Por que estudar a mídia? U or que estudar a mídia

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Por que estudar a mídia? Uma
Uma reflexão de seus
desdobramentos no contexto da globalização
Rodrigo Augusto Kovalski1
Resumo: Este artigo terá como objetivo discutir quatro pontos dentro dos contextos de Mídia e Poder e seus
desdobramentos na (des)construção de identidades antes locais para agora globais. A primeira discussão que este
trabalho suscitará será a democracia pós-moderna e a estética do capitalismo / consumismo. A segunda é
intitulada os efeitos midiáticos e do poder na sociedade pós-moderna do espetáculo. Na sequência é discutido
sobre a Indústria cultural e a manutenção do poder da aparência. E o último tema dentro do artigo é intitulado da
colônia antiga à teia globalizada, tópico onde será discutido os impactos que as tecnologias trazem aos modos de
subjetividades das identidades por meio da (des)construção, sejam individuais ou coletivas. O resultado da
análise deste artigo levará à reflexão dentro dos contextos de (des)construção das identidades globalizadas
contemporâneas, além da discussão de uma realidade imanente a todos dentro das sociedades.
Palavras-chave: Mídia. Poder. Identidade.
Introdução
Este artigo terá como objetivo realizar uma análise contemporânea das mídias e os
desdobramentos de seu poder nas sociedades capitalistas, para isso esta pesquisa terá como
pergunta central a ser respondida: até onde os meios de comunicação de massa influenciam a
vida dos indivíduos na sociedade capitalista?
Discutirá sobre a importância dos meios de comunicação hoje, além de traçar uma
breve síntese sobre os efeitos de poder que estes instauram, já que suas forças dominam os
“olhares e mentes” das sociedades. Este estudo busca um entendimento de como as
sociedades e indivíduos, se veem vulneráveis perante suas influências diárias, sejam estéticas,
visuais, mensagens subliminares ou até mesmo aspectos psicológicos.
Hoje, devido tamanha evolução dos meios de comunicação social, o sistema faz, para
não dizer, obriga os indivíduos a adentrarem dentro de plataformas ou sintonizarem
determinados aspectos virtuais para se sentirem parte de um todo, para não serem, isolados
socialmente, como a Sociologia diagnostica. Para isso os sujeitos são embutidos em um
processo tão grande e complexo, ao ser analisado, mas para quem apenas sofre este processo,
não passa de uma simples evolução pela qual a sociedade está passando, como a da invenção
da imprensa, a Revolução Industrial ou fatos assim.
1
Doutor pelo Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas, da Universidade Federal de Santa Catarina –
UFSC e professor do curso de Letras / Português da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO,
Campus Irati / PR.
Revista Língua & Literatura, v. 18, n. 31, p. 14-25, ago. 2016.
Recebido em: 6 abr. 2016
Aprovado em: 20 jul. 2016
Estes artefatos visuais / virtuais integram o sujeito a uma sociedade, a um todo, desta
maneira, os meios de comunicação de massa cumprem a função que lhes cabe pelo seu
próprio nome, são como diz a origem latina, meios ou intermediários (media). Função ainda
que é a de integrar por estes meios os sujeitos a meios maiores, a sociedades distintas,
diferentes e longínquas. Mas justamente neste entremeio do acontecimento, onde se
desvendam as mensagens, é aqui que se instaura o poder, ou seja, quem detém em mãos os
meios, as mídias “detêm um poder”. Quem possui as mídias instaura um poder de como
divulgar e o que divulgar e em que contexto isto vai acontecer. E são exatamente estes
momentos de escolha, que literalmente guiam os fenômenos do capitalismo e consumismo
nas sociedades contemporâneas. Desta forma todos os conjuntos de vidas humanas
socialmente ativas dentro do capitalismo, são afetadas pela entrada, em sua vida, dos meios de
comunicação.
Mídias que, desde a primeira análise, são notadas na vida do sujeito, desde a mais
tenra idade, ou seja, a vida do sujeito, sua vida social é toda guiada desde a infância pelas
mídias, desde o brinquedo, a comida, posteriormente as roupas, mais tarde, os carros e assim
segue, ditando todos os aspectos de aparência e essência da vida de uma pessoa em sociedade.
