1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM DEPARTAMENTO DE LETRAS TIPOS DE DISCURSO E RECURSOS LINGUÍSTICOS: análise comparativa entre português e espanhol NATAL - RN 2015 2 LUANA VITAL DOS SANTOS TIPOS DE DISCURSO E RECURSOS LINGUÍSTICOS: análise comparativa entre português e espanhol Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como requisito de conclusão do mestrado em Estudos da Linguagem. Orientador: Pinheiro. Natal - RN 2015 Prof. Dr. Clemilton Lopes 3 UFRN. Biblioteca Central Zila Mamede. Catalogação da Publicação na Fonte Santos, Luana Vital dos Santos. Tipos de discurso e recursos linguísticos: análise comparativa entre português e espanhol / Luana Vital dos Santos. – Natal, RN, 2015. 66 f. : il. Orientador: Prof. Dr. Clemilton Lopes Pinheiro. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem. 1. Gênero discursivo – Dissertação. 2. Produção textual – Dissertação. 3. Interacionismo sociodiscursivo – Dissertação. 4. Análise do discurso – Dissertação. I. Pinheiro, Clemilton Lopes. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 81’232 4 RESUMO O presente trabalho toma como objeto de estudo os tipos de discurso, umas das noções centrais do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD). Segundo o ISD, a linguagem assume um ponto central no desenvolvimento do ser humano e o texto é concebido como uma unidade comunicativa global que movimenta recursos linguísticos de determinada língua natural, adotando e adaptando determinado modelo textual (os gêneros textuais). Os tipos de discurso são definidos como segmentos, em número finito, que entram necessariamente na composição dos gêneros e, consequentemente, de cada texto empírico, nos quais semiotizam diferentes mundos discursivos particulares ou diferentes atitudes de locução. A identificação dos tipos de discurso é possível a partir das unidades linguísticas que neles ocorrem. Considerando essas noções, partimos da hipótese formulada por Miranda (2008) segundo a qual, de acordo com os gêneros, os tipos de discurso apresentam especificidades no plano da configuração do tipo linguístico, que, por sua vez, podem variar nas diferentes línguas naturais. Nosso objetivo é, portanto, detectar o tipo de discurso que predomina no gênero painel do leitor e depreender as unidades e mecanismos linguísticos que se associam ao tipo de discurso ou tipos de discurso predominantes, comparativamente em relação ao português e ao espanhol. O trabalho se caracteriza por sua natureza exploratória e pretende tratar a questão com vistas a torná-la mais explícita para a discussão de hipóteses. Para atingir esse objetivo, analisamos um corpus composto por 30 painéis de leitores, 15 extraídos do jornal El periódico de Catalunya, em língua espanhola, e 15 do jornal Folha de São Paulo, em língua portuguesa. Palavras-chave: Gênero textual; Interacionismo sociodiscursivo; Tipos de discurso 5 ABSTRACT The object of study in this research are the types of discourse from the theoretical and epistemological framework of the socio-discursive interactionism (ISD). According to ISD, language has a central point in the development of the human being and the text is designed as a global communicative unit that moves linguistic resources of a natural language, adopting and adapting a textual composition (the text genres). The types of discourse are defined as segments in finite number, which necessarily enter in the composition of genres and consequently in each empirical text. They semiotize particular different discursive worlds or different attitudes of expression. Identifying the types of discourse is possible from the language units that occur in them. Considering these notions, we start from the assumption made by Miranda (2008) that, according to genres, types of discourse have specificities in the level of the linguistic type, which, in turn, may vary in different natural languages. Our goal is therefore to describe the kind of discourse that dominates the genre reader panel and inferred units and linguistic mechanisms that are associated to the type of discourse or types of discourse dominants. We also intend to relate the description of the type of discourse and language units associated with different natural languages: Portuguese and Spanish. The work is characterized by its exploratory nature and intends to address the issue in order to make it more explicit to discuss hypotheses. To achieve this goal, we analyze a corpus composed of 30 panels of readers, 15 extracted from the newspaper El periódico de Catalunya, in Spanish, and 15 of the newspaper Folha de São Paulo, in Portuguese. Key-words: Text genres; Socio-discursive Interactionism; Types of discourse 6 “Tenho o privilégio de não saber quase tudo, e isso explica o resto.” Manoel de Barros 7 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar à Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas. Aos meus familiares, em especial, aos meus pais Ana Lúcia e João Vital pelo esforço contínuo para me proporcionarem uma boa formação moral e acadêmica, e ao meu esposo Wellington Nouschangs pelo apoio e paciência em todas as horas. Aos meus companheiros de trabalho da escola estadual prof. Anísio Teixeira pelo incentivo e compreensão nos momentos necessários a reflexão, e aos amigos da EaD do IFRN pelas trocas de experiências e amizade. A todos os professores do mestrado que contribuíram na minha formação acadêmica. Um agradecimento especial ao meu orientador prof. Dr. Clemilton Lopes Pinheiro pela dedicação e apoio em todas as revisões e sugestões que foram fundamentais para a conclusão deste trabalho. Enfim, agradeço a todos que de alguma forma colaboraram e estiveram presentes nesta jornada. 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................09 2 PANORAMA TEÓRICO......................................................................................................11 2.1 Classificações e tipologias textuais.....................................................................................11 2.2 O ISD e os tipos de discurso...............................................................................................20 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..........................................................................25 4. ANÁLISE COMPARATIVA DE PAINÉIS DE LEITORES EM PORTUGUÊS E ESPANHOL..............................................................................................................................29 4.1. O contexto de produção.....................................................................................................29 4.2. O plano global do conteúdo temático................................................................................31 4.3. Os tipos de discurso e os recursos linguísticos..................................................................31 4.3.1. Análise dos painéis em português...................................................................................31 4.3.2. Análise dos painéis em espanhol....................................................................................45 4.3.3. Comparação entre português e espanhol.........................................................................63 5. CONCLUSÃO......................................................................................................................65 REFERÊNCIAS........................................................................................................................67 9 INTRODUÇÃO O interacionismo sociodiscursivo (ISD) é um quadro teórico-epistemológico que coloca a linguagem como o foco do desenvolvimento humano. Suas influências são percebidas não apenas nos estudos linguísticos, mas também nas diversas áreas do conhecimento. Dessa forma, o ISD, como afirma Bronckart (2009, p.10) “não é uma corrente propriamente linguística, nem uma corrente psicológica ou sociológica; ele quer ser visto como uma corrente da ciência do humano”. Nesse sentido, insere-se como uma variante do interacionismo social, corrente das ciências humano-sociais que sustenta que o desenvolvimento humano acontece através de dois processos inseparáveis, o processo de socialização e individuação. O ISD também coloca as questões da educação como ponto central das ciências humanas e critica a divisão dessas ciências em várias disciplinas. Na busca de entender como as práticas de linguagem situadas afetam o desenvolvimento humano, Bronckart (2009) organiza um modelo de análise dos textos chamado de modelo da arquitetura textual, dividido em três níveis. O nível mais profundo é o da infraestrutura textual que compreende o plano geral do conteúdo temático e os tipos de discurso. O segundo nível é o da textualização em que se encontram os mecanismos de coesão e coerência textual. O nível mais superficial é da responsabilidade enunciativa. O texto é concebido como “uma unidade comunicativa” que movimenta recursos linguísticos de determinada língua natural, levando em consideração os modelos textuais (gêneros) encontrados na memória coletiva da sua comunidade linguística (arquitexto). O agente/produtor do texto, ao encontrar-se em uma determinada situação de ação linguageira, escolherá o modelo (gênero de texto) que acredita ser o mais adequado a situação, adaptandoo aos seus objetivos comunicativos. Outra característica dos gêneros de texto é o seu movimento em mundos discursivos. Esses mundos discursivos se materializam no texto como os tipos de discurso, no nível mais profundo do modelo de arquitetura textual, entrando necessariamente na constituição dos gêneros e de todo texto empírico. Logo, quais seriam as relações possíveis entre tipos de discurso e gêneros? Os gêneros possuem tipos de discurso que lhes são peculiares? E os tipos linguísticos são determinados pelo gênero de texto, pelo tipo de discurso, ou pelo sistema da língua natural? Este trabalho se situa no campo desses questionamentos. Nosso objeto de estudos são os tipos de discurso, e partimos da hipótese de que, de acordo com o gênero de texto, os tipos de discurso podem apresentar especificidades no plano da configuração dos recursos 10 linguísticos relativamente a uma língua natural. Nosso objetivo é, portanto, identificar os tipos de discurso e suas respectivas unidades linguísticas em duas línguas naturais distintas. Nesse último caso, fazemos então, uma análise comparativa entre o português e o espanhol. Dadas às inúmeras possibilidades de escolha de gêneros textuais para a análise, optamos pelo gênero painel do leitor. Identificamos, então, os tipos de discurso nos painéis das duas línguas e, em seguida, comparamos os tipos linguísticos, estabelecendo a relação entre eles e os tipos de linguísticos. A pesquisa está estruturada em três capítulos. No primeiro, faremos uma exposição das diferentes classificações e tipologias textuais e discutiremos a noção de tipos de discurso a partir do quadro do ISD. O segundo capítulo apresenta os procedimentos metodológicos e o último contém a análise comparativa dos painéis em português e espanhol. 11 2 PANORAMA TEÓRICO 2.1 Classificações e tipologias textuais Um ponto de partida essencial para nosso trabalho são as diferenças em relação às classificações e tipificações dos textos. Essas diferenças de ordem conceitual se refletem em nomenclaturas diversas: gêneros, tipos, espécies ou formas. Segundo Coutinho (2003, p.57) “qualquer reflexão de ordem tipológica supõe naturalmente o conhecimento prévio dos objetos a tipologizar”. Sendo assim, este capítulo se propõe a discutir a noção de tipos textuais, gêneros de texto ou discurso e tipos de discurso, correntes na literatura mais representativa sobre o tema. Nosso objetivo é apontar as diferentes visões, relacionando pontos de divergências e convergências. A análise textual dos discursos (ATD), proposta por Adam (2008, 2011), posiciona a Linguística Textual como um subdomínio da análise do discurso. Adam reconhece a necessidade de expandir os limites da linguística para além da frase, “ao mesmo tempo em que pretende trazer respostas à demanda de proposições concretas sobre a análise de textos” (2008, p.25). Assim, existem níveis de análise do objeto texto e níveis de análise do objeto discurso, Adam (2008, p.25): O texto é, certamente, um objeto empírico tão complexo que sua descrição poderia justificar o recurso a diferentes teorias, mas é de uma teoria desse objeto e de suas relações com o domínio mais vasto do discurso em geral que temos necessidade, para dar aos empréstimos eventuais de conceitos das diferentes ciências da linguagem, um novo quadro e uma indispensável coerência. É importante ressaltar que, quando Adam localiza a linguística textual no campo da análise do discurso, não se trata da análise do discurso da escola francesa, mas daquela delineada por Dominique Maingueneau. De acordo com Maingueneau (2006, p.02), a Análise do discurso (AD) consiste em um “espaço de pleno direito dentro das ciências humanas e sociais, um conjunto de abordagens que pretende elaborar os conceitos e os métodos fundados sobre as propriedades empíricas das atividades discursivas”. No esquema de análise proposto por Adam, interessa-nos as noções de sequência textual (N5) e de gênero que aparece interligada entre os níveis textuais e discursivos. 12 Figura 1: Níveis ou planos da análise de discurso FONTE: (ADAM, 2011, p.61) Conforme Coutinho (2003, p.61) “na perspectiva de Adam, os tipos de texto correspondem, de forma explícita, a tipos de sequências”. As sequências são esquemas prototípicos transmitidos culturalmente, macroproposições que formam a estrutura composicional dos textos. Segundo Adam (2011, p. 205), “as macroproposições que entram na composição de uma sequência dependem de combinações pré-formatadas de proposições”. Essas combinações de natureza macrossemântica são memorizadas ao longo de nossa vida por meio da leitura e da escrita transformando-se nos esquemas base conhecidos por sequências narrativa, descritiva, argumentativa, explicativa e dialogal. Adam explica que a injunção não constitui uma sequência prototípica, pois, sua forma de textualização varia bastante em função dos gêneros. As sequências textuais são os constructos teóricos que permitem a análise dos textos empíricos, ou seja, reconhecemos e estruturamos nossa informação textual através das sequências. Dessa forma, Adam não apresenta uma teoria de classificação/tipificação textual, na realidade, ele expõe claramente que a “teoria das sequências foi elaborada como reação à excessiva generalidade das tipologias de texto” (2011, p.206). Os tipos de sequências baseiam-se na teoria do protótipo de Rosch, do início da década de 1970. As noções de protótipo, categoria e tipicalidade são também utilizadas pela ATD. As sequências prototípicas funcionam como pontos de referência representativos das categorias (narrativas, descritivas, argumentativas, etc.) e que, como admite o próprio Adam, raramente 13 serão encontradas nos textos concretos, mas que podem ser avaliadas numa escala de tipicalidade de melhores e piores exemplos de uma categoria. A sequência prototípica narrativa é marcada por uma sucessão de fatos, com uma problemática, chegando a um clímax, para passar a uma transformação, concluindo com uma avaliação final (a moral da história). Já a sequência prototípica descritiva é caracterizada por uma série de operações: operações de ancoragem definem o tema da sequência; operações de ordem aspectual dividem o todo em partes; operações de relacionamento delimitam o objeto no tempo e no espaço além de relacioná-lo com outros objetos; e operações de encadeamento constitui-se uma nova sequência. A sequência prototípica argumentativa caracteriza-se pela relação entre argumentos e conclusão e a sequência prototípica explicativa inicia com uma proposição, passa para uma problematização e conclui com a explicação. A sequência prototípica dialogal seria marcada pelas fases do diálogo, ou seja, abertura, troca e fecho. (Coutinho, 2003) Para Adam a hipótese da existência de “tipos de texto” se deve ao que ele aponta por efeito dominante. Este efeito dominante acontece quando o mesmo texto possui um número maior de sequências de um mesmo tipo ou pelo tipo de sequência que abre e fecha o texto. Logo, afirmar que “um texto pode ter uma dominante de um tipo ou de outro não tem nada a ver com a hipótese demasiadamente geral da existência dos tipos de textos” Adam (2011, p. 277). Em relação ao gênero, Adam coloca-o na fronteira entre o texto e o discurso. O gênero não constitui um nível de análise propriamente dito, porém está fortemente relacionado à formação discursiva. Adam argumenta que “toda ação de linguagem inscreve-se em um dado setor do espaço social, que deve ser pensado como uma formação discursiva, ou seja, como um lugar social associado a uma língua (socioleto) e a gêneros do discurso” (2008, p.63). A noção de formação discursiva para Adam corresponde a de Pêcheux (1990), conceito importante para a análise do discurso francesa. [As] formações discursivas [...] determinam o que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de um discurso público, de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa etc.) a partir de uma dada posição, em uma determinada conjuntura: o ponto essencial aqui é que não se trata apenas da natureza das palavras usadas, mas também (e sobretudo) das construções nas quais essas palavras se combinam, na medida em que elas determinam a significação que assumem essas palavras [...], as palavras mudam de sentido, segundo as posições defendidas por aqueles que as usam; [...] as palavras “mudam de sentido” passando de uma formação discursiva para a outra. (PÊCHEUX 1990 apud ADAM 2008, p.45). 