UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS HEPATITE C EM PACIENTES PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA: PERFIL SOROLÓGICO E ASPECTOS DA RESPOSTA IMUNE HUMORAL E CELULAR LAURA PATRICIA VIANA MAIA MANAUS 2007 LAURA PATRICIA VIANA MAIA HEPATITE C EM PACIENTES PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA: PERFIL SOROLÓGICO E ASPECTOS DA RESPOSTA IMUNE HUMORAL E CELULAR Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Doenças Tropicais e Infecciosas da Universidade do Estado do Amazonas, em convênio com a Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, para obtenção do título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador (a): Profª Drª ADRIANA MALHEIRO Co-orientador (a): Prof° Dr. WORNEI S. BRAGA MANAUS 2007 FICHA CATALOGRÁFICA Maia, Laura Patricia Viana Hepatite C em pacientes portadores de insuficiência renal crônica: perfil sorológico e aspectos da resposta imune humoral e celular/Laura Patricia Viana Maia, Manaus-AM, Universidade do Estado do Amazonas, Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, 2007 85 p. ilus. Dissertação de Mestrado, apresentada à Universidade do Estado do Amazonas. Programa de Pós-graduação em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientadora: Malheiro, Adriana Co-orientador: Braga, Wornei Silva 1. HCV 2. Pacientes hemodialisados 3. Resposta imune II Dedico este trabalho aos meus pais, Francisco e Conceição, que sempre dedicaram o seu amor ao meu desenvolvimento. Agradeço por terem orientado a ser me humilde, a respeitar o próximo e amar a Deus. Por me ensinarem que todo trabalho bem feito deve ser realizado com amor. Dedico a vocês este trabalho e todas as adquiridas. outras Á conquistas vocês amor e gratidão. o meu III AGRADECIMENTOS Aos meus irmãos Helena e Adriano, pelo carinho e amizade. Obrigada por me amarem. À minha família pelos momentos que eu não pude estar presente. Obrigada pela compreensão. Ao Angelito pelo amor e companheirismo durante este período da minha vida. Obrigada por estar me fazendo feliz. Agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho e em especial: À minha amiga e orientadora Adriana Malheiro, exemplo de responsabilidade, dedicação e sabedoria, que possibilitou ampliar meu conhecimento cientifico e me ensinou a ser dedicada e critica. Agradeço pela confiança depositada. À amiga Kátia Torres que me acolheu na iniciação cientifica no HEMOAM, mostrando novas possibilidades de crescimento acadêmico. Agradeço por esta conquista. À Márcia Poinho pelo convite a participar do grupo de pesquisa do HEMOAM. Muito obrigada. Ao Dr. Rolandro Vermehren, por ter permitido a realização deste trabalho na Clínica Renal de Manaus. À toda a equipe da Clínica e especialmente a Selma por sua atenção durante o desenvolvimento da pesquisa. Agradeço a colaboração e atenção de todos. Ao Dr. Edvaldo Silva e Drª Márcia Alexandre pelo auxilio na realização dos testes laboratoriais. Muito Obrigada. Às minhas amigas Dena, Tati, Rose, Cris e Débora pela grande força durante a realização dos testes. Agradeço o carinho e atenção de vocês. À Josi pela sua amizade e pelos momentos de descontração. Muito Obrigada. Ao Felicien Vasquez e Edson Lira por terem ajudado na análise estatística dos dados do trabalho. Muito obrigada. IV Ao grupo de pesquisa do HEMOAM, que torceram pela realização desse trabalho. Muito Obrigada. A equipe do Laboratório de Análises Clínicas do HEMOAM pela ajuda na realização dos testes. Muito Obrigada. Ao Laboratório de sorologia do HEMOAM pela realização dos testes sorológicos. Muito Obrigada. Aos amigos da turma de 2005 do mestrado (Débora, Jander, Kleber, Fabiane, Rosilene, Suiane, Flávio, Marcelo e a Graça) pela força durante as disciplinas e pela amizade adquirida. Muito Obrigada. À coordenação da Pós-graduação pela oportunidade de participar deste curso. À CAPES pela bolsa de mestrado. Ao CNPq, FAPEAM, HEMOAM e SUFRAMA pelo auxilio financeiro para o desenvolvimento deste trabalho. V LISTA DE TABELAS Tabela 01 Dados demográficos de pacientes renais crônicos infectados com o Vírus da hepatite C............................................................................. Tabela 02 Análise do percentual em relação a DO/Cut off do teste ELISA de pacientes reativos para o Vírus da hepatite C (HCV)......................... Tabela 03 Perfil de bandas de proteínas do teste complementar Imunoblot em pacientes renais crônicos infectados com o Vírus da hepatite C......................................................................................................... Tabela 04 Níveis de alanina aminotransferase (ALT) em pacientes renais crônicos............................................................................................... Tabela 05 Freqüência de co-infecções virais (HCV, HBV, HIV e HTLV) em pacientes renais crônicos................................................................... Tabela 06 Perfil de sub-populações de leucócitos do sangue periférico de pacientes renais crônicos................................................................... Tabela 07 Perfil fenótipico de linfócitos do sangue periférico de pacientes renais crônicos.................................................................................... Tabela 08 Análise estatística descritiva do percentual de sub-populações de leucócitos ativados.............................................................................. 24 26 27 28 29 32 34 36 VI LISTA DE FIGURAS Figura 01 Figura 02 Figura 03 Figura 04 Figura 05 Figura 06 Figura 07 Figura 08 Figura 09 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Seqüência de procedimentos utilizados para as análises dos percentuais de populações celulares por citometria de fluxo................... Percentual de pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise na Clínica Renal de Manaus.................................................................... Análise do percentual e distribuição por tempo de soroconversão de pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise....................... Comparação nos níveis de Alanina aminotransferase (ALT) nos pacientes renais crônicos HCV negativo e HCV positivo........................ Percentual de leucócitos totais e sub-populações de células circulantes no sangue periférico de pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise com sorologia negativa para o Vírus da hepatite C e com sorologia positiva...................................................................................... Percentual de linfócitos LTCD3+/CD4+ (A) e LTCD3+/CD8+ (B) no sangue periférico de pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise com sorologia negativa para o Vírus da hepatite C e com sorologia positiva...................................................................................... Percentual da sub-população de leucócitos ativados- linfócitos CD69+ (A), monócitos CD69+ (B), neutrófilos CD69+ (C) e eosinófilos CD69+ (D) no sangue periférico de pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise com sorologia negativa para o Vírus da hepatite C e com sorologia positiva.............................................................................. Correlação de Spearman entre as populações de linfócitos T CD4+ e linfócitos T CD8+ no grupo HCV positivo em tratamento de hemodiálise.............................................................................................. Correlação de Spearman entre as populações de linfócitos CD69+ e linfócitos CD4+ do grupo HCV positivo em hemodiálise.......................... Correlação de Spearman entre as populações de linfócitos CD69+e linfócitos CD8+ do grupo HCV positivo em hemodiálise........................... Correlação de Spearman entre os níveis de alanina aminotransferase e as populações de linfócitos T CD4+ no grupo HCV positivo em tratamento de hemodiálise....................................................................... Correlação de Spearman entre os níveis de alanina aminotransferase e as populações de linfócitos T CD8+ no grupo HCV positivo em tratamento de hemodiálise....................................................................... 21 23 25 28 31 34 36 37 38 39 40 41 VII ABREVIATURAS ALT alanina aminotransferase APCs células apresentadoras de antígeno AST aspartato aminotransferase BA Bahia CAPD diálise peritoneal ambulatorial continua CE Ceará CEP Comitê de ética em pesquisa Cut off ponto de corte DP desvio padrão DO densidade óptica E região estrutural EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético ELISA enzyme linked immuno assay FITC isotiocianato de fluoresceína FL histograma de fluorescência FSC ganho de tamanho °C graus Celsius GO Goias HBV Vírus da hepatite B HCV HCV Vírus da hepatite C + hepatite C positiva HCV - hepatite C negativa HD hemodiálise HEMOAM Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas HIV Vírus da imunodeficiência humana HTLV Vírus T linfótrópicos humano IL interleucina IFN interferon IgG Imunoglobulina G IRC Insuficiência renal crônica L Litro VIII LB linfócitos B LDH lactato desidrogenase + LTCD4 linfócitos T CD4+ LTh linfócitos T helper LTc linfócitos T citotóxicos M Molar MDH malato desidrogenase MHC complexo maior de histocompatibilidade MG Minas Gerais mL mm Mililitro 3 Milímetro cúbico mmol milimol µl microlitro NADH Nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzido NAD Nicotinamida adenina dinucleotídeo NK natural killer NKT natural killer T nm nanômetro NS região não-estrutural OMS Organização Mundial de Saúde ORF Open reading frame PPT Tubo de Plasma preparado PBS solução fisiológica tamponada com fosfato PE ficoeritrina PR Paraná RNA ácido ribonucleico RC renais crônicos RE Recife rpm rotações por minuto SP São Paulo SSC ganho de granulosidade TNF fator de necrose tumoral TRS terapia renal substitutiva UTR Região não traduzida IX RESUMO Os indivíduos submetidos a tratamento de hemodiálise são considerados de alto risco para infecção pelo Vírus da hepatite C (HCV). O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de anticorpos anti-HCV, a presença de co-infecção, os níveis de alanina aminotransferase (ALT) e o perfil da resposta imune celular em pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise na Clínica Renal de Manaus - AM. Realizou-se testes sorológicos (ELISA e Immunoblot) e citometria de fluxo, utilizando anticorpos monoclonais anti-CD3, anti-CD4, anti-CD8 e anti-CD69 para identificar as subpopulações de linfócitos. Entre os 402 pacientes em tratamento de hemodiálise, 62 apresentaram resultados reativos para anti-HCV, demonstrando uma soroprevalência de 15,2%. Nossos resultados mostraram que 78,2% (n=43) destes pacientes soroconverteram durante o tratamento, com um tempo médio de hemodiálise de 82 meses antes da soroconversão. Detectou-se co-infecção HCV e HBV em 36,4% (n=20) dos pacientes, 1,8% (n=1) em relação aos demais vírus avaliados (HBV+, HIV+ e HTLV+). Os valores de ALT foram similares para ambos os grupos, pacientes HCV positivos (26,13±19,63%) e controles (24,11±23,93%). A análise do perfil celular demonstrou uma diferença estatisticamente significante entre as médias percentuais de linfócitos totais no grupo controle (18,58±6,18%) e HCV (28,79±13,22%). A citometria demonstrou aumento significante de LTCD4+ em pacientes HCV positivos (40,14±9,28%) em relação ao controle (34,37±10,43%). Porém, não foi observada diferença significativa para LTCD8+ entre os dois grupos, HCV positivos (25,91±9,33%) e controle (23,08±9,91%). As médias percentuais de neutrófilos e eosinófilos ativados (CD69+) foram significativamente maiores nos pacientes HCV positivos. Os resultados deste estudo demonstraram uma elevada prevalência do anti-HCV em pacientes em tratamento de hemodiálise em ManausAM e que a infecção pelo HCV altera o perfil da resposta imune celular nestes pacientes. Palavras-chaves: Hepatite C, hemodialisados, resposta imune celular. X ABSTRACT The individuals undergoing to hemodialysis treatment are considered to be at the high risk of developing a hepatitis C virus (HCV) infection. The aim of this study was to evaluate the anti-HCV antibodies prevalence, the co-infection presence, the alanine aminotransferase (ALT) levels and the profile of the cellular immune response in chronic renal patient undergoing hemodialysis treatment in the Clinica Renal de Manaus - AM. Serological assays (ELISA e Immunoblot) and flow cytometry were done; monoclonal antibodies anti-CD3, anti-CD4, anti-CD8 and antiCD69 were used in cytometry to identify lymphocyte sub-populations. Among the 402 patients undergoing hemodialysis treatment 62 presented reactive results for antiHCV assays, demonstrating a seroprevalence of 15.17%. Our results showed that 78.18% (n=43) of these patient seroconverted during the treatment, with a average time of hemodialysis of 82 months before the seroconversion. HCV and HBV coinfection were detected in 36.4% (n=20) of the patients and 1.8% in relation to the other appraised viruses (HBV+, HIV+ and HTLV+). The ALT levels were similar to both groups, HCV positive patients (26.13±19.63%) and control (24.11±23.93%). The analysis of the cellular profile demonstrated a statistically significant difference between the percentile average of total lymphocytes in the control (18.58±6.18%) and HCV (28.79±13.22%) groups. The analysis for cytometry demonstrated significant increase of LTCD4+ in HCV positive patients (40.14±9.28%) in relation to control (34.37±10.43%). It was not observed any significant difference in LTCD8+ between the two groups, positive HCV (25.91±9.33%) and control (23.08±9.91%). The percentile averages of neutrophils and eosinophils activated (CD69+) were significantly larger in the HCV positive patients. The study results demonstrated increased prevalence of anti-HCV in patients undergoing hemodialysis in ManausAM and that the HCV infection modifies the profile of the cellular immune response in these patients’ ones. key-words: Hepatitis C, hemodialysis, cellular immune response XI SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 01 1.1 Características do vírus da hepatite C (HCV)...................................... 