Por isso, este artigo, pretende debater os aspectos que a mídia está envolvida com as
relações de poder da sociedade. E para buscar entender este assunto tema é dividido uma linha
de pensar em quatro formas de entendimento: a primeira, intitulada “a democracia pósmoderna e a estética do capitalismo / consumismo”, irá debater como muitos aspectos da
sociedade contemporânea, onde tudo é pautada pela exibição midiática, lugar que nasce as
estéticas da moda, do consumo, da aparência, assim este tópico, debaterá como cada vez mais
as sociedades estão se pautando pelas estéticas da aparência e não pela essência do ser
humano, priorizada por algumas ciências que buscam entendê-la, como a Filosofia,
Sociologia, Estudos Culturais e as premissas de qualquer religião, do Catolicismo ao
Budismo, religiões que pautam o inverso, a essência, contrapondo as vertentes sociais
capitalistas midiáticas contemporâneas.
A segunda linha de pensar é intitulada “os efeitos midiáticos e do poder na sociedade
pós-moderna do espetáculo”. Esta linha, em síntese, debaterá como as grandes massas são
influenciadas por políticas de “pão e circo” modernas, onde os grandes órgãos das mídias
A terceira forma de entendimento ao assunto chamada neste artigo de “Indústria
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cultural e a manutenção do poder da aparência” discutirá como as indústrias culturais
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possuem um poder de influenciar a opinião pública de uma nação.
difundiram determinadas culturas como elitizadas ou estigmatizarão determinadas culturas
Revista Língua & Literatura, v. 18, n. 31, p. 14-25, ago. 2016.
como “culturas pobres”, ou “culturas de massa”, e como estas máquinas sacrificaram a arte
autônoma dos indivíduos, pois hoje, é mais fácil clicar um botão, ou ligar um aparelho de TV
e receber uma “determinada cultura”, dita pronta, do que eu enquanto sujeito, criar uma forma
cultural que represente a minha maneira de pensar perante a sociedade.
E a quarta e última forma de entendimento ao assunto é intitulada neste texto, como
“da colônia a teia globalizada”, esta discussão elegerá as evoluções sociais que a sociedade,
num curto espaço temporal, está sofrendo, onde busca entender como os impactos da
tecnologia estão afetando diretamente as sociedades e seus indivíduos e como estão alterando
suas percepções de subjetividade perante processos individuais ou coletivos. Discussão que
será ampliada para entender como a globalização, está dia após dia alterando e descentrando
sociedades e sujeitos, tirando a concepção do local, definido e claro, para uma ampliação,
onde coloca o sujeito num âmbito global, nada definido e como se encontra em processo
evolucionário, se trata, ou conota, como algo não claro, ainda obscuro, pois depende das
vertentes do capitalismo para sua sustentação.
Desta forma, após discussão breve e concisa dos quatro entendimentos, este artigo
quer eleger uma forma possível para entender os desdobramentos que as mídias estão
instaurando hoje nas sociedades contemporâneas, por meio de seus efeitos de poder,
demonstradas por suas estruturas midiáticas, assim este artigo, não busca explicar o assunto,
mas sim dialogar e entender os efeitos, os quais todos nós hoje estamos expostos.
2. A democracia pós-moderna e a estética do capitalismo / consumismo
Se analisado a palavra democracia, seu conceito, segundo o Dicionário
Contemporâneo da Língua Portuguesa Caldas Aulete (1964, p. 1082) é “governo em que o
povo exerce a soberania. A influência do povo no governo de um estado. Sociedade livre em
que prepondera a influencia popular. O partido democrático; Doutrina democrática”.
Com esta definição pode-se entender que quando se analisa uma sociedade
democrática, o poder social está nas mãos do povo. Mas será esta a real realidade presente
hoje nas sociedades democráticas? A sociedade se encontra em estado livre, onde não é
influenciado por outras camadas? O Estado está realmente sendo construído de maneira livre,
Como notado na teoria, o conceito é perfeito, mas ainda indagamos: Hoje, vive-se
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realmente uma democracia? O poder está realmente nas mãos do povo? A escolha de seus
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onde pensa do caráter do bem viver de todos seus cidadãos?
lideres acontece de maneira realmente livre? Sem pré-definições ou persuasões midiáticas?
