ANÁLISE DAS VARIÁVEIS CLÍNICAS E SUA RELAÇÃO COM O RETARDO DO DIAGNÓSTICO DA TUBERCULOSE ATRIBUÍDO AO DOENTE NO MUNICÍPIO DE FOZ DO IGUAÇU-PR. Thiago Goulart Garcia¹ Marieta Fernandes Santos² Reinaldo Antonio da Silva Sobrinho² 1. INTRODUÇÃO A Tuberculose (TB) é considerada um dos grandes problemas de saúde pública. O estudo do retardo do diagnóstico de Tuberculose vem sendo discutido no Brasil por meio de um estudo multicêntrico desenvolvido pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo em parceria com algumas universidades brasileiras, dentre elas a Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Foz do Iguaçu. Segundo o Ministério da Saúde (2005), a Tuberculose é uma doença infecciosa e contagiosa, causada por um microorganismo denominado Mycobacterium tuberculosis, também denominado de bacilo de Koch (BK), que se propaga através do ar, por meio de gotículas contendo os bacilos expelidos por um doente com TB pulmonar ao tossir, espirrar ou falar em voz alta. Quando estas gotículas são inaladas por pessoas sadias, provocam a infecção tuberculosa e o risco de desenvolver a doença. De acordo com Lima (1997) os países desenvolvidos em que outrora já viveram a possibilidade de erradicação da doença, presenciam hoje o aumento do número de tuberculosos, sendo pressionados então a aderirem e adaptarem os programas de combate a TB a nova realidade, declarando-a prioritária na saúde. E mesmo os países com um maior número de morbimortalidade pela doença presenciam um aumento gradativo desde 1990, países estes onde o bacilo encontra terreno fértil por conta dos fatores sociais, aglomeração em favelas de grandes centros, pobreza, baixa escolaridade e baixa renda familiar. Conforme Hijjar et al., (2001) no Brasil há também uma preocupação com a TB, o que é justificado pelos dados epidemiológicos, mesmo não olhando o Brasil como 1. Acadêmico do curso de enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Foz do Iguaçu. 2. Docentes do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Foz do Iguaçu. um todo e visualizando as múltiplas regiões, mesmo a menos atingida, é digna de atenção. No ano de 2000 foram notificados no País 82.249 casos novos sendo 38.690 no sudeste, 23.196 no nordeste, 9.281 no sul, 5.901 no norte e 3.522 no centro-oeste. Em relação às formas clínicas os números na época foram distribuídos da seguinte maneira: 60,7% eram pulmonares com baciloscopia positiva, 24,9 % eram pulmonares, mas sem a confirmação bacteriológica e 14,4% eram extra-pulmonares. Mesmo tendo em vista esses números, a TB é hoje considerada por seus estudiosos como uma calamidade negligenciada, sabendo que está entre as doenças infecciosas que mais matam no mundo, sendo um agravante fatal para o portador de HIV, as autoridades insistem em negligenciar um assunto que ainda mata muita gente no mundo inteiro. Na maioria das pesquisas onde o objetivo é apurar o conhecimento popular sobre a doença, é comum muitas pessoas acharem que este é um assunto encerrado, uma doença erradicada ou controlada, muitas pessoas sequer sabem o que é tuberculose. A Tuberculose tem sido considerada por muitos estudiosos e nações como um problema, com tamanha proporção que vem preocupando e exigindo esforços das autoridades da área da saúde do mundo todo. No começo da década de 90 a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a tuberculose como um estado de urgência no mundo. A mesma instituição que até o momento acreditava que sozinha conseguia conter o avanço da doença, criou um programa chamado “STOP TB” onde se reuniram instituições e pesquisadores que mais entendiam do assunto. A OMS, o Banco Mundial, Center For DIsease Control (CDC) - Atlanta, International Union Against Tuberculosis and Lung Disease (IUATLD), Royal Netherlands Tuberculosis, Association (RNTA) e American Thoracic Association (ATA) foram parceiros nesta