importância das habilidades sociais educativas

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IMPORTÂNCIA DAS HABILIDADES SOCIAIS EDUCATIVAS NO
CONTEXTO DA SALA DE AULA
Rosângela Aparecida Silva
RESUMO
As necessidades educacionais especiais cognitivas, físicas, psíquicas ou
sensoriais, associadas a muitos outros fatores situacionais como falta
de atendimento específico à família, aos professores e às redes de
atendimento e assistência à criança, acarreta dificuldades para o
aprendizado de um conjunto de habilidades sociais importantes de
serem aprendidas na infância. Tanto a família quanto a escola são
responsáveis por esse aprendizado e ambas carecem de ações
competentes que facilitem seu aprendizado pelos alunos. Pesquisas
indicam que os professores podem tornar-se importantes mediadores
para o desenvolvimento de crianças com necessidades educacionais
especiais, especificamente no que se refere as diferentes habilidades
sociais que podem ser aprendidas no contexto escolar. Assim, é
possível que professores socialmente habilidosos tenham mais
competência para sua tarefa de educador, transformando ações do
cotidiano em verdadeira educação de crianças, contribuindo dessa
forma para sua inclusão escolar e social. Para tal, a literatura tem
proposto o aprendizado de um conjunto de habilidades, denominada de
habilidades sociais educativas, que visam à promoção do
desenvolvimento e da aprendizagem do outro, em situação formal ou
informal de ensino. Assim, esse trabalho teve como objetivo discutir
esse conjunto de habilidades como uma proposta alternativa ao
desempenho do professor e avaliar a sua importância para professores
da rede pública de ensino. Espera-se que ao final das discussões, este
trabalho contribua para a implementação de ações socialmente mais
habilidosas desses professores no ensino de diferentes conteúdos
sociais que devem ser contemplados em seus atendimentos a crianças
com necessidades educacionais especiais na área visual.
PALAVRAS CHAVE: habilidades sociais, habilidades sociais educativas,
inclusão.
INTRODUÇÃO
Pesquisas recentes têm destacado que, devido à impossibilidade
de acesso a estímulos visuais, crianças com necessidades educacionais
especiais na área visual, observadas desde as primeiras séries
escolares,
apresentam
mais
dificuldades
nas
suas
relações
interpessoais e no aprendizado de diversos conteúdos propostos.
Assim, o que se observa é que, embora estudos avancem sobre o tema
diversidade e as suas implicações, pouco tem sido realizado na
preparação de professores para atuarem de forma habilidosa nas
situações
de
ensino,
proporcionando
melhores
aprendizados
acadêmicos e sociais para essa população.
Conceituação de deficiência visual
Segundo Conde (2004), educacionalmente define-se como cego o
indivíduo que necessita de instrução Braille (sistema de escrita por
pontos em relevo) para seu desempenho eficiente e, com visão
subnormal ou baixa visão, aquele que lê tipos ampliados ou com auxilio
de potentes recursos ópticos. Esse mesmo autor afirma que uma
pessoa é considerada cega quando a visão corrigida no seu melhor
olho for de 20/200 ou menos, isto é, ela pode ver a 20 pés (6 metros)
de distância o que uma pessoa com visão normal pode ver a 200 pés
(60 metros), ou quando o diâmetro mais largo do seu campo visual
abrange um arco não maior de 20°. Para a visão subnormal, definem-se
os indivíduos cuja acuidade visual situa-se entre 6/60 e 18/60 (escala
métrica) e/ou um campo visual entre 20 e 50º.
A OMS, de acordo com dados baseados na população mundial do
ano de 2002, estima que mais de 161 milhões de pessoas tenham
deficiência visual, das quais 124 milhões teriam baixa visão e 37
milhões seriam cegas (Resnikoff et al, 2004).
