UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL ISABELA GONZAGA CARIBÉ FRUTUOSO PREVENINDO INFECÇÃO HOSPITALAR EM UTI: OLHAR DO ENFERMEIRO. SALVADOR 2010 ISABELA GONZAGA CARIBÉ FRUTUOSO PREVENINDO INFECÇÃO HOSPITALAR EM UTI: OLHAR DO ENFERMEIRO. Monografia apresentada à Universidade Castelo Branco e Atualiza Associação Cultural como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Enfermagem em UTI. Orientador: Prof. Dr. Fernando Reis do Espírito Santo. SALVADOR 2010 F945p Frutuoso, Isabela Gonzaga Caribé Prevenindo infecção hospitalar em UTI: olhar do enfermeiro / Isabela Gonzaga Caribé Frutuoso. – Salvador, 2010. 31f.; 50 cm. Orientador: Prof. Dr. Fernando Reis do Espírito Santo Monografia (pós-graduação) – Especialização Lato Sensu em Enfermagem em UTI, Universidade Castelo Branco, Atualiza Associação Cultural, 2010. 1. Enfermagem em UTI 2. Infecção hospitalar 3. Prevenção I. Espírito Santo, Fernando Reis II. Universidade Castelo Branco III. Atualiza Associação Cultural IV. Título. CDU 616-083 Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Adriana Sena Gomes CRB 5/ 1568 Dedico este trabalho à minha família por partilharem comigo esta caminhada me incentivando a dar continuidade aos meus propósitos. RESUMO Trata-se de um estudo descritivo sobre infecção e em especial o cuidado de enfermagem para sua prevenção. Tem como objetivo evidenciar o entendimento dos enfermeiros de uma unidade de terapia intensiva em relação às medidas de prevenção e controle de infecção hospitalar. A amostra constituiu-se de dezesseis (16) enfermeiros da unidade de terapia intensiva. Utilizou-se para coleta de dados, um questionário com seis perguntas relativas aos objetivos do estudo. A partir da análise dos dados foram constatados déficits de conhecimento entre os profissionais de enfermagem. Pode-se concluir que, para a promoção da saúde, para a redução de danos ao paciente internado e para a segurança do profissional e do usuário, há necessidade de se fazer uma reflexão profunda das ações de prevenção e controle das infecções hospitalares no cotidiano dessa instituição. Palavras Chave: Infecção, Enfermagem, Prevenção ABSTRACT This is a descriptive study about infection and nursing care. This study has as objective to evidence the knowledge of nurses in the intensive care unit with regard to measures for the prevention and control of hospital infection. The sample was constituted by sixteen (16) nurses of intensive care unit. It utilized a questionnaire with six questions related to the objectives of the study for the collection of data. Based on the results a lack of knowledge between professional nursing was observed. Final analysis showed the need of a deep reassessment of the daily actions for the prevention and control of hospital infections in this hospital so as to promote health, reduce the hazards to inpatients and guarantee safety for both health professionals and patients. Key words: Infection, nursing, prevention. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7 Capítulo 1 EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO EM INFECÇÃO. ......................................... 9 1.1 IDADE ANTIGA ............................................................................................................ 9 1.2 IDADE MÉDIA ............................................................................................................ 10 1.3 IDADE MODERNA ..................................................................................................... 11 Capítulo 2 CONCEITOS RELEVANTES SOBRE INFECÇÃO. ........................................... 14 2.1 O QUE SIGNIFICA INFECÇÃO HOSPITALAR? ........................................................ 14 2.2 INFECÇÃO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ................................................ 15 2.3 TOPOGRAFIA DAS PRINCIPAIS INFECÇÕES ......................................................... 17 2.2.1 Infecções Urinárias ............................................................................................ 17 2.2.2 Infecções Respiratórias..................................................................................... 18 2.2.3 Infecções de corrente sanguínea...................................................................... 19 2.2.4 Infecções de sitio cirúrgico ............................................................................... 19 Capítulo 3 PERCURSO METODOLÓGICO. ....................................................................... 21 3.1 TIPO DE ESTUDO: .................................................................................................... 21 3.2 LOCAL DE ESTUDO: ................................................................................................. 21 3.3 SUJEITOS:................................................................................................................. 22 3.4 COLETA DE DADOS: ................................................................................................ 22 3.5 ANÁLISE DE DADOS:................................................................................................ 22 3.6 RESULTADOS E DISCUSSÕES.............................................................................. 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................. 27 APÊNDICES ........................................................................................................................ 30 APÊNDICES A - TERMO DE CONSENTIMENTO ........................................................... 30 APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO ..................................................................................... 