JULIANO ROSSI OLIVEIRA ATIVIDADES DE PESQUISA EM INTEGRAÇÃO LAVOURA PECUÁRIA Relatório de estágio apresentado à disciplina de Estágio Curricular Supervisionado do curso de Agronomia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Pato Branco como requisito parcial para a obtenção de título de Engenheiro Agrônomo. Orientador: Prof. Dr. André Brugnara Soares PATO BRANCO OUTUBRO DE 2011 O Carro e a Faculdade Valderi e Mizael/Trio Parada Dura Eu tenho em meu escritório, em cima da minha mesa A miniatura de um carro, que a todos causam surpresa Muitos já me perguntaram, o motivo porque foi Que eu sendo um doutor formado, gosto de um carro de boi Respondi foi com o carro, nas estradas a rodar Que meu pai ganhou dinheiro, pra mim poder estudar Enquanto ele carreava, passando dificuldade As lições eu decorava, lá nos bancos da faculdade Entre nossas duas vidas, existe comparação Hoje eu seguro a caneta, como se fosse um ferrão Nos riscos de minha escrita, sobre a folha rabiscada Eu vejo os rastros que os bois, deixavam pelas estradas Fechando os olhos parece, que vejo estrada sem fim E um velho carro de boi, cantando dentro de mim Em meus ouvidos ficaram, os gemidos de um cocão E o grito de um carreiro, ecoando no grotão Se tenho as mãos macias, eu devo tudo a meu pai Que teve as mãos calejadas, no tempo que longe vai Cada viagem que fazia, naquelas manhãs de inverno Era um pingo do meu pranto, nas folhas do meu caderno Meu pai deixou essa terra, mais cumpriu sua missão Carreando ele colocou, um diploma em minhas mãos Por isso guardo esse carro, com carinho e muito amor É a lembrança do carreiro que de mim fez um doutor. À minha mãe Dedico Agradecimentos À minha mãe, Maria, em primeiro lugar, pela constante luta e apoio para que o filho pudesse cursar a graduação. Ao meu orientador de estágio, prof. Dr. André Brugnara Soares, pelas valiosas orientações e conhecimentos transmitidos a mim durante o período do estágio. Às meninas do mestrado, Jussara, Vanessa e Leticia, pelos dias de trabalho a campo e aprendizado nos seus ensaios com plantas forrageiras no IAPAR. A toda a equipe do IAPAR, principalmente o pesquisador Dr. Alceu Luís Assmann, pelo fornecimento da infraestrutura, dos serviços e dos ensinamentos, tornando possível a realização da maior parte desse estagio. À minha namorada, Danieli, pelos momentos de carinho, força e incentivo que me conduziram sempre à perseverança nos meus objetivos. À Universidade Tecnológica Federal do Paraná, bem como toda sua equipe, pela oportunidade do ensino gratuito e de qualidade, sendo responsável por grande parte da minha formação escolar e acadêmica. “Às vezes a vida te bate com um tijolo na cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me fez continuar foi que eu amava o que eu fazia.” Steve Jobs, em seu discurso de formatura Lista de Ilustrações Figura 1 Curso de agronomia da UTFPR – Pato Branco Figura 2 Estação experimental do Instituto Agronômico do Paraná – Unidade Pato Branco Figura 3 Dia de campo de Integração Lavoura Pecuária no sul do Brasil Tupãnciretã - RS, 7 de outubro de 2011 Figura 4 Experimento: Produção de forrageiras anuais de inverno em diferentes épocas de semeadura em outubro de 2011 Figura 5 Experimento: Formas de Incorporação e Doses de Calcário para Alfafa Cultivada em Latossolo em outubro de 2011 Figura 6 Experimento: Produtividade de milho e papuã conduzidos sobre diferentes tipos e doses de herbicidas, em sistema consorciado setembro e outubro de 2011. Lista de siglas AP Altura de pastagem CA Carga animal CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná DP Densidade da pastagem F:C Relação folha colmo GPA Ganho de peso por área GPV Ganho de peso vivo IA Índice de Acamamento IAPAR Instituto Agronômico do Paraná ILP Integração lavoura pecuária MF Massa de Forragem PD Plantio direto PR Paraná PV Peso vivo SEAB Secretaria da agricultura e do abastecimento TA Taxa de acumulo de forragem UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná VN Valor nutritivo Sumário 1.0 INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 9 2.0 CARACTERIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE ESTÁGIO ...................................................... 11 2.1 CURSO DE AGRONOMIA DA UTFPR – PATO BRANCO ....................................................... 11 2.2 IAPAR ................................................................................................................................. 12 3.0 TEMAS TRATADOS E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO ............................................................................................................................................. 14 3.1 A INTERFACE DO SOLO ...................................................................................................... 15 3.2 A INTERFACE DA PLANTA .................................................................................................. 18 3.2.1 Culturas Forrageiras ................................................................................................... 18 3.2.2 Culturas produtoras de grãos..................................................................................... 22 3.3 A INTERFACE DO ANIMAL.................................................................................................. 24 3.4 CONSÓRCIOS ..................................................................................................................... 27 3.5 9º DIA DE CAMPO DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA NO SUL DO BRASIL ................ 28 3.6 EXPERIMENTOS CONDUZIDOS E APOIADOS ..................................................................... 30 3.6.1 Produção de forrageiras anuais de inverno em diferentes épocas de semeadura Responsável: Jussara Maria Ferraza.................................................................................... 30 3.6.2 Formas de Incorporação e Doses de Calcário para Alfafa Cultivada em Latossolo – Responsável: Letícia Cristina Bertusso ................................................................................ 32 3.6.3 Produtividade de milho e papuã conduzidos sobre diferentes tipos e doses de herbicidas, em sistema consorciado – Responsável: Juliano Rossi Oliveira. ...................... 