20º CIAED – CONGRESSO INTERNACIONAL ABED DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Curitiba, 06 a 09 de outubro de 2014 Por: Enilton Ferreira Rocha Lattes: http://lattes.cnpq.br/1682585826032961 [email protected] Um espaço de oportunidades e descobertas: além de nossas possibilidades? Das vinte versões do congresso eu participei de quase todas, umas vezes como ouvinte outras como colaborador (coordenador de mesa, palestrante, minicurso etc). Isso, de certa forma coloca-me em situação de conforto para tecer algumas considerações que se seguem: Lá em meados de noventa e oito, no Centro Universitário Newton Paiva, em Belo Horizonte, quando fui convidado a fazer parte de um grupo de pesquisa sobre conceitos e concepções da EaD, como uma provável opção brasileira para a democratização da educação no país, pensei que esse convite abriria portas para a compreensão de novas possibilidades de ensinar e aprender além do convencional, mas o que descobri ao longo desses dezesseis anos é que a EaD oportuniza muito mais que isso, é como uma estrada nova cheia de encruzilhadas, com subidas e descidas; com paradas para descansar e escolher novas rotas. Assistindo ou trabalhando nesses congressos, a minha percepção foi se consolidando de modo que atualmente o meu olhar é tão crítico quanto curioso... Nesse último, tive a oportunidade de trabalhar, a convite da ABED, em três eventos distintos: uma mesa redonda para um diálogo sobre as diferenças e práticas da pedagogia, andragogia e heutagogia, com uma Pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE (da ECA/USP)); a versão presencial do Encontro Nacional de Professores da EaD (ENPED) e a mesa redonda com a proposta de debate sobre a avaliação na educação corporativa a distância, com as especialistas do INSS e da Data Previ. Em relação ao evento, apresenta-se a seguir algumas percepções e comentários: I. Apesar da grandiosidade do evento, em suas dimensões acadêmica, corporativa, cientifica e de negócios, com mais de dois mil participantes (ABED), penso que o avanço em sua oferta está mais para a questão tecnológica propositiva, em detrimento da necessidade de convergência entre esse potencial e as realidades da maioria dos professores, gestores, alunos, pesquisadores e das instituições de ensino superior que ofertam a EaD no pais. 1 Observa-se que a produção de textos de natureza investigativa, também mereceu destaque. O modelo, cem por cento presencial, continua desafiando a força das redes sociais e das conexões digitais, se apresentando como um grande contraponto às tendências naturais impulsionadas pelos pressupostos da educação a distância aberta e flexível. II. Eventos Estratégicos - Encontro Nacional de Professores da EaD, Sala 6, das 16h às 18h Tema: Metodologias ativas na EaD: Possibilidades mediadas e resultados concretos Coordenação: Enilton Ferreira Rocha - WR3 EaD O diálogo central do encontro teve como referência o Mapa Conceitual que se segue: Autoconfiança para inovar, criticar, decidir, fazer proposições, discordar etc. Nesse encontro, o diálogo com os professores presentes aconteceu tendo como pano de fundo as possibilidade de o aluno, professores e a instituição de ensino descobrirem o potencial das metodologias ativas, na busca de resultados concretos. Durante nossa conversa, e refletindo sobre alguns pontos e contrapontos apresentados pelos professores, observou-se que embora essas metodologias estejam ao alcance da maioria, em suas várias dimensões pedagógicas e/ou andragógicas, questões como autonomia, confundida ou rejeitada muitas vezes pelo seu amplo significado, a humanização da sala de aula, a ação protagonista do estudante e a problematização da aprendizagem ainda são desconhecidos ou ignorados, no dia a dia da maioria dos professores. 2 Outro fato interessante, objeto de debate durante o encontro foi o modo como essas metodologias são colocadas em prática, muitas vezes de modo superficial ou atrelado ao processo de regulação institucional limitante, ensejando resistências, descasos e até a desvalorização e perda de uma grande oportunidade de transformar a aprendizagem em um processo significativo, de inclusão, de compreensão e apropriação de contextos e significados, de motivação e encorajamento em ambientes de aprendizagem mediados. Talvez porque muitos que experimentam seus conceitos em práticas acadêmicas ou corporativas ainda não se deram conta de que as metodologias ativas devem ser consideradas como um processo amplo e complexo, porque prioriza o estudante. Mesmo que ele