31 7 INTRODUÇÃO A infecção hospitalar (IH) representa um desafio na prática clínica com paciente crítico. A sua ocorrência determina um aumento considerável no período de hospitalização, na mortalidade destes pacientes e, paralelamente contribui na elevação dos custos hospitalares. Os pacientes hospitalizados, em especial, na Unidade de Terapia Intensiva, são particularmente mais susceptíveis à infecção hospitalar, dada as suas condições clínicas, que exigem procedimentos invasivos e terapia antimicrobiana. De acordo com a portaria 2616/98 do Ministério da Saúde define-se infecção hospitalar como aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste a partir de 72 horas de internação; ou após a alta quando puder ser relacionada a procedimentos hospitalares. (BRASIL, 1998). No nosso cotidiano, dentro do contexto da prestação de serviço à saúde, algumas perguntas são apresentadas quando o tema Infecção Hospitalar (IH) é colocado em discussão: o que significa IH? Quais são as causas da IH? Como prevení-las? A quem cabe a tarefa de prevenir e controlar a IH? Na assistência à saúde, independente de ser prevenção, proteção ou tratamento e reabilitação, o indivíduo deve ser visto como um ser integral, que não se fragmenta para receber atendimento em partes. As IH são multifatoriais, e toda a problemática de como reduzir as infecções, intervir em situações de surtos e manter sob controle as infecções dentro de uma instituição, deve ser resultado de um trabalho de equipe. A escolha do tema infecção hospitalar tem como razão o fato de ser este um grande problema de saúde pública. Compreender a prática do enfermeiro de terapia intensiva no que se refere ao controle de infecção é de grande importância pelo seu contato contínuo com o paciente, seu elo com os demais profissionais e por sua habilidade/responsabilidade educativa. Ressalta-se também a importância de investigar o grau de entendimento dos enfermeiros de terapia intensiva em relação a infecção hospitalar e à sua prevenção, 8 pois de acordo com a literatura pesquisada os leitos de terapia intensiva representam mais de 20% das infecções hospitalares registradas. Através da observação durante a prática diária como enfermeira de uma unidade de terapia intensiva cardiológica de um hospital privado de Salvador, na qual constatase que a infecção é uma realidade presente no cotidiano dos profissionais; desperta a necessidade de investigação e discussão da seguinte questão: Qual o entendimento de um grupo de enfermeiros da UTI de um hospital de Salvador acerca de infecção hospitalar e de cuidados básicos na sua prevenção? O presente estudo tem como objetivo: Identificar o entendimento de um grupo de enfermeiros da UTI de um hospital de Salvador acerca de infecção hospitalar e evidenciar o que é hoje considerado importante por este grupo de enfermeiros intensivistas quanto aos cuidados básicos na prevenção de infecção hospitalar. Este estudo apresenta-se estruturado em três capítulos, sendo o primeiro uma abordagem histórica para contextualização do tema. O segundo apresenta conceitos relevantes em infecção, as suas principais topografias e a sua importância dentro do ambiente de terapia intensiva. O terceiro capítulo descreve o percurso metodológico para obtenção e tratamento dos dados seguido da discussão dos resultados. 9 Capítulo 1 EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO EM INFECÇÃO. 1.1 IDADE ANTIGA Os primeiros registros sobre atividade hospitalar na história da humanidade dão conta de que, por volta do século VI a.C., o príncipe Sidarta Gautama, conhecido como Buda (563-483 a.C.), que viveu na área de fronteira entre a Índia e o Nepal, teria construído diversos hospitais anexos aos mosteiros budistas, sendo atribuída ao budismo, portanto, a propagação da instituição hospitalar. (LISBOA, 2002). Na Grécia antiga, medicina e religião ou mitologia misturavam-se, pois cabia aos sacerdotes o exercício da „arte de curar‟ e os templos eram os locais para onde os doentes afluíam. Havia templos famosos como o localizado na cidade de Epidauro, em que os doentes eram acolhidos para tratamentos à base de poesia, música e contos. Adormeciam no templo e acreditavam que, durante o sono, entidades mitológicas realizariam a cura de seus males. (BARSA,1966) Considerado, pai da medicina, Hipócrates( 460-370 a.C.) substituiu os deuses da mitologia grega pela observação clínica no cuidado aos doentes e desenvolveu diagnósticos embasados na lógica, com precisão e objetividade. Antes de atribuir as causas das doenças a divindades, Hipócrates procurou encontrá-las em fatores ambientais como o clima, a água, a direção dos ventos e outros, desenvolvendo as bases da idéia de medicina preventiva, ou seja, que o médico, observando diversos casos e considerando determinados fatores, poderia prever o desenvolvimento de determinada doença. (BARSA,1966) Os primeiros indícios de infecção em nível “médico-paciente” nos remete às sociedades do Antigo Oriente. No século IV a.C. os sacerdotes egípcios eram orientados a banhar-se várias vezes ao dia, manter-se limpos, e usar trajes brancos. A medicina Hindu (600 a.C. a 200 a.C.) adicionou a estas orientações a utilização de ácido fórmico que funcionava como anti-séptico local, diminuindo ou evitando a infecção do sítio cirúrgico. (BARSA, 1966). 