Experiência III – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 Experiência III Obtenção Experimental dos Parâmetros do Circuito Equivalente do Motor de Indução Monofásico – Ensaio com o Rotor Travado e Ensaio a Vazio 1. Introdução Um motor monofásico, como o nome indica, é projetado para operar a partir de uma fonte monofásica de tensão. Usualmente existem enrolamentos bifásicos no estator, espacialmente dispostos a 90 graus um do outro como no caso polifásico, mas ambos conectados à mesma fonte de potência monofásica. Se as impedâncias das duas fases possuem ângulos diferentes, as correntes estarão defasadas e um conjugado é desenvolvido para partir e acionar o motor. Uma vez que o motor começa a girar, a freqüência apresentada ao rotor pelo campo de seqüência positiva (mesma direção de rotação do rotor) é sf (s é o escorregamento e f é a freqüência), enquanto que a freqüência apresentada pelo campo de seqüência negativa é ( 2 − s) f , que é, portanto, superior à freqüência aplicada. As diferentes impedâncias originadas a partir destas diferentes freqüências originam campos magnéticos de diferentes amplitudes nas duas direções de maneira que existe torque mesmo sem um enrolamento auxiliar. No entanto, na partida, as freqüências originadas pela seqüência positiva e negativa são iguais ( s = 2 − s = 1) e assim, na ausência de um enrolamento estatórico auxiliar não haverá torque líquido [1]. A Fig. 1 mostra um dos motores de indução monofásicos de fabricação WEG que são ensaiados para a obtenção dos parâmetros de seus circuitos elétricos equivalentes. Fig. 1. Motor de indução monofásico de fabricação WEG. Experiência III – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 Em motores de indução monofásicos do tipo capacitor de partida como o mostrado acima, o torque de partida é obtido pelo uso de um capacitor em série com o enrolamento auxiliar. Este enrolamento é em seguida desconectado quando o motor atinge a velocidade de trabalho (ou algumas vezes antes dela ser atingida) geralmente através de uma chave centrífuga. A Fig. 2 mostra as curvas de correntes nos enrolamentos principal e auxiliar, de velocidade, de torque eletromagnético e de torque versus velocidade durante a partida a vazio de um motor de indução monofásico de ½ hp [2], [3]. Observa-se que nestes resultados o enrolamento auxiliar foi desconectado quando foram atingidos 75% da velocidade de regime. Nas curvas de torque e velocidade pode-se verificar a presença da componente de seqüência negativa que impõe oscilações correspondentes ao dobro da freqüência de alimentação. Fig. 2. Curvas de torque versus velocidade, velocidade do rotor, corrente no enrolamento auxiliar e no enrolamento principal e torque eletromagnético para um motor de indução monofásico com capacitor de partida [2], [3]. Com o objetivo de ilustrar de modo qualitativo a diferença no funcionamento do motor monofásico em relação ao trifásico mostra-se, na Fig. 3, as curvas de torque eletromagnético em função do tempo para o motor de ½ hp e a de um motor de indução trifásico de 1 hp, ambos operando a vazio [3]. Pode-se verificar destes resultados que, em regime permanente o torque do motor de indução trifásico, contrariamente a do motor monofásico, é constante o que explica o menor ruído gerado pela máquina trifásica. Experiência III – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 (a) (b) Fig. 3. Curvas de torque eletromagnético em função do tempo para o motor de indução monofásico de ½ hp (a) e para o motor trifásico de 1 hp (b). Experiência III – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 Para a análise do motor monofásico alimentado por uma fonte de tensão monofásica senoidal e funcionando em regime