01 1.2 Epidemiologia...................................................................................... 02 1.3 Formas de transmissão....................................................................... 03 1.4 Características clínicas da infecção e patologia................................. 04 1.5 Resposta imune ao vírus da hepatite C.............................................. 05 1.6 Resposta imune em pacientes renais crônicos................................... 09 2 JUSTIFICATIVA............................................................................................ 12 3 OBJETIVOS.................................................................................................. 13 4 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................. 4.1 Delineamento do estudo...................................................................... 4.2 Pacientes/ Critérios de inclusão e exclusão........................................ 4.3 Abordagem aos pacientes e coleta do material biológico................... 4.4 Diagnóstico laboratorial....................................................................... 4.4.1 Teste de triagem ELISA................................................................... 4.4.2 Teste complementar ........................................................................ 4.4.3 Testes bioquímicos.......................................................................... 4.4.3.1 Aspartato aminotransferase.......................................................... 4.4.3.2 Alanina aminotransferase.............................................................. 4.4.3.3 Bilirrubina....................................................................................... 4.4.4 Análise da expressão de moléculas de superfície através da citometria de fluxo – FACS................ ……………………………….. 4.5 Análise e interpretação dos dados...................................................... 5 RESULTADOS.............................................................................................. 5.1 Soroprevalência de HCV em pacientes em tratamento de hemodiálise.......................................................................................... 5.2 Análise de soroconversão para o HCV em pacientes renais crônicos 5.3 Relação densidade óptica e ponto de corte para reatividade ao HCV pelo teste ELISA.................................................................................. 5.4 Análise da distribuição das bandas de proteínas no Immunoblot....... 5.5 Análise bioquímica de alanina aminotransferase (ALT)...................... 5.6 Percentual de pacientes HCV positivos co-infectados........................ 5.7 Análise de populações e sub-populações de leucócitos em sangue periférico.............................................................................................. 5.8 Análise da população de linfócitos por citometria de fluxo.................. 14 14 14 15 16 16 17 18 18 19 19 20 22 23 23 24 26 27 28 29 30 33 XII 5.9 Análise da sub-população de leucócitos por citometria de fluxo......... 5.10 Análise de correlação de Spearman.................................................... 5.10.1 Correlação da população de linfócitos T CD4+ e CD8+.................... 5.10.2 Correlação da população de linfócitos CD69+ com linfócitos T CD4+ e CD8+.................................................................................... 5.10.3 Correlação da ALT com linfócitos T CD4+ e CD8+........................... 35 37 37 6 DISCUSSÃO................................................................................................. 42 CONCLUSÕES................................................................................................ 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 51 38 40 ANEXOS........................................................................................................... 59 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 Características do vírus da hepatite C (HCV) O Vírus da hepatite C (HCV) foi identificado por Choo e colaboradores em 1989, sendo inicialmente chamado de Vírus não A, não B. Devido a sua composição estrutural foi classificado como pertencente à família Flaviviridae (CHOO et al, 1989) e gênero Hepacivírus (SIMMONDS et al, 2005). O HCV é um vírus de RNA de fita simples cujo genoma contém 9.400 nucleotídeos, possuindo apenas uma única fase de leitura (“open reading frame” ORF) que compreende quase todo o seu genoma e codifica uma poliproteína de pouco mais de 3.000 aminoácidos, contendo uma região estrutural e uma não estrutural (HOUGHTON et al, 1991). As proteínas não-estruturais NS2, NS3, NS4 e NS5 representam a extremidade carboxiterminal do genoma viral (SÁEZALQUEZAR et al, 2001). A região estrutural se localiza na porção aminoterminal da proteína codificando a proteína C (core do nucleocapsídio viral – 19 kD) e as glicoproteínas hipervariavíeis E1 (gp 33) e E2 (gp 72) constituintes do envelope viral. A região do genoma que codifica a região estrutural (região 5’UTR do genoma) e as 99 bases terminais da região 3’UTR , representa a seqüência mais altamente conservada em relação a diferentes isolados virais, o que sugere cumprir com o papel regulador durante a replicação viral (HOUGHTON et al, 1991; SIMMONDS et al, 2005). No entanto, o Vírus da hepatite C apresenta uma característica importante de variabilidade genética decorrente de mutações no genoma, causadas por erros na etapa de replicação viral por ação da RNA polimerase (VAN DOORN, 1994). Devido ao grande número de mutações no genoma, estudos filogenéticos classificaram o HCV em diferentes tipos ou genótipos, além dos subtipos (CHAN et al, 1992; SIMMONDS et al, 2005). O conhecimento da variabilidade genética envolvida nas infecções é importante para compreender a evolução da doença, conduzir tratamento antiviral, monitorar estudos epidemiológicos, além de ter implicações importantes e decisivas no diagnóstico sorológico e molecular da infecção (CARMO et al, 2002). As análises comparativas das seqüências 2 completamente ou parcialmente conhecidas dos isolados do HCV publicadas indicam que existam pelo menos seis grupos distintos do vírus e mais de 50 subtipos de HCV (PINHO et al, 2005; SIMMONDS et al, 2005). Possivelmente, após a análise completa de outras regiões do genoma dos isolados surgirão novos grupos e subgrupos (SIMMONDS et al, 2005). 1.2 Epidemiologia O Vírus da Hepatite C se distribui universalmente e a prevalência da infecção na população varia de 0,3% a 14,5% (ALTER et al, 1989; GONÇALES, 1997). Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) a prevalência é 3%, representando 180 milhões de pessoas infectadas pelo HCV no mundo (OMS 2007). O HCV constitui um dos mais importantes problemas de saúde pública no mundo por ser a maior causa de hepatite crônica e carcinoma hepatocelular (SANTANA et al, 2001; OMS, 2007). A infecção pelo HCV mantém alta incidência mundial, apesar da significativa redução da transmissão por transfusão de sangue. No Estado do Amazonas, dados de triagem sorológica da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (HEMOAM) revelam que 0,6% dos doadores apresentam soropositividade para anti-HCV (TORRES et al, 2001). No Brasil, um estudo feito por Focaccia e colaboradores (2003) na cidade de São Paulo demonstrou que a prevalência estimada era de 1,42%. Na população em geral os dados ainda são muito inconclusivos, mas as estimativas atuais atingem 1,5% em média (FOCACCIA et al, 2003). Predominam no Brasil os genótipos 1, 2 e 3 (PINHO et al, 2005), sendo o genótipo 1b o de maior freqüência na população de doadores de sangue, sendo também encontrados outros grupos os subtipos: 1a, 2a, 2b e 3a (BASSIT et al, 1999; OLIVEIRA et al, 1999). Recentemente foram detectados o subtipo 4 (CARMO et al, 2002) e subtipo 5 (LEVI et al, 2002). Em relação ao genótipo na Região Norte observa-se predomínio do genótipo 1 (74,1%), seguido do genótipo 3 (24,7%) existindo também o genótipo 2 (1,2%) (PINHO et al, 2005). 3 Dados da literatura demonstram que em pacientes em tratamento por hemodiálise ocorre uma grande incidência de soroconversão para anti-HCV. Na Bélgica trabalhos relatam a positividade de 1,7% (JADOUL et al, 1993). Na Alemanha observou-se que 6,1% dos pacientes apresentaram positividade para anticorpos anti-HCV (HINRICHSEN et al, 2002). Na América do Norte estima-se que a prevalência de anticorpos anti-HCV em pacientes tratados com hemodiálise varia de 15 a 48% (PEREIRA; LEVEY, 1997). Em relação ao Brasil observamos que a prevalência de anticorpos anti-HCV varia de um Estado para outro. Em Fortaleza – CE, a prevalência média é de 52% (MEDEIROS et al, 2004), Salvador - BA 10,5% (SILVA et al, 2006), Recife - RE 8,4% (ALBUQUERQUE et al, 2005), São Paulo – SP 14,6% (MOREIRA et al, 2003), Curitiba - PR 39,2% (CARVALHO et al 1999), Belo Horizonte - MG 20% (BUSEK et al, 2002) e Goiânia – GO 46,7% (CARNEIRO et al, 2001). No entanto, não existem dados epidemiológicos relacionados ao Estado do Amazonas nesta população. 1. 3 Formas de transmissão A Hepatite C é considerada uma doença transmissível pelo sangue e seus derivados, sendo o principal agente etiológico das hepatites pós-transfusionais no Mundo (ALTER et al 1989; MINOLA et al, 2002). O risco de transmissão da hepatite C transfusional diminuiu com a introdução de testes sorológicos de triagem em bancos de sangue (TORRES et al, 2001). No entanto, outros fatores contribuem para a transmissão do HCV transfusional. Na Itália, antes da introdução do teste de detecção do anti-HCV entre os doadores de sangue mais de 10% dos transfundidos nos anos 80 apresentaram evidências clínicas de hepatite pós-transfusional (MINOLA et al, 2002). Trabalhos têm demonstrado que algumas populações estão mais suscetíveis à infecção pelo HCV. A presença de anti-HCV ocorre em 60 a 80% dos hemofílicos, em 50 a 70% dos usuários de drogas endovenosas, em 21% dos pacientes talassêmicos politransfundidos (CARMO et al, 2002; HAHN et al, 2001; JAISWAL et al, 2001) e em 11 a 48% dos pacientes em tratamento prolongado de hemodiálise 4 (BUSEK et al, 2002), o que demonstra bem o potencial do sangue de transmitir a hepatite C (YOSHIDA et al, 1992). Quanto aos fatores de risco de contágio por hemodiálise o principal modo de transmissão é por transfusões com sangue contaminado, mas a via nosocomial (infecção adquirida em ambiente hospitalar) tem sido freqüentemente observada (MEDEIROS et al, 2004). Oliveira e colaboradores (2001) e Silini e colaboradores (2002) relatam que a transmissão nosocomial entre pacientes hemodialisados em soroconversão pós-hemodiálise era freqüentemente causada pelo mesmo genótipo viral. Estudos sugerem algumas causas de infecção como: a) segregação em sala de diálise; b) frascos de heparina de uso coletivo; c) ausência de luvas na manipulação de pacientes ou falta de troca de luvas entre a manipulação de cada paciente; d) lavagem das mãos após troca das luvas entre pacientes; e) ausência de limpeza e desinfecção de todos os instrumentos e superfícies ambientais (MEDEIROS et al, 2004). Outras formas de transmissão são através de seringas e agulhas contaminadas (HAHN et al, 2001; OLIVEIRA et al, 1999), pelo transplante de órgãos e tecidos (PEREIRA et al, 1991), por contato sexual (pouco freqüente) e por transmissão vertical (transmissão da mãe para o filho durante a gestação, na hora do parto ou durante o aleitamento) (GONÇALES et al, 2000). 1. 