Desenvolvimento de um manipulador robótico para procedimentos cirúrgicos laparoscópicos: Contribuições da engenharia mecânica Anderson Cardoso de França1 e Roderlei Camargo2 1 Engenheiro Mecânico, [email protected] Mestre em Engenharia Mecânica, professor do UNISAL, Campinas, São José, [email protected], 2 Resumo – A quantidade de procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos cresce consideravelmente a cada ano, e por sua vez, as tecnologias tendem a acompanhálos. A laparoscopia - cirurgia realizada através de pequenas incisões no abdômen -, faz parte desses procedimentos, e proporciona diversos benefícios com sua utilização. Mas em contrapartida, ainda possui problemas graves relacionados as lesões iatrogênicas, causadas por movimentos involuntários dos cirurgiões, afetando alguma parte dos órgãos no momento do procedimento laparoscópico. Assim, desenvolveu-se um manipulador robótico via sistema CAD 3D SolidWorks 2015, seguido da analise estrutural CAE, via método dos elementos finitos, no intervalo de validação da lei de Hooke. Também acoplou-se um mecanismo bielamanivela a partir do eixo roscado, para obter maior precisão e segurança no momento do procedimento laparoscópico. A cinemática resultante deste instrumento e o suporte guia, oferecem ao médico autonomia para trabalhar em qualquer grau de liberdade, auxiliado por um sistema dinâmico que proporciona controle na utilização do instrumento, preservando assim a saúde do paciente e reduzindo os riscos de lesões iatrogênicas. Palavras-chave: CAD/CAE, Laparoscopia, Projeto de mecanismo Manipulador, Abstract – The number of minimally invasive surgical procedures grows significantly each year, and in turn, the technologies tend to follow them. Laparoscopy surgery performed through small incisions in the abdomen -, is part of these procedures, and provides several benefits with its use. However, on the other hand, it still has serious problems relationship to the iatrogenic injuries, caused by involuntary movements of the surgeons, affecting some part of the organs at the time of laparoscopic procedure. Thus, developed a robotic manipulator via 3D SolidWorks CAD system 2015, followed by CAE structural analysis via the finite element method, in the validation range of Hooke's law. Also engaged into a connecting rod-crank mechanism from the threaded shaft, for greater accuracy and safety at the laparoscopic procedure. The resulting kinematics of this instrument and support guide, offer the doctor The resulting cinematic of the instrument and support guide, provides the physician autonomy to work in any degree of freedom, aided by a dynamic system that provides control in the use of the instrument, thereby preserving patient health and reducing the risk of iatrogenic injuries. Keywords: CAD/CAE, Mechanism design. Manipulator, Laparoscopy, I. INTRODUÇÃO Com o avanço da ciência e para buscar uma longevidade e bem-estar para todos, unem-se as áreas das ciências exatas e da saúde, para convalidar este quesito. A medicina vem buscando utilizar técnicas que garantam segurança e não comprometam a estética dos pacientes; assim a frequência das cirurgias minimamente invasivas aumentou substancialmente desde a sua introdução. Este tipo de cirurgia tem como objetivo a máxima preservação da anatomia com a mínima agressão ao organismo, mas o suficiente para realizar o procedimento cirúrgico. Segundo Brentano (2015), [1], a laparoscopia é um procedimento cirúrgico minimamente invasivo realizado através de pequenas incisões. O método consiste em observar o interior do abdômen através da introdução de uma lente ótica pela parede abdominal, após insuflar a cavidade com gás carbônico, e executar diagnósticos e/ou procedimentos cirúrgicos. O período pós-operatório da laparoscopia é menos doloroso em relação