10 Contemporaneamente, Hipócrates, chamado de "O Grande" por Aristóteles, teria dito: "não deve o sol se pôr antes de drenar um abscesso já diagnosticado", além disso, recomendava a limpeza das mãos e das unhas antes da operação, o uso de água fervida e vinho no cuidado das feridas. As primeiras informações sobre I.H. no Ocidente, data do ano 390 d.C, com o surgimento dos nosocômios, os quais em 816, no Concílio de Aachen, receberam o nome de “hospitais”. Com a criação destes locais de atenção aos doentes, os microrganismos encontraram um ambiente propício para a proliferação e grande facilidade de acesso aos indivíduos enfermos. As I.Hs atingiam notadamente os procedimentos cirúrgicos, já que a supuração era considerada saudável para a boa evolução de uma ferida. (LISBOA, 2002) 1.2 IDADE MÉDIA Em relato de CASCIO (1988), os hospitais medievais apareciam como antecâmara da morte, onde eram recolhidos os doentes para afastar a sociedade das doenças e dos contágios. Podemos afirmar que a atenção médica não figurava como como objetivo principal da instituição hospitalar; mais preocupada com a assistência caritativa aos pobres – funcionando como uma espécie de instrumento de exclusão e transformação espiritual. Durante a idade média a imagem e a arquitetura dos hospitais contribuiu significativamente para a disseminação de infecções. Os hospitais repetiam as estruturas góticas das catedrais através de largas paredes assemelhando-se às fortificações e as prisões. As enfermarias eram ambientes insalubres onde a iluminação era deficiente. Como a circulação de ar era considerada contaminante e veiculador de miasmas as janelas eram projetadas com pequenas dimensões, deixando o ambiente escuro e amedrontrador.(LISBOA, 2002) A situação de insalubridade dos hospitais medievais é exemplificada pelo Hotel Dieu de Paris, embora existissem outros estabelecimentos com situações mais críticas. Para dar maior privacidade, eram colocados entre os leitos cortinas pesadas que se 11 tornavam focos de infecções pelas péssimas condições de higiene, além de prejudicarem a iluminação e a ventilação naturais. O aquecimento dos ambientes era feito por fornos a carvão e lareiras que prejudicavam ainda mais a qualidade interna do ar. (LISBOA, 2002) 1.3 IDADE MODERNA A partir do seculo XVIII, o hospital passa a ser cada vez mais utilizado para o estudo da doença e educação médica. A opinião de que os hospitais deveriam ser locais de tratamento e centros de ensino iria ter consequencias extraordináriamente férteis nos séculos subsequentes. “O hospital como instrumento terapêutico é uma invenção relativamente nova, que data do final do século XVIII. A consciência de que o hospital pode e deve ser um instrumento destinado a curar aparece claramente em torno de 1780 e é assinalada por uma nova prática: a visita e a observação sistemática e comparada dos hospitais” (CASCIO,1988). No final do século XVIII os hospitais são alvos de muitas críticas. A superlotação, a mal ventilação e as condições sanitárias precárias impediam o funcionamento adequado dos edifícios hospitalares, ficando nítida a necessidade de uma revisão dos conceitos vigentes. Surge a necessidade de anular os efeitos negativos do hospital tornando as questões funcionais e espaciais mais importantes. O edifício hospitalar passa a ser organizado segundo uma especialização das áreas internas baseado em atividades de cuidados com os pacientes, e estabelecendo uma forte estruturação do mesmo. Na segunda metade do seculo XIX, com a evolução dos conhecimentos em microbiologia, Louis Pasteur (1822 -1895) partindo de seus estudos sobre a fermentação; expôs a "teoria germinal das enfermidades infecciosas", segundo a qual toda enfermidade infecciosa tem sua causa num micróbio com capacidade de propagar-se entre as pessoas e no ambiente. Segundo ele deve-se buscar o micróbio responsável por cada enfermidade para se determinar um modo de combatê-lo. (THOMAS, 1956). 12 Na Escócia, seguindo os conselhos de Pasteur, Joseph Lister (1827-1912), professor de cirurgia na Universidade de Edimburgo, submeteu cada objeto relacionado com a intervenção cirúrgica - as suas mãos, os instrumentos cirúrgicos, as esponjas, as ligaduras e até a área circunvizinha - a uma desinfecção pelo ácido fênico, obtendo esplêndidos resultados. Em dois anos tinha reduzido a mortalidade de seus casos cirúrgicos de 90 a 15%. (THOMAS, 1956). O estudo epidemiológico mais famoso talvez seja o do médico vienense Ignaz Philipp Semmelweis (1818 – 1865). Semmelweiss observou que as mulheres atendidas por médicos sofriam de febre puerperal e morriam mais freqüentemente do que aquelas atendidas por parteiras. O hospital era o mesmo, o corredor era o mesmo e as salas eram semelhantes. Durante muitos anos observou o que as parteiras faziam de diferente e tentou modificar o atendimento prestado pelos médicos Em determinada ocasião, um colega de Semmelweiss, Koletchka, cortou seu dedo realizando uma necropsia. Ficou doente e morreu. Semmelweiss ao realizar a necropsia do colega encontrou os mesmos achados necropsiais que eles costumavam achar nas mulheres que morriam após o parto. Deduziu então que algo ficava nas mãos dos médicos após as necrópsias, já que as parteiras não as realizavam. Determinou então que após as necrópsias, antes dos partos, os médicos deveriam lavar as mãos. (THOMAS, 1956) Em meados do século XIX, destaca-se a figura da enfermeira Florence Nightigale (1820 – 1910), que lutou pela melhoria da infraestrura hospitalar como forma de prevenção das infecções nosocomiais. Os conceitos de higiene ambiental talvez possam tradicionalmente ser atribuídos a Florence, que se consagrou pela dedicação aos doentes na Guerra da Criméia. Através de seus registros ela observou que pacientes evoluíam melhor em ambientes limpos, arejados, onde incidia luz solar e se fossem separados espacialmente de acordo com o tipo de doença. O registro destes achados e a análise da evolução dos diferentes grupos de pacientes, expostos ou não ao tipo de ambiente descrito é um dos exemplos históricos da aplicação da epidemiologia nesta época. Mas foi apenas no seculo XX por volta da década de 50 que surgiram na Inglaterra as primeiras enfermeiras responsáveis, exclusivamente, por técnicas de controle de I.H. (Infection Control Sister). Em 1958 a American Hospital Association recomenda a criação de Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), com o objetivo de prover os hospitais americanos de um sistema que lhes permitisse apurar as causas das I.H e dotá-los de instrumentos necessários contra possíveis ações legais movidas pela clientela. 