14 O conceito de gêneros do discurso está vinculado aos estudos de Bakhtin (1992) que considera a linguagem humana como uma ação social responsável por determinar a produção dos enunciados que acontecem entre duas pessoas, por isso, dialógico. Nós produzimos enunciados nas diversas esferas da atividade humana, sempre com um propósito comunicativo e utilizando um determinado gênero. Os gêneros para Adam (2008, p.60) são discursivos, pois, se tratam de “práticas discursivas institucionalizadas”, ou seja, ocorrem no espaço da interação e regulados pelas formações discursivas de que fazem parte, sendo categoria de análise das ciências do discurso e não do texto. Por não ser seu foco de análise, Adam não se preocupa em fazer uma classificação dos gêneros, porém, utiliza-se dos conceitos de gêneros primários e secundários de Bakhtin para relacioná-los à teoria das sequências textuais. Os gêneros primários são mais simples e responsáveis pela criação dos gêneros secundários, logo os gêneros primários seriam correspondentes às sequências textuais prototípicas que formam os gêneros secundários mais complexos. Marcurshi (2005, 2008) preocupa-se com a tipologia textual. Para ele, a categoria tipo textual é um aspecto fundamental para a análise da natureza linguística dos gêneros, desconsiderando-se sua função social. Os tipos textuais são elementos fundamentais para a organização sequencial do conteúdo temático do texto. Marcurshi (2008) afirma que os tipos textuais são definidos por seus aspectos composicionais (tempos e modos verbais, presença ou ausências de articuladores textuais, aspecto, estilo, etc.) e abrangem as categorias que conhecemos como narração, descrição, argumentação, exposição e injunção. Ele esclarece que os tipos textuais são construções teóricas existentes nos textos, são modos textuais. Ainda nas palavras de Marcurshi (2008, p.154-155) “[...] O conjunto de categorias para designar tipos textuais é limitado e sem tendência a aumentar. Quando predomina um modo textual num dado texto concreto, dizemos que esse é um texto argumentativo ou narrativo, ou expositivo ou descritivo ou injuntivo”. Marcurshi classifica os gêneros como textuais, pois para Marcurshi (2005, p.29) os gêneros “são muito mais famílias de textos com uma série de semelhanças”. Os gêneros textuais são eventos linguísticos determinados pelas práticas sócio-discursivas, por isso, condicionados e refletores de uma determinada cultura em um determinado período de tempo. A variação cultural levaria, dessa maneira, a uma variação nos gêneros. Os gêneros textuais são os textos materializados do nosso cotidiano, formas relativamente estáveis que realizam linguisticamente objetivos específicos em situações comunicativas recorrentes. Por isso formam contrariamente aos tipos, listagens abertas. 15 (Marcurshi, 2005). É importante deixar claro que, na visão de Marcurshi, os tipos e os gêneros são complementares, mas não idênticos, portanto: Em geral, a expressão “tipo de texto”, muito usada nos livros didáticos e no nosso dia-a-dia, é equivocadamente empregada e não designa um tipo, mas sim um gênero de texto. Quando alguém diz, por exemplo, “a carta pessoal é um tipo de texto informal”, ele não está empregando o termo “tipo de texto” de maneira correta e deveria evitar esta forma de falar. Uma carta pessoal que você escreve para sua mãe é um gênero textual, assim como um editorial, horóscopo, receita médica, bula de remédio, poema, piada, conversação casual, entrevista jornalística, artigo científico, resumo de um artigo, prefácio de um livro. É evidente que em todos estes gêneros também se está realizando tipos textuais, podendo ocorrer que o mesmo gênero realiza dois ou mais tipos. (MARCURSHI, 2005, p. 25) Os gêneros textuais, apesar de não serem fórmulas estanques, condicionam nossas escolhas de composição dos textos, pois “toda vez que desejamos produzir alguma ação linguística em situação real, recorremos a algum gênero textual” (Marcurshi, 2008, p.156). Anteriormente apresentamos o conceito de gênero para Adam (2008, p.60) como “práticas discursivas institucionalizadas”. Para Marcurshi (2005, 2008), as práticas discursivas ou instâncias discursivas dão origem aos diversos gêneros textuais. Essa é a noção de domínio discursivo na visão de Marcurshi. O domínio discursivo constitui muito mais uma “esfera da atividade humana”, como compreendida por Bakhtin, do que um princípio de classificação de textos. Nas palavras de Marcuschi (2008, p. 155) o domínio discursivo: Não abrange um gênero em particular, mas dá origem a vários deles, já que os gêneros são institucionalmente marcados. Constituem práticas discursivas nas quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que às vezes lhe são próprios ou específicos como rotinas comunicativas institucionalizadas e instauradoras de relações de poder. Em oposição aos outros teóricos abordados anteriormente, Travaglia (2003) defende a necessidade de criação de uma teoria tipológica geral para os textos. Ele identifica três elementos que entrariam na classificação de todos os textos: tipo, gênero e espécie. Logo de início, o autor esclarece que sua preocupação é com a questão tipológica dos textos e não dos discursos. Travaglia entende como texto (2003, p.99) “uma entidade linguística concreta (...), que é tomada pelos usuários da língua (...), em uma situação de interação específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independente de sua extensão”. 16 Travaglia (2003) trata da tipologia textual, ele considera a análise dos tipos de texto essencial para a competência comunicativa dos falantes de uma língua. Segundo Travaglia (2003, p. 101), o tipo textual “pode ser identificado e caracterizado por instaurar um modo de interação, uma maneira de interlocução, segundo diferentes perspectivas (...)”. Assim, cada tipo de texto representa um tipo de interação específica. A primeira perspectiva de classificação dos textos é a perspectiva do produtor/locutor, da qual derivam os tipos conhecidos como narração, descrição, dissertação e injunção. A imagem que o produtor do texto tem em relação ao seu recebedor dá origem aos textos argumentativos e não argumentativos (concorda ou não com o que está dito). Já quando a perspectiva é de antecipação ou não ao objeto do dizer temos os tipos preditivos e não-preditivos. O movimento de busca exterior, exposição e análise das relações entre os homens caracterizaria o tipo dramático e o chamado gênero épico seria, na verdade, o mesmo que o tipo narrativo ou narração. De acordo com a concepção de tipo textual também estão os chamados “gêneros lírico, épico e dramático” propostos pela Teoria Literária. Travaglia explica que (2003, p. 102): Embora a teoria proponente os chame de gêneros, quase como sinônimo do que a Linguística tem chamado de tipo; dentro da classificação tripartite que estamos propondo dos “elementos tipológicos” em tipelementos, o lírico é um tipo, porque é dado por estabelecer um modo de interação que se caracteriza pela perspectiva de voltar-se para si mesmo para refletir-se como numa “confissão” [...]. O ponto de vista de Travaglia em relação aos tipos textuais é claramente afastado do foco dado por Marcurshi. Para este autor o tipo textual é de natureza linguística, constructo teórico ideal, enquanto que para Travaglia o tipo textual é definido pela interação comunicativa, pela maneira de interlocução e não por aspectos estruturais e formais do texto. Travaglia apresenta uma visão mais discursiva para a classificação textual. Também não se aproxima da proposta da ATD, pois como apontamos anteriormente, a teoria das sequências de Adam não é uma proposta de classificação dos textos, assim, não existiriam textos narrativos, descritivos, etc., mas sequências narrativas, descritivas, etc. que entram na composição dos textos. Em relação ao gênero de texto, Travaglia afirma que ele desempenha uma função social determinada. Essa função social é definida por seus atos de fala. Especificar essas funções sociais nem sempre é uma tarefa fácil, especialmente quando estamos tratando de gêneros surgidos em épocas afastadas e que passaram por diversos processos de mudança. Travaglia cita 48 tipelementos caracterizados como gêneros a partir da sua função social, porém a dificuldade de classificação dos gêneros ocorre, pois, como afirma Travaglia 17 (2003), o mesmo ato de fala, por exemplo, dar conhecimento de algo a alguém, pode dar origem a diversos gêneros: aviso, comunicado, edital, informe, participação e citação. Essa caracterização do gênero a partir de sua função social e do seu ato de fala é problemática, pois como aponta Adam (2011, p.128) “um enunciado é interpretado como mais ou menos um convite, um juramento, uma recomendação, uma ameaça, ou mesmo um insulto”. Para Adam, os atos de fala ou de discurso são os determinantes do valor ou força ilocucionária dos enunciados e não dos gêneros. Aproximando-se um pouco da visão de Travaglia (2003), Marcuschi (2008, p. 158) afirma que para a “noção de gênero textual, predominam os critérios de padrões comunicativos, ações, propósitos e inserção sócio-histórica”. Porém Marcurschi não utiliza o conceito de ato de fala. Outra tipificação textual utilizada por Travaglia é a espécie de texto. Diremos apenas que o termo espécie se refere aos aspectos mais linguísticos e estruturais da composição dos textos, além de aspectos de conteúdo. Não iremos nos aprofundar nesse conceito por se afastar do nosso objetivo. Bronckart deixa claro que sua visão decorre mais da psicologia da linguagem (influência de Vygotski) do que da linguística e que dentro dessa disciplina assume a posição do interacionismo social. Assim, a preocupação principal do ISD (Interacionismo sóciodiscursivo) é estudar como as práticas de linguagem situadas afetam o desenvolvimento humano. Em contraste com as posições anteriores, Bronckart (2003) não utiliza a noção tipos de texto, mas tipos de discurso. Todo texto é composto por segmentos com determinadas regularidades linguísticas, logo podem ser classificados em tipos, que ademais de estruturação linguística também caracterizam um trabalho de semiotização, de criação de sentido, revelando a construção de um mundo discursivo. A constituição do mundo discursivo é uma decisão universal, pois independente da língua natural que estamos utilizando, essa operação é necessária a toda produção textual. Quando as representações do mundo se referem a fatos passados e atestados, a fatos a acontecer, a fatos que podem acontecer ou fatos imaginários, há uma relação de distância em relação ao momento de interação que marca a origem espaço-temporal desses fatos, assim, ordem do NARRAR. Porém, quando essas representações não possuem uma origem e se situam no momento da interação, o texto EXPÕE estados ou eventos acessíveis. Outra decisão universal necessária a toda produção textual diz respeito à implicação dos parâmetros da situação material de produção do texto. Quando o emissor-enunciador integra 18 referências explícitas do ato de produção no texto, constituindo parte de seu conteúdo, se faz necessário conhecer as condições de produção de tal texto, para assim, interpretá-lo. Entretanto, quando o emissor-enunciador não faz nenhuma referência explícita aos parâmetros da situação de produção, o texto é autônomo em relação a essa situação e sua interpretação não requer nenhum conhecimento da mesma. Podemos resumir que: A construção desses mundos se dá por meio de duas operações psicolinguageiras oriundas de uma decisão binária: ou as coordenadas que organizam o conteúdo semiotizado são explicitamente colocadas à distância das coordenadas gerais do actante (ordem do NARRAR) ou elas não o são (ordem do EXPOR). Além disso, ou as instâncias de agentividade semiotizadas no texto referem-se ao actante e à sua situação (implicação) ou não (autonomia). (BRONCKART, 2008, p.91) A interseção dessas duas coordenadas origina quatro tipos de discurso: o discurso interativo (expor implicado), o discurso teórico (expor autônomo), o relato interativo (narrar implicado) e a narração (narrar autônomo). Figura 2: Tipos de discurso. A proposta de Bronckart para a noção de tipos se afasta das ideias anteriores, especialmente Adam (2011) e Marcurshi (2005, 2008), pois apesar dos tipos possuírem seus FONTE: (MIRANDA, 2008, p.85) correspondentes linguísticos formalizados em uma determinada língua natural, eles são o “traço de operações de tratamento dos contextos em ação”. (Bronckart, 2003, p. 67) A noção de tipos de discurso também está distante dos tipos de texto de Travaglia. Afinal o que Travaglia busca é uma classificação dos textos, afirmando que eles são de diferentes tipos por materializarem diferentes modos de interação. Os tipos de discurso de Bronckart não são classificações ou tipologias textuais, eles são uma das camadas de estruturação dos textos. Bronckart (2012, p. 75) afirma que o texto é “toda unidade de produção de linguagem situada, acabada e auto-suficiente (...). Na medida em que todo texto se inscreve, 19 necessariamente, em um conjunto de textos, ou em um gênero, adotamos a expressão gênero de texto em vez de gênero de discurso”. Segundo o autor, existe um número ilimitado de gêneros de textos criados historicamente e organizados em um repertório de modelos, ou o arquitexto de determinada comunidade linguística. Dessa forma, quando falamos, acessamos esse arquitexto, escolhemos aquele modelo que consideremos o mais adequado a nossa intenção comunicativa e interacional. Como assevera Bronckart (2008, p. 88): [...] esses modelos de gêneros tem características semióticas mais ou menos identificáveis, mais eles também são portadores de indexações sociais, pois, na medida em que cada gênero, necessariamente, é objeto de avaliações sociais, ele é visto como sendo adaptado para comentar determinado agir geral, como possível de ser mobilizado em uma outra situação de interação ou como tendo determinado valor estético. Além disso, esses gêneros são também objetos de processos de conhecimento (eles foram descritos, estudados, etc.), no fim dos quais, encontram-se dotados de rótulos que podem ter menor ou maior estabilidade. Os textos, sendo correspondentes empíricos das atividades de linguagem, revelam um gênero textual próprio de uma língua natural em um dado momento. O agente-produtor quer fazer algo com a linguagem, uma ação linguageira, recorre aos modelos existentes (gêneros) adaptando esse modelo a situação da ação. Essa concepção de gênero textual se aproxima do conceito de Marcurshi (2005, 2008), pois para ele, quando utilizamos um gênero, estamos dominando uma forma linguística de realizar uma ação. Em oposição a Adam (2011), Bronckart não posiciona o gênero como uma categoria de análise do discurso, mas como o produto das escolhas, por entre as possíveis, do agente-produtor do texto, interessando-se pela atividade de textualização propriamente dita. Bronckart (2005, p.62) também discorda de Travaglia (2003) na tentativa de classificação dos gêneros, porquanto, “os géneros mudam necessariamente com o tempo, ou com a história das formações sócio-linguísticas” e tentar tipificá-los de acordo com sua função social seria esbarrar em mudanças, por vezes aleatórias, evocadas constantemente, já que não há uma relação direta entre ação linguageira e gêneros de textos. Nossa pesquisa situa-se no projeto do interacionismo sociodiscursivo, assim as tipologias utilizadas serão tipos de discurso e gênero de texto. 