ao da cirurgia convencional porque as incisões na parede abdominal são menores. Assim, os benefícios da utilização desta técnica incluem menor tempo de recuperação para o paciente e menores danos a sua saúde geral. Apesar dos benefícios, as cirurgias minimamente invasivas exigem dos cirurgiões treinamento para manusear os manipuladores cirúrgicos, uma boa coordenação motora e uma visualização clara do procedimento. Os manipuladores cirúrgicos executam funções como cortar, dissecar, prender, sustentar, retrair ou suturar durante os atos cirúrgicos. Contudo, os manipuladores podem causar lesões irreparáveis ao corpo humano devido a movimentos involuntários dos cirurgiões, as chamadas lesões iatrogênicas. Tais lesões podem gerar danos aos órgãos ©Revista Ciência e Tecnologia, v. 19, n. 34, p. 75 - 84, jan./jun. 2016 - ISSN: 2236-6733 do paciente, favorecendo o desenvolvimento de doenças ou até mesmo levar o paciente a óbito, [2]. Neste contexto, este trabalho tem como objetivos desenvolver um manipulador robótico, capaz de atender todos os graus de liberdade necessários para a realização dos procedimentos cirúrgicos; criar um suporte guia para prover segurança aos movimentos do médico; modelar o conjunto do manipulador robótico em sistema CAD 3D; gerar a cadeia cinemática do manipulador, considerando os aspectos da dinâmica "biela-manivela" e analisar estruturalmente o componente mais relevante via método dos elementos finitos. Pode-se desta forma, utilizar o procedimento não só para determinar o modelo cinemático do sistema, mas também determinar o procedimento de controle das trajetórias. Espera-se tornar a movimentação do manipulador anatomicamente precisa em todas as direções, sem riscos para o paciente, e deixando o médico seguro em relação ao equipamento. II. REFERENCIAL TEÓRICO médicos no momento da ação cirúrgica, nos órgãos como o intestino, estômago, vias respiratórias, vias biliares ou até mesmo em artérias. Figura 1 – Procedimento laparoscópico. Fonte: Retirado de [4]. A Figura 2 ilustra uma lesão iatrogênica causada nas vias biliares. Figura 2 – Lesão iatrogênica em vias biliares. Atualmente, com a evolução da tecnologia, pode-se acessar praticamente todos os órgãos do corpo humano através de cirurgias minimamente invasivas. Este novo método cirúrgico, contribui para a solução de diversos problemas encontrados na área médica. A. Cirurgia laparoscópica A laparoscopia é realizada a partir de uma pequena incisão por onde é introduzido o laparoscópio. Este aparelho consiste em um fino tubo de fibras óticas, por meio do qual pode-se visualizar os órgãos internos e realizar as intervenções diagnósticas ou cirúrgicas. Em uma cirurgia laparoscópica, outras pequenas incisões são necessárias para introdução dos instrumentos cirúrgicos. Quando o procedimento é realizado no abdômen, certa quantidade de gás carbônico é introduzida na da cavidade abdominal, a fim de insuflá-la, criando assim um campo de trabalho para se realizar a cirurgia. A cirurgia laparoscópica tem a vantagem de ser minimamente invasiva e ocasionar, desta forma, um menor trauma cirúrgico, menor sangramento, menor taxa de infecções, menor dor pós-operatória, e consequentemente uma rápida recuperação pós-cirúrgica, além de menores cicatrizes, [2]. Atualmente, praticamente todas a cirurgias ginecológicas (cistos de ovário, dilatação das trompas, torção de ovário, etc.) e urológicas podem ser realizadas por laparoscopia, [3]. A Figura 1 ilustra um procedimento cirúrgico laparoscópico no qual há a introdução da ferramenta cirúrgica e de um laparoscópio. A laparoscopia, assim como todo procedimento cirúrgico, envolve alguns riscos, e o de maior gravidade são os de lesões iatrogênicas, que são causadas por erros Fonte: Retirado de [5]. As lesões iatrogênicas estão diminuindo gradativamente