4 Características clínicas da infecção e patologia A infecção aguda pelo HCV é normalmente assintomática e, por isso, raramente reconhecida. O período de incubação varia de duas a 26 semanas, com a média entre seis e 12 semanas (HELLER; REHERMANN, 2005) e a recuperação completa é caracterizada pelo desaparecimento do RNA viral no sangue e pela normalização dos níveis das enzimas hepáticas (DI BISCEGLIE, 1998). Apenas cerca de 15% das infecções são autolimitada, a maioria evolui para uma infecção persistente (HELLER; REHERMANN, 2005). Estima-se que a hepatite C seja a 5 causa mais comum de doença hepática, cirrose e câncer de fígado no mundo (HAJJAR et al,1999). Na infecção aguda, a icterícia ocorre em menos que 20% dos casos e parece estar correlacionada com os níveis de RNA entre 105 a 107 cópias/mm3 de sangue (ORLAND et al, 2001). Enquanto que a infecção crônica costuma apresentar-se de forma oligossintomática, com manifestações clínicas inespecíficas como fadiga muscular, artralgia, perda de peso, letargia, mialgias, febre baixa, náuseas, vômitos, dor ou desconforto no quadrante superior do abdômen (CONTE, 2000). Um aspecto clínico bastante característico do HCV é representado pelas elevações episódicas nas transaminases séricas, com períodos interpostos de normalidade (ROSSINI et al, 1995). Já foram descritas elevações transitórias nos níveis das transaminases em 11,9% dos pacientes com hepatite C, e essas elevações foram associadas com o aumento da carga viral, na maioria dos casos, mas ocasionalmente houve associação com alteração no genótipo viral, sugerindo re-infecção. Porém, nos pacientes, considerados individualmente, o valor preditivo dessa associação foi baixo, enquanto muitos deles com enzimas normais apresentavam graves alterações histológicas (DI BISCEGLIE, 1998). A persistência do vírus e as manifestações clínicas distintas estão correlacionadas com as características imunológicas do hospedeiro e com a evolução genética do vírus, isto é, com o tipo de variante viral responsável pela infecção (ORLAND et al, 2001; BARRET et al, 2001). 1. 5 Resposta imune ao vírus da hepatite C Segundo a revisão de Neumann-Haefelin e colaboradores (2005) a resposta imune do hospedeiro é constituída pela imunidade inata através das barreiras físicas (ex. pele), componentes celulares (ex. granulócitos) e componentes solúveis (ex. fatores do complemento) e pela imunidade adaptativa composta da imunidade humoral (anticorpos) e a imunidade celular (linfócitos T CD4+ e CD8+). 6 O papel da imunidade inata na hepatite C, com o envolvimento de polimorfonucleares, células Natural Killer (NK), Natural Killer T (NKT) e das linhagens fagocíticas, ainda não está totalmente elucidado, embora as células NK e NKT pareçam ter função significativa na resposta imune em relação aos patógenos hepatotrópicos, tais como o Vírus da hepatite C (FREEMANN et al, 2001). As Células NK constituem a primeira linha de defesa contra patógenos e usualmente tornam-se ativados na fase inicial da infecção viral. O fígado é particularmente rico em células NK, que são ativados por vírus hepatotrópicos, como o HCV. A ativação das células NK exerce um papel essencial no recrutamento de células T HCVespecíficas e eliminação de hepatócitos infectados diretamente por citólise ou indiretamente pela secreção de citocinas, que induzem um estado antiviral nas células do hospedeiro. Assim, elas seriam importantes para limitar a replicação viral naquele órgão, ainda que também pudessem contribuir para o dano tecidual hepático durante a resposta imunológica (AHMAD et al, 2004). A hepatite C caracteriza-se por uma importante resposta adaptativa através da imunidade humoral e celular (THIMME et al, 2002). A resposta imune humoral é fundamental na neutralização de partículas virais livres e para impedir a entrada do vírus nas células do hospedeiro (FUKUDA e NAKANO, 2003). Por outro lado, apesar da existência de anticorpos neutralizantes, como aqueles contra a região E2 HVR, a resposta humoral é muito ineficiente, talvez pela rápida seleção de variantes de escape (CHANG et al, 2003) ou porque estes anticorpos falhem em induzir “clearance” viral (NELSON et al, 2001). No entanto, a resposta imune celular (LT CD4+) é crítica para a geração e manutenção de um estado antiviral, tanto pela secreção de citocinas estimulatórias de linfócitos B, ativação de Linfócitos T CD8+ específicos como pela geração de uma memória imune celular (SHEDLOCK et al, 2003). Assim, os linfócitos T helper são fundamentais na coordenação da imunidade celular contra patógenos intracelulares. Essas células reconhecem os peptídeos virais antigênicos ligados às moléculas de histocompatibilidade (MHC) de classe II na membrana das células apresentadoras de antígenos. Os linfócitos T helper 1 favorecem a ativação de linfócitos T citotóxicos CD8+ específicos 7 (PAPATHEODORIDIS et al, 1999) responsáveis pela eliminação das células infectadas por vírus (LASARTE et al, 1998), enquanto linfócitos T helper 2 induzem a proliferação de linfócitos B específicos e a produção de anticorpos anti-HCV (PAPATHEODORIDIS et al, 1999). Os linfócitos T helper, produzem citocinas que podem inibir a replicação viral. As respostas dos Linfócitos T helper aos diferentes antígenos virais, incluindo o do core, estão associadas a uma evolução benigna da infecção pelo Vírus da hepatite C (LASARTE et al, 1998). Os linfócitos T CD8+ são fundamentais na evolução da infecção aguda pelo HCV. Durante os primeiros seis meses da infecção, a citotoxicidade direta mediada por linfócitos T CD8+ contra múltiplos epítopos de diferentes regiões estruturais ou não-estruturais do HCV pode favorecer um caráter autolimitante da infecção pelo HCV (GRÜNER, 2000). Estudos sugerem que a resposta Th1 por linfócitos T CD4+ contra a fração NS3 do vírus e possivelmente a outras proteínas não estruturais do HCV (NS4 e NS5) contribuem para o sucesso do "clearance" viral. No entanto a resposta de células mononucleares contra o core do vírus é mais comum em pacientes que evoluem para a forma crônica da hepatite C (DIEPOLDER et al, 1995). Acredita-se que o “clearance” viral está associado a uma forte resposta intra-hepática multiespecífica de linfócitos T CD8+ contra o vírus, enquanto que a persistência viral tem sido associada a uma fraca e limitada resposta destes linfócitos (THIMME et al, 2002; COX et al, 2005). Apesar da resposta imune celular parecer ser eficiente no “clearance” viral ainda não se conseguiu estabelecer qual a amplitude e o mecanismo da resposta inicial do sistema imune frente ao reconhecimento do antígeno HCV, que faz com que o curso da infecção siga em direção a cronicidade e não a cura (COX et al, 2005). A patogenia da hepatite C parece estar relacionada à intensidade da resposta dos linfócitos T na fase inicial da infecção, a qual pode ser crítica na evolução da doença (PAPATHEODORIDIS et al, 1999). É importante salientar que a reatividade imunológica celular do hospedeiro, incluindo tanto os linfócitos T helper (CD4+) quanto os linfócitos T citotóxicos (CD8+), encontra-se ativada em pacientes 8 infectados pelo vírus da hepatite C (NAVEAU et al, 1999). Durante a infecção pelo HCV, citocinas são produzidas tanto no fígado como na circulação sanguínea, assumindo papel importante no controle da replicação viral e contribuindo para o dano tecidual através da amplificação de uma resposta imune inespecífica (NELSON et al, 2001). As citocinas são muito importantes na resposta imune contra as infecções, como o Fator de necrose tumoral - alfa (TNF-α) e Interferon – gama (IFN-γ). Essas citocinas possuem particular importância, pois elas participam desde a ativação celular até o rolamento celular para o local da infecção viral. O IFN-γ tem um efeito antiviral semelhante ao TNF-α, que contribui mediando a inflamação e reações citotóxicas na infecção viral, porém o IFN-γ é liberado somente de células T ativadas. As citocinas contribuem muito para a patogênese da infecção das hepatites, pois estão envolvidas diretamente no curso da infecção (ESQUIVEL et al, 2002). Pacientes com infecção aguda e crônica apresentam níveis plasmáticos de TNF-α elevados quando comparados com indivíduos não infectados. Níveis séricos de TNF-α elevados previamente ao tratamento parecem estar associados com resistência tratamento com INF-α (ESQUIVEL et al, 2002). A produção de níveis inadequados de algumas citocinas parece contribuir para a persistência do vírus e, também, influenciar a resposta à terapia antiviral na infecção pelo HCV. Por exemplo, a quantidade de interleucina-10 (IL-10) produzida pode potencialmente influenciar a evolução da doença, uma vez que a IL-10 parece ser capaz de controlar a resposta imune antiviral do indivíduo (DE WAAL MALEFYT, 1998), sendo que seu declínio precoce pode favorecer uma mudança da resposta imune tipo Th2 para Th1, levando a uma resposta terapêutica sustentada (TORRE et al, 2004) . Segundo Torre e colaboradores (2004) os níveis séricos de IL-10 e de outras citocinas do tipo 2 (IL-4, IL-5 e IL-13) encontram-se bastante elevados em pacientes com infecção crônica pelo HCV não tratados quando comparados com indivíduos sadios, sugerindo que o desvio do perfil imunológico para um padrão do tipo 2 poderia comprometer a resposta imune do hospedeiro, resultando na infecção crônica pelo HCV. Níveis séricos elevados de IL-10 também parecem estar associados com persistência da viremia e resistência à terapia antiviral com INF-α . 9 1. 6 Resposta imune em pacientes renais crônicos Okuda e Yokosuka (2004) publicaram um estudo tipo coorte com 189 pacientes com anti-HCV positivo e em tratamento de hemodiálise, acompanhados por mais de quatro anos, e concluíram que a infecção pelo HCV neste grupo de pacientes possui uma história natural diferente do paciente não-renal, com uma atividade menos intensa de doença, assim como uma menor progressão para a cirrose, provavelmente devido à anormalidades na resposta imunológica destes pacientes. Em um estudo clássico da resposta imune celular e humoral, Giacchino e colaboradores (1982), demonstraram que a imunidade celular estava muito comprometida em pacientes com insuficiência renal crônica (IRC) inicial ou em hemodiálise, e menor comprometimento da imunidade humoral, com contagem de linfócitos B e dosagens de imunoglobulinas normais, e somente uma redução de uma proteína do complemento (C3). Pacientes com IRC possuem uma imunodeficiência caracterizada por complicações mais freqüentes às infecções e baixas respostas às vacinações. Esta imunodeficiência é influenciada tanto pela uremia como pela terapia renal substitutiva (TRS) (KAUL et al, 2000). Barros e Romão (1996) sugeriram que o comprometimento geral da imunidade poderia ser atribuído à uremia, à associação de múltiplas doenças crônicas e, ainda, aos fatores relacionados a TRS, como a modalidade e tempo de diálise. Na uremia, a alteração da homeostase pode estar diretamente relacionada à regulação anormal da apoptose, um processo crucial para manter as funções biológicas. Pacientes em hemodiálise (HD) apresentam alteração na apoptose se comparados àqueles em diálise peritoneal e a controles sadios. Esse fato também pode estar envolvido na disfunção imune em pacientes sob HD (D’INTNINI et al, 2003). Outros fatores que podem contribuir para diminuir a resposta imune são a anemia e a desnutrição, que o tratamento em diálise acentua (BARROS; ROMÃO, 1996). 10 A interferência da biocompatibilidade das membranas dialisadoras nos níveis séricos de citocinas, durante o procedimento da hemodiálise, é assunto controverso. Acredita-se que essas membranas levem à ativação da imunidade humoral, do sistema complemento, causando liberação de C3a e C5a, de neutrófilos (GIACCHINO et al, 1982) e levando os monócitos a gerarem citocinas como IL-1, IL-6 e TNF alfa (PASTAN e BAILEY, 1998). As moléculas médias do soro urêmico são retidas nas membranas, o que pode, teoricamente, contribuir para diminuir a função dos linfócitos T e, conseqüentemente, inibir a estimulação de linfócitos pelos mitógenos, a proliferação de fibroblastos e a atividade fagocítica dos leucócitos. Várias hipóteses tentam explicar essas alterações; contudo, permanecem as controvérsias. Tem-se notado, por exemplo, que a HD não parece contribuir para essas alterações; o que se observa, na prática, nesses pacientes, é a progressiva diminuição da imunidade, que tem relação direta com o tempo de HD (GIACCHINO et al, 1982). Nos pacientes com IRC em programa de diálise, as múltiplas transfusões sangüíneas e a reposição de ferro durante o uso da eritropoietina levam ao acúmulo de ferro e a hemossiderose hepática, podendo agravar as lesões causadas pelo vírus C (BARROS; ROMÃO, 1996). A resposta proliferativa das células mononucleares periféricas tende a ser deprimida nos pacientes urêmicos em relação aos controles não urêmicos, a despeito das controvérsias a esse respeito. Estudos in vitro demonstram que a produção do IFN gama pelos linfócitos, necessário para a ativação de macrófagos, linfócitos B e linfócitos T citotóxicos, é reduzida em pacientes urêmicos (YOUSEFI et al, 1987), mas não nos pacientes em hemodiálise (DAICHOU et al, 1999). Também se observa diminuição na produção de Interleucina-2 (IL-2) e, conseqüentemente, há comprometimento da resposta proliferativa e da diferenciação linfocítica dos linfócitos B. Acredita-se que a HD possa remover moléculas e, entre estas, a IL-2. A redução da IL-2 na uremia tem sido um fator fundamental para explicar a imunodeficiência que ocorre em pacientes urêmicos (WALDHERR et al, 1992). Todavia, a função dos macrófagos parece estar preservada em urêmicos (YOUSEFI et al, 1987) e aumentada nos pacientes 11 hemodialisados (DAICHOU, et al, 1999). No entanto muitos estudos ainda precisam ser feitos para relacionar a infecção pelo HCV com a imunidade. 