No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (2000) existem 16,5 milhões de brasileiros com deficiência
visual, dos quais 159,824 mil são incapazes de enxergar. O Mesmo
instituto aponta que 14,5% da população brasileira apresenta algum
tipo
de
deficiência,
sendo
que
16.644.842
indivíduos
foram
classificados como “incapaz, com alguma ou grande dificuldade
permanente de enxergar”, dos quais 1.614.220 (9,96%) encontram-se
na faixa etária de 0 a 17 anos, que corresponde ao período de
permanência no ensino fundamental e no ensino médio. Os dados
estatísticos do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (2005) indicaram que das 358.898 matrículas de alunos com
necessidades educacionais especiais na educação básica, 20.521
(5,64%) são crianças com deficiência visual.
Implicações da deficiência visual para os relacionamentos
interpessoais e desempenho acadêmico
Oliveira (1998) e Fonseca (1995) esclarecem que o homem
habita
e
interage
em
um
mundo
cuja
manifestação
é
predominantemente veiculada pela forma visual e, portanto, a visão é
um
elemento
integrador
da
captação
de
informações
e
do
reconhecimento do meio físico e social onde se encontra. Segundo
Wolffe (2005), é através da visão que a criança percebe posturas e
expressões faciais agradáveis e desagradáveis aos outros, dependendo
do contexto. Diversos estudos (D’Altura, 2002; Mac Cuspie, 1997; Mc
Alpine & Moore, 1995; Erwin, 1993 e Schneekloth, 1989) apontam
para a escassez de respostas sociais adequadas de crianças deficientes
visuais na interação com o outro o que pode estar relacionado à falta
de aprendizagem de comportamentos sociais que facilitem ações
importantes para sua interação com o mundo.
Fatores pessoais e ambientais relacionados aos déficits de
habilidades sociais da criança
A
socialização
é
uma
das
mais
importantes tarefas
do
desenvolvimento inicial da criança. Ela se caracteriza pela ampliação e
refinamento dos comportamentos sociais e simultaneamente, pela
compreensão
gradual
dos
valores
e
normas
que
regulam
o
funcionamento da vida em sociedade.
“A aprendizagem de comportamentos sociais e de
normas
de
convivência
inicia-se
na
infância,
primeiramente com a família e depois em outros
ambientes como vizinhança, creche, pré-escola e
escola. Essa aprendizagem depende das condições
que a criança encontra nesses ambientes, o que
influi
sobre
a
qualidade
de
suas
relações
interpessoais subseqüentes” (DEL PRETTE E DEL
PRETTE, 2005, p. 51).
Quando as condições ambientais são restritas ou inadequadas à
aprendizagem e/ou ao desempenho de comportamentos socialmente
competentes, podem ocorrer diferentes tipos de déficits de habilidades
sociais.
Se,
adicionalmente,
ocorrem
condições
favoráveis
ao
desempenho de comportamentos indesejáveis (anti-sociais, opositivos,
delituosos), o desenvolvimento da competência social torna-se ainda
mais comprometido e esses déficits são acentuados. Conforme estudos
recentes de Gresham (1998 e 2002), é possível identificar três tipos de
déficits: déficits de aquisição (é uma desvantagem caracterizada pela
não ocorrência da habilidade diante da demanda do ambiente); déficits
de desempenho (é uma desvantagem caracterizada pela ocorrência da
habilidade com freqüência inferior à esperada diante das demandas do
ambiente) e déficits de fluência (é uma desvantagem caracterizada
pela ocorrência da habilidade com proficiência inferior à esperada
diante das demandas do ambiente).
Na prática social, esses déficits podem levar a criança ao não
reconhecimento das demandas dos ambientes e ao desconhecimento
das normas e padrões socialmente aceitáveis ou valorizados. Nesse
contexto, pode dificultar: a identificação dos objetos relevantes para
uma interação (ex. desconhecimento do sentido de diversão e
camaradagem que os colegas atribuem a um jogo, a criança o vê
somente como oportunidade de vencer); a seleção de estratégias
apropriadas para alcançar os objetivos de uma interação (ex. tomar a
força um brinquedo quando o grupo já estabeleceu uma regra de
solicitar); o ajuste do comportamento às mudanças do contexto (ex.
fazer brincadeira de mau gosto com um colega que acaba de receber
uma notícia desagradável).