com o avanço tecnológico, porém ainda são pontos de atenção nos procedimentos cirúrgicos. Problemas como falta de treinamento, fadiga e estresse do cirurgião podem contribuir para causar este tipo de lesão. A lesão iatrogênica é um fenômeno importante, e um risco severo para os pacientes, podendo causar morbidade ou óbito às suas vítimas, [6]. B. Sistema CAD O sistema CAD (Computer Aided Design) é uma ferramenta computacional frequentemente utilizada na elaboração de projetos nas áreas de Engenharia, Arquitetura, entre outras. O sistema CAD é um software voltado ao desenho técnico, cujas ferramentas do sistema ©Revista Ciência e Tecnologia, v. 19, n. 34, p. 75 - 84, jan./jun. 2016 - ISSN: 2236-6733 contribuem para a elaboração do trabalho em questão com uma menor possibilidade de erros, produção de desenho ou mesmo de documentação escrita, além de garantir a precisão nos cálculos de projeto, [7]. A Figura 3 ilustra o projeto desenvolvido no software CAD SolidWorks 2015. Figura 3 – Desenvolvimento do manipulador robótico. O Método dos Elementos Finitos (MEF) é uma análise que consiste na discretização de um meio contínuo, preservando as mesmas propriedades originais do meio. Esses elementos são descritos por equações diferenciais e são resolvidos por modelos matemáticos, para que sejam obtidos os resultados desejados. Quanto maior for a quantidade de estruturas modeladas, mais precisos serão os resultados, com o custo que a obtenção do modelo será mais difícil e, consequentemente, a análise dos resultados será mais complexa. Porém, baseado no tipo de análise a ser criada, pode-se utilizar modelos mais simplificados para obter-se os mesmos resultados qualitativos, [9]. A Figura 5, ilustra uma análise estrutural estática do apoio do manipulador robótico. Figura 5 – Análise estrutural estática. Fonte: Acervo do autor. Fonte: Acervo do autor. O SolidWorks é um software CAD 3D que permite esboçar protótipos de projetos de máquinas, circuitos eletrônicos e ferramentas que possam se materializar na forma de desenhos tridimensionais (3D), aprimorando a visualização da ideia, apontando possíveis erros que se não observados em projeto, poderiam custar tempo e dinheiro na execução falha do produto, [8]. A Figura 4, ilustra o projeto da guia suporte elaborado utilizando o software CAD 3D SolidWorks. Figura 4 – Suporte guia do manipulador robótico. Após a determinação de todas as propriedades, realizase a aplicação das cargas necessárias e a análise dos resultados. O comportamento de cada um dos elementos é descrito pelos resultados apresentados e representarão a distribuição das tensões e deformações do modelo. D. Cinemática Podemos definir o movimento como a variação da posição do corpo em função do tempo. Dessa forma, temos os Graus de Liberdade (GDL), que são os números de parâmetros independentes necessários para se definir a posição do corpo no espaço, sendo então primordiais para a realização da medição exata dos objetos e pontos em movimento. Os graus de liberdade são classificados como as direções livres que podemos utilizar a ferramenta, sem nenhuma interferência, [10]. No projeto desenvolvido, o manipulador robótico em conjunto com o suporte guia resulta em até 5 graus de liberdade conforme resume a Tabela 1. Tabela 1 – Indicação dos graus de liberdade do manipulador robótico auxiliado pelo suporte guia. Fonte: Acervo do autor C. Sistema CAE O SolidWorks pode ser utilizado também como software de CAE (Computer Aided Engineering) pelo Método de Elementos Finitos (MEF), respondendo à aplicação virtual de forças sobre a ferramenta. Uma aproximação orientada permite-se obter razoável performance da análise com o projeto sob condições reais. Eixos Z W A B WB Ângulos 0° -45° 0° 45° 0° 360° -15° 0° 15° -60° 0° 60° Z – Eixo linear; W – Eixo do manipulador