DIáLOGO PORTuGAL-BRAsIL séCuLO XXI, NOVAs REALIDADEs

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como referenciar esta recensão:
LEITE, Isabel Costa - Recensão de Diálogo
Portugal-Brasil século XXI, novas realidades,
novos paradigmas, org. Cremilda Medina e
Sinval Medina. Revista da Faculdade de
Ciências Humanas e Sociais. Porto : Edições
Universidade Fernando Pessoa. ISSN 1646-0502.
6 (2009) 289-291.
DIÁLOGO PORTUGAL-BRASIL
SÉCULO XXI,
NOVAS REALIDADES,
NOVOS PARADIGMAS
Cremilda Medina e Sinval Medina
(Orgs.)
A obra Diálogo Portugal-Brasil Século XXI, Novas Realidades, Novos Paradigmas é o resultado do
Seminário com o mesmo nome, realizado na Universidade Fernando Pessoa, no período entre
21 de Novembro e 7 de Dezembro de 2006. Enquanto actividade inserida no Seminário Interdisciplinar Permanente Portugal-Brasil - por sua vez, parte da Série “Novo Pacto da Ciência”,
criado por Cremilda Medina, em 1991 -, e cuja coordenação se deve aos Professores Salvato
Trigo e Cremilda Medina e ao escritor Sinval Medina, pretende desenvolver a reflexão sobre as
relações entre os dois países. Com recurso ao património comum que resulta de um passado
de partilha histórica e cultural, o projecto passa pelo debate sobre as transformações vividas
no presente e projecta um futuro que possibilite o aprofundamento das relações entre duas
Nações que se complementam. Este Seminário surge, assim, como um “Laboratório do futuro”.
Com uma estrutura dividida em três Partes, organizadas tematicamente, a primeira parte dirige-se à Memória Afectiva e Pioneiros na qual encontramos a proposta de Cremilda Medina e
Sinval Medina no sentido da instituição de um “Diálogo Permanente entre Portugal e Brasil”.
Pretendem, com este projecto, ultrapassar os estereótipos que dificultam a relação entre as
duas nações e estabelecer um novo paradigma que permita substituir o “paradigma da convergência”, através de uma nova forma de olhar as diferenças, ultrapassando preconceitos e
recorrendo a novas ferramentas. Neste seguimento, a intervenção de Salvato Trigo dirige-se
à “Cooperação Luso-Brasileira: o triálogo necessário”. Tendo como referências Gilberto Freyre
e Fernando Pessoa, o autor recorre à língua portuguesa como o cerne da civilização lusotropical e alerta para os défices culturais das novas gerações. “É a cultura que ilumina a ciência
e a torna pragmática”. Esta relação passa necessariamente pela cooperação com todos os
povos de língua portuguesa. Sendo o lusotropicalismo um conceito transnacional, permite
novos rumos luso-brasileiros e africanos pois, “somados às nações que compartilham a língua portuguesa, nossa dimensão se alarga”.
Por último, Jacques Marcovitch apresenta-nos uma entusiasmante descrição dos percursos
de vida de portugueses em “Os bandeirantes desarmados” que, após a sua chegada ao Brasil,
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percorreram um longo caminho de sacrifícios, tornados conquistas, permitindo-lhes assumir
uma referência no desenvolvimento económico do país. O autor conclui a sua exposição, considerando que esta comunidade empreendedora, presa às suas raízes, soube transmitir o seu
esforço, enquanto trabalhadores e cidadãos, servindo de exemplo aos seus irmãos brasileiros.
Na Segunda Parte, a temática enquadra-se em Geopolítica e Laços Culturais, em que Demétrio Magnoli começa por apresentar uma análise de “Estado nacional, Mercado e desenvolvimento”. O autor parte do conceito de Nação, apontando para realidades distintas. Na
Europa, a narrativa da nação assenta no culto da memória, um passado profundo. Mas, na
América, a nação é a produção de um futuro. Por outro lado, “Na União Europeia é possível
produzir nações sem nenhum passado, é um berço onde cabem novas invenções”. Passa,
em seguida, para a análise das desigualdades económicas regionais na América Latina, em
que assenta uma relevante expressão política. Temas como desenvolvimento e desigualdades sociais tornaram-se o centro do debate político. “No fundo, o que está em jogo é a
formulação de novos projectos nacionais num mundo vincado pela globalização” (p.60).
Por seu lado, Sinval Medina questiona se “Tem futuro o legado cultural Luso-Brasileiro?”. Começando por fazer uma breve incursão histórica, em que revela os períodos de maior e menor aproximação entre os dois países, parte, seguidamente, para a abordagem das relações
económicas e culturais e termina com a exposição dos problemas que hoje dificultam essa
relação. Para o autor, a solução passa pela “Percepção das diferenças”. Como resultado de um
longo processo de convivência, esta “Comunidade de afectos” mostra que tem “Raízes bem
mais profundas do que a partilha do idioma”.
