Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 a revista do conhecimento humano publicada pela FACID Teresina - PI Semestral ISSN 2358-3142 Página 1 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Página 2 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 a revista do conhecimento humano publicada pela FACID Teresina-PI As opiniões e artigos expressos aqui são de inteira responsabilidade dos autores. Periodicidade Semestral Rua Veterinário Bugyja Brito, 1354 - Horto Florestal CEP: 64052-410 • Teresina (PI) • Brasil Fone: (086) 3216-7900 / 3216-7901 www.facid.edu.br Página 3 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Revista Facid http://www.facid.edu.br [email protected] Editor - responsável Maria Helena Chaib Gomes Stegun Projeto Gráfico Castino Martins da Silveira e Luiz Carlos dos Santos Júnior Revisão Antonia Osima Lopes, Maria Helena Chaib Gomes Stegun, Maria Rosilândia Lopes de Amorim. Jornalista Responsável Marcos Sávio Sabino de Farias - MTB 1005 Impressão Gráfica Capa Amanda Paiva e Silva Martins Catulo Coelho dos Santos George Mendes Ribeiro Sousa Juciara Freitas Ribeiro (Egressos do Curso de Publicidade e Propaganda da FACID) Revista Facid: Ciência & Vida / Faculdade Integral Diferencial. V. 11, N. 2, 2015 / Teresina: FACID, 2015. Semestral ISSN 2358-3142 1. Pesquisa científica. 2. Desenvolvimento científico. CDD 509 CDU 001.891 Página 4 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 a revista do conhecimento humano publicada pela FACID Teresina-PI FACID - Faculdade Integral Diferencial Integral - Grupo de Ensino Superior do Piauí S/C Ltda. Maria Josecí Lima Cavalcante Vale Diretora Geral Lucia Cristina Gauber Coordenadora Geral Acadêmica Maria Helena Chaib Gomes Stegun Coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação Conselho Editorial da Revista Antonia Osima Lopes Maria Helena Chaib Gomes Stegun Hilris Rocha e Silva Isabel Cristina Cavalcante Moreira Maria do Carmo Bandeira Marinho Maria Josecí Lima Cavalcante Vale Nivea Maria Ribeiro Rocha da Cunha Thais Barbosa Reis Valéria de Deus Leopoldino de Arêa Leão Bibliotecária Marijane Martins Gramosa Vilarinho - CRB/3 – 1059 Página 5 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Página 6 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 EDITORIAL Página 7 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Página 8 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 EDITORIAL O ensino, a pesquisa, bem como a extensão, fazem parte do cotidiano acadêmico de qualquer instituição de ensino superior, uma vez que são partes indissociáveis do ensino de qualidade. A DeVry/FACID tem como propósito a integração dessas três atividades visando a formação de profissionais de excelência, além do mais, a pesquisa possui uma relevância estratégica na produção de conhecimentos para o desenvolvimento científico e tecnológico da nação. Com o crescimento acelerado do conhecimento e o acesso rápido à informação nos últimos anos, tornou-se impraticável o ensino baseado exclusivamente na transmissão de conhecimentos. A pesquisa científica está presente em todos os currículos das instituições de ensino, demonstrando assim sua importância no meio profissional. O mercado de trabalho está exigindo cada vez mais do profissional, que tenham não só conhecimentos teóricos, mas que possam realizar uma prática buscando a produção de novas ideais e conhecimentos. Partindo do princípio que o conhecimento não é algo acabado, mas em construção, uma vez que o mundo não é estático e o próprio homem está em permanente transformação, modificando assim a própria sociedade, muitas descobertas estão sendo feitas para atender as necessidades da população. O desafio das instituições de ensino superior hoje é formar indivíduos críticos que sejam capazes de buscar conhecimentos e de saber utilizá-los, buscando respostas as suas dúvidas quando estas respostas não estão disponíveis, utilizando a pesquisa como meio. Assim, o ensino superior tem como pressuposto a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, objetivando a construção de soluções individuais e coletivas conscientemente posicionadas em favor do desenvolvimento sociocultural da humanidade e esse conhecimento não poderá ficar guardado dentro da instituição, mas o trabalho produzido deve se disseminado através de apresentações em congressos, semanas cientificas e publicações em Anais , Jornais e Revistas científicas, para que possa contribuir com a sociedade. Com esse propósito, a Revista FACID Ciência & Vida mantém, na sua 2ª edição do ano de 2015 o compromisso com a divulgação de estudos e pesquisas e tem como enfoque os dados gerados através dos trabalhos de conclusão de curso e o Programa de Iniciação Científica e Tecnológica (PICT). Com esse compromisso, no volume 12, edição nº 2 de 2015, contamos com dezessete artigos, dentre eles artigos originais e artigos de revisão. Esta edição conta com artigos nas áreas de Psicologia, Medicina, Fisioterapia, Farmácia e Odontologia. Dentre os artigos da área da saúde, podemos identificar discussões de temas complexos e de diferentes contextos, desde esclarecimentos da comunidade sobre o uso adequado de plantas medicinais no trato das enfermidades à pesquisa sobre o uso indiscriminado de benzodiazepínicos, trazendo uma reflexão para a necessidade do treinamento dos médicos a respeito. A Fisioterapia e a Medicina nos presenteiam com pesquisas experimentais e de campo que tratam de temas atuais, como a verificação da eficácia do método de eletroestimulação na constipação, estudos sobre incontinência urinária feminina, Acidente Vascular Cerebral. A constatação da ocorrência de infecção do trato urinário, sobretudo em gestantes primíparas, e a identificação do tipo de infecção mais prevalente, assim como identificação de complicações em transplantes renais, dentre outros artigos. Podemos também adentrar a uma revisão bibliográfica sobre o uso do retalho fasciocutâneo sural como opção terapêutica para a reconstrução cirúrgica de lesões com exposição de áreas pouco vascularizadas. Essa edição apresenta também uma pesquisa experimental com ratos, chamando a atenção do uso de suplementos a base de proteína do soro do leite, o que abre espaço para a utilização indevida dos mesmos, pelos esportistas podendo traduzir-se em riscos para a saúde. Página 9 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 A Psicologia vem nos presentear com um estudo atual sobre a parentalidade, discutindo o exercício dos papéis dos pais dentro de uma sociedade contemporânea. Diversos artigos produzidos pelos alunos de Odontologia relatam pesquisas na área de oclusão, uso de drogas e infiltração, com pesquisas de campo que vêm contribuir para o avanço na área. Os temas são vastos e de grande relevância para a sociedade, mostrando cada vez mais a qualidade da produção dos alunos e o interesse por pesquisa. Boa leitura! Maria Helena Chaib Gomes Stegun Página 10 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 SUMÁRIO Página 11 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Página 12 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 SUMÁRIO ARTIGOS ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA DE MULHERES COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Thainara Valente de Amorim Alves¹, Evandro Nogueira Barros Filho² ........................... 17 AVALIAÇÃO FUNCIONAL E MORFOESTRUTURAL DO RIM DE RATOS WISTAR APÓS O USO DE SUPLEMENTO ALIMENTAR A BASE DE PROTEÍNA Andressa Alves de Andrade Silva1, Antônio Gonçalves Rodrigues Junior2....................... 26 O CONHECIMENTO DOS MÉDICOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE SOBRE OS BENZODIAZEPÍNICOS Karoline Cruz Silva¹ , Marília Ione Futino2........................................................................ 39 DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS E SUAS PRINCIPAIS MANIFESTAÇOES BUCAIS Giselle da Silva Oliveira¹; Eliana Campêlo Lago² ............................................................. 46 OS EFEITOS DA ELETROESTIMULAÇÃO EM MULHERES COM CONSTIPAÇÃO Kelly Serejo Machado¹ , Veruska Cronemberger Nogueira Rebêlo2................................... 56 INFECÇÃO URINÁRIA EM GESTANTES QUE REALIZARAM O PRÉ-NATAL DE ALTO RISCO EM UMA MATERNIDADE DE REFERÊNCIA Luanna Dias dos Reis Crisanto Leão¹, Isabel Cristina Cavalcante Carvalho Moreira²...... 66 INFLUÊNCIA DO ESTADO NUTRICIONAL NAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA (AVDS) EM IDOSOS Daniel Fialho de Oliveira Sampaio¹ , Adeildes Bezerra de Moura Lima2............................ 72 O USO DO RETALHO FASCIOCUTÂNEO SURAL REVERSO: UMA REVISÃO DE LITERATURA Joassan Perys Antonio de Araújo¹, Edison de Araújo Vale², Marcella Silva Marcos³....... 79 MICROCORRENTE GALVÂNICA E PEELING QUÍMICO DE ÁCIDO GLICÓLICO PARA TRATAMENTO DE ESTRIAS ALBAS Raphaela Gonçalves Silva ¹, Juçara Gonçalves de Castro2 ................................................. 90 INFILTRAÇÃO MARGINAL EM RESTAURAÇÕES DE RESINA COMPOSTA APÓS CLAREAMENTO DENTAL COM PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO 35% Natércya Brenda de Araújo Cavalcante¹, Conceição de Maria Probo de Alencar Batista².. 97 Página 13 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 OCORRÊNCIA DE BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA DE HOSPITAL PÚBLICO DE TERESINA-PI Ylara Liza Porto de Carvalho1 , Carlos Leonardo Evangelista Bento dos Santos2 , Guilherme Henrique Mendes Leal de Sousa Martins3 , Maria Clara Pimentel Lopes 4 , Géssica Kelly de Sousa Andrade5 ...................................................................................... 106 USO DE PLANTAS MEDICINAIS POR USUÁRIOS DE UM AMBULATÓRIO ESCOLA EM TERESINA-PI Robson de Carvalho da Silva 1 , Jairelda Sousa Rodrigues2 , Rosemarie Brandim Marques3.............................................................................................................................. 117 ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA DE MULHERES COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Thainara Valente de Amorim Alves¹, Evandro Nogueira Barros Filho²............................. 126 PROPORÇÕES DE IGUALDADE E ÁUREA EM MEDIDAS CRÂNIO-FACIAIS DE INDIVÍDUOS EM FASES DISTINTAS DO CRESCIMENTO Márcia Valéria Martins 1, Edmundo Médici Filho 2............................................................. 136 SER PAI NA CONTEMPORANEIDADE: A VISÃO DO HOMEM SOBRE A PARENTALIDADE Marcelle Beatriz Moraes Sousa1 , Milene Martins2 ............................................................. 146 TRANSPLANTE RENAL EM UM HOSPITAL PRIVADO DE TERESINA: INCIDÊNCIA DE COMPLICAÇÕES CLÍNICAS E CIRÚRGICAS NOS PRIMEIROS SEIS MESES PÓS-OPERATÓRIO Denise Sampaio Mendes Freire1, Avelar Alves da Silva2.................................................... 154 O PERFIL CLÍNICO-FUNCIONAL E DEMOGRÁFICO DE PACIENTES ACOMETIDOS POR ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Ana Flávia Machado de Carvalho¹, Gabriela Feitosa da Silva ².......................................... 165 NORMAS EDITORIAIS ................................................................................................ 177 Página 14 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 ARTIGOS Página 15 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Página 16 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA DE MULHERES COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA PHYSIOTHERAPY APPROACH FOR WOMEN WITH STRESS URINARY INCONTINENCE: A LITERATURE REVIEW Thainara Valente de Amorim Alves¹, Evandro Nogueira Barros Filho² RESUMO A incontinência urinária de esforço (IUE) é definida pela perda involuntária de urina ocasionada por um aumento de pressão e enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico (MAP). É a forma de incontinência urinária que apresenta maior prevalência, sendo responsável por 60% de todos os casos de incontinência urinária feminina, ocorrendo quando há um aumento da pressão intra-abdominal por esforços tais como: tosse, espirro, sorrir, saltar, caminhar ou orgasmo. Alguns fatores de riscos podem facilitar o desenvolvimento dessa afecção, como a idade avançada, raça branca, partos traumáticos, multiparidade, diminuição do estrógeno, além de cirurgias que podem lesionar e enfraquecer o assoalho pélvico desencadeando essa doença. A fisioterapia é uma área da saúde, integrante da equipe multidisciplinar, que através de algumas modalidades proporciona o fortalecimento da MAP, afim de restabelecer a continência urinária, prestando assistência aos pacientes com essa afecção. O objetivo desse estudo foi identificar na literatura os tratamentos fisioterapêuticos em mulheres com incontinência urinária de esforço. Para o alcance do objetivo, optou-se pelo método de revisão sistemática. O levantamento dos artigos ocorreu nas bases de dados do Google Acadêmico e de portais como Bireme, Lilacs e Scielo. Após a busca, foram encontrados 43 resultados e, posteriormente à aplicação dos critérios de inclusão, 11 artigos foram selecionados. Os recursos e técnicas fisioterapêuticas no tratamento da IUE mais utilizados nos artigos selecionados foram, cinesioterapia (54%), seguido de eletroestimulação transvaginal e uso de cones vaginais (27%), ginástica hipopressiva (15%) e Biofeedback (8%). Conclui-se que a fisioterapia mostrou-se como parte fundamental no tratamento conservador da IUE, proporcionando maior controle na perda de urina e um aumento significativo na qualidade de vida das mulheres. Mas devido à escassez de trabalhos encontrados na literatura, e a quantidade de mulheres acometidas por tal doença, faz-se necessário uma maior investigação e pesquisa acerca desse assunto, com o objetivo de esclarecer e observar os efeitos proporcionados e quais métodos são mais eficazes no tratamento da IUE. Palavras-chave: Fisioterapia. Incontinência urinária. Saúde da mulher. __________________ ¹ Aluna do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DeVry Email: [email protected] ² Professor do Curso de Fisioterapia da Facid. Email: [email protected] Página 17 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 ABSTRACT Stress Urinary incontinence (SUI) is defined as the involuntary loss of urine caused by increased pressure and weakening of the pelvic floor muscles (PFM). It is the most common kind of urinary incontinence, accounting for 60% of all cases of female urinary incontinence. It occurs when there is an increase of intra-abdominal pressure by efforts such as coughing, sneezing, smiling, jumping, walking or orgasm. Some risk factors such as advanced age, white race, traumatic births, multiparity and decreased estrogen can make it easier for the disease to appear as well as surgeries that can damage and weaken the pelvic floor triggering this disease. Physiotherapy, which is a member of a multidisciplinary team belonging to the health area, can restore urinary incontinence and assist patients with this condition through some modalities that provide the strengthening of PFM. This study aimed to identify physiotherapy treatments in women with stress urinary incontinence in literature. It used the systematic review method. The survey of articles occurred in database such as the Google Scholar, Bireme, Lilacs and Scielo. After the search, 43 results were found and, by the inclusion criteria, 11 articles were chosen. Physical therapy has an important role in the treatment of stress urinary incontinence and makes use of a series of techniques and resources. Among them, the most used one in the selected articles were kinesiotherapy (54%), followed by transvaginal electrostimulation and the use of vaginal cones (27%), hypopressive gymnastics (15%) and Biofeedback (8%). Physical therapy proved to be a key part in the conservative treatment of stress urinary incontinence, providing greater control in the loss of urine and a significant increase in women’s quality of life. But, due to the scarcity of studies in literature and the number of women affected by this disease, there is the need of further investigation and research on this subject in order to clarify and observe the effects provided and which methods are most effective in SUI treatment. Keywords: Physiotherapy, Urinary Incontinence, Women's Health. 1 INTRODUÇÃO Para manter uma boa continência urinária, devem-se ter alguns fatores em boa funcionalidade, como pressão intrauretral maior que a intravesical, integridade da musculatura do assoalho pélvico (MAP), uma boa sustentação anatômica do trato urinário, além da função normal dos esfíncteres (DUMONT, 2013). De acordo com Silva (2012), o assoalho pélvico é uma estrutura complexa formada por músculos, fáscias e ligamentos que engloba a pelve e sua função é suportar os órgãos pélvicos, manter a continência urinária e fecal, além da função sexual. A musculatura que o compõe é representada pelo esfíncter anal, músculos perineais superficiais, diafragma urogenital e diafragma pélvico. Um assoalho pélvico (AP) saudável e funcional tem um bom tônus e elasticidade. Segundo Rodrigues (2008) um assoalho pélvico com função deficiente ou inadequada é um fator etiológico relevante na ocorrência da incontinência urinária de esforço (IUE). Segundo a "International Continence Society" (ICS), incontinência urinária de esforço (IUE) é a perda involuntária de urina pela uretra, que pode ocorrer quando a pressão intravesical exceder a pressão uretral máxima na ausência de contração do músculo detrusor. A forma de incontinência urinária que apresenta maior prevalência é a IUE, sendo responsável por 60% de todos os casos de incontinência urinária feminina, ocorrendo quando há um aumento da pressão intra-abdominal por esforços tais como: tosse, espirro, risada, saltar, caminhar ou orgasmo (ABRAMNS et al., 2003). No Brasil, são poucos os estudos sobre a prevalência de incontinência urinária ou mesmo sobre seus fatores de risco. Em mulheres idosas (maiores de 60 anos) com domicílio no município de São Paulo, a prevalência de IU registrada por meio de entrevistas foi de 26,2%. Fatores de risco citados para o desenvolvimento de incontinência urinária de esforço incluem: idade avançada; raça branca; obesidade; partos vaginais quando, na passagem do feto, podem ocorrer danos à musculatura e Página 18 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 inervação locais; partos traumáticos com o uso de fórceps e/ou episiotomias; multiparidade e gravidez em idade avançada, deficiência estrogênica, condições associadas a aumento da pressão intraabdominal; tabagismo; diabetes, doenças do colágeno; neuropatias e histerectomia. No Brasil, apesar de muitas mulheres não relatarem a presença de IUE, estima-se que 11 a 23% da população feminina sejam incontinentes e em idosas essa prevalência pode variar entre 8 a 35% (OLIVEIRA; ZULIANI, 2010). De acordo com Maggi (2011), o exercício do assoalho pélvico é uma forma de tratamento para pacientes com incontinência urinária de esforço (IUE). Tal abordagem, adequadamente conduzida e supervisionada, alcança resultados satisfatórios. Segundo Knorst et al. (2013) há tempos sabe-se que o tratamento fisioterapêutico por meio da cinesioterapia, eletroestimulação vaginal, reforço com cones vaginais, biofeedback, reeducação comportamental e ginástica hipopressiva, apresenta resultados expressivos na melhora dos sintomas de IUE em até 85% dos casos. Essas modalidades podem ser usadas de forma isolada ou associadas e o tratamento pode ser individual ou em grupo. Desta maneira, o problema de pesquisa objetivou saber quais os tratamentos fisioterapêuticos da incontinência urinária de esforço em mulheres relatados na literatura. Com isso, o objetivo geral foi identificar na literatura os tratamentos fisioterapêuticos em mulheres com incontinência urinária de esforço. Apresentando como os objetivos específicos: descrever a incontinência urinária de esforço; descrever os tipos de tratamento fisioterapêutico apontados no tratamento de mulheres com incontinência urinária de esforço; analisar a eficácia dos efeitos proporcionados e a melhora na qualidade de vida dessas mulheres. Essa pesquisa justifica-se, pois mesmo a fisioterapia sendo indicada como a primeira opção no tratamento de IUE (ABRAMS et al., 2003), existe pouca assistência voltada à prevenção e tratamento de mulheres incontinentes no Brasil, considerando o alto índice dessa patologia e com um grande número de mulheres afetadas. Faz-se necessária a investigação de novas técnicas propedêuticas, além do cirúrgico e o medicamentoso, afim de observar os efeitos proporcionados, e a melhora na qualidade de vida dessas mulheres, possibilitando medidas preventivas e tratamento especializado. 2 METODOLOGIA O levantamento dos artigos ocorreu nas bases de dados do Google Acadêmico e de portais como Bireme, Lilacs (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde) e Scielo (Scientific Electronic Library Online). Os descritores utilizados foram: fisioterapia, incontinência urinária, saúde da mulher. As buscas foram realizadas no período de fevereiro a junho de 2015, limitando-se aos artigos que foram publicados retrospectivamente até o ano de 2008. Os critérios de inclusão elegíveis corresponderam aos seguintes itens: ensaios clínicos, estudo caso-controle, estudos descritivos, experimental de caso único, séries de casos, relato de caso e abordando algum recurso fisioterapêutico no tratamento da incontinência urinária de esforço. Foram excluídos aqueles com outro desenho metodológico e os que não discriminavam os resultados por tipo de recurso fisioterapêutico, bem como os artigos sem possibilidade de acesso gratuito e que estavam disponíveis apenas em formato de resumo simples. A análise dos dados foi feita após apuração dos estudos incluídos na pesquisa, através da estatística descritivas utilizando o software Microsoft Excel 2010, onde foram calculados os percentuais dos recursos e elaborados um gráfico e um quadro. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Depois do levantamento dos dados, 43 artigos foram encontrados que, após a aplicação dos critérios de inclusão, resultou em 11 estudos selecionados envolvendo as modalidades fisioterapêuticas e que apresentaram uma maior significância para identificar as formas mais relevantes no tratamento da incontinência urinária de esforço em mulheres. O Quadro 1 apresenta a Página 19 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 distribuição dos artigos que fundamentaram este estudo, indicando-se os autores, ano de publicação, título do trabalho e abordagem metodológica. Quadro 1 – Distribuição dos artigos conforme autores, ano de publicação, título do trabalho e abordagem metodológica Autores/Ano Título Dreher et al. 2009 O fortalecimento do assoalho pélvico com cones vaginais: programa de atendimento domiciliar. Análise da qualidade de vida em mulheres com incontinência urinária antes e após tratamento fisioterapêutico. Honório al. 2009 et Santos et all. 2009 Eletroestimulação funcional do assoalho pélvico versus terapia com os cones vaginais para o tratamento de incontinência urinária de esforço. Berbam, 2011 Exercícios de kegel e ginástica hipopressiva como estratégia de atendimento domiciliar no tratamento da incontinência urinária feminina: relato de caso. Contração muscular do assoalho pélvico de mulheres com incontinência urinária de esforço submetidas a exercícios e eletroterapia: um estudo randomizado. Beuttenmüll er et al. 2011 Costa et al. 2011 Ginástica hipopressiva como recurso proprioceptivo para os músculos do assoalho pélvico de mulheres incontinentes. Metodologia e Amostragem Estudo de caso com uma paciente de 60 anos submetida ao uso dos cones vaginais. Variável Conclusão 3x na semana realizado protocolo de exercícios 2x ao dia. Após a intervenção observou-se uma significativa melhora na qualidade de vida. Pesquisa do tipo intervencionista com 10 pacientes que foram submetidas a cinesioterapia e eletroestimulação endovaginal. Estudo randomizado com 45 mulheres divididas em dois grupos, sendo um utilizado a eletroestimulação e o outro a utilização dos cones vaginais. Estudo de caso com uma paciente com 58 anos submetida a cinesioterapia associada a ginástica hipopressiva. 10 sessões realizadas individualmente, 2x na semana com protocolo de exercícios de kegel associadas a EE. 2x na semana, com duração de 20 min, em um período de 4 meses, divididas em GElet e GCon. Os resultados foram: na percepção geral da saúde 5,3 (± 1,64) e 3,0 (± 1,05) e p=0,001. Apresentaram declínio bem como o uso de proteção diária que passou de 50% para 10%. Diminuição do peso do absorvente (em gramas) nos dois grupos (28,5 g e 32 g versus 2,0 g e 3,0 g, para GElet e GCon, respectivamente) (p<0,0001) 1x ao dia durante 30 dias consecutivos, com protocolo de exercícios de kegel intercalados com exercícios da ginástica hipopressiva. Os resultados encontrados mostram ser uma estratégia de autocuidado com resultados satisfatório por se caracterizar como um método não invasivo, resolutivo e de baixo custo Estudo longitudinal, experimental, randomizado com 71 idosas submetidas divididas em: grupo eletro + exercícios, grupo eletro, grupo controle. Divididos em 3 grupos: GEE = 24; GE = 25; GC = 22 Foi realizado 12 sessões 2x na semana. Estudo experimental com 14 participantes que foram submetidas a ginástica hipopressiva. 3 sessões individuais com período de 12 semanas, submetidas ao protocolo de ginástica hipopressiva. O GEE foi estatisticamente significante em relação ao GC, pois apresentou melhores resultados em AFA fibras I (Δ%=11,99; p=0,000) e AFA fibras II (Δ%=11,60; p=0,000). O GE, quando comparado ao GC, obteve êxito estatisticamente significante em AFA fibras I (Δ%=4,75; p=0,021) e AFA fibras II (Δ%=2.93; p=0.002). Os resultados mostraram melhora em todos os parâmetros de função muscular avaliados: Oxford (p = 0,0005); endurance (p = 0,0001) e número de contrações rápidas (p < 0,0001), Página 20 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Glisoi; Girelli, 2011 Importância da fisioterapia na conscientização e aprendizagem da contração da musculatura do assoalho pélvico em mulheres com incontinência urinária. Cinesioterapia no tratamento da Incontinência Urinária em mulheres idosas. Estudo experimental quantitativo com 10 mulheres submetidas a cinesioterapia, treino funcional e Biofeedback. 8 sessões 2x por semana submetidas a protocolo de exercícios assoaciados. Estudo intervencionista, prospectivo envolvendo 11 idosas com mais de 60 anos para realizar cinesioterapia. Sessões semanais durante 3 meses, com protocolo de exercícios de Kegel. Silva; Oliva, 2011 Exercícios de Kegel associados ao uso de cones vaginais no tratamento da incontinência urinária: estudo de caso. Estudo de caso com mulher de 59 anos submetida a cinesioterapia associada ao uso dos cones vaginais. 10 sessões 3x por semana com exercícios de Kegel, na 4º semana foi associado os cones vaginais ao tratamento. Sousa; Ferreira; Oliveira; Cestari, 2011 Avaliação da força muscular do assoalho pélvico em idosas com incontinência urinária. 2 sessões semanais de forma individualizada em um total de 12 sessões. Fitz et 2012 Impacto do treinamento dos músculos do assoalho pélvico na qualidade de vida em mulheres com incontinência urinária. Estudo experimental envolvendo 22 participantes que foram submetidas a AFA e posteriormente a cinesioterapia. Ensaio clínico prospectivo com 36 mulheres submetidas a cinesioterapia. Oliveira; Garcia, 2011 al. Sessões semanais em um período de 3 meses com exercícios de Kegel. apresentando aumento da função muscular do assoalho pélvico Biofeedback em relação à média inicial (11,22 para 19,040) com p <0,003 O questionário de qualidade de vida redução significativa (p < 0,029) . Uma melhora de 80% a 90% em consciência e controle da contração Observou-se redução na média de frequência de micções noturnas na presença de noctúria (3 versus 1,5) e na média do número de situações de perda urinária aos esforços (3,72 versus 1,45) Foi possível identificar aumento da força muscular perineal e diminuição da IU após o tratamento. A paciente também referiu que durante suas atividades diárias está conseguindo segurar cada vez mais a urina, não ocorrendo mais as perdas em jato. Houve aumento significativo no grau de força muscular após o tratamento (p ≤ 0,05) e aumento no pico e no tempo de contração Observou-se diminuição significativa das médias dos escores em todos os domínios avaliados pelos KHQ (p ≤ 0,11) e diminuição da perda urinária e frequência urinária noturna das pacientes (p ≤ 0,05). Fonte: Dados da pesquisa (2015). Os artigos relacionados apresentam grupos de tratamento variando entre 1 e 71 mulheres, englobando um total de 222 pacientes estudados, com idade variando entre 22 e 74 anos. Destes, 7 artigos abordaram o treinamento proposto por Kegel e/ou associados a outro método, 3 investigaram exercícios perineais associados a eletroestimulação e uso de cones vaginais, 2 artigos analisaram a ginástica hipopressiva, 1 artigo investigou os exercícios perineais associados ao Biofeedback (Gráfico 1). Página 21 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Gráfico 1 - Divisão dos recursos fisioterapeuticos encontrados nos artigos selecionados 8 15 54 23% Cinesioterapia Eletroestimulação e Cones Vaginais Ginástica Hipopressiva Biofeedback Fonte: Dados da pesquisa (2015). Segundo Oliveira e Garcia (2011) e a totalidade dos artigos afirmaram que a maioria da população acometida por tal afecção, são mulheres idosas e que muitas vezes é erroneamente interpretada como parte natural do envelhecimento o que leva a um pequeno número dessas mulheres a procurarem uma ajuda profissional. Embora possa ocorrer em todas as faixas etárias, a incidência da incontinência urinária aumenta com o decorrer da idade. Calcula-se que 8 a 34% das pessoas acima de 65 anos possuam algum grau de incontinência urinária, sendo mais prevalente em mulheres. Aproximadamente 10,7% das mulheres brasileiras procuram atendimento ginecológico queixando-se de perda urinária. A incontinência urinária repercute na qualidade de vida, no que diz respeito ao trabalho e à vida social, acarretando perdas funcionais, psicossociais e emocionais e levando essas mulheres a isolamento social e mudança nos hábitos de vestimenta e da vida diária, como forma de evitar situações constrangedoras (DREHER et al., 2009). As alterações que comprometem o convívio social como vergonha, depressão e isolamento, que frequentemente fazem parte do quadro clínico, causando grande transtorno aos pacientes e familiares foi outro apontamento visto em todos os artigos. Independentemente do tipo de IU, os prejuízos para a qualidade de vida são inúmeros e, por isso, a ICS tem recomendado a aplicação de um questionário para melhor avaliar esse problema. Existem vários questionários que podem ser utilizados em mulheres incontinentes com esse objetivo, podendo ter um caráter genérico ou específico. Dentre os específicos destaca-se o King’s Health (KHQ), por investigar tanto a presença de sintomas de IU quanto seu impacto relativo, levando a resultados mais consistentes (SOUSA et al., 2011). Segundo Camillato, Barras e Silva Junior (2012), a patogênese da IUE começa com a perda de suporte da musculatura do assoalho pélvico (AP), o treinamento desses músculos é eficaz. O treinamento da musculatura do assoalho pélvico (TMAP) através da fisioterapia, leva à hipertrofia das fibras dos músculos e maior recrutamento de neurônios motores ativos, promovendo elevação permanente da musculatura do AP e melhor suporte para as vísceras dentro da pelve. O TMAP proporciona contração muscular rápida e forte do AP, que sustenta a uretra e aumenta a pressão intrauretral, evitando perda de urina durante aumentos da pressão intra-abdominal. Além disso, a coordenação e o tempo exato da contração muscular do AP podem impedir a descida da uretra durante o aumento abrupto da pressão intra-abdominal. O TMAP é a opção menos invasiva para o tratamento e não causa efeitos colaterais, o que o torna o único método sem restrições para qualquer paciente (CAMILLATO; BARRAS; SILVA JUNIOR, 2012). O fortalecimento da MAP, através da cinesioterapia perineal, foi descrito pela primeira vez em 1948, por Arnold Kegel. Seu tratamento é constituído por exercícios que promovem o fortalecimento Página 22 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 e a melhora do tônus muscular, através da contração voluntária do assoalho pélvico. O principal objetivo da cinesioterapia perineal é o reforço da resistência uretral e a melhora da sustentação dos órgãos pélvicos (OLIVEIRA; GARCIA, 2011). Os mesmos autores supracitados, realizaram um estudo envolvendo 11 mulheres com média etária 74.2 anos, divididas em dois grupos com sessões uma vez por semana durante 3 meses, compostas de exercícios específicos para a musculatura do assoalho pélvico, realizados nas posições sentada, deitada, de pé e andando, com duração de 30 minutos cada sessão. Ao final do tratamento, observaram redução na média de frequência de micções noturnas na presença de noctúria (3 versus 1,5) e na média do número de situações de perda urinária aos esforços (3,72 versus 1,45) com p=0,02. Comparando o estudo anterior com a pesquisa de Fitz et al. (2012), estes autores propuseram para 36 mulheres, com idade média de 55,2 anos (± 9,1), a realização de contrações rápidas e lentas em diversas posições, porém com o mesmo tempo de duração; observaram que também houve um aumento da força e endurance muscular, com consequente diminuição da perda urinária e além disso, ainda houve a redução da noctúria. Berbam (2011), em um estudo realizado com uma paciente, 1x ao dia durante 30 dias consecutivos, com protocolo de exercícios de Kegel intercalados com exercícios da ginástica hipopressiva, mostrou resultados satisfatórios. Desta forma, o treinamento da MAP com a cinesioterapia perineal (exercícios de Kegel) de forma isolada ou associada a ginástica hipopressiva ser capaz de promover o incremento da força, endurance muscular, a redução da noctúria, a diminuição da perda involuntária de urina e ainda a melhora no perfil emocional das pacientes, o que corrobora com os efeitos encontrados nos estudos de Fitz et al (2012) e Oliveira e Garcia (2011). A fisioterapia dispõe de outros recursos que podem ser associados ao tratamento da IUE, dentre eles o Biofeedback, um aparelho que auxilia na mensuração e demonstração da contração muscular, ajuda a potencializar os efeitos do fortalecimento da MAP, através de estímulos visuais e/ou auditivos, que vão conscientizar a mulher, de quando deve contrair e relaxar a musculatura (GLISOI; GIRELLI, 2011). O Biofeedback demonstra ser um recurso eficaz para a propriocepção do assoalho pélvico e melhor controle desta região através dos resultados de um estudo que teve em relação à média inicial (11,22 para 19,040) com p <0,003. O questionário de qualidade de vida mostrou redução significativa (p < 0,029). Uma melhora de 80% a 90% em consciência e controle da contração. Tal resultado foi observado por Glisoi e Girelli (2011) em estudo experimental quantitativo com 10 mulheres submetidas a 8 sessões 2x por semana, com protocolo de exercícios perineais associados ao uso do Biofeedback. Outro recurso fisioterapêutico que pode ser empregado no tratamento da IUE com bons resultados, segundo Santos et al. (2009), é a eletroestimulação (EE) do assoalho pélvico e a utilização dos cones vaginais. Em um estudo randomizado com 45 mulheres divididas em dois grupos, tendo um utilizado a eletroestimulação (GElet) e o outro, a utilização dos cones vaginais (GCon). As mulheres foram submetidas a sessões 2x na semana, com duração de 20 min, em um período de 4 meses. O resultado encontrado foi diminuição do peso do absorvente (em gramas) nos dois grupos (28,5 g e 32 g versus 2,0 g e 3,0 g, para GElet e GCon, respectivamente com significância: p<0,0001. Contradizendo aos achados da eficácia da EE da MAP com a cinesioterapia, Beuttenmuller et al. (2011) constataram que a cinesioterapia foi mais eficaz na melhora da força muscular. Estes resultados foram observados na pesquisa, do mesmo autor, com 71 mulheres, divididas em 3 grupos: grupo de eletroestimulação associados a exercícios perineais (GEE) com 24 mulheres; grupo de eletroestimulação (GE) com 25 mulheres; grupo controle (GC) com 22. Os resultados obtidos demonstraram que GEE foi estatisticamente significante em relação ao GC, pois apresentou melhores resultados em AFA fibras I (Δ%=11,99; p=0,000) e AFA fibras II (Δ%=11,60; p=0,000). O GE, quando comparado ao GC, obteve êxito estatisticamente significante em AFA fibras I (Δ%=4,75; p=0,021) e AFA fibras II (Δ%=2.93; p=0.002), certificando que a cinesioterapia foi mais eficaz no teste AFA. Página 23 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 As pesquisas demonstraram que os exercícios propostos por Kegel, associados à ginástica hipopressiva, em mulheres que apresentam uma boa conscientização corporal, de forma supervisionada, foram capazes de trazer relevante redução das perdas involuntárias de urina, na diminuição da frequência urinária, redução da noctúria e ainda melhora no perfil emocional das pacientes. Os resultados alcançados pelos tratamentos com o Biofeedback também foram positivos, e indicaram que é um importante aliado quando associado ao treinamento de contrações rápidas e lentas da MAP, proporcionando mudança significativa na consciência perineal, ganho de força muscular, redução da perda urinária e melhora na qualidade de vida das mulheres. A eletroestimulação transvaginal e o uso dos cones vaginais, destacaram-se como outros recursos fisioterapêuticos eficazes no tratamento da IUE, sendo melhor utilizados quando as pacientes não possuem uma conscientização corporal adequada, proporcionando ativação nas conexões neuromusculares, facilitando o reconhecimento da MAP pelas pacientes. 4 CONCLUSÃO Foi possível identificar que a fisioterapia se mostra como parte fundamental no tratamento conservador da IUE, onde vem demonstrando bons resultados, especialmente, nos casos em que há correta indicação médica e é realizado um trabalho em equipe. As pesquisas evidenciaram que a cinesioterapia é o recurso mais utilizado, representando mais da metade das modalidades citadas pelos artigos. Essa terapia associada ou não à ginástica hipopressiva, de forma supervisionada, são capazes de trazer relevante redução das perdas involuntárias de urina, na diminuição da frequência urinária, redução da noctúria e ainda melhora no perfil emocional das pacientes. Os resultados alcançados pelos tratamentos com o biofeedback, a eletroestimulação transvaginal e os cones vaginais, também foram positivos, principalmente, quando a paciente não apresentava uma adequada conscientização corporal, proporcionando mudança significativa na consciência perineal, ativando as conexões neuromusculares, ganho de força muscular, redução da perda urinária, mas que raramente pode trazer alguns efeitos adversos. Os estudos mostraram que os recursos fisioterapêuticos relatados, proporcionaram melhora significativa dos sintomas da IUE, o que levaram, consequentemente, ao aumento da qualidade de vida das mulheres acometidas por tal afecção, como também evidenciaram a escassez de trabalhos relacionados a essa temática, visto o grande número de mulheres acometidas, sendo necessário novas investigações e estudos sobre tal área da saúde, afim de apontar e esclarecer qual seria a melhor propedêutica no tratamento da incontinência urinária de esforço.. REFERÊNCIAS ABRAMS, P. et al. Standardisation of terminology of lower urinary tract function: report from the Standardisation Subcommittee of the International Continence Society. Am J Obstet Gynecol., 2003. BERBAM, L. Exercícios de Kegel e Ginástica Hipopressiva como estratégia de atendimento domiciliar no tratamento da incontinência urinária feminina: relato de caso. Rio Grande do Sul, 2011. BEUTTENMULLER, L. et al. 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O objetivo foi avaliar as alterações de filtração glomerular, funções tubulares renais e histopatológicas relacionadas ao uso de suplemento alimentar à base de proteína no rim de ratos Wistar. Foi realizada uma pesquisa experimental com 12 ratos Wistar divididos em dois grupos aleatórios: Grupo I (controle) e Grupo II (com intervenção). O grupo II recebeu o suplemento por um período de quatorze dias. Foram coletadas amostras de urina dos animais para realização de sumário de urina e amostras de sangue para dosagem de uréia, creatinina, sódio, potássio e cloro. Ao final do experimento, os animais foram eutanasiados e os rins foram coletados para estudo histopatológico. Após a suplementação observou-se no Grupo II uma redução nos níveis de uréia (p = 0,00930) e aumento da densidade urinária (p = 0,4645). A grande maioria dos animais (67%) do grupo II tiveram proteinúria significativa (p = 0,040); a presença de células epiteliais e cilindros céreos ocorreu em 50% e 67%, respectivamente. A análise histológica dos rins mostrou a presença de áreas com dilatação dos vasos sanguíneos peritubulares e glomérulos congestos. Conclui-se que o uso do suplemento proteico provocou alteração na filtração glomerular e tubular, representada somente pelo aumento significativo da proteinúria, congestão glomerular e vascular peritubular à análise histopatológica. Palavras-chave: Lesão renal aguda. Sobrecarga proteica renal. Suplementos à base de proteína derivada do soro do leite. ABSTRACT Sportsmen have used whey protein supplements more and more, which can cause their misuse and health risks. This paper aimed to evaluate the glomerular filtration, renal tubular and histopathological changes regarding the use of protein supplement in the Wistar’s kidney. 