robótico; A – Eixo rotacional do suporte guia; ©Revista Ciência e Tecnologia, v. 19, n. 34, p. 75 - 84, jan./jun. 2016 - ISSN: 2236-6733 B – Eixo regulagem da guia; WB – Eixo W do manipulador robótico unido com eixo B de regulagem da guia. A Figura 6 ilustra o projeto do manipulador robótico no suporte guia com destaque para os 5 graus de liberdade na área de trabalho da ferramenta. Figura 6 – Montagem manipulador robótico no suporte guia. Esse mecanismo é muito utilizado na indústria automotiva, sendo uma de suas principais aplicações o uso nos motores de combustão interna. Nestes motores, a barra é o pistão sobre o qual os gases exercem pressão, que é transmitida à manivela por intermédio da biela. O sistema biela-manivela emprega-se também, geralmente, em compressores de ar, onde a manivela recebe o movimento de rotação, por exemplo, de um motor elétrico, sendo transformado em movimento retilíneo que comprime o ar, [11]. III. MODELAGEM MATEMÁTICA Para dimensionar o projeto, fez-se o estudo da modelagem matemática, optando por elaborar primeiramente o sistema biela-manivela. A partir dos resultados obtidos, pode-se estruturar o comprimento da rosca do eixo, e subsequente, calcular o deslocamento angular do sistema do manipulador robótico. A. Dimensionamento do sistema biela-manivela Fonte: Acervo do autor. De acordo com [12], para determinar o mecanismo biela-manivela utilizado no manipulador robótico, os conceitos ilustrados na Figura 8 devem ser observados. A área de trabalho T do manipulador robótico tem, em média, diâmetro de 165 mm a 45°, Entretanto, quando utilizado em conjunto com o suporte guia, a área de trabalho estende-se de 200mm a 230mm, dependendo da profundidade utilizada no eixo Z. Figura 8 – Sistema biela-manivela. E. Dinâmica: Mecanismo biela-manivela O mecanismo biela-manivela, é um sistema dinâmico capaz de transformar o movimento circular em movimento retilíneo. É composto por um elemento giratório denominado manivela que está diretamente ligado a biela, de forma que ao girar a manivela, a biela avança ou retrocede, produzindo um movimento na barra. A Figura 7 ilustra a conversão de movimento circular em movimento retilíneo. Figura 7 – Sistema biela-manivela e conversão de movimento circular. Fonte: Adaptado de [13]. em que: S = Curso do sistema, L = Comprimento da biela, r = Comprimento da manivela (raio do percurso), α = Ângulo da manivela, β = Ângulo biela-manivela. Com base nos parâmetros apresentados, o curso da articulação é descrito por: 𝑆 = 𝑟 + 𝐿 − (𝑟 𝑐𝑜𝑠𝛼) − (𝐿 𝑐𝑜𝑠𝛽) ⇒ 𝑆 = 𝑟(1 − cos 𝛼) + 𝐿(1 − 𝑐𝑜𝑠𝛽) (1) Aplicando-se a relação: 𝑟𝐿 = Fonte: Acervo do autor 𝑠𝑒𝑛 𝛽 𝑠𝑒𝑛 𝛼 ©Revista Ciência e Tecnologia, v. 19, n. 34, p. 75 - 84, jan./jun. 2016 - ISSN: 2236-6733 (2) 𝑟 B. Forças que agem sobre o pino da manivela e adotando-se = 𝜆, tem-se: 𝐿 𝑠𝑒𝑛 𝛽 = 𝑟 𝐿 𝑠𝑒𝑛 𝛼 = 𝜆 𝑠𝑒𝑛 𝛼 (3) Utilizando a Equação (3) na relação 𝑐𝑜𝑠 2 𝛽 = 1 − 𝑠𝑒𝑛2 𝛽, escreve-se: 𝑐𝑜𝑠 2 𝛽 = 1 − 𝜆2 𝑠𝑒𝑛2 𝛼 (4) a qual implica que: cos 𝛽 = √1 − 𝜆2 𝑠𝑒𝑛2 𝛼 (5) A Equação (4) pode ser descrita em uma série de Taylor na forma: cos 𝛽 = √1 − 𝜆2 𝑠𝑒𝑛2 𝛼 = 1 − 1 2 𝜆2 𝑠𝑒𝑛2 𝛼 + ⋯ (6) Desprezando os termos da série de ordem maior do que 2, tem-se que: 1 − cos 𝛽 = 1 2 𝜆2 𝑠𝑒𝑛2 𝛼. (7) Substituindo-se esta relação na Equação 1, obtém-se: 𝑆 = 𝑟(1 − cos 𝛼) + 𝐿𝜆2 𝑠𝑒𝑛2 𝛼 2 . (8) Para determinar o diâmetro adequado para os pinos do sistema, utilizou-se a ferramenta referente ao Método dos Elementos Finitos (MEF) no software SolidWorks. A partir desta ferramenta, dada a força aplicada verticalmente, é possível obter a análise estática do sistema A força aplicada verticalmente é resultante do cálculo do torque multiplicado pela tangente do ângulo da rosca, sendo representada por 𝑇 =𝐹∗𝑅 em que: (9) T = Torque F = Força R = Raio De acordo com a Equação (8), define-se que a força vertical 𝐹𝑣 