34 4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 37 5.0 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 38 9 1.0 INTRODUÇÃO A região sul do Brasil é caracterizada pela predominância de propriedades que utilizam o sistema de integração lavoura pecuária. Este sistema, embora recente, é largamente adotado pelos agricultores da região, pois de certa forma, mantém os sistemas tradicionais dos imigrantes italianos, colonizadores da região, que trabalhavam com culturas anuais e perenes associadas à produção animal (EILPSB, 2002). Mesmo com um sistema bastante consolidado, as estratégias de produção estão famintas por práticas e culturas que intensifiquem a produção e que resultem em um maior aproveitamento da superfície agrícola útil, culminando assim, em um melhor resultado técnico e econômico. Apesar de dispor de um grande arsenal de alternativas que incorporam o sinergismo do sistema de ILP, estas práticas ainda não têm sido efetivas para se alcançar um sistema equilibrado e altamente produtivo, muitas vezes inclusive, pela baixa adesão dos produtores. Ao se analisar este sistema, as práticas de uma das dimensões não deveriam ser antagônicas em relação à outra, e sim, dever-se-ia construir um sinergismo no qual um período de cultivo influenciasse positivamente o outro, entretanto, entre os principais motivos do insucesso ou da baixa produção da ILP está a dificuldade de se conciliar o uso dos recursos entre as espécies vegetais destinadas à produção animal e as espécies produtoras de grãos. Entre outras conquistas buscadas pela pesquisa na área de integração lavoura pecuária, pode-se citar a viabilização do sistema com intensificação e sustentabilidade, de modo que, além de possibilitar o aumento da renda econômica por área nas propriedades do sul do país melhorando os índices técnicos das plantas cultivadas e das criações, esta possa alcançar um sistema equilibrado que além de garantir a manutenção dos recursos naturais também preconize a manutenção dos capitais necessários ao seu funcionamento permanente. Assim, é de suma importância que se realizem atividades de pesquisa que busquem tanto novas tecnologias, quanto melhorias nas tecnologias existentes que, em um futuro próximo, poderão ser aplicadas a estas propriedades do sul do país. 10 Sobre isso, Bartmeyer (2006) cita “a incorporação de novas tecnologias de manejo, práticas culturais, defensivos agrícolas, e de novos materiais genético vegetal e animal possibilita ao sistema de integração lavoura-pecuária conciliar a atividade agrícola e pecuária, de maneira a obter alta produtividade de grãos e animal, com reflexos positivos na estabilidade econômica da propriedade rural”. O presente estágio curricular foi realizado pelo acompanhamento das atividades de pesquisa do grupo de Integração Lavoura-Pecuária e Plantas Forrageiras da UTFPR – Campus Pato Branco, em parceria com a estação experimental do IAPAR – Pato Branco, onde é realizada a maioria dos experimentos do grupo. 11 2.0 CARACTERIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE ESTÁGIO 2.1 CURSO DE AGRONOMIA DA UTFPR – PATO BRANCO A UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná se originou do CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica Federal do Paraná, por projeto sancionado no dia 7 de outubro de 2005. Possui 12 câmpus no estado do Paraná, sendo que o câmpus Pato Branco conta atualmente com 1 curso técnico, 12 cursos de graduação, 5 cursos de mestrado e 1 curso de doutorado. O curso de agronomia da UTFPR foi implantado no ano de 1992, sendo um dos mais antigos da instituição. Conta hoje com 12 laboratórios, casas de vegetação e área experimental. Tem por objetivo a formação de profissionais que sejam capazes de compreender e traduzir as necessidades individuais e coletivas da sociedade, com relação aos problemas tecnológicos, socioeconômicos, ambientais, gerenciais e organizativos, que utilizem racionalmente os recursos disponíveis conservando o equilíbrio do ambiente. Figura 1 – Curso de Agronomia da UTFPR – Pato Branco Entre outros projetos, a pesquisa é uma das atividades incentivadas pelo curso, sendo que, na área de ILP, existe forte integração com o IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná, principalmente pela realização de experimentos de pesquisa na área experimental da instituição. O curso conta com um forte quadro de professores doutores, que além das matérias básicas de formação, trabalham em peso nos temas ligados ao sistema de ILP em áreas como mecanização agrícola, plantas forrageiras, culturas de lavoura, pragas e doenças, solos, zootecnia, etc. 12 2.2 IAPAR Vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (SEAB), o Instituto Agronômico do Paraná é o órgão de pesquisa que da embasamento tecnológico as políticas públicas de desenvolvimento rural do Estado. Apresenta como missão promover o desenvolvimento da agropecuária paranaense por meio da geração de conhecimento científico e tecnológico adequados à realidade social e econômica dos produtores. Conta hoje com 16 fazendas experimentais, 23 estações agrometereológicas e 25 laboratórios de diferentes áreas. Figura 2 - Estação experimental do Instituto Agronômico do Paraná - Unidade Pato Branco A equipe do IAPAR é formada por cerca de 770 funcionários (mais de 110 pesquisadores), que desenvolvem 15 programas de pesquisa (Agroecologia, Algodão, Arroz, Café, Cereais de Inverno, Culturas Diversas, Feijão, Forrageiras, Fruticultura, Manejo do Solo e Água, Milho, Produção Animal, Propagação Vegetal, Recursos Florestais, Sistemas de Produção). Nestes são conduzidos 225 projetos de pesquisa, que totalizam 560 experimentos de campo espalhados por todo o Estado. Esse trabalho é realizado em estações experimentais do próprio IAPAR, mas também em 13 parceria com cooperativas, associações de produtores, universidades e outros centros de pesquisa. O estagio descrito nesse relatório foi realizado em parte na estação experimental de Pato Branco – PR, localizada na BR 158, bairro bom retiro, em Pato Branco – PR (Figura 2). A estação experimental conta com 232 ha onde são realizadas pesquisas em várias áreas das ciências agrárias como a caprinocultura, culturas de feijão milho e trigo, manejo e conservação de solos, plantas potenciais para a produção de biodiesel e integração lavoura pecuária. No local ainda existe uma estação meteorológica, um banco de germoplasma de plantas forrageiras e áreas onde são cultivadas lavouras de produção de sementes básicas de aveia, feijão, sementes de adubos verdes e grãos de milho e soja. 14 3.0 TEMAS TRATADOS E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO A evolução dos sistemas de produção agrícola dividiu e distanciou a agricultura da pecuária, conduzindo-as a uma especialização da produção por consequência de forças políticas, regulatórias e econômicas. Entretanto, atualmente percebe-se novamente um interesse em reintegrar a produção vegetal e animal. (ADAMI, 2009). A ILP, como é encontrada no sul do país, pode ser definida como a diversificação, rotação, consorciação e/ou sucessão das atividades de agricultura e de pecuária dentro da propriedade rural, de forma harmônica constituindo um mesmo sistema, de tal maneira que haja benefícios para ambas. Possibilita, como uma das principais vantagens, que o solo seja explorado economicamente durante todo o ano ou, pelo menos, na maior parte dele, favorecendo o aumento na oferta de grãos, de carne e de leite a um custo mais baixo, devido ao sinergismo que se cria entre a lavoura e a pastagem (EMBRAPA, 2006). Este sistema permite uma amplitude nas formas de utilização dos recursos naturais, seja com o uso de pastagens anuais de verão ou inverno (ADAMI, 2009), ou ainda em sistemas consorciados. O sistema de Integração Lavoura Pecuária vem apresentando ótimos resultados de produção na região, apoiado em práticas como o plantio direto, este tem se colocado como uma ótima alternativa para agricultores que buscam intensificar a produção garantindo paralelamente o incremento da sustentabilidade do sistema. Além de mais intensificado, o sistema que integra a lavoura e a pecuária tende a ser menos susceptível ao risco, tendo mais resiliência para com as variações de mercado e de estresses climáticos, tanto pela diversificação da produção, como pela capacidade da obter um melhor aproveitamento da estação onde as condições são menos favoráveis aos cultivos, no caso do sul do Brasil, o inverno. A ILP é uma tecnologia que está em uso já a um bom tempo, porém ainda é pouco estudada pela academia do sul do país. As características desse sistema tornam as pesquisas mais complexas do que em sistemas que utilizam apenas culturas 15 produtoras de grãos ou apenas a produção pecuária, isto, pelo fato de que todos os componentes do sistema interagem entre si e a partir disso geram comportamentos bióticos e abióticos que não podem ser analisados separadamente. Entre as principais dificuldades na interpretação do sistema de ILP está a necessidade de se ter uma visão multidisciplinar e sistêmica, que acima de tudo interprete as relações e as interações existentes entre as suas interfaces, não tomando decisões e nem julgando o sistema apenas pelos parâmetros matemáticos que são apresentados nas pesquisas agrícolas de sistemas de produção isolados. Este tipo de interpretação muitas vezes ainda se coloca como um paradigma para os pesquisadores da área. Além de conjuntas, as atividades da lavoura e da pecuária devem ser harmônicas. Segundo Cassol (2003) a agricultura e a pecuária devem ser vistas como atividades complementares que, quando integradas, funcionam em sinergismo, tendo a lavoura um melhor resultado quando integrada com a pecuária e vice-versa. Para Bartmeyer (2006) a utilização de sistemas de ILP depende de sólidos conhecimentos nas áreas de agricultura e pecuária, para que uma atividade não seja beneficiada em detrimento da outra, para tanto devem ser consideradas certas praticas de manejo que garantam a boa rentabilidade e a sustentabilidade do sistema. Para facilitar a analise do sistema de ILP este é dividido em 3 componentes principais, o solo, a planta e o animal, que são descritos mais detalhadamente nos tópicos seguintes. 3.1 A INTERFACE DO SOLO A qualidade do solo é fundamental para que se obtenha sucesso em qualquer sistema de produção, este é um componente dinâmico que pode ser denominado como o “banco de energia” dos sistemas de Integração lavoura pecuária, pois, de um cultivo a outro, independente da condição, o que irá permanecer é o solo. Sendo assim, é importante que este seja mantido em equilíbrio, tanto nas questões químicas como nas questões físicas, desta maneira poderá se ter uma boa produção vegetal e, a partir dessa, uma boa produção animal. 16 Um dos principais entraves para a difusão do sistema no sul do Brasil é a crença de que o pastejo em áreas de lavoura leva à degradação física dos solos. Estudos recentes mostram que somente uma pequena fração da área que é utilizada para o cultivo no verão é utilizada para a produção no inverno, principalmente pela baixa disponibilidade de opções de culturas produtoras de grãos para o inverno e ainda pela baixa adoção do sistema de ILP. Os produtores da região apresentam certa resistência à utilização de animais em pastejo em áreas que são também utilizadas para a lavoura, baseados na ideia de que a movimentação do animal sobre o solo aumenta a sua densidade e promove a compactação superficial, fato que justifica a importância de se realizarem pesquisas que comprovem que se conduzido sob práticas de manejo corretas, o sistema de ILP possibilita manter a qualidade do solo e ainda, em alguns casos, melhorá-la. Apesar de ser o animal o elemento atuante sobre o solo, é a partir de um bom manejo da pastagem que irão se obter bons resultados de conservação do solo. Manejos que preconizem a boa disponibilidade de massa de forragem são fundamentais para um menor impacto da atuação dos animais sobre o solo, entre alguns pontos pode-se citar: A pastagem, quando em boa quantidade de massa, funciona como uma “almofada”, um amortecedor entre o casco do animal e o solo, e a partir disso diminui o efeito compactador da pressão exercida sobre a superfície. Um animal que tem boa disponibilidade de pasto se locomove menos dentro do talhão, pois obtém em uma mesma estação de pastejo mais massa de forragem no bocado. Com um menor caminhamento o animal diminui frequência que o casco atua sobre o solo, diminuindo a compactação. Para cada porção de biomassa produzida na parte aérea da planta também certa quantidade de biomassa de sistema radicular é produzida. Além de trabalhar como um mecanismo descompactador, um dos principais benefícios que isso traz é a formação de macropóros após a decomposição destas raízes, facilitando a infiltração da água e 17 evitando a sua percolação na superfície, resultando na maior disponibilidade de água para as plantas e consequentemente na maior produção vegetal. Além do aporte de matéria orgânica pela senescência foliar durante o ciclo da cultura produtora de forragem, um bom manejo deve permitir que ao final do ciclo permaneça sobre o solo no mínimo 5000 Kg.MS.ha-1, esta cobertura de palhada irá funcionar como um escudo às intempéries climáticas, principalmente a gota de chuva, além de ser um importante isolante térmico para a mantença da temperatura do solo. Entre os principais benefícios da ILP, tanto para as propriedades como para os ensaios de pesquisa, esta o aumento na produção de biomassa total no ano de cultivo e, a partir disso, o aumento no aporte de carbono e nutrientes orgânicos para o solo. A matéria orgânica função crucial para a qualidade dos solos do sul do Brasil, entre outros efeitos benéficos, é uma das principais mitigadoras do efeito da saturação por alumínio tóxico (Al+3), melhora a estrutura e a agregação do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e melhora a infiltração de água e a retenção de umidade. Pode-se dizer que, aliado ao cultivo em plantio direto, os sistemas que preconizam a produção de uma planta forrageira em sucessão ou consorcio à cultura produtora de grãos, quando conduzidos de maneira correto, podem auxiliar em grande escala na melhoria das condições naturais do solo. Tratando das qualidades químicas do solo, é importante que se conheça a exportação de nutrientes do sistema. Tanto nos grãos, como na carcaça dos animais, são exportados nutrientes que migraram do solo para a planta, e da planta para o animal. A reposição via adubação e calagem é fundamental para se manter a fertilidade do solo, fator o qual será determinante na produtividade do sistema. Esta prática deve preconizar não