da
Juventude do Alto da Torre, e assim terminou a peça.
O que foi mais interessante analisado pelo grupo foi o fato de a juventude
ter tomado uma atitude, ter se reunido com o interesse coletivo, porque na
visão deles a maioria dos jovens de Cantanhede só se reúnem para organizar
festas, e esse grupo fez a diferença e contribuiu para melhorar o seu bairro.
Essa experiência de dialogar com Prefeitos já aconteceu em uma das ruas de
alguns participantes do grupo, por isso a idéia de encenar em forma de peça.
Os demais grupos acharam interessante a peça porque representou um grupo
que se organiza e luta pelos interesses da comunidade.
A avaliação dos jovens a respeito da Capacitação, foi que esta trouxe muitos
conhecimentos para a vida deles que eles não sabiam, gostaram da oportunidade quie lhes foi
dada de aprender um pouco mais, e saber que podem e devem se organizar para participar
mais da vida de seu bairro, sua cidade.
26
9.3 GRUPOS DE ADULTOS
A Oficina de Capacitação com adultos ocorreu no dia 10 de maio, das 8h às 18h, o
conteúdo da Oficina foi o mesmo da capacitação com jovens, os resultados dos trabalhos de
grupo foram os seguintes:

Grupo I – esse grupo tinha 8 participantes, e debateu que participação é
cidadania, é buscar efetivar direitos e conseguir mais direitos, e para haver
participação é necessário que todos tenham consciência de que a realidade
precisa ser mudada, os políticos que aí estão precisam mudar, precisamos
escolher bem os governantes.
A experiência de participação que alguns integrantes do grupo apontaram
foi a participação na Associação de bairro, no Sindicato dos Trabalhadores
Rurais, afirmando que isso é importante, pois estão na luta pelos seus
direitos e interesses comuns.

Grupo II – esse grupo tinha 08 particpantes, e resolveram expor sua
discussão em forma de desenho, havia na cartolina um grande número de
pessoas de mãos dadas, formando uma corrente de força, e para o grupo
isso era participação, participar é sinônimo de união, quem participa
isolado, sozinho, longe dos demais, não consegue mudar muita coisa, mas
quando se está junto, a força é maior, e os resultados podem ser melhores
para a vida da comunidade, da cidade em que vivemos.
A experiência de participação relatada por alguns integrantes da equipe, é a
inserção nos sindicatos, STR e Sintraf, em Igrejas, em audiências públicas
da Prefeitura.

Grupo III – para esse grupo não há desenvolvimento sem participação, a
participação é que muda o país, uma cidade, par isso o povo precisa sair do
comodismo, e denunciar os erros, a corrupção, e lutar por uma cidade
melhor.
A experiência de participação citada pelo grupo foi a de reuniões com
vereadores nas comunidades, com a Prefeita, o ex-Prefeito, a participação
em Sessões na Câmara Municipal.
A avaliação dos participantes em relação à atividade desenvolvida foi de que a
mesma nunca tinha acontecido por um dia inteiro, e que esse dia inteiro passado no Centro
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Comunitário foi um dia de aprendizagem, de conhecimento, pois eles não sabiam que podiam
participar de tantas coisas na sociedade, como no caso dos Conselhos, através das Entidades,
agora eles disseram que já são mais conhecedores de como a comunidade participa da vida
pública.
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10 MULTIPLICAÇÃO DA TEMÁTICA “FORMAS DE PARTICIPAÇÃO”
10.1 MULTIPLICAÇÃO COM CRIANÇAS
No dia da capacitação com crianças, ficou acertado que a data da multiplicação
seria no dia 21 de maio, pela manhã, e os adultos que estavam acompanhando as crianças
ficaram encarregados de auxiliá-las na organização da multiplicação.
Assim sendo, no dia da multiplicação compareceram 15 crianças, das 04 ruas já
citadas que estão participando das ações sócio-educativas.