ainda não esteja totalmente preparado, mas que ele seja envolvido de modo a experimentar esse desafio e se descobrir, de modo a decidir se atua como estudante protagonista ou aluno bancário. Complexo, porque se não for bem compreendido e articulado pode fragilizar os esforços institucionais de investimento em pessoas e tecnologias mediadoras. Nesse contexto, parece fazer sentido a pergunta - por que o estudante brasileiro ainda prefere os métodos tradicionais de aprendizagem dirigida? Ora, se em muitos projetos educacionais ele ainda encontra em seus contextos de aprendizagem o modelo tradicional de ensinar e aprender, ainda encontra o professor que assume a responsabilidade pela aprendizagem e a IES que muitas vezes desconhece a importância de considerar o estudante como seu protagonista, não há outra opção senão de enquadrar-se no sistema tradicional, para não dizer autoritário-instrucional, que ignora as mudanças radicais que dão novos sentidos à educação conectada, digitalizada, que insiste no currículo formatado há décadas corroído pelo tempo e pelo avanço tecnológico. III. Mesa Redonda 17 - Avaliação na EaD corporativa: práticas e indagações, das 16h00 às 18h00 Enilton Ferreira Rocha - WR3 EaD Laurinda Maia Lopes - DATAPREV Simone Uler Lavorato - INSS Coordenação: Enilton Ferreira Rocha - WR3 EaD Muito produtiva essa mesa! E a estratégia de contextualizar a avaliação, tendo como referência reflexões de pesquisadores e pensadores como SANT’ANNA, 2004, LIBÂNEO, 1994, KIRKPATRICK, 1975 deu resultado, tendo em vista a riqueza da conexão dessas teorias com a prática corrente nas três instituições representadas na mesa. 3 Chamou-me a atenção as rubricas ou indicadores utilizados para garantir a participação dos empregados envolvidos nos programas de treinamento, qualificação e aperfeiçoamento. O outro ponto alto dos diálogos se concentrou nas quatro etapas do pesquisador KIRKPATRICK, 1975, que sugere a metodologia dos quatro níveis para avaliar aprendizagem e desempenho na educação corporativa: avaliação de reação, de aprendizagem, de comportamento e de resultado. Os dois últimos, segundo relato dos presentes ainda é uma incógnita, apesar de esforços para compreender, sistematizar e colher resultados. Foi consenso geral que essas duas etapas sugeridas pelo pesquisador requerem muita integração entre a necessidade de avaliar comportamentos após a participação dos empregados em programas de desenvolvimento pessoal e corporativo, e investigar de que modo seria mais eficiente e eficaz apurar resultados a partir de indicadores gerados entre o momento da aprendizagem e a intervenção do empregado em sua área de trabalho e áreas de processos integrados na sociologia organizacional. Com relação à gestão de pessoas, observou-se no depoimento de alguns presentes que a falta de clareza na seleção e contratação para as atividades de aprendizagem a distância interfere diretamente no processo avaliativo, reduzindo a motivação e a garantia de qualidade, tendo em vista fatores como: interpretação da hora extra na educação a distância, despreparo do funcionário para a atividade docente (faltam destrezas pedagógico-andragógica e tecnológica), a influência da hierarquia no processo avaliativo, a falta de motivação para exercer a atividade de coaching ou de orientador da aprendizagem etc. isso sem contar o impacto da deficiência de remuneração e plano de carreira para os funcionários envolvidos no processo educacional. Ao final dessa mesa aconteceu um fato interessante: devido ao envolvimento dos participantes durante o debate e a importância dos quatro níveis da metodologia KIRKPATRICK no processo avaliativo da educação corporativa, combinou-se a continuidade do diálogo por meio de um fórum permanente, na rede, de modo a permitir a pesquisa e o estudo sistemático dos níveis 3 e 4 dessa metodologia, que, segundo a maioria dos presentes, ainda não estão sendo utilizados nas instituições de ensino corporativo governamentais. Esperase, em breve, criar esse espaço em uma das nuvens da rede e divulgá-lo para acesso aos interessados. O canais de divulgação do endereço eletrônico serão o site do ENPED, no facebook e o grupo fechado EaD: além da pedagogia e da euforia, também no facebook. IV. Mesa Redonda 49 - Andragogia, heutagogia e as novas práticas em EaD, das 16h00 às 18h00 Luci Ferraz de Mello - NCE/ECA/USP Enilton Ferreira Rocha - WR3 EaD Coordenação: Luci Ferraz de Mello - NCE/ECA/USP 4 Em pleno século 21, cuja geração que frequenta as salas de aula é considerada por alguns