somente a adubação necessária à exportação do período de cultivo, mas garantir que o solo esteja sempre equilibrado e com um banco de nutrientes que não limitem o desenvolvimento de nenhuma das culturas e satisfaça a microbiota do solo. 18 O cultivo de espécies produtoras de grãos em sucessão ou em consórcio com forrageiras ainda beneficia o solo pela presença de diferentes tipos de raízes. O fato de diferentes tipos de plantas exploram diferentes camadas do e demandarem diferentes tipos de nutrientes, auxilia no equilíbrio entre os nutrientes, evitando o esgotamento de minerais que poderiam limitar a produção das culturas. Vale ressaltar que ao analisar os solos conduzidos em sistema de plantio direto da região nem sempre variáveis com níveis baixos são indicadores de baixas produtividades, pois muitas vezes o seu efeito negativo é mitigado pelas interações a nível de sistema. Busca-se, é claro, sempre obter os melhores índices possíveis porém em casos onde haja limitações técnicas ou econômicas é possível tolerar indicadores que não estejam de acordo com o recomendado. 3.2 A INTERFACE DA PLANTA 3.2.1 Culturas Forrageiras Na região sul do Brasil há um grande desenvolvimento e tecnificação da agricultura que não foi acompanhado pelas áreas de pastagem. Por estar em uma região setentrional, com um clima de verões e invernos intensos, o Sul do Brasil muitas vezes carece de oferta de forragem, principalmente no início da estação fria, onde as espécies forrageiras perenes de verão não produzem massa satisfatória, e as espécies forrageiras de inverno ainda não tiveram tempo suficiente para se estabelecer. No sul do país já existe grande disponibilidade de área agricultável, e também disponibilidade de várias espécies forrageiras de alta produção, todavia, grande parte da forragem produzida no inverno é utilizada apenas para cobertura do solo, desperdiçando assim grande quantidade de forragem de alta qualidade proveniente de culturas como a aveia e o azevém. A espécie forrageira é a principal responsável pela produção de biomassa para a cobertura do solo e, considerando o sistema de plantio direto, a palhada tem função crucial na sua proteção, apesar disso o pastejo não deve ser considerado um empecilho para a obtenção dos benefícios da cobertura do solo. Um erro comum entre 19 os agricultores da região é acreditar que quando uma espécie forrageira não é submetida ao pastejo esta produz mais biomassa, porém, para a interpretação correta deve-se considerar que a produção não pode ser quantificada apenas ao final do ciclo da cultura, mas sim, deve ser contabilizada a biomassa que foi consumida e transformada em produto animal. A partir desse pensamento pode-se conduzir a um manejo que traga bom retorno econômico e ainda produza ao final do ciclo massa suficiente para promover a cobertura do solo, adicionando ao solo além da matéria vegetal, os resíduos produzidos pelos animais. Para o sucesso do sistema um dos principais fatores determinantes é a escolha da espécie forrageira que se adapte ao ambiente encontrado na região. Mesmo com alto nível tecnológico empregado no sistema se a espécie não se adaptar ao tipo do cultivo ocorrem perdas de produtividade ou até o comprometimento do funcionamento da ILP. Entre as espécies de maior produção de forragem, as mais comumente utilizadas no inverno para o pastejo e produção de feno são o azevém e a aveia comuns e, no verão, as pastagens dos gêneros cynodon, penissetum e hemarthria. Apesar disso ainda existem várias espécies que comprovadamente se adaptam bem à região do sul do Brasil, para suprir a demanda de forragem na estação fria, por exemplo, podem ser utilizadas espécies como o trigo duplo-propósito, o triticale, o centeio, as aveias e azevém melhorados, e ainda outras espécies leguminosas como a alfafa, o trevo, o cornichão e o amendoim forrageiro. Já, para a estação quente, existe a disponibilidade no mercado de plantas forrageiras como as brachiarias melhoradas e os capins do gênero panicum. Para a escolha da espécie forrageira deve ser considerada a adaptação da planta em fatores como resistência a pragas e doenças, adaptabilidade à disponibilidade de recursos (nutrientes, água, luz, temperatura, etc.), adaptabilidade aos animais e ao tipo de pastejo ou corte para a produção de ensilados ou feno, etc. Para tanto, é necessário que antes de implantar uma área com plantas forrageiras se verifique o zoneamento agroclimático. 20 Cada gênero de plantas se diferencia, entre outras características, pela estrutura da planta. Baseado nisso deve ser pensada ainda qual a capacidade que o animal terá de colher a forragem, nos determinados estádios de desenvolvimento da pastagem. Por exemplo, pequenos ruminantes como caprinos ou ovinos pastejando em capins do gênero penissetum ou panicum, se considerada uma situação onde as plantas estejam com elevada massa de forragem, os animais teriam dificuldade de colher a lamina foliar pela altura em que esta se encontra em relação à sua estatura. Se atendidos todos os pré-requisitos de manejo e ambiente a planta irá alcançar altos níveis de produtividade de massa seca, bom valor nutritivo, fitossanidade e persistência no ambiente. Além da preocupação com a espécie os ensaios de pesquisa conduzidos no sul do Brasil se preocupam com as boas praticas de manejo, entre eles métodos de pastejo que preconizam a sustentabilidade da pastagem sem a degradação rápida que acontece em muitos casos tanto pela falta de adubação, como pelos elevados índices de pastejo. Para se obterem os resultados destes ensaios é necessário que sejam avaliadas algumas variáveis indispensáveis ao manejo de pastagens, descrevem-se algumas: Massa de forragem (MS) – medida que determina a quantidade de massa de plantas forrageiras de uma espécie ou de um conjunto de espécies que existe no dossel da pastagem, comumente é determinada em Kg.MS.ha-1, fazendo proporção a área. Juntamente com a altura, é uma das variáveis que baliza o manejo de pastagem, determinando a capacidade de rebrote da planta, a taxa de acúmulo e o nível de consumo que pode ser imposto à mesma. Taxa de acúmulo de forragem (TA) – Quantidade de massa que a planta acumula em determinado período de tempo, é dada pelo balanço entre as perdas por senescência e pisoteio e a produção de fitomassa pela fotossíntese. A taxa de acumulo é influenciada pelos fatores que favorecem a produtividade da pastagem sendo que esta será maior (desejável) em condições de manejo que preconizem a boa sanidade da 21 planta, a disponibilidade de nutrientes e a permanência de área foliar fotossintetizante relativamente alta após o pastejo. Pode se dizer que, além dos fatores intrínsecos anatômicos e morfológicos da planta citados, a taxa de acúmulo é muito dependente dos fatores ecológicos aos quais a planta está submetida, sejam eles bióticos ou abióticos. A taxa de acúmulo é totalmente dependente da intensidade de pastejo, sendo que, a maioria das pesquisas comprova que as maiores