12 2 JUSTIFICATIVA A população de indivíduos submetidos ao tratamento de hemodiálise é considerada de alto risco para infecção pelo HCV, devido a exposição constante à transfusões sanguíneas e a materiais possivelmente contaminados, como relatado na introdução do trabalho. Observa-se que indivíduos que iniciaram protocolos de tratamento por hemodiálise com sorologia negativa para marcadores para o HCV, após várias sessões, soroconvertem e passam a apresentar anticorpos anti-HCV nos testes de triagem. Este fato pode ser relacionado com a transmissão nosocomial, através da utilização de máquinas de diálise única para todos os pacientes, frascos de heparina de uso coletivo, ausência de luvas na manipulação de pacientes ou falta de troca de luvas entre a manipulação de cada paciente e ausência de limpeza e desinfecção de todos os instrumentos e superfícies ambientais. Dados da literatura demonstram que a prevalência de soroconversão para HCV em pacientes em hemodiálise pode chegar a 90% como relata Okuda e Yokosuka (2004) no Japão e, no Brasil, estudos mostram um percentual de 52% como o de Medeiros (2004) em Fortaleza. No entanto, a prevalência de soroconversão para anti-HCV em pacientes em tratamento por hemodiálise da cidade de Manaus não é conhecida, desta forma é de fundamental importância à pesquisa destes dados nesta população, uma vez que conhecido o número, se alto, pode-se propor uma melhoria no serviço de hemodiálise. Em adição, propomos avaliar a resposta imune em indivíduos infectados com o Vírus da hepatite C (HCV), que apresenta mutações durante a replicação viral, dificultando o seu reconhecimento pelo sistema imunológico e dificultando a elaboração de protocolos terapêuticos eficientes e a produção de vacinas para o controle da infecção. Desta forma o entendimento dos processos imunes envolvidos na resposta contra o HCV é parte importante na análise do diagnóstico clínico e laboratorial da infecção. 13 3 OBJETIVOS 3.1 Geral: Estimar a soroprevalência e o perfil da resposta imune celular contra o Vírus da hepatite C, associado ou não a prevalência de co-infecção com outras doenças de transmissão parenteral em pacientes com insuficiência renal crônica. 3.2 Específicos: 1. Estimar a soroprevalência de anticorpos anti-HCV em pacientes renais crônicos. 2. Estimar a freqüência de soroconversão para o HCV durante o tratamento de hemodiálise e relacionar com o tempo de eventos de hemodiálise. 3. Estudar o padrão sorológico do teste ELISA (relação DO/Cut off) para o HCV. 4. Estudar o padrão de bandas encontradas nos testes complementares Imunoblot para o HCV. 5. Analisar os níveis de Alanina aminotransferase (ALT) e Bilirrubinas (BD/BT). 6. Estudar a freqüência de co-infecção de HCV com outras doenças de transmissão parenteral (HIV, HBV e HTLV) na população de hemodialisados. 7. Analisar o perfil da resposta imunológica celular, através de marcadores de superfície celular para linfócitos T CD4+ e CD8+ e avaliar as populações de leucócitos ativados através do marcador CD69+. 14 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Delineamento do estudo Trata-se de um estudo observacional descritivo de casos. 4.2 Pacientes/ Critérios de inclusão e exclusão Em Manaus existem dois serviços de hemodiálise, o Centro de doenças Renais com 132 pacientes/mês e a Clínica Renal de Manaus com 400 pacientes/mês. O presente estudo foi realizado na Clínica Renal de Manaus, pois é o serviço mais antigo e com maior número de pacientes cadastrados. O projeto de pesquisa foi apresentado ao Comitê de Ética em Pesquisa - CEP da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas - HEMOAM em 09 de agosto de 2005 e aprovado em 28 de novembro de 2005, com o parecer 19-05 (em anexo). Para o estudo de soroprevalência para HCV foram incluídos todos os pacientes maiores de 18 anos que estavam em tratamento de hemodiálise. Os pacientes HCV positivos foram convidados a participarem da pesquisa e submetidos a novos testes de diagnósticos para análise do perfil sorológico, bioquímico e celular. Pacientes HCV positivos co-infectados com outras doenças de transmissão parenteral (HIV, HBV, HTLV, Doença de Chagas e sífilis) também foram incluídos na pesquisa. Os pacientes menores de dezoito anos e mulheres gestantes foram excluídos do estudo. Para efeito de comparação da análise da resposta imune celular foram incluídos 55 pacientes em hemodiálise, maiores de dezoito anos e que não apresentavam nenhuma infecção no momento da coleta. A seleção dos pacientes foi realizada por conveniência e o número de participantes foi determinado de acordo com o número de pacientes soropositivos para HCV. 15 4.3 Abordagem dos pacientes e coleta do material biológico Durante a consulta médica os pacientes HCV positivos receberam esclarecimentos dos objetivos do estudo pela pesquisadora, a participação na pesquisa não foi remunerada e os pacientes foram orientados em relação à possibilidade de desistência, com garantia de continuidade da assistência médica, caso desejassem, em qualquer etapa da pesquisa. Os pacientes que concordaram em participar da mesma foram convidados a assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 6.1), e foi aplicado um questionário (Anexo 6.2) para investigação dos dados demográficos e epidemiológicos. As informações clínicas e laboratoriais foram coletadas através do sistema informatizado Dialsist da Clínica Renal de Manaus do início do tratamento de hemodiálise até julho de 2006 e compiladas na ficha de acompanhamento dos pacientes conforme anexo 6.2. Em seguida, foi coletada através de punção venosa, amostra de 20 mL de sangue periférico, distribuído em três tubos: 10 mL no tubo sem anticoagulante, 5 mL no tubo PPT e 5 mL no tubo com EDTA para processamento e análise dos testes previstos neste estudo e armazenamento para estudos posteriores. A coleta foi realizada por pessoas da equipe da Clínica Renal e acompanhada pela pesquisadora. As amostras coletadas foram identificadas com as iniciais do nome do paciente e o número de identificação; e levadas ao HEMOAM, onde feito cadastro, como de rotina do serviço do laboratório, no sistema de banco de dados (X-Clinic) de pacientes do HEMOAM, e foram enviadas ao laboratório para processamento. O tubo sem anticoagulante foi centrifugado para obtenção de soro. O soro foi separado em três tubos de hemólise devidamente identificados com nome e data de nascimento do paciente e data da rotina do laboratório. Um tubo de hemólise foi para o laboratório de sorologia para realização dos testes (ELISA e Imunoblot), foram armazenadas duas alíquotas de 180 µl em placas de soroteca, por um período de 1 (um) ano para fins de contraprova (como de rotina do laboratório); o segundo foi armazenado para a dosagem de citocinas e o terceiro 16 foi enviada para o laboratório de Bioquímica onde foram realizados os testes das transaminases e das bilirrubinas. Após realização dos testes as amostras restantes foram desprezadas. O tubo de PPT contendo 5 mL de sangue e duas alíquotas de sangue total em EDTA foram armazenados a -70°C para estudo posterior de genotipagem. Uma alíquota contendo 3 mL de sangue total em EDTA foi utilizado para a análise celular por citometria de fluxo. O grupo controle, constituído por soronegativos para HCV ou outras infecções, e em tratamento de hemodiálise foram abordados durante a sessão de hemodiálise onde receberam esclarecimentos dos objetivos do estudo pela pesquisadora e foram convidados a assinar o termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 6.3). Foram coletados 5 mL de sangue em tubo com EDTA para a realização dos testes de citometria de fluxo e 5 mL em tubo de hemólise foi armazenado para estudos posteriores. 4.4 Diagnóstico Laboratorial Os testes de triagem para detecção de anticorpos anti-HCV foram realizados pela Clínica Renal através de teste ELISA por micropartículas 3a geração (Axysm – Abbott) e no laboratório de sorologia da Fundação HEMOAM através de teste ELISA em microplacas de 3a geração (Murex anti HCV–Versão 4.0/Abbott). Os testes complementares para detecção de anticorpos anti-HCV foram realizados no HEMOAM pela técnica de Immunoblot (CHIRON RIBA HCV 3.0 SIA). 4.4.1 Teste de triagem - ELISA O teste ELISA em microplaca se baseia na detecção de anticorpos anti-HCV utilizando-se microplacas revestidas com antígenos altamente purificados que contêm seqüências das regiões do Core, NS3, NS4 e NS5 do HCV. 17 O teste é realizado em equipamento automatizado (Genesis -Tecan/Abbott) e feito de rotina no laboratório de sorologia do HEMOAM, de acordo com as especificações do fabricante e baseia-se no adicionamento de 180 µL de diluente da amostra (tampão contendo proteínas de origem bovina e suína, contendo Bronidox ® a 0,05% e azida sódica a 0,1% como conservante), em seguida 20 µL de amostra e controles, a placa é coberta com tampa e incubada por 1 hora a 37°C, ao término deste período lava-se a placa utilizando cinco ciclos de lavagem usando solução de lavagem (solução de lavagem glicina/borato 20 vezes concentrada e como conservante Bronidox ® a 0,2%) diluída – 1:20. Após a lavagem adiciona-se 100 µL do conjugado (anticorpo monoclonal de camundongo contra IgG humana liofilizado, marcado com peroxidase de rábano em uma base de proteína bovina) em cada poço, cobre-se as cavidades com a tampa e incuba-se por mais 30 minutos a 37°C, ao final do período lava-se novamente as placas, adiciona-se 100 µL da solução de substrato (citrato trissódico, peróxido de hidrogênio, 3,3' ,5,5' - tetrametilbenzidina TMB- e estabilizantes) para o desenvolvimento da cor, cobriu-se com a tampa e incubou-se por mais 30 minutos a 37°C. Em seguida adiciona-se 50 µL de solução de parada de reação (ácido sulfúrico 0,5M), realizando a leitura em seguida em espectrofotômetro a 450 nm . O ensaio foi realizado em equipamento automatizado (Genesis - Tecan/Abbott), de acordo com as especificações do fabricante. Os resultados obtidos foram compilados em ficha de acompanhamento do paciente padronizada para este estudo (anexo 6.2). 4.4.2 Teste Complementar/confirmatório O teste complementar Immunoblot foi realizado nas amostras de pacientes reativos nos teste ELISA, este se baseia na detecção de anticorpos anti-HCV contra antígenos recombinantes representativos do Core e das regiões NS3, NS4 e NS5 do HCV. O teste é realizado em equipamento automatizado (Profblot – Tecan/Abbott) e feito de rotina no laboratório de sorologia do HEMOAM, de acordo com as especificações do fabricante. Tiras individuais de Immunoblot são transferidas para 18 tubos de análise, adicionando 1 mL de diluente de amostra (solução fisiológica tamponada com fosfato [PBS] com estabilizadores de proteína bovina e detergentes), adiciona-se 20 µl da amostra, coloca-se a tampa e inverte para misturar, coloca-se os tubos no oscilador, oscila a 16-20 ciclos/minuto por 4 horas à temperatura ambiente (15 a 30°C). Após completar o tempo, aspira todo o liquido e acrescenta-se mais 1 mL do diluente da amostra e coloca-se para oscilar por mais 30 minutos a temperatura ambiente e aspira o liquido novamente. Adiciona-se 1 mL de tampão de lavagem (solução detergente com tampão de fosfato contendo timerol como conservante) e despreza-se o liquido e as tiras no recipiente de lavagem contendo 10 mL de tampão de lavagem mexendo as tiras no recipiente de lavagem, adiciona-se mais 30 mL de tampão de lavagem e decanta o tampão, ficando as tiras retidas no recipiente de lavagem (repete-se este procedimento de lavagem duas vezes). Adiciona-se 1 mL de conjugado por tira em cada recipiente de lavagem, girase o recipiente de lavagem num agitador rotativo a 110±5 rpm por 10 minutos à temperatura ambiente. Após completar a incubação do conjugado, o mesmo é decantado e lava-se as tiras com 30 mL de tampão de lavagem (processo repetido por duas vezes), decantando o tampão. Adiciona-se 1 mL de substrato de trabalho, girando o recipiente de lavagem num agitador rotativo a 110±5 rpm por 20 minutos à temperatura ambiente. O substrato é decantado e lava-se as tiras, adicionando-se 60 mL de água destilada. Decanta-se a água e repete este passo duas vezes. Usando pinças retira-se as tiras e transfere-se para papel absorvente para eliminar o excesso de água, deixando as tiras secar por 30 minutos no escuro a temperatura ambiente. Fazendo a interpretação das tiras antes de 3 horas após o termino do teste. Os resultados obtidos foram compilados em ficha de acompanhamento do paciente padronizada para este estudo (anexo 6.2). 