permanente utiliza-se o circuito elétrico equivalente do motor mostrado na Fig. 4 onde é possível verificar-se a presença de elementos relativos aos campos de seqüência positiva e negativa [4]. Neste esquema r1 e x1 são, respectivamente, a resistência e a reatância de dispersão do estator. Já r2' e x2' representam a resistência e a reatância do rotor, ambas referidas ao estator e xm é a reatância magnetizante. Fig. 4. Circuito elétrico equivalente do motor de indução monofásico em regime permanente e alimentado por tensão senoidal. Quanto às perdas no ferro, elas são devidas à três componentes que são as perdas por histerese, as perdas devidas às correntes induzidas (correntes de Foucault) e as perdas excedentes ou anômalas. Assim, as perdas totais podem ser escritas como abaixo para o caso de um dispositivo eletromagnético alimentado por tensões senoidais de freqüência f [5] α 2 2 1.5 1.5 PFe = C H Bm f + C F Bm f + C E Bm f [W / m 3 ] (1) onde C H , α , C F e C E são parâmetros de cada material e Bm é o valor máximo da densidade de fluxo (indução) magnética. Em termos de representação em um circuito elétrico esta densidade de perdas ativas é representada por uma resistência elétrica. Para a introdução da resistência relativa às perdas no ferro no circuito equivalente deve-se observar que em funcionamento normal o escorregamento s é muito pequeno fazendo que r2 ' s seja praticamente um circuito aberto. Com isto a corrente de Experiência III – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 ~ ~ magnetização Iφ 1 >> Iφ 2 pois na parte correspondente à seqüência negativa a impedância r' x' x série de 2 + j 2 é, por motivos construtivos, muito inferior à j m . 4 2 2 ~ 1 xm ~ ~ Em virtude disto φ m1 = Iφ 1 , o fluxo gerado por Iφ1 (e a indução magnética 2πf 2 ~ 1 xm ~ correspondente) é muito maior do que φ m2 = Iφ 2 , o fluxo gerado pela componente 2πf 2 de seqüência negativa fazendo com que seja basicamente o primeiro fluxo o responsável pelas perdas magnéticas. Por este motivo a resistência de perdas no ferro é associada ao circuito relativo à componente de seqüência positivo somente, como mostrado na Fig. 5 a seguir. A sua inserção no circuito em paralelo com a reatância magnetizante não afetará o ~ raciocínio acima em relação à geração do fluxo φm1 pois r f é numericamente muito superior à xm . Fig. 5. Circuito elétrico equivalente do motor de indução monofásico em regime permanente e alimentado por tensão senoidal, incluindo as perdas magnéticas. Experimentalmente, o levantamento dos parâmetros do circuito equivalente do motor de indução monofásico é feito, como para as máquinas de indução trifásicas, através dos ensaios de rotor travado e à vazio do motor. 2. Ensaio a Rotor Travado Com o rotor travado o escorregamento é unitário ( s = 1) . Nesta condição pode-se escrever que Experiência III – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 x rf j m ' ' 2 >> r2 + j x2 x 2 2 rf + j m 2 (2) e também que x j m >> 2 r2' x' + j 2 2 2 (3) Nestas condições, o circuito equivalente do motor de indução monofásico ficará como abaixo onde também estão indicados os instrumentos de medição necessários e que são um voltímetro, um amperímetro e um wattímetro que fornecerão, respectivamente, as leituras Vrt , I rt e Prt . Fig. 6. Circuito equivalente do motor de indução monofásico com o rotor travado. Assumindo que r1 = r2' pode-se, a partir das leituras do wattímetro e do amperímetro, deduzir seus valores calculando P rrt = r1 + r2' = rt I rt2 (4) Conhecendo-se a resistência rrt e com as medições de Vrt e I rt calculam-se as reatâncias x1 e x2' supondo que elas também sejam iguais. O procedimento é o seguinte: Experiência III – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 