como: 𝐹𝑣 = 𝑇 𝑡𝑔(60°) (10) Aplicando-se a força vertical da Equação (9) na análise estática do SolidWorks, obtém-se o diâmetro adequado dos pinos, com base na análise ilustrada na Figura 10. Figura 10 – Análise estática do pino do sistema biela-manivela. Utilizando 45° como o ângulo máximo para o movimento do manipulador robótico, os parâmetros do movimento do sistema biela-manivela, representados na Figura 9, foram calculados para a sequência da simulação cinemática. Consequentemente, o curso representado por "𝑆" na Equação (7), foi determinado e estruturou-se o manipulador robótico em termos dos respectivos parâmetros. A Figura 9 ilustra a geometria tridimensional formada pelos parâmetros de configuração do sistema dinâmico acoplado. Figura 9 – Sistema biela-manivela do manipulador robótico. Fonte: Acervo do autor. O resultado da análise evidenciou que as tensões são da ordem de 1,35 × 10−9 N/m2. Os pontos mais críticos são destacados em vermelho e referem-se a locais onde podem ocorrer esforços maiores na estrutura do projeto. Por serem escassos, tais pontos, conclui-se que o diâmetro delimitado pelo software é adequado para conceituar o sistema de mecanismo aqui proposto. C. Determinação da rosca do sistema de transmissão Para determinar a rosca apropriada para a utilização no eixo interno roscado na transmissão do movimento Fonte: Acervo do autor ©Revista Ciência e Tecnologia, v. 19, n. 34, p. 75 - 84, jan./jun. 2016 - ISSN: 2236-6733 rotacional para o movimento retilíneo, definiu-se a seguinte relação: 𝐴𝑡 = 𝜋 𝑑3 +𝑑2 2 4 [ 2 ] (11) em que 𝐴𝑡 é a área de tensão a tração. Na Equação (10), "𝑑2 " e "𝑑3 “são diâmetros associados a roscas ISO tais que 𝑑3 = 𝑑 − 1,2268 𝑃 e 𝑑2 = 𝑑 − 0,6495 𝑃, sendo que “𝑑" é o diâmetro nominal e "𝑃" é o passo ou distância axial entre duas roscas adjacentes. Logo, a Equação (10) pode ser reescrita como: As roscas com as classes de resistência 5.8 e 6.8 normalmente são confeccionados de aço com baixo ou médio teor de carbono. Para as roscas com as classes de resistência 8.8, 10.9 e 12.9 o aço deve ser médio carbono ou aço ligado, o que confere a este aço, propriedades dos componentes próprias para tratamentos térmicos, visando o endurecimento da superfície ou mesmo o próprio núcleo. A Figura 12 ilustra o eixo roscado utilizado no sistema dinâmico. Figura 12 – Mecanismo dinâmico do manipulador robótico. 𝐴𝑡 = 0,7854 [𝑑 − (0,9382 𝑃]2 . (12) 1 Substituindo 𝑃 = , sendo "𝑛" o número de roscas por 𝑛 polegada (ANSI) ou milímetro (ISO), tem-se 𝐴𝑡 = 0,7854 [𝑑 − ( 0,9382 𝑛 2 )] (13) na qual "𝑑" e "𝑛" são informados, respectivamente, em milímetros e em roscas por milímetro. A Figura 11 ilustra o perfil de rosca métrica que foi utilizada no manipulador robótico. D. Figura 11 – Ilustração de um perfil de rosca métrica. Fonte: Retirado de [13]. Outra característica que deve ser analisada em relação à determinação das roscas é o Limite de Resistência à Tração (LRT). O LRT refere-se à força axial aplicada ou tração pura, a partir do qual pode-se convalidar que a rosca utilizada não sofrerá danos com a força utilizada no sistema de transmissão de movimentos. Matematicamente, o LRT é especificado como: 𝐿𝑅𝑇 = Fonte: Acerto do autor. 𝐹𝑣 (14) 𝐴𝑡 A especificação ISO 898 Parte I, determina valores mínimos para o Limite de Resistência à Tração (LRT), segundo sua classe de resistência, conforme a Tabela 2. Deslocamento angular do manipulador robótico Para definir o deslocamento angular da ferramenta, calcula-se o curso 𝑆 do sistema biela-manivela (Equação 7) e a rosca adequada do eixo interno para suportar a carga axial. A partir destas informações, determina-se a proporção adequada para que o ângulo final do manipulador seja atingido. As roscas deslocam-se através do passo “𝑃": isto significa que a cada volta completa, movimenta-se em termos de translação, o valor do deslocamento de um passo. Desta forma, descreve-se o deslocamento angular do manipulador, como descrito por (15): 𝐷𝑎 = 𝐴𝑓 𝑃 𝑆 (15) em que: 𝐷𝑎 = Deslocamento angular por volta; 𝐴𝑓 = Ângulo final; 𝑆 = Curso; 𝑃 = Passo Tabela 2 – Valores de limite de resistência a tração (LRT). Classe LRT (min) 5.8 540 MPa 6.8 600 MPa 8.8 800 Mpa Fonte: Retirado de [14]. 