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Creio que a resposta é clara que não, vivemos em uma democracia, temos o direito de
escolha sim, mas vivemos sobre um efeito de pressão das mídias, principalmente as grandes
massas, e como as sociedades são predominantemente marcadas pelas massas, as quais não
possuem uma ideologia própria e demarcada, estas são levadas pelos efeitos da mídia, para
demonstrar isso, basta lembrar qualquer processo eleitoral, onde grandes partidos, os quais
possuem uma maior carteira de financiamentos, conseguem ser mais vistos nas mídias, e
como diz o ditado: “quem é visto é lembrado”.
Assim, este enfraquecimento que a democracia está sofrendo, já advém de algumas
décadas, principalmente a partir da década de 1960 quando as sociedades já em crise do
moderno suscitam a palavra tecnologia, como palavra de ordem as sociedades, quando a
tecnologia entra evoluindo e modernizando as sociedades, ela cria um monumental abismo
diante de todos, pois como vive-se desde que se nasce sobre a imposição do capitalismo, as
sociedades e sujeitos que possuem o capital, possuem a mais alta tecnologia e
consequentemente habitam uma sociedade de poucos, elitizada, mas ao mesmo tempo que a
tecnologia traz o melhor as sociedades e indivíduos, as sociedades que não possuem o capital,
estão e se encontram longe desta sociedade, dita padrão, evoluída.
Outro aspecto que cabe a discussão é dialogar como a tecnologia está num processo
inverso às premissas da Sociologia, a qual elege a sociabilidade humana, como principal
característica do Ser. De 1980, principalmente, até hoje, as tecnologias estão cada vez mais
restringindo os sujeitos do meio social real, o levando a um outro mundo: o virtual.
No mundo virtual das tecnologias, o ser humano habita uma outra realidade, a qual
desconfigura a carne e eleva os padrões estéticos da aparência, onde no mundo virtual, as
premissas da virtude são trocadas pelos efeitos da aparência, onde não importa o que o sujeito
é, em sua formação psicológica, mental ou espiritual, mas sim, o que o sujeito possui, seja em
bens materiais ou dentro da estética.
E estas discussões das sociedades pós-modernas defrontam diretamente com os
aspectos do capitalismo e de sua sombra, o consumismo. Para entender melhor o processo
Revista Língua & Literatura, v. 18, n. 31, p. 14-25, ago. 2016.
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um sistema econômico que se baseia na supremacia do capital sobre o trabalho, isto
é, que difere a última instância das decisões que controlam o processo produtivo
àqueles que tem o capital. O surgimento do capitalismo foi propiciado pela
convergência de várias circunstâncias históricas, e coincidiu com o início da
revolução industrial. Entre elas circunstâncias, as principais foram as seguintes: 1ª)
os rápidos progressos da tecnologia que revelaram a possibilidade de utilização de
novas formas de energia ( a princípio, a energia a vapor; mais tarde, a energia
elétrica), dando lugar a novos processos de produção, substituindo-se a produção de
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capitalista, elejo um trecho o qual explica que o capitalismo é:
tipo artesanal, pela produção em série; 2ª) a enorme ampliação oferecida aos
mercados europeus, pela colonização da Ásia, África e Américas; 3ª) o
esfacelamento das estruturas corporativas da Idade Média, que regulamentavam o
exercício das profissões e disciplinavam a concorrência. O capitalismo nasceu,
assim, sob o signo do liberalismo que inaugurava uma total liberdade da iniciativa
privada no processo produtivo e excluída dele qualquer intervenção do Estado.
Como sistema econômico, o capitalismo não tinha uma ética. Regulava-se
exclusivamente pelas indicações do mercado e neste, pelo mecanismo da formação
dos preços, que obedecia à lei da oferta e da procura. Os inícios do capitalismo
foram, em consequência, marcados por um violento espírito de concorrência, no
qual os diversos produtores visavam aumentar lucros, diminuindo os preços de custo
e elevando os preços de custo e elevando os preços de venda. O capitalismo foi
responsável por tremendas injustiças contra a classe operária, obrigada a trabalhar
em troca de salários. (...) o conjunto das misérias por ele causadas passou à história
com o nome de questão social. Aos poucos, verificou-se que o sistema capitalista
tinha defeitos insanáveis, tais como: 1º) provocava graves crises periódicas de
superprodução, aumentando sempre mais sua capacidade produtiva, e não
redistribuindo proporcionalmente as rendas pela classe trabalhadora; 2º) funcionava
tendo em vista apenas o lucro, em regime de concorrência, constituindo-se,
inevitavelmente, num mecanismo de exploração dos fracos pelos economicamente
fortes. Pouco a pouco, o capitalismo evoluiu para novas formas, as quais podem ser
agrupadas sob o nome de neocapitalismo. Entre os fatores que agiram nessa
evolução, deve-se assinalar a organização crescente das forças sindicais. E a difusão
do catolicismo social. O neocapitalismo ainda é o capitalismo, isto é, mantém nas
mãos do capital a última instância das decisões, mas apresenta características novas:
1ª) admite a intervenção do estado, como responsável pelo bem comum, para
impedir a concorrência violenta e prevenir as crises econômicas; 2ª) aceita novas
formas de relações humanas na empresa, daí resultando, inclusive, maior
produtividade (ÁVILA, 1976, p. 92, 93).