taxas de acumulo são obtidas quando a intensidade de pastejo é moderada. Valor Nutritivo (VN) – Se divide em subvariáveis como a proteína bruta, a digestibilidade (NDT/NDA) e o teor de fibras, altera-se segundo os níveis de adubação, a intensidade de pastejo e o estagio de desenvolvimento da planta. A quantidade de peso que o animal irá ganhar por unidade de massa consumida está diretamente relacionada com o valor nutritivo, sendo que quando há disponibilidade em maior quantidade de tecidos novos o valor nutritivo da pastagem aumenta, e diminui na presença de tecidos mais velhos e lignificados. O maior valor nutritivo da forragem se encontra nas laminas foliares, o que determina sempre a busca por uma relação folha colmo alta. Relação folha colmo (F:C) – Determinada pela relação entre a massa de folhas e a massa de colmos da planta. É influenciada pelo tipo do manejo, principalmente a intensidade do pastejo. Plantas que possuem altas relações folha colmo normalmente tem maior valor nutritivo pela presença de tecidos de maior digestibilidade. Índice de acamamento (IA) – Dado pela relação entre a altura de folha estendida e a massa de forragem por ha. É importante para a determinação da porcentagem de área foliar fotossinteticamente ativa da planta que esta sendo sombreada pela parte superior do dossel. Quanto maiores os índices de acamamento, maiores serão as perdas por senescência foliar, e assim menor será a taxa de acúmulo. Altura da pastagem (AP) – Altura da planta em relação ao solo. É uma das variáveis de maior importância no manejo de pastagens, sendo que quando alterada influencia totalmente nos processos fisiológicos da 22 planta. Pode determinar a persistência ou não da pastagem no ambiente sendo que pastagens cespitosas são mais susceptíveis a altos índices de pastejo, que reduzem sua altura, que pastagens de hábito de crescimento decumbente. Com o manejo correto da altura da pastagem pode-se ainda proporcionar um aumento na quantidade de massa produzida, sendo que o equilíbrio deve se dar segundo a estrutura da pastagem, a cobertura do solo, o índice de área foliar, as perdas por senescência, a interceptação luminosa e a área fotossinteticamente ativa. É uma das principais ferramentas utilizadas para a determinação do manejo da pastagem pois indiretamente determina as outras variáveis da planta. Densidade da pastagem (DP) – relação entre o volume e o peso de certa fração do dossel da planta, normalmente é determinada em estratos. É base para se analisar as possíveis perdas por senescência da pastagem pelo sombreamento das partes mais inferiores ou ainda para se interpretar a capacidade do animal colher a pastagem pela sua estrutura de boca e pela sua estatura. 3.2.2 Culturas produtoras de grãos Apesar da presença da pecuária, a atividade de mais relevância econômica no sul do Brasil é a agricultura, tendo como as principais culturas o milho, a soja e o trigo. A soja, cultura que tem seu centro de origem na Ásia, é uma das commodities mais importantes no mercado mundial. A planta é considerada uma fonte de proteína completa, podendo desta ser fabricados produtos para alimentação animal (farelos, tortas, rações, etc.) ou para a alimentação humana (óleo, leite, carne, etc.). Apresenta grande importância econômica para o agronegócio da região, assim como para outras partes do território nacional e do mundo. Nesta região, a soja ocupa o principal lugar entre as culturas de lavoura. (BUZZELLO, 2010) Nos últimos anos, a pesquisa tem se esforçado para a obtenção de cultivares altamente produtivas, através do melhoramento genético e do aprimoramento de características fisiológicas como índice de colheita e melhoria da eficiência 23 fotossintética. (BUZZELLO, 2010). Para o sucesso da cultura a precisão nas praticas de manejo deve ser maior ainda do que na pastagem, pois a elasticidade da cultura produtora de grãos é menor que a da cultura produtora de forragem. Devem ser consideradas a época de semeadura, o uso de herbicidas, fungicidas e inseticidas, a densidade de semeadura, a adaptação da cultivar, a adubação do solo, etc. O trigo é o segundo cereal mais produzido no mundo, ficando atrás apenas do milho. É utilizado em maior escala para a produção de farinha e, com esta, diversos tipos de pães. É uma das principais alternativas para o cultivo de grãos na estação fria da região podendo ainda, em cultivares melhorada, fornecer forragem aos animais. Apesar disso a cultura do trigo tem perdido a credibilidade entre os produtores pelo fato de terem acontecido nos últimos anos sucessivas frustrações de safras que resultam em prejuízo econômico e perda de tempo de trabalho. O resultado, em geral, em propriedades onde não é cultivado o trigo e também não é utilizada a produção animal no inverno, é a existência das áreas de pousio. Percebe-se assim a extrema importância de politicas públicas e de pesquisas que favoreçam o cultivo do trigo, tanto nas questões de mercado como nas questões produtivas. No dia 6 de outubro de 2011 o IAPAR – Pato Branco e a Coopertradição – Cooperativa Agrícola Tradição, promoveram dois dias de campos tratando da cultura do trigo. O principal tema em pauta sobre a cultura foi a intenção do mercado passar a valorizar o grão de trigo segundo a sua qualidade. Além deste foram tratados vários outros assuntos como a escolha da cultivar, a utilização de redutores de crescimento, a utilização de fungicidas, a determinação da densidade de semeadura, etc. A cultura do milho (Zea mays) se destaca no contexto da integração lavourapecuária devido às inúmeras aplicações que esse cereal tem dentro da propriedade agrícola, quer seja na alimentação animal na forma de grãos, forragem verde ou conservada, na alimentação humana ou na geração de receita mediante a comercialização da produção. O milho é uma das culturas mais importantes e tradicionais cultivadas no Brasil, ocupando área de, aproximadamente, 13 milhões de ha, com produtividade 24 média de 3,2 t ha-1. É ainda uma das culturas mais antigas do mundo, havendo provas, de que é cultivado há pelo menos 5.000 anos (EMBRAPA, 2006). A cultura pertence à família das poáceas. É uma espécie anual, estival, cespitosa, ereta, com baixo afilhamento, monóico-monoclina, classificada no grupo das plantas C4, com ampla adaptação a diferentes condições de ambiente. Para expressão de seu máximo potencial produtivo, requer temperatura alta, ao redor de 24 e 30°C, radiação solar elevada e adequada disponibilidade hídrica do solo. (NUNES, 2009) Para se obter boas produtividades a cultura deve se desenvolver, principalmente nos estágios iniciais, sem a interferência de plantas daninhas. Para Fancelli & Dourado Neto (2000) a presença de outras espécies de plantas pode influenciar em algumas características de desenvolvimento e componentes de produção de grãos, como altura da inserção das espigas, comprimento das mesmas, altura das plantas e número de grãos por fileira. 