2.2 O ISD e os tipos de discurso 20 Como expomos, a noção de tipos de discurso é um ponto chave na proposta de análise de texto do ISD. A preocupação inicial do ISD é entender a relação existente entre as práticas de linguagem e a construção do pensamento humano. Com esse objetivo, seu quadro de trabalho está dividido em três níveis de análise: primeiro, a análise dos pré-construídos no ambiente humano; a análise dos processos de mediação ou de formação pelo qual passam os recémchegados para adquirir alguns aspectos desses pré-construídos; e enfim, a análise dos efeitos dos processos de mediação na formação do pensamento do indivíduo. Esses três níveis não podem ser tratados isoladamente. Afinal eles se mantêm em uma relação dialética constante, pois como afirma Bronckart (1999, p. 112) “admitimos que, se os pré-construídos humanos mediatizados orientam o desenvolvimento das pessoas, estas, por sua vez, com o conjunto de suas propriedades ativas, alimentam continuamente os pré-construídos coletivos”. Daí o entendimento de que os processos de mediação e formação são contínuos e devem sempre se atualizar. No primeiro nível de análise destacam-se os quatro elementos que formam o ambiente humano. Primeiro, as condutas dos membros da espécie humana que se organizam em atividades coletivas gerais e atividades linguageiras, sendo as atividades linguageiras que comentam as atividades gerais e regulamentam seus contextos. Depois, as formações sociais que organizam a atividade humana em regras, normas de condutas e valores perseguidos pelos membros da comunidade. Em terceiro, há os textos, ou seja, os correspondes empíricos das atividades linguageiras (Bronckart, 1999). Por último, os mundos formais de conhecimento, logo, o produto de operações de descontextualização e de generalização aplicados aos textos e ao conhecimento que eles revelam. No segundo nível de análise, encontram-se os processos de transmissão e reprodução dos pré-construídos que podem acontecer por meio da educação informal, formal e da transação social. A educação informal ocorre quando indivíduos já integrados promovem atividades coletivas com os recém-chegados comentando verbalmente essas atividades. A educação formal possui um caráter didático e pedagógico, e a transação social ocorre nas interações cotidianas entre as pessoas. O terceiro nível de análise pode ser dividido em três campos de investigação: a pesquisa sobre as condições de emergência do pensamento consciente; a análise das condições de desenvolvimento do pensamento, dos conhecimentos e das capacidades de agir; e a análise dos mecanismos por meio dos quais as pessoas interferem nos pré-construídos coletivos. Como vimos, é no primeiro nível de análise da proposta de trabalho do ISD em que se situam os textos. “Desde logo, os textos podem ser definidos como os correspondentes 21 empíricos/linguísticos das atividades de linguagem de um grupo, e um texto como o correspondente empírico/linguístico de uma dada ação de linguagem.” (Bronckart, 2005, p. 57). Assim, o caminho de análise dos textos deve ser descendente: partem das atividades gerais para as atividades de linguagem (linguageiras), daí para os textos e, por fim, para seus recursos linguísticos. Para compreender o processo de construção e organização interna dos textos, Bronckart propõe o modelo da arquitetura textual. Segundo esse modelo, todo texto é visto como um folhado com algumas camadas sobrepostas. A camada mais exterior apresenta os mecanismos de responsabilidade enunciativa, ou seja, a gestão de vozes que assumem o que é dito no texto e as modalizações, diversas avaliações, julgamentos, opiniões que as vozes formulam sobre o texto; na camada intermediária encontramos os mecanismos de textualização, ou seja, os fenômenos de conexão, coesão nominal e verbal que asseguram a progressão temática e a organização do texto; e, na camada interior, no nível mais profundo, temos a infraestrutura geral dos textos, logo, o plano do texto, os tipos discursivos e as sequências. É claro que essa divisão em níveis é de caráter didático e metodológico, pois, as três camadas estão em interação constante. Figura 3: Níveis da arquitetura interna dos textos. FONTE: (MIRANDA, 2008, p.84) A noção de . tipos de discurso do ISD foi inspirada numa tipologização dos discursos ou planos enunciativos que marcam diferentes atitudes de de Simonin-Grumbach (1975). O objetivo da linguista francesa locução era identificar as formas linguísticas relativamente estáveis que traduziriam esses planos 22 enunciativos em determinada língua natural e que ela classifica de tipos de discurso (Bronckart, 2005). Os tipos de discurso fazem parte da composição de todo texto. São segmentos que representam diferentes operações psico-linguageiras e mobilizam conjuntos particulares de recursos linguísticos. É nos tipos de discursos que as sequências se realizam como modos de enunciação. Os tipos são em número finito e semiotizam diferentes mundos discursivos. Em outros termos, esses mundos discursivos se constituem como quadros em que se desenvolve, no curso da produção ou da recepção textual, a interface entre as representações que estão sediadas em um determinado actante (representações individuais) e as representações que estão sediadas nas instâncias coletivas (representações coletivas). (Bronckart, 1999, p. 91) Quando as representações individuais são colocadas a distância das representações coletivas ocorre a ordem do narrar; quando não, a ordem do expor. Se as operações verbalizadas têm relação com o agente ou a situação de produção existe uma implicação, se não uma autonomia. A interseção entre esses dois tipos de operações psico-linguageiras dá origem a quatro tipos de discurso: o discurso interativo, o discurso teórico, o relato interativo e a narração. Os tipos de discurso fazem parte da camada mais interna do texto, da sua infraestrutura e são parte central para a análise dos textos, e consequentemente na composição e análise dos gêneros. Podemos encontrar diferentes tipos de discurso no mesmo gênero e cada gênero possui pelo menos um tipo de discurso. Conforme Miranda (2008), ocorre sempre uma relação entre tipos e gêneros. Não é qualquer tipo de discurso que aparece em qualquer género, mas que os géneros de texto estabilizam a mobilização de determinado(s) tipo(s) de discurso. Assim, haveria um ‘recorte’ operado no plano praxiológico. De facto, a opção por tipos de discurso específicos poderia ser vista como uma das escolhas que – organizadas em feixe – constituem uma configuração genérica particular. (Miranda, 2008, p.89) As ações humanas ocorrem na interação entre os membros de uma dada comunidade e, por isso, são infinitas e variáveis. O texto é o mediador da ação que implica linguagem, ou ação linguageira. O agente-produtor quer fazer algo com a linguagem em uma determinada situação de ação. Para isso, ele dispõe de uma série de modelos existentes nos pré-construídos do ambiente linguageiro, aglomerados ao longo do tempo no espaço do arquitexto, os chamados gêneros de textos. De tal modo, o agente-produtor do texto efetua um processo de escolha e 23 adaptação do modelo ou gênero de texto, relativamente estabilizado pelo uso, e que ele considera mais adequado a situação de ação que ele quer representar. O fato de todo texto pertencer a um determinado gênero cria a necessidade de classificação dos textos em gêneros, porém, como os gêneros fazem parte desses “mundos de obras e de culturas” (Bronckart, 2005, p.63), do ambiente humano, eles “mudam necessariamente com o tempo, ou com a história das formações sócio-linguísticas” as quais pertencem, tornando o trabalho de tipologização dos gêneros impraticável. Enfim, ainda como qualquer obra humana, os géneros são objecto de avaliações no termo das quais eles se encontram afectados (nas representações colectivas) de diversas indexações: indexação referencial (que atividade geral o texto é susceptível de comentar?); comunicacional (para que interacção é este comentário pertinente?); cultural (qual é o “valor socialmente acrescentado” ao domínio de um género?); etc. (BRONCKART, 2005, p. 62). A relação entre gêneros de textos e tipos de discurso parece clara. Afinal, os tipos de discurso estão presentes em todo texto, e os textos se organizam em gêneros, assim, os tipos de discurso também fazem parte dos gêneros. Miranda (2008) apresenta três níveis de articulação dessa relação entre tipos e gêneros: o nível da ligação vinculativa entre gêneros e tipos, o nível da escolha dos mundos discursivos, e o nível da seleção das unidades linguísticas características de cada gênero de texto. O primeiro nível de articulação entre as duas noções em questão implica que os gêneros não existem sem os tipos e vice-versa. Os tipos não são segmentos que aparecem eventualmente nos gêneros de texto, mas constituem esses gêneros, sempre, sendo uma das escolhas feitas pelo agente-produtor do texto em uma situação de ação linguageira. Todo texto, logo todo gênero textual mobiliza “sempre, e necessariamente, pelo menos um tipo de discurso” (Miranda, 2008, p.87). Assim, se o gênero mobiliza sempre pelo menos um tipo, é possível que tenhamos gêneros que mobilizam mais de um tipo, ou o mesmo tipo em vários gêneros. Essa relação entre gêneros e tipos não é aleatória. Existem determinados gêneros de texto que mobilizam tipos discursivos específicos, como por exemplo, o gênero monografia científica mobiliza o discurso teórico ou o gênero conto mobiliza o tipo narração. É claro que outros tipos de discurso podem ser encontrados nesses gêneros, porém o tipo de discurso narração seria o predominante e essencial ao conto, assim como discurso teórico seria predominante na monografia científica. Por fim, o terceiro nível de articulação refere-se ao nível dos recursos linguísticos utilizados em cada tipo discursivo. Se o mesmo tipo de discurso pode aparecer em diferentes 24 gêneros, é necessário saber se as unidades linguísticas mobilizadas seriam próprias do tipo ou do gênero, e se esses recursos linguísticos seriam os mesmos em diferentes línguas naturais. Como já dito, os tipos discursivos mobilizam dois tipos de operações: a escolha dos mundos discursivos (vertente psico-cognitiva) e a escolha dos recursos linguísticos que traduzem esses mundos discursivos (vertente semiótica). Existiria, dessa forma, uma relação entre certos gêneros de texto e a mobilização/estabilização de traços linguísticos dos tipos de discurso vinculados ao gênero. Por exemplo, no gênero entrevista, cujo tipo de discurso predominante é o discurso interativo, a presença de frases não declarativas (interrogativas, imperativas e exclamativas) é um traço linguístico essencial do gênero. A caracterização dos tipos discursivos surgiu, conforme Bronckart (2006, p. 15), através de “análises distribucionais e estatísticas das configurações de unidades e de processos da língua francesa”. Para tanto, foram utilizados textos considerados standard, ou seja, textos que seriam mais simples em sua estrutura e que mobilizariam operações psicolinguageiras menos complexas. O autor destaca as possíveis limitações dos resultados obtidos, afirmando que o corpus foi formado somente por gêneros considerados mais tradicionais por uma questão clara de capacidade de análise. Essas limitações, contudo, são o ponto de partida para uma discussão apresentada por Miranda (2008). Para a autora, a questão que se coloca é a de saber que modos de relação é possível identificar entre as noções de gênero e tipo de discurso. “Ou, ainda, até que ponto a articulação entre tipos de discurso e géneros apresenta alguma regularidade?” (2008, p. 87). A esse respeito, Miranda, levanta algumas hipóteses tanto a partir da própria teorização desenvolvida no âmbito do ISD como a partir da observação de textos empíricos. A primeira relação postulada, no dizer da autora, como primária, é a de constitutividade, depreendida das próprias definições de gênero e de tipo de discurso do quadro do ISD. O termo ‘constitutivo’ indica, então, uma relação vinculativa necessária, de modo que os tipos de discurso não seriam simples configurações eventuais nos géneros, mas constituintes fundamentais. Poder-se-ia dizer, portanto, que um primeiro modo ou nível de relação entre géneros e tipos é esta espécie de ligação em que uns estão constitutivamente vinculados aos outros. Isto implica que os géneros mobilizam sempre, e necessariamente, pelo menos um tipo de discurso. (MIRANDA, 2008, p. 87) O segundo tipo de relação é a que prevê que cada gênero estabiliza a mobilização de um ou mais de um tipo de discurso particular. 25 Assim sendo, todos os géneros são constituídos por tipos de discurso, mas há géneros que preveem a mobilização de todos os tipos, géneros que seleccionam alguns e géneros que se caracterizam pela ocorrência de um único tipo de discurso. Esta observação é válida, ainda, se consideramos a possibilidade de ocorrência de variantes de (ou modalidades de articulação entre) tipos diferentes. (MIRANDA, 2008, p. 89) Assumindo esses dois tipos de relação possíveis entre gênero e tipo de discurso, Miranda (2008, p. 89), se pergunta ainda “se um mesmo tipo de discurso mobilizado em géneros diferentes pode apresentar especificidades”. Para aprofundar essa problematização, a autora analisa as unidades e os mecanismos linguísticos que se associam a um dos quatro tipos de discurso: o discurso interativo. Essa análise é realizada em quatro textos, escritos em português europeu, que se inscrevem em quatro gêneros diferentes: entrevista, horóscopo, receita de cozinha e boletim meteorológico. A conclusão a que a autora chega é a de que existem três níveis de relações entre gênero de texto e tipo de discurso. Em primeiro lugar, observámos que os tipos de discurso são elementos constituintes (ou, ainda, constitutivos) dos géneros e, portanto, os géneros mobilizam necessariamente tipos de discurso. Em segundo lugar, notámos que os géneros estabilizam a mobilização de determinado(s) tipo(s) de discurso, o que marcaria, então, um primeiro ‘recorte’ operado e instituído no plano praxiológico. Em terceiro lugar, e a partir da observação da ocorrência de marcas do discurso interactivo em textos de quatro géneros diferentes, vimos que em princípio certos géneros de texto demonstram a estabilização da ocorrência de alguns dos traços semióticos dos tipos de discurso em detrimento de outros. (MIRANDA, 2008, p. 98) É nessa perspectiva de contribuição que nos inserimos. Acreditamos, em consonância com Miranda (2008, p. 90), que “é preciso ainda avançar na análise de uma maior diversidade de géneros textuais e também na análise de unidades próprias das diferentes línguas naturais”. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1. O tipo de pesquisa Este trabalho focaliza as relações entre tipo de discurso e recursos linguísticos comparativamente em português e espanhol. Nosso propósito é discutir a hipótese de que, de acordo com o gênero, os tipos de discurso podem apresentar especificidades no plano da configuração dos recursos linguísticos relativamente a uma língua natural. Nosso primeiro 26 passo para abordar a discussão dessa questão foi classificar o trabalho quanto à maneira de abordar o problema, à natureza, aos objetivos e aos procedimentos técnicos utilizados. Há duas formas de abordar o problema da pesquisa: a qualitativa e a quantitativa. Segundo Godoy (1995, p.58), a abordagem qualitativa “é a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, para compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos”. Gil (2007, p.94) corrobora essa visão, dizendo que os “métodos de pesquisa qualitativa estão voltados para auxiliar os pesquisadores a compreenderem pessoas e seus contextos sociais, culturais e institucionais”. Já a pesquisa quantitativa considera que o conhecimento poder ser quantificável, o que significa traduzir, em número, opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de métodos e técnicas estatísticas (GODOY,1995). Quanto à natureza, Gil (2007) classifica a pesquisa em básica ou teórica e aplicada. A pesquisa básica objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da ciência, sem aplicação prática necessariamente prevista. Normalmente, envolve interesses universais. A pesquisa aplicada focaliza a geração de conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos. Normalmente envolve verdades e interesses mais pontuais. Com relação aos objetivos, é possível desenvolver uma pesquisa exploratória e descritiva. A pesquisa exploratória tem como finalidade proporcionar maiores informações sobre objeto ou assunto de investigação a partir das quais possam se formular hipóteses ou propor um novo tipo de enfoque. Já a pesquisa descritiva, segundo Gil (2007, p. 46), “tem como objetivo primordial à descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre as variáveis”. Finalmente, quanto aos procedimentos, a pesquisa pode ser bibliográfica, experimental, documental, de campo, de levantamento, estudo de caso, pesquisa-ação, participante, etnográfica, etnometodológica. Considerando esses fundamentos, situamos nossa pesquisa como qualitativa já que pretendemos mostrar a complexidade das relações entre gênero, tipos de discurso e língua. Nesse sentido, não nos interessam recursos e técnicas estatísticas. Ao invés disso, interessa-nos o aprimoramento da questão e a discussão de hipótese, o que nos situa no campo da pesquisa exploratória. Quanto à natureza, trata-se um trabalho teórico, ou seja, pretendemos oferecer uma discussão acerca do tema, sem necessariamente oferecer aplicação prática. Por fim, como procedimento, recorremos basicamente ao levantamento de um pequeno corpus de dados. 3.2 O corpus 27 Nosso corpus está composto por 15 painéis de leitores publicadas no jornal “El periódico de Catalunya”, entre os dias 14 e 17 de março de 2014, em língua espanhola, e 15 publicados, também entre os dias 14 e 17 de março de 2014, no jornal Folha de São Paulo, em língua portuguesa. El periódico de Catalunya é um jornal de referência da comunidade autônoma de Catalunha na Espanha, cujo nascimento data de 1978, sendo especialmente lido em Barcelona. O jornal possui uma versão impressa e uma eletrônica, sendo escrito em dois idiomas: espanhol e catalão. As “cartas de lectores” são recebidas através do e-mail [email protected] ou por meio de uma conta do Twitter @EPentretodos. A Folha de São Paulo foi fundada em 1921 e, desde a década de 80, é o jornal mais vendido entre os diários nacionais de interesse geral (FONTE). Oferece uma versão on-line para os leitores. Na seção intitulada “Painel do Leitor” encontramos os painéis dos leitores recebidos através do e-mail: [email protected]. A escolha desse gênero não tem nenhuma razão teórico-metodológica específica. Dada à natureza exploratória desta pesquisa, o trabalho de caracterização dos tipos de discurso e dos recursos linguísticos a eles associados em português e espanhol poderia ser realizado em qualquer gênero. Optamos pelo gênero painel do leitor pela facilidade de constituição do corpus, o uso da internet, por exemplo, especialmente em língua espanhola. 