No ser humano, o inacabamento e a lentificação possibilitaram a complexificação quer a nível filogenético quer a nível ontogenético. A infância é longa nos humanos. A autonomia é tardia. A atuação individualizada só é possível passados vários anos. A lentificação não é de todo uma perda de tempo mas sim uma vantagem para o homem. -Desenvolvimento lento- lentificação; -Resultado do desenvolvimento complexo- complexificação; -Autonomia e atuação individualizada tardia- individuação; Individuação é o processo de singularidade e autonomia que permite ao ser humano escapar à padronização específica e tornar-se apto a comportar-se de modo original. A simplicidade do animal deriva de um sistema nervoso rudimentar e de um processo rápido de maturação bem como comportamentos preformados resultantes de esquemas inatos. Deriva também da submissão a respostas típicas da espécie. A complexidade do ser humano deriva de um sistema nervoso desenvolvido e da lentificação no desenvolvimento bem como das necessidades e possibilidades de aprendizagem. Plasticidade e aprendizagem: Plasticidade das células nervosas ou seja, possibilidade de alterações fisiológicas dos neurónios resultantes da aprendizagem e da memória. O exercício intelectual provoca modificações nas células nervosas. Com a aprendizagem aumentamos a nossa massa encefálica implicada nesses processos e desenvolvemos as ligações sinápticas. A função vicariante também comprova a plasticidade do cérebro. O cérebro é o órgão mais espantoso que ser humano possui e, embora haja muita coisa que ainda constitui um imenso mistério na área da neurologia, por outro lado já nos é possível dar a conhecer muitas das suas funções, nomeadamente a função vicariante. Existem áreas especializadas no cérebro com determinadas funções contudo, certas competências e capacidades dependem do funcionamento integrado de várias áreas cerebrais. Podemos, portanto, constatar que o cérebro funciona como um todo, como uma rede funcional, e é precisamente isso que permite a função vicariante. A função vicariante é a capacidade de recuperar total ou parcialmente as capacidades perdidas devido a uma lesão cerebral. Embora o tecido nervoso do córtex cerebral não se regenere, é possível recuperar as capacidades perdidas pelas áreas adjacentes da área lesionada através da reorganização espontânea do tecido nervoso e com desenvolvimento de novas conexões que se baseiam na substituição funcional. Isto é, cada área do nosso cérebro possui neurónios específicos para determinada função, quando é danificada determinada área, os neurónios dessa mesma área morrem. Contudo, os neurónios das áreas vizinhas podem substituir os neurónios perdidos estabelecendo uma nova organização do tecido nervoso, pois os neurónios conseguem adquirir e desempenhar outras funções que não as pré-definidas, por ventura podem não conseguir desempenha-las a 100% devido ao facto de não estarem predestinados àquela área cerebral. Logicamente, dependendo da gravidade das lesões estas podem nem sempre ser reversíveis, dependendo também da área e da capacidade que é afetada. Um exemplo da função vicariante é quando se retira um hemisfério cerebral a um paciente com epilepsia devido a esta não ser possível de controlar através de medicamentos. Isto é possível porque após retirar um dos hemisférios, o outro hemisfério desempenha as funções do que foi retirado. É claro que quanto mais novo for o paciente, maiores são os seus progressos durante a recuperação, sendo mais aconselhável em crianças.