252 CONDOMÍNIOS FECHADOS: UMA ANÁLISE DA SEGREGAÇÃO E AUTOSEGREGAÇÃO SÓCIO-TERRITORIAL EM TRÊS LAGOAS - MS1 Ana Cláudia Sacchi BALDO Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Acadêmica do 2° ano do curso de graduação em Geografia – Bolsista PET Geografia [email protected] Greisse Quintino LEAL Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Acadêmica do 4° ano do curso de graduação em Geografia – Bolsista PET Geografia [email protected] RESUMO Este estudo traz uma avaliação das práticas segregacionistas que delineiam e (re)estruturam a malha urbana de Três Lagoas, sito na porção leste de Mato Grosso do Sul. Ao se produzir a moradia, concomitantemente, se produz o espaço urbano, neste sentido o território suscita indagações quanto à sua forma, estrutura e função. A solvência de tais questionamentos requer a emergência das contradições, dos conflitos e das cavidades inerentes ao processo de produção da urbe. Sendo assim, a segregação e a auto-segregação são duas faces de uma mesma moeda: elas se fazem presentes e compartilham do mesmo território. Acompanhando esta perspectiva, os condomínios fechados sintetizam estes dois processos que fragmentam o espaço urbano. Palavras chaves: condomínio fechado, produção/fragmentação do espaço urbano, segregação e auto-segregação. ABSTRACT This study brings on evaluation of the segregationist practices it delineates and restructure the urban mesh of Três Lagoas, sito in the east portion of Mato Grosso do Sul. So to produce housing, concomitantly, to produce the urban space, in this sense the territory rayses inquire such as your form, estructure and function. The solvency of such questions requires the emergence of contradictions, conflicts and cavities inhrentes with the production process of the city. So the segregation e self-segregation are two faces of same coin: it are presents and share of the same territory. Accompanying this perspective, the closed condominiums synthesize this two process that fragment the urban space. Key words: closed condominium, production/fragmentation of the urban space, segregation and self-segregation. 1 Artigo orientado pela Dr.ª Edima Aranha da Silva, professora do Programa de Pós-graduação em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 253 INTRODUÇÃO A cidade é lócus da (re) produção das atividades capitalistas e nela se faz presente à materialização das relações sociais, que se tornam visíveis de acordo com os objetos geográficos que compõem e permanecem na paisagem urbana. Ao se considerar a dinâmica interna de uma determinada cidade, é possível compreender a espacialização das classes sociais e os elementos definidores de certas frações territoriais, sendo a localização como um elemento primordialmente importante. Os condomínios fechados constituem um fenômeno urbano que está se vulgarizando através da flecha do tempo. A cidade de Três Lagoas (figura 1) não fica imune a este processo, onde a proliferação destes condomínios sobre a tessitura urbana nos últimos dez anos tem modificado significativamente sua configuração territorial. Figura 1: Localização de Três Lagoas no estado de Mato Grosso do Sul. As céleres transformações desencadeadas nos setores de atividades econômicas, principalmente o industrial, causaram impactos na forma de reorganização do espaço urbano da cidade. Entretanto, essas modificações refletem no modo de organização e produção do espaço urbano, estas são multifacetadas e ao mesmo tempo dicotômicas, tendo por sua vez, resultados de efeito expressivamente desigual, como o surgimento da segregação e auto-segregação sócio-territorial, fragmentação urbana e exclusão. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 254 No espaço urbano se evidenciam transformações que colocam e compõem em cena a formação de um novo sistema social que distanciam os grupos sociais dessemelhantes entre si. Nesta perspectiva, os condomínios fechados evidenciam esse distanciamento tanto física como simbolicamente. CONDOMÍNIOS FECHADOS: UMA ALTERNATIVA ELITISTA A existência das áreas residenciais fechadas e auto-segregadas não é um litígio recente, remontando à existência histórica de guetos, cidadelas ou os enclaves residenciais na configuração urbana. Ao se analisar a configuração urbana das médias e grandes cidades, é gritante o