3.3 O método de análise O trabalho de análise foi organizado em duas etapas. Primeiro, fizemos uma análise geral das características linguísticas dos painéis do corpus, tanto em português quanto em espanhol. Em seguida, identificamos os tipos de discurso e verificamos se as unidades linguísticas variam nas duas línguas naturais. Para a identificação dos tipos linguísticos, o ponto de partida foi a descrição das unidades consideradas na caracterização dos tipos de discurso previstas por Bronckart (2012). 1. Ordem do Expor: Discurso Interativo: Presença de unidades que remetem a interação verbal; Presença de frases não declarativas; Verbos no presente, pretérito perfeito e futuro perifrástico; 28 Existência de unidades linguísticas que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e ao tempo; Presença de nomes próprios, verbos e pronomes de primeira e segunda pessoa do singular e plural de valor exofórico; Presença de anáforas pronominais; Densidade verbal elevada; Densidade sintagmática baixa. Discurso Teórico: Ausência de frases não declarativas; Dominância de verbos no presente e pretérito perfeito composto com valor genérico; Ausência de unidades que remetem aos interactantes ou ao espaço-tempo da produção; Existência de organizadores textuais com valor lógico-argumentativo; Presença de frases passivas; Presença de modalizações lógicas e do auxiliar de modo “poder”; Presença de anáforas pronominais e nominais; Densidade verbal fraca; Densidade sintagmática elevada. 2. Ordem do Narrar: Relato interativo: Ausência de frases não declarativas; Verbos no pretérito perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito, futuro simples e condicional; Existência de organizadores temporais; Presença de pronomes, adjetivos e verbos de primeira e de segunda pessoa do singular e do plural; Dominância de anáforas pronominais; Densidade verbal elevada; Densidade sintagmática baixa. Narração: Geralmente monologada e escrita Presença exclusiva de frases declarativas; Verbos predominantemente no pretérito perfeito e imperfeito; 29 Presença de organizadores temporais Ausência de pronomes de primeira e de segunda pessoa do singular e do plural que remetem aos interactantes; Presença de anáforas pronominais e nominais; Densidade verbal média; Densidade sintagmática média. Realizamos ainda, para efeito de contextualização, um breve comentário sobre o contexto de produção e o plano global do conteúdo temático dos painéis. Para a exposição da análise propriamente, transcrevemos o painel e comentamos os resultados individualmente, em cada língua. Em seguida, procedemos a uma comparação. Os painéis são identificados pelas letras P (português) e E (espanhol) e por um número, que corresponde à ordem (P1 – painel 1 em português, E1 – painel 1 em espanhol). 4. ANÁLISE COMPARATIVA DAS CARTAS DE LEITORES EM PORTUGUÊS E ESPANHOL 4.1. O contexto de produção Para identificarmos as condições de produção de qualquer texto é preciso considerar que o agente/produtor do texto se encontra em uma situação de ação linguageira. Quando esse agente/produtor elabora um novo texto, ele toma duas atitudes: primeiro, busca no arquitexto de sua comunidade linguística o modelo (o gênero de texto) mais adequado à situação em que se encontra. Depois, procura adaptar esse modelo às características individuais dessa mesma situação de ação linguageira. A análise das condições de produção dos textos deve levar em conta os elementos referentes à situação de produção do texto, a saber: a) as representações relativas ao quadro material da ação linguageira, ou seja, emissor, espaço e tempo; b) as representações sociosubjetivas da ação linguageira, ou seja, o tipo de interação, o papel social do emissor/enunciador, o papel social dos receptores/destinatários e os objetivos da interação; e c) outras representações da situação e dos conhecimentos do agente. O novo texto empírico será um exemplar do gênero de texto escolhido como melhor modelo para a situação de ação de linguagem em que o agente/produtor se encontra, ajustado aos parâmetros específicos dessa 30 mesma situação. Abaixo ilustramos o esquema proposto por Bronckart (2009) para a análise das condições de produção dos textos. Figura 4: Condições de produção dos textos AÇÃO DE LINGUAGEM REPRESENTAÇÕES DO AGENTE/PESSOA 1. Parâmetros objetivos Emissor; eventual co-emissor Espaço/tempo da ação 2. Parâmetros sociossubjetivos Quadro social da interação Papel do enunciador Papel dos destinatários ARQUITEXTO NEBULOSA DE GÊNEROS 1. Diferenças objetivas Objetivo 2. Classificações explícitas 3. Indexações 3. Outras representações da situação e dos conhecimentos disponíveis na Conteúdo pessoa Formas de interação Valor atribuído FONTE: Bronckart (2009, p.146) Considerando esses aspectos, a análise das condições de produção dos painéis de leitores pode ser TEXTO EMPÍRICO (Exemplar de gênero) configurada da seguinte forma: 1. Parâmetros objetivos Emissores: Leitores dos jornais escolhidos. Co-emissor: não se aplica Espaço/tempo de produção: jornal on-line, entre 17 a 19 de março de 2014. 2. Parâmetros sociossubjetivos Quadro social da interação: instância jornalística eletrônica. Papel do enunciador: leitor Papel dos destinatários: editor, diretor e leitores dos jornais escolhidos. Objetivo: emitir opinião sobre os assuntos tratados nos jornais escolhidos. 3. Outras representações da situação e dos conhecimentos mobilizados no texto: pressupõe que os destinatários também são leitores dos jornais escolhidos. 31 4.2. O plano global do conteúdo temático Além do contexto de produção, o conteúdo temático também integra a ação de linguagem. A respeito deste, Bronckart (1999, p. 97) afirma que “o conteúdo temático (ou referente) de um texto pode ser definido como o conjunto das informações que nele são explicitamente apresentadas, isto é, que são traduzidas no texto pelas unidades declarativas da língua natural utilizada”. De forma semelhante aos parâmetros do contexto de produção, as informações constitutivas do conteúdo temático são representações construídas pelo agente-produtor. Essas se referem aos conhecimentos que variam em função da experiência e do nível de desenvolvimento do produtor e que estão estocados e organizados em sua memória, previamente, antes do desencadear da ação de linguagem. O conteúdo temático dos painéis dos leitores em espanhol é diversificado. São abordados temas do cotidiano dos espanhóis como aspectos da mobilidade da comunidade, urbanização, arte, política internacional, educação, saúde pública, imigração e, o que o jornal catalão classifica como “debate soberanista”, ou seja, a respeito da identidade enquanto catalães em oposição à identidade como espanhóis. O plano global do conteúdo temático das cartas dos leitores em português também é variado, porém possui mais temas relacionados à política nacional e ao cotidiano dos brasileiros, como casos de corrupção, o marco civil da internet, a cracolândia, a educação do trânsito, os atrasos dos pagamentos do INSS e a propaganda eleitoral. 4.3. Os tipos de discurso e os recursos linguísticos 4.3.1. Análise dos painéis em português P1 Cirurgião plástico critica artigo de João Pereira Coutinho – Luís Felipe Morais Prado de Jaú/SP (14/03/2014) Sou cirurgião plástico e me senti extremamente ofendido com o artigo “Frankensteins” de João Pereira Coutinho. Ele achincalha nossa categoria por conta de uma única análise. Não aceito essas reflexões feitas por um caso que pode até não ser estético, porém, generalizar não tem sentido e ofende toda uma classe. 32 Neste painel, o leitor comenta negativamente um artigo publicado anteriormente no jornal sobre a profissão de cirurgião plástico. O tipo de discurso é o discurso interativo, marcado pela conjunção entre o conteúdo temático e a situação de produção e pela implicação do agente produtor do texto. Os verbos aparecem no presente do indicativo, com valor atemporal, na primeira pessoal: sou, senti, achincalha, aceito, tem, ofende. Essa é a primeira característica em termos de unidade linguística do discurso interativo. Acrescentam-se a isso a presença de unidades que remetem a unidades a interação (citação a artigo anterior), a presença dos pronomes de primeira pessoa do singular e do plural (me e nossa), a presença de organizadores com valor argumentativo (por conta, porém) e o uso de anáforas pronominais (ele). Por fim, o painel possui uma densidade verbal elevada e baixa densidade sintagmática. P2 Leitora de Campinas elogia crônica sobre Lisboa – Maria José Carreira Rey de Campinas/SP (14/03/2014) Adorei a crônica de Zeca Camargo sobre Lisboa. Bem estruturada, sentimental e poética. Assim também é minha Lisboa: do Tejo, de Pessoa e de Camões. Melancólica, mas não triste. Para rir e chorar. A leitora elogia uma crônica publicada anteriormente no jornal sobre a cidade de Lisboa. Apesar de bastante curto, esse painel apresenta dois tipos de discurso. O primeiro segmento se caracteriza pelo relato interativo, ou seja, o fato é narrado: [Adorei a crônica de Zeca Camargo sobre Lisboa. Bem estruturada, sentimental e poética]. Isso é marcado pela presença do verbo no pretérito perfeito da primeira pessoa do singular e pela referência nominal ao autor da crônica (Zeca Camargo). A partir de [Assim também é minha Lisboa] até o final, ocorre o discurso interativo, ou seja, o fato, a partir daí, passa a ser mostrado. A presença do verbo no presente do indicativo (é) mostra a conjunção entre as coordenadas gerais do conteúdo temático e a situação de produção do texto. A presença do agente/produtor do texto é identificada através do uso do pronome possessivo na primeira pessoa do singular (minha) e de unidades que remetem a objetos acessíveis, ao espaço ou tempo de produção (Lisboa, Tejo, Pessoa e Camões). Outra característica linguística do discurso interativo é a presença do organizador argumentativo “mas”. Tanto o segmento correspondente a um relato interativo quanto o discurso interativo possuem uma densidade verbal alta e baixa densidade sintagmática. 33 P3 Leitores criticam atraso de pagamentos do INSS após o Carnaval – Luciano R. Rocha de Souza de São Paulo/SP (14/03/2014) O INSS não considerou como úteis os dias 3 e 5 deste mês, embora não fossem feriados. Isso fez com que quem recebe sua aposentadoria no quinto dia útil só a recebesse até o dia 12/3. Para uma pessoa cujo benefício raramente dura até o fim do mês, isso é uma desumanidade. Magistrados e políticos recebem bem antes do fechamento do mês. Pobres mortais são sacrificados. Neste painel, o leitor opina sobre o atraso no pagamento do benefício do INSS no mês de março de 2014, criticando o fato e comparando com a situação mais favorável dos magistrados e políticos. A disjunção é marcada no início do painel: [O INSS não considerou...]. O uso de verbos no pretérito perfeito (considerou, fez) e pretérito imperfeito (fossem, recebessem) marca a relação de distância entre o conteúdo temático e a situação de ação linguageira. Já a referência temporal (deste mês e dia 12/3) marca a implicação das coordenadas da situação de produção do texto. Assim, o primeiro segmento do painel se caracteriza pelo relato interativo. Outra característica do relato interativo é a ausência de frases não declarativas, a presença de organizadores temporais, como: os dias 3 e 5 e no quinto dia útil e, a alta densidade verbal aliada a uma baixa densidade sintagmática. A partir de [Para uma pessoa...] até o final, ocorre um segmento de discurso teórico. A presença de verbos no presente do indicativo (dura, é, recebem, são) mostra a conjunção entre o conteúdo temático e a situação de produção do texto. A ausência de unidades que remetem aos interlocutores e à situação de produção caracteriza a autonomia. Outras características do discurso teórico são a ausência de frases não declarativas, a ausência de nomes próprios e pronomes e verbos de primeira do singular e do plural, presença da anáfora pronominal (isso), baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática. P4 Leitores criticam atraso de pagamentos do INSS após o Carnaval – João Roberto Gullino de São José do Rio Preto/SP (14/03/2014) A atitude do INSS deu demonstração do desprezo com os idosos, deixando milhares de aposentados sem saber o que fazer. O pouco caso do governo ficou evidente. Mas, aos 81 anos, como muitos de minha faixa etária, ainda faço questão de votar. 34 Neste painel, o leitor critica a atitude do INSS e do governo federal frente aos idosos, contrastando com o fato de que, mesmo não sendo mais obrigatório, ainda fazem questão de votar. O início do texto [A atitude do INSS...] revela um narrar autônomo, marcado pelo uso do verbo no pretérito perfeito (deu), que indica a relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de produção do agente/produtor. A ausência de unidades que remetem aos interlocutores e a situação de produção caracteriza sua autonomia. Outras características da narração são: a presença exclusiva de frases declarativas, ser monologado e escrito, assim como, possuir uma média densidade verbal e sintagmática. A partir de [Mas, aos 81 anos...] até o final, a relação entre o conteúdo temático e a situação de produção de ação linguageira muda para conjunto, ou seja, da ordem do expor. O verbo fazer no presente do indicativo revela essa relação de conjunção. Passa-se também do autônomo para o implicado. O uso de pronomes e verbos na primeira pessoa do singular (minha, faço), assim como a referência à idade atual do produtor (81 anos) marcam essa implicação. Instaura-se, portanto, nessa passagem, um discurso interativo. Outra característica do discurso interativo é a elevada densidade verbal e a baixa densidade sintagmática. P5 Leitoras de Guarulhos divergem sobre razão dos protestos na Venezuela – Ana Gabriela Cazzo de Guarulhos/SP (14/03/2014) Por qual motivo as manifestações democráticas na Venezuela são alvos de repúdio do seu governo? O país não vive um modelo democrático, mas sim totalitário, onde seu presidente, apesar de eleito, recebeu o legado de Hugo Chávez visando a manutenção da revolução bolivariana. Legado que está levando a população a miséria. Com uma economia frágil apesar dos “petrodólares”, a situação está insustentável. A população reivindica mudanças, pois não aguenta mais tanta bandalheira. Até quando estes “ditadores” continuarão no poder, fazendo a política do pão e circo? A leitora comenta a situação na Venezuela e faz uma crítica ao governo do atual presidente, justificando, assim, a onda de protestos no país. Quase todo o painel é da ordem do expor autônomo, ou seja, um discurso teórico. Do início, [Por qual motivo...] até [...totalitário] e de [Legado...] até o final, há uma relação de conjunção entre as coordenadas do conteúdo temático e as coordenadas da situação de produção, marcada pelo uso dos verbos no presente (são, vive, está levando, está, reivindica, aguenta). Além disso, a autonomia se apresenta através da ausência de unidades que remetem aos interlocutores ou a situação de produção, assim como 35 a ausência de pronomes, adjetivos e verbos na primeira pessoa do singular e do plural. A presença dos marcadores lógico-argumentativos (por qual, mas, onde, pois, até quando) também caracterizam o expor autônomo. A presença de perguntas não descaracteriza o discurso teórico, pois trata-se de perguntas retóricas que auxiliam na argumentação. O discurso teórico também é marcado pela baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática. Entretanto, o texto é recortado por um segmento da ordem do narrar autônomo. A partir de [onde...] até [...bolivariana...], temos assim uma narração. O uso do verbo no pretérito perfeito marca a relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação linguageira. A autonomia mais uma vez é marcada pela ausência de frases que remetem aos interlocutores ou a situação de produção, pela ausência de pronomes, adjetivos e verbos na primeira pessoa do singular e do plural e pela presença exclusiva de frases declarativas. Além da média densidade verbal e sintagmática. P6 Leitoras de Guarulhos divergem sobre razão dos protestos na Venezuela – Ana Beatriz Bertolucci Henriques de Guarulhos/SP (14/03/2014) Luigi Petti se mostra contrário à política de Maduro. Mas acho injusto chamar a Venezuela de país de “várzea”. Por que razões o governo da venezuelano pode ser considerado inviável? A política chavista de Nicolás Maduro implica em condições sociais e de bem estar muito mais eficientes do que as nações ditas “de primeira categoria”. A mídia põe tais ações como ditatoriais. Os conflitos venezuelanos emergem principalmente das classes média e alta que, visando benefícios capitalistas, são contra a política de distribuição de renda do governo. Mas, não seria por esse motivo o Estado Venezuelano muito mais democrático? A leitora comenta o posicionamento contrário de Luigi Petti, e se coloca a favor do governo de Nicolás Maduro por considerá-lo mais democrático. O discurso teórico está presente em quase todo o texto, iniciando com [Luigi Petti...] até [...Maduro] e após em [A política...] até [...renda do governo]. A relação de conjunção entre as coordenadas do conteúdo temático e as coordenadas da situação de produção do texto é marcada pelo uso dos verbos no presente (mostra, implica, põe, emergem, são), e a autonomia através da ausência de frases não declarativas, ausência de unidades que remetem aos interlocutores ou a situação de produção e a ausência de pronomes, verbos e adjetivos de primeira pessoa do singular e do plural. O discurso teórico também é marcado por uma baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática. 