Quando a infertilidade é PROBLEMA 48 vivasaúde www.revistavivasaude.com.br Qual é o impedimento? Esta é a dúvida do casal que não engravida. Saiba o que esperar quando a causa se relaciona ao homem texto letícia ronche A procriação faz parte da natureza humana. É por essa razão que quando um casal não consegue ter filhos logo surgem preocupações, até mesmo para todos a sua volta. Afinal, ter um bebê não deveria ser um desafio, certo? “Quando falamos de infertilidade (mais de um ano de tentativas adequadas para engravidar sem sucesso) sempre precisamos levar em consideração que esta não é uma doença do homem ou da mulher, mas do casal”, afirma Valter Javaroni, coordenador do Departamento de Medicina Sexual e Infertilidade Masculina da Sociedade Brasileira de Urologia Rio de Janeiro (SBU – RJ). Por esse motivo, o homem e a mulher devem ser examinados para saber a causa da infertilidade e então tratá-la. Assim, o sonho de ter um filho fica mais perto de se tornar realidade. Javaroni diz que estudos mostram que em torno de 15% dos casais demoram mais de um ano para engravidar. “Desse grupo considerado infértil, 50% dos casos envolvem problemas na mulher; 30%, fatores masculinos; e em 20%, ambos contribuiriam para a infertilidade. Portanto, em metade dos casos existem fatores relacionados ao homem”, considera. Por isso é que hoje vamos focar neles. FOTOS: SHUTTERSTOCK. As causas masculinas Newton Eduardo Busso, ginecologista e obstetra, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), conta que, na prática, passa-se a desconfiar do homem quando há um histórico familiar, ou quando ele passou por www.revistavivasaude.com.br alguma cirurgia. “Mas, independente disso, ambos serão investigados”, fala. Podemos dividir as causas de infertilidade masculina em dois grupos: as obstrutivas, responsáveis por 40% do total, e as de produção, 60% do total. “Dentre as causas obstrutivas mais comuns temos a vasectomia, obstruções do epidídimo causadas por infecções (DSTs, como a gonorreia), cistos na próstata, e malformações dos ductos deferentes”, informa Filipe Tenório, urologista do Hospital Santa Joana (PE). O médico conta que, entre as causas de produção, destacam-se a varicocele (dilatação das veias do testículo que faz com que o sangue fique preso e aumente a temperatura, diminuindo a produção de espermatozoides), doenças genéticas, uso de anabolizantes, deficiência de testosterona, infecção pelo vírus da caxumba e dano testicular causado por radioterapia e quimioterapia. Além disso, acidentes podem tornar os homens estéreis. “Traumas, infecções, torções, cirurgias e tumores. Exemplos: infecção por caxumba que atinge os testículos produzindo a chamada orquite viral, ou a criptorquidia (testículo que não desceu completamente durante a gestação) corrigida tardiamente”, exemplifica o urologista da SBU. Contudo, ele declara que, apesar dos avanços da medicina, “ainda consideramos cerca de 40% dos casos de infertilidade como de origem idiopática, ou seja, sem uma causa definida”. A queda na qualidade do sêmen pode estar relacionada a poluição ambiental, hábitos de vida e alimentação não balanceada Pode ser uma varicocele Esta é a principal causa modificável de queda na qualidade de sêmen. “Varicocele significa dilatação das veias que drenam os testículos”, explica Valter Javaroni, urologista da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU-RJ). Seriam varizes como as das pernas, mas localizadas na bolsa escrotal. O médico conta que essa dilatação permite um refluxo de sangue para os testículos aumentando a temperatura e prejudicando o ambiente de produção de espermatozoides. Para o adolescente que tem varicocele e diminuição testicular recomenda-se a cirurgia. “Quando esta é a causa de um esperomograma de qualidade ruim, o tratamento cirúrgico precisa ser considerado”, informa. vivasaúde 49 SAÚDE DOS HOMENS um panorama da fertilidade deles 15% dos casais demoram mais de um ano para engravidar – são inférteis Desse grupo: 50% Fatores associados à infertilidade: Diabetes Hipertensão Sedentarismo Obesidade Tabagismo Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) Uso de anabolizantes dos causas se dão por problemas femininos 30% por complicações entre os homens 20% têm contribuição de AMBOS na infertilidade 40% dos casos de infertilidade não têm uma causa definida Entenda o percurso do espermatozoide Os espermatozoides ficam nos testículos. A partir da puberdade e obedecendo ao estímulo da testosterona, hormônio masculino, os meninos começam a produzir células feitas para a reprodução. Para que esse mecanismo funcione, são necessárias algumas condições especiais, como a temperatura um grau mais baixa do que a do resto do corpo. Este é o motivo de a bolsa escrotal se afastar do corpo nos dias quentes e se aproximar nos frios. Após a produção de espermatozoides no testículo, eles vão para o epidídimo, que fica colado no testículo e forma um verdadeiro labirinto de túbulos que os armazenam dando tempo para prepará-los para a fertilização. Feito isso, eles passam pelo ducto deferente, que é um tubo grosso – aquele que é interrompido na vasectomia –, e “deságuam” na parte posterior da uretra. 50 vivasaúde A hora do espermograma Esse é o principal exame para a avaliação de fatores masculinos de infertilidade, com a finalidade de análise seminal. Javaroni fala que este é um teste específico que exige condições de coleta, processamento e análise para que os resultados sejam confiáveis. “É preciso respeitar um período de abstinência sexual e não perder nenhuma gota do ejaculado.” Para o ginecologista, todo homem deve fazer um espermograma ao iniciar a vida sexual. “Assim já é possível identificar problemas que vão piorar com o tempo e tomar as medidas necessárias, caso haja uma complicação e o rapaz queira ser pai, como congelamento de espermatozoides”, justifica Busso. Além disso, 1% dos homens possui ejaculação sem espermatozoides. Se ele já souber disso, evita que sua parceira utilize métodos anticoncepcionais, como pílulas hormonais ou DIU. Além desse teste, pode ser solicitado um exame de sangue com os hormônios envolvidos na produção de espermatozoides e uma ultrassonografia da bolsa escrotal, que avalia o volume e aspecto testicular e a presença de varicocele. “Quando a contagem de espermatozoides é baixa ou ausente, solicitamos a avaliação genética do homem em busca de alterações na contagem de cromossomos e de defeitos nos genes”, esclarece o urologista. O caminho para a paternidade O tratamento dependerá da causa. “No grupo das obstrutivas, a melhor medida é a reconstrução por microcirurgia (reversão de vasectomia ou do epidídimo)”, diz Tenório. A varicocele pode ser tratada por microcirurgia. Quando o problema está no esperma, há duas opções. Nos casos em que haja mais de dez milhões de espermatozoides de boa qualidade e as tubas uterinas estão normais, pode-se adotar a inseminação intrauterina. Quando há apenas cinco milhões de espermatozoides capacitados, a fertilização in vitro (FIV) apresenta maiores chances de sucesso. A taxa de sucesso é variável. Geralmente é necessário tentar mais de uma vez. Por isso, recomenda-se buscar informações e comprová-las antes de assumirem-se compromissos. www.revistavivasaude.com.br