V ~ Z rt = rt I rt (5) xrt = x1 + x2' = ~ Z rt − rrt (6) 3. Ensaio à Vazio No ensaio à vazio o escorregamento é suposto nulo ( s = 0) e assim a impedância r2' 2 s = ∞ . Além disto, quando ( s = 0) pode-se escrever que x j m >> 2 r2' x' + j 2 4 2 (7) e o circuito equivalente da Fig. 5 se transforma no mostrado a seguir onde também estão indicados os instrumentos de medição necessários e que são um voltímetro, um amperímetro e um wattímetro que fornecerão, respectivamente, as leituras V0 , I 0 e P0 . Fig. 7. Circuito equivalente do motor de indução monofásico funcionando à vazio. Para a determinação dos parâmetros ainda desconhecidos r f e xm calcula-se a ~ tensão Vab entre os pontos a e b mostrados na Fig. 7. Para tanto é necessário determinar-se o ângulo do fasor corrente a partir das medições efetuadas: θ = arccos P0 V0 I 0 (8) Experiência III – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 ~ e assim determinar-se Vab conhecendo-se os parâmetros determinados no ensaio a rotor travado e os fasores tensão e corrente: ~ ~ ⎡⎛ Vab = V0 − ⎢⎜ r1 + ⎢⎣⎜⎝ r2' ⎞⎟ + 4 ⎟⎠ ⎛ j ⎜ x1 + ⎜ ⎝ x2' ⎞⎟⎤ ~ ~ ⎥ I 0 e j ( −θ ) = ℜeVab + jℑmVab 2 ⎟⎠⎥ ⎦ (9) ~ ~ onde ℜ eVab e ℑmVab denotam, respectivamente, a parte real e a parte imaginária do fasor ~ Vab . ~ ~ Conhecendo-se Vab pode-se calcular a impedância Z ab entre os pontos a e b e explicitar suas componentes real e imaginária ~ Vab ~ ~ ~ Z ab = ~ = ℜe Z ab + jℑm Z ab I0 (10) x Esta mesma impedância pode ser escrita a partir de r f e de j m : 2 1 1 1 1 2 + = − j ~ = x rf xm Z ab r f j m 2 (11) ~ Por outro lado, explicitando 1 / Z ab em suas partes real e imaginária teremos: ~ ~ ℜe Z ab − jℑm Z ab 1 ~ ~ = 2~ 2 ~ ℜe Z ab + jℑm Z ab ℜe Z ab + ℑm Z ab (12) Finalmente, igualando-se os termos reais e imaginários de (11) e (12) pode-se determinar r f e xm como segue ~ 2 ~ ℜe2 Z ab + ℑm Z ab rf = ~ ℜe Z ab ~ 2 ~ ℜe2 Z ab + ℑm Z ab xm = 2 ~ ℑm Z ab (13) (14) Experiência III – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 4. Procedimento experimental Efetuar as ligações conforme esquema a seguir. Os enrolamentos do estator do motor estarão ligados para a tensão 220 V. Notar que existe um interruptor na bancada que serve para ligar/desligar o enrolamento auxiliar. Fig. 8. Esquema de ligações 1) Ensaio a vazio a) Aplicar tensão nominal (220 V entre fase e neutro) através do varivolt com o enrolamento auxiliar ligado (coloque o interruptor na posição “fechado”). b) Deixar o rotor acelerar. c) Medir a potência ativa, a tensão (220 V) e a corrente a vazio, respectivamente P0 ,V0 e I 0 . d) Despreze as perdas por rotação. 2) Ensaio com rotor travado a) Abrir o interruptor de maneira a desligar o enrolamento auxiliar e assim bloquear o rotor. b) Aplicar tensão necessária para que circule a corrente nominal (7.3 A) nos enrolamentos do estator do motor. c) Medir a potência ativa, a tensão e a corrente a vazio (7.3 A), respectivamente Prt ,Vrt e I rt Experiência III – Lab. de Conv. Eletrom. de Energia B – Prof. N.SADOWSKI – GRUCAD/EEL/CTC/UFSC – 2005/2 3) Efetuar os cálculos para determinação dos parâmetros do circuito equivalente. Referências [1] R. H. Engelmann, W. H. Middendorf, Handbook of Electric Motors, Marcel Dekker, New York, 1995, ISBN 0-8247-8915-6. [2] N.Sadowski, Notas de Aula de EEL7201-Aspectos Construtivos e Análise de Máquinas Elétricas, Florianópolis, Maio de 2004. [3] André de B. Albuquerque, N.Sadowski, Programa Dinmaq, GRUCAD/UFSC. [4] V. del Toro, Electromechanical Devices for Energy Conversion and Control Systems, Prentice-Hall, Englewood Clifs, 1968. [5] J.P.A. Bastos, N.Sadowski, Electromagnetic Modeling by Finite Element Methods, Marcel Dekker, New York, 2003, ISBN: 0-8247-4269-9.