36 Entretanto, o texto é recortado por dois segmentos da ordem do expor implicado, [Mas acho...] até [...inviável?] e [Mas...democrático?]. Novamente o uso de verbos no presente caracteriza a relação de conjunção (acho, pode ser) entre as coordenadas do conteúdo temático e as coordenadas da situação de ação linguageira, sendo agora implicado pelo uso do verbo na primeira pessoa do singular (“eu” acho), assim como a presença de frases não declarativas e unidades que remetem a objetos acessíveis, ao espaço ou tempo (Estado Venezuelano). No caso do discurso interativo, há uma alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática. P7 Leitores comentam artigo sobre o caso de Henrique Pizzolato – Jorge Alberto de Oliveira Marum de Piedade/SP (15/03/2014) Merece aplauso o artigo do professor Alexandre de Morais sobre o caso Pizzolato. Estão dados os caminhos para que esse fugitivo da justiça brasileira não fique impune. O povo, em sua esmagadora maioria, agora espera que o governo federal demonstre que seu compromisso com a efetivação da justiça e o combate à impunidade está acima de considerações políticopartidárias. Neste painel, o leitor elogia o artigo de Alexandre Morais, convocando o governo brasileiro à efetivação da justiça. Todo o texto é caracterizado pelo discurso interativo. Os verbos no presente (merece, estão, fique, espera, demonstre, está) são típicos da relação de conjunção entre o conteúdo temático e a situação de produção do texto, as unidades linguísticas que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e tempo (brasileira, governo, povo “brasileiro”, agora) marcam a implicação. Outras características do discurso interativo são o uso de nomes próprios (Alexandre de Morais), anáfora pronominal (seu), uma alta densidade verbal e uma baixa densidade sintagmática. P8 Leitores comentam artigo sobre o caso de Henrique Pizzolato – Marilene Martins de Oliveira de São Paulo/SP (15/03/2014) Minha filha vive em Paris e pretende comprar um apartamento com o dinheiro que deixou aqui, fruto de seu trabalho como fotógrafa. Dói, entretanto, saber que o governo brasileiro irá morder parte dessa economia. Será que Pizzolato, que comprou três mansões na Espanha, ou Paulo Maluf poderiam prestar uma assessoria para minha filha? 37 A leitora relata um pouco a vida de sua filha e critica o governo brasileiro por deixar impune Pizzolato e Maluf. Encontramos dois tipos de discurso: o discurso interativo e o relato interativo. O painel inicia com a ordem do expor [Minha filha...] até [...saber] marcada pela presença de verbos no presente (vive, pretende, dói), e conclui com o segmento [...que o governo...] até [...filha?] pertencente a ordem do narrar, identificado através dos verbos no futuro simples (irá, será), pretérito perfeito (comprou) e condicional (poderiam), ou seja, marcando uma relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de produção do texto. A implicação nos dois tipos de discurso é caracterizada pelo uso do possessivo (minha) na primeira pessoa do singular e os dêiticos espaciais (aqui e governo brasileiro). Nos dois tipos de discurso existe uma elevada densidade verbal que se opõe a baixa densidade sintagmática. P9 Socorro de R$ 12 bilhões a empresas de energia é criticado por eleitores – Heitor Vianna P. Filho de Araurama/RJ (15/03/2014) Já temos uma das maiores tarifas de energia elétrica do mundo, mesmo com as reduções do governo. Agora, não tem sentido repassar supostas defasagens para os consumidores a partir de 2015. Os valores das tarifas já são hoje desproporcionais à situação econômica da população. E na fatura de energia elétrica existem diversos encargos, como a iluminação pública e alto ICMS dos governadores. É um item essencial, sem alternativa para a população, que mais afeta a Economia. O leitor expõe a situação das tarifas de energia elétrica pagas no país. Toda o painel pertence à ordem do expor, caracterizado pela presença de verbos no presente (temos, tem, são, existem, é, afeta) mostrando, assim, a relação de conjunção entre o conteúdo temático a situação de ação linguageira. Enquanto, no segmento [Já temos...] até [...econômica da população] temos um expor implicado, ou seja, um discurso interativo, marcado através do uso do verbo na primeira pessoa do plural (temos), do dêitico de lugar (governo “brasileiro”), dos dêiticos de tempo (agora, a partir de 2015, hoje), da alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática, no segmento [E na fatura...] até o final, temos um expor autônomo, ou seja, um discurso teórico, marcado, além dos verbos no presente já citados, pela ausência de unidades que remetem a interação, pela ausência de frases não declarativas, ausência de pronomes, verbos e adjetivos de primeira pessoa do singular e do plural e pela baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática. 38 P10 Socorro de R$ 12 bilhões a empresas de energia é criticado por eleitores – Dirceu Cardoso Gonçalves de São Paulo/SP (15/03/2014) Ao mesmo tempo em que faz toda essa encenação econômico-eleitoreira, deixando a dívida elétrica para o próximo ano – e para os consumidores -, o governo brasileiro mantêm milhares de cargos políticos e elevados gastos com a máquina estatal. Além disso, se dá ao luxo de sair pelo mundo perdoando dívidas e concedendo novos empréstimos a países que são ideologicamente afinados com os dirigentes do PT. O leitor relaciona o aumento previsto da tarifa elétrica com demais ações do governo brasileiro. Todo o texto pertence a ordem do expor, caracterizado pela presença de verbos no presente (faz, mantêm, dá, são) mostrando, assim, a relação de conjunção entre o conteúdo temático a situação de ação linguageira. Entretanto, no segmento [Ao mesmo ... estatal] temos um expor implicado, discurso interativo, através do uso do dêitico de tempo (próximo ano) e do dêitico de lugar (governo brasileiro), enquanto que no segmento [Além ... PT] temos um expor autônomo, discurso teórico, marcado pela ausência de unidades que remetem a interação e pela ausência de pronomes, verbos e adjetivos da primeira pessoal do singular e do plural. Também marcam o discurso teórico a ausência de frases não declarativas e o uso do marcador lógico-argumentativo “além disso”. P11 Advogado elogia coluna de Ruy Castro sobre literatura do golpe militar – Tales Castelo Branco de São Paulo/SP (15/03/2014) Excelente (como sempre) o artigo de Ruy de Castro sobre as vésperas dos 50 anos do golpe de 1964. Ele cita vários livros que foram publicados logo após a quartelada. Todos merecem ser lidos (talvez sejam encontrados ainda em “sebos” ou bibliotecas públicas), mas, em especial, historicamente, merece atenção especial o do repórter Edmar Morel, “O Golpe Começou em Washington.” O livro não tem revelações da Operação Brother Sam, mas possui um vasto apanhado dos interesses americanos no Brasil de Jango. Vamos conhecer de onde partiram os primeiros impulsos do golpe de 64. O leitor comenta artigo publicado anteriormente no jornal sobre a literatura do golpe militar. Todo o painel pertence ao discurso interativo, temos a ordem do expor implicado, 39 marcado pelos seguintes tipos linguísticos: presença de unidades que remetem a interação verbal, verbos no presente e futuro perifrástico (cita, merecem, vamos conhecer), existência de unidades que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e tempo (artigo, as vésperas dos 50 anos do golpe de 1964, sebos, bibliotecas públicas, operação Brother Sam, “O Golpe Começou em Washington”, o Brasil de Jango), presença de nomes próprios, verbos e pronomes de primeira e segunda pessoa do singular e plural de valor exofórico (Ruy Castro, Edmar Morel), anáfora pronominal (ele), densidade verbal elevada e baixa densidade sintagmática. P12 Leitores comentam desrespeito a vagas de deficientes e à educação no trânsito – Ana Cristina Dellis de Salvador/BA (16/03/2014) Oportuno o artigo de Ralf Zietemann “Não ocupe a vaga de deficientes”. Num país em que os direitos dos cidadãos são tão desrespeitados, precisamos de uma campanha educacional para conscientizar as pessoas a respeitar as vagas preferenciais. Como filha de uma senhora de 92 anos, com mobilidade reduzida, sinto, como Zietemann, a dificuldade de ver garantido o direito de estacionar num local mais acessível. Seria oportuna também uma campanha para educar motoristas e pedestres a usar e respeitar as faixas de trânsito. A leitora elogia artigo publicado anteriormente pelo jornal sobre as vagas para deficientes e relata sua experiência pessoal. O painel possui três tipos de discurso diferentes: o discurso interativo, o discurso teórico e narração. O painel inicia com a ordem do expor implicado [Oportuno o artigo de Ralf Zietemann “Não ocupe a vaga de deficientes”], marcado pela presença de unidades que remetem a interação verbal (citação de artigo anterior), verbo no presente (oportuno), existência de unidades que remetem a objetos acessíveis (o artigo de), presença de nomes próprios (Ralf Zietemann), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. A partir de [Num país em que...] até [...vagas preferenciais.] continuamos com a ordem do expor, porém autônomo. As marcas do discurso teórico são: ausência de frases não declarativas, verbos no presente (são, precisamos), ausência de unidades que remetem aos interactantes, ao espaço e ao tempo da produção, fraca densidade verbal e alta densidade sintagmática. Novamente de [Como filha...] até [... num local mais acessível.] temos o expor implicado, marcado pelos seguintes recursos linguísticos: presença de unidades que remetem a interação verbal, verbo no presente (sinto), existência de unidades que remetem a objetos 40 acessíveis, ao espaço e ao tempo (Como filha de uma senhora de 92 anos), presença de nomes próprios e verbo de primeira pessoa do singular (Zietemann, sinto), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. Concluindo o painel [Seria oportuna...] temos a ordem do contar autônomo, ou seja, as coordenadas do mundo ordinário estão disjuntas as coordenadas do mundo discursivo, sem marcas das condições de produção do texto e dos interlocutores. Os tipos linguísticos identificados são: monologado e escrito, presença exclusiva de frases declarativas, verbos no condicional (seria), ausência de pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa do singular e do plural, além de densidades verbal e sintagmática média. P13 Leitor homenageia ator Paulo Goulart – Ricardo C. Siqueira de Niterói/RJ (16/03/2014) Os atores Nicette Bruno e Paulo Goulart protagonizaram cenas inesquecíveis na televisão, no teatro e no cinema. Mas a lembrança insiste em contar uma linda história que eles viveram e tiveram a sensibilidade de compartilhar. Um amor assim sobreviveria às guerras, ao tempo e à saudade. Continuem juntos, Paulo e Nicette. O amor não morreu. O leitor faz uma homenagem ao amor dos atores Nicette Bruno e Paulo Goulart. O painel possui dois tipos de discurso diferentes, o discurso interativo [Os atores...] até [... uma linda história que], e em [Continuem...] até o final, e a narração [...eles viveram...] até [... à saudade]. Assim, ora as coordenadas do mundo ordinário são conjuntas as coordenadas do mundo discursivo, ora são disjuntas. Os tipos linguísticos que marcam o discurso interativo são: presença de frases não declarativas (continuem juntos), verbos no presente e pretérito perfeito (protagonizaram, insiste, morreu), presença de nomes próprios, verbos e pronomes de primeira do singular (Nicette Bruno e Paulo Goulart, Nicette e Paulo, insiste), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. Já a narração é marcada pela presença exclusiva de frases declarativas, os verbos no pretérito e condicional (viveram, tiveram, sobreviveria), ausência de pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa do singular e do plural, presença da anáfora pronominal (eles), média densidade verbal e sintagmática, além de ser monologado e escrito. P14 Leitor de Portugal reclama de imposto sobre aposentadoria no exterior – Paulo Lima de Ponte de Lima/Portugal (17/03/2014) 41 Imagine ficar de um mês para o outro sem 25% de sua pensão, por causa da aplicação do Imposto de Renda na fonte – e que isso seja aplicado a qualquer vencimento, sem qualquer relação com o seu patrimônio. Pois os aposentados brasileiros que vivem no exterior estão sofrendo dessa tributação totalmente injusta, discriminatória e de total afronta à dignidade de um aposentado. Meus vencimentos passaram de R$724 para R$543, valores insuficientes para as despesas básicas de casa, como luz, água, remédios e alimentação. O leitor critica o imposto pago pelos aposentados que moram no exterior, enfatizando que os vencimentos após o imposto não são suficientes para as despesas básicas. O painel é composto por dois tipos de discurso, o discurso interativo e o discurso teórico, assim, em alguns momentos temos as marcas das condições de produção e dos interlocutores e, em outros momentos, não. Do início do painel [Imagine...] até [... seu patrimônio] e depois de [Meus vencimentos...] até o final, identificamos a ordem do expor implicado através dos seguintes tipos linguísticos: presença de unidades que remetem a interação verbal (o uso do imperativo e de pronomes de terceira pessoa do singular – seu, sua), presença de frases não declarativas (Imagine...), verbo no pretérito (passaram), presença do pronome de primeira pessoa do singular (meus), alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática. No segmento [Pois os aposentados...] até [... dignidade de um aposentado] temos as marcas de um expor autônomo, a saber: ausência de frases não declarativas, verbos no presente (vivem, estão), ausência de unidades que remetem aos interlocutores ou ao espaço-tempo de produção, presença do organizador lógico-argumentativo (pois), fraca densidade verbal e alta densidade sintagmática. P15 Senador contesta reportagem sobre contratos do governo de Minas com Marcos Valério – Fernando Junqueira (assessor de imprensa do senador Aécio Neves) de Brasília/DF (17/03/2014) Ao contrário do que afirma o título da reportagem “Inquérito sobre contrato de Aécio com Valério não anda”, o senador Aécio Neves nunca manteve nenhum contrato com Marcos Valério. Os contratos assinados entre o governo de Minas, a SMPB e a DNA foram resultado de licitação pública, como os mantidos com outras dez agências de publicidade. Em 2005, com as denúncias contra as empresas, o governador Aécio determinou a imediata suspensão dos contratos entre o Estado e as duas agências. 42 O leitor defende o senador Aécio Neves de denúncias expostas pelo jornal em matéria anterior. O painel pertence a ordem do expor implicado, recortado por um segmento do ainda do expor, porém, autônomo. Do início [Ao contrário...] até [... Marcos Valério.] e, novamente, a partir de [Em 2005...] até o final, temos as marcas do discurso interativo, que são: presença de unidades que remetem a interação verbal (citação de artigo anterior), verbos no presente e pretérito perfeito (afirma, manteve, determinou), existência de unidades que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e tempo (reportagem “Inquérito sobre contrato de Aécio com Valério não anda”, o senador, em 2005, o Estado), presença de nomes próprios (Aécio Neves, Marcos Valério, Aécio), densidade verbal elevada e baixa densidade sintagmática. A ordem do expor autônomo aparece a partir de [Os contratos...] até [... agências de publicidade.]