etapa, o que foi considerado um marco para o combate de TB (RUFFINO-NETTO, 2002). Segundo o Ministério da Saúde, apesar dos altos números no Brasil, como no mundo, a Tuberculose é uma doença com alta chance de cura caso detectada precocemente e com o tratamento quimioterápico seguido corretamente (BRASIL, 2002). Há uma estimativa de que cerca de 40 milhões de brasileiros estariam infectados pelo Mycobacteryum Tuberculosis (MTB). Desde a década de 70 quando foi realizado um estudo com crianças entre seis e oito anos, a qual teve como instrumentos um inquérito e prova tuberculínica, foi inserido no país um RMAI (risco médio anual de infecção) no Brasil, naquela ocasião o risco era de 1,5%. Atualmente o RMAI para a população em geral tem 1% de chances de contagio pelo MTB. Este risco é também diferenciado conforme as regiões do país, sendo assim, o RMAI é menor no sul, e aumenta à medida em que se desloca para a região sudeste, norte e nordeste. Sempre tendo em vista que este risco é estabelecido à população em geral, pois em populações consideradas de risco para TB o RMAI pode ser muito maior, como moradores de periferias aglomeradas (KRITSKI, 2005). De acordo com Santo (2003), um dos fatores que mais influenciam, sobretudo na mortalidade por TB é a co-infecção por HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), que se agravou a partir da década de 80. O individuo com sorologia positiva para HIV tem maior chance de infecção por MTB do que a população em geral. O RMAI de Tb de um doente por HIV varia entre 5 a 10%, enquanto da população em geral é de 1%. Algumas pesquisas ainda trazem que a chance de contagio em um ano de um soropositivo é referente a chance da vida toda de um soronegativo. O principio é perfeitamente aceitável, o MTB é considerado um bacilo oportunista, o qual se aproveita de uma baixa imunidade de seu hospedeiro para instalar a doença, tendo em vista que um terço da população possui o bacilo de Koch, destes, os indivíduos que por eventualidades estão com baixa imunidade tem maior chance de infecção, sendo assim os soropositivos se enquadram em um risco muito maior (LIMA, 1997). Os fatores que interferem no maior índice de infecção por Tb são inúmeros, sendo assim é importantíssimo avaliar os que mais interferem. O retardo do diagnóstico é um agravante de alta colaboração para o aumento dos números de tuberculosos. Uma pessoa infectada e sem tratamento, por ano contamina em média de 10 a 15 pessoas e ainda assim, esta pessoa se diagnosticada com atraso, levara um maior tempo para o tratamento, tendo uma probabilidade de cura menor e, portanto sofrendo mais. Tendo em vista que um doente em tratamento quimioterápico perde a potencialidade de contaminação a partir de 15 dias, é de grande importância que o diagnóstico seja feito precocemente e o tratamento iniciado no ato da evidencia (RUFFINO-NETTO, 2009) De acordo com Scatena et al. (2009), a oportunidade de inclusão ao serviço de saúde pode determinar o sucesso na cura por TB. A desigualdade em saúde é muito grande no Brasil, contribuindo que muitos casos de Tb não sejam sequer diagnosticados, e uma grande maioria sendo ainda muito tardiamente diagnosticados. 2. OBJETIVO Contribuir para o avanço no tratamento e prevenção de tuberculose por meio da detecção das manifestações clínicas e sua relação com o retardo do diagnóstico, no município de Foz do Iguaçu. 