As dificuldades para compreender essas demandas podem estar
associadas a padrões perfeccionistas de desempenho, auto-avaliações
distorcidas, baixa auto-estima, expectativas, crenças e auto-regras
disfuncionais podendo levar os educandos a desenvolverem problemas
de comportamento, restrições de oportunidades e modelos e ao
excesso de ansiedade interpessoal.
A qualidade da relação da criança com os colegas, enquanto uma
das condições para sua aprendizagem social e acadêmica, pode ser em
grande parte mediada pelo professor. Um relacionamento satisfatório
entre professor e aluno é fundamental para aumentar a probabilidade
de o professor alcançar não só os objetivos acadêmicos, mas também
para promover a competência social das crianças.
Assim, educadores necessitam ter efetivas ações educativas que
contribuam para o desempenho social e acadêmico dessas crianças,
tornando-se
indispensáveis colaboradores
no
processo inclusivo.
Considerando essa possibilidade como uma meta relevante a ser
discutida com os professores da rede pública de ensino que recebem
no seu rol de alunos, crianças com necessidades educacionais
especiais, qual seria objetivamente, o conjunto de habilidades sociais
relevante que crianças aprendessem e quais ações educativas efetivas
de
professores
poderia
ser
facilitador
do
aprendizado
dessas
habilidades, pelas crianças no cotidiano da sala de aula? Para
responder a essa pergunta, esse trabalho definiu como objetivos: a)
Identificar na literatura de habilidades sociais, qual o conjunto de
comportamentos socialmente habilidosos é relevante que crianças
aprendam e contribua para sua inclusão no ensino regular; b) discorrer
teoricamente sobre o conceito de habilidades sociais educativas como
um conjunto de ações relevantes ao desempenho habilidoso do
professor que atende crianças com e sem necessidades educacionais
especiais; c) discutir junto a professores da rede pública quais as
habilidades sociais educativas propostas são mais relevantes de serem
adotadas como ações dos educadores em suas salas de aula.
DESENVOLVIMENTO
No cotidiano das relações interpessoais, o fato de uma pessoa
saber que conjunto de habilidades sociais que se espera dela em um
determinado contexto não a qualifica como socialmente competente.
Por outro lado, identificar e emitir as que são pertinentes e relevantes,
em uma determinada situação, é uma condição importante para
estabelecer interações mais produtivas, satisfatórias e duradouras (Del
Prette & Del Prette, 1999)
A habilidade de um indivíduo para discriminar corretamente as
demandas sociais é uma condição para sua competência social, que
conceitualmente Del Prette e
Del Prette (1999) definem como a
proficiência no desempenho social de um indivíduo em relação aos
seus efeitos e envolvem a realização de seus objetivos, manutenção ou
melhoria de sua interação com o outro, manutenção da auto-estima e
manutenção
ou
ampliação
reconhecidos.
Para
aprendizagem
da
a
dos
literatura
competência
direitos
humanos
sobre
habilidades
social
está,
então,
socialmente
sociais,
a
diretamente
relacionada com as oportunidades que um indivíduo tem, ao longo da
sua vida, para participar ativamente de diferentes contextos de
interação e para melhorar seu desempenho diante das diferentes
situações sociais (Del Prette e Del Prette, 2001).
Os efeitos do desempenho social são, de forma geral, alcançar os
objetivos
imediatos,
manter
ou
melhorar
a
qualidade
dos
relacionamentos e manter ou melhorar a auto-estima. No caso das
crianças e adolescente vários comportamentos devem ser aprendidos
para melhor adaptação e socialização. Nesse contexto podemos
considerar ações que contribuam para o seu rendimento acadêmico,
para o enfrentamento de situação de estresse ou frustrações, para seu
autocuidado (higiene, saúde e segurança), sua independência para
realizar tarefas (na escola, no lar e em grupos de amigos) e para ser
cooperativo.