12 Wistar rats were divided into two random groups: Group I (control) and Group II (with intervention). Group II received the supplement for fourteen days. Animal urine samples were collected to conduct summary of urine and blood samples for levels of urea, creatinine, sodium, potassium and chlorine. At the end of the experiment, the animals were euthanized and kidneys were collected for histopathology. After supplementation, a reduction in urea levels (p = 0.00930) and increased urinary density (p = 0.4645) was observed in group II. Most animals (67%) had significant proteinuria (p = 0.040), the presence ___________________ 1Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID. Email: [email protected] 2Médico nefrologista. Professor de Nefrologia da Faculdade Integral Diferencial. Email: [email protected] . Página 26 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 of epithelial cells and CÉREOS cylinders occurred in 50% and 67%, respectively. The kidney histological examination revealed the presence of areas peritubular glomeruli extension and congested blood vessels. The use of protein supplement caused change in glomerular and tubular filtration, represented only by the significant increase in proteinuria and glomerular and vascular peritubular congestion at the histopathological analysis. Keywords: Acute renal injury. Kidney protein overload. Whey Protein Supplements. 1 INTRODUÇÃO O uso de suplementos alimentares a base de proteína do soro do leite transformou-se em uma verdadeira epidemia, principalmente, entre os praticantes de atividades físicas, em virtude da busca implacável pela beleza corporal a qual cultiva a sociedade moderna. Os esportistas vêm tornando-se cada vez mais adeptos ao uso de suplementos nutricionais, o que abre espaço para a utilização indevida dos mesmos, podendo traduzir-se em riscos para a saúde (ARAÚJO; SOARES, 1999). A proteína do soro do leite é um dos suplementos alimentares mais populares dentre os praticantes de atividades físicas. A utilização de suplementos a base de proteínas e aminoácidos comerciais por atletas e esportistas, possui como principais objetivos a substituição de proteínas da dieta, aumento do valor biológico das proteínas da refeição e seus efeitos anti catabolizantes e anabolizantes (KREIDER; MIRIEL; BERTUN,1993). Apesar das inúmeras pesquisas mostrando efeitos fisiológicos benéficos das proteínas e peptídeos do soro de leite, particularmente, em experimentos com animais, o conhecimento ainda é muito limitado sobre esses efeitos no organismo humano. Muito há que se pesquisar sobre os verdadeiros mecanismos de ação dessas proteínas e peptídeos e das quantidades que devem participar da dieta para produzir seus efeitos benéficos (SGARBIERI, 2004). Segundo Paiva, Alfenas e Bressan (2007), a sobrecarga proteica associada ao uso de tais suplementos tem sido associada a repercussões orgânicas. Não existe, entretanto, consenso a respeito dos efeitos sobre a morfologia e função renal. O presente estudo teve como objetivo avaliar alterações de filtração glomerular, funções tubulares renais e histopatológicas ocasionadas pelo uso do suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard no rim de ratos Wistar. 2 MATERIAL E MÉTODOS Após aprovação da Comissão de Ética no Uso em Animais CEUA/FACID, sob Protocolo nº 056/14, realizou-se o estudo no Laboratório de Fisiologia da FACID DeVry, respeitando os princípios éticos estabelecidos pela Lei n. 11.794/08, conhecida como Lei Arouca. Todo o experimento obedeceu aos princípios éticos em experimentação animal, preconizados pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA). Trata-se de um estudo experimental, longitudinal, intervencionista, tipo caso-controle com abordagem quantitativa. O estudo foi realizado no Laboratório de Fisiologia da Faculdade Integral Diferencial (FACID), localizada em Teresina, Estado do Piauí, região nordeste do Brasil. População estudada e procedimentos experimentais Foram utilizados 12 ratos machos adultos (Rattus norvegicus) da linhagem Wistar, pesando aproximadamente 256,17g ± 21,94, mantidos no Biotério do Laboratório de Fisiologia da FACID, confinados em gaiolas plásticas, em ambiente com temperatura, umidade, luminosidade e ruído controlados, em ciclo claro-escuro de 12 horas e alimentados com ração balanceada tipo Purina e água ad libitum. Página 27 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Os animais foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos: o Grupo I (controle; n=6), foi mantido com ração e água filtrada, oferecidos ad libitum, durante quatorze dias. O Grupo II (com intervenção; n=6), além de receber sua alimentação habitual e água filtrada, recebeu suplementação diária, seis dias por semana, do suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard diluído em água filtrada, durante quatorze dias, na dose de 1 g/kg de peso corporal, administrada por gavagem. O suplemento alimentar foi adquirido de fonte comercial, e é composto por proteína do soro do leite isolada, proteína do soro do leite concentrada, peptídeos do soro do leite, cacau, sal, aroma natural e artificial, estabilizante lecitina de soja, edulcorantes artificiais sucralose e acessulfame K. Os animais foram mantidos em gaiolas metabólicas por 24 horas, antes do início da suplementação e após administração da última dose do suplemento alimentar, para coleta de urina, para posterior avaliação física, química, dos elementos anormais e sedimentos urinários, com o objetivo de avaliar função glomerular e renal, através do método tira reativa, do fabricante Bioeasy. Após a coleta da urina, os animais foram submetidos à anestesia com uma solução de cloridato de cetamina 100 mg/kg (Cristália) + cloridato de xilazina 20mg/kg (Anasedan), por via intraperitoneal. Após completa anestesia, os animais foram submetidos a uma tóraco-laparotomia mediana e coleta 5 a 8 ml de sangue através da punção da veia cava inferior. O sangue retirado foi acondicionado em tubos de vidro e submetido a centrifugação, por 15 minutos a 2000 rotações por minuto, para obtenção do soro. As amostras de soro foram acondicionadas em frascos de vidros com tampa e armazenadas em freezer para determinação bioquímica de uréia, creatinina, sódio, potássio e cloro, com o objetivo de avaliar funções glomerular e tubular renal. Uréia e creatinina foram determinadas, respectivamente, por método cinéticoenzimático e cinético-calorimétrico, através de kits do fabricante Biosystems, pelo equipamento A15. Sódio, potássio e cloro plasmáticos foram determinados pelo método do eletrodo íon-seletivo, pelo equipamento AVL. Após coleta de sangue, os animais foram submetidos à eutanásia, de acordo com os princípios éticos adequados (COBEA), através da secção do diafragma, provocando pneumotórax, o que levou à morte do animal por hipóxia. Posteriormente foi realizada nefrectomia bilateral, os órgãos foram fixados em formalina a 10% e processados histologicamente para obtenção de cortes transversais de 5 micrômeros de espessura, corados com hematoxilina e eosina (HE) e avaliados em microscópio de luz da marca Nikkon. Através de fotomicrografias dos cortes histológicos dos rins foram realizadas análises histológicas. Nos rins, a normalidade obedeceu aos quesitos: bem conservados, apresentando corpúsculos renais e túbulos contorcidos proximais e distais íntegros; os glomérulos formados por capilares, podócitos, células endoteliais e mesangiais sem alterações histológicas. Na região medular, analisaram-se as alças de Henle junto aos capilares e túbulos coletores, estes com citoplasma bem delimitado e núcleo esférico, quando dentro da normalidade. Outros itens avaliados: cápsula de Bowman íntegra, presença de células cúbicas ou poliédricas, apresentando citoplasma eosinófilo e núcleo arredondado. Análise estatística Os dados das variáveis aleatórias contínuas foram submetidos ao teste de normalidade D'Agostino & Pearson, para averiguação da distribuição normal do dados, seguindo a análise dos dados através do estudo das diferenças médias dos grupos através do teste t de student. Na análise da correlação dos dados de variáveis aleatórias discretas entre classes foram submetidos ao teste Qui-quadrado onde os mesmos foram transferidos para o programa estatístico SPSS 19,0. Em todos os testes foram utilizados Intervalo de Confiança de 95% e significância estabelecida em p<0,05. Página 28 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 3 RESULTADO E DISCUSSÃO Estudou-se 12 animais (ratos Wistar) no período de 14 dias. Resultados expressos na Tabela 1 mostram os valores de massa corpórea e da dosagem bioquímica do soro dos animais. Tabela 1 - Valores da massa corpórea e dosagem bioquímica no plasma de 12 animais (ratos Wistar), após o uso de suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard. Variáveis Controle M Caso DP M DP P Massa corpórea (g) 256,17 21,94 274,50 22,12 0,1801 Uréia (mg/dL) 41,17 4,62 31,83 5,42 0,0093** Creatinina (mg/dL) Sódio (mmol/L) Potássio (mmol/L) Cloreto (mmol/L) 0,50 0,07 0,56 0,10 0,2563 138,92 1,10 137,70 1,50 0,1392 5,12 0,32 6,75 2,45 0,1372 169,18 29,52 146,18 9,59 M: média; DP: desvio padrão; P: teste T de Student com IC 95% e significância em p<0,05. Fonte: Dados da pesquisa (2015). 0,0996 A média de peso dos animais do grupo I (controle) foi de 274,5g (± 22,12), com peso mínimo de 240g e máximo de 300g. O peso médio do grupo II (com intervenção) foi de 256,17g (± 21,94), com peso mínimo de 250g e máximo de 300g. Observou-se uma redução nos níveis de uréia [41,77%(4,62) versus 31,83%(5,42)] estatisticamente significativa (P = 0,0093) entre os grupos I e II, respectivamente. Houve elevação dos níveis de creatinina sérica do grupo II em comparação ao grupo I, porém em níveis não estatisticamente significativos (P = 0,2563). A função tubular renal dos animais no presente estudo foi avaliada através da dosagem de sódio, potássio e cloro séricos e através da análise urinária. Como mostra a Tabela 1 não houve alterações estatisticamente significativas nas dosagens destes eletrólitos entres os grupos I e II (P = 0,1392; P = 0,1372 e P = 0,096, respectivamente). O consumo dietético de proteína pode modular a função renal, não havendo consenso na literatura quanto ao seu papel na patogenia da doença renal. No centro da controvérsia encontra-se a preocupação de que o consumo habitual de proteína dietética acima das quantidades recomendadas promove doença renal crônica devido à hiperfiltração por aumento da pressão glomerular, contra o fato de que a pesquisa em indivíduos saudáveis não apoia esta ideia e de que hiperfiltração constitui uma resposta fisiológica, ou seja, um mecanismo adaptativo normal (WADA et al., 2014). No presente estudo, mesmo após suplementação com elevado teor de proteínas no grupo II, não houve um aumento desse analito no soro dos animais experimentais. Os resultados da presente pesquisa corroboram com o estudo de Martin, Armstrong e Rodriguez (2005), que descreveram que o impacto renal secundário a uma dieta hiperproteica por um curto período de tempo é diferente do impacto causado por um consumo crônico deste tipo de dieta, desta forma, o período de suplementação de 14 dias não foi suficiente para causar uma alteração significativa no metabolismo proteico e aumento deste metabólito. Segundo Menezes (2010), a uréia sérica geralmente não aumenta até que mais de 60% dos néfrons estejam sem função, tratando-se, portanto, de um marcador de alta especificidade e baixa sensibilidade. Os estudos avaliando o papel da ingestão proteica na filtração glomerular, realizados por Bosch et al. (1983) tiveram como consequência inicial a introdução do conceito de reserva funcional renal, que consiste na diferença de TFG que ocorre entre o estado basal e após alimentação. Segundo estes autores, a creatinina não somente aumenta a sua excreção renal devido a maior secreção tubular após Página 29 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 ingestão proteica, levando assim a um aumento da TFG numérica, mas também devido a ingestão de creatinina que acompanha a ingestão de proteína. Vegetarianos saudáveis são conhecidos por possuírem uma linha de base estatisticamente reduzida de TFG, mas a capacidade de aumentar a taxa de filtração glomerular após dieta rica em proteínas ainda é mantida, ao contrário de pacientes com um reduzido número de néfrons cuja reserva funcional renal pode ser diminuída ou ausente (LOHSIRIWAT, 2013). Outro mecanismo sugerido para o aumento da TFG foi a diminuição da sensibilidade do balanço túbulo glomerular. Esta hipótese se basea no fato de que ocorre aumento da reabsorção de sódio pelo túbulo proximal após ingestão de dieta hiperproteica. O aumento da reabsorção de sódio na porção proximal do néfron acarretaria menor carga de sódio na mácula densa e, assim, poderia ocorrer aumento da filtração glomerular por néfron (HARRIS; SEIFTER; BRENNER, 1984). Embora o efeito de hiperfiltração na função renal em indivíduos com doença renal e fatores de riscos pré-existente esteja bem documentada, a aplicação destes achados para pessoas saudáveis com função renal normal, não é apropriada. Até a presente data, nenhuma pesquisa clínica ou experimental correlacionou a hipertrofia ou hiperfiltração renal induzida por proteína para a iniciação da doença renal em indivíduos saudáveis (MARTIN; ARMSTRONG; RODRIGUEZ, 2005). Um coorte prospectivo de dez anos que estudou mulheres de meia idade não encontrou nenhuma relação entre dietas de alto teor proteico e um risco aumentado de declínio de função renal (KNIGHT, 2003). A função tubular renal dos animais no presente estudo foi avaliada através da dosagem de sódio, potássio e cloro séricos e através da análise urinária. Como mostra a Tabela 1, não se observou alterações estatisticamente significativas nos níveis destes eletrólitos entres os Grupos I e II. Contrariamente aos resultados do presente estudo, Singer (2003), após realizar estudo em animais de espécies variadas com implementação de uma dieta rica em proteínas, e objetivando avaliar a função excretora renal induzida por tal mudança alimentar, concluiu que, em geral, os animais respondem a um aumento da ingestão de proteína com uma alteração na função excretora renal, de modo a aumentar a eliminação dos principais produtos finais azotados do metabolismo de proteínas. Os componentes desta resposta incluem uma redistribuição de perfusão regional com aumento do fluxo sanguíneo renal, aumento da taxa de filtração glomerular e apuramento de amônia, aumento da depuração renal de uréia tubular, alterações no transporte de proteína e hipertrofia renal. O catabolismo de aminoácidos com a geração de amônia parece ser um pré-requisito necessário para esta resposta excretora ocorrer, visto que a amônia é uma molécula reguladora e um sinal importante para comunicação entre o catabolismo de aminoácidos na sequência de um aumento na ingestão de proteína e para a sequência de eventos que levam a uma mudança na função excretora. Outros estudos, corroborando com os resultados da presente pesquisa, mostram que dietas hiperproteicas podem não alterar ou alterar ligeiramente os níveis séricos dos eletrólitos, mas sem manifestações clínicas (NANKIVELL, 1994). Na análise física da urina dos animais do presente estudo, observou-se aumento da densidade após a intervenção, entretanto não estatisticamente significativo (Tabela 2). A densidade é um teste muito útil para a avaliação da capacidade de diluição e concentração renal. A perda da capacidade de concentração costuma ser o primeiro sinal de doença tubular renal (REINE; LANGSTON, 2005). Tabela 2 - Análise física da urina de 12 animais (ratos Wistar) antes e após o uso do suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard Controle Variáveis Caso X² n % n % Âmbar 6 100% 6 100% Outra cor 0 0% 0 0% Cor Antes* ___ Página 30 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Depois** Âmbar 6 100% 6 100% Outra cor 0 0% 0 0% Turvo 6 100% 6 100% Outros 0 0% 0 0% Turvo 6 100% 6 100% Outros 0 0% 0 0% ___ Aspecto Antes* ___ Depois** Densidade Antes* ___ 0,1577 1000 3 50% 2 33% 1010 1 17% 1 17% 1015 0 0% 3 50% 1020 2 33% 0 0% 1020 3 25% 2 17% 1025 2 17% 1 8% Depois** 0,4645 1030 1 8% 3 25% M: média; DP: desvio padrão; X²: teste Qui-quadrado com IC 95% e significância em p<0,05. *Antes da Suplementação; ** Depois da Suplementação. Valores expressos em (n/%) Fonte: Dados da pesquisa (2015). A densidade urinária varia conforme a hidratação corporal, consumo de fluidos e osmolaridade sérica. Em conformidade aos resultados do presente estudo, Reine e Langston (2005) relataram que na presença de proteinúria e glicosúria marcante, a densidade urinária pode estar aumentada, conduzindo a uma interpretação de que os túbulos renais possuem uma capacidade de concentração urinária maior na presença daquelas moléculas. A análise química da urina dos animais do presente estudo mostrou diferença significativa na proteinúria qualitativa após a intervenção entre os Grupos I e II, dados expostos na Tabela 3 (Apêndice A). DiBartola (1997) descreveu que a quantificação da proteína na urina é uma avaliação da função glomerular e/ou tubular. Para Forterre, Raila e Schweigert (2004), a detecção de um aumento na excreção de proteínas tem valor diagnóstico ou prognóstico na detecção inicial e confirmação de doença renal, e a quantificação da proteinúria pode ter valor considerável na avaliação da eficácia terapêutica e da progressão da doença. Dados epidemiológicos relativos à alteração da excreção urinária de proteínas devido dieta hiperproteica não são consensuais. Estudo realizado por Hoogeveen et al. (1998), mostrou que o risco de microalbuminúria aumenta progressivamente com o aumento da ingestão proteica diária, já Wrone et al. (2003) defende que a ingestão proteica é um fator de risco para microalbuminúria somente em indivíduos com diabetes e hipertensão. Estudo realizado por Metcalf et al. (1993) não encontrou nenhuma relação entre albuminúria e ingestão proteica. No presente estudo, observou-se um aumento de corpos cetônicos na urina do grupo que sofreu intervenção. A ingestão proteica acima das necessidades orgânicas leva ao aumento das reações catabólicas de seus aminoácidos, aumentando a produção de subprodutos como uréia, trifosfato de adenosina (ATP), gás carbônico, glicose, acetil coenzima A e corpos cetônicos. Alguns destes subprodutos podem resultar em efeitos adversos ao organismo (VOET; VOET; PRATT, 1998). Dados relativos ao sedimento urinário, expressos na Tabela 4 (Apêndice B), mostram que a maioria dos animais do Grupo II em comparação ao grupo I, apresentaram cilindros céreos após a Página 31 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 intervenção. Os cilindros granulares e céreos representam estágios sucessivos na degeneração dos cilindros celulares à medida que avançam pelos néfrons. Além de representar restos celulares, os grânulos presentes nesses cilindros também podem representar agregados de proteínas plasmáticas, ou seja, os cilindros granulares podem aparecer em qualquer patologia que curse com proteinúria (GREENBERG, 1998). No presente estudo, não se encontrou alterações histológicas nos rins do Grupo I (Figura 1). No Grupo II, na maioria dos rins (62%), observou-se áreas com dilatação dos vasos sanguíneos peritubulares e alguns glomérulos congestos (Figura 2). Figura 1 - Fotomicrografia do rim de animal do Grupo I (controle) demonstrando glomérulos, túbulos e interstício normais Fonte: Dados da pesquisa (2015). Figura 2 - Fotomicrografia do rim de animal do Grupo II (com intervenção) demonstrando congestão vascular peritubular e leve congestão glomerular Fonte: Dados da pesquisa (2015). Estudos realizados em seres humanos e animais mostraram que a ingestão proteica tem influencia na hemodinâmica intra-renal, aumentando de forma aguda a taxa de filtração glomerular (TFG) e o fluxo sanguíneo renal (FSR) em até 100% em relação ao nível basal (BRENNER; MEYER; HOSTETTER, 1982). Brenner, Meyer e Hostetter (1982) postularam a hipótese de que a ingestão de proteínas determinava uma vasodilatação glomerular com consequente aumento da pressão hidrostática capilar Página 32 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 e aumento da TFG. Estas alterações hemodinâmicas renais ocorreriam após cada refeição que contivesse proteínas e manteriam um estado de vasodilatação renal crônica que favoreceria o desenvolvimento de lesões glomerulares em pacientes que já apresentassem algum grau de lesão renal. De acordo com estes autores, alterações da hemodinâmica renal seriam importantes para o início e a progressão da glomeruloesclerose. O aumento da pressão hidrostática intracapilar e o aumento da TFG alterariam a seletividade da membrana glomerular, favorecendo o maior fluxo de proteínas plasmáticas que se acumulariam no mesângio, servindo como um estímulo para a produção de matriz mesangial, contribuindo para o processo de glomeruloesclerose. O efeito hemodinâmico a longo prazo de uma dieta de alto teor proteico no rim saudável não é bem compreendido. Ratos alimentados com uma dieta rica em lactoproteínas durante seis meses não apresentaram manifestação alguma de doença renal no exame histológico, apesar de terem apresentado mudanças dramáticas a nível de composição corporal em relação ao grupo controle (LACROIX et al., 2004). Condições experimentais apontam para o fato de que dietas hiperproteicas induzam aumentos significativos na TFG e no FSR, e que essas alterações tenham efeitos deletérios na função renal. No entanto, o impacto de uma dieta hiperproteica no rim de um indivíduo saudável, que adere a este tipo de dietas por períodos relativamente curtos, não está bem estabelecida (RODRIGUEZ-ITURBE; HERRERA; GARCIA, 1988). Em discordância com Harris, Seifter e Brenner (1984), no presente estudo, não se observou alterações de celularidade tubular e glomerular, nem hipertrofia de porções dos néfrons dos rins dos animais após suplementação proteica. Segundo os autores supracitados, uma dieta hiperprotéica, aumenta a reabsorção proximal de sódio, com aumento da atividade do trocador Na +-H+ no túbulo proximal. O aumento da carga protéica na dieta causa hipertrofia de todo o néfron, mas em especial da porção espessa da alça de henle, com aumento da atividade da bomba de Na-K-ATPase na membrana basolateral deste segmento. 4 CONCLUSÃO O presente estudo concluiu que o uso do suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard no rim de ratos Wistar durante curto período de dias, provocou alteração na filtração glomerular e tubular, representada somente pelo aumento significativo da proteinúria. Na avaliação histopatológica, a dieta hiperproteica ocasionou congestão glomerular e vascular peritubular. 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Página 35 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 APÊNDICE A Tabela 3 - Análise química da urina de 12 animais (ratos Wistar) antes e após o uso do suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard Controle Variáveis n Reação Antes* Depois** Proteínas Antes* Depois** Hemoglobina Antes* Depois** X² Caso % n % Ácida 0 0% 0 0% Alcalina 6 100% 6 100% Ácida 0 0% 0 0% Alcalina 6 100% 6 100% + 4 67% 1 17% ++ 0 0% 4 67% +++ 0 0% 0 0% ++++ 0 0% 0 0% Ausente 2 33% 1 17% + 3 50% 0 0% ++ 1 17% 1 17% +++ 0 0% 4 67% ++++ 0 0% 1 17% Ausente 2 33% 0 0% Presente 0 0% 0 0% Ausente 6 100% 6 100% Presente 0 0% 0 0% Ausente 6 100% 6 100% Presente 0 0% 0 0% Ausente 6 100% 6 100% Presente 0 0% 0 0% Ausente 6 100% 6 100% Presente 0 0% 0 0% Ausente 6 100% 6 100% Presente 0 100% 1 17% Ausente 6 100% 5 83% ___ ___ 0,0465* 0,0404* ___ Glicose Antes* Depois** ___ Corpos cetônicos Antes* Depois** ___ 0,2962 Continua....... Tabela 3. Continuação Bilirrubina Antes* Depois** Presente 0 0% 0 0% Ausente 6 100% 6 100% Presente 0 0% 0 0% ___ Página 36 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Ausente 6 100% 6 100% Presente 0 0% 0 0% Ausente 6 100% 6 100% Presente 0 0% 0 0% Urobilinogênio Antes* Depois** ___ Ausente 6 100% 6 100% M: média; DP: desvio padrão; X²: teste Qui-quadrado com IC 95% e significância em p<0,05. *Antes da Suplementação; ** Depois da Suplementação. Valores expressos em (n/%) Fonte: Dados da pesquisa (2015). APÊNDICE B Tabela 4 - Correlação da análise do sedimento urinário de 12 animais (ratos Wistar) antes e após o uso do suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard Controle Variáveis Nitrito Antes* Presente Ausente Depois** Presente Ausente Células epiteliais Antes* Presente Ausente Depois** Presente Ausente Cristais Antes* Alguns de fosfato triplo Vários de fosfato triplo Alguns de oxalato de cálcio Vários de oxalato de cálcio Ausentes Caso N % n % X² 0 6 0 6 0% 100% 0% 100% 0 6 0 6 0% 100% 0% 100% ___ 5 1 4 2 83% 17% 67% 33% 5 1 3 3 83% 17% 50% 50% 0 0% 5 83% 0 0% 0 0% ___ 1 0,5581 0,0067* 5 83% 0 0% 0 0% 0 0% 1 17% 1 17% Continua............. Página 37 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Tabela 4. Continuação Depois** Alguns de fosfato triplo Vários de fosfato triplo Alguns de oxalato de cálcio Vários de oxalato de cálcio Ausentes Cilindros Antes* Céreos Ausente Depois** Céreos Ausente 4 67% 1 17% 0,2087 1 17% 3 50% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% ___ 1 17% 2 33% ___ 3 3 1 5 50% 50% 17% 83% 2 4 4 2 33% 67% 67% 33% 0,5581 0,0789 M: média; DP: desvio padrão; X²: teste Qui-quadrado com IC 95% e significância em p<0,05. *Antes da Suplementação; ** Depois da Suplementação. Valores expressos em (n/%) Fonte: Dados da pesquisa (2015). Página 38 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 O CONHECIMENTO DOS MÉDICOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE SOBRE OS BENZODIAZEPÍNICOS THE KNOWLEDGE OF THE PRIMARY HEALTH CARE PHYSICIANS ON BENZODIAZEPINES Karoline Cruz Silva1, Marília Ione Futino 2 RESUMO Em 1960, ocorre a "Revolução dos Benzodiazepínicos" e com isso tem início o uso indiscriminado desse tipo de medicação. Por serem medicamentos seguros, eficazes e bem tolerados conquistaram a classe médica e passaram a ser "objeto de desejo" dos pacientes tendo como resultado um excesso de prescrição por parte do profissional. O presente trabalho tem como objetivo analisar o nível de conhecimento dos médicos da Atenção Primária de Saúde sobre a indicação dos benzodiazepínicos; além de avaliar a capacitação do profissional médico para a prescrição dos benzodiazepínicos e descrever o entendimento dos médicos sobre possíveis riscos com o uso inadequado dos benzodiazepínicos. Trata-se de uma pesquisa descritiva, de campo, com abordagem qualitativa. O estudo foi realizado de acordo com a Resolução 466/2012 sobre as Diretrizes e Normas Reguladoras que trata de pesquisa com seres humanos, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Integral Diferencial. A pesquisa foi realizada em Unidades de Atenção Primaria de Saúde que são gerenciadas pela Fundação Municipal de Saúde no município de Teresina – PI. Foram incluídos na pesquisa médicos que trabalham na Estratégia de Saúde da Família. Os dados foram coletados no período de fevereiro a abril de 2015, através de questionário elaborado e organizado em planilhas do programa Excel 2010. A presente pesquisa mostrou que 100% dos médicos entrevistados nunca receberam treinamento sobre os benzodiazepínicos, 75% encaminham os pacientes ao serviço de saúde mental por apresentarem critérios de dependência à medicação e 60% mantém a prescrição para manutenção do tratamento. Existem indicativos de dificuldade do médico em relação ao tema e a pouca adesão ao tema da pesquisa pode indicar a proteção contra a exposição indesejada da fragilidade do conhecimento médico, observando também uma falta de preocupação da gestão local no aprimoramento contínuo de seus profissionais e na detecção da dependência, a maioria encaminha para um serviço especializado. Palavras-chave: Benzodiazepínicos. Uso indiscriminado. Atenção Primária de Saúde. ABSTRACT Aluna de graduação (10° período) do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID Email: [email protected] Endereço: Av. Presidente Kennedy, nº2680, Apartamento 103 Bloco: Osona, Condomínio Catalunya Residence, Bairro: Horto, CEP: 64052-675 Teresina-PI. Tel.: (86) 99928-9686 1 2 Profª. Esp. da FACID. Email: [email protected] Endereço: Rua Lino Correia Lima, n° 2425, Bairro: Planalto Ininga. Tel.: (86) 86 98126-9222 Página 39 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 In 1960, the "Revolution of Benzodiazepines" began and, thus, the indiscriminate use of this type of medication takes place. Once they are safe, effective and well tolerated medicine, they have conquered the medical class and become the patients’ “object of desire”, which made professionals prescribe them excessively. This study aims to analyze the level of knowledge of Primary health care physicians about the prescription of benzodiazepines as well as to assess the doctors’ qualification to prescribe those medicines and to describe the doctors’ understanding about possible risks regarding the improper use of benzodiazepines. It is a descriptive, field research with a qualitative approach. This study was based on resolution 466/2012 concerning the guidelines that deal with human beings research and approved by the Ethics and Research Committee at Integral Diferencial College. The survey was carried out in Primary Attention health units that are managed by the Municipal Health Foundation in the city of Teresina – PI. The doctors who work in family health strategy were included in the research. The data were collected from February to April 2015, through a questionnaire previously prepared and organized in worksheets in the Excel 2010 program. This survey showed that 100% of doctors surveyed have never received training on benzodiazepines, 75% refer patients to mental health service because they show dependence to medication and 60% keep the prescription to maintain the treatment. It could be observed some doctors’ difficulties regarding the theme and the little complaince to the research theme may indicate the protection against unwanted exposure on the fragility of medical knowledge. It could also be observed the lack of concern of the local management in continuous improvement of its professionals and on the dependence detection; most refer them to a specialized service. Keywords: Benzodiazepines. Indiscriminate use. Primary health attention. 1 INTRODUÇÃO Conforme definição do Ministério da Saúde, a Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades (MS, 2011). No Brasil, no ano de 2.014, foram realizados 651.104.498 procedimentos médicos. Destes, 303.988.255 (46,7%) foram realizados no âmbito da Atenção Básica de Saúde, dos quais 179.059.884 (58,9%) foram realizados por médicos da Estratégia de Saúde da Família – ESF, destacando-se a grande abrangência do trabalho médico na Atenção Básica ou Atenção Primária à Saúde, termos considerados equivalentes pelo Ministério da Saúde (MS, 2015). Os serviços da Atenção Básica devem cumprir a função de porta de entrada da Rede de Assistência à Saúde, de coordenador do cuidado, elaborando, acompanhando e gerindo projetos terapêuticos singulares bem como acompanhando e organizando o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das redes de atenção à saúde e de ordenador das redes (STARFIELD, 2002). Destaca-se, a grande importância da Atenção Básica na observância e acompanhamento do uso racional de medicamentos, incluindo o uso dos benzodiazepínicos (TELLES et al., 2011). Os benzodiazepínicos (BDZs) foram sintetizados em meados da década de 1950 pelo Doutor Leo H. Sternbach, sendo o clordiazepóxido o primeiro medicamento a ser desenvolvido. Na sua fase de experimentação observaram-se poderosos efeitos anticonvulsivantes, antiagressivos e que reduziam significamente a ansiedade. Após exaustivos estudos clínicos o clordiazepóxido foi lançado no mercado em 1960, momento conhecido como o início da "Revolução dos Benzodiazepínicos" (ANDRADE, 2010). Os BZDs não são antipsicóticos, antineuróticos ou anti-insônia como pensam muitos clínicos e pacientes. Portanto, devido a um estado de ansiedade por estímulos exagerados em determinadas Página 40 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 áreas cerebrais, os BZDs exercem efeito contrário, inibindo os mecanismos de estimulação exagerada e produzindo uma depressão da atividade cerebral que se caracteriza por diminuição da ansiedade, indução do sono, relaxamento muscular, redução do estado de alerta (BALLONI; ORTOLANI, 2012). O presente trabalho propôs como problema de pesquisa, a seguinte indagação: Qual o conhecimento dos médicos sobre a indicação de uso dos benzodiazepínicos aos pacientes da Atenção Primária de Saúde? Propondo ainda como hipótese primária que o uso de benzodiazepínicos por tempo prolongado causa prejuízos à saúde dos usuários, e está sendo utilizados na Atenção Primária de Saúde sem a adequada indicação clínica aos pacientes; como hipótese secundária que houve um aumento da prescrição de benzodiazepínicos pelos profissionais da Atenção Primária de Saúde, sem levar em conta que seu uso inadequado e/ou mau indicado pode trazer malefícios para a saúde dos usuários a longo prazo. O presente trabalho possuiu como objetivo geral analisar o conhecimento dos médicos da Atenção Primária de Saúde sobre a indicação dos benzodiazepínicos; e como objetivos específicos avaliar a capacitação do profissional médico para a prescrição dos benzodiazepínicos e descrever o entendimento dos médicos sobre possíveis riscos com o uso inadequado dos benzodiazepínicos. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Procedimentos Éticos O presente estudo foi realizado de acordo com a Resolução 466/2012 sobre as Diretrizes e Normas Reguladoras que trata de pesquisa com seres humanos. A pesquisa foi submetida ao do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial FACID – DEVRY e após sua aprovação foram iniciadas as atividades. Solicitou-se dos participantes da pesquisa a assinatura do Termo de Consentimento Esclarecido (TCLE) em 02 vias, no qual foi declarada a participação por livre e espontânea vontade e garantindo o anonimato dos participantes. 2.2 Método da Pesquisa Trata-se de uma pesquisa descritiva, de campo, com abordagem quantitativa. 2.3 Cenário e Participantes do Estudo A pesquisa foi realizada em unidades de Atenção Primaria de Saúde que são distribuídas em 3 zonas da cidade e pertencentes a Fundação Municipal de Saúde do município de Teresina – PI. O município de Teresina – PI conta com uma população de 234 equipes de Estratégia de Saúde da Família e cada equipe possui um médico. Utilizando a Equação de Proporcionalidade, com intervalo de confiança de 95%, um erro absoluto de 2%, se obteve uma amostra de 58 médicos que participariam da pesquisa, entretanto, apesar da distribuição de 58 questionários, somente 20 médicos se dispuseram a participar, fato que impossibilitou que a seleção dos participantes fosse estratificada por região. A escolha do local da pesquisa foi realizada pelo motivo da Atenção Primária de Saúde ser a porta de entrada do serviço de saúde. Página 41 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 2.4 Coleta de Dados Os dados foram coletados através de questionário elaborado, no período de fevereiro a abril de 2015, nas segundas, quartas e sextas – feira. 2.5 Organização e Análise de Dados Após a coleta, os dados foram organizados por planilhas do programa Excel 2010. Os resultados obtidos foram apresentados em modo de gráficos e tabelas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados do presente estudo foram analisados conforme os dados consolidados das informações colhidas nos questionários. Para melhor analisar os dados e atender aos objetivos desse estudo, dividiu-se o trabalho em duas partes. Inicialmente foi abordada a caracterização da população entrevistada através do perfil socioprofissional, e em seguida foi analisado a situação de indicação de benzodiazepínicos, a reavaliação e a utilização de substâncias alternativas. Tabela 1 – Perfil socioeconômico dos médicos que trabalham na Atenção primária entrevistados Profissionais Perfil 5% Faixa etária 20 a 25 anos 20% 26 a 30 anos 5% 31 a 35 anos 5% 36 a 40 anos 55% 41 anos ou mais 25% Sexo Feminino 75% Masculino 15% Tempo de formação 1 a 5 anos 30% 6 a 10 anos 15% 11 a 15 anos 20% 16 a 20 anos 20% 21 anos ou mais 20% Tempo em que Menos de 1 ano 20% trabalha no ESF 1 a 5 anos 40% 6 a 10 anos 20% 11 a 15 anos 10% Residência Médica Sim Saúde Pública 30% Cardiologia 20% Cirurgia Geral 10% Pediatria 5% Medicina do Trabalho 20% Ginecologia 5% Não Observa - se 06 profissionais são do sexo feminino (25%), e 14 profissionais do sexo masculino (75%). Vale destacar que 55% profissionais possuem mais de 10 anos de formação na área. Visto a adesão do município de Teresina à Estratégia de Saúde da Família, os médicos que desenvolvem seus trabalhos na Atenção Básica são denominados Médicos de Saúde da Família apesar Página 42 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 da incipiente realização de atividades de educação permanente e de os mesmos não se colocarem como tal na indicação de sua especialização. Tabela 2 – Situação clínica na qual o médico entrevistado utiliza Benzodiazepínicos Situação clínica Percentual de indicação 60% Manutenção do tratamento 25% Ansiedade 10% Insônia inicial 5% Depressão De acordo com os dados 60% dos médicos entrevistados optam pela manutenção do tratamento, enquanto 25% utilizam Benzodiapínicos em casos de ansiedade, ao passo que 10% utilizam em situações de insônia inicial, e apenas 5% em casos de depressão. Em um estudo realizado por Firmino et al., (2012) foram avaliadas as indicações de benzodiazepínicos no Serviço Municipal de Saúde de Coronel Fabriciano – MG, e observou-se que 50% das indicações relatadas pelos médicos foram como hipnótico ou ansiolítico, 21,9% para "uso crônico/dependência" e o restante para outras indicações. Das receitas que atenderam aos critérios de inclusão para análise da adequação da indicação (1618), cerca de 70% foram consideradas não adequadas, tendo em vista a indicação e o tempo de tratamento. Tabela 3 – Reavaliação do uso de Benzodiazepínicos em paciente que já utilizam de modo constante pelos médicos entrevistados da Atenção Primária. Reavaliação do uso de Benzodiazepínicos Percentual de indicação Sim 80% Não 20% Conforme os dados 80% dos médicos entrevistados realizam a reavaliação do uso de benzodiazepínicos. Conforme Andrade, Silva e Santos (2010), o uso prolongado de BZDs ultrapassando períodos de 4 a 6 semanas pode levar ao desenvolvimento de tolerância, abstinência e dependência. A possibilidade de desenvolvimento de dependência deve ser considerada na vigência de fatores de risco para a mesma, como o uso em mulheres idosas, poliusuários de drogas, alívio de estresse, doenças psiquiátricas e distúrbios do sono, também sendo comum a observação de overdose de BZDs nas tentativas de suicídio associadas ou não a outras substâncias. Tabela 4 – Dose-limítrofe de seguridade do Clonazepam indicada pelos médicos entrevistados da Atenção Primária Dose-limítrofe de seguridade do Percentual de indicação Clonazepam 0,5 mg/dia 25% 1,0 mg/dia 15% 2,0 mg/dia 40% 4,0 mg/dia 20% 10,0 mg/dia 0% Conforme os dados coletados 40% dos médicos entrevistados consideram 2,0mg/dia como a dose limítrofe de seguridade do Clonazepam, enquanto 25% indicam 0,5mg/dia, 20% indicam como 4mg/dia, e 15% recomendam 1mg/dia. Quanto à dosagem, a maioria dos autores não possuem conhecimento sobre a dose-limítrofe, enquanto Ballone e Ortolani (2012) afirmam que os BZDs são bastantes seguros, uma vez que apenas doses altas (20 – 40 vezes mais altas que as habituais) podem produzir efeitos mais graves, como, por Página 43 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 exemplo, a hipotonia muscular, dificuldade grande de ficar em pé e andar, hipotensão, perda da consciência, e com doses mais elevadas pode levar ao coma e morte. Tabela 5 – Prescrição de substâncias alternativas mais seguras em relação aos Benzodiazepínicos pelos médicos entrevistados da Atenção Primária Prescrição de substâncias alternativas Percentual de indicação mais seguras 35% Sim 65% Não De acordo com os dados pesquisados 65% dos médicos entrevistados não prescrevem substâncias alternativas mais seguras em relação aos Benzodiazepínicos, ao passo que apenas 35% utilizam substâncias alternativas. Ferreira et al., (2014) afirma que a buspirona consiste em uma alternativas aos benzodiazepínicos no caso de pacientes com transtornos ansiosos, e que utilizam os BZDs como antidepressivos e antipsicóticos em baixas dosagens. Tabela 6 – Encaminhamento para o Serviço de Saúde Mental pelos médicos entrevistados da Atenção Primária Encaminhamento para o Serviço de Saúde Percentual de indicação Mental 75% Sim 25% Não Conforme os dados obtidos 75% dos médicos entrevistados realizam encaminhamento para o serviço de saúde mental, ao passo que apenas 25% não realizam o referido encaminhamento. Tabela 7 – Realização de treinamento específico sobre Benzodiazepínicos na Estratégia da Família Realização de treinamento específico sobre Percentual de indicação Benzodiazepínicos Sim 0% Não 100% A partir dos dados obtidos constatou-se que 100% dos médicos entrevistados não realizaram treinamento específico sobre Benzodiazepínicos na Estratégia da Família. Segundo Bordim (2012, p.195) para que a equipe de saúde da família desempenhe bem o seu trabalho, com reflexos positivos na assistência, é preciso organizar seu processo de trabalho, capacitar todos os profissionais envolvidos na assistência bem como “enfatizar a escuta qualificada a fim de se prevenir o consumo excessivo e desnecessário de psicotrópicos, estimulando o auto cuidado, a saúde mental e diminuindo a incapacidade funcional decorrente da reação adversas dos medicamentos”. 4 CONCLUSÃO Os resultados obtidos neste trabalho permitem concluir que a maior parte dos participantes da pesquisa encontra-se na faixa etária acima de 41 anos, é do gênero masculino, de 6 a 10 anos de formação médica e possui residência médica em cardiologia. Mais de 50% prescrevem os BZDs para manutenção do tratamento seguido para tratamento de ansiedade. A grande maioria reavalia o uso quando já utilizados por mais de 4 semanas, prescrevem uma dose de 2,0 mg/dl, não substituem os BZDs por substâncias alternativas mais seguras mas Página 44 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 encaminham os pacientes para um serviço de saúde mental quando apresentam critérios de dependências e não receberam nenhum tipo de treinamento sobre os BZDs. Também foi possível concluir que existem indicativos de dificuldade do médico e pouca adesão ao tema da pesquisa, o que pode indicar a proteção contra a exposição indesejada da fragilidade do conhecimento médico e destacando uma falta de preocupação da gestão local no aprimoramento contínuo de seus profissionais. REFERÊNCIAS ANDRADE, H. S. A.; SILVA, S. K.; SANTOS, M. I. P. O. Aids em idosos: vivência dos doentes. Esc Anna Nery [Internet]. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n4/v14n4a09.p df 2. M BALLONE, J. G., ORTOLANI, I. V. E NETO, E. P. Da emoção à lesão: um guia de Medicina Psicossomática. São Paulo, Manole. 2012. BRASIL. Ministério da Saúde.Portaria nº 2488, de 21 de outubro de 2011. BRASIL. Ministério da Saúde.Portaria nº 1.654, de 19 de julho de 2011. BORDIM, D, C. Consumo de psicofármacos por usuários da unidade de saúde do bairro São Pedro da área 30: revisão de prontuários. Especialização em Saúde da Família-Modalidade a Distância. Resumos dos Trabalhos de Conclusão de Curso. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina. 2012BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde mental na atenção básica: o vínculo e o diálogo necessários. Brasília, DF, 2003. 7p. FERREIRA, T. R.; BRAGA, J. E. F.; ALVES, R. S.; OLIVEIRA, F. M. R. L. de.; BARBOSA, K. T. F. B. Caracterização do uso de benzodiazepínicos por pessoas idosas atendidas no centro de atenção psicossocial. Rev enferm UFPE on line., Recife, v. 8, n. 11, p :3905-11, nov., 2014. FIRMINO, K. F.; ABREU, M. H. N. G. de.; ÉDSON PERINI, E.; MAGALHÃES, S. M. S. de. Utilização de benzodiazepínicos no Serviço Municipal de Saúde de Coronel Fabriciano, Minas Gerais. Ciênc. saúde coletiva. vol.17 no.1 Rio de Janeiro Jan. 2012. STARFIELD, B. Atenção Primária – Equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: Unesco, Ministério da Saúde; 2002. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_primaria_p1.pdf. Acesso em 20 abril 2014. Página 45 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS E SUAS PRINCIPAIS MANIFESTAÇOES BUCAIS ORAL MANIFESTATIONS IN DRUG USERS Giselle da Silva Oliveira¹; Eliana Campêlo Lago² RESUMO Atualmente, a utilização de substâncias entorpecentes, sejam lícitas ou ilícitas, representam um grave problema de saúde pública, pois ocasionam danos físicos e psicológicos em seus usuários. Dentre eles, as alterações bucais representam uma parcela significativa, onde as principais manifestações estão relacionadas aos dentes, língua, mucosas bucal e alveolar, lábios, gengivas, palato duro e glândulas salivares. O objetivo desse estudo foi realizar uma revisão de literatura sobre drogas licitas e ilícitas, buscando elencar as principais manifestações bucais relacionadas a utilização dessas substancias, ressaltando a importância do cirurgião-dentista na identificação e abordagem desse problema. Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada em bases de dados (Biblioteca Virtual em Saúde (BVS-BIREME), biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e PUBMED. Foram consultados artigos científicos de revistas nacionais e internacionais, por meio dos seguintes critérios de inclusão: artigos originais, publicados nos últimos 20 anos, em português, inglês ou espanhol, obtidos em referências bibliográficas com maior relevância. Observou-se que as substâncias mais utilizadas são: álcool, tabaco, maconha, cocaína, crack e anfetaminas. As manifestações relacionadas à cavidade oral foram: cárie e erosão dental, doenças periodontais, lesões cancerizáveis, bruxismo, hipossalivação, xerostomia, desgaste de esmalte dentário e perda óssea. O cirurgião-dentista é o profissional mais relacionado diretamente às avaliações das alterações bucais portanto, deve estar preparado para uma correta abordagem e tratamento das mesmas. Portanto, fazse necessária a elaboração e a efetivação de um tratamento odontológico inserido dentro de uma equipe multidisciplinar. Destaca-se a interação profissional com o objetivo de melhor atender esses indivíduos, auxiliando-os no restabelecimento de sua saúde, r eduzindo os efeitos causados pela droga. Palavras-chave: Manifestações bucais. Usuários de droga. Saúde bucal. ABSTRACT Currently, the use of narcotic substances, whether legal or illegal, is a serious public health problem as they cause both physical and psychological damage in their members. Among them, the oral changes represent a significant portion, in which the main events are related to the teeth, tongue, oral and alveolar mucosa, lips, gums, hard palate and salivary glands. Thus, this study aimed to conduct a literature review on legal and illegal drugs trying to highlight the main oral manifestations regarding, mentioning the importance of dentists to identify and address this problem. It is a literature review carried out in database such as Virtual Health Library (BVS-BIREME), electronic library Scientific Electronic Library Online (SciELO) and PubMed. Scientific papers in national and international journals, through the following inclusion criteria: original articles published in the last ____________________ ¹ Graduanda do 10º período do curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial- FACID/DEVRY. E-mail: [email protected] ² Professora do curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DEVRY Página 46 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 20 years in Portuguese, English or Spanish. It was observed that the most used substances are alcohol, tobacco, marijuana, cocaine, crack and amphetamines. manifestations related to the oral cavity were decay and dental erosion, periodontal diseases, precancerous lesions, bruxism, hyposalivation, dry mouth, tooth enamel wear and bone loss. Once the dentist is the professional with a closer relation to the oral alterations, they need to be prepared for their correct approach and treatment. So, there is the need to elaborate and actualize a dental treatment inserted into a multidisciplinary team. It can be highlighted the professional’s interaction in order to better assist these individuals, helping them to restore their health and reducing the effects caused by the drug Keywords: Oral manifestations. Drug users. Oral health. 1 INTRODUÇÃO Atualmente, verifica-se, com grande intensidade, uma rápida expansão do consumo de Substâncias Psicoativas (SPA). Esse fenômeno se reflete na sociedade e cresce cada vez mais, alcançando os mais variados espaços e segmentos sociais. De acordo com o relatório feito por United Nations Office for Drugs and Crimes (UNODC, 2013), globalmente, de 2007 para 2011, a estimativa do número de pessoas que consumiram alguma droga ilícita, cresceu de cerca de 172-250 para o intervalo entre 167-315 milhões de pessoas. Na década de 1960 houve uma maior popularização do uso de drogas lícitas e ilícitas, e a partir de então, o consumo dessas substâncias constitui fenômeno global, disseminando-se de forma preocupante, independentemente de fatores culturais, econômico-sociais, geográficos e étnicoraciais, produzindo modificações profundas na expectativa e qualidade de vida (AMARAL; LUIZ; LEÃO, 2008). As causas do elevado consumo de drogas são complexas e abrangem aspectos sociais, educacionais, econômicos e de saúde pública, demonstrando um caráter multifatorial. A despeito de todos os efeitos que a dependência pode causar na população, poucos são os estudos que envolvem os hábitos de consumo de drogas e a relação que os mesmos possuem com as necessidades de atendimento odontológico e condições de saúde bucal (LASLETT; DIETZE; DWYER, 2008). Em pacientes, além do efeito das próprias drogas, deve-se acrescentar a influência do estilo de vida e o tempo de dependência (CAPISTRANO et al., 2013). O desenvolvimento de sintomas como euforia, irritabilidade, desorientação e ansiedade, pode ser fruto de interferências de diferentes tipos de dependência química, mas também do próprio estresse de desintoxicação e a abstinência. Em curto e médio prazos, essas características podem dificultar a realização das atividades do cotidiano, como a higiene bucal (CAPISTRANO et al., 2013). Desta forma, o objetivo desse estudo foi realizar uma revisão de literatura sobre estudos relacionados às principais manifestações bucais em indivíduos usuários de drogas, mencionando a importância do cirurgião-dentista na identificação e abordagem desse problema, além de evidenciar as manifestações específicas para cada droga, seja ela lícita ou ilícita. Sabe-se que o usuário de drogas apresenta uma série de manifestações bucais que, dependendo do problema, pode agravar a sua saúde de uma forma geral. Os profissionais da área de Odontologia podem auxiliar na reversão desse quadro, através do acompanhamento e do tratamento específico para o indivíduo. 2 MATERIAL E MÉTODOS A metodologia desse estudo consistiu em uma revisão bibliográfica do tipo narrativa, onde se pesquisou sobre as publicações relacionadas às manifestações bucais em usuários de drogas. As bases de dados secundárias pesquisadas foram: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS-BIREME), biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e PUBMED. Página 47 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Foram consultados artigos científicos de revistas nacionais e internacionais, por meio dos seguintes critérios de inclusão: artigos originais, publicados nos últimos 20 anos, em português, inglês ou espanhol, obtidos em referências bibliográficas com maior relevância. Os critérios de exclusão referiram àqueles que não apresentassem correlação entre o uso de drogas e as manifestações orais. A pesquisa bibliográfica foi feita entre os meses de janeiro e maio de 2015. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Aspectos Odontológicos no Usuário de Drogas Atualmente, a Odontologia preventiva tem sido priorizada, objetivando-se a diminuição na incidência de patologias bucais, bem como a necessidade de tratamentos curativos (COSTA et al., 2011). A qualidade e o estilo de vida adotados pelas pessoas podem ser determinantes das condições de saúde bucal. A ingestão de álcool, tabaco e outras drogas, são vistos como fatores de risco para as patologias bucais e estão relacionados às condições de saúde bucal características e a uma variedade de condições orais patológicas, que são encontradas em adolescentes e adultos droga-dependentes (BAUS; KUPEK; PIRES, 2002). A ação local das drogas na cavidade bucal resulta em complicações nocivas, causando alto índice de CPOD (dentes cariados, perdidos, obturados e com extração indicada), gengivite, halitose, estomatite, bruxismo, desgaste dentais, queilite angular, entre outros (GUPTA et al., 2012). As intercorrências odontológicas específicas do uso de drogas abrangem também a cárie excessiva e distúrbios que envolvem o periodonto de rápida evolução, deficiências nutricionais e má higiene pessoal (GUPTA et al., 2012). Os usuários de drogas possuem uma elevada predisposição da prevalência de lesões neoplásicas bucais quando comparados com os indivíduos que não utilizam nenhuma droga, seja ela licita ou ilícita, alguns exemplos são a queilite actínia, leucoplasia bucal, eritroplasia, líquen plano, dentre outras. (FERNANDES; BRANDÃO; LIMA, 2008; LOPES et al, 2012). Álcool O álcool refere-se a um dos agentes químicos que também está envolvido com o surgimento de lesões cancerizáveis bucais (REIS et al., 2002; WASZKIEWICZ et al., 2012a). Quando o nível de álcool na corrente sanguínea é elevado, ocorrem náuseas e vômitos, que se forem frequentes, favorecem à erosão e cárie dental provenientes de um ambiente bucal cronicamente ácido (TRAEBERT; MOREIRA, 2001). Cada substância tem seu poder invasor contra os tecidos bucais. Na literatura, o álcool, além de desencadear alterações gastrointestinais, distúrbios vasculares e desordens no sistema nervoso central (SNC), viabiliza a entrada de carcinógenos na mucosa bucal. Esse mecanismo se explica por meio da solubilização de algumas substâncias genotóxicas e pelo aumento da permeabilidade da mucosa na presença do álcool. Outro aspecto levantado corresponde à maior permeabilidade de mucosa não queratinizada, como o bordo lateral da língua e da mucosa jugal, comparada a tecidos queratinizados existentes nas mucosas de revestimento do palato e da gengiva (LÍBER, 1993; WIGHT; OGDEN, 1998). Tabaco O tabaco apresenta um efeito crônico na vascularização do periodonto. Esse efeito é maior do que o episódio de vasoconstrição proveniente da utilização imediata de um cigarro. O efeito supressor na vascularização pode ser observado clinicamente pelas seguintes características: gengiva pálida, Página 48 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 menor sangramento à sondagem e menor número de vasos sanguíneos visíveis clínica e histologicamente, trazendo consequência no reparo tecidual (PALMER et al., 2005). A fumaça do cigarro apresenta em sua composição monóxido de carbono, o qual reduz a saturação de oxigênio na hemoglobina em uma gengiva saudável. A tensão de oxigênio dentro da bolsa periodontal é significativamente atenuada em fumantes, favorecendo um meio de crescimento de bactérias anaeróbias mesmo em bolsas rasas (HANIOKA et al., 2000). Indivíduos que utilizam o cigarro de forma frequente, têm mais chances de desenvolver câncer de boca e podem apresentar irritação crônica na mucosa do palato, denominada palatite nicotínica, e ainda leucoplasia, sendo ambas lesões brancas que podem ser consideradas cancerizáveis (ROSA et al., 2009; LOPES et al., 2012). Cocaína e Crack A cocaína é uma substância natural proveniente de uma planta existente na América do Sul, popularmente denominada Coca (Erythroxylon coca) (MALONEY, 2010). Pode ser ingerida em pó (cloridrato de cocaína), que pode ser aspirado ou dissolvido em água ou injetada na corrente sanguínea, ou sob a forma de uma base, o crack, que é fumado (MALONEY, 2010; WOYCEICHOSKI et al., 2008). Além disso, há também a pasta de coca, um produto de menor pureza, que também pode ser fumado, conhecido como merla. O óxi ou oxidado é uma droga parecida com o crack; seu princípio ativo é a pasta base da folha de coca, no entanto, no óxi utilizam-se cal virgem e algum combustível (SILVA JUNIOR et al., 2012). Ainda que a cocaína esteja relacionada menos com as lesões bucais pelo seu uso ser realizado com a mucosa nasal, a forma de crack pode causar eritema, úlcera e hiperceratose na mucosa bucal, tão pronunciada ou mais que as provocadas pelo uso do tabaco ou da maconha (WOYCEICHOSKI et al., 2008), além de erosão dental, semelhante à ocasionada pelo uso de metanfetaminas (BASSIOUNY, 2013). O progressivo consumo do crack vem ganhando a atenção do poder público e da sociedade pelos seus efeitos nocivos, como complicações cardiovasculares, respiratórias, neurológicas e gastrointestinais (VASICA; TENNANT, 2002; RIBEIRO et al., 2006; DEVLIN; HENRY, 2008; KAUSHIK; KAPILA; PRAHARAJ, 2011; MILROY; PARAI, 2011). De acordo com Oliveira e Nappo (2008) o crack é consumido geralmente pelo ato de fumar. A “pedra” é útil em utensílios de alumínio com latas, cachimbos e tubos, onde é queimada e rapidamente se converte em liquido e vapor (esse movimento de mudança de estado provoca estalos, por esse motivo a origem do nome crack), enquanto o usuário aspira a fumaça produzida. Para Cabral (2006), as repercussões da droga no ambiente bucal têm sido investigadas, onde se observam o potencial de associação nas características locais, como: calor gerado, trauma mecânico ao ato de fricciona o produto na gengiva, vasocontrição e diminuição do fluxo salivar, alem dos efeitos que debilitam a resposta imunológica de seus usuários. Colodel et. al. (2009) evidenciaram as alterações provocadas pela cocaína e crack no periodonto. Havendo descrições de caso com manifestações como rápida recessões gengivais, erosão dental, perda óssea avançada, assim como episódios de dor aguda na gengiva foram atribuídas a fricção de cocaína. Com base nos relatos de paciente, o qual faz menção apenas a esse ato, foi realizada a cirurgia de enxerto de tecido conjuntivo em que foi possível observar uma cicatrização pobre e anormal (KAPILA; KASHANI, 1995). Alguns estudos apontam que o contato da cocaína por aspiração (“cheirada”) com a mucosa nasal pode causar congestionamento, epistaxe e, em longo prazo, até mesmo erosão do septo nasal, causando uma comunicação bucossinusal (LANCASTER et al., 2000; GÁNDARA et al., 2002; SEYER, GRIST, MULLER, 2002; BAINS; HOSSEINI-ARDEHALI, 2005; DI COSOLA et al., 2007). Página 49 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Maconha A maconha (Cannabis sativa) corresponde a uma droga perturbadora da atividade mental. Suas folhas e inflorescências secas podem ser ingeridas ou inaladas (MALONEY, 2011). Existem vários efeitos sistêmicos e manifestações orais no tocante ao uso de maconha, entre eles uvulite, estomatite nicotínica, aumento gengival semelhante ao induzido por fenitoína, perda óssea na periodontite, hipossalivação e consequente aumento do número de cáries de superfície ((MALONEY, 2011; RAWAL; TATAKIS; TIPTON, 2012; NOGUEIRA-FILHO et al., 2011; SCHULZ-KATTERBACH; IMFELD; IMFELD, 2009). A hipossalivação pelo uso de maconha é fruto da ação parassimpatolítica da droga. Esse e outros fatores etiológicos servem como base na verificação da alta prevalência de cárie e doença periodontal em indivíduos dependentes (COLODEL et al., 2009). O princípio ativo da maconha é o THC (tetrahidro-canabinol), que interfere na produção de células de defesa, deixando o indivíduo vulnerável à infecção, devido à imunossupressão. A candidíase também é uma infecção bucal muito observada nesses usuários, assim como a xerostomia intensa, levando-os a consumir maior quantidade de carboidratos, como doces e guloseimas, o que aumenta o risco à cárie (MURPHY; WILMERS, 2002). Anfetaminas A anfetamina e seu isômero dextrógiro, ativo, dextroanfetaminas, juntamente com a metanfetamina e o metilfenidato, formam um grupo de fármacos com propriedades farmacológicas muito semelhantes. Todos esses fármacos atuam liberando monoaminas das terminações nervosas do cérebro. A noradrenalina e a dopamina constituem os mediadores mais importantes nesta conexão (RANG et al., 2004). Seus efeitos indesejáveis de interesse odontológico são principalmente bruxismo, mais acentuado nos dentes posteriores e que pode persistir após o uso da droga, espasmo maxilar, erosão dental, ressecamento da boca, perda de apetite e crises bulímicas. Também pode causar disfunção do sistema imunológico, sendo esse quadro agravado quando há associação com álcool (BRAND; DUN; NIEUW AMERONGEN, 2008). Alterações Bucais em Decorrência de Associação de Drogas Não é fácil correlacionar determinada modificação bucal encontrada nos pacientes avaliados com uma droga específica, pois grande parte dos usuários faz uso de drogas associadas, ou está em tratamento com medicamentos que também geram alterações bucais. Além disso, a utilização de uma gama de drogas de forma concomitante pode potencializar o desenvolvimento de lesões bucais, ainda que haja controvérsias sobre este assunto (O’SULLIVAN, 2011). A utilização da cocaína juntamente com o álcool desencadeia um severo bruxismo, especialmente nos dentes pré-molares, liberação de energia interna da articulação temporomandibular, periodontite, hipossalivação e atrofia bilateral do músculo masseter. Com relação ao aparelho estomatognático, os maiores efeitos do uso corriqueiro do êxtase, da cocaína, do crack e outras substâncias químicas, estão envolvidos na vasoconstrição que essas drogas induzem, podendo originar uma necrose tecidual e profundo retardo do processo de reparo (JAFFE; KIMMEL, 2006; BRAND; GONGGRIJP; BLANKSMA, 2008; PIEPER; HOPER, 2005) e demasiado retardo do processo de reparo (PIEPER; HOPPER, 2005), principalmente em áreas em que o suprimento sanguíneo é mais pobre, como no palato duro e no osso mandibular. Antoniazzi et al. (2013) descreveram a ocorrência de cárie e erosão dentária como as alterações mais frequentes em usuários de crack e cocaína. O CPOD (Índice odontológico) médio alto e o fluxo salivar alterado também foram relatados (D’AMORE et al., 2011; CAMÍ; FARRÉ, 2003). Os usuários de cocaína e crack apresentam também xerostomia, hipossalivação, associados à modificação da microbiota bucal (elevação de Lactobacilos, Streptococcus mutans e Candida albicans), redução no Página 50 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 pH e na capacidade tampão. Consequentemente, a prevalência de cárie dentária e candidose podem estar aumentadas nos usuários da droga. Além disso, a alteração salivar, a má higiene bucal e o baixo interesse pelo atendimento odontológico, contribuem para acelerar a ocorrência de cárie dentária nos indivíduos expostos ao crack. As periodontites exercem influência significativa em usuários de drogas, ainda que não influenciem decisivamente na perda óssea. Essa maior vulnerabilidade decorre da diminuição do potencial redox periférico, vasoconstrição periférica, permitindo maior proliferação de microrganismos anaeróbios obrigatórios, como grande parte dos microrganismos relacionados às periodontopatias (DAHLÉN, 2009). Porém, essa hipótese não foi comprovada mediante estudos microbiológicos, exceto quanto ao tabaco, cuja utilização influencia positivamente na distribuição dos principais microrganismos associados a essas infecções bucais (GAETTI-JARDIM et al., 2010; ZAMBON et al, 1996; HAFFAJEE; SOCRANSKY, 2001; DARBY et al, 2005; BAGAITKAR et al, 2009). A nicotina presente no tabaco pode acelerar os efeitos cardiovasculares da cocaína, haja vista que também possui alta atividade vasoconstritora e leva ao aumento da liberação e do tempo de atividade de mediadores adrenérgicos (HANNA, 2006). E como as drogas são frequentemente utilizadas em associações, pode-se ter um efeito somatório, que camuflam os fenômenos vasculares 4 CONCLUSÃO Com base no levantamento bibliográfico realizado observou-se que os usuários de drogas manifestam alterações bucais significativas, cujas variações vão acontecer de acordo com o tipo de droga utilizada e com as associações feitas com elas. As principais ocorrências analisadas foram: xerostomia, cárie dentária, doenças periodontais, perda óssea, retardo do processo de reparo, estomatites, polidipsia, dor de dente, desgaste de esmalte dentário, quadros infecciosos, além de câncer bucal. Os pacientes dependentes químicos apresentam maior necessidade de tratamento restaurador e cirúrgico. Portanto, faz-se necessária a elaboração e a efetivação de um tratamento odontológico inserido dentro de uma equipe multidisciplinar. Na prática profissional, os resultados deste estudo podem servir de embasamento para equipes de saúde poderem conhecer e lidar com a diversidade desse público, de modo a promover ações de promoção e prevenção no âmbito da estratégia de redução de danos, destacando a necessidade de priorizar as ações para os grupos de risco, tendo como base o perfil da clientela, respeitando suas debilidades e reforçando suas potencialidades. REFERENCIAS AMARAL, C. S. F.; LUIZ, R. R.; LEÃO, A. T. T. The relationship between alcohol dependence and periodontal disease. Journal of Periodontology., v. 79, p. 993-998, 2008. ANTONIAZZI, R. P. et al. Effects of Crack Cocaine in Oral Conditions: Literature Review. Braz J Periodontol. v. 23, 2013. BAGAITKAR, J. et al. Tobacco-induced alterations to Porphyromonas gingivalis-host interactions. Environmental Microbiology, v. 11, n. 5, p. 1242–1253, 2009. BAINS, M. K; HOSSEINI-ARDEHALI, M. Palatal perforations: past and present. 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Trata-se de um estudo experimental, descritivo, comparativo, com abordagem quantitativa, realizado de fevereiro a maio de 2015. A amostra foi constituída por 10 mulheres constipadas, de 20 a 40 anos, divididas em grupos Controle e Experimental, constando cinco participantes em cada grupo. Foram utilizados para a análise de dados a Escala de Bristol, Critérios de Roma III e a Escala Visual Analógica, para avaliar a evolução das pacientes constipadas com o tratamento realizado. Após o procedimento, o padrão fecal mais frequente entre as participantes foi o idiopático em ambos os grupos. De acordo com a Escala de Bristol, o Grupo Experimental apresentou modificação na consistência das fezes (p< 0,01), enquanto no Grupo Controle não houve relevância estatística. Os critérios de Roma III mostraram melhora em relação às fezes endurecidas e sensação de evacuação incompleta nas participantes do Grupo Experimental, resultando na diminuição da impactação fecal (p<0,05); no Grupo Controle houve permanência de fezes endurecidas ou fragmentadas, sensação de evacuação incompleta e obstrução ou bloqueio anorretal. Quanto à presença de dor ao evacuar, as participantes do Grupo Experimental apresentaram melhora gradativa a partir da primeira sessão (p<0,001), em contrapartida o Grupo Controle não apresentou resultados estatisticamente significantes. Conclui-se que a eletroestimulação na constipação foi eficaz, modificando a consistência das fezes, reduzindo a dor e a sensação de evacuação incompleta durante a evacuação. Palavras-chave: Eletroestimulação. Constipação intestinal. Neuromodulação sacral. ABSTRACT The intestinal constipation is a multifactorial disease characterized by manifestations that can intervene in the intestinal and anorectal functions. The sacral neuromodulation is a physiotherapeutic technique whose action involves the excitation of neural pathways to modify the activity of the anal sphincter and pathological nociceptive rectoanal sensitivity through synaptic interactions by means of electrical stimulation. This research aimed to evaluate the effectiveness of electrostimulation in women with constipation. This is an experimental, descriptive and comparative study with a quantitative approach carried out from February to May 2015. The sample consisted of 10 women, constipated, 20 to 40 years of age, divided into control and experimental groups, consisting of five participants in each group. The Bristol Scale, Rome III criteria and the Visual Analogue Scale were 1 Aluna do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial- FACID/DeVry. Email: [email protected] 2 Professora do Curso de Fisioterapia da FACID/DeVry, Doutora em Fisioterapia. Email: [email protected] Página 56 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 used to analyze the data and to assess the evolution of constipated patients regarding the treatment performed. After the procedure, the most common fecal pattern among the participants was the idiopathic in both groups. According to the Bristol scale, the experimental group presented change in the stool consistency (p<0, 01), while the control group did not show statistical relevance. The Rome III criteria showed improvement in relation to the hardened stools and incomplete feeling of evacuation in the participants of the experimental group, resulting in decreased fecal impaction (p <0,05), in the control group there was permanence of hardened or fragmented stools, incomplete feeling of evacuation and obstruction or anorectal blockage. Concerning the pain to evacuate, the participants of the experimental group showed gradual improvement from the first session (p <0, 001). On the other hand, the control group did not present statistically significant results. It was concluded that the electrostimulation was effective in the constipation by modifying the stool consistency, reducing pain and the incomplete feeling of evacuation during the evacuation. Keywords: Electric Stimulation. Constipation. Sacral Neuromodulation. 1 INTRODUÇÃO A constipação intestinal (CI) é uma doença multifatorial caracterizada por manifestações que podem intervir nas funções intestinais e anorretais. O processo de evacuação adequado está relacionado à contração e relaxamento coordenado dos músculos circular e longitudinal, criando padrões motores que controlam o movimento dos conteúdos dentro do cólon. A prisão de ventre é mais comum em mulheres e sua incidência aumenta com a idade. Dentre os fatores de risco pode-se citar história de abuso sexual, inatividade física, educação limitada e baixo nível econômico. Além disso, um fator considerável é a associação entre a CI e condições psicológicas, como estresse, ansiedade e depressão (TRISÓGLIO et al., 2010). Para muitos autores, a constipação corresponde a uma frequência de evacuação inferior a três vezes por semana, “sensação de evacuação incompleta, dificuldade para expelir as fezes (que estão duras ou ressecadas), distensão abdominal ou gosto amargo na boca”. Existem diferentes subtipos de constipação, decorrentes de diversos mecanismos, dentre eles: inércia colônica (motilidade lenta), dificuldade evacuatória (alteração funcional de assoalho pélvico, reto ou ânus) e constipação funcional, quando há trânsito normal. O tipo crônico de constipação pode ainda ser dividido em dois subtipos - defecação obstruída (DO) e constipação de trânsito lento (CTL), as quais podem estar em um mesmo paciente, sendo caracterizadas pela disfunção sensório-motora do cólon e motilidade anormal desempenhando assim um papel patogênico (BASSOTTI et al., 2013). Dentre várias formas de avaliação da constipação, pode-se citar três, que são amplamente utilizadas, como o questionário estruturado validado cientificamente, denominado Critérios de Roma III, para o diagnóstico de distúrbios gastrointestinais funcionais; o Questionário de Bristol, que avalia através das características os tipos de fezes; e a Escala Visual Analógica, utilizada para mensurar dores de qualquer natureza (CARLOS-FILHO, 2014). No tratamento da constipação intestinal existem concepções errôneas, em relação aos laxantes e purgantes em todas as faixas etárias. Eventualmente, seu uso na constipação é sustentado por orientação médica, persistindo como forma de tratamento, mesmo com sua eficácia e segurança pouco evidenciada em estudos controlados, podendo provocar “auto-intoxicação intestinal” que provocaria um “envenenamento” atribuído à retenção dos próprios resíduos. Os laxantes e purgantes podem ser necessários dentro de um preparo pré-operatório, para procedimentos radiológicos e endoscópicos, entre outros motivos e, excepcionalmente, sob supervisão médica, como adjuvante inicial, no tratamento da constipação, tendo em vista que essas substâncias podem alterar o potencial da função motora, na absorção e secreção do intestino promovendo constipação ou diarreia, desidratação e má nutrição, não sendo consideradas, portanto, estratégia terapêutica ideal para o tratamento da constipação intestinal. Em virtude de sua variada etiologia e complexidade, a constipação intestinal, Página 57 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 na criança, adulto ou idoso é motivo relevante para uma avaliação médica e fisioterapêutica (CRUZ, 2014). A neuromodulação sacral corresponde a uma técnica fisioterapêutica, cujo mecanismo de ação na coloproctologia envolve a excitação de vias neurais para modificar a atividade do esfíncter anal e sensibilidade retoanal nociceptiva patológica através de interações sinápticas por meio da estimulação elétrica (LUMI; MUÑOZ; LA ROSA, 2007). Para tanto, de acordo com o exposto, elaborou- se o seguinte problema de pesquisa: quais os efeitos da eletroestimulação na constipação intestinal ? Este estudo justifica-se pelo fato de que a constipação em mulheres, mesmo com o uso de laxantes, se não for tratada adequadamente, poderá se tornar crônica. Em virtude disso, o motivo desse estudo foi o interesse em investigar os efeitos da eletroestimulação em mulheres com constipação intestinal, produzindo conhecimento científico, para embasamento de novas pesquisas devido à escassez de estudos nesta área. Este estudo teve como objetivo geral avaliar a eficácia da constipação intestinal em mulheres através da Escala de Bristol, Critérios de Roma III e Escala Visual Analógica, após a realização de eletroestimulação sacral. 2 MATERIAL E MÉTODOS Foram aplicados todos os princípios éticos de acordo com as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, respeitando a Resolução CNS 466/2012. Este estudo só foi iniciado após submissão e aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial (FACID/ DeVry), com Protocolo CAAE número 35292014.0.0000.5211. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e também foi necessária a assinatura da Declaração do Local de Coleta de Dados. Trata- se de um estudo experimental, descritivo, comparativo, com abordagem quantitativa, com o propósito de verificar a eficácia da eletroestimulação em mulheres com constipação tornando, dessa forma, o assunto mais claro e definido. Foram aplicados o questionário de Bristol, Critérios de Roma III e a Escala Visual Analógica (EVA), para avaliar a evolução da condição clínica das pacientes constipadas com o tratamento realizado. A Escala de Bristol é reconhecida pela literatura científica como instrumento valioso na avaliação das doenças intestinais, sendo considerado o melhor indicador do tempo de trânsito colônico, o qual determina o tipo, o tamanho, o formato, a espessura e a consistência das fezes (MARTINEZ; AZEVEDO, 2012). O questionário foi composto de questões objetivas acerca de constipação intestinal, visando avaliar o preenchimento dos critérios diagnósticos de Roma III para constipação intestinal, características das fezes pela escala de Bristol e Escala Visual Analógica para avaliar a dor das pacientes, durante o ato evacuatório (LUZ et al., 2012). A pesquisa foi realizada em uma Clínica privada especializada em Fisioterapia Uroginecológica, na cidade de Teresina- PI, no período de fevereiro a maio de 2015. A escolha do local ocorreu de forma intencional, pois dispunha de modalidades de atendimento necessárias para a experiência científica. A amostra foi constituída por 10 mulheres constipadas, com idades entre 20 a 40 anos, com ensino médio completo. As participantes foram escolhidas obedecendo aos critérios de inclusão e exclusão. Os critérios de inclusão para realização da pesquisa foram mulheres com constipação intestinal. Os critérios de exclusão foram mulheres que apresentam obstipação intestinal associada a qualquer outra disfunção do assoalho pélvico, como disfunção miccional, dispareunia, vaginismo, incontinência urinária, dentre outras, e com idade inferior a 20 anos e superior a 40 anos de idade. Página 58 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Os dados foram coletados em uma das salas de consultório da Clínica, onde inicialmente foi aplicada uma ficha de avaliação feita pela pesquisadora com intuito de analisar se a participante se enquadraria na pesquisa em questão. Por meio de escalas estruturadas, dentre eles o Critérios de Roma III, que contém as seguintes variáveis: mudança na frequência e consistência das fezes, esforço evacuatório, fezes endurecidas ou fragmentadas, sensação de evacuação incompleta, sensação de obstrução ou bloqueio anorretal, manobras para facilitar evacuação, número de evacuações semanais. Também foi aplicado o Questionário de Bristol, que analisa os tipos de fezes em tipo 1 (amendoim), tipo 2 (salsicha, mais segmentada), tipo 3 (salsicha com fendas na superfície), tipo 4 (salsicha ou cobra, lisa e mole), tipo 5 (pedaços moles, mas com contornos nítidos), tipo 6 (pedaços aerados, contornos esgarçados), tipo 7 (aquosa, sem pedaços sólidos). Utilizou-se ainda a Escala Visual Analógica, para avaliar a intensidade da dor ao evacuar de 0 a 10, fornecendo parâmetros para se observar a eficácia do tratamento a curto prazo. No dia da coleta de dados, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido com os devidos esclarecimentos sobre a pesquisa, a fim de autorizarem a realização da mesma. As participantes foram divididas em dois grupos: Controle e Experimental, constando cinco mulheres em cada grupo. O Grupo Experimental foi tratado com o aparelho Dualpex 961, da marca Quark, constituído de Estimuladores Elétricos Neuromusculares Transcutâneos, contendo dois canais independentes, sendo estes colocado na região sacral, com quatro eletrodos de borracha e gel fixados com fita crepe, à nível de S2 a S4, com as participantes em decúbito ventral, para maior comodidade das mesmas. Os parâmetros utilizados na terapia foram frequência da corrente elétrica de 10Hz, pois tinha como objetivo trabalhar apenas o nível sensitivo da paciente, visto que frequências acima de 20Hz são consideradas desagradáveis, pois causam excitabilidade no sistema neuromotor; a largura de pulso da corrente foi de 500µs; a duração da estimulação foi de 40min; a intensidade de acordo com a tolerância de cada paciente e a frequência das sessões foram de duas vezes por semana, totalizando dez sessões. Após a primeira, quinta e na última sessão as pacientes respondiam ao questionário de Bristol, Critérios de Roma III e a Escala Visual Analógica, a fim de se constatar seus efeitos, no decorrer no tratamento. O Grupo Controle inicialmente foi monitorado através das escalas nos mesmos momentos que o Grupo Experimental, para que houvesse a comparação dos resultados no mesmo período. As participantes do Grupo Controle foram instruídas a não ingerirem fibras e laxantes, para que fosse possível obter resultados comparativos da eficácia ou não do tratamento proposto. Os dados foram analisados comparando às informações obtidas no decorrer das sessões, por meio das respostas alcançadas através das escalas, antes, durante e após o experimento, e posteriormente organizados em planilhas do programa Microsoft Office Excel 2010 e apresentados em forma de gráficos e tabelas. Adiante os dados foram submetidos ao teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com Intervalo de Confiança de 95% e significância estabelecida em p< 0,05. E para tantos os mesmos foram transferidos para o programa estatístico SPSS 19,0. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O padrão fecal mais frequente entre as participantes avaliadas foi a constipação idiopática (Tabela 1), pois de acordo com Lima, Azevedo e Damião, (2013) se a causa da constipação não for identificada, esta deve ser considerada como um distúrbio primário ou idiopático. Tabela 1- Frequências dos tipos de constipação apresentados pelos grupos de mulheres avaliadas, Teresina, 2015 Grupos Variáveis Controle N % Experimento N % P Página 59 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Constipação Orgânica 1 20% 2 40% Constipação Idiopática 2 40% 4 80% 0.9065 Constipação Funcional 1 20% 1 20% Legenda: N, frequência absoluta; %, frequência relativa P, para o teste de correlação Pearson Qui-quadrado, como IC 95% e significância em p<0,05. Fonte: Dados da pesquisa (2015). A Escala de Bristol é um instrumento valioso na avaliação das doenças intestinais e tem sido amplamente utilizada, a fim de garantir que os pacientes descrevam precisamente seu próprio padrão fecal (MARTINEZ; AZEVEDO, 2012). O tipo de fezes expressa alterações que podem ocorrer na constipação, possibilitando verificar o padrão fecal. Assim, adiciona uma dimensão objetiva de suas formas, e correlaciona- se bem com o tempo de trânsito do cólon (SPILLER; THOMPSON, 2012). As Tabelas 2 e 3 mostram a avaliação do tipo de fezes apresentada pelas pacientes do Grupo Experimental e Controle, respectivamente. No Grupo Experimental, houve uma variação na consistência das fezes, tendo em vista que na primeira e quinta sessões as fezes encontravam-se em forma de salsicha, mas segmentada, apresentando modificações no decorrer das sessões, adquirindo uma forma de salsicha, mas segmentada, com fendas na superfície na última sessão (p<0,01), enquanto no Grupo Controle, apesar da variação, não houve significância estatística. Resultados semelhantes também foram encontrados por Ulisses-Neto (2014) porém em um estudo com crianças que fizeram ingestão de pré-bióticos, onde houve uma pequena melhora no que diz respeito à consistência das fezes, embora este achado não tenha se mostrado estatisticamente significativo. Tabela 2 - Avaliação do tipo de fezes apresentados pelas pacientes avaliadas, no Grupo Experimental, de acordo com a Escala de Bristol, Teresina, 2015 Experimental VARIÁVEIS P Primeira Quinta Décima - - - 5(100%) 4(80%) - Forma de salsicha, mas com fendas na superfície - - 4(80%) Forma de salsicha ou cobra, lisa e mole - 1(20%) 1(20%) Pedaços moles, mas contornos nítidos - - - Pedações aerados, contornos esgarçados - - - Aquosa, sem peças sólidas Legenda: P, para o teste de correlação Pearson Qui- quadrado. Fonte: Dados da pesquisa (2015). - - - Escala de Bristol de Consistência das Fezes Pedaços separados, duro com amendoim Forma de salsicha, mas segmentada 0,0084** Tabela 3 - Avaliação do tipo de fezes apresentados pelas pacientes avaliados, no Grupo Controle, de acordo com a Escala de Bristol, Teresina, 2015 Controle VARIÁVEIS Primeira Quinta Décima Pedaços separados, duro com amendoim - - - Forma de salsicha, mas segmentada - 4(80%) 3(60%) P Escala de Bristol de Consistência das Fezes 0,0633 Página 60 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Forma de salsicha, mas com fendas na superfície 4(80%) - 1(20%) Forma de salsicha ou cobra, lisa e mole 1(20%) 1(20%) 1(20%) Pedaços moles, mas contornos nítidos - - - Pedaços aerados, contornos esgarçados - - - Aquosa, sem peças sólidas - - - Legenda: P, para o teste de correlação Pearson Qui- quadrado. Fonte: Dados da pesquisa (2015). É fundamental em termos clínicos e de pesquisa o estabelecimento de critérios diagnósticos para a constipação; os critérios de Roma III cumprem adequadamente esse propósito, ao mesmo tempo em que consideram a larga variação dos sintomas da CI e os determinam de acordo com parâmetros cronológicos. Porém, é necessário ressaltar que algumas limitações, podem aparecer quando se analisam estudos realizados entre diferentes populações, de diferentes faixas etárias. Portanto, há certa dificuldade em se encontrar estudos com características homogêneas que facilitem comparações (LUZ et al., 2012). Um dado importante verificado na Tabela 4, após o tratamento na avaliação dos critérios de Roma III, foi que na quinta sessão as fezes, que antes apresentavam-se endurecidas ou fragmentadas, em 100% das participantes do Grupo Experimental houve resposta positiva, resultando na diminuição da impactação fecal (p<0,05). No mesmo quesito de avaliação no Grupo Controle (Tabela 5), houve permanência em relação às fezes endurecidas ou fragmentadas, sensação de evacuação incompleta e sensação de obstrução ou bloqueio anorretal. Tabela 4 - Avaliação dos critérios ROMA III apresentados pelas pacientes avaliadas, no Grupo Experimental, Teresina, 2015 Experimental VARIÁVEIS Primeira sessão Sim Esforço evacuatório Não Quinta sessão Sim Décima sessão Não Sim P Não 4(80%) 1(20%) 1(20%) 4(80%) 1(20%) 4(80%) 0,0821 3(60%) 2(40%) - 5(100%) - 5(100%) 0,0235* 4(80%) 1(20%) 1(20%) 4(80%) - 5(100%) 0,0203* Sensação de obstrução ou bloqueio anorretal 1(20%) 4(80%) - 5(100%) - 5(100%) 0,3425 Manobras manuais para evacuar 1(20%) 4(80%) 1(20%) 4(80%) 1(20%) 4(80%) 1 Fezes endurecidas ou fragmentadas Sensação de evacuação incompleta Legenda: P, para o teste de correlação Pearson Qui-quadrado, como IC 95% e significância em p<0,05. Fonte: Dados da pesquisa (2015). Página 61 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Tabela 5 - Avaliação dos critérios ROMA III apresentada pelas pacientes avaliadas, no Grupo Controle, Teresina, 2015 VARIÁVEIS Primeira sessão Sim Não Controle Quinta sessão Sim Não Décima sessão Sim Não Esforço evacuatório 5 (100%) 5 (100%) 4(80%) Fezes endurecidas ou 5 (100%) 5 (100%) 5 (100%) fragmentadas Sensação de evacuação 3(60%) 2(40%) 3(60%) 2(40%) 3(60%) incompleta Sensação de obstrução ou 3(60%) 2(40%) 3(60%) 2(40%) 3(60%) bloqueio anorretal Manobras manuais para 5 (100%) 5 (100%) 1(20%) evacuar Legenda: P, para o teste de correlação Pearson Qui- quadrado, como IC 95% e significância em p<0,05. Fonte: Dados da pesquisa (2015). p 1(20%) 0,9311 - 1 2(40%) 0,988 2(40%) 0,988 4(80%) 0,4126 A eletroestimulação envolve a transmissão de impulsos elétricos de um estimulador externo para o sistema nervoso periférico, através de eletrodos aderidos a pele sendo uma técnica simples e eficiente, muito utilizada para o alívio da dor, reeducação e fortalecimento muscular (SOUSA, 2010). Os Gráficos 1 e 2 mostram os dados da Escala Visual Analógica (EVA) apresentada pelas pacientes avaliadas nos grupos, onde se observou que antes do tratamento, na avaliação inicial, o Grupo Experimental obteve uma média de 5,60 com desvio padrão de 1,34, percebendo- se melhora gradual já a partir primeira sessão, sendo a dor reduzida em média de 5,40 com desvio padrão de 0,24. Na quinta sessão a dor reduziu de 3,40 com desvio padrão de 0,40, chegando ao final da décima sessão, com média entre 3,00 com desvio padrão de zero, apresentando uma melhora estatisticamente significativa (p<0,001). Em contrapartida, o Grupo Controle que, na avaliação realizada inicialmente, apresentava dor em média de 6,80 com desvio padrão de 0,49, permaneceu até à quinta sessão sem modificações, havendo uma alteração ao término do estudo com média de 6,60 com desvio padrão de 0,89; no entanto, não houve relevância estatística. Para Silva e Ribeiro-Filho (2012), a dor pode ser definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável, sendo complexa e multifatorial que pode ser descrita como um mecanismo de proteção do corpo. No estudo realizado por Villanova, Fornazari e Deon (2013), que envolveu 10 participantes com câncer, a eletroestimualação teve um papel importante no alívio da dor oncológica. Em concordância com o estudo em questão, a eletroestimulação se mostrou relativamente significativa na redução do limiar de dor durante o ato evacuatório, nas participantes do grupo experimental, após as sessões Página 62 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Gráfico 1 - Avaliação da Escala Virtual Analógica (EVA) apresentada pelas pacientes avaliadas no Grupo Experimental, Teresina, 2015 p<0,001*** 8 5,60 ± 1,34 6 p<0,001*** 5,40 ± 0,24 3,40 ± 0,40 4 3,00 ± 0,0 2 0 Antes Primeira Quinta Décima Sessões experimentais Fonte: Dados da pesquisa (2015). Gráfico 2 - Avaliação da Escala Virtual Analógica (EVA) apresentada pelas pacientes avaliadas no Grupo Controle, Teresina, 2015 8 6,80 ± 0,49 6,80 ± 0,49 6,80 ± 0,49 6,60 ±0,89 6 4 2 0 Antes Primeira Quinta Décima Sessões controle, Fonte: Dados da pesquisa (2015). Página 63 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 4 CONCLUSÃO Os resultados experimentais obtidos no presente estudo, pelas análises da Escala de Bristol, Critérios de Roma III e a Escala Visual Analógica, sugerem que a eletroestimulação na constipação foi eficaz promovendo uma mudança na consistência das fezes, reduzindo a sensação de evacuação incompleta e o quadro álgico das participantes durante a evacuação. No entanto, estudos futuros são necessários para investigar os mecanismos fisiopatológicos da eletroestimulação na constipação, permitindo a transposição desse novo método para a prática clínica. REFERÊNCIAS BASSOTTI, G. et al. The role of colonic mast cells and myenteric plexitis in patients with diverticular disease. International Journal of Colorectal Disease, v. 28, n. 2, p. 267-72, 2013. CARLOS- FILHO, I. et al. 