Com base nas premissas do capitalismo demonstradas acima, e se analisado a
sociedade contemporânea, nota-se como a estética do capitalismo juntamente com a
democracia desvirtuada, está encaminhando a sociedade para um viés onde os entendimentos
de suas bases e raízes não são mais pautados e se tornam irreconhecíveis para as sociedades e
pessoas que as vivem.
Desta forma, esta primeira maneira de buscar entender as formas de poder que existem
na sociedade, e compreender como as mídias entram ou desenvolvem estes sistemas, passo
para o desdobramento do assunto dentro deste artigo, os efeitos midiáticos e do poder na
sociedade pós-moderna do espetáculo.
3. Os efeitos midiáticos do poder na sociedade pós-moderna do espetáculo
capacidades dos indivíduos e dos grupos sociais para definir e satisfazer suas necessidades.
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cultura, o qual narra que a cultura envolve poder, contribuindo para produzir assimetrias nas
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Inicio esta discussão, apresentando a segunda premissa de Karl Marx a respeito da
Guy Debord, o criador do conceito de “sociedade do espetáculo”, definiu o espetáculo
como o conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens. O mesmo autor também
esclarece que é impossível à separação entre essas relações sociais e as relações de produção e
consumo de mercadorias. Segundo Coelho “a sociedade do espetáculo corresponde a uma
fase específica da sociedade capitalista, quando há uma interdependência entre o processo de
acúmulo de capital e o processo de acúmulo de imagens” (2011, p.60).
Ainda o mesmo autor diz que
a sociedade do espetáculo só pode ser compreendida dentro do contexto da
sociedade capitalista, isso não quer dizer que só nessa forma de vida social ocorre a
produção de espetáculo. A produção de imagens, a valorização da dimensão visual
da comunicação, como instrumento de exercício do poder, de dominação social,
existe, conforme argumenta Debord no livro Sociedade do Espetáculo, publicado em
1967, em todas as sociedades onde há classes sociais, isto é, onde a desigualdade
social está presente graças à divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual.
(COELHO, 2011, p. 60)
Nas sociedades capitalistas, o poder do espetáculo está em toda a vida social, ou seja,
como a sociedade se encontra “desconfigurada” dos efeitos da essência, e apenas em grande
magnitude, ligada à aparência, é exatamente neste entremeio que se instauram os movimentos
da indústria cultural, a qual tem como conceito eleger e formar a sociedade do espetáculo, por
meio de toda uma simbologia criada ao longo das décadas que ajudam a instaurar a cultura de
elite e a diferenciar a cultura de massa.
É esta construção, que os grandes conglomerados empresariais como as Organizações
Globo, no contexto brasileiro, e a News Corporation, no contexto mundial, são exemplos de
instituições poderosas, que a cada dia pautam e desconfiguram a sociedade, para uma
sociedade do espetáculo, a qual segundo Coelho, por meio do
poder dos conglomerados comunicacionais fortalece-se e a indústria cultural,
articulada mundialmente, transforma-se no porta-voz ideológico do capitalismo,
desqualificando qualquer visão contrária a ele como ultrapassada, promovendo
assim o pensamento único, em relação ao qual não há alternativa. (2011, p.60)
E é a partir deste pensamento, que se adentra a terceira linha de pensar deste artigo
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4. Indústria cultural e a manutenção do poder da aparência
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“Indústria cultural e a manutenção do poder da aparência”.
