Apresentação oral A psicanálise no hospital: o que é possível frente à terminalidade? Patrícia Teixeira Pereira¹ 1. Psicóloga graduada pela Faculdade Machado Sobrinho. Palavras-chave: Hospital; Psicanálise; Paciente terminal; Sujeito paciente. N a contemporaneidade, o trabalho psicanalítico vem se ampliando para além dos consultórios, se apresentando em contextos diferentes, já que se pode entender que a psicanálise se engendra em uma função e não em um lugar, mas adaptando-se as condições e exigências da clínica atual. Sendo assim, este trabalho vem apresentar uma revisão bibliográfica pautada na prática hospitalar, dando relevância a possibilidade de intervenção com o paciente terminal, visto que este se encontra diante de um grande desamparo frente às limitações que lhes são impostas, como a possibilidade de morte. Para Ariès (1977) a morte é uma preocupação inerente à humanidade e que causa uma grande dificuldade de simbolização, já que só há notícia de sua existência através da experiência de finitude do outro, mas nunca a própria e, apesar de saber que haverá o dia de sua chegada, buscamos rechaçar essa ideia. Porém, há situações que se apresentam e desmascaram essa possibilidade de uma forma mais intensa, como por exemplo, a descoberta de uma doença grave e irreversível, trazendo proximidade ao término da vida. Através dessa descoberta, o paciente é enlaçado por sentimentos de angústia, uma vez que, torna-se perceptível a imprecisão que é o existir. Barros (2013) acredita que nessas circunstâncias o incerto se presentifica e o futuro torna-se ameaçador. Diante disso, o que pode a psicanálise contribuir? Segundo Moura (2003), é através da falta estrutural da humanidade que há subsídios para o trabalho, sempre havendo algo possível de ser construído e desejado. No percurso da vida, o adoecimento aparece como aquilo que reimprime a falta e a fragilidade do homem, e este busca refúgio nas ciências médicas com tratamento pela cura. Porém, em certas situações, as intervenções médicas curativas não são possíveis, deixando clara a realidade que caminha para o fim. Mas, diferente das ciências curativas, a experiência psicanalítica oferece um trabalho que elevará o paciente terminal (passivo à condição biológica de fim), à posição de sujeito, ou seja, resgatando a apropriação de sua existência e do seu desejo. A psicanálise partirá então, do momento onde há o império da falta, rumo a um tratamento que vá além do orgânico, sendo este, um trabalho que impulsiona o paciente ao desejo e a ressignificação da vida. A proposta da psicanálise neste contexto é propiciar condições que possibilite emergir saídas para ressignificar no sujeito sua incompletude, tornando-se sujeito paciente, e não mais paciente passivo à condição terminal de sua existência. Ela não propõe um trabalho a serviço da construção de uma harmonia, mas com a possibilidade de que o paciente consiga meios de lidar com a angústia. Sendo assim, é justamente na dificuldade que ela prima operar, partindo dessa realidade “cruel”, ou seja, faltante, para operar com o desejo naquilo que é possível. Nesse sentido, o que pode o psicanalista realizar é ouvir, acolher e ser cúmplice deste momento. Isso só é possível através da palavra, e esta por sua vez é a ferramenta fundamental para que se consiga dar borda a essa realidade sem ceder ao desespero. Para Castro-Arantes (2014), o importante é acompanhar o paciente e estar junto na aridez do que atravessa, é acompanha-lo no enfrentamento dessa condição de finitude, dando subsídios para que este descubra formas de suportar a angústia e encontrar saídas, podendo vivenciar sua terminalidade não tão sozinho, tendo alguém a quem endereçar sua dor. É importante que o psicanalista sustente espaço para que este paciente expresse e reconstrua sua existência, resgatando à vida, ainda que terminal. Talvez esteja assim, pois, toda a riqueza deste trabalho psicanalítico, tornando contornável a angústia diante da finitude, do desamparo diante da morte. Referências Ariès, P. (1977). História da morte no Ocidente: da Idade Média aos nossos dias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Barros, R. R. (2014). Redes e Laços: Impasses e Desafios. Cadernos de Psicologia.. Sofrimento psíquico do paciente oncológico: o que há de específico?. Cadernos de Psicologia, número 2. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Câncer. Castro-Arantes, J. M. (2014). Escuta do Sujeito. Sofrimento psíquico do paciente oncológico: o que há de específico?. Cadernos de Psicologia, número 2. (pp. 77-81). Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Câncer. Moura, G. (2003). Urgência Subjetiva e Tempo – O que é isto? Psicanálise e Hospital-3. Tempo e morte: da urgência ao ato analítico (pp. 17-22). Rio de Janeiro: Revinter.