Muitos estudos têm mostrado os vários processos pelos quais
esses comportamentos se associam e contribuem para o rendimento
acadêmico e a competência social dos alunos. Em uma relação circular,
as dificuldades escolares constituem, portanto, um dos efeitos e um
agravante da pouca competência social que por sua vez, pode
dificultar o rendimento escolar e contribuir para o isolamento social da
criança na escola. Apesar disso, o fato de uma criança não se
comportar de maneira socialmente eficaz em uma situação não quer
dizer que em todas as situações se comportará dessa forma e muito
menos que não possa mudá-lo. Esse caráter situacional mostra que o
desempenho social não é uma decorrência da personalidade, no
sentido de características pessoais estáveis, mas sim que ele depende
das condições do ambiente e das experiências formais e informais de
aprendizagem que nele ocorrem. Dessa forma, comportamentos mais
habilidosos podem ser aprendidos ao longo da infância e podem ser
vivenciados
nas
suas
interações
sociais,
ampliando
assim
as
oportunidades de aperfeiçoamento do repertório social da criança.
Habilidades sociais relevantes na infância
O homem como ser social que é, necessita de interações para se
desenvolver plenamente e já no inicio de sua existência procura formas
de interagir com os outros. As crianças procuram desde cedo seus
pares para brincar, conversar, fazer amizade e nessas práticas, elas
aprendem as noções básicas de socialização. Conforme citação a
seguir:
“A socialização é uma das mais importantes tarefas
do desenvolvimento da criança. Ela se caracteriza
pela ampliação e refinamento dos comportamentos
sociais e pela compreensão gradual dos valores e
normas que regulam o funcionamento da vida em
sociedade. (DEL PRETTE E DEL PRETTE, 2005, p.50)
Na vida contemporânea, pais forçados a sair de casa para buscar
seu espaço no mercado de trabalho, acabam por antecipar a entrada
das crianças na escola, que saem precocemente de seu micro sistema
familiar passando a transitar em outro sistema, o escolar. Nesse novo
contexto, tem que aprender o quanto antes, regras de sobrevivência e
de adaptação que serão a base para suas experiências interpessoais ao
longo de sua vida. Se considerarmos que, a criança moderna passa o
dia se revezando em ambientes escolares, numa rotina que se estende
da infância até o início da vida adulta, podemos considerar a
necessidade dessas organizações estarem preparadas para mediar as
relações interpessoais.
Boa parte do desenvolvimento da criança estará ligada às
experiências vivenciadas em casa e na escola. Dá-se aqui a
importância do aprendizado das habilidades sociais na infância uma
vez que dela dependerá o sucesso e/ou o fracasso social, pessoal e
acadêmico
do
educando,
seja ele
sem ou
com necessidades
educacionais especiais. Saber quando, onde e como utilizar de forma
competente um conjunto de habilidades sociais, que o indivíduo pode
aprender em família ou na escola, pode ser a chave para uma vida
melhor.
Com relação às habilidades sociais, Del Prette e Del Prette
(2005),
apresentam
um
conjunto
daquelas
que
consideram
indispensáveis para o funcionamento adaptativo das crianças, bem
como para o desenvolvimento interpessoal relevante a essa fase da
vida.
As habilidades definidas como autocontrole e expressividade,
contribuem para que o indivíduo possa aprender a lidar com seus
próprios sentimentos através de ações educativas mediadas por pais,
educadores e/ou cuidadores levando a criança a reconhecer suas
próprias ansiedades e frustrações, quer seja por um presente ‘fora de
datas especiais’ que os pais se recusam a lhe dar, ou numa brincadeira
no pátio da escola onde ela deve esperar a sua vez; quanto antes
forem trabalhadas com as crianças mais chances elas terão para
aprender essa importante habilidade.
Civilidade é o conjunto de habilidades que auxilia o indivíduo a se
relacionar
de
maneira
‘educada’
com
os
outros.
Aprender
a
cumprimentar, despedir, se desculpar, pedir licença e por favor, são
atitudes que devem ser ensinadas o quanto antes às crianças, pois
serão extremamente necessárias durante toda a sua vida.
Assertividade descreve o conjunto de habilidades que preparam
o indivíduo para perceber o momento ‘certo’ para expressar os
sentimentos.
Saber quando opinar e lidar com críticas é uma
habilidade que se
ensina às crianças no seu dia-a-dia familiar e
escolar, e que poderá contribuir para que elas aprendam a tomar
decisões, respeitando os direitos inerentes à vida social (e deveres a
eles correspondentes) beneficiando a todos os membros da sociedade
inclusive a eles próprios.