A multiplicação ocorreu da seguinte forma:
- Brincadeiras iniciais com as crianças;
- Bate-papo sobre o que é particpação – o menino Ezequiel, de 10 nos, muito
comunicativo explicou para seus colegas, como ocorre a participação, e que ela começa desde
pequeno, na escola, na família.
- Apresentação do filme “Vida de Inseto” novamente para as crianças.
- Conversa sobre o filme, trabalho de grupo com desenhos.
- apresentação dos trabalhos, com destaque para a organização das formigas, e a
sua vontade de trabalhar e conseguir as coisas.
10.2 MULTIPLICAÇÃO COM JOVENS E ADULTOS
A Multiplicação com jovens e adultos aconteceu no dia 21 de maio, das 18h às
21h, e os dois grupos realizaram juntos.
No primeiro momento, falaram da importância da ação socioeducativa para os
presentes, pois hoje discutir sobre participação é exercer cidadania, tem-se novas necessidades
que precisam de respostas que somente são encontradas se houver organização popular e
participação.
A discussão iniciou-se com base em material encaminhado para o grupo
encarregado da multiplicação, os jovens e adultos, que debateram com os participantes sobre a
mudança na sociedade brasileira, a partir dos anos 1985, com o fim da ditadura militar e a
redemocratização da sociedade; ressaltou-se a importância da Constituição Federal de 88,
como resultado da luta do povo, das organizações que se mobilizaram, para que uma série de
direitos sociais fossem garantidos pela mesma.
29
Os multiplicadores esclareceram sobre os Conselhos de políticas públicas e de
direitos, falaram quais os Conselhos existentes em Cantanhede, e que esses Conselhos são
canais de participação social, mesmo que você não seja um conselheiro eleito, você enquanto
cidadão pode estar em uma reunião de um Conselho, compreendendo como uma política, ou
programa se articula mediante decisões dos Conselhos.
Em seguida, foi sugerido pela Técnica para o grupo, antes da multiplicação o
Filme “Ilha das Flores”, e o grupo concordou, pois assistiu e considerou interessante para
desenvolver a temática “Formas de Participação”, com jovens e adultos.
O Filme durou trinta e cinco minutos, aproximadamente, e instigou uma discussão
interessante no grupo, pois ele retrata a estrutura do capital, onde há um comerciante que visa
o lucro das verduras que vende, há uma consumidora que estraga as verduras, jogando-as fora,
enquanto milhões passam fome, e há os moradores da Ilha das Flores, a 10 km de
Florianópolis (Santa Catarina), que consomem as verduras que não servem mais para vender,
que foram jogadas no lixo, e servem de comida para os porcos de um fazendeiro, proprietário
que comprou o terreno da Ilha das Flores. As famílias que lá estão têm apenas 10 minutos
para recolher o que os porcos não querem comer, entram em grupos de 10, os empregados
abrem os portões por 10 minutos.
Os participantes da multiplicação acharam interessante o documentário, e
conseguiram fazer a relação entre a comunidade da Ilha das Flores, que só comia o resto do
que os porcos não queriam com a falta de participação dessas pessoas, que se fossem
organizadas não precisavam comer o resto, as sobras, o lixo, pois deveriam plantar em seus
quintais, não deveriam ter vendido seus terrenos para transformar a área em lixo, para eles
faltou organização e participação, aquela situação poderia ser diferente, se esses dois fatores
tivessem se entrelaçado.
A multiplicação encerrou-se com uma avaliação do grupo como sendo positiva,
pois ali estavam pessoas que não participaram da Capacitação propriamente dita, e que nesse
momento estavam tendo a oportunidade de aprender mais sobre participação e discutir esse
tema, levando-o para a prática do seu cotidiano.
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11 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho socioeducativo desenvolvido junto às famílias do PBF sobre “Formas
de Participação”, distribuindo a família em grupos de crianças, jovens e adultos, foi uma
importante experiência de interação maior entre estes, aprendizagem e conhecimento tanto
para os participantes, quanto para a Técnica responsável e para os multiplicadores.