3. METODOLOGIA Estudo descritivo de casos, utilizando – se dados quantitativos colhidos por meio de entrevistas com pacientes em tratamento da TB. Realizaram-se na região Sul do país, no município de Foz do Iguaçu – PR. O instrumento de coleta de dados dos doentes (questionário) de TB inclui perguntas semi-estruturadas sobre as possíveis causas de retardo de diagnóstico por parte do doente e do serviço de saúde. Foz do Iguaçu se localiza ao oeste do estado do Paraná, tem uma população de 319.189 mil habitantes segundo dados oferecidos pelo IBGE, têm um grande fluxo de pessoas por conta do turismo, e faz fronteira com Cidade do Leste no Paraguai e Porto Iguaçu na Argentina. A pesquisa foi realizada com pessoas já diagnosticadas por tuberculose no município de Foz do Iguaçu-PR, que estavam em tratamento, com mais de 18 anos, excluindo as pessoas em regime prisional, residente no município, totalizando 101 usuários dos serviços de saúde. Os dados foram coletados de fontes primárias (entrevistas com os doentes de TB). O instrumento de coleta de dados apresentou questões que buscaram identificar aspectos relacionados ao retardo do diagnóstico. Para proceder à coleta de dados foram utilizados roteiros explicativos sobre a escala de respostas do questionário direcionado ao entrevistado. A coleta de dados foi realizada no Ambulatório de TB onde se encontrava o Programa Municipal de Controle da Tuberculose e, ainda no domicilio do doente. As entrevistas foram realizadas durante três meses, no período de dezembro 2009 à Fevereiro de 2010. Para a análise dos dados utilizou-se a técnica de estatística descritiva (análise de freqüência), medidas de posição (mediana e intervalos interquartis) para verificar o tempo entre o início dos sinais e sintomas da doença e primeira procura na tentativa de diagnóstico. Os dados foram digitados e analisados com o software Statistic 9.0 Stat/Soft. A avaliação do retardo ao diagnóstico foi representada por indicadores organizacionais e variáveis categóricas que identificaram as características sóciodemográficas e clínicas dos doentes e o local de diagnóstico. Um índice composto foi determinado para o referido grupo de indicadores utilizando a somatória de todas as respostas de todos os doentes entrevistados do grupo e dividido pelo total de respondentes. Cada entrevistado somente participou da pesquisa mediante a aceitação e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo garantido o anonimato dos sujeitos participantes, assim como a sua autonomia, permitindo que se retirasse do estudo se assim o desejasse. Desta forma, atendeu-se à Resolução 196/96 – CNS – Ministério da Saúde e o projeto foi submetido ao Comitê de Ética da UNIOESTE e aprovado, cujo Protocolo é: 26144/2008. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Caracterização da População de Estudo O estudo nos permitiu realizar a caracterização dos tuberculosos de Foz do Iguaçu-PR através de questões sócio-demográficas. Sendo assim, dos101 doentes, 66 (65%) eram homens e 35 (35%) mulheres. Isso demonstra a importância de nos voltarmos ao cuidado aos homens em nosso município e, em nosso país, principalmente no que se refere à educação em saúde e a implantação do programa de Saúde do Homem, o que vem sendo veiculado pela mídia e pelo Ministério de Saúde no último ano. Quando analisada a variável “raça/cor” em Foz do Iguaçu, o resultado foi o seguinte, 46 brancos (45,5%), 11 negros (10,9%), 40 pardos (39,6%), 2 amarelos (2%) e 2 indígenas (2%). Houve predomínio dos doentes com ensino fundamental incompleto 41(40,6%) pessoas contrapondo-se a 5,0% sem nenhuma escolaridade formal. Quanto à variável “situação empregatícia” os doentes de tuberculose de Foz do Iguaçu referiram: 35 pessoas (34,7%) estavam desempregadas no momento, 41 pessoas (40,6%) estavam empregadas ou eram autônomos, 8 pessoas (7,9%) eram aposentados e 17 pessoas (16,8%), se enquadraram na resposta “outros” o qual englobava “do lar”, “estudante”, “afastado” entre outros. Dos 101 doentes de Foz do Iguaçu, tivemos 4 sem rendimentos (3%), 51 com renda familiar de até 2 salários mínimos (50,4%), 37 pessoas com 2 a 5 salários mínimos (36.6%), 6 pessoas que tinha renda familiar de 5 a 10 salários mínimos (5,9%) e ainda 3 pessoas não souberam informar correspondendo a 2,9%. Ao caracterizarmos essa população quanto às condições sócio demográficas verificamos que os doentes de Tuberculose além de apresentarem baixa escolaridade e baixa renda, em sua maioria, têm uma característica em comum 99,0% moram em área urbana e apenas 1 (1%) reside em instituição asilar, havendo o predomínio da religião católica (60,4%). 