4.4.3 Testes bioquímicos 4.4.3.1 Aspartato aminotransferase (AST) A análise baseou-se em reações enzimáticas onde a AST catalisa a transferência do grupo amina do ácido aspártico para o cetoglutarato com formação 19 de glutamato e oxalacetato. O oxalacetato é reduzido a malato por ação da malato desidrogenase (MDH), enquanto a coenzima NADH é oxidada a NAD. O reagente de uso é colocado em contato com a amostra e incubado por 1 minuto. A redução da absorbância em 340 ou 365 nm, conseqüente à oxidação da NADH, foi monitorada fotometricamente, sendo diretamente proporcional à atividade da AST na amostra. Os ensaios foram realizados com kit da ABBOT Clinical chemistry em equipamento automatizado (Alcyon 300 – Abbott).Os resultados obtidos foram compilados em ficha de acompanhamento do paciente padronizada para este estudo (anexo 6.2). 4.4.3.2 Alanina aminotransferase (ALT) A análise baseou-se em reações enzimáticas, a ALT catalisa a transferência do grupo amina da alanina para o cetoglutarato com formação de glutamato e piruvato. O piruvato é reduzido à lactato por ação da lactato desidrogenase (LDH), enquanto a coenzima NADH é oxidada à NAD. O reagente de uso é colocado em contato com a amostra e incubado por 1 minuto. A redução da absorbância em 340 ou 365 nm, conseqüente à oxidação da NADH, foi monitorada fotometricamente, sendo diretamente proporcional à atividade da ALT na amostra. Os ensaios foram realizados com kit da ABBOT Clinical chemistry em equipamento automatizado (Alcyon 300 – Abbott). Os resultados obtidos foram compilados em ficha de acompanhamento do paciente padronizada para este estudo (anexo 6.2). 4.4.3.3 Bilirrubina Bilirrubina direta - O método usado para testar a bilirrubina está baseada na reação entre a bilirrubina e as soluções ácidas de sulfanílico diazotizadas. Em soluções aquosas, somente a bilirrubina direta reage desta maneira. A bilirrubina conjugada reage com o ácido sulfanílico diazotizado para produzir um ácido azobilirrubina cuja absorbância é proporcional à concentração da bilirrubina direta na amostra e pode ser medida a 550 nm. ● Bilirrubina total - A forma não conjugada está firmemente limitada à albumina, este complexo bilirrubina-albumina não é solúvel em água e portanto exige um 20 acelerador, ou um agente solvente, para remover a bilirrubina da albumina para que reaja com o ácido sulfanílico diazotizado. O método da bilirrubina total usa o surfactante como um solubilizante. O nitrito de sódio é adicionado ao ácido sulfanílico para formar o ácido sulfanilico diazotizado. A bilirrubina reage com o ácido sulfanílico diazotizado para produzir a azobilirrubina, cuja absorbância é proporcional à concentração da bilirrubina na amostra, e pode ser medida 550 nm. A bilirrubina total usa um método de surfactante. Os ensaios foram realizados com o kit Labtest (constituído por reagente acelerador – cafeína 130mmol/L, benzoato de sódio 260 mmol/L, acetato de sódio 460mmol/L e surfactante – ácido sulfanílico 5,75 mmol/L e diazo reagente – 1 gota de nitrito de sódio 72,5 mmol/L e 1,5 mL do ácido sulfanílico) em equipamento automatizado (Alcyon 300 – Abbott). Os resultados obtidos foram compilados em ficha de acompanhamento do paciente padronizada para este estudo (anexo 6.2). 4.4.4 Análise da expressão de moléculas de superfície através da citometria de fluxo. Amostra de 50 µL de sangue venoso coletada com EDTA foram incubadas com anticorpos monoclonais por 20 minutos à temperatura ambiente e ao abrigo da luz. Os marcadores de superfície celulares avaliados: anti-CD8 (code MHCD0801, lote 08090506, marca CALTAG) e anti-CD69 (code MHCD6901, lote 04120906, marca CALTAG) marcados com isotiocianato de fluoresceína (FITC) , anti-CD4 (code MHCD0404, lote 23031206, marca CALTAG) marcados com ficoeritrina (PE) e anti-CD3 (code MHCD0306, lote 60010708, marca CALTAG) marcado com terceira cor, foram colocados no fundo dos tubos. Após a marcação dos glóbulos brancos, as hemácias presentes foram lisadas com 2 mL de Solução de lise. Em seguida lavadas com 2mL de PBS (solução fisiológica tamponada com fosfato) e centrifugadas por 7 minutos, a 1300 rotações por minuto. Posteriormente desprezouse o sobrenadante por inversão e adicionou-se 300 µL de PBS a 1% de formaldeído. A leitura foi realizada no laboratório de Citometria de Fluxo do HEMOAM, no citômetro de fluxo FACScalibur com sistema de detecção de quatro cores (Becton Dickinson). 21 A identificação das populações celulares de interesse foi realizada utilizandose o programa Cell-Quest. Primeiro identificou-se a população de linfócitos, neutrófilos, monócitos e eosinófilos, utilizando gráficos “dot plot” onde a população de interesse ocupa uma região característica após ajustes de ganhos de seu tamanho (FSC) e granulosidade (SSC), (FIG. 1A). Após a seleção da região de interesse, analisou-se a intensidade de fluorescência apresentada pelas células marcadas nesta região, através de histograma de fluorescência 1 (FL1) versus fluorescência 2 (FL2) (FIG. 1B). Após a definição das regiões, o percentual de células positivas foi determinado utilizando-se de um histograma simples de análise da região. Os resultados obtidos foram anexados na ficha de acompanhamento do paciente padronizada para este estudo (anexo 6.2). (A) (B) R2 Figura 01: Seqüência de procedimentos utilizados para as análises dos percentuais de populações celulares por citometria de fluxo. (A) Gráficos Dot plot FSC x SSC são utilizados para seleção da população linfocitária – R2. (B) Histograma; FL1 x FL2 são utilizados para avaliar parâmetros de interesse em populações celulares específicas. 22 4.5 Análises e interpretação dos dados As ferramentas estatísticas utilizadas neste estudo foram do tipo descritiva e inferêncial. Os resultados obtidos estão representados em tabelas e gráficos de distribuição de freqüência, e para as análises inferênciais utilizamos o teste t de student (dados paramétricos) ou Man-Whitney (não-paramétricos) para se fazer as devidas comparações entre médias das variáveis estudadas, empregou-se intervalo de confiança de 95% nos testes estatísticos. Foi também utilizada a correlação de Pearson, para verificar a relação entre as duas variáveis quantitativas. Os dados foram armazenados e analisados através do programa Epiinfo (Versão 3.3.2, 2005). 23 5 RESULTADOS 5.1 Soroprevalência de HCV em pacientes em tratamento de hemodiálise. O estudo de soroprevalência em pacientes hemodialisados ocorreu na Clínica Renal de Manaus no período de março de 2006 a janeiro de 2007. Como mostra a figura 02, havia 402 pacientes em tratamento de hemodiálise destes 62 apresentaram reatividade nos testes sorológicos para HCV, demonstrando uma soroprevalência de 15,17% (FIGURA 02). A tabela 01 mostra a distribuição por sexo em relação a média de idade dos 55 pacientes HCV positivos que aceitaram participar do estudo, observamos que 54,5% (n=30) eram homens com idade média de 50,13±14,90 (anos) e 45,5% (n=25) eram mulheres com idade média 48,16±17,50; não mostrando diferença estatística significante. Pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise (%) 84,83% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 15,17% 30% 20% 10% 0% HCV negativos HCV positivos Figura 02: Percentual de pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise na Clínica Renal de Manaus. Pacientes renais não reativos para o Vírus da hepatite C (HCV) [ 84.83% (n=340) e reativos para HCV [ ] ] 15,17% (n=62). Para a análise da reatividade para HCV foram utilizados os testes ELISA e Immunoblot. 24 Tabela 01 - Dados demográficos de pacientes renais crônicos infectados com o Vírus da hepatite C. Sexo Número % Idade média±DP Mediana Masculino 30 54,5 50,13±14,90* 48 Feminino 25 45,5 48,16±17,50* 47 Teste T de student ; p=0,6533 5.2 Análise de soroconversão para HCV em pacientes renais crônicos. Após o estudo da soroprevalência analisamos o percentual de soroconversão para o HCV durante o tratamento de hemodiálise. A figura 03 (A) mostra que dos 62 pacientes renais crônicos HCV positivos, 21,82% (n=12) iniciaram o tratamento de hemodiálise com reatividade ao HCV e 78,18% (n=43) soroconverteram durante o tratamento. O número de pacientes que soroconverteram foi distribuído em intervalos a cada 2 anos. Observamos que 9,30% (n=4) dos pacientes soroconverteram com um período inferior a 2 anos de tratamento, 13,95% (n=6) dos pacientes entre 2 e 4 anos, 18,60% (n=8) entre 4 e 6 anos, 16,28% (n=7) de 6 e 8 anos, 25,58% (n=11) entre 8 e 10 anos, 11,64% (n=5) entre 10 e 12 anos e 4,65% (n=2) com mais de 12 anos de tratamento (FIGURA 03 B). 25 (A) 78,18% Soropositividade anti-HCV em pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise (%) 80% 70% 60% 50% 40% 21,82% 30% 20% 10% 0% HCV positivo HCV negativo Sorologia inicial (B) 30% Pacientes que soroconverteram (%) 25,58% 25% 18,60% 20% 16,28% 13,95% 15% 11,64% 9,30% 10% 4,65% 5% 0% <2 2a4 4a6 6a8 8 a 10 10 a 12 12 a 14 Tempo de hemodiálise até a soroconversão (anos) Figura 03: Análise do percentual e distribuição por tempo de soroconversão de pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise. (A) Percentual de pacientes HCV positivos 21,82% (n=12) e HCV negativos 78,18% (n=43) antes de iniciarem o tratamento de hemodiálise. (B) Percentual de pacientes que soroconverteram para HCV ao longo do período (anos) de tratamento de hemodiálise. O percentual de pacientes foi distribuído em intervalos a cada 2 anos. 26 5.3 Relação densidade óptica e ponto de corte para reatividade ao HCV pelo teste ELISA. As amostras foram testadas pelo método ELISA obtendo os valores da densidade óptica (DO) e ponto de corte (Cut off). A análise demonstrou que 1,89% (n=1) dos pacientes tiveram relação DO/Cut off no teste ELISA para HCV menor que 3. Enquanto que 3,78% (n=2) entre 3 e 5 e 94,33% (n=50) dos pacientes apresentaram valores superior a 5 como podemos observar na tabela 2. Tabela 02: Análise do percentual em relação a DO/Cut off do teste ELISA de pacientes reativos para o Vírus da hepatite C (HCV). Observou-se que 94,33% dos pacientes encontram-se com relação DO/cut off >5,0 (n=50 pacientes), 3,78% (n=2) entre 3 e 5 e apenas 1,89% (n=1) inferior a 3. Relação DO/Cut off do Teste ELISA Pacientes RC HCV reativos (%) <3 3a5 >5 1,89 3,78 94,33 27 5.4 Análise da distribuição das bandas de proteínas no Immunoblot. Como de rotina do laboratório de sorologia, as amostras reativas e indeterminadas foram submetidas ao teste complementar Immunoblot. Todas as amostras submetidas ao teste confirmaram ser reativas para o HCV. Através da tabela 03 pode-se observar a distribuição das bandas de proteínas presentes no teste, a banda c100 esteve presente em 81% dos soros dos pacientes, c33c em 100%, c22(p) em 88,68% e 56,60% apresentaram a banda NS5. Tabela 03: Perfil de bandas de proteínas do teste complementar Imunoblot em pacientes renais crônicos infectados com o Vírus da hepatite C. Em 100% dos pacientes observou-se à proteína c33c, 88,68% observou-se a proteína c22(p), seguida da c100 com 81% e NS5 com 56,60%. Bandas de proteínas do teste complementar Immunoblot Pacientes HCV+ (%) c100 (NS4) c33c (NS3) c22(p) (core) NS5 81 100 88,68 56,60 28 5.5 Análise bioquímica de alanina aminotranferase (ALT). Para análise bioquímica dos níveis de alanina aminotransferase (ALT) foi feita uma comparação entre os pacientes renais crônicos HCV negativos (n=53), que foram selecionados aleatoriamente, e HCV positivos (n=51) em tratamento de hemodiálise. Como mostra a figura 4 e tabela 4, não foi observada diferença estatística significativa entre os grupos. O método estatístico utilizado foi o teste T de student. Níveis de alanina minotransferase (U/I) 140 120 100 80 60 40 20 0 HCV negativos HCV positivos Figura 04: Comparação nos níveis de Alanina aminotransferase (ALT) nos pacientes renais crônicos HCV negativo (n= 53 pacientes) e HCV positivo (n=51 pacientes). Não se observou diferença estatística significante entre os dois grupos (p=0,639). Método estatístico utilizado – teste T de student. Tabela 04: Níveis de alanina aminotransferase (ALT) em pacientes renais crônicos. GRUPO VARIÁVEL ALT HCV negativo Média DP 24,11 23,93 * Teste estatístico T student HCV positivo Valor p* Mediana Média DP Mediana 17,00 26,13 19,63 19,00 0,6390 29 5.6 Percentual de pacientes HCV positivos co-infectados. Dentre os pacientes HCV positivos estudados (n=55), 60% (n=33) eram infectados somente com HCV, o restante 40% apresentaram-se HCV positivo com co-infecção para outras patologias como demonstrado na tabela 05 - 36,36% (n=20) apresentaram-se HCV+/HBV+, 1,82% (n=1) HCV+/HBV+/HIV+ e 1,82% (n=1) foram positivos para HCV/HBV e HTLV. Tabela 05: Freqüência de co-infecções virais (HCV, HBV, HIV e HTLV) em pacientes renais crônicos. Infecção presente nos pacientes Pacientes RC (%) HCV HCV + HBV HCV + HBV + HIV HCV + HBV +HTLV 60 36,36 1,82 1,82 30 5. 