As famílias de baixa renda, geralmente não se mobilizam para participar desse
tipo de atividades, no entanto verificou-se um grande número de pessoas interessadas em
aprimorara seus conhecimentos, famílias que também contribuíram com seus conhecimentos,
suas opiniões, percepções, visões de mundo, enriquecendo o debate.
Para nós, abordar formas de participação com famílias, que historicamente,
tiveram seu direito de participar, questionar, silenciado pelos grupos majoritários da
sociedade, foi algo desafiador, visto que questões como desenvolvimento urbano, controle
social, só ocorrem quando há participação das pessoas, que geralmente, arraigadas de uma
cultura do individualismo, difundida pela ofensiva neoliberal, se remetem a não criticar, a não
se incomodar, a cuidar de suas vidas, sem precisar participar em organizações comunitárias,
sindicatos, partidos, igrejas, sem discutir o trato da coisa pública.
Os participantes puderam conhecer que espaços de participação têm disponíveis
para exercerem seu direito de inclusão, que são múltiplas as inserções a serem feitas, no
campo das políticas públicas, do sistema de garantia de direitos, em nível geral, e que numa
sociedade democratizada a gestão deve e tem que ser participativa, portanto, os cidadãos
devem buscar exercer uma cidadania ativa, a participar das decisões que dizem respeito ao seu
município, estado e país, porém o que se constata, muitas vezes, são famílias que se eximem
desse direito, que foi uma conquista de anos de lutas sociais, e que nós tivemos a
oportunidade de alertá-las sobre a importância dessa participação para a melhoria da
qualidade de vida de toda uma população.
Isto posto, compreendemos que é no local de moradia que a participação acaba
sendo mais freqüente, mais instigante, pois é lá que os problemas do cotidiano são mais
visíveis, e a comunidade se sente convocada a dialogar, elaborar propostas, se auto-organizar,
sendo cabível e importante até se pensar em uma política para consolidar e fortalecer as
formas de participação, em especial em municípios de pequeno porte.
31
REFERÊNCIAS
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centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1997.
Brasília. Ministério do Desenvolvimiento social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de
Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social. PNAS/ 2004. Norma
Operacional Básica – NOB/ SUAS. Novembro, 2005.
CARVALHO, Virgílio de Jesus Miranda. Comunidade de direito e liberdade. Coimbra:
Ediiber, 1995.
CASTEL, Robert. A crise da sociedade salarial. In:vinculando.org/ Brasil. 22/05/2008.
ESPING-ANDERSEN, Fundamentos sociales de las economias postindustriales. Barcelona, Ed.
Ariel, 2000.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia Alemã. São Paulo: Hucitec, 1996.
SARTI, Cyntia Andersen. A Família como Espelho: um estudo sobre a moral dos
pobres. São Paulo: Cortez, 2007.
SILVA, Maria Ozanira da Silva e, YASBEK, Maria Carmelita et al. A Política Social
Brasileira no Século XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda.
São Paulo; Cortez, 2004.
SOUZA, Maria Luiza. Desenvolvimento de comunidade e participação. 3ª. Ed.
São Paulo: Cortez, 1991.
TEIXEIRA, Abraão. Cantanhede, Sua Gente e Sua História. São Luís: Lithograf, 2002.
TOURAINE, Alan. Movimentos sociais e ideologias nas sociedades dependentes.
In: Albuquerque, J. A. G. (org.). Classes médias e política no Brasil. Rio de Janeiro:
Terra e Paz, 1977.
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ANEXOS
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ANEXO A
O REI QUE NÃO SABIA DE NADA
Ruth Rocha
Neste lugar tinha um rei, muito diferente dos reis que andam por aqui. Este rei tinha
uns ministros fingidos, que viviam fingindo q trabalhavam, mas que naum faziam nada de
nada.
Tudo muito diferente daqui.
Ai apareceram uns cientistas que inventaram uma máquina. Precisa ver que máquina!