10.9 1040 MPa 12.9 1220 MPa Com isto, pode-se determinar, o ângulo que o manipulador se desloca, a cada movimento rotacional do flange de ajuste. Existe uma marcação em forma de graduação no flange, como forma de visualização gráfica do ângulo formado. ©Revista Ciência e Tecnologia, v. 19, n. 34, p. 75 - 84, jan./jun. 2016 - ISSN: 2236-6733 A Figura 13 ilustra a graduação determinada para o manipulador robótico. Figura 13 – Graduação determinada para o manipulador robótico. eixo, que aciona o mecanismo de forma longitudinal, num movimento de translação. A Figura 14 ilustra o sistema do eixo roscado, em corte total, evidenciando os aspectos cinemáticos do sistema dinâmico. Figura 14 – Sistema de movimento do eixo roscado para o mecanismo biela-manivela. Fonte: Acervo do autor. IV. METODOLOGIA Quanto à natureza dos dados, a metodologia assume um caráter qualitativo, pois trata-se de um componente mecânico, composto por mecanismo de articulação que propicia maior liberdade ao procedimento abordado neste trabalho. No que se refere ao delineamento, a metodologia assume uma abordagem conduzida ao estudo de caso, em que será demonstrado via projeto CAD, analisado através de elementos finitos, simulação computacional virtual e física, para a comprovação do êxito de um produto direcionado para fins cirúrgicos destinado ao uso exclusivo na laparoscopia. A habilidade requerida pelo cirurgião para orientar a extremidade da ferramenta pode ser obtida através de mecanismos de transmissão, que transformam movimentos de rotação em movimentos retilíneos, inseridos no manipulador e através de um suporte guia, fixado ao corpo do paciente. Este suporte guia é para garantir que não haja movimentação do corpo humano, durante os procedimentos cirúrgicos. A complexidade cinemática deste tipo de mecanismo, justifica a aplicação de ferramentas de análise propostas, das quais desenvolveu-se um manipulador robótico, para acesso ao abdômen, sem a introdução das mãos por parte do médico cirurgião. O projeto iniciou-se com a elaboração de um sistema que fosse capaz de transmitir movimentos dentro do corpo do paciente e, por isso, foi utilizado o sistema biela-manivela. Utilizando-se o software CAD 3D SolidWorks iniciouse o desenho do mecanismo biela-manivela que para seu funcionamento necessitava de um movimento retilíneo para acioná-lo. Com isso, criou-se um sistema de transformação de movimentos que a partir de um eixo roscado, o movimento da rosca é transmitido para um Fonte: Acervo do autor. O sistema dinâmico possibilitou o projeto da rosca adequada para suportar a tração do movimento rotacional. Este movimento é resultante do giro do flange de ajuste, que é responsável pela regulagem do ângulo do manipulador. Baseando-se no estudo científico sobre a cirurgia laparoscópica, constatou-se que as cirurgias são executadas com abertura de um corte de 10 a 15 mm de comprimento, elaborou-se a estrutura externa do manipulador robótico com 10 mm de diâmetro. No que se refere ao controle dos movimentos do manipulador robótico no procedimento cirúrgico, para evitar as lesões iatrogênicas, foi elaborado um suporte guia, que posiciona o manipulador na posição desejada utilizando como base o próprio corpo do paciente. A Figura 15 ilustra o suporte guia, preso ao corpo do paciente, por uma espécie de cinta, que envolve todo o corpo humano, na região da futura cirurgia. Isto garante rigidez estrutural do conjunto do