13 A década de 70 viveu uma verdadeira reformulação das atividades de controle de infecção. Os hospitais americanos foram progressivamente adotando as recomendações emanadas de órgãos oficiais, substituindo seus métodos passivos por busca ativa, criando núcleos para o controle de infecção e aprofundando em estudos sobre o tema. No Brasil, com a implantação de um modelo altamente tecnológico de atendimento (cirurgia cardíaca), surgiram as primeiras Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). Sendo a primeira CCIH datada de 1963 instalada no Hospital Hernesto Dornelles em Porto Alegre. (OLIVEIRA, 2003) No âmbito internacional, em 1987 foram publicadas pelos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), normas de precauções universais e isolamento de substâncias corpóreas, definindo cuidados básicos a serem tomados com todos os pacientes, independentemente de seu diagnóstico, e em 1996, realizou-se uma ampla revisão destas medidas hoje denominadas de precauções baseadas na transmissão e precauções padrão. (OLIVEIRA, 2003) A década de 80 foi muito importante para o desenvolvimento do controle das IH no Brasil. Começou a ocorrer uma conscientização dos profissionais de saúde a respeito do tema com a instituição de CCIH em vários Estados do país. Em junho de 1883 o MS publicou a Portaria 196, primeiro documento normativo oficial, que institui a criação das CCIH. Em 1992 publicou a Portaria 930 que entre outros avanços defendia a busca ativa de casos. Em 1997 aprova a Lei 9431, tornando obrigatório a presença da CCIH e do Programa de controle de IH independente do porte e da estrutura hospitalar. A implantação e execução destes programas deveriam reduzir a incidência e a gravidade das IH ao máximo possível. Vale destacar que a presença do enfermeiro como membro das CCIH aparece como sugestão em alguns destes documentos e que na última Portaria, número 2616, publicada em 1998, sua presença aparece no time dos profissionais que, obrigatoriamente devem compor essa comissão na qualidade de membro executor dos programas de controle de IH. 14 Capítulo 2 CONCEITOS RELEVANTES SOBRE INFECÇÃO. 2.1 O QUE SIGNIFICA INFECÇÃO HOSPITALAR? Considera-se infecção a invasão e proliferação de microorganismos tais como bactérias, fungos, vírus e protozoários em um hospedeiro suscetível, com ou sem doença manifesta. (SMELTZER, 2002). Faz-se importante distinguir colonização de infecção. Na colonização, há presença de um microorganismo (cultura positiva), embora estejam ausentes sinais e sintomas de infecção ativa. Estes microorganismos costumam habitar mucosas, cateteres e cânulas. Uma infecção está associada a sinais como febre e leucocitose. Significa que o microorganismo invadiu o tecido e provocou uma reação inflamatória local ou sistêmica. (SCHELL, 2005). Infecção hospitalar é a infecção adquirida após a admissão e que se manifeste a partir de 72h ou até após a alta do paciente quando estiver relacionada a procedimentos hospitalares. (BRASIL, 1998) Até bem pouco tempo havia controvérsias quanto ao fator mais importante na disseminação de infecções hospitalares; se através das pessoas (transmissão direta) ou através de objetos contaminados (transmissão indireta). Todos porém são unânimes em afirmar que a prevenção das IHs dependem da execução de técnicas de assepsia e da manutenção de um ambiente higiênico. Algumas IH são preveníveis outras não. Infecções preveníveis são aquelas em que se pode interferir na cadeia de transmissão dos microrganismos. A interrupção dessa cadeia pode ser realizada por meio de medidas reconhecidamente eficazes como a lavagem das mãos, o processamento dos artigos e superfícies, a utilização dos equipamentos de proteção individual, no caso do risco laboral e a observação das medidas de assepsia. Infecções não preveníveis são aquelas que ocorrem a despeito de todas as precauções adotadas, como pode-se constatar em pacientes imunologicamente comprometidos, originárias a partir da sua microbiota. 15 Existe um consenso entre autores que dizem cerca de 70% das infecções hospitalares são endógenas. Infecção endógena é provocada pela microbiota do paciente, conjugada com condições clínicas predisponentes, procedimentos diagnósticos e terapêuticos invasivos e imunossupressores. Tais situações determinam o agravamento da suscetibilidade do paciente e a migração dos microorganismos de sua própria flora, resultando em infecção. Já a infecção exógena é ocasionada por microorganismos oriundos do ambiente, dos artigos médico hospitalares, e de outros portadores, sendo transmitidos aos pacientes. (LACERDA, 1997) O fato de existir infecções evitáveis, aproximadamente 30%, exige da equipe de saúde e das instituições, responsabilidade ética, técnica e social no sentido de prover os serviços e os profissionais de condições de prevenção, revelando-se em um dos pontos fundamentais em todo o processo. O controle das infecções hospitalares é inerente ao processo de cuidar, estando o enfermeiro capacitado para prestar um cuidado mais livre de riscos de infecções. 2.2 INFECÇÃO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA O local de tratamento onde o paciente se encontra internado exerce uma influencia importante na probabilidade de adquirir infecção e na natureza da infecção. As diferentes áreas do hospital apresentam riscos de infecção específicos, como os centros cirúrgicos, as enfermarias, os berçários e as unidades de terapia intensiva. No centro cirúrgico o risco está relacionado ao fato de que os tecidos susceptíveis ficam expostos geralmente por várias horas, com a presença de fontes potenciais humanas e inanimadas. Na enfermaria há exposição dos pacientes durante varias semanas a agentes contaminantes. Já na UTI a infecção é mais provável que aconteça por meio de equipamentos e procedimentos invasivos. As unidades de terapia intensiva são uma parte importante do ambiente hospitalar, paradoxalmente, potencialmente nociva a saúde, pois aí se encontram pacientes imunodeprimidos e microorganismos