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Constipação intestinal funcional na infância: diagnóstico e tratamento. Revista Brasileira de Medicina, v. 50, n- 7, p. 316- 324, julho, 2014. VILLANOVA, V. H.; FORNAZARI, L. P.; DEON. K. C. Estimulação elétrica nervosa transcutânea como coadjuvante no manejo da dor oncológica. Revista Inspirar, v. 6, n. 5, ed. 25, set/out. 2013. Página 65 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 INFECÇÃO URINÁRIA EM GESTANTES QUE REALIZARAM O PRÉ-NATAL DE ALTO RISCO EM UMA MATERNIDADE DE REFERÊNCIA URINARY INFECTION IN PREGNANT WOMEN WHO UNDERWENT HIGH-RISK PRENATAL CARE IN A REFERENCE HOSPITAL MATERNITY Luanna Dias dos Reis Crisanto Leão¹, Isabel Cristina Cavalcante Carvalho Moreira² RESUMO A infecção do trato urinário (ITU) é uma das principais patologias que acometem a mulher, sobretudo no período gestacional, quando ocorre vários eventos que contribuem para isso. A ITU merece atenção especial nessa fase, tendo em vista que, se não diagnosticada e tratada de forma adequada e precoce, afeta tanto prognóstico materno como o fetal. Esta pesquisa teve como objetivo geral avaliar a ocorrência de infecção do trato urinário em gestantes que realizaram pré-natal de alto risco em uma maternidade de referência. Os objetivos específicos foram verificar a idade, grau de instrução, idade gestacional e descrever o tipo de infecção mais prevalente. O estudo foi do tipo descritivo retrospectivo, realizado em uma maternidade de referência de Teresina, PI. Os dados foram coletados no período de janeiro a março de 2015. Foram incluídas as gestantes de alto risco que realizaram o pré-natal no período de janeiro a outubro de 2014, que apresentaram infecção urinaria; foram excluídas as pacientes que foram diagnosticadas com infecção urinária apenas por critérios clínicos. Após a análise dos dados colhidos foi possível constatar a alta ocorrência de infecção do trato urinário, sobretudo em gestantes na faixa etária de 20 a 29 anos, que cursaram até o ensino médio, e estavam na primeira gravidez e terceiro trimestre gestacional. Foi observado que o tipo de infecção mais prevalente em gestantes, foi a bacteriúria assintomática. Palavras-chaves: Infecção urinária. Gestação. Pré-natal de alto risco. ABSTRACT Urinary tract infection (UTI) is one of the main pathologies that affect women, especially in the gestational period, when several events contribute to it. The UTI deserves special attention in this phase, considering that once it is not diagnosed and treated properly and early, it affects both maternal and fetal prognosis. Thus, this research aims to assess the incidence of urinary tract infection in pregnant women who have high-risk prenatal in a reference hospital maternity and also to verify the pregnant women’s age, educational level and gestational age as well as to describe the type of infection that prevails. It is a retrospective descriptive study carried out in a reference hospital maternity in Teresina, PI whose data were collected from January to March 2015. Out of the 202 pregnant women, 56 showed some kind of urinary tract infection. Pregnant women at high risk who had their prenatal from January to October 2014 and had urinary infection were included. Patients who were diagnosed with urinary tract infection just by clinical criteria, were excluded. Thus, after __________________ ¹Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – Facid/DeVry. Email: [email protected] – Teresina-PI. ²Professora do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – Facid/DeVry, Mestre em Saúde Pública. Email: [email protected] – Teresina-PI. Página 66 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 the analysis of the data collected, it has been found a high incidence of urinary tract infection, especially in pregnant women at the age group 20-29, who attended high school, and were primiparae and third gestational trimester. And finally, it was observed that the most prevalent infection type in pregnant women is the asymptomatic bacteriuria. Keywords: Urinary tract infection. Pregnancy. High-risk prenatal. 1 INTRODUÇÃO A infecção urinária é uma das principais patologias desenvolvidas pelas mulheres, principalmente as gestantes, devendo as mesmas estar sempre atentas. Principalmente nos primeiros meses da gestação, tendo a identificação do quadro e o tratamento precoce como de grande valia, evitando, assim, complicações maiores. Portanto, a gestação está fortemente relacionada com saúde e vida, e neste conjunto o diagnóstico de risco pode gerar alterações multidimensionais na gestante e em todo o grupo familiar (PETRONI et al., 2012). De acordo com Silveira, Veronesi e Goulart (2013), a infecção do trato urinário é uma das principais complicações presentes na gestação e que oferece riscos para mãe e feto no período gestacional. A caracterização da infecção permite evidenciar os indicadores predisponentes e os principais microrganismos causadores desta infecção. Para Engelmann (2014) em toda gestação ocorrem mudanças anatômicas e fisiológicas consideradas significativas para no corpo da mulher. Trata-se de uma fase adaptativa em que o corpo feminino necessita de acompanhamento profissional constante. Para a maioria das gestantes a gravidez apresenta-se fisiologicamente, porém, para uma minoria das gestantes ela pode ser uma situação de alto risco. A prescrição medicamentosa deve ser preferencialmente orientada por exames. Desse modo, reduz-se o índice de desenvolvimento microbiano resistente a qualquer terapia, contudo deve-se sempre que possível levar em consideração outros fatores, dentre eles, a condição da paciente, a sua tolerabilidade, a sua toxicidade materna e fetal para a escolha da melhor abordagem terapêutica (BAUMGARTEN et al., 2011). Conforme Engelmann (2014), fatores de risco são todas as características ou circunstâncias determináveis de uma pessoa. A gestação passa a ser considerada de alto risco na presença de algum fator de risco materno ou fetal que afetará de forma adversa o seu resultado. Esses fatores contribuem para a morbidade e mortalidade das gestantes e dos fetos sendo descritos em características biopsicosocioculturais, história reprodutiva anterior, doença obstétrica atual e intercorrências clínicas maternas. Na gestação, a urina é normalmente apresenta-se rica em nutrientes como a glicose, os aminoácidos, as vitaminas, que propiciam um meio de cultura mais rico, facilitando assim o crescimento das bactérias. Paralelo a isso ocorre também, com frequência, a dilatação do trato urinário, criando assim condições propicias a estase urinária, favorecendo o crescimento bacteriano e a instalação da infecção (BAUMGARTEN et al., 2011). Patologias como as infecções urinárias normalmente são causadas por bactérias presentes na microbiota intestinal que por sua vez contaminam o trato urinário. As bactérias são encontradas na urina quando ocorre desequilíbrio entre a sua virulência e a defesa do organismo (SILVEIRA; VERONESI; GOULART, 2013). Segundo Liutti e Santos (2013), durante o período gestacional a mulher passa por uma série de modificações e alterações no organismo, resultado das adaptações corporais necessárias para o desenvolvimento fetal. Dentre as modificações significativas estão as do trato urinário e das funções renais, uma vez que, as mesmas são mediadas por hormônios e fatores mecânicos. Outro fator predisponente na gravidez é o aumento do útero que por ocupar mais espaço, pode obstruir parcialmente o ureter e criar condições de estase urinária (JACOCIUNAS; PICOLI, 2006). Página 67 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 O presente trabalho teve como objetivo geral avaliar a ocorrência de infecção do trato urinário em gestantes que realizaram pré-natal de alto risco em uma maternidade de referência. Os objetivos específicos foram verificar a idade, grau de instrução e idade gestacional e descrever o tipo de infecção mais prevalente. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Procedimentos Éticos O projeto de pesquisa foi enviado a Direção da Instituição de Ensino Superior (IES) para apreciação a autorização e posteriormente para o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da FACID, foi aprovado no dia 20 de agosto de 2014 sob o número de protocolo: 758.990 respeitando os termos da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Os preceitos éticos foram obedecidos; sendo obtida a autorização da direção do hospital, bem como assinatura do termo de fiel depositário para ter acesso aos prontuários. 2.2 Tipo de Pesquisa Estudo descritivo retrospectivo realizado em uma maternidade de referência de Teresina, PI. A população do estudo foi constituída de 202 gestantes, que realizaram pré-natal no período de janeiro a outubro de 2014, sendo que 56 apresentaram algum tipo de ITU. 2.3 Local da Pesquisa A presente pesquisa foi realizada em uma maternidade de referência no Estado do Piauí, que possui 248 leitos obstétricos e 167 leitos neonatais. Oferece serviços de assistência ambulatorial, exames complementares, atendimento de urgência, emergência e internação. 2.4 Critério de Inclusão e Exclusão Para a realização da pesquisa foram incluídas as gestantes de alto risco que realizaram o prénatal e apresentaram infecção urinaria na maternidade de referência. Foram excluídas as pacientes que foram diagnosticadas com infecção urinária apenas por critérios clínicos. 2.5 Amostra da População A coleta de dados foi realizada através de uma amostra de 202 prontuários de gestantes. Os cálculos estatísticos consideraram erro absoluto para uma população finita, com erro máximo admitido de 3%. 2.6 Coleta de Dados Os dados foram coletados por meio de um formulário previamente elaborado, através do levantamento e apreciação das informações referentes aos prontuários das gestantes de alto risco que foram acompanhadas no pré-natal da maternidade em questão. A coleta foi realizada nos meses de janeiro a março de 2015. Posteriormente os dados foram analisados e categorizados conforme convergência dos conteúdos. Página 68 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 2.7 Procedimentos para Análise dos Dados A análise e discussão dos resultados tiveram como base a interpretação das informações coletadas através dos prontuários e dispostas em gráficos, após os dados serem submetidos à análise estatística. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Tabela 1 – Número de gestantes pesquisadas que realizaram pré-natal de alto risco e apresentaram infecção do trato urinário, em uma maternidade de referência do Estado do Piauí Infecção Urinária Sim Não Fonte: Dados da pesquisa (2015). Número de gestantes 56 146 Percentual 27,7% 72,3% Após análise dos prontuários foi possível constatar que do total de gestantes pesquisadas 56 apresentaram algum tipo de ITU, o que corresponde a 27,7%, enquanto que 146, 72,3%, não apresentaram ITU comprovada por exames laboratoriais. Tabela 2 – Faixa etária das gestantes pesquisadas e que apresentaram infecção do trato urinário em uma maternidade de referência do Estado do Piauí Faixa etária 12 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 45 anos Fonte: Dados da pesquisa (2015). Número de gestantes 15 24 14 03 Percentual 26,7% 42,8% 25% 5,3% A partir da apreciação dos prontuários foi possível inferir que 42,8% das gestantes pesquisadas encontram-se na faixa etária entre 20 a 29 anos, enquanto 25% estão na faixa etária de 30 a 39 anos, 26,7% entre 12 a 19 anos, e que apenas 5,3% das gestantes pesquisadas encontram-se na faixa etária de 40 a 45 anos. Engelmann (2014) afirmou que devido a maior participação das mulheres n o mercado de trabalho, houve uma diminuição do interesse pela maternidade, e nas últimas décadas, a tendência é que a gravidez seja postergada. Tabela 3 – Nível de escolaridade das gestantes pesquisadas e que apresentaram infecção do trato urinário em uma maternidade de referência do Estado do Piauí Escolaridade Não alfabetizada Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Outros Fonte: Dados da pesquisa (2015). Número de gestantes 05 22 24 03 02 Percentual 8,9% 39,2% 42,5% 5,3% 3,5% Página 69 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Com relação ao nível de escolaridade, 42,5% das gestantes possuíam o ensino médio, enquanto 39,2% estudaram até o ensino fundamental, 5,3% possuíam ensino superior, enquanto que 8,9% não eram alfabetizadas e 3,5% autodeclararam possuir outro nível de estudo. Tabela 4 – Idade gestacional das gestantes atendidas em um pré-natal de alto risco e que apresentaram infecção do trato urinário em uma maternidade de referência do Estado do Piauí Idade Gestacional Primeiro Trimestre Segundo Trimestre Terceiro Trimestre Fonte: Dados da pesquisa (2015). Número de gestantes 10 17 29 Percentual 17,8% 30,3% 51,7% Na presente pesquisa constatou-se que 51,7% das gestantes pesquisadas encontravam-se no terceiro trimestre da gravidez, enquanto 30,3% estavam no segundo trimestre, e 17,8% estavam no primeiro trimestre da gravidez. Nogueira e Moreira (2006) investigaram a incidência da bacteriúria assintomática. Observaram a maior incidência ocorreu após o primeiro trimestre de gestação. Tabela 5 – Número de gestações das gestantes pesquisadas e que apresentaram infecção do trato urinário em uma maternidade de referência do Estado do Piauí Número de gestações Primeira gestação Segunda gestação Terceira gestação Mais de três gestações Fonte: Dados da pesquisa (2015). Número de gestantes 32 07 08 09 Percentual 57,1% 12,5% 14,2% 16% Dentre os prontuários pesquisados, contatou-se que 57,1% das gestantes estavam esperando o primeiro filho, enquanto 12,5% vivenciavam a experiência pela segunda vez; 14,2% estavam esperando o terceiro filho, e 16% gestantes tinham mais de três gestações. Tabela 6 – Tipo clínico de infecção urinária apresentado pelas gestantes que realizaram prénatal de alto risco, em uma maternidade de referência do Estado do Piauí Infecção Urinária Bacteriúnica assintomática Cistite Pielonefrite Fonte: Dados da pesquisa (2015). Número de gestantes 50 06 00 Percentual 89,3% 10,7% 00 Baumgarten et al. (2011), observaram que as infecções no trato urinário representavam a forma mais comum de infecções bacterianas no período gestacional. A bacteriúria assintomática acometia entre 2-10% das gestantes. Estas, se não tratadas adequadamente, poderão desenvolver pielonefrite em 40% dos casos. Os autores ressaltaram que existem patologias que contribuem para o aumento da incidência de bacteriúria assintomática em gestantes dentre essas, hemoglobinopatias, anemias, HAS e DM. Página 70 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 4 CONCLUSÃO Após a análise dos dados, foi possível constatar a alta ocorrência de infecção do trato urinário nas gestantes pesquisadas (27,7%). A população acometida foi constituída por gestantes que tinham entre 20-29 anos, que cursaram até o ensino médio, e estavam na primeira gravidez e terceiro trimestre gestacional. Em síntese, foi observado que o tipo clínico de infecção urinária mais prevalente foi a bacteriúria assintomática.. REFERÊNCIAS BAUMGATEN, et al. Infecção urinária na gestação: uma revisão da literatura. Ciências Biológicas e da Saúde, v.13, 2011. ENGELMANN, C. R. 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Página 71 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 INFLUÊNCIA DO ESTADO NUTRICIONAL NAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA (AVDS) EM IDOSOS THE INFLUENCE OF NUTRITIONAL STATUS ON THE ELDERLY’S DAILY LIVING ACTIVITIES (DLAS) Daniel Fialho de Oliveira Sampaio1, Adeildes Bezerra de Moura Lima2 RESUMO O idoso apresenta alterações fisiológicas características, como o aumento do diâmetro da caixa torácica e do crânio, e continuidade do crescimento do nariz e pavilhão auditivo. Ocorre também o aumento do tecido adiposo, principalmente na região abdominal. Esses fatores levam o idoso a perder massa corporal, afetando vários órgãos, mas os músculos são os que mais sofrem com essa perda de massa com o passar do tempo. O objetivo geral desse estudo foi relacionar o estado nutricional com atividades de vida diária em idosos, e os objetivos específicos foram avaliar o estado nutricional dos idosos e verificar o desempenho dos idosos nas atividades de vida diária. A pesquisa foi realizada com 15 idosos que residem em uma casa de longa permanência em Teresina. Inicialmente foi aplicado um questionário Índex de Katz para avaliar as atividades de vida diária dos idosos, em seguida foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC). Ao avaliar e se relacionar os dados do estado nutricional com as atividades de vida diária observou-se que na pesquisa não foi encontrada relação entre o estado nutricional com o nível de independência, ou seja, o estado nutricional não interfere no grau de independência nas atividades de vida diária dos idosos. Palavras-chave: Idoso. Estado nutricional. Atividades de vida diária (AVDs). ABSTRACT The elderly has characteristic physiological changes, such as increasing the diameter of the rib cage and skull, and continued growth of the nose and pinna. The adipose tissue increase also occurs, especially in the abdominal region. These factors cause the elderly to lose body mass, affecting several organs, and the muscles are the most affected ones by this loss over time. This study aimed to relate the elderly's nutritional status with daily activities, and also to evaluate the elderly’s nutritional status and to verify the elderly’s performance in daily living activities. The survey was carried out with 15 elderly who have lived in a long-term home in Teresina. Initially, a Katz Index questionnaire to assess the elderly’s daily living activities was applied, then their body mass index (BMI) was calculated. By evaluating and relating the nutritional status data with the daily living activities, it was noticed there is no correlation between the nutritional status with the level of independence, that is, in this research, the nutritional status does not interfere in the degree of independence of the elderly’s daily activities. Keywords: The elderly. Nutritional Status. Daily living Activities (DLAs). 1 Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial (FACID), Teresina-PI, [email protected] 2 Nutricionista, Professora Mestre da Faculdade Integral Diferencial (FACID), Teresina – PI, [email protected] Página 72 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 1 INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional é um fenômeno que vem ocorrendo em todo o mundo de forma continua e que está entre as maiores conquistas adquiridas pela sociedade no século XXI. Isso pode se considerar fruto de um crescente percentual de idosos, antes percebido apenas em países desenvolvidos (SILVA, 2009). Segundo Rebelatto e Morelli (2004) o idoso passa a apresentar alterações fisiológicas características, como o aumento do diâmetro da caixa torácica e do crânio, e continuidade do crescimento do nariz e pavilhão auditivo. Ocorre também o aumento do tecido adiposo, principalmente na região abdominal. Esses fatores levam o idoso a perder massa corporal, afetando vários órgãos, mas os músculos são os que mais sofrem com essa perda de massa com o passar do tempo. A pele fica menos elástica por causa da alteração da elastina e ocorre diminuição da espessura da pele e do tecido subcutâneo, levando a aparecimento das rugas, ocorrendo também alterações nos melanócitos, que levam à formação de manchas hiperpigmentadas, principalmente na face e dorso da mão. Para o idoso, a determinação do seu estado nutricional deve considerar uma complexa rede de fatores, onde é possível relatar o isolamento social, a solidão, as doenças crônicas, as incapacidades e as alterações fisiológicas próprias do processo de envelhecimento (NAJAS; NEBULONI, 2005). As mudanças de hábitos de vida associada à má alimentação, como deficiência de minerais e vitaminas, a ingestão alimentar desregular, anorexia no envelhecimento, sedentarismo, vão influenciar na progressão da diminuição da massa muscular esquelética, expondo, por tanto, o idoso a uma debilidade motora (SILVA et al., 2006). Com base nesse contexto, esse estudo teve o seguinte problema: como o estado nutricional interfere nas atividades de vida diária em idosos institucionalizados? A justificativa desse trabalho tem como base o fato do Brasil estar passando por uma transição, ocorrendo uma queda acentuada da taxa de fecundidade e mortalidade e o aumento da expectativa de vida da população idosa. O objetivos desse estudo foram: relacionar o estado nutricional com as atividades de vida diária em idosos; avaliar o estado nutricional dos idosos; e verificar o desempenho dos idosos nas atividades de vida diária. 2 MATERIAL E METÓDOS O estudo foi elaborado de acordo com as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, respeitando a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. A pesquisa foi iniciada após a submissão e aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry), sob o protocolo número 38992214.1.0000.5211. Todos os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para iniciar a coleta de dados. Trata-se de uma pesquisa de campo do tipo direta e descritiva, com uma abordagem quantitativa. A pesquisa foi realizada em uma casa de longa permanência de idosos em Teresina, no período de fevereiro a março de 2015. A casa de longa permanência foi escolhida intencionalmente, tanto por apresentar um porcentual significativo de idosos, quanto pelo fato de que a maioria dos idosos que são encaminhados a esta instituição apresentarem-se fisicamente independentes, ou seja, podem realizar todas as atividades de vida diária. Os critérios de inclusão adotados foram pessoas com mais de 60 anos de idade e foram excluídos da pesquisa os idosos acamados, portadores de deficiência física, auditiva, visual. Foi realizada uma palestra com todos os idosos institucionalizados, explicando os objetivos da pesquisa, como os testes seriam realizados. No final, foi questionado quem gostaria de participar do estudo, esclarecendo-se que todos teriam a opção de escolher se queriam ou não participar do estudo. Página 73 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Para a coleta de dados foi elaborado um questionário com questões de fácil compreensão, contendo perguntas para identificar o grau de independência desta população. O questionário continha seis atividades básicas da vida cotidiana de idosos: banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, transferir-se, ser continente e alimentar-se. Após o questionário foram coletados peso e altura para o cálculo do índice de massa corporal (IMC), que foi utilizado para avaliar a normalidade do peso corporal (MARINS; GIANNICHI, 2003). O IMC é determinado da seguinte maneira: IMC = Peso corporal (Kg)/ Estatura (m²). O peso corporal foi mensurado através do uso de uma balança e a estrutura mensurada com o auxilio de uma fita métrica. Os dados coletados foram colocados em tabelas no programa excel para posterior análise estatística. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 mostra que, de acordo com a escala de Fischer-Kolmogorov, na idade dos idosos avaliados, obteve-se a média de 76,00 onde não houve significância. Já o índice de massa corpórea (IMC) obteve a média de 28,01 mostrando a média de normalidade. Tabela 1 - Valores e médias das idades e IMC dos idosos avaliados, Teresina, 2015 VARIÁVEIS Idade (anos) IMC (Kg/m²) M 76,00 28,01 DP 9,78 4,93 N 15 15 Normalidade > 0,10 0,0181* Legenda: M, média; DP, Desvio Padrão; N, frequência absoluta; Normalidade para o teste Fischer-Kolmogorov com IC 95% e significância em p < 0,05. Fonte: Dados da pesquisa (2015). Segundo Carvalho e Sousa (2006), a qualidade de vida está relacionada, ao bem-estar pessoal e emocional, a aspectos como a capacidade funcional, o nível socioeconômico, a interação social, a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, os valores culturais, éticos e religiosidade, o estilo de vida, a satisfação com o emprego. O Gráfico 1 mostra a classificação de peso corpóreo pelo IMC, onde baixo peso obteve 6,67% , peso adequado obteve 40,00%), e com sobrepeso, que a maior quantidade, obteve 53,33%. Gráfico 1 - Frequência das classificações de peso corpóreos, pelo IMC, dos indivíduos idosos avaliados, Teresina, 2015 53,33% (8) 40,00% (6) 6,67% (1) BAIXO PESO PESO ADEQUADO SOBREPESO Fonte: Dados da pequisa (2015). Página 74 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 De acordo com dados do IBGE (2008), quatro em cada 10 brasileiros adultos apresentavam excesso de peso em 2003. Em relação à situação nutricional, a transição dos padrões de consumo, acompanhado do sedentarismo, aponta para o aumento na prevalência do sobrepeso e incapacidades, prevalente em idosos. O Gráfico 2 mostra que o nível de independência para todas as atividades foi satisfatório, onde observou-se somente 2 idosos apresentando total dependência, obtendo-se o valor de 13,33% da população pesquisada. Ao se somar todos os níveis de independência, os independentes total e parcial, totalizaram em 86,67% dos idosos avaliados. Gráfico 2 - Frequência dos graus de dependência e independência apresentados pelos Idosos avaliados, Teresina, 2015 13,33% (2) Dependente para todas as atividades 20,00% (3) Independente para todas as atividades menos banho, vestir, ir ao banheiro, transferência e mais um Independente para todas as atividades menos banho, vestir-se, ir ao banheiro e mais um adicional 0,00% (0) Independente para todas as atividades menos banho, menos vestir-se e mais uma adicional 6,67% (1) Independente para todas as atividades menos banho e mais uma adicional 6,67% (1) Independente para todas as atividades menos uma Independente para todas as atividades 13,33% (2) 40,00% (6) Fonte: Dados da pesquisa (2015). Para Kartzs et al. (1963) essa sequencia de avaliação: alimentar-se, continência, transferência, higiene pessoal, capacidade de verti-se e banhar-se, é semelhante à observada durante o desenvolvimento infantil, onde a criança primeiramente aprende a levar a colher a boca para, somente mais tarde, torna-se capaz de tomar banho e de formar independência, levando então a suposição de que a escala se baseia em funções primárias biológicas e psicossociais Guimarães et al. (2004) realizaram um estudo para avaliar a capacidade funcional dos idosos e verificaram que a maioria apresentou-se independente para realizar as AVDs. Dentre as 6 AVDs, o maior grau de dependência foi nas atividades de banhar-se, vestir-se e transferência. Nesse estudo foi comprovado apenas que as atividades de banhar-se e vestir-se apresentaram maior grau de dependência parcial ou total. O Gráfico 3 mostra os graus gerais de dependência e independência dos idosos avaliados, onde foi possível observar que a maioria dos idosos avaliados possui grau de independência tendo em vista o valor de 86,67% (13) e para grau de dependência é de 13,33% (2). Página 75 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Gráfico 3 - Frequências dos graus gerais de dependência e independência apresentados pelos idosos avaliados, Teresina, 2015 86,67% (13) 13,33% (2) Independência Dependência Fonte: Dados da pesquisa (2015). Rosa et al. (2003) realizaram pesquisas no município de São Paulo e mostraram que mais da metade da população idosa estudada (53%) necessitava de ajuda parcial ou total para realizar pelo menos uma das AVDs, sendo detectados também que 29% dos idosos necessitavam de ajuda parcial ou total para realizar até três dessas atividades, e 17% necessitavam de ajuda para realizar quatro ou mais atividades. Em contrapartida, esse estudo mostrou que a maior parte da população avaliada encontra-se independente para realizar suas AVDs. Outra variável associada de maneira independente com baixo peso, é a faixa etária. Os idosos com maior idade têm chance maior de apresentar baixo peso. O envelhecimento promove mudanças importantes na massa muscular e no padrão de distribuição de gordura corporal. O peso diminui com a idade após atingir um platô; nos homens ao redor de 65 anos, nas mulheres cerca de anos mais tarde (WHO, 1997). Ao avaliar e se relacionar os dados do estado nutricional com as atividades de vida diária, observou-se que não foi encontrada relação entre o estado nutricional com o nível de independência, ou seja, nesse estudo o estado nutricional não interferiu no grau de independência nas atividades de vida diária dos idosos. Nos níveis de dependência e nas classes de peso dos idosos avaliados não houve significância estatística, obtendo-se o valor de 0,0955 (Tabela 2). Tabela 2 - Correlação dos níveis de dependência e as classes de peso dos idosos avaliados, Teresina, 2015 Variáveis Classes do IMC Peso adequado Baixo peso N Sobrepeso % N % N % X² Nível de Dependência Independente para todas as atividades - - 3 20% 3 20% Independente para todas as atividades menos uma - - 1 7% 1 7% - - - - 1 7% 1 7% - - - - Independente para todas as atividades menos banho e mais uma adicional 0,0955 Independente para todas as atividades menos banho, menos vestir-se e mais uma adicional Página 76 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Independente para todas as atividades menos banho, vestir-se, ir ao banheiro e mais um adicional - - - - - - - - 1 7% 2 13% - - 1 7% 1 7% Independente para todas as atividades menos banho, vestir, ir ao banheiro, transferência e mais um Dependente para todas as atividades Legenda: N, frequência absoluta; %, Frequência relativa, X², teste de correlação Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância estabelecida em p<0,05. Fonte: Dados da pesquisa (2015). Barbosa et al, (2006) observaram que o índice de massa corporal não tem relação significativa com o desempenho motor no teste de sentar e levantar. Nesse estudo, o índice de massa corporal não teve relação significativa entre o desempenho motor em nenhum dos testes realizados, devido todos os idosos participantes ainda serem ativos. 4 CONCLUSÃO Conclui-se que, nos idosos avaliados nesse estudo, a maioria apresentava excesso de peso e tinha certo grau de independência, mas que o estado nutricional não interferiu nas atividades de vida diária por estes desempenhadas. REFERÊNCIAS BARBOSA, A. R. et al. Estado nutricional e desempenho motor de idosos de São Paulo. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006. CARVALHO, A. M.; SOUSA, P. M. A qualidade de vida dos idosos portadores de câncer através do apoio familiar. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação Serviço Social). Teresina, 70p, 2006. GUIMARAES, L. H. C. T. et al. 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P. O idoso institucionalizado na casa são José. Monografia de conclusão de curso (Serviço Social). Teresina, 82p, 2009. SILVA, T. A. A. et al. Sarcopenia associada ao envelhecimento: aspecto etiológico e opções terapêuticas. Revista Brasileira de Reumatologia, São Paulo, v. 46 n. 6, p. 391-397, nov./dez. 2006. WOLRD Health Organization (WHO). Phisical status: the use amd interpretation of anthropometry. Report of a WHO expert committee. Geneva: WHO, 1997. Página 78 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 O USO DO RETALHO FASCIOCUTÂNEO SURAL REVERSO: UMA REVISÃO DE LITERATURA USE OF REVERSE SURAL FASCIOCUTANEOUS FLAP: A REVIEW OF LITERATURE Joassan Perys Antonio de Araújo¹, Edison de Araújo Vale², Marcella Silva Marcos³ RESUMO Os retalhos representam uma excelente opção terapêutica para a reconstrução cirúrgica de lesões com exposição de áreas pouco vascularizadas tais como ossos, tendões, nervos e cartilagem desprovidas das suas membranas naturais de revestimento (periósteo, peritendão, perineuro e pericôndrio). Dentro desse universo, o retalho fasciocutâneosural é uma boa indicação para a reconstrução de lesões do terço distal da perna, por possuir um arco de rotação de 90º a 180º graus e por possuir um pedículo vascular, que lhe permite uma boa nutrição quando da sua transposição para a área receptora. Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo analisar a versatilidade do uso do retalho fasciocutâneosural reverso nas reconstruções das lesões do terço médio inferior da perna. Esse estudo foi realizado a partir da revisão de literatura nacional e internacional, mediante análise de dados do SciELO, MEDLINE, LILACS, que abordaram o assunto utilizando-se os seguintes descritores: Retalho , Fasciocutâneo, Sural, Complicações. Com os quais foi possível obter em média 40 artigos, sendo utilizados para a pesquisa 12 artigos, tendo como critério de inclusão as publicações no período de 2004 a 2014, que fossem pertinentes ao tema, além de livros – textos, teses de pós-graduação, periódicos e editoriais. O retalho fasciocutâneosural reverso segundo a literatura apresenta bons resultados com ausência de alteração da função do membro com a transposição do tecido. Além disso, é uma técnica de fácil execução, baixo custo e mínima morbidade. Palavras-chave: Retalho, Fasciocutâneo, Sural, Complicações. ABSTRACT The flaps are an excellent therapeutic option for surgical reconstruction of lesions with little exposure vascularized areas such as bones, tendons, nerves and cartilage devoid of their natural membrane coating (periosteum, peritendon, perineurium and perichondrium). Within this universe, the sural fasciocutaneos flap is a good indication to reconstruct the leg distal-third, since it has a 90 to 180 degrees rotation arch and a vascular pedicle allowing it a good nutrition when transposing it to the receiving area. In this sense, this research aims to analyze the versatility of the reversal sura lfasciocutaneous flap usage in reconstructions of the leg lower middle third. This study was made by revising the national and international literature uponSciELO( Scientific Eletronic Library Online), MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retriveal System Online), LILACS (Latin America and the Caribbean Literature on Health and Science) data analysis that address the subject using the following descriptors: Flap, Fasciocutaneous, Sural, Complications. With which it was possible to obtain about 40 articles, being 12 used in the research, having as inclusion criteria the publications between 2004 and 2014 that were relevant to the theme, besides books – texts, post-graduation thesis, ________________________ ¹ Aluno de Graduação ( 10º período ) do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial- FACID. Email: [email protected] ² Professor da Disciplina de Cirurgia Plástica, Direito em Medicina e Base da Técnica Cirúrgica da FACID. Especialista em Cirurgia Plástica. Email: [email protected] ³ Aluna de Graduação (10º periodo) do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial- FACID. Email: [email protected] Página 79 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 journals and editorials. The reverse sural fasciocutaneous flap shows, according to the literature, good results with the absence of function alteration with the tissue transposition. Besides, it’s an easily executed, cheap and low morbidity technique. Keywords: Flap, Fasciocutaneous, Sural, Complications. 