Fazer amizades é uma importante habilidade social, pois age
como facilitador nas interações. Cabe a família e a escola proporcionar
contexto favorável para que a criança aprenda a interagir com seus
pares e aprenda com essas experiências a iniciar conversas com seus
colegas. Ações desse tipo são pré-requisitos necessários à criança para
que
ela
aprenda
comportamento
fazer
altamente
amizades,
o
significativo
que
se
para
configura
boas
um
relações
interpessoais nos diferentes contextos de interação das crianças.
Soluções de problemas interpessoais descrevem um conjunto de
habilidades que estão implícitas nos momentos de tomada de decisão
de qualquer indivíduo, permitindo que haja melhores respostas com
menores custos. Não é tarefa fácil, principalmente para as crianças,
uma vez que precisam de “pistas” para essa importante aprendizagem,
pois nelas estão contidas as sutilezas estabelecidas durante as
relações sociais como gestos, falas, olhares e atitudes que podem
determinar soluções e/ou problemas durante as interações.
Habilidades sociais são aquelas que demonstram se o individuo
aprendeu a viver em grupo. Trabalhar em conjunto exige todas as
habilidades descritas anteriormente: cooperar, participar, elogiar,
criticar positivamente, compreendendo que cada um tem um ritmo
próprio, que conviver com diferentes pessoas é importante e pode se
tornar um enriquecedor momento de aprendizagem.
Todas essas ações devem estar presentes no cotidiano das
crianças com e sem necessidades educacionais especiais, pois a escola
é um local onde elas deverão aprender a lidar com os conflitos
interpessoais característicos da infância.
Para as crianças com necessidades educacionais especiais
cognitivas, físicas, psíquicas e sensoriais, o início da vida escolar pode
ser ainda mais crítico se elas não tiverem um desempenho acadêmico
que facilite as ações acadêmicas e sociais na escola pois não vêem,
não ouvem, não percebem ou mesmo não compreendem as diversas
oportunidades que surgem no cotidiano da sala de aula e que são
favorecedoras do aprendizado dessas habilidades. Estar atento a isso
faz do profissional da educação elemento indispensável em todo esse
processo.
Segundo Del Prette e Del Prette (2005), melhorar o desempenho
social poder ser requisito para a inclusão de crianças com necessidades
educacionais especiais. Profissionais mais habilidosos podem prevenir
detectar e intervir precocemente e ativamente tentando melhorar o
conjunto de habilidades sociais relevantes na infância de seus alunos,
contribuindo assim para a inclusão escolar e social. Conforme citação
desses mesmos autores:
“Além das condições incidentais de promoção de
habilidades sociais, a escola pode assumir um papel
mais ativo nessa aprendizagem por
programas
para
ensinar
meio
Habilidades
de
Sociais,
planejados de forma articulada ou paralela aos
objetivos acadêmicos”. (DEL PRETTE E DEL PRETTE,
2005, p.63)
As políticas públicas que contemplam a inclusão escolar são
amparadas legalmente há décadas no Brasil, porém como nos lembra
BUENO,1999; GLAT, 1995; 2000; GODOFREDO, 1992; entre outros, não
basta que uma proposta se torne lei para que a mesma seja aplicada.
Inúmeras são as barreiras que impedem que a política de inclusão se
torne realidade na prática cotidiana em nossas escolas. Entre estas, a
principal, sem dúvida, é o despreparo dos professores do ensino
regular para receber em suas salas de aula, geralmente repleta de
alunos com problemas de disciplina e aprendizagem, essa clientela.
Preparar os profissionais da educação para criar contextos
potencialmente educativos que contemplem a diversidade é um
grande desafio e, é nesse contexto contemporâneo, que o desempenho
socialmente
habilidoso
do
professor,
se
faz
necessário
como
importante ferramenta facilitadora do aprendizado de habilidades
sociais pelas crianças com e sem necessidades educacionais especiais.