multirresistentes. O uso maciço e continuado de antibióticos e quimioterápicos termina por selecionar cepas microbianas 16 resistentes às drogas. Estes contaminam o ambiente e podem causar infecções de difícil controle. Em 1995 foi publicado o conhecido EPIC study (The prevalence of infection in intensive care units). Envolvendo 17 países da Europa Ocidental, os autores convidaram 1.417 unidades de terapia intensiva a participarem de um estudo de prevalência de corte (apenas 1 dia foi monitorado). O estudo foi desenhado para se obter dados referentes à infecção conforme critérios do CDC. Cada infecção foi classificada como: a) adquirida na comunidade; b) adquirida no hospital e c) adquirida na UTI. 10.038 pacientes foram analisados. Desses, 4.501 (44%) tiveram um ou mais episódios de infecção. Infecção adquirida na comunidade acometeu 1.376 pacientes, enquanto infecção adquirida no hospital acometeu 975 pacientes e adquirida na UTI acometeu 2.064 pacientes. A taxa de mortalidade variou entre as UTIs e esteve relacionada à taxa de prevalência de infecção. Dados oriundos de culturas microbiológicas atestaram que, entre os pacientes com infecção adquirida na UTI, os microrganismos mais freqüentemente isolados foram Enterobacteriaceae, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus coagulasenegativa e fungos. Nesse estudo, fatores de risco também foram identificados. Primeiro, destacaram os fatores de risco para infecção adquirida na UTI, que incluía presença de cateter de artéria pulmonar, cateter central, profilaxia para úlcera de estresse, sonda vesical, ventilação mecânica, trauma na admissão e tempo de permanência na UTI. (LACERDA, 1997) Nos países desenvolvidos a taxa de infecção hospitalar (por todas as causas) oscila em 5% a 8%. No Brasil, após a promulgação da portaria 196/83, o Ministério da Saúde elaborou um estudo em que foram avaliados 8.624 pacientes com mais de 24 horas de internação, cujo tempo médio de permanência foi 11,8 dias. O número de pacientes com infecção hospitalar encontrado foi 1.129, com taxa de pacientes com infecção hospitalar de 13%. Os maiores índices de infecção foram obtidos nos hospitais públicos, 18,4%, e os menores nos hospitais privados sem fins lucrativos, 10%. Essa diferença se dá em parte porque os hospitais públicos normalmente atendem casos de maior complexidade, enquanto que os privados são responsáveis por casos mais seletivos e de menor complexidade. (LIMA, 2007) 17 2.3 TOPOGRAFIA DAS PRINCIPAIS INFECÇÕES 2.2.1 Infecções Urinárias A infecção do trato urinário (ITU) é a infecção mais freqüente e comumente relacionada ao uso de cateteres. Dentre os pacientes com ITU, cerca de 2% evoluem para bacteremia e sepse (infecção generalizada) complicação potencialmente fatal. (SHELL, 2005) Para que a infecção ocorra as bactérias devem ter acesso a bexiga e colonizar o epitélio suplantando mecanismos de defesa naturais como esfíncter uretral, fluxo urinário, descamação epitelial, enzimas e anticorpos. No paciente crítico vários fatores se sobrepõem a estes mecanismos predispondo à infecção, dentre os quais cita-se: Imunossupressão, diabetes, imobilidade, desidratação e o uso de cateteres urinários. O cateterismo vesical é um método de controle clínico que possibilita a monitorização exata do fluxo urinário, tão importante na terapia intensiva. Todavia a colonização bacteriana ocorre dentro de duas semanas em metade dos pacientes cateterizados – mesmo quando respeitadas todas as recomendações para o controle de infecção. Isto se deve ao fato do cateter comprometer as defesas naturais do trato urinário ao obstruir o duto uretral, irritar a mucosa e fornecer uma via artificial para que os microorganismos penetrem na bexiga. (SMELTZER, 2002). A existência de uma urocultura positiva antes de 72 horas após a internação poderá ser considerada infecção hospitalar somente se relacionada a instrumentação do trato urinário e considerando a presença de sintomas associados (febre, dor a micção e leucocitose). O perfil do microorganismo identificado na urocultura também é importante, tendo em vista que microorganismos mais resistentes permeiam o ambiente hospitalar. (BARRETO, 2001) As principais recomendações para a prevenção de infecções do trato urinário são proceder a higiene intima com água e sabão pelo menos 3 vezes ao dia, utilizar técnica asséptica e materiais estéreis para sondagem vesical, utilizar sondas de fino 18 calibre, utilizar coletores de circuito fechado, trocar todo o circuito em caso de violação, remover a sonda tão breve quanto possível. 2.2.2 Infecções Respiratórias Ao verificarmos a variedade de bactérias, vírus e fungos que colonizam o trato respiratório superior poderíamos esperar um número de infecções muito maior que o observado. Este fato se deve à integridade de mecanismos de defesa. Fatores anatômicos, células mucociliares, reflexo de tosse/espirro e produção de imunoglobulinas pelo sistema imunológico determinam grande barreira a estas infecções. (KONKEWICZ, 1996). Nas unidades de terapia intensiva as infecções respiratórias são bastante freqüentes, tendo em vista que o paciente crítico está exposto a fatores como a imobilidade que favorece o acúmulo das secreções das vias aéreas, a instrumentação do trato respiratório, defeitos na resposta imunológica e a proximidade de microorganismos virulentos. Todos estes podem levar ao desenvolvimento de infecção neste órgão de importância vital. A pneumonia é a infecção hospitalar mais letal, especialmente em UTIs, onde a taxa de mortalidade pode ultrapassar 50%. Os pacientes em ventilação mecânica apresentam um risco pelo menos 5 vezes maior de contrair infecção em comparação aos não ventilados. De acordo com Azahares e col. (1992), 37,7% dos pacientes submetidos a ventilação mecânica foi colonizado e 8,5% desenvolveram infecção. Os microorganismos mais associados foram: Pseudomonas aeruginosa, Candida albicans e Escherichia coli. As principais recomendações para prevenção de infecção respiratória são usar fluidos estéreis nos umidificadores e nebulizadores, trocar estes recipientes a cada 24h, usar técnica asséptica na aspiração traqueal e na intubação orotraqueal, realizar fisioterapia respiratória rotineiramente, manter o paciente em ventilação mecânica pelo menor tempo possível. 