4.2 Variáveis clínicas do doente de Tuberculose e sua relação ao retardo para procura do Serviço de Saúde. As variáveis clínicas foram analisadas separadamente e cruzadas com o tempo que levou desde o inicio dos sintomas até a data em que o paciente procurou o serviço de saúde (SS). O questionário foi aplicado a 101 doentes e algumas variáveis foram compiladas de forma que a resposta se daria em “sim” e “não”. Na Tabela 1 esses dados são apresentados. Tabela 1: Variáveis clínicas atribuídas ao doente relativas à TB e o tempo decorrido entre o início dos sinais e sintomas da doença e a primeira procura por um serviço de saúde. Foz do Iguaçu, 2009. Tempo entre o inicio dos sinais e sintomas até a procura pelo primeiro SS Variável Percentil Percentil n % Mediana 25 75 Os sinais e sintomas no início do tratamento eram fortes Não Sim Forma clínica da TB Pulmonar Extra pulmonar Pulmonar+extra pulmonar Tipo de caso TB Caso novo Recidiva Tratamento pós abandono Co-infecção pelo HIV Não Sim Referiu pelo menos um sinal e sintoma clássico de TB Não Sim Via propaganda sobre TB antes de ficar doente Não Sim 25 76 24,75 75,24 21 21 07 10 60 60 84 16 1 83,16 15,84 0,99 30 15 90 10 09 90 83 20 90 88 4 9 87,12 3,96 8,91 20 75 60 07 40 15 60 135 90 88 13 87,12 12,87 23 15 10 07 60 30 5 96 4,95 95,04 14 23 10 10 15 60 26 75 25,74 74,25 30 20 10 10 90 60 Sinais e Sintomas Ao serem questionados sobre “Se os sinais e sintomas do inicio do tratamento eram fortes?”, obteve-se a seguinte resposta: 25 pessoas (24,75%) optaram pela resposta “não”, e 76 doentes, representados por 75,24% disseram que “sim”. Neste caso, a mediana de atraso para a procura ao serviço de saúde foi de 21 dias, tanto quando a resposta foi “sim, quanto “não”. Tanto na TB quanto em qualquer outra doença, o esperado é que quanto mais forte forem os sintomas, menos tempo o individuo demore para procurar o SS. Sendo assim, o nosso estudo mostra que esta tendência não se aplicou a Foz do Iguaçu, pois o fato de o paciente ter sinais e sintomas fortes não interferiu no tempo de atraso para a procura ao SS. Formas Clínicas Ao verificar as formas clínicas de manifestação de Tuberculose entre a população de estudo de Foz do Iguaçu verificou-se alguma semelhança com outros estudos. Em Manaus, segundo Farias (2007), os doentes foram divididos segundo a forma clínica da tuberculose: 1230 pessoas (77,8%), apresentavam a forma pulmonar da doença, 286 doentes (18,1%) apresentaram a forma extra-pulmonar de TB e 64 (4,1%) apresentava as formas tanto pulmonar quanto extra-pulmonar da doença. Em Belo Horizonte/MG segundo o estudo de Paixão (2005), dos 178 doentes analisados 76,4% possuíam a forma clínica pulmonar, 19,1% apresentavam a forma clínica extrapulmonar e o restante apresentava tanto pulmonar quanto extrapulmonar. A variável “qual a forma clínica?” foi apurada em Foz do Iguaçu da mesma maneira que em Manaus, foi respondida através da análise do prontuário onde foi levado em conta o diagnóstico médico. As respostas disponíveis eram “Pulmonar”, “Extra-Pulmonar” e “Pulmonar + Extra-Pulmonar”. Neste caso, 84 pessoas, o que corresponde a 83,16% apresentavam Tuberculose Pulmonar, as quais demoraram 30 dias (mediana) para procurar o serviço de saúde. Outras 16 pessoas representadas por 15,84% apresentaram Tuberculose Extra-Pulmonar, demorando 15 dias (mediana) até procurar o SS e apenas 1 pessoa, o que corresponde a 0,99% apresentava tanto Tuberculose Pulmonar quanto Extra-Pulmonar, esta demorou 90 dias para a procura do SS. Neste caso, a hipótese de que os doentes pulmonares demoram