. Os recursos linguísticos são: ausência de frases não declarativas, verbo no pretérito perfeito (foram), ausência de unidades que remetem aos interlocutores ou ao espaçotempo de produção, organizadores lógico-argumentativos (como), anáfora pronominal (outras), baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática. Discurso interativo Presença de unidades que remetem a interação; Frases não declarativas; P P P P P P P P P P P P P 1 2 4 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 + - + + + - - - + + - + + - - - + - - - - - - + + - + + + + + + + + + + + + + - + - + + + + + + + - - + + + + + + + + - + + + + + Verbos no presente, pretérito perfeito e futuro perifrástico; Unidades linguísticas que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e ao tempo; Presença de nomes próprios, verbos e pronomes de primeira e segunda pessoa do singular e plural; 43 Anáforas pronominais; + - - - + - - - + - - - - Densidade verbal elevada; + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + P P P P 10 12 14 15 Densidade sintagmática baixa. Quadro 01: Tipos linguísticos do discurso interativo nos painéis em língua portuguesa. Discurso teórico P3 P5 P6 P9 Ausência de frases não declarativas; + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + - + - - + - + + - - - - - - - - - - - - - - - - Anáforas pronominais e nominais; + - - - - - - + Densidade verbal fraca; + + + + + + + + Densidade sintagmática elevada. + + + + + + + + Relato interativo P2 P3 P8 Ausência de frases não declarativas; + + - + + + - + - + + + Dominância de anáforas pronominais; - - - Densidade verbal elevada; + + + Verbos no presente e pretérito perfeito composto; Ausência de unidades que remetem aos interactantes ou ao espaço-tempo de produção; Organizadores textuais com valor lógicoargumentativo; Frases passivas; Modalizações lógicas e do auxiliar de modo “poder”; Quadro 02: Tipos linguísticos do discurso teórico nos painéis em língua portuguesa. Verbos no pretérito perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito, futuro simples e condicional; Existência de organizadores temporais; Presença de pronomes, adjetivos e verbos de primeira e segunda pessoa do singular e do plural; 44 Densidade sintagmática fraca. + + + Quadro 03: Tipos linguísticos do relato interativo nos painéis em língua portuguesa. Narração P4 P5 P12 P13 Monologado e escrito; + + + + Presença exclusiva de frases declarativas; + + + + Verbos predominantemente no pretérito perfeito e imperfeito; + + + + Organizadores temporais - - - + + + + + Anáforas pronominais e nominais; - - - + Densidade verbal média; + + + + Densidade sintagmática média. + + + + Ausência de pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa do singular e do plural; Quadro 04: Tipos linguísticos da narração nos painéis em língua portuguesa. Em suma, a análise dos painéis em português demonstra que o discurso interativo predomina nesse gênero. Esse tipo de discurso foi encontrado em treze dos quinze painéis, sendo o tipo exclusivo em três (P1, P7 e P11). Os recursos linguísticos utilizados nestes painéis são os verbos no presente e pretérito perfeito do indicativo, os pronomes e verbos na primeira pessoa do singular e do plural, dêiticos de tempo e de lugar, anáforas pronominais, presença de nomes próprios e alta densidade verbal, assim como baixa densidade sintagmática. Trata-se de um resultado esperado, pois os leitores expõem uma situação ou fato, implicando sua opinião e consideração a respeito desse mesmo fato. Todos os demais painéis possuem mais de um tipo de discurso. A combinação entre discurso interativo e discurso teórico, em cinco textos (P6, P9, P10, P14 e P15) continua marcando a ordem do expor através dos verbos no presente do indicativo, pretérito perfeito ou futuro perifrástico. Entretanto, em determinados momentos, o leitor imprime as marcas de implicação da situação e dos interlocutores no texto, por meio do uso de pronomes e verbos na primeira e segunda pessoa do singular ou do plural, de unidades que remetam a interação verbal, a objetos acessíveis, ao espaço e ao tempo de produção, enquanto que em outros, ocorre à ausência dessas unidades que se remetem aos interlocutores ou ao espaço-tempo de produção. Outras marcas linguísticas do discurso teórico encontradas nos painéis são a ausência de frases 45 não declarativas, a presença de marcadores lógico-argumentativos, em frequência mais baixa, a presença de anáforas pronominais, e uma densidade verbal fraca e elevada densidade sintagmática. Os tipos da ordem do narrar, relato interativo e narração, não aparecem exclusivos nos painéis. O relato interativo aparece em três textos (P2, P3 e P8) e a narração em quatro (P4, P5, P12 e P13), sempre combinados com o discurso interativo ou teórico. Os tipos da ordem do narrar apresentam fatos que não fazem parte do mundo ordinário do momento da interação, sendo por isso, utilizados como apoio na formulação do comentário do leitor, e suas marcas linguísticas características são os verbos no pretérito perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito, futuro simples e condicional, marcadores temporais (no relato interativo), ausência de pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa do singular e do plural (nas narrações). Todos os painéis da ordem do narrar possuem média densidade verbal e média densidade sintagmática. 4.3.2. Análise dos painéis em espanhol E1 #Collserola: 'No' a las sanciones a los ciclistas - Viernes, 14 de marzo del 2014 Jonatan López (Barcelona) Hace muchos años que disfruto del parque de Collserola con mis padres, mis amigos y mi pareja, y dentro de poco lo haré con mi hija. Soy un gran aficionado al ciclismo de montaña y al senderismo y creo que podemos disfrutarlo todos conjuntamente; los amantes de la montaña en general no tenemos problemas de convivencia. Es cierto que hay un boom de la bici de montaña y del senderismo, y también lo es que mucha gente no sabe convivir y se cree que solo ellos tienen derecho a disfrutar del lugar. Hay personas incívicas en todos los ámbitos y este no iba a ser diferente. Pero parece que ahora han visto un gran negocio y han decidido meter mano a los que llevamos toda la vida practicando el ciclismo por senderos y trialeras (y también a los nuevos aficionados). En Collserola hay sitio para todos y me parece vergonzoso que quieran sancionar. Más vale que inviertan el dinero recaudado en la limpieza de ramas secas y hojarasca para evitar fuegos. Y ya puestos, que sancionen a quien ensucie, tale o provoque incendios, y no a los que disfrutamos del parque. O leitor relata sua experiência enquanto frequentador do parque Collserola e critica as novas medidas exigidas para ter ingresso ao parque. O painel é composto por tipos de discurso diferentes. Do início [Hace muchos años que disfruto...] até [...no tenemos problemas de 46 convivência], ocorre o discurso interativo, ou seja, um expor implicado, marcado pelo uso dos verbos no presente (disfruto, soy, creo, tenemos, hay, es), marcadores de tempo (hace mucho años, dentro de poco), de lugar (del parque Collserola), pronomes e verbos na primeira pessoa do singular e do plural (disfruto, mis, mi, podemos, tenemos). Outras características do discurso interativo são uma elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. A partir de [Es cierto que hay un bomm...] até [...iba a ser diferente], não há mais implicação. Continua a exposição do fato, porém sem a implicação da situação de ação linguageira. Por isso, se trata de um discurso teórico. As características que marcam esse tipo são: o uso de verbos no presente (es, hay, sabe, cree, tienen), o uso de marcadores lógicoargumentativos (es cierto), a ausência de unidades que remetem à interação, a ausência de verbos e pronomes na primeira pessoa do singular e do plural, a ausência de frases não declarativas, baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática. A partir de [Pero parece...] até o final, novamente ocorre o discurso interativo. O uso dos verbos no presente do indicativo (parece, llevamos, hay, inviertan, sancionen, ensucie, provoque, disfrutamos) e a presença de dois verbos no pretérito perfecto (han visto, han decidido), marcam a conjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação. O pretérito perfecto codifica uma situação que teve início no passado mas continua no momento da interação. A implicação é marcada pelos pronomes pessoais objeto e possesivos, os dêiticos de tempo (hace mucho años, ahora, etc.), a anáfora pronominal (los), além dos próprios verbos na primeira pessoa do singular e do plural. Mais uma vez o discurso interativo é marcado pela elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. E2 Un año de cambios en la Iglesia Viernes - 14 de marzo del 2014 Xavier Farré (Barcelona) El jueves se cumplió el primer aniversario de la elección del papa Francisco. Durante este año de pontificado hemos visto cosas nuevas, hemos experimentado cambios que nos han dejado a los buenos cristianos sorprendidos; hemos visto en la Iglesia un notable cambio de mentalidad, que ya tocaba. Ya sabemos que la doctrina de la Iglesia no se puede tocar, pero sí renovarla y darle un aire diferente y más cercano. Este año ha sido el comienzo de un esperado y largo camino. Sencillo y comprometido, aprendemos cada día de Francisco, y rezamos por él. No painel E2 o leitor exalta o primeiro aniversário de eleição do Papa Francisco e relata seu ponto de vista a respeito das primeiras mudanças determinadas pelo novo Papa. Os tipos de discurso encontrados são o relato interativo e o discurso interativo. O primeiro semento do texto 47 [El jueves se cumplió el primer aniversario de la elección del papa Francisco] pertence à ordem do narrar implicado, caracterizado pelo verbo no pretérito indefinido (cumplió) que marca uma ação que começou no passado e terminou no passado, e o dêitico de tempo (el jueves), apresentando uma relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação linguageira. Outra característica é a ausência de frases não declarativas. A partir de [Durante este año...] até o final, passa-se para uma relação de conjunção entre o mundo discursivo e o mundo ordinário, ou seja, o leitor vai expor os fatos observados no primeiro ano de pontificado de Francisco. As características que marcam o discurso interativo são: verbos no pretérito perfecto compuesto (hemos visto, hemos experimentado, han dejado, hemos visto, ha sido), que apresentam um fato iniciado no passado, mas com consequências no presente; os verbos no presente (sabemos, puede, aprendemos, rezamos); a presença dos dêiticos de tempo (durante este año, este año), a presença de nomes próprios, de verbos e pronomes de primeira e segunda pessoa do singular e do plural (Francisco, hemos, nos, sabemos, aprendemos y rezamos), o uso de anáforas pronominais (la, le, él). Outro aspecto apontado do discurso interativo é a alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática. E3 El centenario del escultor Modest Gené - Sábado, 15 de marzo del 2014 Pere Serra Vilas (Tarragona) El jueves asistimos a la charla que Maria del Carmen Gené dedicó a su padre, el escultor Modest Gené (Reus, 1914-Bata, Guinea Ecuatorial, 1983), en la Biblioteca Pública de Tarragona, donde pudimos disfrutar, vía PowerPoint, de la ingente obra de este gran artista. Fundó el Cercle Artístic de Reus y fue director artístico de la Escuela de Arte Ecuatorial; trabajó en la reconstrucción del Monestir de Poblet, y fue autor de obras como el retablo de la catedral de Bata y un reconocido 'mestre imaginer'. O objetivo deste painel é relatar a palestra que Maria del Carmen Gené dedicou a seu pai. Todo o texto é da ordem do contar. No início [El jueves...] até [...gran artista] ocorre um relato interativo, assim um contar implicado. Depois, a partir de [fundó...] até o final [‘mestre imaginer’], ocorre uma narração, ou seja, um contar autônomo. As características identificadas do relato interativo são: a presença de verbos no pretérito indefinido, logo, marcando uma relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação da linguagem (asistimos, dedicó, pudimos); presença de organizadores espaço-temporais (el jueves, en la Biblioteca Pública de Tarragona), a presença de pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa do 48 singular ou do plural (asistimos, pudimos), presença de anáforas pronominais (este), ausência de frases não declarativas, alta densidade verbal e uma baixa densidade sintagmática. Já a narração é marcada pelos verbos no pretérito indefinido (fundó, fue, trabajó), ausência de pronomes, verbos e adjetivos de primeira e segunda pessoa de singular ou plural, presença exclusiva de frases declarativas, média densidade verbal e sintagmática, além de ser monologado e escrito. E4 Ojalá una ciclogénesis se llevara la corrupción - Sábado, 15 de marzo del 2014 Geni Bolaños (Madrid) Nos familiarizamos con la prima de riesgo, luego con la epidemia de ERE fraudulentos y, continuamente, con la corrupción. Ahora irrumpe la meteorología. Todo es un festín del idioma y del afán por atraer la atención mediática. Ojalá ese vendaval de lluvias, vientos y olas enormes se diera en la política para que la dejara limpia y se retomaran los cauces naturales. Ojalá, y que una ciclogénesis se llevara tanta voracidad especulativa y corrupción. No nos vendría nada mal una especie de purgatorio terrenal por el que pasaran todos los que tienen algo que ver con la corrupción, el afán de poder, el protagonismo personal, el acaparamiento de la riqueza social y el fraude a la democracia. Y tampoco estaría nada mal que una tormenta de viento huracanado dejara en cueros a los que permanecen en la sombra. O painel E4 trata dos escândalos de corrupção na Espanha. Ocorrem aí dois tipos de discurso diferentes, primeiro o discurso interativo e depois o relato interativo. Do início do painel [Nos familiarizamos…] até […atención mediática], há o expor implicado marcado pelos verbos no presente (familiarizamos, irrumpe, es), que apresentam uma relação de conjunção entre o mundo discursivo e o mundo ordinário; o dêitico de tempo (ahora); a presença de pronomes e verbos de primeira ou segunda pessoa do singular ou do plural (nos familiarizamos); alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática. Já a partir de [Ojalá ese…] até o final [… en la sombra], o painel continua sendo implicado, porém mudamos da ordem do expor para a ordem do contar, ou seja, uma relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação linguageira. As características que marcam o relato interativo são: ausência de frases não declarativas, verbos no subjuntivo e no condicional (se diera, dejara, retomaran, llevara, vendría, estaría, dejara), a presença do pronome primeira pessoa do plural (nos), a presença de anáforas pronominais (se, la, los). O uso da expressão “Ojalá” também pode ser considerado uma marca do relato interativo pois 49 expressa um desejo, uma vontade do leitor que algo pudesse acontecer. Da mesma forma que o discurso interativo, o relato interativo possui alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática. E5 Las fronteras de la Unión Europea - Sábado, 15 de marzo del 2014 Marc Antoni Adell (Valencia) ¿Ahora se disparan las alarmas? ¿Ahora que Suiza ha decidido limitar la inmigración... europea, ponen el grito en el cielo? ¿Ahora que democráticamente y en referendo los suizos ponen coto a la presencia de ciudadanos de la Unión, unos y otros se rasgan hipócritamente las vestiduras? Ahora que los inmigrantes son blancos, visten con elegancia y hablan idiomas ¿alguien se atreve a cerrarles el paso? Donde las dan las toman. Tal vez habría que reflexionar sobre qué política (injusta y nefasta) migratoria practican los países de la UE --España, en especial-- y cómo blindan las fronteras (concertinas incluidas). Neste painel o leitor questiona sobre a política migratória da União Europeia. O painel possui dois tipos de discurso, o discurso interativo e o dicurso teórico. Do início [¿Ahora se disparan...] até [... cerrarles el paso], há o discurso interativo e, a partir de [Donde las...] até o final [...(concertinas incluidas)], um discurso teórico. As características que marcam o discurso interativo são: a presença de frases não declarativas (interrogativas), a presença de verbos no presente e no pretérito perfecto compuesto (se disparan, há decidido, ponen, se rasgan, son, visten, hablan, se atreve), a presença do dêitico temporal (ahora), dêiticos espaciais (Suiza, europea, Unión), a presença de anáforas pronominais (las, les), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. Já o que caracteriza o discurso teórico é: a ausência de frases não declarativas, o uso de verbos no presente e no condicional (dan, toman, habría, practican, blindan), a ausência de unidades que remetem aos interactantes da produção, a ausência de nomes próprios, pronomes e verbos de primeira ou segunda pessoa do singular ou do plural, presença de organizadores textuais com valor lógico-argumentativo (tal vez), presença de uma anáfora pronominal (las), uma fraca densidade verbal e elevada densidade sintagmática. E6 Referendo ilegal - Sábado, 15 de marzo del 2014 Anna Ribes (Figueres) La mala suerte del señor Artur Mas empieza a ser preocupante. Si el proceso de independencia no tenía ningún apoyo internacional salvo el de dos partidos xenófobos y de ultraderecha como 50 el Vlaams Belang flamenco y la Liga Norte italiana, ahora le vuelven a pillar a contrapié los acontecimientos en Crimea, donde toda la comunidad internacional manifiesta que no aceptará ningún referendo de independencia porque es contrario a la constitución de Ucrania y a las leyes internacionales, como pasa en Catalunya. Lo que tendría que hacer es reducirse su sueldo y el de sus 'consellers' a 1.714 euros, ya que tanto les gusta la cifra. A leitora comenta a falta de apoio político de Artur Mas e as ideias de independência da Catalunha. O painel é marcado pela presença de três tipos de discurso diferentes. Inicia-se com um segmento pertencente ao discurso interativo [La mala suerte del señor Artur Mas empieza a ser preocupante], marcado pela presença do nome próprio (Artur Mas) e do verbo no presente (empieza), o que identifica uma relação de conjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação linguageira. A partir de [Si el proceso...] até [... Norte Italiana], há uma narração, marcada pelo uso do verbo no pretérito imperfeito (tenía), pela ausência de unidades que remetem aos interactantes, ao espaço e o tempo de produção, presença exclusiva de frases declarativas, densidade verbal e sintagmática média, além de ser monologado e escrito. Novamente, a partir de [ahora...] até [... Catalunya], retoma-se o discurso interativo, caracterizado pelo uso de verbos no presente e no futuro simples (vuelven, manifiesta, aceptará, es, pasa), pelo dêitico de tempo (ahora), pelos dêiticos espaciais (Ucrânia e Catalunya) e pela anáfora pronomial (le). De [Lo que...] até o final, ocorre o dicurso teórico, marcado pelo uso do condicional e do presente (tendría, es, les gusta), a ausência de frases não declarativas, a ausência de unidades que remetem diretamente aos interactantes, ou ao espaço-tempo da produção, a ausência de nomes próprios e de pronomes e verbos de primeira ou segunda pessoa do singular ou plural, presença de organizadores lógico argumentativos (lo que, ya que), anáfora pronominal (les), fraca densidade verbal e alta densidade sintagmática. E7 La ITV y las multas - Sábado, 15 de marzo del 2014 Francisco Riera (Barcelona) Es vergonzoso que Trànsit empezara a multar a usuarios por no haber pasado la ITV, aun sabiendo que Tráfico no había actualizado sus bases de datos. Me parece correcto que hayan avisado una primera vez de dicha circunstancia, e incluso una segunda. Lo inaceptable es que hayan enviado esas denuncias (con multas de 200 euros) sin reclamar a Tráfico que actualizara la base de datos, en vez de dejar, como decía el director de Trànsit, Joan Josep Isern, que sea el propio usuario quien se tenga que molestar en reclamar y poner los datos al día. Así, si cuela, cuela: seguro que alguien habrá pagado la multa por temor a ser embargado. 