pesquisadores como a geração y (geração do milênio, geração Internet, geração da síndrome do pensamento acelerado (CURY, AUGUSTO)), geração da sociedade líquida (BAUMAN, ZYGMUNT), encontramos, na maioria dos casos, a orientação pedagógica como referência docente na condução da aprendizagem dessa geração, tanto nas IES quanto em algumas Universidades Corporativas brasileiras. Segundo pesquisa elaborada no Reino Unido (LSDA Innovation in Learning Project), o desafio da educação é reavaliar, permanentemente, o modo como lidamos com essa geração em processo de aprendizagem, destacando a importância de considerarmos as diferenças existentes entre a orientação pedagógica cujo foco se concentra no ensino de conteúdo, as metodologias andragógicas centradas na gestão da aprendizagem do estudante, tendo como elementos centrais a autonomia, o autodirecionamento e a autoregulação, e a heutogogia que se concentra na transferência do poder da aprendizagem para o estudante. Nesse sentido, o debate evoluiu com destaque para o perfil do aluno brasileiro ainda dependente da presença física ou constante do professor, dificultando a inserção dos conceitos e práticas andragógicas ou heutagógicas no cotidiano do professor brasileiro. Mereceu destaque também o uso sistemático de rubricas no processo avaliativo do adulto, como forma de estabelecer um canal aberto, democrático e de empoderamento do estudante, pela análise de indicadores que possam melhor retratar desempenho e comportamento do adulto em processo de aprendizagem. Do ponto de vista da influência da eutgagogia ou da andragogia no processo de humanização da EaD, o diálogo entre os presentes deu destaque à necessidade de o professor utilizar as metodologias ativas como instrumentos de aproximação do estudante das suas realidades, das suas expectativas, dos seus desejos pessoais e profissionais, enquanto adultos. Mereceu destaque, entre elas, a Aprendizagem Baseada em Problema – ABP ou Problem Based Learning – PBL, bem como a Aprendizagem Baseada em Projeto – ABP que podem tornar a ação do estudante mais efetiva conferindo-lhe a oportunidade de autoconfiança, de autodirecionamento etc, quando integradas à Sala de Aula Invertida em que o estudo e o debate sobre o problema são antecipados entre os estudantes, sob a orientação do professor, de modo a permitir maior tempo de confronto entre o conhecimento adquirido em processo de aprendizagem na sala de aula invertida e a presença do professor, que pode ser física ou via interfaces móveis (ipad ou iphone) ou na web 2.0 (hangout ou Skype). Além dessas, no âmbito da andragogia, é importante que os professores e IES estejam atentos à apropriação das metodologias complementares destinadas ao Diagnóstico do Candidato ou Diagnóstico do Estudante (DAC ou DAE, Wr3 EaD, 2006) e ao Teste de Estilo de Aprendizagem TEA, desenvolvido pelo pesquisador David Kolb, 1980. 5 Particularmente, achei muito produtiva essa mesa redonda em razão do material apresentado, em razão do debate ocorrido a partir das inquietações registradas e do compartilhamento de experiências vividas pelos presentes em suas instituições de ensino, bem como de vivências no cotidiano de alguns deles na educação do adulto. Referências de contexto: Adair, John - Sensibilidade para a invenção e a inovação. Antunes, Celso - Competência na sala de aula. Ausubel, David - Aprendizagem Significativa (interação e informação, desorganização da camada cognitiva, aprendizagem pela busca). Freire, Paulo - Metodologias ativas e a autonomia. Knowles, Malcolm - Andragogia. Kolb, David – CAV e TEA. Moran, José - Educação humanista e inovadora. Nóvoa, António - Formação dentro da profissão. Siemens, George - Mediação tecnológico-midiática (Ubiquidade em Rede). REFERÊNCIAS BEVILAQUA, SUELEN, RICARDO, IVAM PELEIAS. “Em vez de dar o peixe, ensine a pescar”: A Heutagogia e a sua relação com os métodos de aprendizagem em cursos EaD no Brasil. Disponível em: http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnEPQ/enepq_2013/2013_EnEPQ148.pdf. Acesso em: 15 set. 2014 BUCK INSTITUT OF EDUCATION. Aprendizagem baseada em Projetos. Disponível em: file:///C:/Users/Enilton/Downloads/aprend_baseres_probl02.pdf. Acesso em: 15 set. 2014. CAVALCANTI. R.A. andragogia: a aprendizagem nos adultos. http://www.ccs.ufpb.br/depcir/andrag.html. Acesso em 15 abr. 2013. Disponível em: DE AQUINO, C. T. E. – Como aprender: Andragogia e as habilidades de aprendizagem. Pearson, 2008. FILHO, E. E.; RIBEIRO, L. R. DE C. 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