menos para procurar o SS, não foi confirmada. Por serem sintomas mais agudos, a tendência é de que os sintomáticos respiratórios procurem antes o Serviço de Saúde. Assim outra hipótese é levantada, tendo em vista que a TB Pleural é a forma mais comum de TB extra pulmonar, e que esta é uma forma que traz alguns sintomas parecidos com a TB pulmonar, e se manifestam de forma aguda, pode ser que a maioria dos casos seja desta forma clínica. Tipo de Caso Farias (2007), mostrou no estudo feito em Manaus (AM) uma divisão dos pacientes quanto ao tipo de caso, dividindo-os em três grupos, “caso novo”, “recidiva e tratamento pós abandono” e “transferência”. Sendo assim, 1362 pessoas (86,2%), se enquadrou no grupo “caso novo”, 138 doentes (8,7%) eram recidiva ou tratamento pós abandono e 80 pessoas (5,1%) eram “transferência”. Em se tratando de Foz do Iguaçu houve também uma investigação quanto ao tipo de caso como uma variável específica deste estudo. O “Tipo de caso” foi analisado por meio da verificação dos prontuários dos pacientes sujeitos da pesquisa. Visou apurar se o tratamento realizado era um “caso novo”, “recidiva” (reincidência de TB após cura no primeiro tratamento) e “tratamento após abandono”. Os dados demonstraram que: Casos novos foram majoritários, com 88 pessoas, o que representava 87,12%, que demoraram 20 dias (mediana) para procurar o SS. Os que realizavam o tratamento pela segunda vez, portanto “recidiva”, foram 4 pessoas correspondendo a 3,96% Neste caso, especificamente a demora para a procura pelo SS foi maior do que os que eram “caso novo”, sendo 75 dias (mediana), não sendo assim um resultado lógico já que é levado em conta que os sujeitos denominados “recidiva” sabem dos sintomas e onde tratar. A última opção para esta variável pôde verificar quantas pessoas estavam em tratamento pós abandono, o resultado foi de 9 pessoas que percentualmente era 8,91. Também com o tempo para a procura maior, a mediana foi de 60 dias. Levando em conta que os pacientes que já receberam tratamento (recidiva e pós abandono) sabiam onde procurar o serviço de saúde, sinais e sintomas da doença, a tendência é que procurem mais rápido o serviço da saúde do que os que nunca tiveram contato com a doença (caso novo), mas como visto não foi o que apontou o estudo, sendo assim, podemos atribuir essa demora das 4 pessoas recidivas e das 9 pessoas do tratamento pós abandono, às possíveis dificuldades encontradas ao longo do tratamento, tais como, ingestão de medicamentos supervisionado, dificuldade de locomoção para o tratamento dentre outros, fazendo assim com que o paciente adie a procura pelo serviço de saúde e assim o tratamento, procurando-o apenas quando os sintomas se agravam. Co-infecção HIV/TB No estudo feito por Farias (2007) em Manaus (AM), em relação à co-infecção de TB/HIV, 142 doentes (11,3%) estão co-infectados, mas aponta que 1116 (88,7%) dos doentes de TB não estão infectados com HIV. Paixão (2005) ao desenvolver uma pesquisa sobre TB traz que dos 178 casos estudados, apenas 41% teve registros sobre a presença de co-infecção, destes 12,9% tinham o diagnóstico de HIV, portanto um co-infectado. Silveira, Adorno e Fontana (2007) trazem em seu estudo realizado em Bagé/RS que naquela cidade a co-infecção de TB/HIV é mínima, dos 131 participantes, foi constatado que apenas um (0,8%) era um co-infectado, levando em conta que 16 destas pessoas não foram apurados a co-infecção. Em nosso estudo, a variável que analisou a co-infecção por HIV também foi respondida por meio da análise de prontuários, sendo que 88 pessoas correspondendo 87,12% foram incluídas na resposta “Não”, estes indivíduos demoraram em 23 dias (mediana) para a procura ao SS. E o que correspondia a 12,87% (13 pessoas) eram coinfectados por HIV, sendo então incluídos na resposta “Sim”, e demoraram 15 dias (mediana) para procurar o primeiro SS. No caso da co-infecção HIV/TB, a hipótese foi correspondida, pois os pacientes imunodeprimidos demoraram menos tempo para procurar o SS. A tendência de procurarem antes o SS, é explicada pela maior evolução dos sintomas, e também pelas informações possuídas pelo paciente soropositivo e em tratamento sobre o agravo de doenças no caso de HIV. Sintomas clássicos de TB. Uma importante variável analisada, onde se puderam apurar se os doentes sentiam os sintomas clássicos da doença foi “referiu ao menos um sintoma clássico de TB?”