51 O leitor comenta as multas dadas aos motoristas que não passaram pela inspeção veicular obrigatória na cidade. Praticamente todo o texto é um segmento de narração. A única exceção é o segmento [Me parece correcto que hayan avisado una primera vez de dicha circunstancia, e incluso una segunda], que é um relato interativo. Assim, todo o texto pertence à ordem do contar, ou seja, existe uma relação de disjunção entre o conteúdo temático e a situação de ação linguageira. As características da narração são: monologado e escrito, presença de frases declarativas, uso de verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo, pretérito pluscuamperfecto do indicativo, pretérito perfecto do subjuntivo, presente do subjuntivo e o futuro perfecto (empezara, había actualizado, hayan enviado, actualizara, sea, habrá pagado), a ausência de pronomes, adjetivos e verbos de primeira e segunda pessoa do singular ou do plural, uma média densidade verbal e sintagmática. O caráter disjunto implicado do relato interativo é marcado pelo uso do verbo no pretérito perfecto do subjuntivo (hayan avisado), presença de organizadores temporais (una primera vez, una segunda), a presença de pronome e verbo na primeira pessoa do singular (me parece), ausência de frases não declarativas, baixa densidade sintagmática e alta densidade verbal. E8 Rusia y los generales - Sábado, 15 de marzo del 2014 Jordi Martín Mateo (Barcelona) Rusia vuelve a esgrimir, como en épocas zaristas y comunistas, el poderío militar, pero esta vez pese las ordenanzas de paz mundiales que se comprometió a respetar. Al actual mandatario ruso no le ha sentado nada bien que buena parte de la población ucraniana tenga interés en Europa, la cual al menos no es tan autoritaria como buena parte de los presidentes que ha tenido que aguantar este país tan rico, por cierto, en recursos naturales. Cuando quieres vencer a un enemigo, debes buscar su debilidad y explotarla. Tranquila y silenciada durante tanto tiempo, la parte rusa de Ucrania se revuelve contra un Gobierno que le desagrada. Rusia la apoya sin reparos. Pero, pese a su formación y cultura, más de la mitad de la población rusa continúa en su lucha por sobrevivir a la pobreza. Ahora ¿otra aventura militar? Pues sí. Bajo la recién colocada máscara de país emergente, sigue prefiriendo la opinión de los generales. Neste painel, o leitor comenta a posição da Rússia em relação à Criméia. A predominância é de discurso teórico, mas também ocorrem a narração e o discurso interativo. Primeiro, iniciando em [Rusia vuelve...] até [... paz mundiales], depois de [Al actual...] até [... 52 la pobreza] e, por último, de [Pues...] até o final, ocorre o expor autônomo, marcado pelo uso de verbos no presente e pretérito perfecto do indicativo (vuelve, ha sentado, es, ha tenido, quieres, debes, se revulve, desagrada, apoya, continúa, sigue), a ausência de unidades que remetem aos interactantes, ou ao espaço-tempo de produção, a ausência de nomes próprios e de pronomes, verbos e adjetivos de primeira e segunda pessoa do singular ou do plural, a presença de organizadores lógico-argumentativos (pero, esta vez, por cierto, cuando, bajo), presença das anáforas pronominais (le, la), uma baixa densidade verbal e alta densidade sintagmática. O segmento [... que se comprometió a respetar] é caracterizado como narração por possuir o verbo no pretérito indefinido (comprometió), ou seja, uma disjunção entre o mundo da interação e o mundo ordinário e a ausência de promones, adjetivos e verbos que remetem diretamente ao agente produtor do texto ou a seus destinatários, além de ser monologado e escrito. No final do painel encontra-se a interrogação [Ahora, ¿outra aventura militar?], apresentando um expor implicado, ou seja, um discurso interativo caracterizado pela presença de frases não declarativas (interrogativa) e a presença do dêitico de tempo (ahora). E9 "Con la receta electrónica, pagamos justos por pecadores" - Sábado, 15 de marzo del 2014 Ramon Masagué (Barcelona) Como enfermo crónico que necesita cada mes sus pastillas, la receta electrónica me parece demasiado ajustada. Prevé dosis para 30 días y, como pierdas la caja o el pastillero o se te acaben en fin de semana, estás perdido. Antes, si te sucedía esto, podías pedir a tu médico de cabecera una receta extra. Ahora, solo si el especialista te aumenta o baja la dosis te pueden ajustar la receta electrónica, pero como se te haya perdido una caja de medicamentos o los necesites con urgencia, te las tienes que ver con el farmacéutico. Ahora vendrá Semana Santa y después el verano. Si me voy fuera por vacaciones, tendría que pedir todos los medicamentos por adelantado y tardaría días en tenerlos, porque algunos son difíciles de encontrar, pero si sucede un imprevisto ¿qué puedo hacer? Los enfermos crónicos gastamos lo justo, pero por cuatro desalmados que gastaban a lo bestia, pagamos justos por pecadores. No painel E9, o leitor critica o uso da receita eletrônica por regular as doses que podem ser prescritas pelos médicos. O texto possui predominantemente dois tipos de discurso diferentes, sendo os dois implicados: o discurso interativo e o relato interativo, porém recortado por um segmento de narração. O início do texto [Como enfermo…] até [… demasiado ajustada] é da ordem do expor implicado, sendo identificado pelo uso de verbos no presente (necesita, 53 me parece) e a presença de verbo e pronome na primeira pessoa do singular (me parece); depois, a partir de [Prevé…] até [… receta extra] mudamos para um contar implicado, ou seja, as coordenadas do mundo discursivo estão distantes das coordenadas do mundo ordinário. As características encontradas do relato interativo são: o uso de verbos no imperativo, no presente do subjuntivo e pretérito imperfecto (prevé, pierdas, acaben, sucedía, podías), a presença do organizador temporal (antes), a presença de pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa do singular (pierdas, te, estás, podías, tu), uma alta densidade verbal e mais baixa densidade sintagmática. Novamente, a partir de [Ahora,…] até [… la receta electrónica], retornarmos ao expor implicado marcado pelo uso de verbos no presente (aumenta, baja, pueden), pela presença do pronome de segunda pessoa do singular (te) e a presença de unidades que remetem a objetos acessíveis, ao espaço ou ao tempo (ahora). O segmento que inicia em [pero…] e finaliza em […tenerlos] retorna a ordem do contar implicado sendo marcado pelos verbos no pretérito perfecto do subjuntivo, presente do subjuntivo, futuro simples do indicativo e o condicional (haya perdido, necesites, tienes, vendrá, tendría, tardaría), a presença dos organizadores temporais (ahora, después), a presença de verbos e pronomes de primeira e segunda pessoa do singular (te, necesites, tienes, me, voy, tendría), anáforas pronominais (los, las), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. No final do painel, ocorre mais uma vez o discurso interativo, ou seja, um expor implicado, as coordenadas do mundo discursivo são conjuntas com as coordenadadas do mundo ordinário. Entre [porque algunos…] até […gastamos lo justo], e depois o final [pagamos justos por pecadores] temos o discurso interativo com as seguintes características: verbos no presente (son, sucede, puedo, gastamos, pagamos), frases não declarativas (¿qué puedo hacer?), presença de verbos de primeira pessoa do singular e do plural (puedo, gastamos, pagamos), alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática. O segmento […pero por cuatro desalmados que gastaban a lo bestia…] que recorta o discurso interativo é uma narração, pois apresenta um verbo no pretérito imperfecto (gastaban) e não possui pronomes, adjetivos e verbos de primeira e de segunda pessoa do singular ou do plural que remetam diretamente aos interactantes, além de ser monologado e escrito. E10 La estafeta de correos de la plaza Repartidor es patrimonio de L'Hospitalet - Domingo, 16 de marzo del 2014 Roger Bastida (L'Hospitalet del Llobregat) 54 La estafeta de Correos de L'Hospitalet de Llobregat (en la plaza del Repartidor) es un edificio catalogado como bien cultural de interés local. Inaugurado en 1927, fue el primer edificio de Correos de la ciudad. Es obra de Ramon Puig i Gairalt, uno de los arquitectos del Noucentisme de más renombre en Catalunya. Este edificio se encuentra en unas condiciones lamentables. La torre principal presenta antenas de televisión fijadas chapuceramente con alambres, el óculo del antiguo reloj (hoy desaparecido) está tapiado con tablones de madera, las paredes han perdido la decoración noucentista pintada, el buzón de hierro en forma de cabeza de león ya no está. Todo el conjunto presenta un aspecto de dejadez importante. Es un edificio protegido, obra de uno de los arquitectos de más prestigio de su generación, y se encuentra en un estado ciertamente preocupante. El edificio de Correos lleva 87 años degradándose; ha estado, como mínimo, tres décadas sin recibir ni una sola capa de pintura en la fachada, y ni la empresa de Correos ni ningún gobierno municipal han hecho nada para poner remedio a su deterioro. ¿Cuáles son las intenciones del ayuntamiento en relación con este edificio protegido, ahora que Correos se ha trasladado a otro local? ¿Por qué la empresa de Correos no ha tenido ningún tipo de esmero con su primera sede a la ciudad? ¿Cuándo piensan restaurar, siguiendo criterios históricos, este edificio? O leitor denuncia a situação degradante do prédio dos Correios mesmo sendo um patrimônio catalogado como bem cultural de interesse local. O painel possui três tipos de discurso diferentes: o discurso teórico, a narração e o discurso interativo. A partir de [La estafeta…] até [… interés local] e novamente de [Es obra de..] até [… a su deterioro], há expor autônomo. As características encontradas são: uso de verbos no presente e pretérito perfecto que marcam a relação de conjunção entre o mundo discursivo e o mundo ordinário (es, se encuentra, presenta, está, han perdido, lleva, ha estado, han hecho), a ausência de unidades que rementem aos interactantes, a ausência de pronomes e adjetivos de primeira e segunda pessoa do singular ou do plural, uma fraca densidade verbal e alta densidade sintagmática. Já o segmento [Inaugurado en 1927, fue el primer edificio de Correos de la ciudad] pertence a ordem do contar, também autônomo, pois, apresenta verbo no pretérito indefinido (fue) que marca a relação de disjunção entre as coordenadas do mundo discursivo e do mundo ordinário, a presença do organizador temporal (Inaugurado en 1927), ausência de pronomes e adjetivos de primeira e segunda pessoa do singular e do plural que remetem aos interactantes, é monologado e escrito, e possui densidade verbal e sintagmática média. 55 Por último, aparece uma série de perguntas [¿Cuáles son…] até […este edificio?], que marcam uma relação de interação entre o agente/produtor do texto e os seus destinatários, sendo assim, da ordem do expor implicado. Além das frases não declarativas, outras características encontradas são: verbos no presente e pretérito perfecto do indicativo (son, ha trasladado, ha tenido, piesan), presença de unidades que remetem a objetos acessíves, ao espaço ou tempo (ahora, Correos), alta densidade verbal e baixa densidade sintagmática. E11 España y sus múltiples crisis - Domingo, 16 de marzo del 2014 Ramon Novell (Esparreguera) En los países capitalistas, cada cierto tiempo se produce una crisis económica, controlada por unos pocos por no decir provocada. Pero en el nuestro existen además otras dos crisis mucho más graves: la política y de los políticos, progenitores en buena parte de la económica, y la de la justicia. Leyes obsoletas, nefastas, arcaicas; un sistema judicial lentísimo y perezoso en el que los procesos llegan a caer el olvido. Los casos más graves de corrupción, malversación de fondos públicos, fuga de capitales, ERE fraudulentos… son castigados con penas leves tras procesos interminables; los capitales nunca vuelven, y cuando aparece un juez justo y con agallas profesionales, se le aparta del caso. O leitor aponta a política e os políticos como responsáveis pela crise econômica vivida na Espanha. O painel possui dois tipos de discurso diferentes: o discurso teórico e o discurso interativo. Todo o painel pertence a ordem do expor, porém em determinados momentos temos as marcas das condições de produção do texto (implicação) e, em outros momentos, não (autonomia). Do início do painel [En los países… no decir provocada] e a partir de [Leyes obsoletas…] até o final [… se le apartan do caso], há expor autônomo. As características encontradas são: uso de verbos no presente do indicativo que marcam a relação de conjunção entre o mundo ordinário e o mundo discursivo (se produce, llegan, son, vuelven, aparece, aparta), ausência de unidades que rementem aos interactantes ou ao espaço-tempo de produção, ausência de frases não declarativas, existência de organizadores textuais com valor lógicoargumentativo (cada cierto tiempo, tras), presença de anáforas pronominais (se le), fraca densidade verbal e alta densidade sintagmática. 56 O painel é recortado por um segmento de discurso interativo [Pero en el nuestro... y de la justicia]. Os tipos linguísticos identificados são: verbos no presente do indicativo (existen), presença de pronome de primeira pessoa do plural (nuestro), anáfora pronominal (la), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. E12 “No es el momento para gastas millones en una consulta” - Domingo, 16 de marzo del 2014 Rakel Calle (El Vendrell) Me indigna leer que cada vez hay más madres desnutridas que no pueden alimentar a sus bebés, por no hablar de madres o padres que dejan de comer para alimentar a sus hijos o de quien rebusca en los contenedores. Por mucho que volvamos la cara, el drama está aquí, en este país, Catalunya o España, qué más da. No es momento de gastar millones en una consulta. A leitora aponta os problemas socias do país, argumentando que o dinheiro que seria gasto em um referendo poderia ser gasto na solução desses problemas. Todo o painel pertence a ordem do expor implicado, ou seja, é um discurso interativo. Os tipos linguísticos identificados são: verbos no presente do indicativo (indigna, hay, pueden, dejan, rebusca, volvamos, está, es), presença de verbos e pronomes de primeira pessoa do singular e do plural (me, volvamos), unidades linguísticas que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e ao tempo (aqui, este país), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. E13 “Después de la independencia, elecciones urgentes” - Domingo, 16 de marzo del 2014 Teresa Baldiz (Arenys de Mar) ¿Qué sentido tiene que CDC haga público su proyecto político para una futura Catalunya independiente?¿Quién les ha dicho que en caso de que la independencia llegue a hacerse realidad serán ellos los que gobiernen? Lo primero será celebrar elecciones urgentes para formar el Gobierno de ese nuevo estado... ¿Verdad? A leitora critica a iniciativa do partido político de Catalunha em apresentar seu projeto político, quando no caso de independência da comunidade autônoma, o primeiro a se fazer são eleições. O painel E13 possui dois tipos de discurso diferentes: o discurso interativo e o relato interativo. 57 Do início do painel [¿Qué sentido…] até [...