1 INTRODUÇÃO As lesões no terço distal da perna são frequentes nas urgências e hoje, em virtude da gravidade dos traumatismos secundários aos acidentes de trânsito, notadamente os provocados por motocicletas, são acompanhadas também de fraturas ósseas e perdas de tecidos moles no membro acometido, o que tornam as reparações dessas lesões de difícil realização (VENDRAMINI, 2012). Neste sentido, os retalhos fasciocutâneos constituem uma alternativa satisfatória para a reconstrução dessas lesões devido à exposição de áreas pouco vascularizadas, tais como ossos, tendões, ligamentos e ótima vascularização, devido à presença do pedículo vascular seguro (FERREIRA, 2007). Dentro do arsenal terapêutico disponível, tem-se o retalho fasciocutâneo sural, que possui como fonte de nutrição: o plexo vascular da fáscia profunda; artéria sural superficial mediana, que se encontra lateral ao nervo sural medial; e as artérias paralelas à veia safena menor (parva), sendo esta responsável pelo retorno venoso (VENDRAMINI, 2012). Para se ter uma breve e sucinta noção da importância do tema em debate, é necessário que se observe o que ocorre nos serviços de pronto socorro. A rede de atendimento do SUS no Brasil teve em 2006, 11.739.258 internações, sendo 835.601 (7,1%) por causas externas. Os acidentes de Trânsito e Transporte- ATT foram responsáveis por 120.628 das causas externas. Em relação ao gênero mais acometido os homens obtiveram 93.483 (77,5%) dessas internações e as mulheres 27.144 (22,5%). Os principais vilões desse grande número de internações foram os acidentes em motociclistas (21,5 por 100 mil) e em pedestres (21,3 por 100 mil). Desses pacientes lesionados, a grande maioria fica com sequelas físicas e psicológicas, necessitando de reconstruções com uso de retalhos em diversas partes do corpo. A receita total gasta com esses atendimentos pelo SUS em 2006 foi de R$ 128.460.511,1 (BRASIL, 2006). É neste cenário que o serviço de cirurgia plástica pode, e deve, oferecer seus contributos, no sentido de recuperar, quando possível, os membros afetados desses pacientes. Assim, como ferramenta valiosa, lança-se mão do retalho fasciocutâneo sural, cuja escolha, no presente estudo, se deu em virtude de apresentar as seguintes características essenciais: versatilidade, fácil e rápida execução, amplo arco de rotação, que varia de 90° a 180°, irrigação constante, ausência de alterações na funcionalidade do membro, o que o credencia como uma boa escolha para a reconstrução de lesões no 1/3 médio inferior da perna (DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2005). Várias são as complicações e limitações quanto ao uso dessa técnica, que leva em conta as condições pré-operatórias do paciente, tais como hipertensão e diabetes, que são doenças sistêmicas, o uso de cigarro que pode levar a lesões irreversíveis do endotélio vascular, gerando vasculites e prejudicando a pega do retalho, levando o tecido utilizado a sofrer epidermólise, necrose parcial e total como complicações (GARCIA, 2009). Outra complicação que pode estar frequente é a infecção da área receptora. Uma das principais limitações ao uso do referido retalho é a congestão venosa observada quando o pedículo é transposto, da área doadora para a área receptora, através de túnel na pele, além da menor cobertura oferecida pelo retalho em defeitos extensos verticais da perna (FERREIRA, 2007). O tema é de interesse para a sociedade, pois as lesões da perna são frequentes nas urgências em associação a fraturas e consequentes aos acidentes automobilísticos, cujos principais acometidos são os motociclistas. Os locais mais frequentemente acometidos são os membros inferiores e superiores, seguidos por lesões na cabeça, segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006). Portanto, Página 80 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 inúmeros são os indivíduos que ficam com sequelas funcionais e estéticas, trazendo prejuízos para a sociedade, sobrecarregando o serviço público de saúde, onerando o sistema previdenciário, e perda de qualidade de vida. Muitas dessas lesões não cicatrizam devido a limitações orgânicas inerentes ao paciente, servindo como porta de entrada para infecções, como também causando baixa auto- estima. Para a reconstrução das lesões do terço distal da perna é necessária a escolha do retalho apropriado, levandose em consideração a zona receptora e doadora, a vascularização do tecido transplantado, as condições pré-operatórias do paciente, como também a destreza do profissional que executará a técnica. Por isso a revisão de literatura desse tema é de relevância para a nossa sociedade e para o meio científico. O uso dessa técnica para a reconstrução de lesões do terço distal da perna já é bastante utilizada em muitos centros de cirurgia plástica. O objetivo geral desse estudo foi analisar a versatilidade do uso do retalho fasciocutâneo sural reverso nas reconstruções das lesões do terço médio inferior da perna. Os objetivos específicos foram: identificar as limitações do retalho fasciocutâneo sural reverso nas reconstruções das lesões do terço médio inferior da perna; discutir as complicações do uso do retalho fasciocutâneo sural reverso nas lesões do terço médio inferior da perna. Foi realizada uma revisão bibliográfica nas literaturas nacionais e internacionais contendo publicações nas bases de dados SciELO, LILIACS e MEDLINE, além de livros – textos, teses de pós graduação, periódicos e editoriais. Os descritores utilizados foram: “Retalho”, “Fasciocutâneo”, “Sural”, “Complicações”.. 2 BREVE HISTÓRIA DA ORIGEM DOS RETALHOS A reparação e a reconstrução de lesões de difícil cicatrização tiveram nos últimos 30 anos grandes avanços, através do uso de novos métodos e técnicas, base da moderna cirurgia plásticab (NASCIMENTO, 2009). Segundo Nascimento (2009) a reconstrução plástica dos membros e sua reimplantação, era método pensado e existente desde a pré-história, observado em pinturas rupestres do Paleolítico Superior (40.000-10.000 a.C. ou anteriores) localizado em cavernas. No continente Asiático, especificamente na Índia, no séc. X a.C., Kangliara realizou os primeiros retalhos pediculados. No ano de 1889, foi publicado um trabalho extraordinário sobre a vascularização cutânea do corpo humano: “Die Hautarteien dês Menschlichen Korpers”. O trabalho de Manchot, foi ignorado por dezenas de anos (NASCIMENTO, 2009; MARTINS; MOREIRA; VIANA, 2009). Para a confecção de retalhos mais eficazes e com melhor vascularização, foi introduzida a utilização da fáscia muscular junto com o retalho, essa técnica foi proposta por Esse, em 1918, e Gillies em 1921. Dois anos depois, Donski e Fogdestam através de estudos, propuseram a utilização do retalho fasciocutâneo sural de base distal, essa técnica ficou adormecida por um longo tempo, e em 1992 foi novamente reintroduzida por Masquelet e colaboradores, sendo descrito as bases anatômicas para sua utilização e toda a técnica cirúrgica (MARTINS; MOREIRA; VIANA, 2009).. 2.1 A Cirurgia Plástica A cirurgia plástica é o ramo da Medicina que realiza procedimentos de restauração, atuando em duas vertentes uma de reparação e outra de estética, em defeitos congênitos ou adquiridos, com o objetivo de melhorar a função ou a estética. A sua realização leva em conta vários aspectos, como avaliação do paciente, avaliação dos tecidos, planejamento cirúrgico, aspectos sócio econômicos, tipo de cirurgia, se de urgência ou eletiva e aspectos psicológicos na cirurgia estética como estado emocional, e na cirurgia reparadora dando apoio emocional (FERREIRA, 2007). O ser humano apresenta cerca de 2m² de pele, com 2 mm de espessura, tornando-a o maior órgão do corpo. Diversas são as funções dessa estrutura, dentre estas temos o papel de barreira física contra microrganismos, traumas, luz ultravioleta e muitos parasitas. Outro papel é na termorregulação Página 81 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 e no metabolismo da vitamina D. Possui ainda outra barreira desempenhada pelo sistema imunológico e molecular contra microrganismos (IRION, 2005). Figura 1- Camadas da pele Fonte: Autor desconhecido (2014) Esse órgão é constituído inicialmente por duas camadas a epiderme e a derme (Figura 1), e abaixo a hipoderme, uma importante camada conhecida como tecido celular subcutâneo que garante a pele a sua função de isolamento térmico e protege de lesões por pressão ou estiramento sobre protuberâncias do sistema esquelético (IRION, 2005). O órgão cutâneo é constituído por dois componentes que possuem origem a partir de folhetos germinativos distintos. A epiderme, a camada mais superficial originaria do ectoderme, e a derme, de localização mais profunda e constituída de tecido conjuntivo denso, não modelado, derivado do mesoderma (MOORE; PERSAUD, 2004). A epiderme é a camada mais externa da pele, e possui como componentes os queratinócitos, camada basal denominada stratum germinativum responsável pela formação continua de novas células, melanócitos produtores de melanina, mantenedores da pigmentação da pele e células de Langerhans que desempenham função imunológica vital (OLIVEIRA, 2011). A epiderme da pele é classificada como estratificada queratinizada. Além disso, apresenta constante processo de renovação oriunda da camada germinativa. Organiza-se em cinco sub-camadas a partir da superfície interna inferior: camada basal, espinhosa, granulosa, lúcida e córnea (GARTNER; HIATTIA, 2003). As feridas nada mais são que soluções de continuidade ocasionadas por trauma na pele, mucosas ou órgãos. Lesões que atingem apenas a epiderme e derme, são chamadas de escoriações; uma vez que atinja camada inferior, a derme passa a ser chamada de ferida. As feridas geram proliferação de células de tecido conjuntivo e células epiteliais provenientes da camada profunda e superficial respectivamente, enquanto que nas escoriações temos apenas proliferação de células da camada epitelial, não gerando cicatrizes, que são oriundas da proliferação de células de tecido conjuntivo (FERREIRA, 2007). As feridas são classificadas em assépticas, contaminadas e infectadas. A primeira é assim classificada devido à ausência de germes contaminantes, já a ferida contaminada é aquela na qual há a presença de germe, no entanto sem haver sinais de infecção, tais como rubor, calor, dor, edema e liquido exsudativo. Esses tipos de feridas levam a processos de cicatrização diferentes, pois nas assépticas realiza-se a aproximação dos bordos da lesão, nas contaminadas e infectadas deixa-se cicatrizar por segunda intenção, na qual está presente tecido de granulação (FRANCO, 2002). Página 82 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 A técnica cirúrgica da cirurgia plástica se baseia em cinco princípios básicos: assepsia realizada através da degermação das mãos e antebraços, antissépticos, campo cirúrgico: e material adequado e esterelizado. Uso de técnica atraumática manipulando com delicadeza os bordos da lesão, evitando a laceração dos bordos da ferida. Hemostasia com pinças hemostáticas delicadas, e uso de eletrocautério apenas nas extremidades dos vasos. Mínima tensão entre os bordos da ferida, evitando assim má cicatrização e, por último, coaptação dos planos um a um, de forma a evitar a presença de bolsões ou cavidades sob a lesão (GOFFI, 2001). O enxerto é a transposição de tecido de uma área doadora para uma área receptora, sem haver a presença de irrigação do tecido por pedículo vascular, sendo o tecido nutrido por embebição na área receptora. Os transplantes são classificados em autógeno, quando o doador e receptor é o mesmo indivíduo, homógeno, se doador e receptor forem indivíduos diferentes mais da mesma espécie e heterógeno quando forem de espécies diferentes (FERREIRA, 2007). A pele obtida para transplante pode ter sido obtida de maneira parcial, quando não é removido toda a derme, e total, quando SE remove a epiderme e derme. Ao remover o tecido, ocorre um processo de retração primária mais exuberante no enxerto total, enquanto que as retrações secundárias ocorrem nos enxertos parciais no leito da lesão (FRANCO, 2002). Atualmente tem-se os substitutos cutâneos, que nada mais são que meios pelos quais os pesquisadores e cirurgiões plásticos encontraram para alcançar a grande demanda de lesões simples ou complexas que necessitam de nova cobertura de pele. Para isso está sendo utilizada a produção sintética de tecidos e produção in vitro de pele (FERREIRA et al., 2011). A desvantagem desse método em relação aos retalhos, é a perda da barreira imunológica garantida pela artéria nutridora, evitando assim infecção. Como também a capacidade tecidual de hipoxia do transplante, rejeição a aloenxertos, xenoenxertos e custo beneficio. Tem vantagens devido à grande necessidade de material para transplante, por ser uma técnica de fácil realização através da simples cobertura da área receptora (FERREIRA et al., 2011). Os retalhos são tecidos transpostos de uma área doadora para uma área receptora com manutenção do seu pedículo vascular, ou seja, possui contato com sua área de origem através dos vasos. São classificados em randomizados, quando não se sabe qual a artéria nutridora, arteriais ou axiais, quando se sabe qual é a artéria nutridora (FERREIRA, 2007). Segundo Irion (2005), muitas são as vantagens do retalho em comparação ao enxerto, dentre eles temos uma cobertura de pele de melhor qualidade, maior probabilidade de manter a sensibilidade intacta, o uso de retalhos para preenchimento de cavidades, fechamento de lesões com exposição de estruturas pouco vascularizadas, manutenção de suprimento sanguíneo e a possibilidade de restauração funcional. Outra classificação dos retalhos é quanto ao tecido transposto e a presença de ligação com a área doadora através de pedículo vascular. Dentre estes, tem-se o retalho cutâneo que apresenta vantagens em relação ao enxerto quanto a presença de vasos sanguíneos intactos. Outro existente, é o retalho muscular no qual é necessária a cobertura com enxerto, sendo preferíveis aqueles com suprimento axial, com vasos sanguíneos perfurantes para revascularizar a pele, sendo bastante utilizado para o enchimento de cavidades (IRION, 2005). Em contrapartida o retalho livre não mantém ligação com área doadora através de pedículo vascular como os demais retalhos citados anteriormente, uma vez que a nutrição do tecido transplantado é feita através de anastomose com vasos na área receptora (IRION, 2005). As lesões de membros inferiores com perdas de substâncias, geralmente são acompanhadas de fraturas ósseas, sendo acontecimentos comuns nos prontos socorros. Existem diversas situações que geram estresse, tanto para o médico como para o paciente, vários fatores de complicação, além da dor, que podem levar à amputação do membro e até à morte do paciente (BACELAR, 2011). O restabelecimento da estrutura cutânea responsável pela proteção do organismo, que possui como uma das funções barreira contra entrada de microorganismos, é uma etapa imprescindível no tratamento de traumatismos, leões pós-ressecção de tumores e infecções que evoluam com solução de continuidade do tegumento. O discernimento sobre o tratamento de escolha depende de vários Página 83 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 fatores como: localização, extensão da lesão, exposição de estruturas nobres e da experiência do cirurgião com as técnicas de reconstrução (REZENDE et al., 2008). Para a reconstrução das lesões do terço distal da perna é necessário à escolha do retalho apropriado, levando-se em consideração a zona receptora e doadora, a vascularização do tecido transplantado, as condições pré-operatórias do paciente, como também a destreza do profissional que executará a técnica (VENDRAMIN; SILVA; CESAR, 2004). As perdas de substâncias localizadas nos membros inferiores mostram-se bastante desafiadoras quanto a sua reconstrução. O prognostico dessas lesões é determinado, principalmente, pela quantidade de tecidos desvitalizados e pelo nível e tipo de contaminação bacteriana. No planejamento da cobertura das perdas de substâncias do membro inferior com exposição óssea, divide-se a perna em terços: proximal, médio e distal (BACELAR, 20110. Os retalhos fasciocutâneos são transplantes autólogos, realizado através da transposição de pele e subcutâneo, juntamente com pedículo vascular, permitindo uma nutrição adequada do tecido, evitando assim que ocorra necrose, como também diminuindo a chance de infecção devido à permanência de defesa humoral e celular ao tecido. Para que haja uma pega adequada do tecido é necessário evitar tensões nas bordas do transplante, observar a perfusão do tecido, se o mesmo se encontra cianótico, com sinais de necrose e obstrução do retorno venoso (FERREIRA, 2007). 3 RETALHO FASCIOCUTÂNEO SURAL REVERSO O retalho fasciocutâneo sural reverso está localizado na região posterior da perna, estando separado dos músculos do compartimento superficial da perna por uma fáscia. É um tecido bastante vascularizado, aumentando assim a eficácia desse tratamento e diminuindo as limitações e complicações inerentes a essa técnica. Sua indicação se deve ao seu amplo arco de rotação que permite a sua utilização em diversas áreas do terço inferior da perna (FERREIRA, 2007). A área de tecido na qual se encontra o retalho fasciocutâneo sural reverso, se sobrepõe ao músculo tríceps sural e é irrigado pelo plexo vascular da fáscia profunda, artéria sural superficial mediana, que se encontra do lado do nervo sural medial, e artérias que andam juntamente com a veia safena menor (parva), sendo esta responsável pelo retorno venoso (DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2005). 3.1 Técnica Cirúrgica do Retalho Fasciocutâneo Sural Reverso O retalho neurocutâneo da artéria sural, fica localizado na região posterior da perna conhecida como panturrilha e é indicado para a cobertura de lesões no calcanhar e região do maléolo lateral. A sua confecção é baseada no nervo sural, que se adentra à fáscia profunda, no nível da região mediana da panturrilha juntamente com a artéria sural. A artéria sural mais a frente, na região retromaleolar, se torna superficial e em forma de rede vascular, fazendo inúmeras anastomoses com a artéria fibular. A anastomose mais distante entre a artéria sural e fibular fica localizada a uma distância equivalente a três dedos a partir da extremidade do maléolo, sendo esta região o ponto-pivô do pedículo (MASQUELET; GILBERT, 1997). A confecção do retalho é realizada através de uma demarcação na junção do relevo das duas cabeças do gastrocnêmio. Em seguida é realizada uma incisão sobre o local presumido do nervo e da veia safena parva. O ponto-pivô é local até onde a incisão deve ser feita, a partir dos bordos da incisão faz-se um debridamento transverso com formação de dois retalhos cutâneos, no intuito de se isolar o pedículo fascial subcutâneo (GRAB, 2009). Página 84 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Figura 2 - Delimitação do retalho e isolamento do pedículo fascial Fonte: MASQUELET; GILBERT (1997). Em seguida realiza-se, como ilustrado nas Figuras 2 e 3, a elevação do retalho e de seu pedículo, juntamente com a fáscia que permite uma melhor vascularização do retalho e menor risco de complicações. As anastomoses entre a artéria sural e fibular devem ser identificadas ligadas e divididas, na profundidade do pedículo. Após esta etapa realiza-se a rotação do pedículo em direção à área lesada no 1/3 inferior da perna. A área doadora é tratada com enxerto cutâneo laminar (MASQUELET; GILBERT, 1997).18 Figura 3 - Confecção e transposição do retalho Fonte: MASQUELET; GILBERT (1997). Página 85 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 3.2 Indicação, Complicações e Limitações do Retalho Sural Reverso O tratamento das lesões no terço inferior da perna está associado com grande perda de substância e exposição de estruturas pouco vascularizadas. Em virtude disto buscou-se o estudo de novos tratamentos, sendo um deles o uso do retalho sural reverso. Lesões estas causadas, em sua maioria, por acidentes automobilísticos com presença geralmente de fraturas expostas (REZENEDE et al., 2008). Segundo Belém et al. (2007) o retalho sural reverso é uma técnica de fácil execução, confiável e de pós-operatório simples. Já os retalhos cruzados, necessitam de, no mínimo, dois tempos cirúrgicos e causam extrema limitação aos pacientes de acordo com Martins, Moreira e Viana (2009). Em relação à versatilidade, o retalho sural reverso, segundo Belém et al. (2007), possui um amplo arco de rotação, em torno de 180º graus, sem grande volume pedicular. Ainda em relação à amplitude de rotação do retalho sural reverso, Garcia (2009), afirmou que este apresenta o maior arco de rotação e na sua confecção não compromete artérias importantes. A microcirurgia, segundo Martins, Moreira e Viana 2009), possui como pontos negativos uma maior demanda de tempo, equipe especializada e alto custo, além de ter maior morbidade do que os retalhos fasciocutâneos locais, sendo estes uma boa alternativa. De acordo com Vendramin (2012), a maior experiência do cirurgião pode diminuir a incidência de complicações, sendo o retalho sural reverso uma ótima opção para a cobertura de estruturas pouco vascularizadas como ossos, tendões e ligamentos em lesões no terço distal da perna principalmente quando não se dispõe de equipe de microcirurgia na instituição, além de ser uma técnica de fácil realização e de baixo custo. Um fator que se deve ter atenção, segundo Belém et al. (2007), é em relação à congestão venosa acentuada, decorrente de compressão do pedículo em decorrência de túneis estreitos. Em trabalho realizado por Garcia (2009), todos os pacientes foram tratados com retalho sural reverso sem tunelização em dois tempos, apresentando congestão em apenas um dos pacientes que respondeu bem a medidas posturais. Segundo Belém et al. (2007) os retalhos musculares têm indicação apenas para o tratamento de lesões dos dois terços proximais da perna; já a indicação dos retalhos em “crossleg”, ou cruzados, possuem como pontos negativos a imobilização prolongada e a inviabilidade na presença de fixadores externo. Segundo Vendramin (2012), o retalho sural reverso possui como limitações a utilização para reconstrução apenas em lesões no terço inferior da perna, quando da preservação do fluxo em artéria sural. Outras limitações seria a presença de insuficiência venosa gerando congestão no retalho e presença de infecção em área receptora. No estudo realizado por Vendramin (2012), foram coletados dados de indivíduos, num total de 61, sendo 27 do período de janeiro de 2002 a dezembro de 2006 e 34 de janeiro de 2007 a dezembro de 2011. Foi observado a presença de necrose parcial em 5 (18,5%) no primeiro grupo, com necessidade de reintervenção em um dos indivíduos e necrose total em um dos pacientes desse grupo. No segundo grupo, nenhum dos indivíduos teve necrose total do retalho e apenas três tiveram necrose parcial do retalho sem a necessidade de reintervenção. Em estudo realizado por Martins, Moreira e Viana (2009), com uso de retalhos fasciocutâneos, foi reconstruída lesões no calcâneo e região plantar, utilizando uma amostra de 11 indivíduos, sendo 4 do sexo feminino e 7 do sexo masculino. Em oito desses pacientes foi realizado retalho sural reverso e, em 3, foi empregado o retalho plantar medial. A faixa etária abordada variou de 9 a 58 anos, com média de 30,09 anos. Dez dos onze indivíduos tiveram lesões traumáticas por motocicleta e apenas um por neoplasia. Teve-se a presença de complicações no retalho sural reverso; ao todo, uma perda total, outra parcial e três epidermólises parciais. A área doadora foi tratada com uso de enxerto em dez dos onze procedimentos, e apenas em um, o tratamento foi por síntese primaria. Na pesquisa realizada por Belém et al. (2007), foi empregado o retalho sural reverso em ilha em 22 pacientes, sendo que 19, devido a trauma por motocicleta. É relevante ainda destacar que 19 Página 86 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 eram do sexo masculino e 3 do sexo feminino, numa faixa etária de 12 à 71 anos. Nessa pesquisa a utilização desse retalho foi utilizada na reconstrução de lesões no terço distal da perna em diferentes locais, com retalhos de dimensões variadas, com área doadora tratada através de enxerto na sua maioria, e quatro desses pacientes através de fechamento direto. Das complicações encontradas, houve um caso de deiscência em área receptora em retalho de 7 cm de largura por 6 cm de comprimento, em outro caso houve perda de 60% de enxerto complementar, epidermólise de bordas do retalho em um caso, perda de 50% de enxerto de área doadora, deiscência parcial do retalho, necrose cutânea e necrose distal; essas foram todas as complicações encontradas. O uso do retalho sural reverso para reconstrução distal da perna, tornozelo, calcanhar e do pé, foi realizado em estudo, por Garcia (2009), em 15 pacientes, sendo 11 do sexo masculino e 4 do sexo feminino. A faixa etária dos pacientes foi de 18 a 76 anos; nos indivíduos acima de 45 anos a comorbidade mais encontrada foi o diabetes em 5 dos 15 analisados. Dentre as causas das lesões, o póstrauma foi a principal, num total de 10 pacientes, sendo que 7 tiveram exposição óssea e 3, exposição de placa. Nos demais pesquisados a etiologia foi variada: um teve lesão por queimadura elétrica, outro por picada de aranha marrom (loxocelessp), lesão pós-cirúrgica de remoção de melanoma acral, ulcera de pressão em paciente acamado e osteomielite crônica. Em relação à área doadora em estudo realizado por Garcia (2009), na grande maioria o tratamento foi realizado através de enxerto e em apenas quatro foi realizado por síntese primaria. As intercorrências identificadas foram epidermólise em três dos pacientes, uma congestão venosa e uma necrose superficial. As co-morbidades encontradas foram diabetes, hipertensão arterial e etilismo crônico. 4 CONCLUSÃO Os retalhos fasciocutâneos são uma alternativa para a reconstrução das lesões com exposição de estruturas pouco vascularizadas. Isso devido à fácil realização da técnica, baixo custo e ausência de equipes para a realização de microcirurgia que possuem o custo mais elevado. O retalho fasciocutâneo sural reverso é confiável, possui amplo arco de rotação, fácil execução, baixo custo além de ser uma técnica bastante estudada e difundida dentre os retalhos. Isso em parte se deve ao grande número de pacientes vítimas de acidentes automobilísticos, que apresentam sequelas em membros inferiores. As complicações encontradas na literatura foram necrose total e parcial, epidermólise e deiscência. Contudo, a incidência e a necessidade de intervenção foram mínimas. As limitações encontradas na literatura foram a indicação do retalho sural reverso apenas para reconstrução de lesões no terço inferior da perna, quando da preservação do fluxo em artéria sural, insuficiência venosa gerando congestão no retalho e presença de infecção em área receptora. As áreas doadoras na grande maioria foram tratadas com enxerto. Em virtude destes fatores e de outras vantagens como baixo sangramento trans-operatório, presença de cirurgiões experientes, ausência de sequelas funcionais pela técnica realizada e pouca alteração estética de área doadora, o retalho sural reverso é uma boa alternativa para a reconstrução de lesões no terço médio inferior da perna. REFERÊNCIAS BACELAR, H. T. Utilização do músculo sóleo para perdas musculocutâneas de terço médio da perna. RevBras de CirPlást., v. 26, n.2, p. 211-220, 2011. BELÉM, M. et al. Retalho sural de fluxo reverso em Ilha. RevBras de CirPlást., v. 22, n. 4, 195201, 2007. Página 87 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 BRASIL. Ministério da Saúde. Mortalidade por acidentes por transporte terrestre no Brasil. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2006. Brasília, DF, 2006. DRAKE, R. L.; VOGL W.; MITCHELL, A. Gray’s anatomia para estudantes. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. FERREIRA, L. M. 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Página 89 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 MICROCORRENTE GALVÂNICA E PEELING QUÍMICO DE ÁCIDO GLICÓLICO PARA TRATAMENTO DE ESTRIAS ALBAS GALVANIC MICROCURRENT AND GLYCOLIC ACID CHEMICAL PEELING TO TREAT ALBA STRETCH MARKS Raphaela Gonçalves Silva1, Juçara Gonçalves de Castro2 RESUMO Estrias são lesões atróficas lineares e paralelas, que obedecem às linhas de clivagem da pele. Galvanopuntura é uma técnica que utiliza corrente contínua, provocando inflamação na pele, hiperemia, aumento da circulação, nutrição dos tecidos e aceleração do reparo tecidual. O ácido glicólico 70% promove destruição de partes da epiderme e/ou derme, seguida de reparação tecidual, promovendo rejuvenescimento tecidual. Esta pesquisa foi realizada de acordo com a Resolução CNS 466/2012, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FACID com o n°796.687. Caracteriza-se como uma pesquisa experimental qualitativa e estudo de caso, com objetivo geral de comparar os efeitos da microcorrente galvânica e do ácido glicólico 70%, associados e isolados, no tratamento de estrias albas. Foi realizada na Clínica-Escola de uma Faculdade em Teresina, incluindo uma mulher, pele fototipo III de Fitzpatric, maior de 18 anos, com estrias albas na região anterossuperior da coxa. O experimento foi realizado de março a maio de 2015, aplicando-se microcorrente galvânica com intensidade de 260 mA em todo o trajeto da estria, ácido glicólico 70%, os dois associados. Os atendimentos foram semanais, com registros em câmera fotográfica de um celular Apple de 8 Mp, no 1º e 10º atendimentos, analisado qualitativamente. Observou-se que após o tratamento tanto as estrias tratadas com ácido glicólico 70% quanto com galvanoterapia, obtiveram bons resultados isolados e associados, onde a estria tratada somente com galvanoterapia apresentou os melhores resultados, indicando que a galvanoterapia proporciona melhores resultados no tratamento de estrias albas. Palavras-chave: Microcorrente galvânica. Ácido glicólico. Estrias albas. ABSTRACT Stretch marks are linear and parallel atrophic lesions that follow the cleavage lines of the skin. Galvanopuncture is a technique which uses continuous current causing inflammation in the skin, hyperemia, increased circulation, tissue nutrition and acceleration of tissue repair. 70% Glycolic acid promotes destruction of parts of the epidermis and/or dermis followed by tissue repair, promoting tissue rejuvenation. This research was performed according with the resolution 466/12, approved by FACID Research Ethics Committee n° 796. 687. It is an experimental research, a case report with a qualitative approach whose aim was to compare the effects of galvanic microcurrent and 70% glycolic acid, associated and isolated, to treat alba stretch marks, performed at a school clinic of a Higher Education School, including 01 woman, skin phototype III of Fitzpatric, over 18 years, with alba stretch mark on the upper anterior region of the thigh. Data collection was conducted from March to May 2015, applying galvanic microcurrent with intensity of 260 mA in all stretch mark paths; 70% glycolic acid and, both associated. The attendances were weekly and it was held photo record in a camera of an APPLE cell phone with 08 Mp in the 1st and 10th attendances which were analyzed 1 Aluna do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry). Email: [email protected] 2 Professora do Curso de Fisioterapia da FACID/DeVry, Especialista em Fisioterapia Dermato-Funcional. Email: [email protected] Página 90 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 qualitatively. It was observed after the treatment that the stretch marks treated with 70% glycolic acid and galvanotherapy obtained good results, isolated and associated, but the ones treated only with galvanotherapy showed the best outcomes, indicating that the galvanotherapy provides better results in the treatment of alba stretch marks. Keywords: Galvanic Microcurrent. Glycolic Acid. Alba stretch marks. 1 INTRODUÇÃO As estrias são afecções dermatológicas apresentadas como lesões atróficas lineares, paralelas que, geralmente, obedecem às linhas de clivagem da pele. Inicialmente são eritematovioláceas e depois tornam-se esbranquiçadas. Histologicamente são caracterizadas como lesões que dispersam o tecido colágeno e elástico, além de se observar uma redução da presença das células da pele como os queratinócitos, melanócitos e fibroblastos (BORGES, 2010). Dependendo do fototipo da paciente, elas poderão ser mais evidentes, tornando-se assim um problema estético que causa grande incômodo para quem as possui (VANZIN; CAMARGO, 2011). Também são definidas como um processo degenerativo cutâneo e benigno, tendo como característica ser de trajeto linear e que mudam de coloração de acordo com a evolução de sua fase. É considerada assim uma disfunção estética, que não gera incapacidade física e apresentam uma característica de bilateralidade, tendo tendência a se formar simetricamente (AGNES, 2013). Quanto a localização das estrias, pode-se observar uma incidência maior nas regiões que exibem alterações teciduais, como glúteos, seios, abdome, coxas, região lombossacral (corriqueiro em homens), podendo acontecer também em regiões pouco comuns, como fossa poplítea, tórax, região ilíaca, antebraço e porção anterior do cotovelo (GUIRRO; GUIRRO, 2002). A galvanopuntura utiliza-se de um equipamento de corrente contínua, tendo sua intensidade reduzida em nível de microamperes. Deve ser realizada a técnica com o elétrodo ativo em forma de agulha, que pode ser tanto do tipo descartável quanto esterilizável, que será acoplada a um “porta agulhas” em forma de caneta, que se liga ao polo negativo da corrente a ele associado (BORGES, 2010). A microcorrente galvânica é usada como recurso físico de primeira escolha para a melhora da pele com estrias albas. A estimulação produz uma compilação dos efeitos da corrente, que se associada à inflamação causada em decorrência da agulha, vai desencadear um processo de reparação do tecido (AGNES, 2013). De acordo com Borges (2010), não se recomenda nenhum outro tipo de tratamento, como recursos de eletrotermofototerapêutica e/o cosmetológico, associado à galvanoterapia, para que não haja risco de qualquer tipo de ação anti-inflamatória. Abre-se exceção ao uso de protetores solares, pois a exposição ao sol pode causar alterações discrômicas na pele, e recursos que vão potencializar a lesão inflamatória, como os ácidos (retinóico, glicólico), microdermoabrasão, vacuoterapia e carboxiterapia. Ácidos são todas as substâncias que possuem seu potencial hidrogeniônico (pH) inferior ao da pele, transformando assim em uma região ácida, o que proporciona uma descamação cutânea, que pode ser desde uma esfoliação até o alcance de um peeling (JAHARA, 2006). O peeling químico, que também é conhecido como quimioesfoliação ou dermopeeling, consiste na aplicação de determinado agente esfoliante na pele, que vai destruir partes da epiderme e/ou derme, e em seguida ocorre uma regeneração dos tecidos destruídos. O ácido tricloroacético, ácido glicólico e o ácido retinóico, são exemplos de alguns ácidos usados em peeling para o tratamento de estrias (BORGES, 2010). O peeling por ácido glicólico é pouco irritante e pouco foto sensibilizante, ou seja, é caracterizado por não ter efeito tóxico a nível sistêmico. Entretanto, deve-se sempre observar a Página 91 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 quantidade de concentração do ácido a ser usado, visando sempre o nível superficial (ZAMPRONIO, 2011). A concentração ou percentual do ácido escolhido para o peeling químico vai depender do fototipo cutâneo, da sensibilidade dérmica, do quadro clínico da paciente e do tipo de ácido utilizado. Nas estrias albas os peelings mais utilizados podem ser muito superficiais, que vão afinar e remover o estrato córneo e não criam lesão no estrato granuloso, podendo ser realizado com o ácido glicólico à 10%, retinóico à 5% e também com o peeling superficial de ácido glicólico 70%, que produz necrose de parte ou de toda a epiderme, em qualquer parte do estrato granuloso até a camada das células basais (JAHARA, 2006). O peeling tem como objetivo proporcionar afinamento e compactação do estrato córneo, aumentar a espessura da epiderme, suavizando, melhorando a coloração e aumentando a densidade do colágeno solúvel, o que promove uma melhora do aspecto da pele de um modo geral (JAHARA, 2006). O tratamento de estrias é desafiador e estabelece persistência e disciplina por parte da paciente. O sucesso no tratamento de estrias jovens é bem maior quando comparado ao de estrias antigas, sendo assim o tratamento de estrias tem como finalidade suprimir o tecido fibroso, e substituir por células novas, restabelecendo a elasticidade e a aparência saudável da pele. Geralmente, esse tratamento abrange a utilização de peeling e esfoliantes químicos, que hidratam e estimulam a produção de matriz extracelular por manifestar um “processo inflamatório local”, além de cooperar positivamente para a diminuição da aspereza que normalmente se apresenta na superfície dessas estrias. De todos os esfoliantes conhecidos, o ácido glicólico é um dos que mais estimulam a cicatrização das estrias (VANZIN; CAMARGO, 2011). O estudo teve como objetivo principal comparar os efeitos da microcorrente galvânica e do peeling de ácido glicólico 70% no tratamento de estrias albas; como objetivos secundários, aplicar microcorrente galvânica e um peeling de ácido glicólico 70% em estrias albas, isolados e associados, avaliar macroscopicamente os efeitos do tratamento com microcorrente galvânica do peeling de ácido glicólico, isolados e associados, e comparar os resultados obtidos no tratamento destas estrias albas. O motivo que levou a pesquisar sobre os efeitos da microcorrente galvânica e peeling químico em estrias albas, foi o interesse pelo tema e o fato de que as estrias são muito frequentes em mulheres, causando grande desconforto para as mesmas, por se tratar de linhas atróficas na pele que provoca transtornos estéticos. A fisioterapia dermato-funcional tem como base a prevenção e recuperação física e funcional dos distúrbios endócrino-metabólicos, dermatológicos e músculos-esqueléticos sendo uma área de atuação que com o passar dos anos cresce ajudando a solucionar problemas que causam desconforto estético. 2 MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi planejada de acordo com a Resolução CNS 466/2012, sendo submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da FACID com Protocolo 796.687. Trata-se de uma pesquisa experimental de abordagem qualitativa, com estudo de caso realizado com uma mulher de 21 anos com pele fototipo III de Fitzpatrick, com estrias localizadas na região ântero-superior da coxa direita. Foram excluídas mulheres que fazem uso de anticoncepcionais orais, que já tinham realizado tratamento para estrias, gestates ou as que possuíam alergia ao ácido. Após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deu-se início a pesquisa. A paciente foi submetida a uma avaliação fisioterapêutica realizada antes do tratamento, por meio de uma ficha própria, onde constavam questionamentos que incluíram cor da pele de acordo com a Classificação de Fitzpatrick, ano da menarca, época de surgimentos das estrias, coloração inicial, coloração atual, aspecto macroscópico e localização das mesmas, além de perguntas sobre patologias associadas. Página 92 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Após avaliação realizou-se registro fotográfico das estrias na região antero-superior da coxa direita da voluntária e então iniciou-se o tratamento utilizando para a galvanoterapia o aparelho STRIAT da marca Ibramed de alimentação 110/220 volts (60 Hz) automático, com amplitude máxima de corrente microgalvânica- 400 microampères(mA) e amplitude máxima de corrente galvânica – 20 miliampères (uA), tipo de pulso: corrente contínua filtrada constante e potência de entrada - Consumo (máx.): 35 VA. Corresponde a um gerador de corrente contínua filtrada constante, com duas saídas, sendo um polo negativo em forma de caneta com uma agulha na ponta e um polo positivo com eletrodo de alumínio coberto com uma esponja. Em todas as sessões foram utilizadas agulhas estéreis descartáveis próprias para striat. Ao início foi realizada assepsia da região a ser tratada com álcool a 70% e gaze. Em seguida a placa correspondente ao polo positivo do aparelho foi previamente umedecida com água e posicionada junto ao corpo da paciente. O polo negativo, representado pela agulha sustentada pela caneta, foi utilizado para punturar a estria em todo o seu trajeto. Foi utilizado o ácido glicólico 70% para o tratamento com peeling químico por aproximadamente 20 minutos. Selecionou-se três estrias assim divididas: na primeira estria foi aplicado apenas a microcorrente galvânica, na segunda aplicamos o ácido glicólico (70%) por 20 minutos e após decorrido o tempo foi realizado a assepsia e aplicado a corrente galvânica e na terceira aplicarmos apenas o ácido glicólico (70%). A microcorrente galvânica foi programada com intensidade de 260 mA e tempo dependendo do tamanho da estria, sendo o suficiente para punturar em todo o seu trajeto; e na terceira estria foi aplicado o ácido glicólico foi aplicado por 20 minutos e depois retirado com gaze e água. Foram feitos atendimentos semanais seguindo o mesmo protocolo nas estrias escolhidas. Os registros fotográficos foram coletados utilizando-se a câmera fotográfica de 8 megapixels de celular da marca APPLE de nome Iphone 4, a uma distância de 25 centímetros da pele da voluntária, antes do primeiro atendimento e uma semana após decorrido do décimo atendimento. Realizou-se uma análise macroscópica através de registros fotográficos e avaliou-se qualitativamente coloração da pele, espessura e tamanho das estrias. O protocolo total incluiu 10 sessões, com intervalos de, no mínimo, sete dias entre uma e outra, cada uma com duração de aproximadamente 50 minutos. Ao final do tratamento foi aplicado um questionário em que a paciente respondeu questões objetivas sobre o grau de satisfação do tratamento. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 mostra três estrias de aspecto inestético, localizadas na região anterossuperior da coxa direita, de coloração esbranquiçada, atróficas e lineares formando uma leve depressão na pele, denominadas estrias albas, enquanto que a Figura 2 mostra as três estrias após 10 atendimentos realizados em intervalos de, no mínimo, uma semana. Na Figura 2 é possível observar uma melhora geral no aspecto estético da pele, com diminuição do diâmetro e redução da depressão das estrias. A estria 1 foi tratada somente com microcorrente galvânica, observando-se que macroscopicamente houve uma melhora da cor e aparência da pele, com diminuição da largura da estria, tornando-a quase imperceptível. A estria 2 também apresentou evidente melhora, principalmente, se comparada à estria 3, que foi a que apresentou menor resultado. Página 93 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 FIGURAS 1 E 2 – IMAGENS ANTES E APÓS O TRATAMENTO Fonte: Dados da pesquisa (2015). A voluntária deste estudo apresentou estrias albas que surgiram no período da adolescência. Em estudo realizado por Vinadé, Oliveira e Borges (2009), o surgimento das estrias nas pacientes selecionadas apresentou predominância no período da adolescência, o que corrobora com os dados desta pesquisa. Segundo Lima e Pressi (2009), a microcorrente galvânica é uma corrente utilizada para o tratamento de estrias, permitindo alcançar até 40% de melhora no aspecto em que está se apresenta. Neste estudo utilizou-se como protocolo de tratamento a realização da galvanopuntura através da punturação linear com 260 mA de intensidade, realizada com uma angulação de 45º de inclinação da agulha em relação à pele. Borges (2010) sugere que os profissionais de fisioterapia dermatofuncional utilizem a microamperagem entre 70 e 200 microamperes, não devendo ultrapassar 400 microamperes para evitar o aparecimento de manchas e lesões na pele. Agnes (2013) ressaltou que a microamperagem deve variar de acordo com a sensibilidade do paciente, oscilando de 150 a 300 microamperes, o que corrobora com o presente estudo, visto que foi utilizado 260 microamperes. Saavedra, Saavedra e Angelich (2009), em seu estudo que incluiu 11 pacientes, comparando os tratamentos de intradermoterapia com vitamina C, ácido hialurônico e lidocaína e microgalvanopuntura, após 10 sessões observaram melhora tanto no aspecto estético como no histológico, em que a microgalvanopuntura apresentou melhores resultados, menores complicações, além da vantagem de ter um menor custo. O que ficou evidenciado no presente estudo pois a estria que foi tratada somente com microgalvanopuntura, mostrou resultados mais satisfatórios. De acordo com Guirro e Guirro (2002), no início do tratamento, o paciente pode não sentir dor, entretanto, conforme se avança no número de sessões, esta aumenta e pode ser percebida como dor suportável e até intensa. Próximo ao final do tratamento, o seu limiar já é bem evidenciado. Neste momento, é importante realizar uma reavaliação, onde se indica uma pausa maior entre as sessões. Os achados do presente estudo ratificam esta informação, visto que houve aumento da intensidade da dor em comparação ao primeiro e décimo atendimento, onde no início foi relatado pela paciente que sentiu uma dor fraca e no final do tratamento foi relatado como desconfortável. Silva et al. (2009) realizaram estudo de caso e após três sessões de microgalvanopuntura relataram resultados positivos, como a ocorrência de mudança na coloração da estria e aumento da sensibilidade dolorosa e tátil. Não foi encontrada na literatura a associação do peeling de ácido glicólico e a microgalvanopuntura em tratamento de estrias e sim somente estudos isolados. A pesquisa mostra que a associação destas técnicas promoveu resultados satisfatórios no tratamento de estrias albas. Atualmente existem outras técnicas para o tratamento de estrias atróficas, sendo citadas por Xavier e Petri (2009) no seu artigo, um estudo de caso, com uma voluntária de 19 anos de idade que Página 94 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 havia emagrecido 10 kg em quatro anos, dando início ao aparecimento das estrias. Como proposta de tratamento foi utilizada microdermabrasão, vacuoterapia, ácido glicólico a 20% e ácido ascórbico a 10%, totalizando nove sessões, que teve como resultado final a diminuição da largura da estria e mudança da sua coloração, o que tornou as estrias brancas em rosadas. No estudo em tela utilizou-se o ácido glicólico a 70% e foi possível observar melhora no aspecto da estria da paciente quando este foi aplicado sozinho, mas seu resultado mostrou-se melhor na estria em que houve a associação com a microcorrente galvânica. Nesta pesquisa avaliou-se também o nível de satisfação da voluntária com o tratamento realizado. Constatou-se, através do questionário de satisfação, que a participante percebeu diferença na aparência e na textura das estrias tratadas, considerando os resultados alcançados como muito satisfatórios, o que está de acordo com o estudo anteriormente mencionado. 