manipulador, e evita possíveis desalinhamentos, durante a operação. Figura 15 – Suporte guia preso ao corpo do ser humano. Fonte: Acervo do autor. Este acessório é de extrema importância para o funcionamento do manipulador robótico, uma vez que direciona a ferramenta para o local do procedimento cirúrgico e permite que esta direção seja fixada, ©Revista Ciência e Tecnologia, v. 19, n. 34, p. 75 - 84, jan./jun. 2016 - ISSN: 2236-6733 impedindo que movimentos involuntários do médico prejudique a precisão da cirurgia. O suporte guia possui uma bucha descartável que é utilizada para que não haja contato direto do manipulador com o suporte guia. Dessa maneira, todos os equipamentos propostos podem ser reutilizados com segurança e assepsia. A Figura 16 ilustra a posição de fixação da bucha descartável do suporte guia. A Figura 18 denota as travas de segurança utilizadas no suporte guia. Figura 18 – Travas do suporte guia. Figura 16 – Bucha descartável do suporte guia. Fonte: Acervo do autor. Fonte: Acervo do autor. Para fixar o suporte guia no corpo do paciente, foi desenvolvida uma cinta, que é presa ao redor do corpo do paciente que estará imóvel no momento do procedimento cirúrgico. O manipulador possui também a ponta intercambiável, de forma que o médico cirurgião pode optar pelo tipo de ferramenta que lhe parecer adequada, de acordo com o procedimento cirúrgico. A Figura 17 ilustra a ponta intercambiável do manipulador, que neste caso, assemelha-se a um bisturi cirúrgico. Figura 17 – Ponta intercambiável do manipulador robótico. O tamanho da incisão realizada no corpo do paciente, que, em geral, é de 10 a 15 mm, for considerada para o dimensionamento do instrumento, que, por sua vez, trabalha dentro desta margem de abertura. O material adequado para fabricação deste instrumento deve ser o aço inoxidável martensítico do tipo AISI-420, que não é corrosivo e evita perda do corte ou quebra durante o procedimento cirúrgico. V. ESTUDO DE CASO: DESENVOLVIMENTO DE UM MANIPULADOR ROBÓTICO PARA PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS LAPAROSCÓPICOS Após a elaboração e criação dos modelos no software CAD 3D SolidWorks, utilizou-se um corpo humano em escala real, como ilustra a Figura 19. Este procedimento faz parte de um protocolo da engenharia mecânica, denominado de representação gráfica de sistemas mecânicos, em verdadeira grandeza. Figura 19 – Montagem do projeto no corpo humano. Fonte: Acervo do autor. O suporte guia também possui travas de segurança, que garantem que o manipulador robótico esteja fixo, com ausência de movimento, durante o procedimento cirúrgico a ser realizado no paciente. Desta forma, garante-se que não exista nenhum grau de liberdade, que possa comprometer a precisão final de posicionamento do bisturi cirúrgico. Fonte: Acervo do autor. Desenvolveu-se um protótipo físico do equipamento em alumínio, para exemplificar o uso real do manipulador, em um corpo humano. ©Revista Ciência e Tecnologia, v. 19, n. 34, p. 75 - 84, jan./jun. 2016 - ISSN: 2236-6733 A Figura 20 ilustra as peças manufaturadas em material alumínio, do manipulador robótico. Figura 20 – Peças do protótipo do manipulador robótico. escolha, a ponta adequada para cada tipo de procedimento cirúrgico a ser realizado. A Figura 22 ilustra o manipulador com a haste para segurar, e a ponta intercambiável proposta. Figura 22 – Manipulador com a haste para segurar e a ponta intercambiável. Fonte: Acervo do autor. O sistema completo transfere os movimentos da posição do cirurgião até o local da incisão, tendo como base dos movimentos a superfície da pele do paciente. A saber, o eixo roscado acopla-se ao eixo interno que transmite o movimento rotacional da rosca, convertendoo em movimento linear. O sistema biela-manivela, por sua vez, recebe esse movimento e o converte em