Na Terceira Parte, a abordagem incide sobre Comunicação social e diversidades, em que os intervenientes analisam o papel dos media na sua relação com a Lusofonia. Assim, Isabel Ferin
Cunha começa por focar o lugar do espaço lusófono no contexto da globalização. “As competências linguísticas, o conhecimento mútuo, as redes sociais que intercruzam estes países e as
diásporas dos seus povos facilitam, em muitos aspectos, a efectivação destas relações, criando
um espaço regional no interior das redes globais”(p.82). Os Media têm, assim, um papel determinante no diálogo entre culturas. A “Estratégia de Lisboa” veio reforçar esta ideia ao considerar que a União Europeia deve desenvolver “um espaço onde o conhecimento, a cultura e a
inovação se tornariam o grande motor da economia”, devendo os países europeus aproveitar
o grande património cultural resultante da sua expansão pelo mundo. Neste contexto, a CPLP
tem desenvolvido procedimentos de carácter técnico com a introdução de suportes de comunicação e informação em todos os países lusófonos. A autora considera que os Media e a
cultura são factores de aproximação entre as diferentes comunidades de língua portuguesa
pelo que, o novo projecto “Plataforma Lusófona de Partilha de Conteúdos e TV CPLP”, assente
no recurso às novas tecnologias, televisão satélite e internet, poderá contribuir para um maior
conhecimento mútuo no espaço da lusofonia e para o próprio reforço da democracia.
Por sua vez, Renato Seixas reflecte sobre a “Identidade Cultural pós-moderna (uma abordagem por meio de mensagens publicitárias)”, considerando que a integração cultural no
contexto da globalização implica novos paradigmas de pesquisa científica, em que predomina o binómio sujeito pesquisador - sujeito pesquisado. Neste texto, o autor propõe-se
analisar a identidade cultural de um povo partindo de elementos culturais inseridos em
mensagens publicitárias. Partindo da “diferença” como elemento constituinte da identidade,
dirige-se ao fenómeno da globalização, a que associa uma profunda análise de identidade
cultural transformada, hoje, numa identidade fragmentada em que se combinam elemen-
tos de identificação cultural provenientes de todas as partes do mundo (identidade cultural
pós-moderna) e a velocidade a que estes circulam e se integram no mundo globalizado. De
seguida, o autor considera a influência da identidade cultural nos comportamentos de consumo inseridos num complexo processo em que interagem múltiplos agentes de diversa
ordem. Dado o universo cultural em que estão inseridos os participantes do processo de comunicação, as “mensagens publicitárias são um bom paradigma para analisar a identidade
cultural de um grupo social”.
Nesta temática, o artigo “Nas trilhas do direito social à informação“, da autoria de Cremilda
Medina, acentua o direito social à informação como expressão democrática das maiorias.
Neste texto, a autora defende a “contribuição cultural da reflexão, da acção política, das estratégias educacionais e das práticas profissionais no rumo dos direitos sociais à informação”
e o importante papel que os autores/actores latino-americanos têm desempenhado nas
mudanças que se anunciam no âmbito da teoria e política de comunicação social. Neste
contexto, a configuração de uma Nova Ordem da Informação que se tem desenvolvido
após os anos 70, mostra a “necessidade de romper com a oferta autoritária”, o que deve
partir tanto da academia como das empresas de comunicação. Cremilda Medina recorre a
exemplos de investigação na América Latina que contribuem para uma transformação da
Comunicação Social e considera que os investigadores portugueses e brasileiros terão um
importante papel na construção do necessário Diálogo Social do futuro.
Concluindo esta parte, Ricardo Jorge Pinto analisa “O novo rosto do jornalismo português”que
considera estar ainda à procura da sua identidade. Tendo vivido um período crítico entre 1988
e 1992, com o aparecimento de novos meios de comunicação social, o jornalismo português
adoptou uma atitude mais agressiva e crítica, com uma renovação geracional e uma nova
forma de produzir informação. Através da procura de definição de novas rotas, o autor debate
o novo paradigma recorrendo a diversos argumentos em que se confrontam razões economicistas e a valorização do jornalismo especializado. Ao mesmo tempo, apresenta os desafios que
deverão ser considerados na evolução do modelo contemporâneo de jornalismo português.
A obra termina com um espaço de Balanço e Perspectivas em que os coordenadores do
projecto apresentam as suas próprias projecções de futuro. “Carta do Achamento de novos
afectos“, de Salvato Trigo, considera a CPLP como plataforma de cooperação e entendimento e que o horizonte “nos chama em língua portuguesa“. Através de “Desejos de Outra História“, Cremilda Medina e Sinval Medina preconizam o derrubar de “obstáculos que dificultam
o encontro de iguais-diferentes“.
Os organizadores desta obra apresentam-nos um estudo que em muito contribui para o
aprofundamento da investigação e divulgação de conhecimentos sobre a temática das relações Portugal-Brasil. A bibliografia referida nos diferentes capítulos é uma boa ferramenta
de trabalho para todos aqueles que se interessam por este tema. Editado pelas Edições
Universidade Fernando Pessoa, o livro mostra-se atractivo, com uma imagem de capa de
grande simbolismo, e com uma impressão de qualidade.
O presente trabalho poderá contribuir, com a sua originalidade e rigor crítico, para que o
debate sobre as relações Portugal-Brasil se dinamize de forma construtiva em direcção a um
futuro comum.
Isabel Costa Leite
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