4 CONCLUSÃO Após a análise dos resultados obtidos conclui-se que tanto a microcorrente galvânica quanto o peeling de ácido glicólico 70%, são recursos para realizar o tratamento de estrias albas, oferecendo bons resultados quando utilizados associados ou isolados. Foi possível observar após o término das sessões que a estria tratada somente com microcorrente galvânica obteve melhores resultados do que se associada ao ácido glicólico e também se comparada à estria tratada somente com o peeling químico. Faz-se necessário mais pesquisas na área de Fisioterapia Dermatofuncional, com maior número de sessões sendo feita a associação do peeling químico com a corrente galvânica. REFERÊNCIAS AGNES, J. E. Eletrotermoterapia: teoria e prática. 5.ed. Santa Maria: Palotti, 2013. BORGES, F. S. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. In: JAHARA, R. Terapêutica por ácidos (peeling químico). 2. ed. São Paulo: Phorte, 2010, p.93-112. GUIRRO, E. C. O.; GUIRRO, R. R. J. Fisioterapia em estética: fundamentos, recursos e patologias. 3. ed. São Paulo: Manole, 2002. JAHARA, R. S. Terapêutica por ácidos (peeling químico). In: BORGES, F. S. Dermato-Funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. São Paulo: Phorte, 2006. LIMA, K. S.; PRESSI, L. O uso da microgalvanopuntura no tratamento de estrias atróficas: análise comparativa do trauma mecânico e da microcorrente. Disponível em: <http://www.upf.br/feff/download/monolisianetotal.pdf> Acesso em: 16/03/2015. SAAVEDRA, L. P.; SAAVEDRA, I. P.; ANGELICH, A. Avaliação histológica dos efeitos da intradermoterapia e galvanopuntura em estrias. Kinesia, v.1, n.1, p.68-72, 2009. SILVA, N. F. et al. Estudos de caso utilizando corrente galvânica em estrias realizadas no ambulatório de FARN -RN. Kinesia, v. 1, n. 68, 2009. VANZIN, S. B.; CAMARGO, C. P. Entendendo cosmecêuticos – diagnósticos e tratamentos. 2.ed. São Paulo: Santos Editora, 2011. Página 95 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 VINADÉ, I. A.; OLIVEIRA, K. S.; BORGES, T. R. Efeitos comparativos entre a aplicação de eletroterapia e medicação no tratamento de estrias. 2009. 84f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Fisioterapia) –Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, 2009. XAVIER, L. G.; PETRI, F. C. Efeitos do ácido glicólico, ácido ascórbico, vacuoterapia e microdermoabrasão no tratamento de estrias brancas-estudo de caso. 2009. 63 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Estética e Cosmetologia) – Universidade Luterana do Brasil, Santa Maria, 2009. ZAMPRONIO, F. P. C. Atuação da fisioterapia dermato-funcional nas disfunções estéticas decorrentes da gravidez. 2011. 15 f. Monografia de Conclusão de Curso (Especialização em Fisioterapia Dermato-Funcional) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Unijui, 2011. Página 96 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 INFILTRAÇÃO MARGINAL EM RESTAURAÇÕES DE RESINA COMPOSTA APÓS CLAREAMENTO DENTAL COM PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO 35% MARGINAL LEAKAGE IN COMPOSITE RESIN FILLINGS AFTER TOOTH WHITENING WITH 35%HYDROGEN PEROXIDE Natércya Brenda de Araújo Cavalcante¹, Conceição de Maria Probo de Alencar Batista² RESUMO O presente estudo avaliou, in vitro, a influência do peróxido de hidrogênio à 35% sobre o selamento marginal em restaurações de resina composta de dentes submetido à ação do agente clareador de consultório. Para avaliação do padrão de infiltração marginal após clareamento dental de consultório. Vinte dentes humanos hígidos extraídos foram divididos em dois grupos experimentais de dez dentes cada (n=10). Preparos cavitário classe I foram realizados na superfície oclusal (4x4x2mm), e posteriormente receberam restaurações diretas com resina composta, após as restaurações as amostras ficaram armazenadas em estufa a 37º durante 28 dias. No Grupo I (Grupo controle) foram realizadas somente restaurações diretas com resina composta e no Grupo II (Grupo experimental) restaurações diretas com resina composta e três sessões de clareamento dental de consultório. Todos os grupos foram submersos no corante azul de metileno durante 24 horas. O corte dos dentes foi realizado com disco diamantado. A análise não demonstrou diferença entre os grupos para a variável estudada. Conclui-se que, o peróxido de hidrogênio à 35% não tem influência sobre o selamento marginal de restaurações de resina composta submetidas à ação do agente clareador de consultório. Palavras-chave: Restauração dentária permanente. Infiltração dentária. Peróxido de hidrogênio. ABSTRACT This study evaluated in vitro the influence of 35% hydrogen peroxide at on the marginal sealing in composite resin fillings of teeth subjected to the action of office bleaching agent to evaluate the standard marginal leakage after tooth whitening performed in dental offices. Twenty healthy extracted human teeth were divided into two experimental groups of ten teeth each (n=10). Class I cavity preparations were performed in the occlusal surface (4x4x2mm), and later received direct fillings with composite resin. After the fillings, samples were stored in an oven at 37º for 28 days. In Group I (control group) only direct restorations were made with composite resin and in Group II (experimental group) direct restorations were made with composite resin and three tooth whitening sessions held in dental offices. All groups were submerged in blue methylene dye for 24 hours. The cut of the teeth was carried out with diamond disk. The test results showed no difference between groups regarding the variable studied. In conclusion, the 35% hydrogen peroxide has no influence on the marginal sealing of restorations made with composite resin that undergo the action of the bleaching agent in dental office. Keywords: Permanent dental filling. Dental leakage. Hydrogen peroxide. _______________ ¹ Aluna de graduação (10º período) do Curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial – FACID-DeVry. e-mail: [email protected] ² Professora do Curso de Odontologia da FACID, Especialista em Dentística. e-mail: [email protected] Página 97 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 1 INTRODUÇÃO Haywood e Heyman introduziram a técnica do clareamento caseiro, empregando o Peróxido de Carbamida 10% como agente clareador e foram os responsáveis pela popularização do clareamento dental em dentes vitais. Na década de 90 a técnica se popularizou e os clínicos passaram a utilizá-la rotineiramente (BORGES et al., 2006). A estética tem ditado as regras de comportamento da sociedade, e as pessoas submetem-se a tudo na tentativa de se enquadrar nos padrões de beleza dessa nova realidade. Atualmente a preocupação não é mais restrita ao corpo escultural, também há uma extrema procura por um sorriso bonito e branco, e isso tem tornado os pacientes cada vez mais exigentes, cobrando dos cirurgiões dentistas soluções imediatas e eficazes (DORINI et al., 2010). De acordo com Dorini et al. (2010) o clareamento dental por ser um tratamento conservador, e de resultado imediato na maioria dos casos, tem sido um dos tratamentos mais procurados. Existem diversos tipos de agentes clareadores e em diferentes concentrações, destes os mais utilizados são o Peróxido de Carbamida a 10% (técnica caseira) ou o Peróxido de Hidrogênio, empregado em concentrações de 30% a 35% (técnica de consultório), tanto para o clareamento de dentes vitais como não vitais. Segundo Borges et al. (2006) o peróxido de carbamida 10% é usado nas técnicas de clareamento caseiro, equivalendo a 3% do peróxido de hidrogênio, podendo portanto ser aplicado pelo próprio paciente, pois pode entrar em contato com os tecidos moles da boca sem agredir a mucosa bucal. Este material é composto de gel de carbopol, um polímero orgânico hidrossolúvel com a função de veículo para diluição dos cristais de peróxido de carbamida. O peróxido de hidrogênio de 30 a 35% por sua vez, é empregado nos consultórios odontológicos e requer atenção e cuidado durante sua aplicação, pois quando em contato com a mucosa pode provocar irritação ou até mesmo queimadura. O mecanismo de ação dos agentes clareadores está relacionado com a liberação do oxigênio nas estruturas dentais, o qual por meio das reações de oxi-redução, promove a quebra das macromoléculas que compõem os pigmentos, as quais são eliminadas por um processo de difusão. Porém, a ação do agente clareador não é especifica, além de degradar os pigmentos, ele também atua em toda a superfície com a qual entra em contato, provocando alterações na superfície do esmalte, assim como pode também alterar importantes propriedades das resinas compostas, como a resistência de união à estrutura dental (DORINI et al., 2010). Diante do que foi exposto, surgiu então o seguinte questionamento: o peróxido de hidrogênio a 35% pode degradar o vedamento marginal de restaurações de resina composta e se realmente isso acontecer, o quanto de infiltração pode ser observada? Então tornou-se de fundamental importância a realização desse trabalho, tendo como objetivo avaliar a influência do peróxido de hidrogênio à 35% sobre o selamento marginal em restaurações de resina composta de dentes submetido à ação do agente clareador de consultório. 2 MATERIAL E MÉTODOS Tratou-se de uma pesquisa experimental de caráter descritivo com abordagem quantitativa. A pesquisa foi realizada somente após submissão e aprovação prévia pelo Comitê de Ética e Pesquisa – CEP da Faculdade Integral Diferencial – FACID, CAAE 36767514.7.0000.5211. Desenvolvida in vitro com dentes humanos extraídos, através do qual foi avaliada a influência do peróxido de hidrogênio à 35% sobre o selamento marginal em restaurações de resina composta de dentes submetidos à ação do agente clareador de consultório. 2.1 Cenário do Estudo A pesquisa foi realizada no Laboratório Multidisciplinar do curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial/DeVry, localizada no munícipio de Teresina/Piauí. Página 98 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 2.2 Amostra A amostra foi composta por 20 molares humanos hígidos com indicação de exodontia e as mesmas foram realizadas nas disciplinas de Cirurgia I e II do curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial/DeVry ou através de doações feita por Cirurgiões Dentistas, devidamente registrados no Conselho Regional de Odontologia, com termos de doação (Apêndices A e B) devidamente preenchido com finalidade de comprovar a legalidade da origem dos mesmos. 2.3 Coleta de Dados 2.3.1 Preparo e armazenamento das amostras Após a exodontia os dentes foram lavados com soro fisiológico e armazenados em solução de timol a 0,1% até o início de seu preparo. A fase inicial de preparo consistiu na remoção de restos do ligamento periodontal que permaneceram na superfície radicular dos espécimes amostrais com curetas de Gracey (Figura 1A). As amostras permaneceram armazenadas em solução de timol a 0,1% até receber o tratamento previsto para o grupo experimental. 2.3.2 Confecção dos preparos cavitários Foram confeccionadas cavidades classe I (oclusal) (4mm x 4mm) com profundidade de 2,0 mm (Figura 1D), totalizando 20 preparos, com pontas cilíndricas diamantada (KG 3145) em alta rotação (D700-Dabi) sob refrigeração de jato ar/água (Figura 1C). A cada 5 dentes preparados a ponta foi trocada, de modo a evitar que a perda de granulação decorrente do uso pudesse deixar padrões diferentes de ranhuras na superfície dentinária. Com o intuito de padronizar os preparos cavitários, foi utilizada uma Sonda Milimetrada (Figura 1B) e pincel para mensurar as dimensões das cavidades e estas foram executadas pelo mesmo operador. Figura 1- Remoção dos restos de ligamento periodontal em A, em B sonda milímetrada, em C pontas diamantadas, em D preparo cavitário pronto. Fonte: CAVALCANTE (2015) Página 99 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 2.3.3 Realização das restaurações definitivas com resina composta As cavidades foram condicionadas com ácido fosfórico 35% gel e a aplicação foi feita segundo as orientações do fabricante (Figura 2A e 2B) (Quadro 1). Após o condicionamento, as cavidades foram lavadas por 60 segundos com jatos de água, e o excesso de água foi removido com bolinha de algodão estéril (Figura 2C). Em seguida, foi feita a aplicação do adesivo (Figura 2D) Ambar (FGM) de acordo com a orientação do fabricante (Quadro 1). E a restauração foi realizada em seguida com resina composta Opallis (FGM), cor A2, inserida nas cavidades de forma incremental (Figura 2E) e fotopolimerizadas de acordo com as recomendações do fabricante (Quadro 1). Após a realização dos preparos cavitários e restauração dos mesmos, as amostras foram armazenadas em estufa a 37° durantes 28 dias. Figura 2 – Sequência da restauração com resina composta. Em A condicionamento ácido do esmalte, em B condicionamento ácido da dentina, em C secagem da cavidade com bolinha de algodão, em D aplicação do sistema adesivo, em E inserção incremental da resina, em F restauração pronta. Fonte: CAVALCANTE (2015) Quadro 1 – FORMA DE UTILIZAÇÃO DOS MATERIAIS MATERIAL Ácido Fosfórico 37% PRINCIPAIS COMPONENTES FORMA DE UTILIZAÇÃO * Ácido fosfórico, digluconato de Limpe e seque a região a ser clorexidina, espessante, água condicionada; aplique o ácido e purificada e corante. aguarde 30 segundos no esmalte e 15 segundos na dentina; limpe o local com água em abundância; seque com algodão ou papel absorvente. Página 100 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Adesivo (Ambar CE Ingredientes ativos: MDP (101023 - FMG) Metacriloiloxidecil dihidrogênio fosfato), Monômeros matacrílicos, Fotoiniciadores, Co-iniciadores e estabilizante. Ingredientes Inativos: Carga inerte (nanopartículas de sílica) e Veículo (etanol). Resina Matriz monomérica contendo Bis Composta(Opallis CE (GMA), Bis (EMA), UDMA e 1023- FGM) TEGDMA. Whiteness HP Peróxido de hidrogênio 35%, Espessante, corante vermelho, água e glicol. Aplique duas camadas consecutivas do adesivo. A primeira camada deve ser aplicada friccionando vigorosamente com o microbrush embebido de produto durante 10 segundos. Na sequência aplica-se a segunda camada de adesivo durante mais 10 segundos e leve jato de ar por 10 segundos para evaporação do solvente. Fotopolimerize Ambar com luz azul por 10 segundos. Técnica de inserção e polimerização por incrementos. O tempo de polimerização de cada incremento é de 40 segundos. Espessura máxima dos incrementos de 2mm. Isolamento relativo com Top Dam e misture as fases do clareador na proporção de 3 gotas da fase 1 (peróxido) para 1 gota da fase 2 (espessante). Com o auxílio de um pincel ou espátula cubra totalmente a superfície vestibular dos dentes a serem clareados, incluindo as interproximais, e estenda um pouco nas faces incisal e oclusal. A camada de gel deverá ter entre 0.5 e 1mm de espessura. Esse processo de aplicação deverá ser repetido 3 vezes de 15 minutos cada. *Informações do fabricante. Tabela 1 – Divisão dos grupos experimentais GRUPOS Grupo controle (Grupo 1) TRATAMENTO Dentes com restauração direta de resina composta Grupo Experimental (Grupo 2) Dentes com restauração direta de resina composta, e clareados com peróxido de hidrogênio 35% 2.3.4 Clareamento da amostra O grupo 2 foi submetido à ação do Peroxido de Hidrogênio 35% (Figura 3A) de acordo com a orientação do fabricante (Quadro 1). Foram realizadas 3 sessões de 45 minutos cada, com intervalo Página 101 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 de 7 dias entre as sessões, no momento do clareamento os dentes foram inseridos em uma base de cera e na região cervical foi aplicada uma barreira gengival (Top Dam-FGM) (Figura 3A). Depois de cada seção de clareamento foi feita uma aplicação tópica de Flúor Gel Neutro a 2% (Nova DFL) por 1 minuto (Figura 3C). Figura 3: espécimes amostrais para clareamento dental. Em A aplicação da barreira gengival, em B aplicação do agente clareador, em C aplicação do flúor gel. Fonte: CAVALCANTE (2015) 2.3.5 Corante As amostras foram isoladas com duas camadas de esmalte de unha para evitar que o corante penetrasse por outro local que não fosse a restauração, para isso foi isolada toda a porção coronária com exceção da restauração e um milímetro além dela. Em seguida os dentes foram inseridos em uma base de cera e a porção coronária ficou em um recipiente plástico, submersas em azul de metileno por 24 horas. Figura 4 – Em A espécimes amostrais imersos em corante, em B vista oclusal dos espécimes depois de removidos do corante. Fonte: CAVALCANTE (2015) 2.3.6 Avaliação das amostras Após serem removidas do corante, as amostras foram retiradas da base de cera, lavadas e descapadas do esmalte, em seguida foram seccionadas em sentido mésio distal (Figura 5C) e seguindo o longo eixo do dente, com discos diamantados em baixa rotação. Depois foram analisadas a olho nu, Página 102 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 utilizando como critério os escore 0 (quando o corante não penetrar), 1 (infiltração que atinge o terço externo da dentina), 2 (infiltração atinge o terço médio da dentina), e 3 (quando atingir o terço interno da dentina). Figura 5 – Em A (vista oclusal) e B (vista lateral) do dente inserido na base de cera para a realização do corte do mesmo. Em C o dente após o corte. Fonte: CAVALCANTE (2015) 2.4 Organização e Análise dos Dados Os dados foram analisados e os resultados obtidos foram organizados em gráfico. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO No presente estudo foi analisada a variável infiltração marginal 20 dentes humanos hígidos extraídos (molares superiores e inferiores) onde foram realizados preparos cavitários e restaurações diretas com resina composta, seguidas de clareamento dental com peróxido de hidrogênio à 35% do grupo experimental (n=10). Na sequência, as amostras de ambos os grupos foram imersas no corante (azul de metileno) durante 24 horas para análise da infiltração marginal. Os dados obtidos estão expressos e analisados a seguir. Para análise da variável infiltração marginal foram utilizados como critério os escores 0 (quando o corante não penetrar), 1 (infiltração que atinge o terço externo da dentina), 2 (infiltração atinge o terço médio da dentina), e 3 (quando atingir o terço interno da dentina). Os resultados obtidos não demonstraram diferença entre os grupos (p=0), negando a hipótese de que peróxido de hidrogênio à 35% promove degradação da interface adesiva da restauração podendo levar à infiltração marginal. Os resultados estão demonstrados no Gráfico 1 a seguir. Página 103 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Gráfico 1 – Comparação da infiltração marginal entre grupo controle e grupo experimental. E S C 3 O 2 R 1 Score E 0 G1 G2 G1: Grupo controle G2: Grupo experimental Fonte: Cavalcante, 2015. Na mesma direção dos resultados encontrados neste estudo Esberard et al. (2004), Fayad et al. (2002) e Pinheiro (2011), verificaram que não há uma associação dos agentes clareadores com o aumento da infiltração marginal em restaurações de resina composta, no entanto observaram que os agentes clareadores provocam alterações na morfologia dos tecidos mineralizados dos dentes, caracterizando um processo de erosão significativo, podendo também diminuir a microdureza da dentina e do esmalte, provocar perda mineral na dentina e no cemento, e além disso é capaz de promover redução da resistência adesiva das resinas compostas. Azevedo et al. (2011), Campos et al. (2011), Fayad et al. (2002) e Vieira et al. (2012) constataram que não há relatos de que o agente clareador seja capaz de alterar a adesão de restaurações existentes, no entanto verificaram que agentes clareadores promovem alterações na rugosidade superficial, diminuindo a dureza superficial e o brilho das restaurações de resina composta, e que essas alterações variam conforme a composição da resina utilizada, sendo as de nanotecnologia mais resistentes à ação desses produtos. Para esses autores a substituição ou o reparo das restaurações de resina composta após o tratamento clareador pode ser indicado apenas por razões unicamente estéticas. Relatos sobre a deterioração marginal da interface adesiva em restaurações de resina provenientes da ação de agentes clareadores, não foram encontrados nesta pesquisa, no entanto a interferência do oxigênio residual sobre a polimerização das resinas já foi relatada em vários trabalhos como o de Dorini et al. (2010), Prado; Rabelo (2012) e Sundfeld et al. (2013), que relataram que o agente clareador não entra em contato direto com a dentina, porém devido ao aumento da sua permeabilidade, o produto é capaz de penetra-lá e então a utiliza como uma espécie de reservatório de oxigênio, por esse motivo, mesmo após o término do procedimento, há uma contínua liberação de oxigênio na estrutura dental. O oxigênio residual é capaz de ultrapassar a camada de esmalte e inibir a polimerização dos materiais resinosos e então interferir na resistência adesiva ao esmalte, comprometendo a eficácia do sistema adesivo restaurador. Nesses casos onde o oxigênio residual interferiu na polimerização do sistema adesivo restaurador, pode ser observado aumento da infiltração marginal nessas restaurações realizadas pós clareamento dental. De acordo com Azevedo et al. (2011), Dorini et al. (2010), Rheinheimer (2008) não há dúvidas quanto ao sucesso clínico do tratamento clareador, porém no que diz respeito a seus efeitos adversos ainda existem muitas controvérsias, em virtude disso as alterações nas propriedades físico-químicas Página 104 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 (dureza e rugosidade superficial) dos materiais restauradores após o clareamento dental, têm sido motivo de estudo de muitos pesquisadores, não havendo um consenso entre eles. 4 CONCLUSÃO Considerando a metodologia utilizada e as limitações do estudo, foi possível concluir que o peróxido de hidrogênio à 35% não tem influência sobre o selamento marginal de restaurações de resina composta de dentes submetidos à ação do agente clareador de consultório. REFERÊNCIAS Azevedo, M. R. et al. Microdureza de resinas compostas submetidas a clareamento de consultório. Revista Dentística on line. v. 10, n. 21, abr/jun. 2011. BORGES, G.A, et al. A influência do clareamento dental na resistência de união na interface resinaesmalte. Robrac. v. 15, n. 40, 2006. CAMPOS, I.C.M. et al. Efeito de diferentes agentes clareadores na rugosidade superficial de resinas compostas. Odontologia clínico-científico online. 2011. DORINI, A.C.R. et al. Influência do clareamento dental na infiltração marginal em restaurações de Classe V. RGO, Porto Alegre, v. 58, n. 1, p. 55-60, jan/mar. 2010. ESBERARD, R.R, et al. Efeitos das técnicas e dos agentes clareadores externos na morfologia da junção amelocementária e nos tecidos dentários que a compõem. Rev Dental Press Estét. v.1, n.1, p. 58-72, out/nov/dez. 2004. FAYAD, M.V.L. et al. Avaliação da infiltração marginal após clareamento dental e restauração com resina composta, variando o sistema adesivo. PGR – Pós Grad Rev Fac Odontol. São José dos Campos. v. 5, n. 1, jan/abr. 2002. PINHEIRO, H.B. et al. Análise microestrutural do esmalte tratado com peróxido de hidrogênio e carbamida. Rev Gaúcha Odontol. Porto Alegre, v. 59, n. 2, p. 215-220, abr/jun, 2011. PRADO, N.A.S; RABELLO, T.B. Efeitos dos agentes clareadores na adesão da resina composta ao esmalte e dentina, e o uso do ascorbato de sódio como alternativa para minimizá-los. Rev Dental Press Estét. v. 9, n. 1, p. 68-74, jan/mar, 2012. RHEINHEIMER, L. Sensibilidade no clareamento dental. Faculdade de Passo Fundo – RS. 2008. SUNDFELD, R. H. et al. Clareamento de dentes vitais com peróxido de carbamida. Faculdade de Araçatuba. São Paulo: 2013. VIEIRA, F.L.T. et al. Estética odontológica: soluções clínicas. p. 405-429. São Paulo: 2012. Página 105 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 OCORRÊNCIA DE BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA DE HOSPITAL PÚBLICO DE TERESINA-PI OCCURRENCE OF MULTIRESISTANT BACTERIA IN A PEDIATRIC INTENSIVE CARE UNIT IN A PUBLIC HOSPITAL OF TERESINA-PI Ylara Liza Porto de Carvalho1, Carlos Leonardo Evangelista Bento dos Santos2, Guilherme Henrique Mendes Leal de Sousa Martins3, Maria Clara Pimentel Lopes 4, Géssica Kelly de Sousa Andrade5 RESUMO A Unidade de Terapia Intensiva tem mostrado elevados índices de infecção hospitalar, incluindo a ocorrência de microrganismos multirresistentes. As razões para tal estão associadas ao risco intrínseco de transmissão de agentes infecciosos entre pacientes, uso excessivo de antimicrobianos, tempo de permanência prolongado. Este estudo teve como objetivo avaliar a ocorrência de bactérias multirresistentes em pacientes hospitalizados em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP). Trata-se de um estudo observacional, retrospectivo onde foram analisados 90 prontuários médicos de pacientes internados em uma UTIP em um Hospital público de Teresina-PI, no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2013, mediante aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da FACID. Em 9 pacientes foram isoladas bactérias que preencheram os critérios de multirresistência estabelecidos. O agente isolado com maior frequência foi o Acinetobacter baumannii, com 53,8%/n=7. Em relação ao gênero dos pacientes infectados por bactérias multirresistentes, predominou o masculino 66,7%/n=6; a faixa etária de predomínio foi a de 30 dias a 2 anos de idade 44,4% (n=4); quanto a comorbidades, 55,6%/n=5 não possuíam. O tempo médio de internação na UTIP foi de 66 dias. O dispositivo invasivo usado por maior média de dias foi à ventilação mecânica (37,2 dias). Quanto à topografia das bactérias multirresistentes, o sítio mais frequente foi o aspirado traqueal 69,2%/ n=9. A média de dias de uso de antibioticoterapia antes do resultado da primeira cultura positiva para bactéria multirresistente foi de 35 dias. Nesse estudo o percentual de mortalidade dos pacientes infectados por bactérias multirresistentes na UTIP foi de 55,6%/n=5. Palavras-chave: Infecção hospitalar. Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica. Resistência microbiana a medicamentos. ABSTRACT The Intensive Care Unit has shown high rates of hospital infections, including the occurrence of multiresistant microorganisms. The reasons for such indices are related to the intrinsic risk of infectious agent transmission among patients, antibiotics overuse, prolonged hospitalization. This study aimed to evaluate the occurrence of multiresistant bacteria in hospitalized patients in a Pediatric 1 Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry, Teresina - PI, [email protected] Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica , Professor do curso de Medicina na Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry), Teresina - PI, [email protected] 3 Médico, Professor do Curso de Medicina na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), [email protected] 4 Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry), Teresina - PI, [email protected] 5 Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry), Teresina - PI, [email protected] 2 Página 106 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Intensive Care Unit (PICU). It is an observational retrospective study, in which the medical records (90) of all hospitalized patients were analyzed in a PICU of a public hospital located in Teresina-PI, from January 1 to December 31, 2013, with the approval of the Ethics Committee. In 9 patients were isolated bacteria that fulfilled the multidrug resistance established criteria. The isolated agent with the greatest frequency was Acinetobacter baumannii 53.8%/n=7. Regarding gender of patients infected with multidrug-resistant bacteria predominated the male 66.7%/n=6, the age group prevalence was 30 days to 2 years old 44.4%/n=4, and 55.6%/n=5 didn´t have comorbidities. The mean permanence in PICU was 66 days. The invasive device used for a longer period was mechanical ventilation (37.2 days). Concerning the topography of multidrug-resistant bacteria, the most frequent site was tracheal aspirate 69.2%. The mean duration of antibiotic use before the first positive culture result for multidrug-resistant bacteria was 35 days. The mortality rate of patients infected by multidrug-resistant bacteria in PICU was 55.6%/n=5. Keyword: Hospital Infection. Pediatric Intensive Care Unit. Microbial Drug Resistance. 1 INTRODUÇÃO Infecções hospitalares, também chamadas infecções nosocomiais ou infecções relacionadas à assistência à saúde, são consideradas um problema de saúde pública mundial. Constitui-se em um desafio que atinge todos os hospitais, independentemente de seu tamanho ou especialidade, exigindo ações efetivas de prevenção e controle. Tais infecções causam aumento na morbidade, na mortalidade, no tempo de internação dos pacientes, nos custos do tratamento, provocam mudanças nos padrões de resistência microbiana e, principalmente, trazem o risco constante da disseminação de bactérias multirresistentes (BARROS et al.,2001; SANTOS, 2006; PADRÃO et al., 2012). A Unidade de Terapia Intensiva tem mostrado elevados índices de infecção hospitalar, incluindo a ocorrência de microrganismos multirresistentes. As razões estão associadas ao risco inerente de transmissão de agentes infecciosos entre pacientes, uso excessivo de antibióticos e à variedade de procedimentos invasivos ou imunossupressores realizados (SMITH; SAWYER; PRUETT, 2003; LIMA; ANDRADE; HAAS, 2007; MEDEIROS, 2004). A resistência aos antimicrobianos é ligada ao aparecimento de linhagens bacterianas não sensíveis, que podem se multiplicar na presença de concentrações de antimicrobianos mais elevadas do que aquelas utilizadas na clínica. A definição de multirresistência é variável e depende da complexidade de cada hospital. Geralmente, um microrganismo é considerado multirresistente quando possui resistência a duas ou mais classes de antimicrobianos (TAVARES, 2001; BRASIL, 2009). A UTI possui as mais altas taxas de infecção, em torno de 13/1000 pacientes/dia, com taxas de mortalidade de 11% para as infecções de sítio cirúrgico e 25% para as infecções da corrente sanguínea, sendo a pneumonia a mais frequente. A incidência de infecção nosocomial em UTI no Brasil varia entre 5% e 10% (ANDREETTA et al., 2008; HINRICHSEN et al., 2009). As infecções hospitalares estão entre as seis principais causas de óbito no Brasil, juntamente com as neoplasias, doenças cardiovasculares, doenças infecciosas, doenças respiratórias. A taxa de mortalidade em UTIs é elevada, variando de 9 a 38%, chegando a 50% quando associadas a infecções por microrganismos resistentes (NOGUEIRA et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2010; OLIVEIRA; KOVNER; SILVA, 2010). Diante deste contexto, o estudo teve como objetivo geral avaliar a ocorrência de bactérias multirresistentes em pacientes hospitalizados em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP). E como objetivos específicos: identificar as bactérias multirresistentes; determinar o gênero, faixa etária, comorbidades, tempo de hospitalização na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica dos pacientes infectados com bactérias multirresistentes; verificar o sítio topográfico de maior prevalência da infecção por bactérias multirresistentes; averiguar o uso de dispositivos invasivos e a incidência Página 107 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 de bactérias multirresistentes; identificar o uso de antimicrobianos até o diagnóstico de infecção hospitalar. 2 MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi realizada respeitando os princípios éticos estabelecidos pela resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, incluindo apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/FACID, com número de CAAE: 34399014.5.0000.5211) e do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital onde foi realizada. Caracteriza-se como estudo descritivo de campo, observacional, retrospectivo, longitudinal, com abordagem quantitativa, que buscou avaliar a ocorrência de bactérias multirresistentes em pacientes hospitalizados em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica. O estudo foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) de um hospital localizado em Teresina-PI, caracterizado como hospital de emergência público de grande porte. Essa unidade possui dez leitos, sendo um de isolamento, e admite pacientes com idade de 30 dias até 14 anos completos, sendo escolhida por ser a maior em número de leitos de UTIP no município de Teresina e do Estado do Piauí. Foram incluídos no estudo todos os pacientes admitidos na UTIP no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2013, nos quais foram isoladas bactérias multirresistentes. Inicialmente se verificou no livro de registro da UTI Pediátrica o número de pacientes assistidos no serviço no período citado, identificando-se um total de 90. O período de coleta dos dados foi de agosto a dezembro de 2014, mediante aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da FACID e do Comitê de Ética do Hospital onde foi realizada a pesquisa. Os dados foram coletados em prontuários dos pacientes em que foram isoladas bactérias multirresistentes e em planilhas da Comissão de Controle da Infecção Hospitalar (CCIH). Utilizou-se questionário, elaborado com base no prontuário da instituição e no resultado dos exames da cultura com antibiograma, no qual os pacientes foram identificados pela numeração do prontuário. As variáveis analisadas foram: gênero, idade, comorbidades, tempo de hospitalização na UTI Pediátrica, uso de dispositivos invasivos, uso de antimicrobianos até o diagnóstico de infecção hospitalar, topografia da infecção hospitalar e evolução clínica. Foram avaliados resultados das culturas com seus respectivos antibiogramas isolados nos seguintes materiais: sangue, ponta de cateter, urina, líquido cefalorraquidiano, ferida operatória e aspirado traqueal. Os dispositivos invasivos pesquisados foram: sonda vesical de demora, acesso venoso central, ventilação mecânica e derivação ventricular externa. Utilizou-se o conceito de infecção hospitalar (IH) estabelecido pelo Ministério da Saúde que, segundo a Portaria nº 2616/1998, infecção hospitalar é aquela manifestada após 72 horas da internação, quando o período de incubação do patógeno causador for desconhecido e não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção no momento da internação. A partir de 72 horas após a admissão, a data da primeira coleta da cultura positiva foi considerada como a data do diagnóstico microbiológico da infecção multirresistente. Para definição de bactérias multirresistentes utilizou-se a definição da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do referido Hospital: germes gram negativos resistentes à Carbapenêmicos, germes gram positivos resistentes à Vancomicina. Os estudos microbiológicos foram realizados em laboratório privado terceirizado, conforme rotina estabelecida pelo Hospital. Os dados foram organizados em planilhas do Excel e tabulados no software SPSS versão 21.0 para Windows. As variáveis foram apresentadas através de tabelas de frequência, percentagem e gráficos. Para as variáveis quantitativas calcularam-se as médias de posição e medidas de dispersão. Página 108 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Após revisão dos prontuários médicos dos 90 pacientes assistidos na UTI Pediátrica, foram obtidos os seguintes resultados: 43 pacientes não realizaram coleta de material para cultura e 47 pacientes realizaram. Dentre estes 47, 27 pacientes apresentaram cultura sem crescimento bacteriano, 11 apresentaram bactérias que não preencheram os critérios de multirresistência estabelecidos nesse estudo e 9 pacientes apresentaram bactérias que preencheram os critérios de multirresistência estabelecidos. Foram encontradas 5 espécies de bactérias multirresistentes em 9 pacientes. Em 6 pacientes foi isolado apenas 1 microrganismo, em 2 foram isolados 2 microrganismos em cada um dos pacientes e em 1 paciente foram isolados 3 microrganismos, resultando em 13 bactérias multirresistentes. O agente isolado com maior frequência foi o Acinetobacter baumannii 53,8% (n=7), seguido de Pseudomonas aeruginosa 15,4% (n=2), Burkholderia cepacia 15,4% (n=2), Acinetobacter spp 7,7% (n=1) e Klebsiella pneumoniae 7,7% (n=1), conforme mostra o Gráfico 1. Resultados similares foram obtidos em UTIs (Geral, Neurológica e Pediátrica) no estudo realizado por Paz (2011), estando dentre os microganismos mais prevalentes os bacilos gram negativos Acinetobacter baumannii (20,8 %) e Klebsiella sp. (12,5%). Gráfico 1 – Distribuição percentual das bactérias multirresistentes isoladas em pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, 2015 7,7% 7,7% Acinetobacter baumannii (n=7) 15,4% 53,8% Pseudomonas aeruginosa (n=2) Burkholderia cepacia (n=2) 15,4% Acinetobacter spp (n=1) Klebsiella pneumoniae (n=1) Fonte: Dados da pesquisa (2015). O percentual de infecção por bactérias multirresistentes na UTI Pediátrica analisada foi de 10% (9 casos/90 pacientes). Esse valor mostra-se semelhante à identificada em outros estudos, tal qual UCHOA (2012), que apresentou isolamento de bactérias multirresistentes Acinetobacter e Klebsiella em UTIP igual a 12,9%. Acinetobacter baumannii é um bacilo gram negativo aeróbio, encontrado em superfícies de pias, equipamentos e desinfetantes. É considerado um patógeno emergente e alguns estudos afirmam que é o principal agente causador de infecções hospitalares nas UTIs de diversos hospitais (RODRIGUES; RICHTMANN, 2008). Segundo Pontes et al. (2006), o Acinetobacter baumannii é a espécie mais comum do gênero isolado de amostras clínicas e de ambiente hospitalar. Embora já tenha sido considerado de baixa virulência, atualmente é um importante patógeno hospitalar, afetando principalmente os pacientes graves em UTIs. Soma-se a isso a propensão desta bactéria para o desenvolvimento de resistência antimicrobiana extremamente rápida. Em relação à faixa etária dos pacientes acometidos por bactérias multirresistentes na UTIP, 44,4% (n=4) estavam na faixa etária de 30 dias a 2 anos de idade, 22,2% (n=2) entre maior de 2 anos a 6 anos de idade e 33,3% (n=3) entre maior de 6 anos a 14 anos (Gráfico 2). Página 109 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Para Martins (2008), em uma pesquisa sobre a infecção hospitalar em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em Fortaleza - CE, das crianças que apresentaram infecção hospitalar, 73% eram menores de um ano e 27% eram maiores de um ano e menores de cinco anos de idade. Gráfico 2 – Distribuição por faixa etária dos pacientes acometidos por bactérias multirresistentes isoladas em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, 2015 50% 45% 44,4% (n=4) 40% 33,3% (n=3) Porcentagem 35% 30% 22,2% (n=2) 25% 20% 15% 10% 5% 0% 30 dias - 2 anos > 2 anos - 6 anos Faixa etária > 6 anos - 14 anos Fonte: Dados da pesquisa (2015). Gráfico 3 – Distribuição por gênero dos pacientes acometidos por bactérias multirresistentes isoladas em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, 2015 33,3% Masculino (n=6) 66,7% Feminino (n=3) Fonte: Dados da pesquisa (2015). Dos pacientes infectados por bactérias multirresistentes na UTIP, 66,7% (n=6) eram do gênero masculino e 33,3% (n=3) do gênero feminino (Gráfico 3). O resultado apresentado no Gráfico 3 está de acordo com o estudo realizado por Uchoa (2012), no qual se verificou predomínio do sexo masculino, em 74% dos casos. Achado similar foi obtido também na pesquisa de Paz (2011), em que 75% dos pacientes eram do sexo masculino. Página 110 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Gráfico 4 – Ocorrência de comorbidades em pacientes acometidos por bactérias multirresistentes isoladas em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, 2015 60% Porcengaem 50% 55,6% (n=5) 