Na tentativa de identificar que ações são essas, pertinentes ao
professor, Del Prette e Del Prette (2001) realizaram uma análise dos
efeitos de classes de habilidades sociais relevantes aos educadores
para o aprendizado de alunos com necessidades educacionais
especiais. A essas classes de respostas, que se tem mostrado relevante
que cuidadores informais (pais) e formais (professores) aprendam e ao
aprendizado de respostas sociais e acadêmicas pela criança, os
mesmos autores denominaram de habilidades sociais educativas que,
conceitualmente são “aquelas intencionalmente voltadas para a
promoção do desenvolvimento e da aprendizagem do outro, em
situação formal ou informal de ensino (p. 95)”. Essas habilidades
devem estar presentes nas interações entre educador (seja ele mãe,
pai, professora ou agentes sociais) e o educando (filho ou aluno) e
conferem, em relação a quaisquer respostas a serem modeladas,
melhores resultados educativos, tanto no planejamento, como na
condução das ações adotadas. De forma mais específica esses mesmos
autores descrevem tais habilidades em quatro classes:
a) Estabelecer Contextos Interativos Potencialmente Educativos: o
conjunto de ações que descrevem essa classe enfatiza que o educador
tem a responsabilidade de gerenciar o ambiente físico, materiais
educativos e as relações entre os alunos, sugerindo ações que possam
ser mediadas
por ele, para que alcancem objetivos prévios
determinados pelo
professor.
Por exemplo: quando o professor do
ensino regular recebe em sua sala de aula um aluno com necessidades
educacionais especiais ele pode, de acordo com a idade e nível dos
educandos, planejar e envolver todos os alunos, buscando a melhor
forma de atendê-los, bem como procurando informações e estimulando
os alunos a buscá-las. Assim, incentiva e estabelece, através de
atividades em duplas e em grupo, interações sociais habilidosas para
todos os integrantes da sala de aula.
b) Transmitir ou expor conteúdos sobre habilidades sociais: com essa
classe, os autores descrevem ações do educador mediadas (ou não)
por recursos visuais e auditivos que visam apresentar conteúdos de
habilidades sociais. Dentre os comportamentos que estão previstos
para essa classe estão os de sondar e desafiar a participação do aluno
durante uma atividade; estar atento às colocações dos mesmos sobre
conteúdos acadêmicos e de situações sociais, com a finalidade de
organizá-los; motivar o aluno a se expor em aula, apresentando
objetivos para as atividades, dicas e modelos de como se comportar e
instruções verbais sobre conteúdos sociais e acadêmicos.
c) Estabelecer limites e disciplina: para essa classe, são descritas ações
verbais e/ou não verbais do educador que estabelece, justifica, sugere
e negocia regras, normas ou valores. Sabe-se que o educador
conseguindo se comportar dessa maneira consegue maior domínio
sobre a sala e uma interação que incentive o aluno a se habituar com
regras sociais.
d) Monitorar positivamente: a proposta dos autores com essa classe é
apresentar um conjunto de ações verbal e/ou não verbal dos
educadores
envolvidos
em
monitorar de
maneira educativa
o
comportamento diretamente observável ou sobre comportamento
relatado pelo educando. Os autores sugerem que o educador deve
apresentar conseqüências reforçadoras para comportamentos sociais
desejáveis
imediatamente
importante envolve
comportamentos
do
observáveis.
estabelecer condições
educando
(passados
Outro
de
ou
comportamento
maior
futuros)
acesso
a
reunindo
informações e/ou conseqüenciando relatos.
CONCLUSÃO
Para a realização do estudo desenvolvido durante o Programa
PDE-PR em 2007, sobre o tema Habilidades Sociais e Inclusão Escolar,
um grupo de profissionais da educação foi avaliado sobre suas ações
no que se refere à inclusão escolar de alunos com necessidades
educacionais especiais, habilidades sociais infantis e habilidades
sociais educativas. Para a avaliação das habilidades sociais infantis, foi
utilizado o QRI - Questionário de Relações Interpessoais (DEL PRETTE &
DEL PRETTE, 2003) que trata de assuntos tais como: características
interpessoais da classe de alunos; ocorrência de conflitos e estratégias
adotadas pelo professor para lidar com eles; importância e ocorrência
de habilidades sociais específicas dos alunos; a auto-avaliação do
professor sobre sua capacidade de promover as habilidades sociais dos
alunos. Além desses itens esse questionário também avalia os
possíveis ganhos que o professor considera ter com a implementação
de programas de habilidades sociais na escola. Neste trabalho, o
objetivo desse questionário foi o de observar o
desempenho do
professor e avaliar as suas dificuldades em relação ao desempenho
social do seu aluno durante a permanência em sala de aula.