movimento angular, permitindo atingir até 45° de inclinação. Toda transmissão inicia-se no flange de ajuste, onde pode-se ajustar o ângulo desejado da ponta da ferramenta. A Figura 21 ilustra o movimento de translação angular, transmitido pelo sistema biela-manivela, o qual é oriundo de um movimento circular do cabeçote. Figura 21 – Movimento angular do manipulador robótico. Fonte: Acervo do autor. Para o uso do manipulador robótico, desenvolveu-se o suporte guia, que é utilizado para garantir que o manipulador não sofra desvios de trajetória, garantindo a segurança e precisão do procedimento cirúrgico. A fabricação do suporte guia foi dividida para que o funcionamento de cada grau de liberdade seja regulado separadamente. O suporte guia possui 3 tipos de ajustes que direcionam o manipulador robótico ao local estipulado. Para cada ajuste existe uma trava de segurança que garante a precisão da ferramenta na direção desejada. A Figura 23 ilustra separadamente, as peças que fazem parte do suporte guia. Figura 23 – Peças para montagem do suporte guia. Fonte: Acervo do autor. Para utilizar o manipulador foi desenvolvida uma haste para segurar o instrumento, e movimentá-lo com maior facilidade. Afim de tornar o projeto mais versátil, optou-se por fazer a ponta da ferramenta intercambiável. Desta forma, pode-se optar com mais liberdade de Fonte: Acervo do autor. ©Revista Ciência e Tecnologia, v. 19, n. 34, p. 75 - 84, jan./jun. 2016 - ISSN: 2236-6733 Devido à necessidade de completa esterilização dos instrumentos cirúrgicos foi criada uma bucha descartável, que evita o contato direto entre o manipulador robótico e o suporte guia. Desta forma, após cada procedimento, basta que a bucha seja substituída, não sendo necessária a substituição do suporte guia ou a esterilização do mesmo. A Figura 24 ilustra a montagem do suporte guia e a bucha descartável. Figura 24 – Montagem do suporte guia e a bucha descartável. Fonte: Acervo do autor. O suporte guia montado é preso ao corpo do paciente direcionado ao local da incisão e o manipulador robótico é introduzido na bucha descartável no centro do suporte. VI. CONCLUSÕES O desenvolvimento do manipulador robótico permite uma maior abrangência de área de trabalho no corpo do paciente, além de atender os graus de liberdade necessários e possibilitar a troca de pontas utilizadas no procedimento cirúrgico laparoscópico. Quanto ao suporte guia, este permite controlar o manipulador robótico e oferecer precisão aos movimentos do médico, podendo evitar possíveis lesões iatrogênicas. A partir das ferramentas do software SolidWorks CAD 3D foi elaborado o projeto e a cadeia cinemática pela qual, através de análises estruturais, foram dimensionados os componentes mais relevantes da ferramenta via método dos elementos finitos. Este trabalho pode servir de base para projetos futuros, que visem à melhoria nos procedimentos cirúrgicos laparoscópicos, permitindo somar à experiência dos cirurgiões condições mais precisas de manipulações com os instrumentos e possibilitar menores riscos aos pacientes. <http://www.abcdasaude.com.br/cirurgiageral/cirurgia-laparoscopica>. Acesso em: 02/08/15. [2] PADILHA, K. G., Considerações sobre as ocorrências iatrogênicas na assistência à saúde: dificuldades inerentes ao estudo do tema, Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 35, n. 3, São Paulo, 2001. [3] COLOMBO, Jr., J. R., Haber, G. P, Rubinstein, M., Gill, I. S., Laparoscopic Surgery in Urological Oncology: Brief Overview, Braz J Urol, v. 32, n.5, p. 504-512, 2006. [4] RUBINSTEIN, M., Laparoscopia. Ohio, EUA, 2015. Disponível em: <http://mauriciorubinstein.com.br/laparoscopia>. Acesso em 25 de agosto de 2015. [5] SALVALAGGIO, P. R., Lesão Iatrogênica da Via Biliar, São Paulo, 2011. 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