Na terceira linha de pensar a respeito do tema, inicio colocando um trecho de Adorno
e Horkheimer que dialogam sobre os desdobramentos da indústria cultural no meio social.
Para ambos
o consumidor não é o rei, como a indústria cultural gostaria de fazer crer, ele não é o
sujeito dessa indústria, mas seu objeto. O termo mass media, que se introduziu para
designar a indústria cultural, desvia, desde logo, a ênfase para aquilo que é
inofensivo. Não se trata nem das técnicas de comunicação como tais, mas do espírito
que lhes é insuflado, a saber, a voz de seu senhor. A indústria cultural abusa da
consideração com relação às massas para reiterar, firmar e reforçar a mentalidade
destas, que ela toma como dada a priori e imutável. É excluído tudo pelo que essa
atitude poderia ser transformada. As massas não são a medida, mas a ideologia da
indústria cultural, ainda que esta cultura não possa existir sem a elas se adaptar.
(1997, p. 134)
Com este trecho dos filósofos Adorno e Horkheimer é notado como a indústria
cultural dopa os indivíduos e os deixa sem pensar, lhe dando uma maneira de pensar
particular ao sistema, o qual ignora a cultura plena humana.
Destaco agora, dois trechos de Bruno Pucci que dialogam a respeito da indústria
cultural. No primeiro Pucci, diz que “(...) a interferência da indústria cultural da mesma
maneira que submete a liberdade e a atividade do sujeito pensante, despotencializa sua
capacidade de perceber e de sentir, gerando nele o conformismo, a adaptação, a regressão de
seus sentidos. (2001, p. 37)” E ainda,
hoje, a arte degenerada industrial (...) leva ao extremo a contradição entre os
produtores e os consumidores da cultura: estes últimos não tem necessidade de
elaborar a mais simples cogitação, a equipe de produção pensa o tempo todo por
eles. Enquanto a arte séria, expressão estética de um sofrimento sublimado, assume
contradições reais, aponta dissonâncias de seu tempo, e como promesse de bonheur2,
mesmo vivendo na era da troca, antecipa um mundo não mais regido pelos valores
do mercado (...). (2001, p. 38)
Com estes pensamentos, pode-se analisar que a sociedade hoje despontencializa o ser
humano, enquanto Homem, retirando suas capacidades de ‘homo faber’ (o homem que faz),
este sujeito da contemporaneidade agindo simplesmente como um coadjuvante social, seu
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Promessa de felicidade
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5. Da colônia a teia global
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protagonismo sendo retirado e sua capacidade de expressão sendo limitada.
O século XX foi caracterizado por rápidas transformações e avanços em quase todas
as esferas da sociedade. Em meio às descobertas e desenvolvimentos científicos e
tecnológicos, os países advindo com o século XXI, prosperam de inúmeras formas trazendo
uma enorme confiança no progresso de suas ciências e mercados.
Essas sociedades em plena transformação consolidam suas classes que passam a
dominar os cenários socioculturais, determinando várias tendências que se materializam ao
longo do tempo. Agora, embora estes avanços sejam benéficos para o todo, não se tornam
positivos essencialmente para todos. Conforme o crescimento valida certas classes sociais,
desprestigia outras. Assim aos poucos e com o decorrer de um tempo as classes sociais vão se
distanciando de uma maneira, que não se encontram mais, ou melhor, não interagem da
maneira como deveriam. Desta forma as diferenças vão se instaurando e as culturas se tornam
distantes, embora a globalização pregue sua homogeneização.
Com o avanço destas distâncias, as sociedades vão se configurando de uma maneira a
colocar seus indivíduos em caracterizações de representação. Como exemplo, vemos o
milionário saindo de sua mansão com seu carro importado novo do ano, indo para o seu
emprego em uma grande multinacional, onde necessita falar em uma outra língua para uma
negociação com um mercado externo, e na mesma cidade, no mesmo local, se vê um sem-teto
dormindo na calçada, em frente a empresa multinacional, o qual sua única fonte de
sobrevivência é pedir para poder existir, se utilizando dos entrelugares da sociedade para se
instalar, usufruindo das assistências sociais para que possa ter o mínimo de dignidade.
E esta pesquisa se instaura exatamente neste entremeio para discutir como essas
identidades são formadas, partindo de um “ponto zero” e podendo se distanciar de tal modo.