¿Quién les ha dicho que...], além do questionamento final [¿Verdad?], há expor implicado. As características encontradas são: presença de unidades que remetem a interação verbal (¿Verdad?), presença de frases não declarativas, uso de verbos no presente do indicativo e pretérito perfecto compuesto do indicativo que marcam a relação de conjunção entre o mundo ordinário e o mundo discursivo (tiene, ha dicho), unidades linguísticas que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e ao tempo (CDC, Catalunya), presença de anáfora pronominal (les), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. A partir de [en caso de que…] até […ese nuevo estado…] temos um narrar implicado, ou seja, um relato interativo. Os tipos linguísticos que marcam essa relação de disjunção entre o mundo ordinário e o mundo discursivo são: ausência de frases não declarativas, verbos no presente do subjuntivo e no futuro simples (llegue, serán, será), presença de anáfora pronominal (los), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. E14 Bicing: aumento de la reposición de bicis en temporada alta - Lunes, 17 de marzo del 2014 - Enric Domingo (Jefe de Comunicació de Barcelona Serveis Municipals) En respuesta a la carta de Marta Compte publicada el 2 de marzo, queremos señalar que la estación 22 del Bicing se encuentra en una zona de uso muy intenso del servicio, lo que conlleva que en pocos minutos los usuarios hagan uso de todas las bicicletas disponibles. Su ubicación en la parte alta de la ciudad hace que la reposición se lleve a cabo a través de las furgonetas del servicio y que pocos usuarios dejen bicicletas allí. El próximo 17 de marzo, como es habitual en el inicio de la temporada alta, reforzaremos el servicio nocturno de reposición de bicicletas y, por tanto, debería percibirse una mejora en su disponibilidad. O leitor responde a uma carta publicada no jornal anteriormente explicando a falta de bicicletas para uso da população na alta temporada. O painel E14 possui dois tipos de discurso diferentes: discurso interativo e relato interativo. Do início do painel [En respuesta...] até [...lo que conlleva] e também no segmento [...como es habitual en el inicio de la temporada alta...], o leitor expõe o fato e coloca as marcas das condições de produção e do texto. Os tipos linguísticos identificados são: presença de unidades que remetem à interação verbal (En respuesta a la carta de Marta Compte...), verbos no presente (queremos, encuentra, conlleva, es), existência de unidades linguísticas que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e ao tempo (2 de marzo, estación 22 del Bicing, en el 58 inicio de la temporada alta), presença de nomes próprios, verbos e pronomes de primeira e segunda pessoa do singular e plural (Marta Compte, queremos), elevada densidade verbal e baixa densidade sintagmática. A partir de [...que en pocos minutos...] até [...17 de marzo...], e depois de [...reforzaremos...] até o final do painel, as coordenadas do mundo ordinário passam a ser disjuntas ao mundo discursivo, passamos a ordem do contar implicado. As marcas do relato interativo identificadas são: ausência de frases não declarativas, verbos no subjuntivo (hagan, lleve, dejen), no futuro simples (reforzaremos) e no condicional (debería), existência de organizadores temporais (en pocos minutos, el próximo 17 de marzo), presença de verbo de primeira pessoa do plural (reforzaremos), densidade verbal elevada e baixa densidade sintagmática. E15 Señales innecesarias - Lunes, 17 de marzo del 2014 Adam Macià (Manlleu) Últimamente están cambiando y se están añadiendo algunas señales en varias carreteras de Osona. Está bien cuando es para mejorar la seguridad en las carreteras, sustituir las señales en mal estado o actualizar las que son orientativas, pero en el caso de algunas de las que han cambiado no era necesario, porque las que había aún estaban en buen estado. Incluso en algunos casos hacía poco que se habían sustituido, como las de las rotondas del polígono industrial Malolles de Vic. Además se han vuelto a cometer errores, como poner señales (hace poco las han tapado) que indican cómo ir a Olot por la antigua carretera Vic-Olot (C-153), que atraviesa el polígono, al mismo tiempo que quitan otras viejas. Nadie se aclara sobre cómo indicar para ir a Olot. O leitor critica a mudança desnecessária de placas e semáforos em várias ruas de Osona . O painel possui dois tipos de discurso diferentes: o discurso teórico e a narração. Do início do painel [Últimamente...] até [...no era necesario...], e novamente de [...Además...] até o final do painel, temos a ordem do expor autônomo. Os tipos linguísticos identificados são: ausência de frases não declarativas, verbos no gerúndio, presente e no pretérito perfeito composto (están cambiando, están añadiendo, está, es, han cambiado, han vuelto, han tapado, indican, atriviesa, quitan, aclara), existência de organizadores textuais com valor lógico-argumentativo (últimamente, pero, además, hace poco), presença de anáforas pronominais (las), fraca densidade verbal e alta densidade sintagmática. 59 O segmento que inicia em [...porque...] até [...Malolles de Vic…] temos um narrar autônomo. As características são: é monologado e escrito, presença exclusiva de frases declarativas, verbos no pretérito imperfeito (había, estaban, hacían), presença de organizadores temporais (hacía poco), ausência de pronomes de primeira e de segunda pessoa do singular e do plural, anáforas pronominais (las), média densidade verbal e média densidade sintagmática. A seguir resumiremos os resultados das análises de cada painel e tipos de discurso, assim como os tipos linguísticos de cada um. E E E E E E E E E E E E 1 2 4 5 6 8 9 10 11 12 13 14 + + + - - - + + + + + + - - - + - + + + - - + - + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + - + + + + + + + + - + - + + + + Anáforas pronominais; + + - + + - - - + + + - Densidade verbal elevada; + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + E E E 10 11 15 Discurso interativo Presença de unidades que remetem a interação; Frases não declarativas; Verbos no presente, pretérito perfeito e futuro perifrástico; Unidades linguísticas que remetem a objetos acessíveis, ao espaço e ao tempo; Presença de nomes próprios, verbos e pronomes de primeira e segunda pessoa do singular e plural; Densidade sintagmática baixa. Quadro 05: Tipos linguísticos do discurso interativo nos painéis em língua espanhola. Discurso teórico E1 E5 E6 E8 60 Ausência de frases não declarativas; + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + - + + - - - - - - - - - - - - - - Anáforas pronominais e nominais; - + + + - + + Densidade verbal fraca; + + + + + + + Densidade sintagmática elevada. + + + + + + + E E 13 14 Verbos no presente e pretérito perfeito composto; Ausência de unidades que remetem aos interactantes ou ao espaço-tempo de produção; Organizadores textuais com valor lógicoargumentativo; Frases passivas; Modalizações lógicas e do auxiliar de modo “poder”; Quadro 06: Tipos linguísticos do discurso teórico nos painéis em língua espanhola. Relato interativo E2 E3 E4 E7 E9 Ausência de frases não declarativas; + + + + - + + + + + + + + + + + + + + - + - + + + + + + Dominância de anáforas pronominais; - + + - - + - Densidade verbal elevada; + + + + + + + Densidade sintagmática fraca. + + + + + + + E E 10 15 + + Verbos no pretérito perfeito, imperfeito, maisque-perfeito, futuro simples e condicional; Existência de organizadores temporais; Presença de pronomes, adjetivos e verbos de primeira e segunda pessoa do singular e do plural; Quadro 07: Tipos linguísticos do relato interativo nos painéis em língua espanhola. Narração E3 E6 E7 E8 E9 Monologado e escrito; + + + + + 61 Presença exclusiva de frases declarativas; + + + + + + + + + + + + + + - - - - - + + + + + + + + + Anáforas pronominais e nominais; - - - - - - + Densidade verbal média; + + + + + + + Densidade sintagmática média. + + + + + + + Verbos predominantemente no pretérito perfeito e imperfeito; Organizadores temporais Ausência de pronomes e verbos de primeira e segunda pessoa do singular e do plural; Quadro 08: Tipos linguísticos da narração nos painéis em língua espanhola. Como percebemos, no corpus em espanhol, quase todos os painéis possuem mais de um tipo discursivo, com exceção do painel E12, sendo o discurso interativo predominante, pois aparece em doze dos quinze painéis. A combinação de discurso interativo e discurso teórico aparece em três textos (E1, E5 e E11), marcando a ordem do expor, portanto, as coordenadas do conteúdo temático são conjuntas com a situação de ação linguageira. Mas, em determinados momentos, o leitor imprime as marcas de implicação da situação e dos interlocutores no texto, enquanto que em outros, ocorre a ausência dessa implicação. Os recursos linguísticos utilizados nesses painéis são: verbos no presente, pretérito perfecto compuesto do indicativo e no condicional, presença ou ausência de unidades que remetem ao espaço e tempo de produção, marcadores lógico-argumentativos, presença ou ausência de verbos e pronomes na primeira e segunda pessoa do singular e do plural, anáforas pronominais e frases não declarativas. Notamos que no discurso teórico não aparecem as frases passivas e modalizações com o verbo poder. Os tipos da ordem do narrar, relato interativo e narração, também não aparecem exclusivos nos painéis. O relato interativo aparece em sete textos (E2, E3, E4, E7, E9, E13 e E14) e a narração aparece em sete (E3, E6, E7, E8, E9, E10, E15). A combinação relato interativo e discurso interativo aparece em quatro textos (E2, E4, E13 e E14), em outros dois textos (E3 e E7) há o relato interativo junto com a narração (N). O painel (E15) é marcado pelo uso da narração junto com o discurso teórico. Em três painéis aparece a combinação de três tipos de discurso diferentes, discurso teórico, narração e discurso interativo (E6, E8 e E10) e discurso interativo, relato Interativo e narração (E9). Os tipos linguísticos da ordem do expor permanecem os mesmos, enquanto que na ordem do contar implicado, há verbos no pretérito 62 indefinido, no presente do subjuntivo, no condicional, no pretérito imperfeito do subjuntivo, no pretérito pluscuamperfecto do indicativo, no pretérito perfecto do subjuntivo, no presente do subjuntivo e o no futuro do perfecto; presença ou ausência de pronomes e verbos na primeira e segunda pessoa do singular ou do plural, ausência de frases não declarativas, densidade verbal elevada e sintagmática baixa na ordem do contar implicado e densidades verbal e sintagmática média no contar autônomo. Nos segmentos identificados como narração visualizamos pocos organizadores temporais e uma quantidade menor de anáforas pronominais. Os tipos da ordem do narrar apresentam fatos que não fazem parte do mundo ordinário do momento da interação, sendo por isso, utilizados como apoio na formulação do comentário do leitor, como apoio à opinião dos leitores, mas também apresenta situações que os leitores gostariam que fossem diferentes da realidade. 4.3.3. Comparação entre português e espanhol No que diz respeito à comparação da análise dos painéis nas duas línguas, nossa primeira observação é a maior diversidade de tipos de discurso encontrada nos textos em língua espanhola. Em três painéis do jornal Folha de São Paulo, encontramos apenas um tipo de discurso (P1, P7 e P11), o discurso interativo. Em quase todas “las cartas de lectores” do jornal “El periódico de Catalunya” existem ao menos dois tipos de discurso diferentes, a única exceção é o painel E12. Podemos inferir que em espanhol o processo de construção do ponto de vista dos leitores envolve um maior movimento entre os mundos discursivos e as instâncias de agentividade. Apesar de nas duas línguas o discurso interativo ser predominante, nas “cartas de los lectores” verificamos que os leitores combinam os tipos da ordem do contar e do expor com mais frequência. Em determinados momentos o produtor do texto coloca as coordenadas que organizam o conteúdo temático conjuntas as coordenadas do mundo ordinário, e em outros momentos impõe um distanciamento. Da mesma forma, em determinados pontos identificamos as condições de produção do texto, e em outros não. Nos painéis dos leitores do jornal Folha de São Paulo a presença de segmentos da ordem do contar é menor, sendo assim, nos comentários dos leitores em língua portuguesa predominam o expor, às vezes autônomo, às vezes implicado. Sobre os tipos linguísticos encontrados trataremos primeiro os tipos da ordem do expor (implicado e autônomo). No corpus em português a predominância é do uso de verbos no presente do indicativo, enquanto que no corpus em espanhol identificamos o uso além do 63 presente do indicativo, do pretérito perfecto compuesto. O uso do pretérito perfecto compuesto da língua espanhola não corresponde ao uso do pretérito perfeito do português. Em português o pretérito perfeito indica uma ação iniciada e acabada no passado (Castilho 2010), já em espanhol, esse tempo verbal se refere a fatos passados, mas que possuem relação com o presente do agente/produtor do texto. Inclusive, em alguns casos, pode ser usado também com referência a um futuro, como no exemplo: “En un minuto he acabado” (Torrego, 2002). Em português, para essa mesma frase utilizaríamos o presente, ou o futuro perifrástico: Em um minuto acabo/ Em um minuto vou acabar. Dessa forma, o pretérito perfecto em espanhol apesar de tratar de fatos iniciados no passado, aparentemente do mundo do contar, aproxima esses fatos e suas consequências ao momento presente da interação, ou seja, da ordem do expor. Outros recursos linguísticos que encontramos em ambas as línguas foram dêiticos de tempo e lugar, presença ou ausência de frases não declarativas, presença (no expor implicado) ou ausência (no expor autônomo) de nomes próprios, pronomes e verbos na primeira ou segunda pessoa do singular ou do plural, e anáforas pronominais e organizadores lógico-argumentativos em número maior no corpus em espanhol. Não encontramos frases passivas e modalizações lógicas nos painéis nos dois idiomas. Quando verificamos os tipos da ordem do narrar (implicado e autônomo) percebemos que eles são utilizados bem mais em língua espanhola, do que em língua portuguesa. Porém, mais uma vez, a forte diferença entre as duas línguas acontece através dos verbos. Nos painéis em português existe uma predominância no uso de verbos no pretérito perfeito e imperfeito do indicativo, enquanto que em espanhol a diversidade é bem mais ampla, incluindo outros pretéritos como o indefinido, o imperfecto e o pluscuamperfecto, e até outros modos como o subjuntivo. Quando usamos o pretérito indefinido no espanhol queremos falar de ações iniciadas e acabadas no passado, da ordem do contar. Expressa a anterioridade do fato ao momento da interação, seria correspondente ao pretérito perfeito no português. O pretérito imperfecto em espanhol e em português tem os mesmos usos, expressa uma ação inacabada, durativa, mas anterior ao momento da produção textual, por isso, da ordem do contar (Gómez, 2007). O uso do subjuntivo também caracteriza a ordem do contar, pois, expressa possibilidades, desejos, ações que poderiam acontecer, assim como no caso do condicional e do futuro, algo que aconteceria ou acontecerá. Um exemplo dessa ideia de possibilidade retiramos de uma das três cartas do tipo relato interativo: “Esas tres medidas ayudarían mucho al señor Mas a superar su desnudez ante la pobreza.” 64 Os outros recursos linguísticos da ordem do contar são idênticos nos dois idiomas: presença de frases declarativas, presença (narrar implicado) ou ausência (no narrar autônomo) de pronomes e verbos na primeira ou segunda pessoa do singular ou do plural. Em relação aos organizadores temporais e as anáforas pronominais, percebemos que a frequência é bem maior nos painéis em espanhol. 65 5. CONCLUSÃO O presente trabalho procurou identificar os tipos de discurso existentes em determinado gênero de texto, no caso o painel do leitor, assim como os tipos linguísticos ou recursos linguísticos que materializam os tipos de discurso nas duas línguas naturais escolhidas: português e espanhol. Entendemos juntamente com Miranda (2008, p. 98) que “os tipos de discurso são elementos constituintes (ou, ainda, constitutivos) dos géneros e, portanto, os géneros mobilizam necessariamente os tipos de discurso”. Contudo, não percebemos uma estabilização tão fechada de determinado tipo de discurso no gênero painel do leitor. Talvez por se tratar de um gênero que permite ao produtor do texto certa flexibilização no plano global do conteúdo temático, diferentemente de gêneros como a receita, a bula de remédio ou o atestado de óbito, gêneros de texto bem mais estabilizados em suas formas, o painel do leitor tanto em português, quanto em espanhol apresenta os quatro tipos de discurso propostos por Bronckart (2012). Quando passamos a identificação dos recursos linguísticos característicos de cada um dos tipos de discurso percebemos uma variedade bem maior de ocorrências nos painéis em língua espanhola, especialmente no uso dos tempos e modos verbais. Nos painéis em português da ordem do expor há predominância no uso de verbos no presente do indicativo, e na ordem do narrar verbos no pretérito perfeito e imperfeito. Já nos painéis em língua espanhola identificamos na ordem do expor o uso de verbos no presente do indicativo, mas também verbos no pretérito perfecto compuesto, e na ordem do narrar verbos no pretérito indefinido que corresponderia ao pretérito perfeito do português, pretérito imperfeito, pluscuamperfecto, que seria o mais-que-perfeito do português, além do condicional e do subjuntivo. Sobre as marcas de implicação do agente/produtor no texto entendemos que são em geral as mesmas nas duas línguas. Nos painéis implicados identificamos a presença de pronomes e verbos na primeira ou segunda pessoa do singular ou plural, presença de nomes próprios e o uso de elementos que remetem as condições de produção do texto, como os dêiticos de tempo e lugar. Nos painéis autônomos, identificamos o uso de organizadores com valor lógico-argumentativo e a ausência de unidades que remetem a interação verbal e as condições de produção do texto. Apesar de nosso objetivo ser apenas identificar os tipos de discurso e os recursos linguísticos que materializam esses tipos nas duas línguas naturais escolhidas, pelos resultados encontrados verificamos que a variação existente nas duas línguas acontece por meio dos verbos, que em espanhol aparecem em maior quantidade em outros tempos e modos verbais. 66 Esse dado pode ser um indicador de que esse tipo linguístico é determinado mais pelo sistema da língua natural do que pelos tipos de discurso e pelo gênero de texto. 67 Referências ADAM, Jean-Michel. A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. São Paulo: Cortez, 2008. ADAM, Jean-Michel. A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. São Paulo: Cortez, 2011. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 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