3.3 A INTERFACE DO ANIMAL Quando nos balizamos por um sistema sem pastejo o animal pode ser considerado um ser ativo que altera as condições do sistema. Entre outras relações este altera a ciclagem de nutrientes, atua sobre as plantas pelo pastejo e sobre o solo pelo pisoteio. O sucesso do sistema de ILP depende de um correto manejo dos animais, tanto nos sistemas da região sul, como nas outras partes do território nacional. Este tem relação direta com as características do solo e de produção do sistema, sendo que as praticas devem preconizar, além do ganho de peso dos animais, a sustentabilidade das outras interfaces do sistema. A racionalidade nas alterações morfológicas causadas pela remoção da massa vegetal da espécie forrageira é crucial para a manutenção da mesma no sistema. Uma das principais alterações causadas pela atuação do animal é a redistribuição dos nutrientes no talhão em que se encontra pela alocação das fezes e da urina, concentrando os resíduos em arredores de bebedouros e saleiros, sombras, áreas de repouso, entre outros locais que são preferidos para a sua permanência. Se 25 pensado em sistemas que utilizam a agricultura de precisão é fundamental se quantificar essa heterogeneidade, de modo que não se sobrestime, nem se subestime a adubação que é necessária para cada um desses tipos de área. Das variáveis de avaliação do desempenho animal utilizadas nas pesquisas de Integração Lavoura-Pecuária na região podem-se citar: Carga animal (CA) – medida relativa à quantidade de PV em uma determinada área, é extremamente influente no manejo da pastagem, pois irá determinar o consumo que será estabelecido e, consequentemente, a massa de forragem que irá se manter no dossel da pastagem. Ganho de peso diário (GPV) – ganho de peso na carcaça do animal por dia. É uma das principais variáveis que determinam a produtividade do sistema, sendo importante por possibilitar uma estimativa de qual será o peso final do animal e sua cobertura de carcaça ao final da estação de criação. Ganho por área (GPA) – relativo ao ganho de peso por um ou por um grupo de animais em determinada área de pastagem. É também uma das principais variáveis de análise da produtividade por representar o ganho econômico por área utilizada para a pecuária na propriedade. Determinado normalmente em Kg.PV.ha-1. Consumo – relativo à quantidade de massa de forragem que o animal consome em pastejo ou suplementação. É um dos determinantes do ganho de peso, sendo o valor dependente ainda do valor nutritivo da pastagem e da capacidade de conversão do alimento em massa de carcaça. Comportamento ingestivo – analise qualitativa que determina o comportamento do animal em relação ao número e a duração dos momentos de ócio e pastejo. É correlacionado com a forragem disponível para o animal e com o conforto animal, podendo variar segundo o tipo de animal, as condições climáticas, o estado da pastagem, o tipo do piquete ou talhão, etc. 26 Conforto animal – conforto do animal em relação às condições de ambiente que este se encontra, pode variar segundo vários fatores como temperatura, umidade, disponibilidade hídrica, sombra, tipo da pastagem, contaminação por plantas daninhas, tamanho do rebanho, tipo do rebanho, estresses por movimentações humanas, etc. Pode alterar o consumo, pois muda o comportamento ingestivo. Para um bom desempenho da produção pecuária é de suma importância que se proporcione aos animais condições favoráveis para o maior consumo de massa no menor tempo possível, animais que pastejam incessantemente durante as horas mais quentes do dia, por exemplo, podem estar indicando uma baixa disponibilidade de forragem, pois, principalmente para bovinos leiteiros e bovinos de corte de raças europeias o calor extremo é extremamente desconfortável, nesses períodos o animal deve ter a disposição locais onde possa descansar e ruminar o alimento consumido. Para a melhor adaptação da pecuária a realidade da propriedade o pastejo é manejado de formas diferentes, podendo ser: Rotativo - os animais entram em piquetes de tamanho que proporcione um rápido consumo da massa de forragem previamente acumulada, sendo retirados e translocados para o próximo piquete quando o anterior atingir uma altura na qual o rebrote da planta não seja prejudicado pela remoção do meristema apical ou pela reduzida área foliar fotossinteticamente ativa disponível. Contínuo – tipo de pastejo em que a carga animal é dimensionada de modo a manter a altura da pastagem ou a massa de forragem constante. O método mais comumente utilizado é o put and take onde são colocados e retirados animais reguladores segundo a necessidade de se aumentar ou diminuir a massa de forragem da pastagem. Horário – Pastejo onde os animais são submetidos em um período delimitado durante o dia ao pastejo em determinada área. Normalmente as áreas são cultivadas com forrageiras de alta qualidade 27 para que a massa consumida, que muitas vezes não é de grande quantidade, seja de alta digestibilidade e alto valor nutritivo. 3.4 CONSÓRCIOS Os sistemas de consorcio entre culturas produtoras de grãos e pastagens ainda são pouco utilizados na Integração Lavoura-pecuária. Entre os principais motivos está a carência de pesquisas que determinem as praticas de manejo mais corretas para que a relação entre as culturas seja favorável à obtenção de um resultado final melhor do que nos cultivos solteiros. No cenário atual do país há pesquisas de sistemas consorciados voltadas principalmente para a cultura do milho, fato determinado principalmente pela sua estrutura de planta que favorece a predominância sobre a cultura forrageira depois de passado o período crítico de competição de 50 dias após a emergência. Sistemas como o sistema Santa Fé tem sido como ótimas alternativas principalmente na região central do Brasil, onde há bom desenvolvimento de forrageiras como as Brachiarias, que tem ainda a vantagem de poder ser multiplicadas por sementes. Estes poderiam ser implantados também na região sul o país, onde se encontram condições favoráveis para o desenvolvimento do sistema, demonstrando ai a necessidade de se realizarem ensaios com este sistema. Trabalhos com o consórcio de milho e forrageiras mostram que na média, a presença da forrageira reduz a produtividade em 5%, contudo, verifica-se que em vários casos não há diferenças significativas entre o milho solteiro e o consorciado. A altura de inserção da espiga permite que a colheita seja realizada sem maiores problemas quando colocada a outra cultura no estrato inferior do dossel, pois a regulagem mais alta da plataforma diminui os riscos de embuchamento. Somando-se isso à disponibilidade de herbicidas graminicidas pós-emergentes, seletivos ao milho, é possível obter-se resultados excelentes com o consórcio milho + forrageira. (EMBRAPA, 2006). 