alastramento desse novo tipo de enclave territorial (SANTOS, 1988): os condomínios horizontais/verticais fechados. Estas formas de viver e morar delineiam na malha urbana outras dinâmicas e um cotidiano extemporâneo, expressam símbolos e imprimem valores pertinentes às classes sociais mais abastadas. Assim, a esta temática são anexados questionamentos pertinentes ao padrão de análise centro-rico, o fenômeno de dispersão urbana e a configuração de um novo modelo fractal (CALDEIRA, 2000). No hodierno contexto de países em desenvolvimento são explícitas as duas principais motivações para a escolha desse modelo de moradia: a segurança e apropriação do espaço urbano. Neste segundo caso, é perceptível a retomada da antiga forma de assimilação espacial proveniente das cidades antigas (SPOSITO, 1988), ou seja, os moradores usufruem do espaço coletivo no interior dos condomínios como eram usadas outrora as ruas e as áreas públicas da cidade cercada. Tal modelo de moradia encontra-se dissociado na realidade urbana, pois cria uma realidade diferente de um espaço absolutamente privilegiado, ao qual um grupo social distinto define códigos e convenções de uso, estabelecendo assim uma cultura de morar particular. A partir da década de 1970, os condomínios fechados/exclusivos ou gated comunities adentraram num processo de ascensão, proliferando-se no território, principalmente das metropóles paulista e carioca. Atualmente, estão presentes nas tessituras urbanas mais recônditas, em cidades de pequena extensão territorial com densidade populacional baixa e de pouca expressividade econômica e/ou política. Essa nova forma de viver e morar é uma solução individualista e capitalista, direcionada às classes média e alta, que materializam a auto-segregação na busca por um espaço I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 255 munido de infraestrutura, de segurança e status social. Este auto-enclausuramento se mostra mais como um problema do que como uma solução na dinâmica geral da cidade, pois pode ser considerado como um dos componentes da fragmentação urbana. Lefebvre (1991) corrobora que esta forma de segregação é espontânea, sendo ela proveniente das rendas e das ideologias. Retomando a questão da segurança, os condomínios fechados oferecem proteção através da parafernália eletrônica de vigilância, proporcionada pelo uso de técnicas e tecnologias desenvolvidas e reproduzidas pelo capital (SANTOS, 1996). Entretanto, colaboram para a deterioração da qualidade da vida pública, da civilidade e das condições de exercício da cidadania na cidade, obviamente sob determinados aspectos para determinadas classes da sociedade. A presença dos condomínios revela como os valores das classes elitizadas se disseminam pelo teritório e tecido social, agudizando a fragmentação territorial urbana (SOUZA, 2008a). Os condomínios, assim como os shoppings centers, são recortes de um território previsto e que prevê, que configuram imagens de equilíbrio, mascarando os embates de poder, lócus que cria a fantasia de espaço civilizado, asséptico, seguro, e inegavelmente, são a materialização e materializadores do consumo. São simulacros eufemísticos do planejamento elitizado e estratégico da cidade. Nesse sentido, com o aval do poder público, as empresas e agentes imobiliários para satisfazerem seu apetite econômico “fazem a cidade” como mercadoria, evidenciando o caráter corporativista que a produção da moradia tem (MOURA, 2006). São pseudo-espaços públicos para consumidores ricos, embuídos de sinais invisíveis que impedem a entrada do “outro”, do subalterno. As classes ditas “subalternas são e carregam os estigmas da suspeita, da culpa, da indiscriminação permanente” (CHAUÍ, 1989, p. 57). Nestes micro-territórios busca-se a saparação do “outro”, que é o “de fora”, com o “de dentro”, devido sua capacidade de provocar o medo e a insegurança, assim, a contenção territorial expressa pelos muros com cercas eletrificadas cria a ilusão de fronteira material, que ressuscita, simbolicamente, o sentido do território clássico da sociedade disciplinar (HAESBAERT, 2009; FOUCAULT, 1979). [...] retraimento em condomínios fechados ou gated comunities: aquilo que parece ser o oposto da “contenção” mais típica, relativa diretamente aos subalternos, na verdade é um subproduto do mesmo