Como de certa forma estas identidades dialogam, como uma pode ser formadora de outra. O
que leva uma identidade a ser formada e a mesma entrar em crise? E como uma crise pode
levar a uma evolução identitária? Até que ponto este processo pode vir a ser benéfico para
uma caracterização geral da sociedade? O que é este indivíduo, como é sua identidade e como
é esta sociedade o qual habita? Como os descolamentos e descentramentos acontecem e para
que servem, todos estes efeitos sendo implícitos ao processo formador da globalização?
A identidade cultural é o que define o que cada um é e o que nos diferencia uns dos
outros. Uma nação bem como seus sujeitos possui identidades culturais próprias. Para Stuart
uma das principais fontes de identidade cultural”. (2005, p. 47)
De um modo geral, uma identidade nacional, é o que define um traço próprio,
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cultural. No mundo moderno, conclui: “as culturas nacionais em que nascemos constituem em
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Hall, não é exatamente a nação em que cada sujeito nasce que representa uma identidade
exclusivo de identificação para um país ou um povo. A formação de uma “cultura nacional
contribui para criar padrões de alfabetização universal, generalizar uma única língua
dominante em toda a nação, criar uma cultura homogênea. Uma cultura nacional funciona
como um sistema de representação” (HALL, 2005, p. 50) para a identidade nacional.
Antes de analisar, esta citação de Stuart Hall, é impossível não fazer um levantamento
dos respectivos conceitos de: Cultura e Nação e dos sistemas que estes representam. Uma
definição possível para cultura é “o complexo de padrões de comportamento das crenças, das
instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e
característicos de uma sociedade (FERREIRA, 1986, p.508)”. Já para Stuart Hall, “a cultura é
o meio partilhado necessário, o sangue vital, ou talvez antes, a atmosfera partilhada mínima,
apenas no interior da qual os membros de uma sociedade podem respirar e sobreviver e
produzir”. (2005, p. 59)
E toda esta atmosfera, necessita de uma ambientação, para que essas identidades sejam
formadas, e este lugar é definido como nação. Uma “comunidade política imaginada”
segundo Giddens (2002, p.212). Imaginada por que em toda população há sujeitos que
desconhecem uns aos outros dentro do mesmo território. Representam identidades culturais
diferentes ligadas por uma identidade nacional. Por isso, e em face de que cada nação não é
formada por um único povo, cultura e etnia, as nações na verdade são considerados por Hall
como “híbridos culturais” (2005, p. 47). Já segundo o dicionário Aurélio (1986, p. 1177),
nação é um “agrupamento humano, em geral numeroso, cujos membros, fixados num
território, são ligados por laços históricos, culturais, econômicos e linguísticos”. Assim, os
indivíduos que estão incluídos dentro desta nação, praticam o nacionalismo intrinsecamente, o
qual é tido como “a exaltação do sentimento nacional partilhado por um grupo de indivíduos”
(1986, p.1177). Já o crítico literário Sílvio Romero chama de nacionalismo
principais fontes de identidade cultural. Ao nos definirmos, algumas vezes dizemos que
somos brasileiros ou portugueses ou ingleses ou jamaicanos. Obviamente, ao fazer isso
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No mundo moderno, as culturas nacionais em que se nasce se constitui em uma das
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o povo em suas origens, em suas produções anônimas, definindo a intimidade
emocional, a sua visualidade artística. O nacionalismo está em nossas poesias, em
nossas crenças populares, está no valor dessa contribuição cultural e etnológica
como subsídio para a compreensão do espírito da nação exaltação do sentimento
nacional; preferência marcante por tudo quanto é próprio da nação à qual se
pertence: patriotismo. As artes integrando a política de nacionalização de um país
(VELLOSO, 1993, p. 01).
estamos falando de forma metafórica. “Essas identidades não estão literalmente impressas em
nossos genes.” (HALL, 2005, p.47) Entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se
fossem parte de nossa natureza essencial.
O filósofo conservador Roger Scruton fala que:
A condição de homem exige que o indivíduo, embora exista e aja como um ser
autônomo, faça isso somente porque ele pode primeiramente identificar a si mesmo
como algo mais amplo – como um membro de uma sociedade, grupo, classe, estado
ou nação, de algum arranjo, ao qual ele pode até não dar um nome, mas que ele
reconhece instintivamente como seu lar (SCRUTON, 1986, p.156 in Hall, 2005,
p.48).