28 3.5 9º DIA DE CAMPO DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA NO SUL DO BRASIL Figura 3 - Dia de campo de Integração Lavoura Pecuária no sul do Brasil - Tupãnciretã - RS, 7 de outubro de 2011. Durante o período de estágio acompanhou-se as atividades do Dia de campo da Fazenda Espinilho, no Município de Tupãnciretã - Rio Grande do Sul. O dia de campo consiste na apresentação dos dados de pesquisa obtidos em um experimento conduzido pelo grupo de ILP da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com o 29 plantio da cultura da soja na estação quente e o pastejo de azevém por bovinos na estação fria. Este trabalho de pesquisa baseia-se em buscar a obtenção das melhores práticas de manejo que preconizem a saúde física e química do solo, além da alta rentabilidade pelo produto animal e vegetal. O experimento vem sendo conduzido desde maio de 2001, o solo da região é classificado como latossolo vermelho distroférrico, bem drenado textura muito argilosa. O clima é o subtropical úmido, com temperatura média de 19ºC e precipitação média anual de 1850 mm. O relevo do local varia de ondulado a suavemente ondulado. A área, originalmente de campo nativo, foi convertida em lavoura no ano de1993, e vem sendo conduzida em sistema de plantio direto desde então. A área experimental total é de aproximadamente 22 há, com divisão em 12 parcelas que variam de 0,8 a 3,6 há, que variam em função dos tratamentos aplicados. Os tratamentos são constituídos de diferentes alturas de manejo da pastagem na estação fria, sendo estes 10 (pastejo intenso), 20, 30 (pastejo moderado) e 40 cm (pastejo leve), distribuídos em delineamento de blocos ao acaso com três repetições. Os bovinos utilizados para o pastejo são animais jovens de 190 a 200 kg, com cruzas das raças angus, nelore e hereford. O experimento é conduzido em pastejo continuo com carga de lotação variável, sendo a altura determinada pelo tratamento, são utilizados três animais testes por parcela, mais o número de animais necessários para a manutenção da altura da pastagem na medida desejada. Os animais iniciam o pastejo na primeira quinzena de julho se estendendo até a primeira quinzena de novembro, a soja é semeada no mês de dezembro, em sistema de plantio direto. A adubação potássica e fosforada é realizada no momento do plantio da soja segundo a recomendação da Comissão de química e fertilidade do solo. No dia de campo foram discutidos os mais variados temas relacionados com a ILP, sendo apresentados dados que comprovam as teorias que foram citadas anteriormente, principalmente sobre os benefícios propiciados pelo plantio direto e 30 pelas interações do sistema. A importância de eventos como este se da pela capacidade de se estender o conhecimento até os produtores, possibilitando o compartilhamento dos dados obtidos na pesquisa e incentivando a implantação do sistema de Integração lavoura-pecuária. 3.6 EXPERIMENTOS CONDUZIDOS E APOIADOS Durante o período de acompanhamento das atividades do grupo de pesquisadores IAPAR/UTFPR foi possível acompanhar vários experimentos que decorreram principalmente durante a estação fria do ano de 2011. Descrevem-se abaixo alguns destes que demandaram atividades mais intensas no período de acompanhamento: 3.6.1 Produção de forrageiras anuais de inverno em diferentes épocas de semeadura - Responsável: Jussara Maria Ferraza A estacionalidade de produção de plantas forrageiras é um problema muito enfatizado no Sul do Brasil, devido principalmente a não ocorrência de chuvas durante o ano todo em algumas regiões, e também as baixas temperaturas que ocorrem no período de inverno. Essas características limitam o crescimento das plantas, determinando períodos de safras e entressafras para a produção de alimentos. Na Região Sul do Brasil o período crítico de produção de forragem está compreendido entre os meses de abril a setembro, sendo caracterizado pela baixa produtividade animal (leite e carne). Devido às pressões do mercado, os produtores vêm procurando alternativas para uma produção de forragem mais uniforme durante o ano, e dentre elas destaca-se a utilização de plantas forrageiras de inverno em sistemas de integração lavoura-pecuária. Muito se sabe a respeito da produção total das forrageiras anuais de inverno como aveia, azevém, centeio e trigo, mas pouco se sabe 31 sobre a dinâmica desta produção, ou seja, como esta produção é distribuída no tempo. Figura 4 - Experimento: Produção de forrageiras anuais de inverno em diferentes épocas de semeadura em outubro de 2011 O deste trabalho é avaliar a dinâmica de produção de forragem de 16 cultivares forrageiras anuais de inverno em quatro épocas de semeadura, baseando-se na hipótese de que existe interação entre época de semeadura e material forrageiro no que tange à qualidade e produção de forragem, e isso deveria ser considerado no planejamento forrageiro de cada propriedade. O trabalho esta sendo realizado no Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) de Pato Branco, desde março de 2009. O delineamento experimental utilizado é o de blocos ao acaso com três repetições em parcelas subdivididas, consistindo-se em um bifatorial 16 x 4, utilizando dezesseis cultivares e quatro épocas de semeadura resultando em sessenta e oito tratamentos por bloco. As cultivares de inverno são compostas por: quatro cultivares de aveia branca (FAPA 2, FUNDACEP FAPA 43, IPR 126 e UTF Iguaçú), seis cultivares de aveia preta (Aveia Preta Comum, UPF 21-Moreninha, Agro Planalto, Agro Coxilha, Agro Zebu 32 e IAPAR 61), dois cultivares de azevém (Azevém Comum e São Gabriel, um cultivar de centeio (Serrano), dois cultivares de triticale (TCL 399 e POLO 981) e um cultivar de trigo duplo-propósito (BRS Tarumã). As épocas de semeadura foram realizadas com intervalo de vinte e oito dias, nos dias 11 de março, 08 de abril, 06 de maio e 03 de junho de 2009. O critério de corte das plantas para a avaliação qualitativa e quantitativa da forragem é realizado preconizando cortes em função da altura do dossel na distância máxima e mínima do solo, sendo para as aveias 30 cm; azevéns 25 cm, o trigo 25 cm, os centeios 25 cm e os triticales 30 cm, todos esses cortados a 07 cm do nível do solo. As variáveis avaliadas são: número de plantas/m², número de perfilhos/m², produção total de matéria seca (MS), taxa de acúmulo mensal de forragem, produção de MS ao primeiro corte, dias ao primeiro corte, número médio de cortes, relação folha/colmo, dias de utilização de pastagem, valor nutritivo (PB, FDN, FDA, DIVMO) e biomassa residual. As informações referentes ao experimento serão analisadas estatisticamente mediante o uso do software de análise estatística. 3.6.2 Formas de Incorporação e Doses de Calcário para Alfafa Cultivada em Latossolo – Responsável: Letícia Cristina Bertusso A alfafa (Medicago sativa L.) apresenta elevado valor nutritivo, boa produtividade e aceitabilidade pelos animais. O interesse no seu cultivo está relacionado principalmente às suas qualidades nutritivas excepcionais, sendo rica em proteínas, cálcio, fósforo e vitaminas A, B1, B2, C, E e K, produzindo forragem tenra e muito palatável. Por ser uma planta rica em minerais, a alfafa exige boas condições de fertilidade do solo, tanto em relação ao pH quanto na disponibilidade de nutrientes. Entre os problemas que mais interferem na adaptação da alfafa às condições brasileiras, o solo é o mais limitante, pois a cultura exige pH entre 6,0 e 7,5, sendo necessário corrigir a sua acidez, o que pode ser feito utilizando-se o calcário como elemento de correção da acidez e neutralização do alumínio trocável. 