7 Análise de populações e sub-populações de leucócitos em sangue periférico. Na figura 05 mostramos a análise do perfil celular (populações e subpopulações de leucócitos) através do hemograma obtido por método automatizado (PENTRA). Foi feita análise de 54 pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise com sorologia negativa para o Vírus da hepatite C e 51 pacientes com sorologia positiva para o HCV, amostra de um paciente HCV negativo e 4 pacientes HCV positivos tiveram de ser excluídas por problemas durante o processamento. Comparando o número de leucócitos totais entre os grupos de pacientes, observamos uma diferença estatisticamente significante, os pacientes HCV positivos apresentaram menor número de leucócitos que os HCV negativos (FIG 5 A). Ao compararmos o percentual de linfócitos observamos um maior percentual nos pacientes HCV positivos em relação aos HCV negativos, sendo esta diferença estatisticamente significante (p<0,001) (FIG 5 B). As médias percentuais de monócitos (FIG 5 C) e eosinófilos (FIG 5 D) não demonstraram diferença estatística significante quando analisado comparativamente entre os grupos. A figura 5 E apresenta o percentual de neutrófilos no sangue periférico, quando comparamos os dois grupos pelo teste de Mann-Whitney obtivemos um percentual mais baixo de neutrófilos nos pacientes renais crônicos HCV positivo, demonstrando uma diferença estatística significante. As medianas estão representadas como linhas horizontais nos gráficos e a análise estatística descritiva está na tabela 06. 31 Leucócitos totais [10³/mm³] (A) * 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 HCV negativos * (B) HCV positivos (C) 20 Monócitos (%) 60 Linfócitos (%) 50 40 30 20 15 10 5 10 0 HCV negativos (D) (E) Neutrófilos (%) Eosinófilos (%) 30 20 10 0 0 HCV positivos HCV negativos HCV positivos 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 HCV negativos HCV positivos * HCV negativos HCV positivos Figura 05: Percentual de leucócitos totais e sub-populações de células circulantes no sangue periférico de pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise com sorologia negativa para o Vírus da hepatite C - HCV negativos - (n=54 pacientes) e com sorologia positiva – HCV positivo – (n=51 pacientes). A população total de leucócitos e as subpopulações celulares (linfócitos, monócitos, eosinófilos e neutrófilos) foram avaliados através do hemograma obtido por método automatizado (PENTRA). (*) Diferença estatística significante. 32 Tabela 06: Perfil de sub-populações de leucócitos do sangue periférico de pacientes renais crônicos. GRUPO VARIÁVEIS 1 Leucócitos DP Média DP Mediana Valor p 6,0 5,00 1,26 5,10 0,0002* Linfócitos 18,58 6,18 18,9 28,79 13,22 28,3 <0,001* Monócitos 8,93 3,07 8,20 8,01 3,25 7,70 0,1412 Eosinófilos 6,32 4,51 5,30 6,50 6,93 3,80 0,2231 65,82 9,72 66,15 50,33 13,70 49,50 <0,001* 2 1 Neutrófilos Teste estatístico Mann-Whitney Teste estatístico T student * Diferença estatística significante 2 Mediana 1,68 1 1 Média HCV positivo 6,16 totais 1 HCV negativo 33 5.8 Análise da população de linfócitos por citometria de fluxo. Na figura 6 demonstramos a análise da freqüência de populações de linfócitos TCD3+/CD4+ (FIG 6 A) e LTCD3+/CD8+ (FIG 6 B) no sangue periférico de pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise com sorologia negativa para o Vírus da hepatite C (n=54 pacientes) e com sorologia positiva (n=51 pacientes). As populações celulares foram identificadas utilizando-se anticorpos monoclonais anti-CD3, anti-CD4 e anti-CD8 marcados com fluorocromos distintos (terceira cor, PE e FITC, respectivamente). A Figura 6 A mostra que os pacientes HCV positivos apresentaram um percentual de linfócitos T CD4+ maior que os pacientes HCV negativos, a média destas células foi de 40,14±9,28% e 34,37±10,43%, respectivamente. Quando comparamos os dois grupos pelo teste T de student encontramos uma diferença estatística significante, para que possamos rejeitar a hipótese nula de que os grupos são iguais. Ao analisarmos através do teste T de student as médias percentuais de linfócitos T CD8+ nos grupos RC HCV negativos (23,08±9,91) e RC HCV positivos (25,91±9,33), observamos que não houve diferença estatística significante entre os grupos (FIG 6 B). As medianas estão mostradas como barras horizontais nos gráficos e a análise estatística descritiva está representada na tabela 07. 34 * (B) 70 60 50 40 30 20 10 0 60 LTCD3+/CD8+ (%) LTCD3+/CD4+ (%) (A) HCV negativos 50 40 30 20 10 0 HCV positivos HCV negativos HCV positivos Figura 06: Percentual de linfócitos LTCD3+/CD4+ (A) e LTCD3+/CD8+ (B) no sangue periférico de pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise com sorologia negativa para o Vírus da hepatite C - HCV negativos - (n=54 pacientes) e com sorologia positiva – HCV positivo – (n=51 pacientes). As populações celulares foram identificadas utilizando-se anticorpos monoclonais anti-CD3, anti-CD4 e anti-CD8 marcados com fluorocromos distintos (terceira cor, PE, FITC, respectivamente). (*) Diferença estatística significante. Tabela 07: Perfil fenótipico de linfócitos do sangue periférico de pacientes renais crônicos. GRUPO VARIÁVEIS HCV negativo Média Mediana Média DP Mediana + + 34,37 10,43 35,73 40,14 9,28 39,16 0,0036* + + 23,08 9,91 20,86 25,91 9,33 23,31 0,1364 LTCD3 /CD4 LTCD3 /CD8 1 DP Valor p1 HCV positivo Teste estatístico T student * Diferença estatística significante. 35 5.9 Análise da sub-população de leucócitos por citometria de fluxo. Na figura 07 demonstramos a análise da sub-população de leucócitos no sangue periférico de pacientes renais HCV positivos. Foram feitas análises de 54 pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise com sorologia negativa para o Vírus da hepatite C e 51 pacientes com sorologia positiva para o HCV. As populações celulares foram identificadas utilizando-se anticorpo monoclonal antiCD69, marcado com FITC. As médias percentuais de linfócitos CD69+ (FIG 7 A) e monócitos CD69+ (FIG 7 B) não demonstraram diferença estatística significante. A figura 6C apresenta o percentual de neutrófilos CD69+, ao compararmos os grupos pelo teste de Mann-Whitney obtivemos um percentual mais alto de neutrófilos ativados nos pacientes renais crônicos HCV positivo, demonstrando uma diferença estatística significante (p<0,001), comparando o percentual de eosinófilos CD69+ através do teste T de student observamos um maior percentual de eosinófilos ativados nos pacientes HCV positivos em relação aos HCV negativos, sendo esta diferença estatisticamente significante (p=0,0088) (FIG 7 D). As medianas estão representadas como linhas horizontais nos gráficos e a análise estatística descritiva está na tabela 08. 36 Neutrófilos CD69 + (%) Monócitos CD69 + (%) 20 15 10 5 0 (C) (B) 25 HCV negativos (D) * 12 10 8 6 4 2 0 HCV negativos 12.5 10.0 7.5 5.0 2.5 0.0 HCV positivos Eosinófilos CD69 + (%) Linfócitos CD69+ (%) (A) HCV positivos * 15 10 5 0 HCV positivos HCV negativos HCV negativos HCV positivos Figura 07: Percentual da sub-população de leucócitos ativados - linfócitos CD69+ (A), monócitos CD69+ (B), neutrófilos CD69+ (C) e eosinófilos CD69+ (D) no sangue periférico de pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise com sorologia negativa para o Vírus da hepatite C - HCV negativos - (n=54 pacientes) e com sorologia positiva – HCV positivo – (n=51 pacientes). As sub-populações de leucócitos foram identificadas utilizandose anticorpo monoclonal anti-CD69 marcado com fluorocromo (FITC). (*) Diferença estatística significante. Tabela 08: Análise estatística descritiva do percentual de sub-populações de leucócitos ativados . GRUPO VARIÁVEIS RC HCV negativo Média DP 5,34 3,00 4,59 5,38 2,70 4,82 0,9336 1 Monócitos CD69+ 2,88 1,15 2,86 2,81 1,92 2,60 0,1661 1 + Neutrófilos CD69 0,93 0,39 0,89 2,87 2,19 2,33 <0,001* Eosinófilos CD69+ 1,45 1,34 1,12 2,33 2,70 1,56 0,0088* 1 Linfócitos CD69 1 Teste estatístico Mann-Whitney Teste estatístico T student * Diferença estatística significante 2 Média DP Valor p + 2 Mediana RC HCV positivo Mediana 37 5.10 Análise da correlação 5.10.1 Correlação da população de linfócitos T CD4+ com linfócitos T CD8+ Ao correlacionarmos a população de linfócitos T CD3+/CD4+ (eixo horizontal da figura) com a população de linfócitos T CD3+/CD8+ (eixo vertical) utilizando a correlação de Spearman observamos ausência de correlação no grupo HCV positivo em tratamento de hemodiálise (r=-0,060 e p=0,6735) (Figura 08). 70 LTCD3+ /CD8+ (%) 60 50 40 30 20 10 0 0 20 40 + 60 80 + LTCD3 /CD4 (%) Figura 08: Correlação de Spearman entre as populações de linfócitos T CD4+ e linfócitos T CD8+ no grupo HCV positivo em tratamento de hemodiálise. Números de pares XY = 51, r= 0,060 e p=0,6735, não há correlação entre as populações. 38 5.10.2 Correlação da população de linfócitos CD69+ com : • Linfócitos T CD4+ Ao realizarmos a correlação de Spearman entre as populações de linfócitos CD69+, isto é, uma população ativada, e linfócitos T CD4+, não observamos correlação no grupo HCV positivo em hemodiálise (r=-0,2406 e p=0,0889), porem observamos que quanto maior a população de linfócitos T CD4+ menor a de linfócitos CD69+ (figura 09). 16 14 Linf CD69+ (%) 12 10 8 6 4 2 0 0 20 40 60 80 LTCD3+/CD4+ (%) Figura 09: Correlação de Spearman entre as populações de linfócitos CD69+ e linfócitos CD4+ do grupo HCV positivo em hemodiálise. Números de pares XY = 51, r=-0,2406 e p=0,0889. 39 • Linfócitos T CD8+ Ainda no estudo da população de linfócitos CD69+ (eixo vertical), mas agora com uma população de linfócitos T CD8+(eixo horizontal), pela correlação de Spearman, não observamos correlação entre as populações ao estudarmos o grupo de pacientes hemodialisados infectados pelo HCV (r=0,0133 e p=0,9259). 16 14 Linf CD69+ (%) 12 10 8 6 4 2 0 0 10 20 30 40 50 60 70 LTCD3+/CD8+ (%) Figura 10: Correlação de Spearman entre as populações de linfócitos CD69+ e linfócitos CD8+ do grupo HCV positivo em hemodiálise. Números de pares XY = 51, r=0,0133 e p=0,9259. 40 5.10.3 Correlação da alanina aminotransferase com : • Linfócitos T CD4+ Através correlação de Spearman correlacionarmos os níveis de alanina aminotransferase (ALT) (eixo vertical) com a população de linfócitos T CD4+ (eixo horizontal da figura) do grupo HCV positivo em hemodiálise, não encontramos correlação entre os níveis de ALT e os LTCD4+ (r=-0,0154 e p=0,9142) (figura 11). 140 120 ALT (U/I) 100 80 60 40 20 0 0 20 40 + 60 80 + LTCD3 /CD4 (%) Figura 11: Correlação de Spearman entre os níveis de alanina aminotransferase e as populações de linfócitos T CD4+ no grupo HCV positivo em tratamento de hemodiálise. Números de pares XY = 51, r=-0,0154 e p=0,9142, não houve correlação entre as populações. 41 • Linfócitos T CD8+ Ainda no estudo dos níveis de ALT (eixo vertical) mas agora com uma população de linfócitos T CD8+ (eixo horizontal), pela correlação de Spearman, não observamos correlação entre os níveis de ALT e a população de linfócitos T CD8+ ao estudarmos o grupo de pacientes hemodialisados infectados pelo HCV (r=0,0905 e p=0,5275) (FigurA 12). 140 120 ALT (U/I) 100 80 60 40 20 0 0 20 40 60 80 LTCD3+/CD8+ (%) Figura 12: Correlação de Spearman entre os níveis de alanina aminotransferase e as populações de linfócitos T CD8+ no grupo HCV positivo em tratamento de hemodiálise. Números de pares XY = 51, r=0,0905 e p=0,5275, não há correlação entre as populações. 