Ernest Gellner, a partir de uma posição mais liberal, também acredita que sem um
sentimento de identificação nacional o sujeito experimentaria um profundo sentimento de não
– pertencimento:
A ideia de um homem sem uma nação parece impor uma (grande) tensão à
imaginação moderna. Um homem deve ter uma nacionalidade, assim como deve ter
um nariz e duas orelhas. Tudo isso parece óbvio, embora, sinto, não seja verdade.
Mas que isso viesse a parecer tão obviamente verdadeiro é, de fato, um aspecto,
talvez o mais central, do problema do nacionalismo. Ter uma nação não é um
atributo inerente da humanidade, mas aparece, agora como tal (GELLNER, 1983,
p.06 in Hall, 2005, p.48)
O argumento que estarei considerando aqui é que, na verdade, as identidades nacionais
não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas e transformadas no interior da
representação. Nós só sabemos o que significa ser “brasileiro” devido ao modo como a
“brasilidade” veio a ser representada – como um conjunto de significados, pela cultura
nacional brasileira. Como exemplo sabe-se que o Brasil é um país lembrado por futebol,
carnaval, florestas. E se assim fosse seria pré-destinados todos a adorar futebol, amar carnaval
e conhecer muito bem nossas florestas, mas sabemos que são falsas verdades, pois devido
sermos brasileiros, não são todos os seus pertencentes que vislumbram esses caracteres. Ou
seja, uma representação vendida, ou falseada do todo. Assim, “segue-se que a nação não é
apenas uma entidade política, mas algo que produz sentidos – um sistema de representação
cultura nacional. Uma nação é uma comunidade simbólica e é isso que explica seu “poder
para gerar um sentimento de identidade e lealdade” (SCHWARZ, 1986, p. 106).
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uma nação, eles intrinsecamente participam da ideia da nação tal como representada em sua
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cultural” (HALL, 2005, p.49). As pessoas não são apenas cidadãos legais ou não legais de
A formação de uma cultura nacional contribuiu para criar padrões de alfabetização,
generalizar uma única língua nacional como meio dominante de comunicação em toda nação,
cria uma cultura homogênea e mantém instituições culturais nacionais padronizadas. Dessa e
de outras formas, a cultura nacional se torna uma característica-chave para as formações de
identidade.
E são fatores como estes formadores que influenciam ou levam a formação de uma
identidade de pertencimento de um sujeito a uma instituição. Porém, as culturas nacionais são
compostas não apenas de instituições culturais, mas também de símbolos e representações.
Uma cultura nacional pode se definir como um discurso. De modo a construir sentidos que
influenciam e organizam tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos.
Desta forma termino esta pequena discussão sobre os efeitos de poder das mídias na
sociedade capitalista contemporânea, a qual teve como premissa primeira trazer uma reflexão
a respeito da influência das mídias sobre os indivíduos. Como sabemos as mídias todas
vieram, se instalaram e evoluem a cada dia mais, num processo ininterrupto, assim cabe a
cada indivíduo (ator social) analisar a influência e os discursos que são passados, onde na
verdade estas vertentes de comunicação não devem ser vistas apenas como processo
comunicacional ou fonte de informações, mas sim como formadores de identidade
(individuais e coletivas), cabendo assim um papel de extrema relevância social no sentido de
potencializar seus agentes e não restringi-los a um papel submisso de apenas consumidores ou
figurantes.
WHY STUDY THE MEDIA? A REFLECTION OF ITS DEVELOPMENTS IN THE
CONTEXT OF GLOBALIZATION
Abstract: This article aims to discuss four points within the media and Power contexts and its consequences in
the (de) construction of identities before local to global now. The first discussion that this work will raise the
postmodern aesthetics of democracy and capitalism / consumerism. The second is called the media effects and
power in post-modern society of the spectacle. Following is discussed on the cultural industry and maintenance
of the appearance of power. And the last topic within the article is titled the former colony to the global web,
topic which will be discussed the impact that technologies bring to subjectivities modes of identities through the
(de) construction, whether individual or collective. The result of the analysis of this article will lead to reflection
within the contexts of (de) construction of contemporary globalized identities, beyond the discussion of an
immanent reality to everyone within societies.
Referências
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Revista Língua & Literatura, v. 18, n. 31, p. 14-25, ago. 2016.
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