A máquina fazia de tudo! Pelo menos os cientistas garantiram que a máquina era capaz de
fazer tudo! Diz que ela controlava as plantações, controlava as fábricas, as estradas, os
automóveis, os elevadores dos prédios, diz que fazia até pão! Controlava as aulas na escola,
controlava as estações de Tv, os filmes no cinema...
Ai os ministros acharam ótimo descobrir essa máquina. E levaram para o rei e fizeram
o maior cartaz da descoberta. O rei gostou muito e achou que aquela máquina ia resolver
todos os seus problemas. Seus, dele. Não seus, seus. Aí puseram a máquina para funcionar e
cada ministro foi cuidar da sua vida.
Sua, dele.
Não sua, sua.
A máquina começou a tomar conta de tudo.
Tomava conta das pessoas, das coisas, dos bichos...
Mas máquina é máquina, sabe como é né.
Não sabe a diferença entre as coisas.
Se é pra cavar ela cava até arrebentar...
Se é pra empurrar ela empurra até estourar
Além disso a máquina da sempre um defeitinho ou outro NE¿.
E se a gente não toma conta, não vai consertando aqui, consertando ali, ela começa a
fazer uma besteira atrás da outra. Com essa máquina aconteceu assim.
Um dia deu um desarranginho qualquer, ela invés de colher feijão, deu pra plantar
mandioca. Deu outro desarranjinho: invés de imprimir o jornal ela tava picando o papel
todinho.
Deu outra encrenquinha nela, os sinais de transito do pais inteirinho ficaram
vermelhos. E ela punha no rádio uns programas chatíssimos q ninguém queria ouvir...
E as fábricas começaram a produzir uma porção de porcarias que ninguém precisava...
E os ônibus chegavam atrasados, os elevadores paravam no caminho, as escolas não
funcionavam direito...O país foi ficando uma bagunça só!
E o rei? O q ele fazia? Pois o rei nem sabia de nada...
Os ministros que tinham aparecido com a máquina, morriam de medo de o rei
descobrir o que se passava.
Então eles engabelaram o rei. Diziam que estava tudo muito bem, que o reino estava
em ordem, que todo mundo estava muito feliz...
O rei acreditava porque ele também naum tinha muita vontade de saber o que estava
acontecendo. Quando o rei saia pra passear pra ver como estavam as coisas, os ministros só
levavam ele nos lugares que estavam arrumadinhos, onde a máquina estava trabalhando
direitinho e naum tinha feito nenhuma arrelia.
Mas teve um dia que o rei inventou de ir num lugar, e queria porque queria, por mais
que os ministros pusessem dificuldade...
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E esse lugar ia indo muito mal, porque a máquina tinha empurrado tudo que era nuvem
para longe e não chovia já fazia um tempão!
Os campos estavam todos secos, esturricados, as plantas estavam murchando, o povo
estava ficando cada vez mais pobre, mais mal vestido e pra falar a verdade, o povo estava até
passando fome.
Ai os ministros tiveram que inventar alguma coisa pra enganar o rei. Então eles
tiveram uma idéia.
Você sabe quando a gente vai ao teatro eles fazem uns cenários, todos pintados,
fingindo que aqui é campo, que ali é bosque, que lá é uma lagoa.
Pois foi o que fizeram.
Mandaram pintar uma porção de cenários, uns juntinhos dos outros, com uma porção
de paisagens bonitas, plantações de milho, de trigo, uns lagos bem clarinhos com peixinhos
saltando fora da água... e casinhas com jardins floridos e árvores cheias de frutas.
Do jeitinho que a gente imaginava um pais bem bonito.
E puseram esses cenários pelas estradas onde o rei ia passar.
E nas estradas eles colocaram uns artistas de circo e arranjaram pra eles umas roupas
bem bonitas, pintaram a cara deles com ruge que é pra eles ficarem bem corados.
E quando o rei ia passando eles batiam palmas, jogavam flores e tudo.