processo e que, concomitantemente, ajuda a “conter” os outros em “seus lugares” e evita/restringe a mobilidade e os contatos daqueles I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 256 que são “contidos” em seus distritos residenciais de acesso firmemente controlado (HAESBAERT, 2009, p. 116). Os condomínios fechados situados em bairros sócio-territorialmente degradados possuem incrível capacidade de destoar a paisagem ugly e dark da pobreza, da violência, da precarização do trabalho e da segregação (ARANTES, 2003), pois constituem-se como enclaves territoriais: uma fração territorial abastada, esteticamente agradável, com um conteúdo social “civilizado e elegante”, superposta num espaço urbano débil e pauperizado. O contraste visual é nítido e materializa o palimpsesto da paisagem (SANTOS, 1988). TRÊS LAGOAS: TESSITURA URBANA FRAGMENTADA Três Lagoas perpassa por um intenso processo de industrialização desde o final da década de 1990, deixando em segundo plano o modelo agro-pastoril, vigente a partir da constituição da cidade até fins do referido decênio. Com a implantação das indústrias, o comércio foi aquecido, e novas dinâmicas territoriais foram desenvolvidas. O acréscimo populacional decorrente de migrantes oriundos das outras regiões brasileiras para a prestação de serviços às indústrias restruturou a tessitura urbana. O contingente de trabalhadores (e suas famílias) exigiu a implantação de infraestrutura como suporte básico para inserí-las e satisfazer-lhes as necessidades, tais como creches, escolas, postos de saúde, asfalto, iluminação, e principalmente moradia. Neste ponto a expansão da malha urbana é o fator mais visível. Novos bairros foram criados, assim como novos COHABs e condomínios fechados. Todavia o primeiro fora construído pelo poder público municipal e direcionado à população de baixo status, a produção dos últimos se deu por empresas imobiliárias, destinando-os às parcelas elitizadas da sociedade. A produção do espaço urbano é permeada de contradições. Uma delas é a implantação de novos bairros pelos agentes imobiliários, que compra áreas pertencentes à zona rural para posteriormente incorporá-las à malha urbana. Como o valor de troca do solo urbano é menor que o da cidade, o agente imobiliário lucra duas vezes (GOTTDIENER, 1993). Os novos bairros que estão nas porções limítrofes da malha urbana recebem maior ou menor investimento em infraestrutura em consonância com o conteúso social que o irá habitar. Esta situação soa como generalizada e anti-científica, entretanto é I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 257 inegável que a instalação de infraestrutura promovida pela prefeitura municipal se dá mais rapidamente e de forma eficiente nos bairros direcionados às parcelas elitizadas, enquanto bairros inclinados às classes populares (principalmente os COHABs) recebem os serviços básicos de forma irrisória e incompleta. Outro paradoxo são os bairros com mais de 50 anos de existência que permanecem no esquecimento político e no descaso infraestrutural, ao mesmo tempo em que bairros rescém criados (principalmente loteamentos a serem vendidos pelas imobiliárias) já nascem com todos os predicativos que oferecem maior conforto e acessibilidade As aglomerações residenciais situadas nos limites do tecido urbano, cujos moradores pertencem às classes mais precarizadas configuram a segregação sócio-territorial, que na minoria das vezes é programada pela administração pública (LEFEBVRE, 1991). Já os bairros, loteamentos e condomínios fechados que também se localizam nas extremidades da planta urbana se fixaram por motivação voluntária – preço do solo, presença de amenidades, etc. Portanto, “[...] estes bairros fisicamente periféricos não são percebidos como estando localizados na periferia urbana, pois afinal de contas os bairros de status não são socialmente periféricos!” (CORRÊA, 1993, p. 18). Outra situação incoerente é a denominação de bairro que alguns condomínios receberam. Ora, como um espaço privado pode ser denominado de público? O que leva a prefeitura a demarcar na planta urbana um espaço particular de espaço comum? Certamente, a influência política e/ou econômica do conteúdo social destas frações territoriais possui grande significância nesta nomenclatura. Os sujeitos que habitam nestes