. Neste caso a minoria respondeu “não”, 5 pessoas correspondendo a 4,95%, estas pessoas demoraram 14 dias (mediana) para procurar o primeiro SS. As pessoas que referiram ao menos um sintoma, 96 pessoas (95,04%), demoraram mais tempo para procurar o SS, em média 23 dias. Neste caso, fica visível que ao contrário da tendência, as pessoas que sentiam ao menos um sintoma clássico demoram mais tempo para procurar o SS do que os que não citaram nenhum sintoma, portanto teoricamente não teriam motivos para suspeitar de TB. Assim não é encontrado nenhum motivo para que ocorra este evento, tendo em vista de que o fato de ter os sintomas, é um dos principais colaborativos para a busca precoce do SS. Ruffino-Netto (1986) traz em seu estudo realizado com 50 indivíduos tuberculosos, onde se apurou a sintomatologia, que os sintomas que os pacientes referiram sentir antes de ficarem doentes foram: tosse (88%), febre (86%), sudorese noturna (74%), expectoração (68%) emagrecimento (66%), dispnéia (56%), dor torácica (50%) e Hemoptise (32%). Informação da tuberculose por meio da mídia escrita ou falada. A ultima variável especifica analisada foi “via propaganda de TB antes de ficar doente?”. Sendo que 26 pessoas optaram por responder “não”, estas tiveram um tempo de demora para a procura pelo SS de 30 dias (mediana) a partir do inicio dos primeiros sintomas. Os que responderam que viam propagandas antes de ficar doente, portanto se enquadrando na resposta “sim”, foram 75 pessoas que correspondia a 74,25%, estes tiveram um tempo de 20 dias (mediana) para procurar o SS. Assim mostra-se a importância da mídia em torno da tuberculose, os dados de Foz do Iguaçu mostram que as pessoas que viam propagandas demoraram menos tempo para procurar o SS. Lembrando que 96 foi o numero de pessoas que tinham ao menos um sinal e sintoma clássico, pode ser que a maioria delas obteve esta informação através de propagandas, já que nos anúncios são enfatizados principalmente os sintomas, e podemos dizer que possivelmente das 96 pessoas que referiram ter ao menos um sintoma, 75 assistiam propagandas. A mídia e educação em saúde têm colaborado para a divulgação de dados de algumas doenças emergentes e, em especial da tuberculose e iniciativas têm surgido para divulgar os sinais e sintomas específicos e para promover uma aproximação da população à medidas de promoção a saúde (NEVES, ROLLA, SOUZA, 2010). Além disso, em relação à divulgação da tuberculose acredita-se que a educação em saúde entre escolares é de fundamental importância para essa divulgação. Ressalta-se também a utilização de recursos junto a Estratégia de Saúde da Família para identificar os sintomáticos respiratórios (SR) junto aos domicílios. Na área de saúde algumas experiências precisam ser relatadas, assim como o estudo de Farias e Sousa (2008) que apontam a mídia como um importante veículo para a circulação de informações que podem ajudar na área da saúde, como por exemplo as doações de órgãos que cada vez mais dependem da ajuda de propagandas para elevar o numero de doadores. Estes autores relatam que em Sorocaba-SP junto ao Banco de Olhos de Sorocaba existe uma campanha incessante para a doação de córneas já há algum tempo. Os resultados são significantes, das 260 córneas doadas em 1984, houve um aumento de quase 1000%, após 20 anos o numero subiu