E o rei estava muito contente, achando tudo muito bonito. Mas por trás do cenário
estava cheio de gente, que morava por ali mesmo. E tinha uma porção de meninos que
estavam jogando bola bem por trás dos cartazes.
E bola vai, bola vem, de repente, uma bola foi bater de mau jeito bem no meio de um
dos cenários.
Parece que o cenário não estava muito firme porque ele balançou, balançou e acabou
caindo por cima do cenário vizinho. E o cenário vizinho caiu por cima do outro, e um foi
caindo por cima do outro, por cima do outro, até que os cenários todos vieram a baixo.
E caiu cenário com plantação de milho e caiu casinha bonita com chaminé e tudo, e
caiu lagoa de águas clarinhas.
E as pessoas que estavam fantasiadas, fingindo que era o povo do lugar, só pra
enganar o rei e ganhar um dinheirinho, trataram de ir dando o fora. Fosse o rei pensar que eles
tinham feito a palhaçada! Aí os ministros ainda quiseram salvar os cenários que iam caindo e
chamavam o povo que estava lá atrás, para ajudar a botar o cenário no lugar.
Sei lá, acho q eles pensaram que ainda dava pra tapiar o rei...
Mas o povo não tinha nada com isso e até estava achando muito divertido ver aqueles
cenários todos se despencando, e até chamavam quem estava dentro de casa, pra ver os
ministros atarantados, correndo de um lado pro outro, feito baratas tontas.
E o rei?
Ah, o rei, quando viu a correria dos ministros pra levantar os cartazes e esconder o que
estava lá de trás, percebeu num instante o que tinha acontecido.
E ficou imaginado o q mais os ministros haviam escondido dele.
Então ele começou a pensar: “Que será que esse povo vai fazer agora meu Deus?”
E o rei foi ficando com um medo enorme do que podia acontecer. Então ele saltou da
carroagem saiu correndo pelo meio do povo, que ria, ria, daquele rei amedrontado. E tanto o
rei correu que acabou perdendo a coroa, perdeu o setro, perdeu o manto, perdeu até o jeitão de
rei.
E quanto mais corria mais o rei se afastava da estrada. E foi se aproximando do
campo, onde só se via uma casa ou outra, de longe em longe.
Então ele chegou num lugar onde tinha uma casinha e uma porção de árvores.
Estava tão fresquinho ali e o rei estava tão cansado...
Ele foi e se encostou numa da árvores e ficou se abanando, se abanando...
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Até que da casinha saiu uma bola, com uma menina correndo atrás.
A bola veio bater bem no pé do rei. E a menina chegou perto dele e cumprimentou,
muito gentil:
- Bom dia, homem!
- O que é que você está fazendo aqui?
Foi ai que o rei percebeu que ninguém ia reconhecer a cara dele, assim sem coroa nem
nada, todo sujo da correria.
Então ele respondeu:
- Bom dia menininha!
Eu... eu... eu estou chegando de viagem.
- Ah eu sei – disse a menina.
- Você é um estrangeiro, não é? Minha avó disse que a gente que vem de fora é
estrangeiro.
E quando a mãe da menina veio ver com quem ela estava conversando, o rei já estava
até falando atrapalhado, que é pra parecer estrangeiro mesmo.
A mãe da Cecília – o nome da menina era Cecília – convidou o rei para entrar, que o
povo daquele lugar era pobre, mas era muito amável.
O rei entrou e ficou conhecendo toda a família. Sempre fingindo que era estrangeiro...
- Pois é, - disse o rei – parece q cheguei a seu pais no dia errado... Diz que tem uma
briga qualquer por ai...
- Não foi dia errado não, estrangeiro! Foi até um dia muito bom. este dia vai ficar na
história!
Então o rei perguntou o que estava acontecendo, que agora ele estava querendo saber.
E o velho contou a história toda dos ministros, da máquina, dos estragos que ela
fazia... Contou dos cenários, dos artistas de circo, contou tudinho1
Ai o rei fez uma cara de quem não sabia de nada e disse:
- Coitado do rei não é? Todo mundo enganando, tapeando, mentindo...