Com base nos dados obtidos nessa avaliação, foi elaborado um
“Caderno de Apoio”, com o objetivo de informar aos professores o que
são e quais são os objetivos das habilidades sociais educativas, como
um conjunto de comportamentos relevantes ao professor aprender
para otimizar as interações sociais entre os alunos em sala de aula e
assim, contribuir para melhor desempenho acadêmico dos mesmos,
bem como, favorecer a inclusão de crianças com necessidades
educacionais
especiais
no
grupo
de
alunos.
O
material
foi
disponibilizado na Internet onde profissionais da educação interagiram
dando sugestões e colaborando com o estudo em si. O mesmo material
também foi disponibilizado aos docentes especialistas do ILITCInstituto Londrinense de Instrução e Trabalhos para Cegos, onde foi
conduzido grupo de estudos e vivências para análise da relevância de
tais habilidades para o desempenho do professor em sala de aula.
Com
relação
às
respostas
dadas
pelos
professores
ao
questionário e também pelas discussões realizadas no grupo de
estudo, é possível constatar que muitos profissionais da educação,
embora se percebam como “habilidosos” para lidar com as diferenças,
não tem encontrado formas mais competentes para atuar. Constata-se
que não conseguem propor atividades no cotidiano da sala de aula que
possam otimizar
as relações sociais estabelecidas em sala de aula,
quer seja entre professor e aluno e entre os alunos com ou sem
necessidades educacionais especiais. Neste
sentido, este artigo
pretendeu fornecer aos professores, subsídios teóricos para que
reflitam sobre seu desempenho em sala de aula no que se refere às
ações que devem ser efetivadas e que podem contribuir para
a
inclusão dessas crianças de forma que tanto elas quanto os demais
alunos sejam contemplados.
Com planejamento e conhecimento da importância que as
relações sociais cotidianas têm para o desempenho acadêmico de
qualquer aluno, é que o professor da sala de aula estará sendo
educador. Ser modelo e ensinar o aluno a lidar consigo e com o outro
são habilidades que devem ser aprendidas tanto pelo professor como
pelos alunos. Assim, considera-se que está no educador a principal
referência para que o aluno se desenvolva de maneira harmoniosa,
pois a ele cabe, conforme citação a seguir:
“...A criatividade para conceber condições variadas
de interações educativas, a flexibilidade para mudar
o curso da própria ação em função do desempenho
do
educando,
a
discriminação
dos
encorajamento
das
observação,
a
progressos
tentativas
de
análise
e
obtidos,
o
solução
de
problemas e a apresentação de novos desafios...”
(DEL PRETTE E DEL PRETTE, 2001, p. 95)
Dessa forma, a aprendizagem das habilidades sociais pela
criança em ambiente escolar depende, da forma como os professores
planejam e conduzem as interações em sala de aula.
“As necessidades especiais são decorrentes das
oportunidades, existentes ou não, bem como dos
instrumentos
e
mediações
que
possam
ser
apropriados por estas pessoas em suas relações
sociais e não resultam unicamente das deficiências
biológicas que possam apresentar. Se favoráveis às
condições sociais, a situação de deficiência será
atenuada,
uma
vez
que
não
serão
restrições à participação dessas pessoas”.
(ROSS, 2004, p.204)
impostas
Com isso, se constata a necessidade de se conduzir trabalhos
que visem à sistematização dessas habilidades como ações relevantes
de serem ensinadas aos professores como um aliado importante para o
alcance
da
inclusão
escolar
de
crianças
com
necessidades
educacionais especiais.
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