19 2.2.3 Infecções de corrente sanguínea Tomando como referência o EPIC STUDY, foi observado que as infecções da corrente sangüínea representam 12% das infecções hospitalares (4ª causa), sendo responsável por 14% a 38% dos óbitos relacionados às infecções hospitalares. Em unidades de terapia intensiva os cateteres endovenosos são amplamente utilizados com recurso terapêutico, na administração de medicamentos, na nutrição parenteral, para realização de hemodiálise, na monitorização hemodinâmica invasiva dentre outros usos. Contudo também representam um risco para ocorrência de infecções na corrente sanguínea. A infecção da corrente sangüínea relacionada à cateter ocorre quando o germe presente no local de inserção atinge a corrente sangüínea, resultando em bacteremia, que quando não contida, provoca infecção com grave comprometimento clínico, podendo resultar em sepse. Com relação às taxas de infecção, estas variam de acordo com o local de implante, o tipo de cateter empregado, a categoria do CTI (queimados, trauma, pós-operatório) e as comorbidades dos pacientes. Bonassoli e col. (2004) relata que os mecanismos de contaminação e colonização do cateter podem ocorrer de duas formas: a) A superfície externa do cateter, túnel subcutâneo e a pele circunvizinha podem ser colonizados através da microbiota própria da pele, das mãos dos profissionais e dos anti-sépticos contaminados b) Superfície interna: a propagação de bactérias pela superfície interna do cateter pode ocorrer por manipulação inadequada do canhão do cateter ou por contaminação das soluções de infusão por manipulação direta da substância administrada. 2.2.4 Infecções de sitio cirúrgico Os índices de Infecção do Sítio Cirúrgico assim como em outras topografias, podem ser usados como indicadores da qualidade de assistência em instituições de saúde. Nesta pesquisa enfoca-se a ocorrência de infecção em um tipo especifico de 20 procedimento cirúrgico, a cirurgia cardíaca, tendo em vista que o lócus do estudo é uma unidade de terapia intensiva cardiológica. A cirurgia cardíaca é um procedimento de alta complexidade, extremamente invasivo, que envolve pacientes particularmente suscetíveis à infecção. A mediastinite é uma das mais graves complicações de esternotomias medianas, estando associada a morbidade e mortalidade significativas. Mediastinite é definida como a infecção dos tecidos profundos da ferida operatória associada à osteomielite do esterno, podendo comprometer também o espaço retroesternal. A incidência de mediastinite varia de acordo com a instituição, sendo estimada entre 0,4 a 4%. (BORGES, 2005) A etiopatogênese permanece pouco compreendida, acreditando-se que a contaminação da ferida operatória, durante o ato cirúrgico, seja o principal fator associado e, mais comumente, por bactérias gram-positivas. Vários estudos têm demonstrado a interação de fatores de risco pré e transoperatórios na gênese da mediastinite, especialmente obesidade, diabetes, história de cirurgia cardíaca prévia e o uso de ambas artérias mamárias internas nos procedimentos de revascularização miocárdica. Segundo Barreto e col. (2001), infecções de ferida operatória em sua maioria são atribuídas às condições do ato cirúrgico e ao cumprimento (ou não) das técnicas de assepsia. È importante salientar que os pacientes que tem o período pré-operatório em unidades de terapia intensiva estão em risco de se colonizar com microorganismos deste local e portanto uma flora mais resistente poderá ser agente de suas infecções. 21 Capítulo 3 PERCURSO METODOLÓGICO. 3.1 TIPO DE ESTUDO: Trata-se de uma pesquisa com abordagem quantitativa e caráter descritivo que segundo Triviños (2006) têm como característica descrever fatos e fenômenos de determinada realidade. O foco essencial destes estudos reside no desejo de conhecer uma população e seus traços característicos. 3.2 LOCAL DE ESTUDO: A unidade de terapia intensiva utilizada como campo de estudo atende a pacientes adultos, cardiopatas em estado crítico, caracterizando assim uma UTI cardiológica. O hospital que a abriga está situado em cajazeiras, um bairro da periferia de Salvador/Bahia. È um hospital geral de médio porte com capacidade instalada de 180 leitos. Atende a diversas especialidades médicas e realiza procedimentos de alta complexidade. Conta com unidade de emergência, Centro cirúrgico, laboratório de hemodinâmica e Unidade de terapia intensiva geral e cardiológica. Esta organização conta com diversos serviços que dão suporte a UTI, a citar: laboratório de análises clínicas, anatomia patológica, agência transfusional, serviço de bioimagem e laboratório de hemodinâmica. A equipe da UTI cardiológica é composta por um responsável técnico (coordenador médico), um médico plantonista, um enfermeiro coordenador, um enfermeiro assistencial para cada 5 leitos, um técnico de enfermagem para cada 2 leitos, um fisioterapeuta,um nutricionista, um auxiliar administrativo e uma auxiliar de higienização. 22 Dos 13 leitos da UTI, um é destinado a isolamento aéreo. Cada leito possui os seguintes materiais e equipamentos: cama Fowler com grades e rodízios, monitor multifunção, ventilador mecânico, 3 bombas de infusão, 1 ponto de oxigênio, 1 de vácuo e 1 de ar comprimido, mesa de cabeceira e balde de lixo com pedal. 3.3 SUJEITOS: Os sujeitos da pesquisa foram dezesseis enfermeiras assistenciais da unidade de terapia intensiva cardiológica (o que corresponde a todo o grupo) as quais concordaram em participar do estudo através da assinatura de um consentimento informado (apêndice1) e responderam a um questionário entregue pela autora em local e hora pré-determinados. 