42 6 DISCUSSÃO Nos últimos anos a estimativa de infecção pelo HCV foi de 180 milhões de pessoas infectadas em todo o Mundo, se tornando um grande problema de saúde pública. Os pacientes em tratamento de hemodiálise são considerados de alto risco para a infecção pelo HCV. A prevalência desta infecção varia de região para região em todo o Mundo, de 71% (DEVESA et al, 1997) a 3% (OLUT et al, 2005). No presente estudo a soroprevalência encontrada na Clínica Renal de Manaus foi de 15,17%. Esses dados estão de acordo com os encontrados por Moreira e colaboradores (2003) em um estudo realizado em São Paulo (14,6%). No entanto a prevalência encontrada em nosso trabalho pode ser considerada baixa quando comparada aos relatados em outras regiões do Brasil, como por exemplo, em Fortaleza - CE de 52% (Medeiros et al, 2004), Curitiba - PR 39,2% (Carvalho et al, 1999), Goiânia - GO 46,7% (Carneiro et al, 2001), Belo Horizonte - MG 20% (Busek et al, 2002) e Porto Alegre - RS 29,1% (Gomes et al, 2006) e alta quando comparada a estudos realizados, por Albuquerque e colaboradores (2005) demonstrando uma prevalência de 8,4% em Recife, 10,5% em Salvador-BA por Silva e colaboradores (2006) e na cidade de Araguaína-TO onde Souza e colaboradores (2003) demonstraram uma prevalência de 13%. Isto demonstra que o HCV é um problema significante nas unidades de diálises em todo o Brasil. Os dados da literatura sobre soroconversão em pacientes em tratamento de hemodiálise são escassos. Em nosso estudo encontramos que 78,18% dos pacientes HCV positivos em hemodiálise soroconverteram após o inicio do tratamento. Quando analisamos o tempo de soroconversão observamos que a maioria ocorre após 5 anos de tratamento. Estes dados corroboram os demonstrados por Gomes e colaboradores (2006) no estudo realizado em Porto Alegre-RS e Olut e colaboradores (2005) em Izmir-Turquia. Desta forma podemos sugerir que o tempo de exposição ao tratamento hemodialítico contribui para transmissão do HCV na população de pacientes hemodialisados. Segundo 43 Medeiros e colaboradores (2004) uma das causas de soroconversão seriam as freqüentes transfusões sanguíneas a que estes pacientes são submetidos. No entanto, esta não parece ser uma via constante de infecção, uma vez que existe grande controle na qualidade de sangue em unidades transfusionais. A introdução de triagem para o anti-HCV nos bancos de sangue, instituída pelo Ministério da Saúde, pela Portaria n° 1376 de 19 de novembro de 1993, trouxe perspectivas no sentido de se reduzir a transmissão do HCV por transfusão através de um melhor controle dos doadores de sangue. Conforme os dados da literatura, a prevalência em doadores de sangue, segundo Torres e colaboradores (2001) é de 0,6% em Manaus. Sendo também a transfusão restringida ao mínimo com o uso da eritropoetina recombinante como terapia substitutiva em pacientes em hemodiálise (MEDEIROS et al, 2004). O diagnóstico da infecção por HCV é baseado em duas categorias de testes laboratoriais, testes sorológicos que detectam anticorpos específicos para o HCV através do ensaio ELISA, e aqueles que podem detectar, quantificar ou caracterizar os componentes de partículas virais do HCV através do imunoblot ou pela presença de RNA viral (LAPERCHE et al, 2005). O teste ELISA se baseia na relação de densidade ótica (DO) e o ponto de corte (cut off) que determina se o paciente é soropositivo. A análise da DO/Cut off em nosso estudo mostrou que 94,33% dos pacientes HCV positivos em hemodiálise apresentaram valores superiores a 5, demonstrando uma alta reatividade para o HCV e sugerindo a presença de grande quantidade de anticorpos contra este antígeno nestes soros. A avaliação da presença de anticorpos contra as frações das proteínas do HCV, através do imunoblot (CHIRON RIBA 3.0 HCV), também foi de interesse neste estudo. Nossos resultados demonstraram 81% de positividade para a fração c-100 (NS4), 100% para c33c (NS3), 88,68% para c22(p) (core). No entanto, obtivemos uma baixa reatividade para a fração NS5 (56,60%). Os valores determinados neste trabalho foram semelhantes aos encontrados por Santana e colaboradores (2001) em Salvador-BA relatando reatividade de 79,8%, 100%, 80,9% e 52,1% para as frações c100, c33, c22 e NS5, respectivamente. 44 A baixa freqüência de positividade para a fração NS5, foi também observada em estudo realizado em Taiwan em 1993 por Huang e colaboradores, detectando anticorpo para esta região em apenas 40% dos indivíduos positivos. Sendo assim, sugerimos que a menor positividade do anticorpo contra a fração NS5, encontrada na população estudada pode estar vinculada a alterações na resposta imune. Segundo relatos de Santana e colaboradores (2001) isto ocorre por deficiência imunológica ou mesmo à heterogeneidade genotípica do vírus. Dados da literatura demonstram que uma das formas de avaliar a evolução da hepatite C, em pacientes infectados pelo vírus, seria através da análise bioquímica das aminotransferases, como a alanina aminotransferase (ALT) (OLUT et al 2005; GOUVEIA et al, 2004), o que nos levou a analisar as possíveis alterações desta enzima. Como parâmetro de análise comparamos o perfil bioquímico de ALT de pacientes infectados com HCV em hemodiálise com pacientes em hemodiálise não infectados. Como podemos observar na figura 04 não houve diferença estatisticamente significativa entre os níveis de ALT entre os dois grupos. Apesar de alguns trabalhos sugerirem a utilização da dosagem de ALT para o acompanhamento da evolução clínica da doença, este fato se mantém controverso entre os pacientes renais crônicos. Alguns autores relatam que níveis alterados de ALT são pouco encontrados nos pacientes HCV positivos em hemodiálise (Gouveia et al, 2004), sugerindo que a ALT não seja preditora de lesão hepatocelular nestes pacientes. Em outro estudo realizado por Cotler e colaboradores (2002), revisto por Gouveia e colaboradores 2004, foram observados níveis inferiores de ALT, assim como menor atividade inflamatória e menor proporção à cirrose, nos pacientes HCV positivos em hemodiálise quando comparados com indivíduos com infecção pelo HCV, com função renal normal. Dados encontrados por Dussol e colaboradores (1993) revisto por Santana e colaboradores (2001) demonstraram a ausência de associação entre elevação de ALT e viremia pelo HCV em pacientes renais crônicos. Os autores concluíram que a infecção crônica pelo HCV é clinicamente latente e lesões hepáticas ocorrem sem qualquer elevação de ALT. O motivo da baixa atividade enzimática não está esclarecido (SANTANA et al, 2001). Entre as teorias propostas estão: inibição enzimática das aminotransferases por toxinas urêmicas, deficiência de piridoxina (cofator da aminotransferase), perda das enzimas na 45 diálise, interferência de outras substâncias dialisáveis na dosagem da atividade enzimática das transaminases e consumo pelo lactato de fatores necessários para dosagem da atividade das transaminases (SANTANA et al, 2001). Outro dado importante encontrado na literatura se refere a episódios esporádicos de aumento nos níveis de ALT, predominando os valores normais (OLUT et al, 2005; GOUVEIA et al, 2004). O que nos leva a pensar que seria necessário um acompanhamento dos níveis desta enzima por um período maior de tempo. Embora a elevação de ALT possa estar associada com infecção pelo HCV, os níveis de aminotransferases parecem ser mais baixos nos pacientes em hemodiálise do que na população em geral. Portanto, em nosso estudo realizamos uma análise pontual. Desta forma podemos sugerir que a taxa de ALT não deve ser utilizada na triagem ou diagnóstico da infecção, como marcador para avaliar a evolução clínica da hepatite C nos pacientes com IRC em hemodiálise pela sua baixa sensibilidade. Também avaliamos os níveis de aspartato aminotransferase e das bilirrubinas (direta, indireta e total), mas esta análise não demonstrou alteração nos níveis bioquímicos (dados não mostrados). Outro objetivo avaliado em nosso estudo foi à presença de co-infecção nos pacientes HCV positivos com outras doenças de transmissão parenteral (HBV, HIV e HTLV). Nossos dados mostraram que 60% eram infectados somente com HCV, 36,36% eram HCV+/HBV+, 1,82% HCV+/HBV+/HIV+ e 1,82% foram positivos para HCV/HBV e HTLV. Comparando os nossos dados de co-infecção HCV+/HBV+ com os encontrados na literatura observamos que não se trata de um evento raro, e segundo Souza e colaboradores (2003) valor entre 5% e 62,7% tem sido observado em outras clínicas de hemodiálise. Segundo Devesa e colaboradores (1997), o HBV reduz a reatividade do anticorpo para c33 e c100 do HCV, sugerindo que o HBV aumenta a imunossupressão. Em nossas análises encontramos entre os co- infectados um paciente com marcadores para HCV/HBV e HIV, o qual era homossexual e tinha realizado transplante renal, semelhante ao encontrado por Vardinon e colaboradores (1999) que relatou a presença de um paciente HIV positivo em hemodiálise que tinha historia de transplante renal. Pacientes que apresentam marcadores para HIV são transferidos de tratamento e passam a realizar diálise peritoneal ambulatorial contínua (CAPD). Segundo a Resolução 46 n°154 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, determina que os pacientes hemodialisados devem ser triados a cada três meses para anti-HCV e anti-HBC total e uma vez ao ano para HIV, para prevenir a transmissão nosocomial. Ao consultar a literatura observamos que a co-infecção com HIV e Vírus da hepatite C está associada com perda da resposta imune eficiente, progressão mais rápida da hepatite C, aumento nos níveis de RNA viral, diminuição da atividade de linfócitos T CD8+ HCV específico e diminuição na contagem de linfócitos T CD4+ (NETSKI et al, 2007). Outro relato importante da literatura mostra que pacientes coinfectados com HCV e HIV tem risco maior de progredir para doença hepática crônica (cirrosse ou carcinoma) que os infectados somente por HCV (MENDESCORRÊA et al, 2001). O resultado da infecção viral é determinado pela interação entre o vírus e a resposta imune do hospedeiro, sendo que esta representa um importante papel no controle viral assim como na patogênese da doença. À medida que a infecção viral progride, essas respostas imunes específicas são ativadas, com o aparecimento de linfócitos T helper (LTh CD4+), anticorpos secretados por linfócitos B (LB) e a expansão de clones de linfócitos T citotóxicos (LTc CD8+) (KAPLAN et al, 2007). Linfócitos TCD4+ reconhecem antígenos apresentados através de moléculas MHC classe II presentes nas APCs e células TCD8+ em MHC classe I (NEUMANNHAEFELIN et al, 2005). Subseqüentemente, linfócitos TCD4+ desempenham múltiplas funções efetoras, incluindo ativação direta de macrófagos e linfócitos B antígenos específicos, assim como ativação de linfócitos TCD8+ dependente de citocinas (NEUMANN-HAEFELIN et al, 2005) e estas células têm efeito direto na eliminação de células infectadas através de mecanismos citolíticos e não citolíticos (KAPLAN et al, 2007). Para determinarmos o perfil da resposta imune celular em pacientes renais crônicos infectados pelo Vírus da hepatite C, analisamos o percentual de leucócitos totais e suas sub-populações. Nossos dados demonstraram aumento significativo do número de linfócitos (28,79±13.22) e redução de neutrófilos (50.33±13.70), quando 47 comparado aos pacientes controles. No entanto, não observamos alterações significativas em relação às demais sub-populações de leucócitos (monócitos e eosinófilos). Através da análise por citometria de fluxo, fenotipamos as sub-populações de linfócitos T, através de marcadores específicos para as moléculas CD4/CD8 e CD3. Comparado ao grupo de pacientes controles (HCV negativos) observamos aumento significativo no percentual de linfócitos T CD3+/CD4+ em sangue periférico. Os valores por nós encontrados em relação a estas células (40.14±9.28) em pacientes HCV positivos foram semelhantes aos relatados na literatura. Tran e colaboradores (1997) encontraram 48,3±6,8 de LT CD3+/CD4+, em pacientes com hepatite C crônica. Porém, estes autores não estudaram pacientes HCV positivos em tratamento de hemodiálise, o que difere parcialmente do nosso estudo. O aumento no número destas células nesta população de pacientes é um fato interessante, uma vez que uma forte resposta por células Th1 CD4+ específica está associada com “clearance” viral e resolução da doença (ROSEN et al, 2002). Quando avaliamos o percentual de LT CD3+/CD8+, observamos que não houve diferença estatística significante entre os grupos. Ao realizarmos a correlação de Spearman entre as populações de linfócitos T CD4+ com linfócitos T CD8+ não observamos correlações destas populações celulares no grupo HCV positivo em hemodiálise. Dados da literatura relatam que pacientes em hemodiálise com uso de eritropoetina aumenta a intensidade de apoptose nos linfócitos T CD8+, mas dificilmente exerce algum efeito prejudicial em linfócitos T CD4+ (TRZONKONWSKI et al, 2005). Um mecanismo pelo qual pode-se avaliar a resposta imune ativada é através do marcador de ativação CD69, uma molécula transmembrana tipo II, pertencente a família das lecitinas e dependentes de cálcio (TRAN et al, 1997). Quando analisamos a expressão desta proteína nas diferentes populações de leucócitos, observamos que não houve relevância estatística entre linfócitos e monócitos dos pacientes renais crônicos HCV negativos em relação aos HCV positivos. Apesar de ser uma forma subjetiva de análise da resposta imune especifica, podemos inferir 48 que parece não haver ativação celular desencadeada pela infecção do HCV. Este dado nos surpreendeu uma vez que como citado anteriormente, observamos um aumento na população de LTCD4+ em renais crônicos infectados pelo vírus, e que trabalhos da literatura relatam que o procedimento de hemodiálise por si só e o uso de diferentes tipos de membranas de diálise seriam responsáveis pela ativação celular e aumento da produção de citocinas em renais crônicos (HORL, 2002). Ao avaliarmos estatisticamente este marcador de superfície entre os linfócitos, verificamos que não houve correlação em relação ao LTCD4+ e ao LTCD8+. Por outro lado, ao analisarmos a expressão de CD69 na superfície de neutrófilos e eosinófilos, observamos aumento significativo da expressão desta molécula nestas populações celulares. Este fato nos leva a pensar que a infecção pelo HCV associado ao procedimento de diálise seriam os responsáveis por esta ativação. No entanto, nossos dados em relação a este marcador são inconclusivos e novos estudos, como análise da produção de citocinas e outros deverão ser feitos para melhor compreensão deste fenômeno. Desta forma podemos concluir que o entendimento da resposta imune, associada a maior compreensão dos determinantes do “clearance” viral e dos elementos necessários para o desenvolvimento de imunidade, assim como o maior entendimento dessas correlações imunológicas poderá favorecer a busca de novas estratégias imunoterapêuticas eficaz contra o Vírus da hepatite C. 49 CONCLUSÕES A partir dos dados obtidos no presente trabalho podemos concluir que: 1. Os resultados deste estudo demonstraram uma elevada prevalência do anti-HCV em pacientes em tratamento de hemodiálise em Manaus-AM. Estes resultados devem ser analisados e interpretados cuidadosamente, já que essa infecção viral pode alterar o prognóstico desses pacientes a longo prazo. 