- Coitado nada! – disse Cecília. – Coitados de nós que estamos sofrendo por culpa
dessa máquina maluca que o rei arranjou.
- Mas é que o rei não podia saber do que estava acontecendo. Os ministros naum
diziam nada a ele não é?
Ai o avô da Cecília levantou, foi até a porta e chamou o rei.
- Vem cá, estrangeiro, vem ver uma coisa.
O rei foi chegando perto do velho muito desconfiado...
- Espia só aquela montanha – O velho disse: - aquela lá longe...
O rei espiou:
- Estou vendo
- Está vendo as nuvens lá no alto?
Perguntou o velho
- Estou vendo – respondeu o rei.
- E por trás das nuvens esta vendo o castelo do rei? – perguntou o velho.
- Ah não disse o rei – o castelo não dá pra ver. Está muito longe...
- Pois é – disse o velho – longe demais! O rei mora muito longe. Nós que estamos aqui
embaixo não podemos ver o castelo, muito menos o rei. E o rei por sua vez também não pode
ver a gente.
- E nem ouvir – disse Cecília – se ele ouvisse a gente, escutasse o que o povo diz por
ai, ele ia ficar sabendo de uma porção de coisas.
- Mas sabe? – disse o velho – a gente já tava fazendo um grupo pra ir falar com o rei.
Nós íamos lá pra dizer pra ele o que está acontecendo. E agora que ele já sabe vai ficar mais
fácil.
36
- Pois bem! – disse o rei – é bom que vocês fiquem sabendo de uma vez: O rei sou eu.
Todo mundo ficou muito espantado, menos Cecília – sabe como é criança! Elas não
tem medo nenhum de rei, que pra elas é uma pessoa como outra qualquer.
Então Cecília chegou perto do rei e foi logo falando:
- Muito bonito não é seu rei? Que papelão hein! E agora o que vossa reizencia vai
fazer?
- Ah menininha, pode ficar sossegada! Eu vou voltar pro meu castelo e mandar todos
esses ministros mentirosos embora. Depois eu vou arranjar uns ministros novos e vou desligar
a máquina e vou...
- Ah, seu rei! Essa não! O senhor vai começar tudo de novo? O senhor não aprendeu
nada com o que aconteceu? Não está vendo que o senhor não tem a menor vocação pra ser
rei?
- Mas minha menina, - disse o rei – eu não posso deixar as coisas como estão. Não
seria certo. Quem é que vai por as coisas no lugar?
- Por isso não, - disse o velho, o senhor pode deixar que a gente mesmo bota. É só me
dar a chave daquela máquina doida que eu vou lá e desligo.
- É isso mesmo, - disse o pai de Cecília. E eu vou lá no castelo e mando os ministros
embora.
- E pode deixar – disse a mãe de Cecília – que eu vou lá e fecho o castelo pro senhor.
- E eu, - disse a irmã de Cecília – eu chamo todo mundo pra dar idéias pra consertar as
coisas. Uma porção de cabeças trabalham muito melhor que uma só. Assim a gente vai
descobrir uma maneira de consertar o estrago que o senhor fez.
- Que eu fiz não, - disse o rei ofendido.
- Não fez, mas deixou fazer – disse Cecília – por isso eu acho melhor o senhor ir pra
casa descansar, que o senhor esta com uma cara muito cansada.
E então antes que o rei mudasse de idéia, a família de Cecília chamou todos os
vizinhos, e eles fizeram uma grande festa e contaram tudo pra todo mundo. E cada um teve
uma idéia pra consertar os estragos da máquina. E uma das idéias melhores foi da Cecília:
transformar o castelo num enorme parque de diversões, com a máquina tomando conta de
tudo, que para isso a máquina servia.
E o reino foi consertando, consertando e até hoje o povo de lá lembra desta história e
trabalha contente, porque esta resolvendo todos os seu problemas seus, deles, e seus, seus...
E quem quiser que conte ou digite outra! kkk
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