3.4 COLETA DE DADOS: O instrumento de coleta de dados constituiu-se de um questionário com seis questões (apêndice 2) abordando nível de escolaridade e entendimento acerca de infecção hospitalar. 3.5 ANÁLISE DE DADOS: A análise de dados foi feita através de estatísticas descritivas por freqüências absolutas e relativas, e os resultados apresentados em tabelas e quadros. A pesquisa cumpriu os preceitos éticos definidos pela resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/MS sobre diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. 23 3.6 RESULTADOS E DISCUSSÕES O comportamento em saúde implica em escolhas, determinadas pelo conhecimento, competência técnica, maturidade e experiência do indivíduo. Entende-se que a formação e o preparo dos enfermeiros são fundamentais para exercício consciente e seguro da profissão. Um dos aspectos falhos da formação diz respeito ao manejo das situações de risco biológico. Os relatos apreendidos a partir das entrevistas confirmam a lacuna existente na formação destes sujeitos. Na tabela 1 podemos observar que 50% dos profissionais relatam ter até 2 anos de experiência profissional, 25% tem entre 2 e 5 anos, 12,5% possuem entre 5 e 10 anos e 12,5% acima de 10 anos de experiência. A tabela 2 mostra que os enfermeiros são Tabela 1 Distribuição dos enfermeiros por tempo de formado Tempo Nº % Até 2 anos 8 50 2 a 5 anos 4 25 5 a 10 anos 2 12,5 Acima de 10 anos 2 12,5 Total 16 100 na sua maioria especialistas ou estão com especialização em andamento. Dentre as pesquisadas 75% encontram-se nesta situação. A pós graduação lato-sensu é o sistema de cursos que superpõe graduação com Tabela 2 Distribuição dos enfermeiros segundo titulação Nº % objetivos Apenas graduação 4 25 cientifica e cultural. Fazem parte desta Especialização Incompleta 8 50 modalidade de ensino os cursos de Especialização Concluída 4 25 especialização, Total 16 100 mais amplos de formação aperfeiçoamento e atualização. Os cursos de especialização tem a finalidade de aprofundar os conhecimentos teóricos e práticos de Tabela 3 Distribuição quanto ao conhecimento de IH Conhecimento de IH Nº % certa área do saber ou da profissão. Somente adquirida no hospital 4 25 (GONÇALVES, 2004). Adquirida no hospital e pós alta 8 50 3 18,75 A tabela 3 mostra que 25% dos Causada por técnicas inadequadas Definição correta de IH 1 6,25 entrevistados acreditam que a infecção Total 16 100 hospitalar é aquela adquirida no ambiente hospitalar, 55%disseram que esta é 24 adquirida no hospital e pode se manifestar após a alta, 12,5% afirmam que é m tipo de infecção causada por microorganismos resistentes e transmitidos por técnicas inadequadas e 12,5 % definiram infecção hospitalar de forma semelhante a descrição da portaria 2116 do Ministério da Saúde. A tabela 4 evidencia que para seis (6) das enfermeiras a principal fonte de infecção está veiculada as mãos dos profissionais de saúde. Equipamentos e materiais foram citados como a segunda causa de infecção por cinco (5) enfermeiros. Duas Tabela 4 Opinião dos enfermeiros quanto as fontes de IH Fontes de IH Nº Mãos e adereços 6 Dispositivos invasivos 5 Quebra de técnica 3 Flora do paciente 1 Desconhece 1 Total 16 % 37,5 31,25 18,75 6,25 6,25 100 (2) enfermeiras salientaram a quebra da técnica asséptica durante a realização dos procedimentos. Uma (1) das entrevistadas apontou o paciente como potencial fonte de infecção. A flora do próprio paciente é responsável principal por 80% das infecções hospitalares seguidas por aquelas causadas iatrogenicamente pelo pessoal trabalhador na área de saúde pelos artigos e equipamentos utilizados nos tratamentos invasivos e como elemento mais inexpressivo, o ambiente. Todavia como foi apontado por 2 entrevistadas, a forma como os procedimentos são realizados constitui-se em um item importante. Uma dos princípios básicos da prevenção a infecção hospitalar está direcionada a qualidade e ao controle de processos..Os procedimentos só são realizados corretamente se os materiais estiverem ao alcance das mãos e a circulação for realizada racionalmente, evitando perda de tempo e movimentos desnecessários ou incorretos. (BARRETO, 2001). Observa-se no lócus de estudo a disponibilidade de pias em lugares accessíveis, materiais e anti-sépticos facilmente disponíveis o que deve contribuir para reduzir o risco de transmissão cruzada. A quarta questão versa sobre os tipos de infecção mais freqüentes na UTI pesquisada. 75% das enfermeiras apontaram as infecções no trato respiratório e no trato urinário como as mais freqüentes. As infecções respiratórias adquiridas dentro de hospitais representam um sério risco de mortalidade e morbidade, especialmente para pacientes que necessitam de 25 terapia respiratória tais com tubos endotraqueais, traqueostomias e ventilação mecânica. Observa-se no locus do estudo uma alta prevalência de infecção no trato respiratório em pacientes submetidos a métodos de ventilação invasivos. Citaram também os agentes etiológicos por elas percebidos como principais causadores. Staphylococus áureos e Pseudomonas aeruginosa predominaram em 75% das respostas. Seguiram-se Klebsiela SP e Candida albicans em 12,5% e Acinetobacter SP e Escherichia coli 12,5%. O Staphylococus áureos é um organismo gram positivo pelo qual todos os indivíduos são colonizados. Os recém nascidos são colonizados logo após o parto. Staphylococus áureos multirresistente causa 12% de todas as infecções hospitalares e 20% das pneumonias e septicemias. (OLIVEIRA, 2003). Os organismos colonizadores de pele como Staphylococus áureos e o Staphylococus epidermidis são transmitidos pelos paciente e pelos funcionário durante o contato. Os organismos hidrofílicos como Pseudomonas e Acinetobacter são encontrados em fluidos do paciente (secreções respiratórias e urina) e em