33 Figura 5 - Experimento: Formas de Incorporação e Doses de Calcário para Alfafa Cultivada em Latossolo em outubro de 2011 Este trabalho busca estudar as doses de calcário e formas de incorporação, para alfafa cultivada em latossolo vermelho. O experimento esta sendo conduzido na Estação Experimental do Instituto Agronômico do Paraná. A cultivar a ser utilizada é a Crioula, avaliando-se cinco doses de calcário (0, 2, 4, 6 e 8 t ha-1) e três formas de aplicação (superficial, aração + gradagem e subsolagem) resultando em 15 tratamentos por bloco. O delineamento experimental é o de blocos ao acaso com 34 quatro repetições em parcelas subdivididas. As formas de aplicação caracterizam as parcelas e as doses de calcário as subparcelas. As avaliações realizadas são a altura de planta, produção de matéria seca, máxima eficiência técnica e atributos químicos do solo acompanhados em profundidade. Espera-se determinar qual a saturação de bases do solo que assegurará o melhor desenvolvimento da cultura da alfafa de acordo com o modo de aplicação de calcário utilizado. Além disso, espera-se que a aplicação de calcário de forma superficial resulte em similaridade àquelas parcelas em que o calcário foi incorporado, podendo desta forma a recomendação técnica eliminar a necessidade de revolvimento de solo. 3.6.3 Produtividade de milho e papuã conduzidos sobre diferentes tipos e doses de herbicidas, em sistema consorciado – Responsável: Juliano Rossi Oliveira. Durante o período de estagio, para a efetividade do aprendizado na instituição de pesquisa foi implantado um experimento no IAPAR – Pato Branco, o qual ficou diretamente sobre a responsabilidade do estagiário. O experimento que continua sendo conduzido mesmo após a conclusão deste estagio parte do principio de se propor um novo sistema de cultivo para as propriedades submetidas ao sistema de integração lavoura pecuária no sul do país que ainda é refém da estratégia de se cultivar a cultura produtora de grãos em sucessão à cultura produtora de forragem, não sendo comuns sistemas de consorcio. Ao se analisar as características da região sul do Brasil encontram-se vários fatores que teoricamente favoreceriam o sucesso deste sistema, como a ressemeadura natural da Brachiaria Plantaginea, a possibilidade de conversão dessa espécie de uma planta daninha para uma planta de interesse econômico e a alta tecnologia empregada no plantio de milho na região. Apesar disso, ainda não existem trabalhos que apresentem dados concretos sobre esse tipo de cultivo. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é avaliar a produção de grãos de milho e a produção de forragem de Brachiaria plantaginea em cultivo consorciado. 35 Figura 6 - Experimento: Produtividade de milho e papuã conduzidos sobre diferentes tipos e doses de herbicidas, em sistema consorciado - setembro e outubro de 2011. O experimento está sendo conduzido na Unidade Experimental do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, desde o mês de setembro de 2011, o delineamento experimental utilizado é o de blocos ao acaso, em sistema fatorial (4x3)+1, com quatro repetições. O primeiro fator diz respeito a 4 associações de herbicida aplicados após a semeadura do milho, sendo estes atrazina+óleo, atrazina+simazina+óleo, atrazina+nicosulfuron+óleo e atrazina+mesotrione+óleo. O segundo fator será relativo a 3 doses destes herbicidas, as quais: dose recomendada para controle total, 3/4 da 36 dose recomendada para controle total, 1/2 da dose recomendada para o controle total e uma testemunha adicional sem controle. As variáveis avaliadas serão: Altura de plantas de milho; altura da inserção da espiga; número de espigas por área; número de grãos por espiga; número de grãos por fileira; número de fileiras por espiga; peso de mil grãos; produção total de grãos; número de plantas quebradas; número de plantas acamadas; número de produção de forragem por corte; produção total de massa de forragem; taxa de acúmulo de forragem; composição bromatológica; forragem residual; número de plantas por m2 e; dias de utilização da pastagem. Os dados do experimento serão analisados estatisticamente utilizando-se do programa GENES. 37 4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de estando em franco crescimento, a área de pesquisa em integração lavoura-pecuária ainda necessita que sejam realizados mais trabalhos que busquem principalmente obter resultados concretos sobre os temas emergentes do sistema no sul do país. O sistema de ILP mostra-se como uma grande alternativa para suprir as maiores demandas do mercado brasileiro e, além disso, pode conseguir melhorias nas questões de manutenção dos recursos da propriedade em um sistema mais equilibrado. A Integração de profissionais das áreas de solos, fitotecnia e zootecnia é fundamental para que seja possível se interpretar as interações dos componentes e a partir disso se alcance um sistema com intensificação e sustentabilidade. 38 5.0 BIBLIOGRAFIA ADAMI, P.F. Produção, qualidade e decomposição de papuã sob intensidades de pastejo e níveis de nitrogênio. Dissertação (Mestrado) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Agronomia. Pato Branco/PR, 2009. BARTMEYER, T. N. Produtividade de trigo duplo propósito submetido a pastejo de bovinos na região dos campos gerais – Paraná. Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo - Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná. Curitiba - PR, 2006. BUZZELLO, G. L. Uso de reguladores no controle do crescimento e no desempenho agronômico da cultura da soja cultivar CD 214 RR. Dissertação de mestrado, PPGA Programa de pós-graduação em agronomia, UFPPR – Pato branco, 2009. CASSOL, L. C. Relações solo-planta-animal num sistema de integração lavoura pecuária em semeadura direta com calcário na superfície. Porto Alegre, 2003. 127 p. Tese (Doutor em Ciência do Solo) – Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003. EILPSB. 1º Encontro de Integração Lavoura-Pecuária no Sul do Brasil. Anais, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – CEFET – Pato Branco - 2002. EMBRAPA A cultura do milho na integração lavoura pecuária. ISSN 1679-1150, Sete Lagoas, MG Dezembro, 2006. FANCELLI, L. A.; DOURADO NETO, D. Produção de milho. Guaíba: Agropecuária, 2000. p. 183-215. NUNES, J. L. Características do milho. 2009 http://www.agrolink.com.br/culturas/milho/caracteristicas.aspx 11/09/2011. Disponível Acesso em: em UFRGS. Integração soja-bovinos de corte no Sul do Brasil. Grupo de Integração Lavoura-Pecuária da Universidade Federal do Rio grande do Sul. Porto Alegre 2011. 60p.