para 2.778 doações de córneas. De acordo com Lyra Jr., et al. (2010), a mídia tem um papel crucial para a venda de qualquer produto, e com os fármacos não é diferente. Em uma pesquisa feita com 499 idosos, 17,8% admitiram tomar ao menos um tipo de medicamento por influencia de propagandas. No caso dos medicamentos, a mídia não age somente nos consumidores, ela mostra sua influencia também junto aos que prescrevem (médicos). Desta forma, considera-se que as ações junto a mídia, quer seja televisiva, ou por meio de jornais ou mesmo folders junto à população, deve ser uma constante em nosso país e no nosso município, para que haja maior adesão ao tratamento, bem como diminuição do retardo à procura do Serviço de Saúde. 5. CONCLUSÃO Ao analisar os dados levantados por este estudo, é possível ter uma visão privilegiada sobre a situação da Tuberculose na cidade de Foz do Iguaçu-PR. O doente foi o principal foco nessa pesquisa, a qual visou apurar o quanto o paciente interfere na questão do atraso no diagnóstico da doença. No decorrer desse estudo procurou-se verificar as variáveis clinicas comparando-as com o tempo em que o paciente demorou a procurar o Serviço de Saúde, ressaltando-se que a partir desse momento a responsabilidade pelo diagnostico é única do próprio SS. De um modo geral, as variáveis sócio-demográficas atenderam as expectativas, e os dados mostraram-se semelhantes ao serem comparados com outras pesquisas, como por exemplo, apontando para o acometimento de tuberculose em maior número no sexo masculino (65,3%) em comparação com o sexo feminino (34,7%) e ainda atingindo grande parcela da população menos favorecida no que se refere ao acesso à educação e renda familiar inadequada. Quanto às variáveis especificas, deparamo-nos então com fatos não esperados. Os pacientes que referiram ter sintomas fortes no inicio, não tiveram um tempo de demora para procurar o SS diferente dos que referiram não ter sintomas fortes. Os doentes com a forma extra pulmonar (15,84%) demoraram menos tempo do que os pulmonares (83,16%) a procurar o SS. Os pacientes que se enquadraram no tipo de caso “recidiva” e “tratamento pós abandono” e que realizavam o tratamento pela segunda vez, demoraram mais tempo para a procura ao SS do que os pacientes que era “caso novo”. Outro fato foi a de que os doentes que referiram ter ao menos um sintoma clássico da doença, demoraram mais tempo para procurar o SS do que os que não tinham nenhum sintoma. Houve também as variáveis que atenderam as expectativas. Os pacientes com co-infecção TB/HIV demoraram menos tempo para procurar ajuda profissional, e os pacientes que referiram terem visto propagandas antes de ficar doente, também tiveram um tempo menor de atraso comparando aos que não viram propagandas. Podemos afirmar então que o doente não esta tendo um papel decisivo no grande atraso no diagnostico constatado na cidade, e que talvez não seja o maior culpado por essa demora. Há alguns fatores que podem ser prioridades na continuidade de averiguação deste atraso, tais como, eficiência por parte dos órgãos formadores (instituições de ensino superior), o conhecimento dos profissionais que estão diretamente ligados ao diagnóstico e a organização do serviço. . Um aspecto que considero de suma importância é o preparo dos profissionais de saúde, especificamente o Enfermeiro para atender e encaminhar os sintomáticos respiratórios de forma adequada e urgente. 7. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual Técnico para o controle da Tuberculose. Cadernos de atenção básica. 6. ed. Brasília, DF, 2002a. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Princípios e diretrizes para gestão do trabalho no SUS (NOB/RH-SUS). 2. ed. Brasília, DF, 2002b. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica / Ministério da Saúde. 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