O que é uma palavra? Um estudo comparativo entre Rudolf Carnap e Friedrich Nietzsche Tássio Varjão da Silva* * é aluno de Filosofia pela Universidade Estadual de Santa Cruz _______________________________________________________________________________ Há entre o artigo de Rudolf Carnap, ‘A superação da metafísica mediante a análise lógica da linguagem’, e o texto póstumo do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, ‘Sobre verdade e mentira no sentido extra moral’, uma curiosa coincidência que o mais desatento dos leitores não poderia deixar de perceber. Refiro-me àquilo que, genericamente, se poderia definir como um intuito comum a ambas as obras. Trata-se da intenção presente nos dois textos de atacar (e superar) a tradição metafísica. Seja através da pesquisa dos fundamentos linguísticos, históricos e socioculturais da ideia metafísica de ‘verdade’ empreendida por Nietzsche, ou mediante a depuração lógica dos enunciados (ou ‘pseudoenunciados’) metafísicos, promovida por Carnap. Tanto um como o outro se empenham – por caminhos diferentes – na contestação da metafísica como detentora de um conhecimento transcendente. E, da mesma forma, em ambos, o meio através do qual essa contestação se dará, é aparentemente o mesmo. Ou seja: através de uma crítica da linguagem. Sob uma perspectiva extremamente generalizante, poder-se-ia até afirmar que Nietzsche e Carnap compartilham de visões bastante assemelhadas. Entretanto, a relação entre os dois autores tende a se tornar um problema mais complexo, sobretudo quando nos distanciamos do conteúdo crítico geral e nos aprofundamos do conteúdo propositivo de ambas as doutrinas. É quando percebemos que a forma que um e outro abordam a questão, assim como o ponto ao qual pretendem chegar com suas críticas, os afasta radicalmente. Visto que o intento de Carnap é o de garantir, por meio de uma verificação empírica, a possibilidade de correspondência, nas proposições científicas, entre termos e objetos. Enquanto Nietzsche realiza uma reflexão bem mais radical, apontando o caráter metafórico da linguagem e destruindo qualquer possibilidade de correspondência, o que inviabilizaria, enquanto portadoras de verdades, tanto a metafísica como a própria ciência que Carnap quer salvaguardar. Dessa forma, o objetivo desta Comunicação Acadêmica é o de entender de que modo cada um dos autores se debruça sobre o campo comum da linguagem e chegam a conclusões e propostas filosóficas tão diferentes. Para tanto, procuraremos pormenorizar os métodos de reflexão empregados nos textos citados, situando-os no contexto geral do trabalho filosofico de seus autores e buscando entender de que maneira cada um desses filósofos se insere dentro da história da filosofia contemporânea.