2. A associação entre a positividade do anti-HCV e duração de hemodiálise, sugere que o tratamento de hemodiálise prolongado, envolvendo procedimentos hospitalares, pode contribuir para maior disseminação da infecção. 3. A relação DO/Cut off demonstrou que 94,33% dos pacientes apresentaram valores superior a 5 demonstrando uma alta concentração de anticorpos presentes no soro. 4. A menor positividade do anticorpo contra a fração NS5, encontrada na população estudada pode estar associada a uma fraca resposta imunológica. Sendo necessário mais estudos sobre esta fração e sua relação com o perfil da resposta imune. 5. Os níveis de alanina aminotransferase não demonstraram ser um bom marcador para análise do curso da infecção nos pacientes renais crônicos infectados com HCV, devido apresentar elevações esporádicas no decorrer do tempo, sendo a infecção latente nestes pacientes. 6. Os pacientes hemodialisados apresentaram uma alta prevalência de co-infecção, demonstrando a necessidade de uma rigorosa triagem sorológica e cuidados no manuseio para prevenir a transmissão nosocomial nesta população. 7. Os pacientes renais crônicos HCV positivos apresentaram aumento significativo de linfócitos totais e linfócitos T CD3+/CD4+ e um pequeno aumento (não 50 significativo) de linfócitos T CD3+/CD8+ em relação aos pacientes renais crônicos não infectados. 8. Não observamos diferença na população de linfócitos ativados (CD69+) entre os grupos estudados, porém neutrófilos e eosinófilos estavam aumentados nos pacientes hemodialisados HCV positivos. 9. Desta forma concluímos que pacientes em tratamento de hemodiálise são de alto risco para infecção pelo Vírus da hepatite C e que a infecção, as suas vias de transmissão e o perfil da resposta imune permanecem obscuras, necessitando de muitos estudos. 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHMAD, A., ALVAREZ, F. 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Procedimentos: Para este estudo será coletada amostra de 20ml de sangue. Serão feitos testes para verificar a presença do vírus, a confirmação do diagnóstico e o acompanhamento laboratorial da infecção. Todos os testes serão realizados no HEMOAM em Manaus. Riscos e desconfortos: Não existem riscos associados à sua participação neste estudo. O único desconforto é a picada da agulha para a coleta de amostra de sangue. Benefícios: A sua participação neste estudo não implica em nenhum benefício direto e imediato para o senhor(a). O estudo, contudo, proporcionará maiores esclarecimentos sobre a prevenção e infecção pelo vírus da hepatite C. Acompanhamento assistencial: Sendo o senhor(a) participante deste estudo terá, sempre que necessário, esclarecimentos de dúvidas, acompanhamento clínico e laboratorial no que diz respeito à doença em estudo, podendo entrar em contato com Drª Adriana Malheiro e Laura Maia (HEMOAM Tel: 3655-0111) e o Dr. Wornei S. Braga (FMTAM). Sempre que necessário será prestada orientação médica adequada ou encaminhamentos necessários, feitos pela equipe médica do HEMOAM. Voluntariedade: A sua participação neste estudo é voluntária. O senhor(a) pode retirar sua participação a qualquer momento, o senhor(a) não terá qualquer tipo de prejuízo para o seu atendimento dentro da Instituição onde faz o tratamento. Confidencialidade, privacidade e anonimato: Os dados referentes à sua participação neste estudo permanecerão confidenciais, não sendo divulgados de forma a declarar a sua identidade. Uso de material biológico coletado do participante/ metodologia: O sangue coletado (20ml) será utilizado para o que se propõe neste estudo e será armazenado para estudos posteriores. Neste caso, podendo ser realizados estudos dos tipos de vírus HCV presente no sangue. CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO Após ter recebido informações claras, eu concordo com minha participação no estudo. O Sr.(a) autoriza que o seu sangue seja guardado para pesquisas futuras para o estudo dos tipos de vírus? ( ) sim ou ( ) não _____________________________ Assinatura do participante Impressão dactiloscópica ______________________________ Assinatura do pesquisador Manaus, ___/___/____ 6.2 QUESTIONÁRIO / DADOS CLÍNICOS E LABORATORIAIS Título do projeto: Soroprevalência de anticorpos contra o Vírus da Hepatite C (HCV) em pacientes em tratamento de hemodiálise. PARTE I: ENTREVISTA COM O PACIENTE Dados pessoais/ demográficos: N° Ident.: N° Ident. na clínica renal : Nome:_________________________________________________________________ Data de nascimento: ___/___/____ Sexo: F M Estado civil: Casado Solteiro outros____________________________________ Profissão: __________________________ ℡:___________________ Local do tratamento de hemodiálise: Clínica Renal outro: __________________ Dados complementares do caso antes do tratamento de hemodiálise: Tem vacinação contra: Hepatite A Hepatite B Paciente tem história anterior: icterícia alcoolismo O paciente foi submetido ou exposto a: transfusão de sangue/derivados parto normal Quando:__________________ acunputura drogas injetáveis tatuagem transplante piercing 3 ou mais parceiros sexuais tratamento dentário medicamentos injetáveis tratamento cirúrgico Contato com paciente de Hepatite B ou C, ou com portador dos VHB ou VHC: sexual domiciliar (não sexual) ocupacional PARTE II: DADOS OBTIDOS A PARTIR DA FICHA MÉDICA DO PACIENTE Dados clínicos: Doença de base: ________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Data do início do tratamento por hemodiálise:___/__/____Freqüência/semana:_______ Sala e turno de diálise:____________________________________________________ Sintomatologia associada ao HCV Icterícia Dor abdominal Hepatopatia diagnosticada Hepatocarcinoma Hepatomegalia outros _____________________ Está em tratamento para HCV? Não Sim Qual?________________________________ Co-infecção: HIV data do diagnostico:___/____/____ HBV data do diagnostico:___/____/____ Sífilis data do diagnostico:___/____/____ Doença de chagas data do diagnostico:___/____/____ HTLV data do diagnostico:___/____/____ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Testes laboratoriais para HCV: Sorologia antes da hemodiálise: Negativa positiva Marcadores anti-HCV Marca:____________________________________ Data do teste : ___/___/____ Local da realização do teste: Clínica Renal Outro_______________ Do:_________ Cut off:______________ Observações:___________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Sorologia durante a hemodiálise : Primeira sorologia reativa para HCV: anti-HCV Marca:____________________________________ Data do teste:___/___/____ Local da realização do teste: Clínica Renal Outro______________ Do:_________ Cut off:______________ Acompanhamento laboratorial na Clínica Renal: Testes sorológicos anti-HCV Marca:____________________________________ Data do teste:___/___/____ Local da realização do teste: Clínica Renal Outro______________ Do:_________ Cut off:______________ anti-HCV Marca:____________________________________ Data do teste:___/___/____ Outro______________ Local da realização do teste: Clínica Renal Do:_________ Cut off:______________ anti-HCV Marca:____________________________________ Data do teste:___/___/____ Outro______________ Local da realização do teste: Clínica Renal Do:_________ Cut off:______________ Outros testes para HCV? Não Sim HCV RNA Data:___/___/____ Resultado: Negativo Positivo Local da realização do teste:_______________________________ Genotipagem: Data:___/___/____ Resultado:_________________________________________ Observações:___________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ PARTE III: Acompanhamento laboratorial no HEMOAM Registro LAP:___________________ Testes sorológicos ELISA Marca:______________________________ DATA TESTE DO CUT OFF RESULTADO Teste complementar Imunoblot Marca:________________________________ DATA c100 BANDAS c22(p) c33c NS5 hSOD Observaçãoes:__________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Testes bioquímicos Aspartato aminotransferase:_______________________ Data do teste:___/___/____ Concentração:______________ Alanina aminotransferase:_______________________ Data do teste:___/___/____ Concentração:______________ Bilirrubina direta:_______________________ Data do teste:___/___/____ Concentração:______________ Bilirrubina total:_______________________ Data do teste:___/___/____ Concentração:______________ Testes de análise da resposta imunológica Resultado do teste de citocinas Citocina Data do teste IL-10 IL-4 IL-12 INF-γ DO Concentração OBS O resultado do teste de citometria de fluxo será anexado a esta ficha de acompanhamento clínico e laboratorial _______________________________________ pesquisador responsável 6.3 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título do estudo: Soroprevalência de anticorpos contra o vírus da Hepatite C (HCV) em pacientes em tratamento de hemodiálise. O estudo visa conhecer como é a defesa dos pacientes renais crônicos em tratamento de hemodiálise contra o vírus da hepatite C, para se obter este conhecimento é necessário a comparação com pacientes em tratamento de hemodiálise que não estejam infectados com o vírus da hepatite C. Para este estudo será coletada amostra de 10mL de sangue. Serão feitos testes para avaliar a defesa do organismo contra o vírus da hepatite C. Todos os testes serão realizados no HEMOAM em Manaus. Não existem riscos associados à sua participação neste estudo. O único desconforto é a picada da agulha para a coleta de amostra de sangue. A sua participação neste estudo não implica em nenhum benefício direto e imediato para o senhor(a). O estudo, contudo, proporcionará maiores esclarecimentos sobre a prevenção e infecção pelo vírus da hepatite C. Sendo o senhor(a) participante deste estudo terá, sempre que necessário, esclarecimentos de dúvidas, podendo entrar em contato com Drª Adriana Malheiro e Laura Maia (HEMOAM Tel: 3655-0111). A sua participação neste estudo é voluntária. O senhor(a) pode retirar sua participação a qualquer momento, o senhor(a) não terá qualquer tipo de prejuízo para o seu atendimento dentro da Instituição. Os dados referentes à sua participação neste estudo permanecerão confidenciais, não sendo divulgados de forma a declarar a sua identidade. O sangue coletado (10mL) será utilizado apenas para o que se propõe neste estudo. CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO Após ter recebido informações claras, eu concordo com minha participação no estudo. _____________________________ Assinatura do participante __________________________________ Assinatura do pesquisador ou colaborador Impressão dactiloscópica Manaus, ____/____/______ FORMULÁRIO DE GUARDA DE MATERIAL BIOLÓGICO HUMANO PARA PESQUISA Manaus, 18 de agosto de 2007. NOTA DE ESCLARECIMENTO Eu, LAURA PATRICIA VIANA MAIA, pesquisadora responsável pelo desenvolvimento desta dissertação inicialmente intitulado Soroprevalência de anticorpos contra o vírus da hepatite C em pacientes em tratamento de hemodiálise, venho esclarecer que o titulo do trabalho foi modificado para Hepatite C em pacientes portadores de insuficiência renal crônica: perfil sorológico e aspectos da resposta imune humoral e celular por sugestão da banca de defesa com justificativa de que o titulo inicial não abrangia todos os dados apresentados no estudo. Laura P V Maia Pesquisadora responsável Adriana Malheiro Orientadora