Taxa de administração limita os ganhos Por Roger Marzochi | Para o Valor, de São Paulo 28/05/14 Criada para remunerar o trabalho do gestor que encontra os melhores ativos para compor um fundo de investimento, as taxas de administração praticadas no Brasil ainda são uma das maiores do mundo, chegando a 9%, enquanto existem fundos nos Estados Unidos, por exemplo, que cobram 0,05%. Essa diferença prejudica a rentabilidade dos fundos que, muitas vezes, chegam a render menos que a poupança e seduzem clientes com sorteios. "É como se eu pagasse para você administrar os meus bens e o que você ganha com isso é maior do que sobra para mim", afirma Rafael Paschoarelli, professor de finanças da Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e responsável pelo sistema de acompanhamento de ativos com dinheiro. "Isso não é abuso, é a lei da oferta e da demanda. Fundos com altas taxas, de até 9% ao ano, não atraem uns poucos gatos pingados. Estou falando de meio milhão de pessoas que compram cotas de fundos que rendem bruto menos que a poupança." Ranking elaborado pelo site Magnetis, que faz gerenciamento de portfólio, revela os fundos com a maior taxa de administração nos segmentos de renda fixa, referenciado DI e ações. Na renda fixa, os fundos Banrisul Super FI e Banrisul Extra Fundo de Investimento Renda Fixa lideram com taxa de 4,5% ao ano, sendo que o primeiro deu retorno de 4,55% e, o segundo, 4,53% em 12 meses, até o dia 20 de maio de 2014. O FI Banestes Invest Public, com patrimônio líquido de R$ 871 milhões, cobra 4% de taxa e rendeu em 12 meses 5,15%. "A particularidade desse fundo é o regaste automático, alguns investidores não abrem mão dessa comodidade. Não é exploração", afirma José Marcio Soares de Barros, diretor de administração e gestão de recursos de terceiros do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), que garante que "o PL desse fundo tem até aumentado". O Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) não respondeu ao pedido de entrevista. No caso dos referenciados DI, o Santander FIC FI Classic lidera com taxa de 5%. Com um PL de R$ 4,2 bilhões, deu retorno de 4,22%. "Se fosse uma taxa de 1%, a rentabilidade líquida seria de 8,32%, seria um cenário normal. Mas com taxa de 5%, sobram 4,22%. O investidor está perdendo dinheiro", afirma Luciano Tavares, sócio-fundador da Magnetis. O Santander esclarece que tanto o Santander FIC FI Classic Referenciado DI, quanto o Santander FIC FI TOP RF têm o propósito de remunerar os recursos parados em conta corrente no curtíssimo prazo. Além disso, o cliente pode optar por aplicar a partir de R$ 1 e se beneficiar do resgate automático. Para recursos de investimentos de longo prazo, o Santander oferece portfólio completo de fundos de renda fixa, multimercados e ações. Já o Santander FIC FI Fafem Referenciado DI está fechado à captação, informou o banco. Já o Bradesco FIC de FI Referenciado DI Hiperfundo, com patrimônio de R$ 5,2 bilhões, cobra 3,90% de taxa e rende 5,42%. A mesma taxa cobra o Itaú Prêmio Referenciado DI FIC FI, com retorno de 5,26%. O Itaú não respondeu às perguntas da reportagem, já o Bradesco informou que esse fundo "tem características de um produto diferenciado cujo apelo comercial não é apenas a rentabilidade mas, também, os sorteios de prêmios." "Um fundo referenciado DI é uma carteira simples, as taxas deveriam ser até abaixo de 1%. Em fundos multimercados e de ações o normal seria cobrar de 2% a 2,5%", diz Tavares. Mas no ranking é possível ver taxas de 8,50% na categoria ações, como a do Alfa FIC de FI em Ações. A assessoria do Banco Alfa informa que o executivo que responde pelo setor estava em viagem. Como exemplo de quão distante o Brasil está em relação a outros países, Paschoarelli, da FEA-USP, lembra de Warren Buffett, o terceiro maior bilionário do mundo. Em março, em comunicado enviado aos clientes da sua empresa Berkshire Hathaway, ele revelou sua estratégia de ganhar dinheiro. Em seu testamento, recomendou que o dinheiro de sua esposa seja investido da seguinte forma: 10% em títulos públicos de curto prazo e 90% em um fundo da administradora Vanguard em ações do S&P 500, que cobra 0,05% de taxa. "Eu acredito que os resultados no longo prazo dessa estratégia serão superiores ao da maioria dos investidores", escreveu. Carlos Massaru, vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capital (Anbima) e diretor-presidente da BB DTVM, afirma que a disparidade nas taxas de administração entre o Brasil e os EUA não significa maturidade dos americanos. Ele afirma que, de 2010 até 2013, 73 fundos brasileiros reduziram a taxa de administração, discordando que esse seja um número pequeno frente aos mais de 13 mil fundos atuantes no país. De 2009 a 2014, houve queda na média ponderada das taxas, de acordo com a Anbima, mas em percentuais muito pequenos. No período, a taxa média ponderada cobrada nos fundos de renda fixa recuou 0,1 ponto porcentual para 1,06%; no referenciado DI, -0,33 p.p. para 1,16%; no multimercado, queda de 0,04 p.p. para 1,85%; e nos fundos de ações, -0,05 p.p. para 2,18%. Massaru nega que sejam valores ínfimos de redução e ainda defende os sorteios para atrair clientes, que são realizados também em fundos oferecidos pela BB DTVM. "Nunca tivemos nenhuma reclamação. O brasileiro tem essa afeição por produtos desse tipo", diz o executivo. "Enquanto houver cliente com esse perfil, haverá fundo cobrando até 9%, permitindo que as instituições ganhem dinheiro facilmente. É muito comodismo aceitar fundo mesmo com taxa de 5%, cujo rendimento bruto é menor que a poupança, seduzido pela oferta de sorteio", conclui Paschoarelli. Fonte: http://www.valor.com.br/financas/3564760/taxa-de-administracao-limita-os-ganhos