soluções, inclusive anti-sépticas. Enterococus SP e Clostridium dificile são elementos da flora intestinal que costumam ser encontrados em cadeiras sanitárias e roupas de cama. (SCHELL, 2005). Candida parapilosis é uma espécie de levedura frequentemente isolada das mãos de pessoas saudáveis e considerada um importante patógeno nosocomial em unidades de terapia intensiva neonatal. Proliferam em soluções com altas concentrações de glicose e forma extensos biofilmes em superfícies plásticas. Observa-se que pessoas saudáveis podem ser colonizadas por espécies de leveduras adesão com em oferecendo contato co alta capacidade superfícies risco de indivíduos (BONASSOLI, 2004). e plásticas, infecção pelo susceptíveis. Quadro 5 Distribuição quanto a adereços utilizados Adereços Nº % Esmalte claro 16 Unhas curtas 16 Anéis 4 Aliança 4 Relógio 6 Cabelos soltos 0 100 100 25 25 37,5 0 No que se refere ao auto-cuidado como medida preventiva todos os entrevistados referem utilizar unhas curtas e esmaltes claros durante a prestação da assistência ao cliente. Porém 50% admitiram usar aliança e 37,5% utilizam relógio. 26 Além da lavagem rigorosa das mãos, é necessário que as pessoas ao assistirem os clientes devem ter em mente a remoção dos objetos de uso pessoal (anéis, pulseiras e relógios) pois estes objetos podem conter microorganismos que podem ser transmitidos e acarretar infecções. As mãos devem ser lavadas também após a retiradas das luvas, pois a umidade resultante da transpiração facilita a proliferação microbiana. As unhas devem estar aparadas e deve-se evitar o uso de unhas artificiais, pois favorecem a colonização de bactérias gram-negativas. 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS Torna-se imperioso, neste momento, voltarmos a figura da FLORENCE NIGHTINGALE, enfermeira inglesa, implantando as medidas de higiene e limpeza no hospital que assistia os militares feridos na Guerra da Criméia. O ambiente hospitalar tem na Florence um divisor. São duas realidades: O hospital antes da Florence - casa de repouso, onde a Morte convivia confortavelmente com a Vida, onde os insetos e roedores disputavam o alimento com os pacientes, onde os mortos e vivos permaneciam no mesmo leito. O hospital depois da Florence, onde a saúde é o maior bem produzido, onde a morte é visitante fortuito e indesejável e onde a melhoria da qualidade de vida é busca constante. Neste estudo é possível perceber que no Brasil os dados sobre infecção hospitalar atualmente são pouco divulgados, o que dificulta o conhecimento da dimensão do problema no país. Adiciona-se a esta realidade que em um país marcado pelas desigualdades socioeconômicas, as instituições hospitalares se revelam heterogêneas quanto a padrões de atendimento, estrutura física, população atendida e conseqüentemente índice de infecção hospitalar. Esta situação justifica investimentos em ações de prevenção e controle de infecções hospitalares, particularmente em unidades de terapia intensiva. Estas ações devem resultar no desempenho mais consciente e eficiente da equipe de saúde visando o uso racional de antimicrobianos, na redução de procedimentos invasivos e do tempo de hospitalização dos pacientes. Foi evidenciado a partir dos resultados obtidos que os enfermeiros ainda não demonstram a total percepção do problema que a infecção hospitalar representa no ambiente de terapia intensiva uma vez que adotam parcialmente alguns dos cuidados básicos em relação à sua prevenção. Neste contexto podemos enfatizar que os enfermeiros devem ficar atentos principalmente pelo que este estudo aponta que é o conhecimento insuficiente com relação à infecção hospitalar, principalmente no que se refere a fundamentação teórica. As discussões acerca desta temática devem ser aprofundadas considerando o risco que infecção ocasiona para o cliente e para os próprios profissionais. 28 REFERÊNCIAS AZAHARES, Romero; Luiz; Peres Monras, Miriam. Vigilância de las infecciones respiratórias y urinárias em la unidad de cuidados intensivos. Rev. cuba. hig. epidemiol. 30 (2); 124-133, julho 1992. BARRETO, SSM; Vieira, SSR. Pinheiro, CTS. Rotinas em terapia intensiva. 3º ed. Artmed editora. Porto alegre, 2001. BONASSOLI, Lucineide. Identificação e virulencia de leveduras isoladas de mãos de hospedeiros saudáveis. (tese de mestrado) Universidade Estadual de Maringá. Paraná, 2004 [34p] BORGES, FM. Análise do custo de infecção do sítio cirúrgico após cirúrgica (tese de doutorado) Universidade do Estado de são paulo, 2005 [106p] BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria 2616 de 12/05/1998, Programa Nacional de Controle de infecção hospitalar. Diário oficial da união. Brasília, 1998. CASCIO, G.L.O – in: Berlinger, g. A doença. Cebes, Hucitec, São Paulo 1998. Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro: Enciclopédia Britânica Editores Ltda, 1966 GONÇALVES, M.B; Fonseca, AS. Visão dos docentes quanto aos cuidados básicos para prevenção de infecção. Revista nursing, 78 (7), novembro, 2004. KONKEWICZ, LR. Recomendações para prevenção de infecções respiratórias hospitalares no hospital das clínicas de Porto alegre. revista hcpa & ufrs; 16 (3): 295-303, dezembro, 1996. LACERDA,R; Egry, EY. 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A minha participação é voluntária e livre, podendo desistir em qualquer momento da entrevista. ____________________________ Assinatura do participante ____________________________ Assinatura do pesquisador 31 APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO 1) Tempo de formado 2) Pós graduação 3) O que você entende por infecção hospitalar (IH)? 4) Quais as fontes de infecção hospitalar que você conhece? 5) Quais as IHs mais freqüentes nesta UTI? 6) Dos itens abaixo, quais você utiliza na assistência? ( ) unhas curtas ( ) unhas compridas ( ) esmalte claro ( ) esmalte escuro ( ) anel ( ) relógio ( ) pulseira ( )cabelos soltos ( )toucas ( )mascara ( ) luvas