guetos de segurança e luxo são agentes sociais de grande expressividade no âmbito social/econômico da cidade, logo, recebem amplo respaldo de uma administração populista dotada de um discurso alienante, que aniquila a cidadania (esta nunca existiu de fato na sociedade brasileira) e transforma os direitos inalienáveis em meras mercadorias (SANTOS, 1987). Desta forma, a cidade é permeada de espaços públicos não civis (MOURA, 2006), pois a concepção de bairro suscita a idéia de lócus comunal, de livre acesso, vias públicas, e o que se encontra é entrada restrita, guarita, portões eletrônicos, câmeras, cercas eletrificadas sobre um alto muro que cerca um bairro, uma parte da cidade. A situação de condomínios-bairros fere o direito à cidade e transgride a premissa da esfera pública ao metamorfoseá-la em esfera privada. TIPOLOGIA RESIDENCIAL DOS CONDOMÍNIOS I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 258 Um condomínio pode ser vertical ou horizontal. No primeiro caso, um prédio comporta apartamentos basicamente iguais que são adornados e caracterizados segundo o belprazer de seu proprietário. O segundo tipo consiste num recorte do território delimitado por uma barreira física – muro –, onde há a divisão de terrenos que são vendidos individualmente pelos promotores imobiliários. No interior de condomínios horizontais as moradias podem ser de duas formas: padronizadas ou de arquitetura livre. Os condomínios caracterizam uma maneira de representação do espaço, que constitui em seu ínterim novos discursos artísticos e arquitetônicos padronizados. Retomando Harvey (2000) tais condomínios representam espaços proibidos para os indivíduos não pertencentes ao seleto grupo morador, configurando um lócus privilegiado com signos e significados próprios. Dentro destes recortes existem normas de comportamento que são criadas pelos próprios moradores e sistematizadas pelo Regimento Interno, dessa forma é constituído outra esfera de normas que deve ser seguida estabelecendo os limites e delineando as relações de poder intra-condomínio. Nos condomínios horizontais as residências são construídas a partir do anseio de cada proprietário, o design exibido é arrojado e moderno, as casas são amplas e esteticamente belas, o que exprime uma carga simbólica de jactância, dinheiro e poder. Geralmente estas moradias estão inseridas nos condomínios horizontais de alto padrão. Os residentes dos condomínios, na maioria, têm alto poder aquisitivo, tendo funções empregatícias no bojo da sociedade de grande relevância, principalmente os detentores de terras e executivos de empresas influentes. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 259 Figura 2: Localização dos condomínios na planta urbana de Três Lagoas. Lagoa Azul O condomínio Lagoa Azul (figura 3 e 4), situado na porção sul da cidade, chama a atenção pelas dez residências bem planejadas, com arquitetura moderna, seguindo um padrão uniforme, coexistindo sem a presença de muros entre elas – apenas o muro que as delimita e as separa no/do espaço público. As casas estão vis-a-vis umas para as outras, há uma pequena área de lazer com uma churrasqueira e uma única rua pavimentada com blocos de cimento que permite o acesso às moradias. Não há um porteiro que fiscaliza o trânsito dos moradores, no entanto, o portão é eletrônico, e para adentrar ao condomínio é necessário digitar uma senha que o destrava. O portão eletrônico e a cerca eletrificada são os equipamentos que garantem a segurança patrimonial destes moradores. O aluguel de uma dessas moradias – que são mobiliadas – é R$ 1.200,00 . Nelas estão inclusas o uso da internet e da água, apenas o uso da energia elétrica e do telefone são cobrados separadamente. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 260 Figura 3: Entrada do Condomínio Lagoa Azul. Fonte: BALDO, A. C. S.; LEAL, G.Q. Figura 4: Parte interna do Condomínio. Fonte: BALDO, A. C. S.; LEAL, G.Q. Alto dos Ipês O condomínio Alto dos Ipês é um caso intrigante por seu próprio nome. Localizado na porção leste da cidade, encontra-se inserido no bairro Jardim dos Ipês I e Jardim dos Ipês II, ambos possuem a imagem de bairro de status elevado. O Jardim dos Ipês I não conta com pavimentação asfáltica, suas residências são de padrão estético discreto, muitos lotes ainda não foram ocupados configurando a paisagem de vazio urbano. No outro bairro, a situação é contrária: á asfaltado, as residências são esteticamente modernas, e dependendo da casa, a extensão métrica é maior ou menor. Praticamente em todas as casas deste bairro há cerca eletrificada. O condomínio é adjacente aos dois bairros, entretanto sua entrada frondosa e colossal antecipa que ali é um espaço que emana mensagens simbólicas de luxo e ostentação (figura 5). A aquisição de um terreno é baseada em seu tamanho, onde o m² custa R$ 160,00. Atualmente apenas 12 terrenos estão ocupados, suas residências são amplas, o que lhes atribui um tom arquitetônico magnificente e soberbo. Um demonstrativo de tal suntuosidade é a presença de uma residência com paredes de vidro (figura 6). I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 261 Figura 5: Fronte do condomínio. Fonte: BALDO, A. C. S.; LEAL, G.Q. Figura 6: Casa com paredes de vidro. Fonte: BALDO, A. C. S.; LEAL, G.Q. A área de lazer é espaçosa dividida em quadras poli esportivas e sua infra-estrutura oferecida pelo condomínio visa à interação entre os moradores, a segurança e o bem estar (figura 7 e 8). Quanto a segurança, o condomínio possui cerca eletrificada, circuito interno de TV, vigilância eletrônica e monitoramento por câmeras na portaria e em todo o espaço do condomínio em tempo integral. Além destes dispositivos, é feito o controle de entrada e saída de veículos e pedestres, visualizados pelos 8 vigilantes que cumprem em rotatividade os turnos diurno e noturno. Ao se compilar suas características é possível perceber o valor ideológico que o nome do condomínio transmite, principalmente pelo adjetivo “Alto”. Figura 7: Quadras poli esportivas Fonte: BALDO, A. C. S.; LEAL, G.Q. Figura 8: Centro de lazer Fonte: BALDO, A. C. S.; LEAL, G.Q. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 262 Condomínio Falco Situado na área central periférica da cidade (CORRÊA, 1993), é um símbolo territorial de poder. Em sua infraestrutura há um salão para festas, duas piscinas e uma churrasqueira para serem compartilhados pelos moradores. O prédio que totaliza 22 apartamentos, está próximo à escolas – pública e privada –, padaria, supermercado, fármacia, lan house, etc. O aluguel é R$ 2.000,00, e a aquisição de um apartamento varia entre R$ 250.000,00 e R$ 300.000,00. Na maioria dos condomínios verticais a presença do vigilante é substituída pelo portão eletrônico e interfone, entretanto neste condomínio, além destes dois mecanismos o porteiro cumpre a carga temporal de 24 horas. Figura 9: Condomínio Falco. Fonte: BALDO, A. C. S.; LEAL, G.Q. Figura 10: Parte interna do Condomínio. Fonte: BALDO, A. C. S.; LEAL, G.Q. CONSIDERAÇÕES FINAIS Harvey (2000) esclarece que esse tipo de moradia é uma nova modalidade de representação. Ao se abordar os espaços físicos consumidos e as formas de reprodução da vida dos residentes de condomínios, são notáveis o padrão de qualidade de vida elevado. Este ao ser comparado com a realidade cotidiana dos citadinos extra-muro, evidencia a constatação da desigualdade que reforça a segregação sócio-territorial, típica da sociedade contemporânea urbana e fragmentada (SOUZA, 2008b). As sociedades humanas sempre foram reconhecidas pela desigualdade entre as classes sociais dos indivíduos. A complexidade, a ambigüidade e as incertezas são expressões de ordem para caracterizar a sociedade contemporânea. Um período de transição, de I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 263 transformação, em que a ideação da modernidade com suas técnicas hegemônicas assolam a humanidade (SANTOS, 2005). No caso dos condomínios fechados, onde todas as tipologias estão inclusas, ocorre uma privatização do espaço na medida em que há o fechamento para os espaços públicos adjacentes e para o seu entorno. Os condomínios fechados criam um estilo próprio de vida que não é local, uma cópia dos paradigmas de viver e morar oriundos de fronteiras nacionais e internacionais. Estabelecem, dessa maneira, paridade com próteses territoriais (SANTOS; SILVEIRA, 2008) cuja arquitetura e conteúdo são determinados pelo poder e a riqueza. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANTES, O. B. F. Berlim reconquistada. Falsa mistura e outras miragens. 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