44,4% (n=4) 40% 30% 20% 10% 0% Sim Não Comorbidades Comorbidades: síndrome genética, obesidade mórbida, cardiopatia, insuficiência renal crônica, prematuridade. Fonte: Dados da pesquisa (2015). Conforme o Gráfico 4, um total de 44,4% (n=4) dos pacientes acometidos por bactérias multirresistentes na UTIP possuíam comorbidades e 55,5% (n=5) não possuíam. Este resultado difere de outros estudos quanto à patologia de base, que de acordo com Nogueira e colaboradores (2009), facilita a ocorrência da infecção nosocomial por desestabilizar os mecanismos de defesa antiinfecciosa, além de ocasionar desnutrição e conferir deficiências imunológicas. O tempo médio de internação na UTI Pediátrica foi de 66,3 dias com desvio padrão de 27,7 dias conforme a Tabela 1. As faixas de 20 a 40 dias, 60 a 80 dias e 80 a 100 dias apresentam as maiores frequências. Uma paciente, residente na UTIP até o final da coleta de dados da pesquisa (dezembro de 2014), não foi incluída no cálculo da média e nem na Tabela, pois haveria superestimação da média. Tomando por base outro estudo, que referiu tempo médio de internação de 31,6 dias (MARTINS, 2008), o tempo médio de internação do presente trabalho foi bem superior que o relatado. Tabela 1 – Distribuição do tempo de internação de pacientes acometidos por bactérias multirresistentes isoladas em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, 2015 Tempo de internação UTIP (em dias) 20 ---l 40 40 ---l 60 60 ---l 80 80 ---l 100 100 ---l 120 Total Média= 66,38 Nº de pacientes 2 1 2 2 1 8 Desvio padrão=27,712 Porcentagem 25,0% 12,5% 25,0% 25,0% 12,5% 100,0% FONTE: Dados da pesquisa (2015). Página 111 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 O prolongamento da internação e constantes readmissões hospitalares elevam o risco de incidência de infecção nos hospitais, especialmente dentro da UTI, já vez que os pacientes internados podem ter sua flora microbiológica endógena substituída por microrganismos hospitalares multirresistentes e provenientes de diversas instituições, atuando como “reservatório” e potencial disseminador de microrganismos no ambiente hospitalar. (TURRINI; SANTO, 2002). De acordo com essa pesquisa, a média de dias de uso da Derivação Ventricular Externa, Sonda Vesical de Demora, Acesso Venoso Central e Ventilação Mecânica foram 2 dias, 23,4 dias, 25 dias e 37,2 dias, respectivamente. (GRÁFICO 05). A paciente, residente na UTIP, foi incluída no cálculo da média de dias de uso de dispositivos invasivos até 31 de dezembro de 2013 (critério de inclusão na pesquisa os pacientes admitidos na UTIP no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2013 em que foram isoladas bactérias multirresistentes). Gráfico 05 – Distribuição da média de dias de uso dos dispositivos invasivos utilizados até o diagnóstico de infecção hospitalar por bactérias multirresistentes nos pacientes internados em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, 2015 37,2 Média do tempo (em dias) 40 35 30 25,0 23,4 25 20 15 10 5 2,0 0 Derivação Ventricular Externa Sonda Vesical de Demora Acesso Venoso Central Ventilação Mecânica Dispositivos invasivos FONTE: CARVALHO (2015) Em apenas 1 paciente foi utilizada a Derivação Ventricular Externa; em 7 pacientes foi utilizada Sonda Vesical de Demora; em 7 pacientes foi utilizado Acesso Venoso Central; e em 9 pacientes foi utilizada Ventilação Mecânica. A tecnologia e as condutas utilizadas na UTI proporcionam um aumento da sobrevida dos pacientes graves, porém, o risco de infecção hospitalar aumenta a cada procedimento invasivo a que o paciente é submetido. Desta forma, os fatores extrínsecos relacionados aos procedimentos invasivos, tais como suporte ventilatório, cateterismo vesical e uso de dispositivos intravasculares, são um importante foco de atenção da equipe hospitalar, exigindo rigor na sua execução, com menor lesão possível de tecidos e obediência às técnicas assépticas (PEREIRA et al., 2005). Em relação à topografia das bactérias multirresistentes, o sítio mais frequente foi o aspirado traqueal 69,2% (n=9), seguido da ponta de cateter 15,4% (n=2), Líquido cefalorraquidiano 7,7% (n=1) e sangue 7,7% (n=1). No aspirado traqueal foram isoladas 9 bactérias, sendo 5 Acinetobacter baumannii, 2 Psedomonas aeruginosa, 1 Acinetobacter spp e 1 Klebsiella pneumoniae . Na ponta do cateter foram isaladas 2 bactérias, 1 Acinetobacter baumannii e 1 Burkholderia cepacia. No sangue foi isolada uma Burkholderia cepacia e no LCR uma Acinetobacter baumannii. Na ferida operatória e na urina não foram isoladas bactérias multirresistentes. (TABELA 02). Página 112 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Tabela 02 – Ocorrência de bactérias multirresistentes isoladas em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, de acordo com a topografia da infecção hospitalar, 2015 Topografia Bactérias multirresistentes isoladas da infeção Acinetobacte Acinetobact Burkholderia Klebsiella Pseudomonas Total hospitalar r baumannii er spp cepacia pneumoniae aeruginosa FO 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0(0,0%) 0 (0,0%) LCR 1 (7,7%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 1 (7,7%) PC 1 (7,7%) 0 (0,0%) 1 (7,7%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 2 (15,4%) Sangue 0 (0,0%) 0 (0,0%) 1 (7,7%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 1 (7,7%) AT 5 (38,5%) 1 (7,7%) 0 (0,0%) 1 (7,7%) 2 (15,4%) 9 (69,2%) Urina 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 0 (0,0%) 7 (53,8%) 1 (7,7%) 2 (15,4%) 1 (7,7%) 2 (15,4%) 13 Total (100,0%) Legenda: FO: ferida operatória; LCR: líquido cefalorraquidiano; PC: ponta de cateter; AT: aspirado traqueal. FONTE: CARVALHO (2015) Em apenas 1 paciente foi isolada bactéria multirresistente no líquido cefalorraquidiano, em 6 pacientes foram isoladas bactérias multirresistentes no aspirado traqueal, em 1 paciente foram isoladas bactérias multirresistentes no aspirado traqueal e na ponta do cateter, e em outro paciente foram isoladas bactérias multirresistentes no aspirado traqueal, na ponta do cateter e no sangue. De acordo com Silva et al. (2012), em sua análise de UTIs brasileiras, observou-se que 71,2% dos pacientes estudados apresentaram o pulmão como sítio de infecção, seguido do trato urinário (16,6%) e apenas 10,1% tiveram como sítio a corrente sanguínea. Porcentagem Gráfico 06 – Distribuição percentual do desfecho clínico dos pacientes acometidos por bactérias multirresistentes isoladas em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, 2015 55,6% (n=5) 60% 33,3% (n=3) 40% 20% 11,1% (n=1) 0% Permanece internado Alta da UTIP Desfecho clínico Óbito durante internação na UTIP FONTE: CARVALHO (2015) Quanto ao desfecho clínico dos pacientes acometidos por bactérias multirresistentes na UTIP, 55,6% (n=5) foram a óbito durante a internação hospitalar na UTIP, 33,3% (n=3) tiveram alta da UTIP e 11,1% (n=1) permaneceram internados na UTIP do hospital até o final da coleta de dados da pesquisa (dezembro de 2014) (GRÁFICO 06). O percentual de mortalidade encontrado (55,6%) é superior à observada em outra pesquisa, 43,9% (MARTINS, 2008). Conforme Silva et al. (2011), os pacientes infectados por bactérias multirresistentes aos antibióticos possuem maior taxa de mortalidade do que os infectados por bactérias sensíveis. Essa mortalidade está mais relacionada ao tratamento inadequado dos pacientes do que com a multirresistência adquirida pelas bactérias. As bactérias multirresistentes isoladas nesse estudo eram bacilos gram negativos resistentes à carbapenêmicos. Não foi isolada nenhuma bactéria multirresistente gram positiva nem resistente à vancomicina. A média de dias de uso de antibioticoterapia antes do resultado da primeira cultura Página 113 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 positiva para a bactéria multirresistente foi de 35 dias, sendo a vancomicina utilizada em média por 15 dias, o imipenem por 13 dias e o meropenem por 12 dias. Segundo Oliveira e Branco (2007), o predomínio do uso empírico de antimicrobianos é preocupante, pois para promover o uso racional é necessário identificar o germe causador da infecção clínica e prescrever o antimicrobiano ao qual se mostre geralmente sensível, por tempo adequado conforme as características farmacológicas da droga indicada. É também necessário solicitar de forma sistemática e imediata os exames microbiológicos para orientação da eventual troca do antimicrobiano inicial, passando assim de uso empírico a uso específico. Moura (2000) cita que nas UTIs, como um setor crítico, o uso de antimicrobianos, principalmente empiricamente, é alto devido à fragilidade dos pacientes e necessidade de tratamento. Nesse aspecto, a seleção dos antimicrobianos a serem utilizados deve ser criteriosa e cuidadosa. 4 CONCLUSÃO O presente estudo concluiu que, dos microrganismos isolados, 100% (n=13) eram gram negativos resistentes à Carbapenêmicos, sendo o Acinetobacter baumannii o agente isolado com maior frequência (53,8%/n=7), seguido de Pseudomonas aeruginosa (15,4%/n=2), Burkholderia cepacia (15,4%/n=2), Acinetobacter spp (7,7%/n=1) e Klebsiella pneumoniae (7,7%/n=1). Em relação ao gênero dos pacientes infectados por bactérias multirresistentes predominou o masculino com percentual de 66,7% (n=6), já a faixa etária de predominância foi a de 30 dias a 2 anos de idade com percentual de 44,4% (n=4), e quanto a comorbidades, 55,6% (n=5) não possuíam. O tempo médio de internação na UTIP foi de 66,3 dias com desvio padrão de 27,7 dias. O dispositivo invasivo usado por maior média de dias foi à ventilação mecânica (37,2 dias), seguido de Acesso Venoso Central (25 dias), Sonda Vesical de Demora (23,4 dias) e Derivação Ventricular Externa (2 dias). No que se refere à topografia das bactérias multirresistentes, o sítio mais frequente foi o aspirado traqueal (69,2%/n=9), seguido da ponta de cateter (15,4%/n=2), Líquido cefalorraquidiano (7,7%/n=1) e sangue (7,7%/n=1). A média de dias de uso de antibioticoterapia antes do resultado da primeira cultura positiva para a bactéria multirresistente foi de 35 dias, sendo a vancomicina utilizada em média por 15 dias, o imipenem por 13 dias e o meropenem por 12 dias. O percentual de mortalidade dos pacientes infectados por bactérias multirresistentes na UTIP foi de 55,6% (n=5). REFERÊNCIAS ANDREETTA, K. T. et al. Prevalência da Infecção Hospitalar na Unidade de Terapia Intensiva. 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As primeiras civilizações já utilizavam para tratar suas enfermidades e esse conhecimento foi passado de geração a geração de forma empírica. Este estudo avaliou o consumo de plantas medicinais pelos usuários de um Ambulatório Escola em Teresina-PI. Trata-se de um estudo descritivo e observacional, com abordagem quali-quantitativa, com base em uma entrevista semi-estruturada aplicada a uma amostra desses usuários. A coleta de dados foi iniciada após aprovação do projeto de pesquisa no Comitê de Ética em Pesquisa e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos participantes. Foram entrevistados 200 usuários acima de 18 anos. O gênero feminino teve maior participação, com 82%, apresentando maior prevalência na faixa de idade entre 18 e 28 anos, com 23%, seguida da faixa etária de 29 a 38, com 22%; predominou a renda de 1 a 3 salários mínimos, com escolaridade fundamental incompleta e ensino médio completo. Foram citadas 89 plantas medicinais, destacando-se erva-cidreira, boldo, capim santo, hortelã, laranja, mastruz, eucalipto, ameixa, malva do reino e camomila; a maioria (77%) informou cultivar essas plantas em casa, ressaltando que esse conhecimento foi repassado pela família. Os fins terapêuticos mais citados foram calmantes, gripe, dor de estômago, inflamação, dor de cabeça e dor intestinal. Constatou-se que os participantes não possuem um conhecimento adequado de como utilizar as plantas medicinais. Palavras-chave: Ervas medicinais. Fins terapêuticos. Fitoterapia. ABSTRACT The use of medicinal plants is a very old practice. The first civilizations already used them to treat their diseases and that knowledge was passed from generation to generation empirically. This study evaluated the use of medicinal plants by users of an ambulatory school in Teresina-PI. It is a descriptive, observational study with a qualitative and quantitative approach carried out through a semi-structured questionnaire applied with a sample of those users. This study only started after the approval by the Research Ethics Committee and the signature of the free and informed consent. 200 users over 18 years of age were interviewed. Most of them were female, 82%; the highest prevalence was in the age group 18 to 28, 23%; followed by the age group 29-38, 22%; the income ranged from 1-3 minimum wages with incomplete primary schooling and complete high school. 89 medicinal ________________ 1 Aluno de graduação (10º período) do curso de farmácia da faculdade Integral Diferencial-FACID -/DeVry TeresinaPI Email: [email protected]. 2 Professora do Curso de farmácia da FACID, Mestre em química Teresina-PI Email: [email protected] 3 Professora do Curso farmácia da FACID/Devry, Mestre ciências farmacêuticas em Teresina-PI Email: [email protected] Página 117 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 plants were mentioned, the most cited was lemongrass, Peumus boldus, mint, orange, mastruz, eucalyptus, plum, Malva sylvestris and chamomile. Most interviewees (77%) cultivate them at home highlighting this knowledge was passed on by their families. The most mentioned therapeutic purposes were soothing, flu, stomach pain, inflammation, headache and intestinal pain. It could be observed the respondents do not have full knowledge on how to use medicinal plants. Keywords: Medicinal herbs. Therapeutic purposes. Phytotherapy. 1 INTRODUÇÃO Planta Medicinal, segundo a ANVISA, é toda planta ou partes dela que contenham as substâncias ou classes de substâncias responsáveis pela ação terapêutica (BRASIL, 2010). Existem em diferentes épocas registros de uso de plantas medicinais para fins terapêuticos, e essas plantas são utilizadas até hoje pelas comunidades populares, fazendo parte de suas culturas (MARODIN; BATISTA, 2001). Os brasileiros assim como o mundo todo utilizam plantas medicinais para tratar doenças, sendo que esse meio de medicina alternativa vem aumentado com o passar dos dias. A maioria das plantas é de fácil acesso sendo encontradas nos grandes centros comerciais e em cidades do interior do Brasil. A planta medicinal tem suas atribuições na ordem médica, social, cultural, econômica e filosófica (PERON et al., 2008). As plantas medicinais utilizadas pelas comunidades como alternativa viável para a manutenção da saúde e tratamento de doenças, são reconhecidas pela sua função farmacológica, mas também pela importância e significado cultural que elas representam (HOEFFEL et al., 2011). A fitoterapia é uma opção terapêutica mais acessível do ponto de vista econômico e, em alguns casos, com menor intensidade de efeitos colaterais. Pode ser usada de diversas formas para o tratamento de pacientes com traumas, com afecções articulares e inflamações (ARAÚJO et al., 2014). A fitoterapia foi um dos primeiros recursos terapêuticos utilizados pelos povos, além de ser por muito tempo a única terapia disponível ao homem. Em algumas ocasiões as plantas curavam, em outras matavam ou produziam graves efeitos colaterais (MELO et al., 2009), sendo, portanto, essencial o uso responsável, racional, seguro e não abusivo das mesmas. Os cuidados com uso terapêutico das plantas iniciam-se com o cultivo até o ato da administração. Esse estudo tem como objetivos avaliar o conhecimento e o uso de plantas medicinais por usuários de um ambulatório escola em Teresina-PI, identificar quais as plantas utilizadas, meios de obtenção e formas de utilização e finalidades, e conhecer quais fatores tem contribuído para o uso de planta medicinal, correlacionando com os resultados obtidos com a literatura. Os seres humanos sempre usaram a fitoterapia com a finalidade curativa ou paliativa. O conhecimento da utilização de plantas foi passando de geração a geração até os dias de hoje. A importância deste estudo tem como foco o conhecimento sobre o uso de plantas como terapia alternativa e verificação do uso adequado e seguro, de acordo com a literatura 2 MATERIAL E MÉTODOS Como exigência do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), o presente estudo só teve seguimento após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, por meio da Plataforma Brasil, com número de protocolo 35830014.0.0000.5211. e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos participantes, que aceitaram participar da pesquisa de forma voluntária. Foi realizado um estudo descritivo observacional, com abordagem quantitativa. Utilizou-se uma entrevista baseada em um roteiro semi-estruturado, com perguntas abertas e fechadas, para mensurar variáveis independentes (gênero, idade, escolaridade) e questões relacionadas ao consumo Página 118 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 de plantas medicinais (nome popular, motivo da utilização, local de obtenção, partes utilizadas, formas de preparo e fins terapêuticos). A coleta de dados foi realizada com 200 usuários em um Ambulatório Escola de uma Faculdade em Teresina-PI. Os usuários foram escolhidos de forma aleatória. Como critérios de inclusão foram definidos indivíduos maiores de 18 anos de ambos os gêneros, e que faziam uso de plantas medicinais como terapia alternativa no período de agosto a novembro de 2014. Para as análises estatísticas foi utilizado o software Microsoft Office Excel 2010. Todos os dados foram distribuídos em tabelas de frequências, a partir das quais foram construídos gráficos ilustrativos. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 200 usuários entrevistados, 18% foram do gênero masculino e 82 % do gênero feminino. A predominância feminina pode ser justificada pela maior disponibilidade das mulheres em participar do estudo, o que demonstra o papel destas como responsáveis com o cuidado com a saúde e o bemestar familiar. De acordo com Badke et al. (2012), a mulher é ainda uma referência nos cuidados à saúde dentro de casa, sempre tentando repassar o seu conhecimento sobre plantas medicinais, evidenciando um maior contato entre mãe e filhos. Quanto ao perfil socioeconômico dos participantes, faixa etária, escolaridade e renda estão demostrados os resultados na Tabela 1. Tabela 1 - Perfil socioeconômico dos participantes, Teresina-PI, 2015 Variáveis Socioeconômica Faixa Etária 18 a 28 29 a 38 39 a 48 49 a 58 59 a 68 69 a 78 79 a 88 Total Escolaridade Analfabeto Alfabetizado Fund. Incompleto Fund. Completo Médio incompleto Médio completo Superior incom. Superior completo Outros Total Renda (Salário mínimo por família). Até 1 1a3 3a6 6a9 9 a 12 12 a 15 Mais de 15 Total Legenda: f (frequência absoluta); % (frequência relativa). f % 46 44 40 42 20 6 2 200 23,0 22,0 20,0 21,0 10,0 3,0 1,0 100 5 6 47 23 13 74 22 7 3 200 2,5 3,0 23,5 11,5 6,5 37,0 11,0 3,5, 1,5 100 80 90 18 6 2 2 2 200 40,0 45,0 9,0,0 3,0 1,0 1,0 1,0 100 Página 119 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Conforme a Tabela 1, no tocante à idade dos participantes, ocorreu maior predominância de uso de plantas medicinais na faixa etária de 18 a 28 anos, com 23%, seguida da faixa etária de 29 a 38 anos, com 22%. Ao contrário do que alguns estudos revelam, o público jovem, mesmo utilizandose de um menor arsenal terapêutico de plantas medicinais, faz uso da fitoterapia como alternativa terapêutica. Os dados encontrados têm semelhança com os resultados do estudo de Viganó, Viganó e Cruz-Silva (2007), que encontraram o índice de 23% na faixa etária entre 18 a 28 anos, seguida de 22% com idade entre 29 a 38 anos. Quanto à renda familiar alguns estudos, como o de Ethur et al. (2011), afirmaram que o uso de planta medicinal é feito predominantemente por classes mais pobres. Lima et al. (2014) afirmaram ainda que também os de baixa escolaridade têm essa prática. A maioria dos participantes desse estudo possuia uma renda entre 1 a 3 salários mínimos e escolaridade fundamental incompleto e médio completo. Ao todo foram citadas 89 plantas com finalidade terapêutica das mais diversas afecções, sendo que as principais estão descritas no Gráfico 1. Gráfico 1- Plantas medicinais mais citadas pelos usuários no Ambulatório Escola, Teresina, 2015 27% 20% 13% 10% 8% 5% 5% 4% 4% 4% No Gráfico 1 a erva cidreira foi a primeira com maior número de citações (27%), acompanhada do Boldo (20%), Capim santo (13%), Hortelã (10%), Laranja (8%), Mastruz (5%), Eucalipto (5%), Ameixa (4%), Malva do reino (4%) e Camomila (4%). Dados semelhantes foram encontrados por Araújo (2014), em que as plantas mais citadas foram o Boldo (21,02%), a Erva-cidreira (14,34%), o Capim santo (7,67%) e a Hortelã graúda (6,67%). Com intuito de sanar, tratar e de forma paliativa, pode-se contabilizar 81 utilidades terapêuticas, segundo o uso popular. No Gráfico 2 está exposta as principais finalidades mais citadas das 681 notificações. Página 120 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Gráfico 2 - As principais doenças tratadas com plantas medicinais pelos participantes, Teresina, 2015 31% 21% 9% 8% 8% 7% 6% 4% 3% 3% Em estudo feito por Teixeira et al. (2014), as doenças que podem ser tratadas a partir das plantas medicinais mais citadas pela comunidade analisada, estão relacionadas à manifestações agudas e transitórias do aparelho digestivo, distúrbios de ansiedade, doenças do sistema respiratório e cefaleia, corroborando com esse estudo. Segundo Jacoby et al. (2002), tal fato pode ser devido ao fácil diagnostico e a simplicidade de tratamento dessas doenças. Dados também semelhantes ao de Guerra et al. (2010). Quanto ao local de obtenção das plantas medicinais, verificou-se que 57% dos participantes adquirem na própria residência; 23% informaram que coletam na natureza; 15% compram em lojas especializadas e 5% compram em mateiros. De acordo com Pinto, Amoroso e Furlan (2006) o cultivo em casa deve-se às mulheres, por cuidarem da saúde dos seus filhos, que assim procuram uma forma mais segura do que sair de casa para ir coletar na natureza. As plantas medicinais possuem sua forma de preparo a partir das partes coletadas. Os princípios ativos, responsáveis pelo efeito terapêutico, muitas vezes estão concentrados em partes especificas de cada planta. A Tabela 2 apresenta as respostas dos participantes sobre a forma de preparo das plantas medicinais, a parte utilizada e o modo de preparo. Tabela 2 - Principais plantas usadas para fins terapêuticos, partes utilizadas, formas de preparo e modo de uso, Teresina, 2015 Nome da Planta Erva cidreira Boldo Hortelã Parte Utilizada Folhas f % 120 96,7 Outras 4 3,3 Folhas 86 95,5 Outros 4 4,5 Folha 42 91,3 Folha Outros 4 8,7 Formas de Preparo Infusão Decocção Decocção f % Modo de Uso f % 75 45 4 59,5 36,3 3,2 Chá 120 100 Chá 4 Infusão Decocção Decocção 43 39 4 50,0 45,3 4,7 Chá 86 Chá 4 Decocção Infusão Maceração Outros 17 21 4 4 36,9 45,7 8,7 8,7 Chá 38 82,6 Suco Lambedor Suco 4 1 3 8,7 2,2 6,5 100 Página 121 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Laranja Capim santo Casca 25 65,8 Folha 13 34,2 Folha 59 100 Folha Eucalipto Folha 23 100 Folha Folha Ameixa Malva do reino Casca 12 Outros 5 Folha 15 70,6 29,4 88,3 Folha Camomila Decocção Infusão Decocção Infusão Infusão Decocção Tintura 17 8 9 4 23 35 1 44,7 21,0 23,8 10,5 38,9 59,4 1,7 Chá 25 100 Chá 13 Chá 59 Chá 1 Decocção Infusão Decocção Outro 11 9 2 1 47,8 39,1 8,8 4,3 Chá 20 86,9 Banho Inalação 2 1 8,7 4,3 Decocção Maceração Outros Tintura Decocção Outros 2 8 1 1 3 2 11,7 47,0 5,9 5,9 17,6 11,7 Chá Suco Garrafada Suco Suco Garrafada 2 8 1 1 3 2 11,7 47,0 5,9 5,9 17,6 11,7 Decocção Infusão Maceração Outros 6 2 1 6 35,3 11,7 5,9 35,3 Chá 8 47,0 Lambedor Lambedor Cataplasma Melado Chá Lambedor 1 4 1 1 1 1 5,9 23,5 5,9 5,9 5,9 5,9 100 100 Outros 2 11,7 Decocção Outros 1 1 5,9 5,9 Folha 6 37,5 12,5 25,0 6,3 50 6 9 2 4 1 8 Chá Outros Infusão Decocção Decocção Infusão Chá 9 Semente 1 Infusão 1 6,2 Chá 1 Folha 15 Decocção Infusão Maceração 2 4 5 8,0 16,0 20,0 Chá 6 24,0 Outros 4 16,0 5 5 20,0 20,0 Cataplasma Suco Cataplasma Suco Suco Lambedor Suco 2 3 3 1 5 3 2 8,0 12,0 12,0 4,0 20.0 12,0 8,0 56,25 6,25 Mastruz Outros 10 60 40 Maceração Outros Legenda: f (frequência absoluta) % (frequência relativa). Na Tabela 2, é possível evidenciar que a folha é a parte mais utilizada pelos participantes, bem como o chá como modo de preparo. Foi possível observar que os participantes não possuem o conhecimento adequando sobre a forma de utilizar as plantas medicinais, pois alguns citaram a folha de uma planta preparada sob as diferentes formas de chá. Conforme Cruz-Silva, Morais e Dariva (2011), o uso inadequado da planta faz com que a finalidade terapêutica desejada possa ser benéfica ou não. De acordo com a literatura consultada, a parte da planta a ser utilizada em cada preparado deve ser cuidadosamente observada, uma vez que contém diferentes princípios ativos que apresentam propriedades terapêuticas ou tóxicas. Gilson et al. (2013) afirmaram que a utilização das folhas é interessante por estas concentrarem grande parte das substâncias ativas; além disso, preserva a planta, uma vez que os danos causados durante a coleta não chegam a comprometer a sobrevivência dela. Para Coan e Matias (2013) a provável explicação para o uso predominante das folhas pela população é por estar disponível na planta a maior parte do ano. Página 122 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Muitas plantas utilizadas pela população estão listadas na Farmacopeia brasileira. De acordo com Lima et al. (2014) os dados obtidos com estudos de plantas medicinais utilizadas pela população, só têm a acrescentar na validação dos efeitos medicinais dessas plantas. Seguindo o Formulário Nacional de Fitoterápicos (BRASIL, 2011), no referente a plantas com fins terapêuticos, das plantas mais citadas na Tabela 2, somente 6 estão listadas nesse Formulário: laranja, camomila, erva cidreira, hortelã, boldo, malva do reino. No Formulário consta que o chá das folhas deve ser preparado por infusão e não decocção; diante dessa informação, verificou-se que algumas plantas são usadas erroneamente pelos participantes desse estudo, pois eles utilizam tanto a decocção quanto a infusão no preparo do chá com as folhas. Com as partes mais duras, como a casca, observou-se a mesma situação; uso da infusão e decocção para casca, quando o correto é a decocção das partes mais duras das plantas mais duras. No que se refere ao meio de conhecimento das plantas medicinais, obteve-se os seguintes dados: 77% citaram a família; 14%, os amigos e vizinhos; 3% informaram o médico, ou farmacêutico ou o enfermeiro; 1%), os meios de comunicação; 5% outros meios. Com esses dados fica evidente que o meio de obter essas informações para os participantes é uma tradição entre as famílias. Quando questionados se mencionavam ao médico, ou a outro profissional de saúde, o uso de plantas medicinais, 57% disseram não, 33% informaram que às vezes mencionavam e 10% relataram que informaram ao médico. Segundo Brasileiro et al. (2008), a orientação por parte dos profissionais deve ser reforçada no intuito de melhorar a utilização das plantas medicinais pela população, pois existem plantas que podem ser utilizadas no tratamento de muitas doenças primárias. De acordo com Pontes, Monteiro e Rodrigues (2006) falta ainda conhecimento por partes dos profissionais sobre terapias alternativas, desenvolvendo assim uma deficiência em indicar medicamentos à base de plantas medicinais ou a própria planta. De acordo Cruz-Silva, Morais e Dariva (2011), nem todas as pessoas conhecem a utilização especifica de cada planta, podendo muitas vezes errar na escolha do vegetal, visto que algumas vezes utilizam a planta correta porem podem fazer o seu preparo de forma errônea, o que pode ocasionar a não eficácia desejada pelo uso da planta medicinal. 4 CONCLUSÃO Observou-se o uso de um elevado número de plantas medicinais com seus mais variados benefícios, sendo que esse fato pode estar relacionado ao fácil acesso a esse tipo de tratamento e à condição financeira da população. Diante das informações relatadas tanto os idosos como os jovens optam por essa opção terapêutica, como uma prática rotineira no tratamento de doenças mais comuns. Conclui-se que, mesmo existindo um significativo uso de plantas medicinais pela população, os profissionais de saúde não possuem uma participação em tais práticas, pois a maioria dos participantes relatou não informar ao médico o uso dessas plantas, mas que fazem esse uso baseandose nas tradições familiares, desconhecendo o modo correto da utilização de plantas para fins terapêuticos. REFERÊNCIAS ARAÚJO, C. R. F. et al. Perfil e prevalência de uso de plantas medicinais em uma unidade básica de saúde da família em Campina Grande, Paraíba, Brasil. Rev Ciênc Farm Básica Apl., v.35, n.2, p.233-238, 2014. Disponível em: <http://servbib.fcfar.unesp.br/seer/index.php/Cien_Farm/article/viewFile/2719/2719>. Acesso em: 2 de março 2015. BADKE, M. R. et al. Saberes e práticas populares de cuidado em saúde com o uso de plantas medicinais. Texto & Contexto Enfermagem, v.21, n.2, p.363-370, 2012. 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Página 125 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA DE MULHERES COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA PHYSIOTHERAPY APPROACH FOR WOMEN WITH STRESS URINARY INCONTINENCE: A LITERATURE REVIEW Thainara Valente de Amorim Alves¹, Evandro Nogueira Barros Filho² RESUMO A incontinência urinária de esforço (IUE) é definida pela perda involuntária de urina ocasionada por um aumento de pressão e enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico (MAP). É forma de incontinência urinária que apresenta maior prevalência, sendo responsável por 60% de todos os casos de incontinência urinária feminina, ocorrendo quando há um aumento da pressão intra-abdominal por esforços tais como: tosse, espirro, sorrir, saltar, caminhar ou orgasmo. Alguns fatores de riscos podem facilitar o desenvolvimento dessa afecção, como a idade avançada, raça branca, partos traumáticos, multiparidade, diminuição do estrógeno, além de cirurgias que podem lesionar e enfraquecer o assoalho pélvico desencadeando essa doença. A fisioterapia é uma área da saúde, integrante da equipe multidisciplinar, que através de algumas modalidades proporciona o fortalecimento da MAP, afim de restabelecer a continência urinária, prestando assistência aos pacientes com essa afecção. O objetivo desse estudo foi identificar na literatura os tratamentos fisioterapêuticos em mulheres com incontinência urinária de esforço. Para o alcance do objetivo, optou-se pelo método de revisão sistemática. O levantamento dos artigos ocorreu nas bases de dados do Google Acadêmico e de portais como Bireme, Lilacs e Scielo. Após a busca, foram encontrados 43 resultados e, posteriormente à aplicação dos critérios de inclusão, 11 artigos foram incluídos. A fisioterapia lança mão de uma série de recursos e técnicas tendo um papel importante no tratamento da IUE, dentre eles os mais utilizados nos artigos selecionados foram, cinesioterapia (54%), seguido de eletroestimulação transvaginal e uso de cones vaginais (27%), ginástica hipopressiva (15%) e Biofeedback (8%). A fisioterapia mostrou-se como parte fundamental no tratamento conservador da IUE, proporcionando maior controle na perda de urina e um aumento significativo na qualidade de vida das mulheres. Mas devido à escassez de trabalhos encontrados na literatura, e a quantidade de mulheres acometidas por tal doença, faz-se necessário uma maior investigação e pesquisa acerca desse assunto, com o objetivo de esclarecer e observar os efeitos proporcionados e quais métodos são mais eficazes no tratamento da IUE. Palavras-chave: Fisioterapia, Incontinência Urinária, Saúde da Mulher. ABSTRACT Urinary incontinence (SUI) is defined by involuntary loss of urine caused by increased pressure and weakening of the pelvic floor muscles (MAP). It is form of urinary incontinence is more prevalent, accounting for 60% of all cases of female urinary incontinence, occurring when there is an increase in intra-abdominal pressure by efforts such as coughing, sneezing, smile, jump, walk or orgasm. Some __________________ ¹ Aluna de graduação (10º período) do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DEVRY Email: [email protected] ² Professor do Curso de Fisioterapia da Facid. Email: [email protected] Página 126 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 risk factors can facilitate the development of this disease, such as advanced age, white race, traumatic births, multiparity, decreased estrogen, and surgeries that can damage and weaken the pelvic floor triggering the disease. Physiotherapy is a health, a member of the multidisciplinary team, which through some modalities provides the strengthening of MAP in order to restore urinary continence, assisting patients with this condition. The aim of this study was to identify in the literature physiotherapy treatments in women with stress urinary incontinence. To reach the goal, we opted for the systematic review method. The survey of articles occurred in the Google Scholar databases and portals like Bireme, Lilacs and Scielo. After the search, they found 43 results and subsequently the application of the inclusion criteria, 11 articles were included. Physical therapy resorts to a series of technical features and having an important role in the treatment of stress urinary incontinence, among them the most used in selected articles were kinesitherapy (54%), followed by transvaginal electrical and use of vaginal cones (27%), hipopressiva gymnastics (15%) and Biofeedback (8%). Physical therapy proved to be a key part in the conservative treatment of stress urinary incontinence, providing greater control in the loss of urine and a significant increase in quality of life of women. But due to the scarcity of studies in the literature, and the number of women affected by this disease, it is necessary further investigation and research on this subject, in order to clarify and observe the effects provided and which methods are most effective in SUI treatment. Keywords: Physiotherapy, Urinary Incontinence, Women's Health. 1 INTRODUÇÃO Para manter uma boa continência urinária, devem-se ter alguns fatores em boa funcionalidade, como pressão intrauretral maior que a intravesical, integridade da musculatura do assoalho pélvico (MAP), uma boa sustentação anatômica do trato urinário, além da função normal dos esfíncteres (DUMONT, 2013). De acordo com Silva (2012), o assoalho pélvico é uma estrutura complexa formada por músculos, fáscias e ligamentos que engloba a pelve e sua função é suportar os órgãos pélvicos, manter a continência urinária e fecal, além da função sexual. A musculatura que o compõe é representada pelo esfíncter anal, músculos perineais superficiais, diafragma urogenital e diafragma pélvico. Um assoalho pélvico (AP) saudável e funcional tem um bom tônus e elasticidade. Segundo Rodrigues (2008) um assoalho pélvico com função deficiente ou inadequada é um fator etiológico relevante na ocorrência da incontinência urinária de esforço (IUE). Segundo a "International Continence Society" (ICS), incontinência urinária de esforço (IUE) é a perda involuntária de urina pela uretra, que pode ocorrer quando a pressão intravesical exceder a pressão uretral máxima na ausência de contração do músculo detrusor. A forma de incontinência urinária que apresenta maior prevalência é a IUE, sendo responsável por 60% de todos os casos de incontinência urinária feminina, ocorrendo quando há um aumento da pressão intra-abdominal por esforços tais como: tosse, espirro, risada, saltar, caminhar ou orgasmo (ABRAMNS, 2003). No Brasil, são poucos os estudos sobre a prevalência de incontinência urinária ou mesmo sobre seus fatores de risco. Em mulheres idosas (maiores de 60 anos) com domicílio no município de São Paulo, a prevalência de IU registrada por meio de entrevistas foi de 26,2%. Fatores de risco citados para o desenvolvimento de incontinência urinária de esforço incluem: idade avançada; raça branca; obesidade; partos vaginais quando, na passagem do feto, podem ocorrer danos à musculatura e inervação locais; partos traumáticos com o uso de fórceps e/ou episiotomias; multiparidade e gravidez em idade avançada, deficiência estrogênica, condições associadas a aumento da pressão intraabdominal; tabagismo; diabetes, doenças do colágeno; neuropatias e histerectomia. No Brasil, Página 127 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 apesar de muitas mulheres não relatarem a presença de IUE, estima-se que 11 a 23% da população feminina sejam incontinentes e em idosas essa prevalência pode variar entre 8 a 35%. (OLIVEIRA; ZULIANI, 2010). De acordo com Maggi (2011), o exercício do assoalho pélvico é uma forma de tratamento para pacientes com incontinência urinária de esforço (IUE). Tal abordagem, adequadamente conduzida e supervisionada, alcança resultados satisfatórios. Segundo Knorst (2013) há tempos sabe-se que o tratamento fisioterapêutico por meio da cinesioterapia, eletroestimulação vaginal, reforço com cones vaginais, biofeedback, reeducação comportamental e ginástica hipopressiva, apresenta resultados expressivos na melhora dos sintomas de IUE em até 85% dos casos. Essas modalidades podem ser usadas de forma isolada ou associadas e o tratamento pode ser individual ou em grupo. Desta maneira, o problema de pesquisa objetivou saber: Quais os tratamentos fisioterapêuticos da incontinência urinária de esforço em mulheres relatados na literatura? Com isso, o objetivo geral foi identificar na literatura os tratamentos fisioterapêuticos em mulheres com incontinência urinária de esforço. Apresentando como os objetivos específicos, descrever a incontinência urinária de esforço; descrever os tipos de tratamento fisioterapêutico apontados no tratamento de mulheres com incontinência urinária de esforço; analisar a eficácia dos efeitos proporcionados e a melhora na qualidade de vida dessas mulheres. Essa pesquisa justifica-se, pois apesar de a fisioterapia ser indicada como a primeira opção no tratamento de IUE (ABRAMS, 2003), existe pouca assistência voltada a prevenção e tratamento de mulheres incontinentes no Brasil. Tendo em vista o alto índice dessa patologia e com um grande número de mulheres afetadas. Faz-se necessário a investigação de novas técnicas propedêuticas, além do cirúrgico e o medicamentoso, afim de observar os efeitos proporcionados, e a melhora na qualidade de vida dessas mulheres, possibilitando medidas preventivas e, ou tratamento especializado. Sendo de grande importância, pois a população feminina também está envelhecendo e é preciso minimizar os riscos de doenças, advindas com a idade, ajudando na percepção e fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico. 2 MATERIAL E MÉTODOS O levantamento dos artigos ocorreu nas base de dados do Google Acadêmico e de portais como Bireme, Lilacs (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde) e Scielo (Scientific Electronic Library Online). Os descritores que foram utilizados são: fisioterapia, incontinência urinária, saúde da mulher. As buscas foram realizadas no período de fevereiro a junho de 2015, limitando-se aos artigos que foram publicados retrospectivamente até o ano de 2008. Os critérios de inclusão elegíveis corresponderam aos seguintes itens: ensaios clínicos, estudo caso-controle, estudos descritivos, experimental de caso único, séries de casos, relato de caso e abordando algum recurso fisioterapêutico no tratamento da incontinência urinária de esforço. Foram excluídos aqueles com outro desenho metodológico e os que não discriminavam os resultados por tipo de recurso fisioterapêutico, bem como os artigos sem possibilidade de acesso gratuito e que estavam disponíveis apenas em formato de resumo simples. A análise dos dados foi feita após apuração dos estudos incluídos na pesquisa, através da estatística descritivas utilizando o software Microsoft Excel 2010, onde foram calculados os percentuais dos recursos e apresentados em gráfico e quadro. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Depois do levantamento dos dados, 43 artigos foram encontrados que posteriormente a aplicação dos critérios de inclusão, resultou em 11 trabalhos envolvendo as modalidades fisioterapêuticas e que apresentassem uma maior significância afim de identificar as formas mais relevantes no tratamento da incontinência urinária de esforço em mulheres. O quadro 1 traz a Página 128 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 distribuição dos artigos que foram o corpo do estudo conforme autores, ano de publicação, título do trabalho e abordagem metodológica. Segundo Oliveira e Garcia (2011) e a totalidade dos artigos afirmaram que a maioria da população acometida por tal afecção, são mulheres idosas e que muitas vezes é erroneamente interpretada como parte natural do envelhecimento o que leva a um pequeno número dessas mulheres a procurarem uma ajuda profissional. Embora possa ocorrer em todas as faixas etárias, a incidência da incontinência urinária aumenta com o decorrer da idade. Calcula-se que 8 a 34% das pessoas acima de 65 anos possuam algum grau de incontinência urinária, sendo mais prevalente em mulheres. Aproximadamente 10,7% das mulheres brasileiras procuram atendimento ginecológico queixando-se de perda urinária. A incontinência urinária repercute na qualidade de vida, no que diz respeito ao trabalho e à vida social, acarretando perdas funcionais, psicossociais e emocionais e levando essas mulheres a isolamento social e mudança nos hábitos de vestimenta e da vida diária, como forma de evitar situações constrangedoras (DREHER, 2009). As alterações que comprometem o convívio social como vergonha, depressão e isolamento, que frequentemente fazem parte do quadro clínico, causando grande transtorno aos pacientes e familiares foi outro apontamento visto em todos os artigos. Independentemente do tipo de IU, os prejuízos para a qualidade de vida são inúmeros e, por isso, a ICS tem recomendado a aplicação de um questionário para melhor avaliar esse problema. Existem vários questionários que podem ser utilizados em mulheres incontinentes com esse objetivo, podendo ter um caráter genérico ou específico. Dentre os específicos destaca-se o King’s Health (KHQ), por investigar tanto a presença de sintomas de IU quanto seu impacto relativo, levando a resultados mais consistentes (SOUSA; FERREIRA; OLIVEIRA; CESTARI, 2011). Segundo Camillato; Barras; Silva Jr (2012), Como a patogênese da IUE começa com a perda de suporte da musculatura do assoalho pélvico (AP), o treinamento desses músculos é eficaz. O treinamento da musculatura do assoalho pélvico (TMAP) através da fisioterapia, leva à hipertrofia das fibras dos músculos e maior recrutamento de neurônios motores ativos, promovendo elevação permanente da musculatura do AP e melhor suporte para as vísceras dentro da pelve. O TMAP proporciona contração muscular rápida e forte do AP, que sustenta a uretra e aumenta a pressão intrauretral, evitando perda de urina durante aumentos da pressão intra-abdominal. Além disso, a coordenação e o tempo exato da contração muscular do AP podem impedir a descida da uretra durante o aumento abrupto da pressão intra-abdominal. O TMAP é a opção menos invasiva para o tratamento e não causa efeitos colaterais, o que o torna o único método sem restrições para qualquer paciente (CAMILLATO; BARRAS; SILVA JR, 2012). Quadro 1 – Distribuição dos artigos conforme autores, ano de publicação, título do trabalho e abordagem metodológica. Autores/ Título Metodologia e Variável Conclusão Ano Amostragem Dreher et O fortalecimento Estudo de caso 3x na semana Após a intervenção al. 2009 do assoalho pélvico com uma paciente realizado observou-se uma com cones de 60 anos protocolo de significativa melhora vaginais: programa submetida ao uso exercícios 2x ao na qualidade de vida. de atendimento dos cones vaginais. dia. domiciliar. Honório Análise da Pesquisa do tipo 10 sessões Os resultados foram: et al. qualidade de vida intervencionista realizadas na percepção geral da 2009 em mulheres com com 10 pacientes individualmente, saúde 5,3 (± 1,64) e incontinência que foram 2x na semana 3,0 (± 1,05) e urinária antes e submetidas a com protocolo p=0,001. após tratamento cinesioterapia e de exercícios de Apresentaram declínio fisioterapêutico. bem como o uso de Página 129 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Santos et all. 2009 Eletroestimulação funcional do assoalho pélvico versus terapia com os cones vaginais para o tratamento de incontinência urinária de esforço. Berbam, 2011 Exercícios de kegel e ginástica hipopressiva como estratégia de atendimento domiciliar no tratamento da incontinência urinária feminina: relato de caso. Contração muscular do assoalho pélvico de mulheres com incontinência urinária de esforço submetidas a exercícios e eletroterapia: um estudo randomizado. Beutten müller et al. 2011 Costa et al. 2011 Ginástica hipopressiva como recurso proprioceptivo para os músculos do assoalho pélvico de mulheres incontinentes. eletroestimulação endovaginal. kegel associadas a EE. Estudo randomizado com 45 mulheres divididas em dois grupos, sendo um utilizado a eletroestimulação e o outro a utilização dos cones vaginais. Estudo de caso com uma paciente com 58 anos submetida a cinesioterapia associada a ginástica hipopressiva. 2x na semana, com duração de 20 min, em um período de 4 meses, divididas em GElet e GCon. Estudo longitudinal, experimental, randomizado com 71 idosas submetidas divididas em: grupo eletro + exercícios, grupo eletro, grupo controle. Estudo experimental com 14 participantes que foram submetidas a ginástica hipopressiva. 1x ao dia durante 30 dias consecutivos, com protocolo de exercícios de kegel intercalados com exercícios da ginástica hipopressiva. Divididos em 3 grupos: GEE = 24; GE = 25; GC = 22 Foi realizado 12 sessões 2x na semana. 3 sessões individuais com período de 12 semanas, submetidas ao protocolo de ginástica hipopressiva. proteção diária que passou de 50% para 10%. Diminuição do peso do absorvente (em gramas) nos dois grupos (28,5 g e 32 g versus 2,0 g e 3,0 g, para GElet e GCon, respectivamente) (p<0,0001) Os resultados encontrados mostram ser uma estratégia de autocuidado com resultados satisfatório por se caracterizar como um método não invasivo, resolutivo e de baixo custo O GEE foi estatisticamente significante em relação ao GC, pois apresentou melhores resultados em AFA fibras I (Δ%=11,99; p=0,000) e AFA fibras II (Δ%=11,60; p=0,000). O GE, quando comparado ao GC, obteve êxito estatisticamente significante em AFA fibras I (Δ%=4,75; p=0,021) e AFA fibras II (Δ%=2.93; p=0.002). Os resultados mostraram melhora em todos os parâmetros de função muscular avaliados: Oxford (p = 0,0005); endurance (p = 0,0001) e número de contrações rápidas (p < 0,0001), apresentando aumento Página 130 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Glisoi; Girelli, 2011 Importância da fisioterapia na conscientização e aprendizagem da contração da musculatura do assoalho pélvico em mulheres com incontinência urinária. Estudo experimental quantitativo com 10 mulheres submetidas a cinesioterapia, treino funcional e Biofeedback. Oliveira; Garcia, 2011 Cinesioterapia no tratamento da Incontinência Urinária em mulheres idosas. Estudo intervencionista, prospectivo envolvendo 11 idosas com mais de 60 anos para realizar cinesioterapia. Silva; Oliva, 2011 Exercícios de Kegel associados ao uso de cones vaginais no tratamento da incontinência urinária: estudo de caso. Estudo de caso com mulher de 59 anos submetida a cinesioterapia associada ao uso dos cones vaginais. Sousa; Ferreira; Oliveira; Cestari, 2011 Avaliação da força muscular do assoalho pélvico em idosas com incontinência urinária. Fitz et al. 2012 da função muscular do assoalho pélvico 8 sessões 2x por Biofeedback em semana relação à média inicial submetidas a (11,22 para 19,040) protocolo de com p <0,003 exercícios O questionário de assoaciados. qualidade de vida redução significativa (p < 0,029) . Uma melhora de 80% a 90% em consciência e controle da contração Sessões Observou-se redução semanais na média de durante 3 meses, frequência de micções com protocolo noturnas na presença de exercícios de de noctúria (3 versus Kegel. 1,5) e na média do número de situações de perda urinária aos esforços (3,72 versus 1,45) 10 sessões 3x Foi possível por semana com identificar aumento da exercícios de força muscular Kegel, na 4º perineal e diminuição semana foi da IU após o associado os tratamento. A paciente cones vaginais também referiu que ao tratamento. durante suas atividades diárias está conseguindo segurar cada vez mais a urina, não ocorrendo mais as perdas em jato. 2 sessões Houve aumento semanais de significativo no grau forma de força muscular individualizada após o tratamento (p ≤ em um total de 0,05) e aumento no 12 sessões. pico e no tempo de contração Estudo experimental envolvendo 22 participantes que foram submetidas a AFA e posteriormente a cinesioterapia. Impacto do Ensaio clínico Sessões Observou-se treinamento dos prospectivo com 36 semanais em um diminuição músculos do mulheres período de 3 significativa das assoalho pélvico na submetidas a meses com médias dos escores em qualidade de vida cinesioterapia. exercícios de todos os domínios em mulheres com Kegel. avaliados pelos KHQ (p ≤ 0,11) e Página 131 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 incontinência urinária. diminuição da perda urinária e frequência urinária noturna das pacientes (p ≤ 0,05). Fonte: ALVES (2015) Os artigos relacionados apresentam grupos de tratamento variando entre 1 e 71 mulheres, englobando um total de 222 pacientes estudados, com idade variando entre 22 e 74 anos. Destes, 07 artigos abordaram o treinamento proposto por Kegel e/ou associados a outro método, 03 investigaram exercícios perineais associados a eletroestimulação e uso de cones vaginais, 02 artigos analisaram a ginástica hipopressiva, 01 artigo investigou os exercícios perineais associados ao Biofeedback (Gráfico 1). Gráfico 1 - Divisão dos recursos fisioterapeuticos encontrados nos artigos selecionados 8% 15% 54% 23% Cinesioterapia Eletroestimulação e Cones Vaginais Ginástica Hipopressiva Biofeedback Fonte: ALVES (2015). O fortalecimento da MAP, através da cinesioterapia perineal, foi descrito pela primeira vez em 1948, por Arnold Kegel. Seu tratamento é constituído por exercícios que promovem o fortalecimento e a melhora do tônus muscular, através da contração voluntária do assoalho pélvico. O principal objetivo da cinesioterapia perineal é o reforço da resistência uretral e a melhora da sustentação dos órgãos pélvicos (OLIVEIRA; GARCIA, 2011). Os mesmos autores supracitados num estudo envolvendo 11 mulheres com média etária 74.2 anos, divididas em dois grupos com sessões uma vez por semana durante 3 meses, compostas de exercícios específicos para a musculatura do assoalho pélvico, realizados nas posições sentada, deitada, de pé e andando, com duração de 30 minutos cada sessão. Ao final do tratamento, observouse redução na média de frequência de micções noturnas na presença de noctúria (3 versus 1,5) e na média do número de situações de perda urinária aos esforços (3,72 versus 1,45) com p=0,02. Comparando o estudo anterior com a pesquisa de Fitz et al. (2012), estes autores propuseram para 36 mulheres, com idade média de 55,2 anos (± 9,1), a realização contrações rápidas e lentas em diversas posições, porém com o mesmo tempo de duração, observou-se que também houve um aumento da força e endurance muscular, com consequente diminuição da perda urinária e além disso, ainda houve a redução da noctúria. Berbam (2011) em um estudo, realizado com uma paciente, 1x ao dia durante 30 dias consecutivos, com protocolo de exercícios de Kegel intercalados com exercícios da ginástica Página 132 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 hipopressiva, mostrou resultados satisfatório. Desta forma, o treinamento da MAP com a cinesioterapia perineal (exercícios de Kegel) de forma isolada ou associada a ginástica hipopressiva ser capaz de promover o incremento da força, endurance muscular, a redução da noctúria, a diminuição da perda involuntária de urina e ainda a melhora no perfil emocional das pacientes, o que corrobora com os efeitos encontrados nos estudos de Fitz et al (2012) e Oliveira; Garcia (2011). A fisioterapia dispõe de outros recursos que podem ser associados ao tratamento da IUE, dentre eles o biofeedback, um aparelho que auxilia na mensuração e demonstração da contração muscular, ajuda a potencializar os efeitos do fortalecimento da MAP, através de estímulos visuais e/ou auditivos, que vão conscientizar a mulher, de quando deve contrair e relaxar a musculatura (GLISOI; GIRELLI, 2011). O Biofeedback demonstra ser um recurso eficaz para a propriocepção do assoalho pélvico e melhor controle desta região através dos resultados de um estudo que teve em relação à média inicial (11,22 para 19,040) com p <0,003. O questionário de qualidade de vida redução significativa (p < 0,029). Uma melhora de 80% a 90% em consciência e controle da contração. Tal resultado foi observado por Glisoi, Girelli (2011) em estudo experimental quantitativo com 10 mulheres submetidas a 8 sessões 2x por semana submetidas a protocolo de exercícios perineais associados ao uso do Biofeedback. Outro recurso fisioterapêutico que pode ser empregado no tratamento da IUE com bons resultados, segundo Santos et al. (2009), é a eletroestimulação (EE) do assoalho pélvico e a utilização dos cones vaginais, onde na realização de um estudo randomizado com 45 mulheres divididas em dois grupos, sendo um utilizado a eletroestimulação (GElet) e o outro a utilização dos cones vaginais (GCon) submetidas a sessões 2x na semana, com duração de 20 min, em um período de 4 meses. O resultado encontrado foi diminuição do peso do absorvente (em gramas) nos dois grupos (28,5 g e 32 g versus 2,0 g e 3,0 g, para GElet e GCon, respectivamente com significância: p<0,0001. Contradizendo aos achados da eficácia da EE da MAP com a cinesioterapia, Beuttenmuller et al. (2011) constataram que a cinesioterapia foi mais eficaz na melhora da força muscular. Estes resultados foram observados na pesquisa, do mesmo autor, com 71 mulheres, divididas em 3 grupos: grupo de eletroestimulação associados a exercícios perineais (GEE) com 24 mulheres; grupo de eletroestimulação (GE) com 25 mulheres; grupo controle (GC) com 22. Os resultados obtidos demonstram que GEE foi estatisticamente significante em relação ao GC, pois apresentou melhores resultados em AFA fibras I (Δ%=11,99; p=0,000) e AFA fibras II (Δ%=11,60; p=0,000). O GE, quando comparado ao GC, obteve êxito estatisticamente significante em AFA fibras I (Δ%=4,75; p=0,021) e AFA fibras II (Δ%=2.93; p=0.002), certificando que a cinesioterapia foi mais eficaz no teste AFA. As pesquisas demonstraram que os exercícios propostos por Kegel e/ou associados a ginástica hipopressiva, em mulheres que apresentam uma boa conscientização corporal, de forma supervisionada, são capazes de trazer relevante redução das perdas involuntárias de urina, na diminuição da frequência urinária, redução da noctúria e ainda melhora no perfil emocional das pacientes. Os resultados alcançados pelos tratamentos com o Biofeedback também foram positivos, e indicaram que é um importante aliado quando associado ao treinamento de contrações rápidas e lentas da MAP, proporcionando mudança significativa na consciência perineal, ganho de força muscular, redução da perda urinária e melhora na qualidade de vida das mulheres. A eletroestimulação transvaginal e o uso dos cones vaginais, destacaram-se como outros recursos fisioterapêuticos eficazes no tratamento da IUE, sendo melhor utilizados quando as pacientes não possuem uma conscientização corporal adequando, proporcionando ativação as conexões neuromusculares, facilitando o reconhecimento da MAP pelas pacientes. Página 133 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 4 CONCLUSÃO Foi possível identificar que a fisioterapia se mostra como parte fundamental no tratamento conservador da IUE, onde vem demonstrando bons resultados, especialmente nos casos em que há correta indicação médica e é realizado um trabalho em equipe. As pesquisas evidenciaram que a cinesioterapia é o recurso mais utilizado, representando mais da metade das modalidades citadas pelos artigos. Essa terapia associada ou não a ginástica hipopressiva, de forma supervisionada, são capazes de trazer relevante redução das perdas involuntárias de urina, na diminuição da frequência urinária, redução da noctúria e ainda melhora no perfil emocional das pacientes. Os resultados alcançados pelos tratamentos com o biofeedback, a eletroestimulação transvaginal e os cones vaginais também foram positivos, principalmente quando a paciente não apresenta uma adequada conscientização corporal, proporcionando mudança significativa na consciência perineal, ativando as conexões neuromusculares, ganho de força muscular, redução da perda urinária, mas que raramente, pode trazer alguns efeitos adversos. Os estudos mostraram que os recursos fisioterapêuticos relatados, proporcionaram melhora significativa dos sintomas da IUE, o que levaram, consequentemente ao aumento da qualidade de vida das mulheres acometidas por tal afecção, como também evidenciaram a escassez de trabalhos relacionados a essa temática, visto o grande número de mulheres acometidas, sendo necessário novas investigações e estudos sobre tal área da saúde, afim de apontar e esclarecer qual seria a melhor propedêutica no tratamento da incontinência urinária de esforço. REFERÊNCIAS ABRAMS, P. et al. Standardisation of terminology of lower urinary tract function: report from the Standardisation Subcommittee of the International Continence Society. Am J Obstet Gynecol. 2003; BERBAM, L; Exercícios de Kegel e Ginástica Hipopressiva como estratégia de atendimento domiciliar no tratamento da incontinência urinária feminina: Relato de caso; Rio Grande do Sul, 2011; BEUTTENMULLER, L. et al. Contração muscular do assoalho pélvico de mulheres com incontinência urinária de esforço submetidas a exercícios e eletroterapia: um estudo randomizado. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.18, n.3, p. 210-6, jul/set. 2011; CAMILLATO, E. S; BARRA, A. A; SILVA JR, A. L. Incontinência urinária de esforço: fisioterapia versus tratamento cirúrgico. FEMINA. 2012; COSTA, T. F. et al. Ginástica hipopressiva como recurso proprioceptivo para os músculos do assoalho pélvico de mulheres incontinentes. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 5 setembro/outubro de 2011; DREHER, D. Z. et al. O fortalecimento do assoalho pélvico com cones vaginais: programa de atendimento domiciliar. Scientia Medica, Porto Alegre, v. 19, n. 1, p. 43-49, jan/mar. 2009; DUMONT, J. C. P. Fatores de riscos associados à incontinência urinária por esforço em mulheres, 2013. Disponível em: < http://www.catolicaes.edu.br/fotos/files/FATORES%20DE%20RISCOS%20ASSOCIADOS%20A%20INCONTINEN CIA%20URINARIA.pdf > Acesso em 20 de abril de 2015; Página 134 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 FITZ, F. F. et al. Impacto do treinamento dos músculos do assoalho pélvico na qualidade de vida em mulheres com incontinência urinária. Rev Assoc Med Bras 2012; GLISOI, S. F. N.; GIRELLI, P. Importância da fisioterapia na conscientização e aprendizagem da contração da musculatura do assoalho pélvico em mulheres com incontinência urinária. Rev Bras Clin Med. São Paulo, 2011; KNORST, M. R. et al. Avaliação da qualidade de vida antes e depois de tratamento fisioterapêutico para incontinência urinária. Fisioter. Pesqui., São Paulo , v. 20, n. 3, Set. 2013; MAGGI, D. M. A influência do método Mat Pilates sobre a incontinência urinária de esforço feminina – uma proposta terapêutica. Criciúma, 2011. Disponível em: < http://repositorio.unesc.net/bitstream/handle/1/352/D%C3%A9bora%20Mengue%20Maggi.pdf?seq uence=1> Acesso em 20 de abril de 2015; OLIVEIRA, E.; ZULIANI, L. M. M. Avaliação dos fatores relacionados à ocorrência da Incontinência Urinária feminina. Rev. Assoc. Med. Bras. São Paulo, 2010; OLIVEIRA, J. R.; GARCIA, R. R. Cinesioterapia no tratamento da Incontinência Urinária em mulheres idosas. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol. Rio de Janeiro, 2011; RODRIGUES, B. P. Abordagem fisioterapêutica na incontinência urinária de esforço na mulher idosa. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <https://www.uva.br/sites/all/themes/uva/files/pdf/abordagem_fisioterapeutica_incontinencia_urina ria_de_esforco_na_mulher_idosa.pdf> Acesso em 20 de abril de 2015; SAMPAIO, R. F; MANCINI, M. C. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese criteriosa da evidência científica. Ver. Bras. Fisioter., São Carlos, v11, n.1, p.83-89, jan-fev. 2007; SANTOS, P. F. D. et al. Eletroestimulação funcional do assoalho pélvico versus terapia com os cones vaginais para o tratamento de incontinência urinária de esforço. Rev Bras Ginecol Obstet. 2009; SILVA, A. R. Estudo Biomecânico da cavidade pélvica da Mulher, 2012. Disponível em: <http://paginas.fe.up.pt/~bio07021/images/Mono.pdf> Acesso em: 20 de abril de 2015; SOUSA, J. G.; FERREIRA, V. R.; OLIVEIRA, R. J.; CESTARI, C. E. Avaliação da força muscular do assoalho pélvico em idosas com incontinência urinária. Fisioter Mov. Brasília, DF – Brasil, 2011. Página 135 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 PROPORÇÕES DE IGUALDADE E ÁUREA EM MEDIDAS CRÂNIO-FACIAIS DE INDIVÍDUOS EM FASES DISTINTAS DO CRESCIMENTO EQUALITY AND GOLDEN PROPORTIONS IN CRANIOFACIAL MEASUREMENTS FROM INDIVIDUALS IN DIFFERENT STAGES OF GROWTH Márcia Valéria Martins 1, Edmundo Médici Filho 2 RESUMO No presente estudo, o propósito foi verificar a presença de proporções de igualdade e áureas em medidas crânio-faciais, por meio de 59 radiografias cefalométricas laterais, obtidas de indivíduos com oclusão normal, que se encontravam no perfodo de crescimento, sendo 31 do sexo feminino e 28 do masculino. A amostra foi subdividida em três grupos (1, 2 e 3), segundo o programa da curva de crescimento de Martins e Sakima (Radiomemory). Para avaliação da proporção de igualdade foram utilizadas seis razões: OPI-N I OPI-Ena; OPI-N I OPI-Pog; OPI-Pog I OPIEna; N-Ena I Ena-Enp; ASPt-N I Ena-Enp e ASPt-N I N-Ena. Para verificação da proporção áurea foram selecionadas cinco razões: OPI-ASPt I ASPt-N; OPI-Enp I Ena-Enp; N-Ena I ASPt-Enp; Ena-Enp I ASPt-Enp e ASPtN I ASPt-Enp. Os cálculos para a verificação das proporções de igualdade (razão igual a 1) e áureas (razão igual a 1 ,618) foram realizados no programa Microsoft Excel for Windows (Microsoft Corporation). Os resultados foram submetidos aos testes t de Student, ANOVA e Tukey. Após análise estatística, verificamos que no grupo 1 a razão OPI-Pog I OPIEna estava em proporção de igualdade, porém nenhuma razão áurea foi encontrada; no grupo 2 duas razões foram estatisticamente iguais:OPI-N I OPI-Pog e ASPt-N I Ena-Enp e duas estavam em proporção áurea: OPI-Enp I EnaEnp e NEna I ASPt-Enp; no grupo 3 a relação de igualdade foi observada nas razões N-Ena I EnaEnp e ASPt-N I Ena-Enp, enquanto a presença de proporção áurea foi evidenciada somente na razão OPI-Enp I Ena-Enp. Palavras-chave: Proporção áurea. Proporção de igualdade. Cefalometria. Oclusão dentária. Crescimento. ABSTRACT The present study investigated the presence of equality and golden proporticns in craniofacial measurements on 59 lateral cephalometric radiographs obtained from individuais with normal occlusion during the growth period, beíng 21 females and 28 males. The sample was subdivided into three groups (1, 2 and 3), following the grov.1h curve software of Martins e Sakima (Radiomemory). Evaluation of the equality proportion was assessed by six ratios: OPI-N I OPI-Ena; OPI-N I OPI-Pog; OPI-Pog I OPJ-Ena; NEna I Ena-Enp,· ASPt-N I Ena-Enp and ASPt-N I N-Ena. Golden proportion was analyzed through tive ratios: OPJ-ASPt I ASPt-N; OP/-Enp I Ena-Enp; N-Ena I ASPt-Enp; EnaEnp I ASPt-Enp and ASPt-N I ASPt-Enp. Calculations for observation of equality proportions (ratio ___________________ 1 Professora Doutora do Curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial-FACID/Devry Teresina-PI E-mail: [email protected] 2 Professor Titular do Curso de Odontologia da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos-UNESP-FOSJC São José dos Campos-SP E-mail: [email protected] Página 136 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 of 1) and golden proportíons (ratio of 1.618) were pertormed on the Microsoft Excef for Windows software (Microsoft Corporation). Results were submitted to StucJent's t tost, ANOVA and Tukey. After statistical ana/ysis, the ratio OPJ-Pog I OPI-Ena in group 1 presented equality proportion, yet no golden proportion was observed; in group 2 two ratios were statistically equal: OPI-N I OPJ-Pog and ASPt-N I Ena-Enp, and two presented golden proportion: OPI-Enp I Ena-Enp and N-Ena I ASPtEnp; in group 3 the equality relationship was observed in ratios N-Ena I Ena-Enp and ASPt-N I EnaEnp, whereas the presence of golden proportion was observed only for ratio OPI-Enp I Ena-Enp. Keywords: Golden proportion. Equality proportion. Cephalometty; Dental occlusion; Growth. 1 INTRODUÇÃO Desde as civilizações mais antigas até os dias atuais, a preocupação com a forma, a harmonia, a proporção e a beleza vem sendo observada em diversas obras de arte, na arquitetura, na matemática, etc. Assim como os eventos que ocorrem na natureza, de maneira geral, seguem uma proporção constante, o crescimento do corpo humano também mantém as linhas gerais de sua forma em proporção, a qual vem sendo investigada ao longo do tempo, por diversos estudiosos e artistas. (GIL, 1999). Essa proporção foi chamada de secção áurea por Leonardo da Vinci, proporção divina por Pacioli e será denominada proporção ou relação áurea neste estudo (GIL, 1999; BAKER; WOODS , 2001; GIL, 2001; GIL; MEDICI FILH0, 2002). A proporção áurea pode ser observada com freqüência em diversas partes do corpo humano, sendo expressa pelo número 1,618 e representada pelo caractere grego (phi ou fi),em homenagem ao matemático e escultor grego Phídias, que a utilizou amplamente em seus trabalhos (GIL, 1999; BAKER; WOODS, 2001; GIL, 2001; GIL; MEDICI FILH0, 2002). Acredita-se que as estruturas que se encontram nessa proporção sejam mais estáveis, esteticamente agradáveis e funcionalmente eficientes. Portanto, ao se realizar um planejamento ortodôntico é importante considerar não somente o equilíbrio oclusal do paciente, mas também as suas preferências estéticas, analisando-se as qualidades faciais de simetria, harmonia e proporção. Além disso, vale ressaltar que faces harmônicas e belas proporcionam ao indivíduo elevada autoestima e excelente convívio psicossocial (RUSSEL, 2000; KOLLER et al, 2003; ERBAY E CANIKLIOGU,2002). O crescimento facial tende a seguir a curva de crescimento em altura e as mudanças nas proporções faciais são mais acentuadas nos períodos de desenvolvimento acelerado, os quais podem produzir mudanças na direção do mesmo, favorecendo ou, em muitos casos, atuando contrariamente aos esforços terapêuticos. (KOLLER, 2003). Embora em menor quantidade que os estudos sobre a proporção áurea, alguns autores observaram a presença da proporção de igualdade em medidas crânio-faciais, em indivíduos com oclusão normal, por meio de radiografias cefalométricas laterais e axiais (GIL, 1999; GIL, 2001; GIL; MEDICI FILH0, 2002; GIL et al, 2004; GROSSI, 2005; SILVA, 2005). Verificaram ainda, que as proporções de igualdade e áureas seriam as duas formas de construção e divisão, consideradas de maior estabilidade para as estruturas cranianas (GIL et al, 2004). As pesquisas realizadas por estes autores serviram de estímulo para o desenvolvimento do presente trabalho, cujos objetivos foram verificar a presença de proporções de igualdade (razões OPIN/ OPI-Ena; OPI-N/OPI-Pog; OPI-Pog/ OPI-Ena; N-Ena/ Ena-Enp; ASPt-N/Ena-Enp; ASPt-N/NEna) e áureas (razões OPI-ASPt/ASPt-N; OPI-Enp / Ena-Enp; N-Ena/ASPt-Enp; Ena-Enp/ASPtEnp; ASPt-N/ASPt-Enp) no esqueleto crânio-facial de indivíduos com oclusão normal, que encontravam-se em diferentes fases do período de crescimento, por meio de radiografias cefalométricas laterais. Além de observar se existia diferença estatisticamente significante, entre as razões que estavam em proporção de igualdade e áurea, nessas diferentes fases. Página 137 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 REVISÃO DE LITERATURA Proporção áurea e cefalometria Perasso, em 2001, afirmou que pacientes totalmente desdentados necessitariam de reabilitação protética que preenchesse os requisitos básicos da estética,fonética, mastigação e comodidade. Observando que existia certa dificuldade no registro da dimensão vertical, procurou parâmetros para orientá-lo utilizando a proporção áurea. Em sua pesquisa investigou em quais proporções faciais o número áureo estaria presente e se estas proporções seriam mantidas, tanto no momento da confecção dos planos de orientação, bem como na instalação das próteses totais. Com auxílio do compasso áureo e paquímetro, foram marcados na face dos pacientes os seguintes pontos cefalométricos: canto interno do olho, asa do nariz, pogônio, estômio, tríquio, násio, subnasal, limites dos lábios superior e inferior. Após realizar as devidas alterações e registros, observou a existência da proporção áurea nos segmentos tríquio-násio-pogônio e canto interno do olho-asa do nariz -estômio. Gil, em 1999, Gil, em 2001 e Gil e Médici Filho,em 2002, realizaram trabalho que tinha por finalidade avaliar medidas das estruturas ósseas de crânios de 23 indivíduos adultos, dos sexos masculino e feminino, com oclusão normal, sem tratamento ortodôntico prévio e ausência de perdas dentárias precoces, por meio de radiografias cefalométricas axiais, frontais e laterais e verificar se essas medidas estavam em proporção áurea. Os valores das medidas selecionadas foram obtidos com a utilização do programa Radiocef 2.0® (Radiomemory, Belo Horizonte, Brasil). Após o tratamento estatístico dos resultados, encontraram 619 pares de medidas em proporção áurea, em pelo menos 80% da amostra, sendo 34 pares na incidência axial, 287 pares na frontal e 298 na lateral. Martins, em 2003, avaliou trinta radiografias cefalométricas laterais com o objetivo de verificar a presença de proporção áurea, em segmentos do esqueleto crânio-facial de indivíduos com oclusão normal, que se encontravam na fase do pico do surto de crescimento puberal até antes do término da maturação esquelética, sendo 13 do sexo masculino e 17 do feminino. A amostra foi posteriormente subdividida em grupos 1 e 2. No grupo 1 estavam os indivíduos que se encontravam desde o pico até dois anos após o mesmo, enquanto o grupo 2 era formado por indivíduos que estavam entre dois a três anos após o pico, mas que ainda não haviam atingido a maturidade esquelética. Foram escolhidos 34 segmentos crânio-faciais, com base nos estudos de Gil, em 1999; Gil, em 2001 e Gil e Médici Filho, em 2002. As medidas destes segmentos foram calculadas no programa Radiocef 2.0® (Radiomemory, Belo Horizonte, Brasil). Após a análise dos resultados obtidos, concluiu que 31 segmentos crânio-faciais apresentaram-se em proporção áurea, em pelo menos 80% dos indivíduos com oclusão normal que se encontravam na fase avaliada, não havendo diferença estatisticamente significante na quantidade de razões áureas estabelecidas por estes segmentos, entre os grupos 1 e 2. Piselli, em 2003, realizou trabalho para observar se pacientes com maloclusão Classe II, 1ª divisão, apresentariam uma melhora na estética facial, assim como se algumas proporções faciais estavam em proporção áurea, após a realização de tratamento ortodôntico. A amostra foi constituída por 36 telerradiografias obtidas de pacientes do sexo feminino, com médias de idade entre 12 anos e 11 meses (antes do tratamento) e 15 anos e quatro meses (após o tratamento). Estas radiografias pertenciam ao arquivo de uma clínica especializada, na cidade de Piracicaba-SP. Para avaliação da proporção áurea foram escolhidas as seguintes grandezas cefalométricas: (ENA-ENP)/(ENPMAND), (VPt-Or) /(VPt-Co), (Spog-A)/(A-HF) e (Spog-li)/(li-A). Ao final do estudo, verificou que apenas a proporção (ENA-ENP)/(ENP-MAND) encontrava-se em proporção áurea, antes e após o tratamento. A proporção (Spog-A)/(A-H F) apresentava-se em proporção áurea somente antes do tratamento. Enquanto as demais proporções avaliadas não se mostraram em proporção áurea, antes e nem depois do tratamento ortodôntico. Com o objetivo de avaliar a presença de proporção divina em 52 proporções, Silva, em 2003, utilizou quarenta radiografias cefalométricas laterais de arquivo de um consultório particular, obtidas de pacientes adultos com maloclusão Classe II de Angle, previamente à realização de tratamento ortodôntico, na faixa etária dos 17 aos 45 anos, sendo 13 do sexo masculino e 27 do feminino. Para a Página 138 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 análise cefalométrica lateral foi usado o programa Radiocef Studio® (Radiomemory, Belo Horizonte, Brasil). Após análise estatística dos dados, observou que 65,48% das proporções avaliadas encontravam-se em proporção divina e que o terço inferior da cabeça, juntamente com áreas nas arcadas dentárias, foram as regiões em que estas proporções apresentaram as menores porcentagens de proporção divina. Walter-Porto, em 2005, realizou estudo com o propósito de avaliar o esqueleto crânio-facial de indivíduos de dois grupos faciais, dolicofaciais e mesofaciais, quanto à presença de proporção áurea em oito razões cefalométicas: Ena-Enp/Or-Me; A-Pog/Or-Me; Co-Go/Or-Me;N-Ena/Go-Pog; EnaEnp/Go-Pog; Go-Pog/Co-Gn; N-Ena/Ena-AA e EnaEnp/SO.-POOr. Para isto, utilizou radiografias cefalométricas laterais obtidas de 24 indivíduos dolicofaciais e 24 mesofaciais, do sexo masculino e do feminino, na faixa etária entre 17 e 25 anos de idade, com oclusão Classe I de Angle, que não foram submetidos a tratamento ortodôntico prévio. A análise dos resultados obtidos permitiu concluir que quatro razões apresentavam-se em proporção áurea:(EnaEnp/Or-Me; Co-Pog/Or-Me; NEna/Ena-AA e Ena-Enp/SO-POOr), no grupo de indivíduos mesofaciais e em apenas uma razão (APog/Or-Me), no grupo de dolicofaciais. Proporção de igualdade e cefalometria Gil, em 1999; Gil, em 2001 e Gil e Médici Filho, em 2002, realizaram trabalho com o objetivo de verificar a existência de proporção áurea na arquitetura craniana de 23 indivíduos adultos, dos sexos masculino e feminino, com oclusão normal, sem tratamento ortodôntico prévio e ausência de perdas dentárias precoces, por meio de radiografias cefalométricas axiais, frontais e laterais. O programa Radiocef 2.0® (Radiomemory, Belo Horizonte, Brasil) foi utilizado para a obtenção das medidas selecionadas. Após análise estatística dos dados, observaram que 619 pares de medidas encontravam-se em proporção áurea, em pelo menos 80% da amostra. Além disso, verificaram que as medidas Op-N, Op-Ena e Op-Pog apresentaram-se com valores estatisticamente iguais entre si, em 100% da amostra utilizada. Observaram ainda, que as medidas Co-Gn, Gn-N, Cc-superior do crânio e Cc-posterior do crânio, mostraram-se com valores muito semelhantes. Com o propósito de verificar a presença de proporções de igualdade em medidas cranianas, Gil et al., em 2004, realizaram estudo utilizando 23 telerradiografias axiais de indivíduos adultos, com oclusão normal, sem tratamentos ortodônticos ou cirúrgicos prévios e com ausência de perdas dentárias precoces. Estas radiografias foram digitalizadas em scanner 4C (HP), sendo as medidas cranianas realizadas no Programa Radiocef 2.0® (Radiomemory, Belo Horizonte, Brasil). Observaram que as seguintes medidas apresentaram-se com valores estatisticamente iguais entre si: Largura do forame magno e distância inter-incisivos laterais superiores; distância inter-molares superiores e profundidade lateral da face (distância entre a cabeça da mandíbula e região mais anterior do osso zigomático) e distância inter-gônio, distância inter-processos coronóides e distância entre as proeminências zigomáticas direita e esquerda. Diante da dificuldade de identificação e determinação de alguns pontos cefalométricos, utilizados em várias análises existentes, Gil et al., 2004, avaliaram quarenta radiografias cefalométricas laterais (arquivo do Curso de Pós-graduação em Ortodontia, da Universidade Metodista de São Paulo) de indivíduos com oclusão normal,sem tratamento ortodôntico prévio, com o propósito de elaborar uma metodologia para a identificação de um ponto cefalométrico localizado na região mais posterior e inferior da base do crânio. Este ponto foi denominado de OPI (Occipital Póstero-lnferior). Segundo os autores, este ponto poderia ser utilizado como referência em vários estudos, sendo de fácil identificação e localização, podendo ser empregado com segurança e confiabilidade nos estudos que envolvem a base posterior do crânio. Este ponto foi marcado por dois alunos, devidamente treinados, do Curso de Pós-graduação em Ortodontia,os quais utilizaram tanto o método por inspeção (visual) quanto o método por construção (geométrico). Os traçados foram realizados em número de dez em dez radiografias, não sendo verificada diferença estatisticamente significante quanto à determinação e localização do referido ponto, nas duas metodologias Página 139 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 empregadas. Os autores relataram ainda que, a partir do ponto OPI, poderiam ser determinadas as linhas cefalométricas OPI-N, OPI-ENA e OPI-Pog e sugeriram que, nos casos com oclusão normal natural, estas linhas apresentariam forte semelhança entre si e apenas os ângulos entre estas linhas poderiam sofrer alterações,determinando os diferentes padrões faciais de crescimento. Grossi, em 2005, realizou pesquisa com objetivo de avaliar as relações entre as medidas lineares N-ENA, ENA-Pog e N-Pog, as medidas angulares N.OPI.ENA, ENA.OPI.Pog e N.OPI.Pog, e o índice VERT, de acordo com a classificação proposta por Ricketts, em 1982. Para isto, utlilizou amostra de 700 telerradiografias, em norma lateral, de indivíduos brasileiros, sendo 318 do sexo masculino e 382 do sexo feminino, os quais apresentaram média de idade de 16,66 anos. A amostra foi subdividida em quatro grupos de acordo com a oclusão. O primeiro grupo foi constituído por 88 indivíduos com oclusão normal natural (ANDREWS, 1972), sendo observadas clinicamente, quatro das seis chaves de oclusão. Os demais grupos apresentaram-se constituídos por indivíduos com maloclusões de Classe I, 11 e III (ANGLE,1899), sem relato de tratamento ortodôntico prévio. Após a análise estatística para a avaliação das medidas lineares e angulares, em relação ao índice VERT, evidenciou aumento progressivo das medidas pesquisadas em relação aos seis padrões faciais determinados por esse índice, conforme se vai do padrão braquifacial severo para o padrão dolicofacial severo. Observou ainda, forte correlação entre as medidas OPI-N, OPI-ENA e OPI-Pog, para o grupo com oclusão normal, sendo os coeficientes de correlação de Pearson entre OPI-Ne OPIPog, OPI-ENA e OPI-Pog, OPI-Ne OPI-ENA iguais a 0,81; 0,87; 0,88, respectivamente. Silva, em 2005, se propôs a avaliar o posicionamento da maxila nos sentidos vertical, ânteroposteríor (sagital) e a sua inclinação, numa amostra de 94 indivíduos com oclusão normal. Foram determinadas correlações entre medidas lineares do próprio indivíduo: OPI-N com OPI-ENA e NENA com ENA-ENP. A partir dos fortes índices de correlação encontrados entre OPI-N e OPI-ENA (r=0,89), assim como entre N-ENA e ENA-ENP (r=0,87), concluiu que a medida OPI-N poderia ser tomada como referência para determinação de OPI-ENA, da mesma forma que ENA-ENP poderia ser considerada para determinação de N-ENA, definindo a posição da maxila nos sentidos sagital e vertical, respectivamente. A inclinação da maxila, representada pelo ângulo OPI-ENA-ENP, apresentou valor médio estatisticamente próximo a 00 indicando forte tendência do prolongamento posteríor do plano palatino (ENA-ENP) tangenciar a base posterior do crânio (ponto OPI), o que evidenciou ser esta, uma importante característica em indivíduos com oclusão normal. 2 MATERIAL E METÓDOS Neste trabalho, a amostra foi constituída por 59 radiografias cefalométricas laterais selecionadas do arquivo da disciplina de Radiologia Odontológica da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"- UNESP. As mesmas foram obtidas a partir de indivíduos brasileiros, de cor de pele branca, com oclusão normal, sem tratamentos ortodônticos ou cirúrgicos prévios e com ausência de perdas dentárias precoces, com idades cronológicas entre 07 e 16 anos, sendo 31 do sexo feminino e 28 do masculino. Portanto, a amostra foi constituída por radiografias cefalométricas laterais de indivíduos que se encontravam em fases distintas do período de crescimento, sendo subdividida em três grupos,segundo o programa da curva de crescimento de Martins e Sakima, versão 1.0 (Radiomemory, Belo Horizonte - Brasil): a) Grupo 1 (G1): do início da fase do surto de crescimento puberal até antes de seis meses que antecedem o pico. Constituído por 23 radiografias; b) Grupo 2 (G2): de seis meses antes até seis meses após o pico do surto de crescimento puberal,incluindo-o. Formado por 12 radiografias; c) Grupo 3 (G3): após seis meses depois do pico do surto de crescimento puberal até antes do término da maturidade esquelética. Continha 24 radiografias. O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos, sob o protocolo nº 078/2003-PH/CEP (Anexo A), estando de acordo com os princípios éticos, conforme resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Página 140 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 2.1 Obtenção e seleção das radiografias O arquivo utilizado continha, além das radiografias cefalométricas laterais, radiografias de mão e punho que já haviam sido analisadas, em estudos anteriores, no programa da curva de crescimento de Martins e Sakima. Após a identificação da fase de crescimento dos indivíduos, foram selecionadas as radiografias cefalométricas laterais daqueles que estavam nos três grupos anteriormente mencionados (G1,G2 e G3). Dentre 96 radiografias de mão e punho observadas no arquivo de radiografias de indivíduos com oclusão normal, apenas 59 pertenciam a indivíduos que se encontravam em período de crescimento. Essas radiografias foram digitalizadas por meio de scanner HPScanjet 4CIT (Hewlett Packard, Washington, USA), com leitor de transparência e seu respectivo software (DeskScan) para a captura das imagens. Em seguida, essas imagens foram transferidas para o programa de cefalometria Radiocef 4.0® (Radiocef Studio, Radiomemory, Belo Horizonte - Brasil), no qual foi realizada a marcação dos pontos cefalométricos e obtenção das medidas dos segmentos crânio-faciais selecionados. 2.2 Seleção das razões cefalométricas Para a realização deste trabalho foi criada uma nova análise cefalométrica, denominada AARL (Análise Áurea Radiográfica Lateral), sendo os cálculos das razões efetuados no programa Microsoft Excel for Windows, versão 2003 (Microsoft Corporation, Washington, USA). Para a avaliação da proporção de igualdade foram selecionadas 6 razões cefalométricas: OPI-N I OPI-Ena (R1); OPI-N I OPI-Pog (R2); OPI-Pog I OPJ-Ena (R3); N-Ena I Ena-Enp (R4); ASPt-N I Ena-Enp (R5); ASPt-N I N -Ena (R6). Enquanto para a verificação da proporção áurea foram escolhidas 5 razões: OPI-ASPt /ASPt-N (R7); OPI-Enp /Ena-Enp (R8); N-Ena/ASPt- Enp (R9); Ena-Enp /ASPtEnp(R10); ASPt-N /ASPt- Enp (R11) . 2.3 Método estatístico No presente estudo, os pontos cefalométricos foram marcados duas vezes, em todas as radiografias da amostra, utilizando intervalo de trinta dias entre as marcações, com a finalidade de avaliar o erro intra-examinador. Além disso, a identificação destes pontos foi realizada em ambiente com iluminação apropriada (ligeiramente escurecido), para melhor destaque dos contornos das imagens radiográficas das estruturas anatômicas. As marcações dos pontos cefalométricos foram realizadas pelo mesmo examinador, especialista em Radiologia Odontológica. Os pontos foram marcados, dividindo-se a amostra aleatoriamente, em cinco grupos de 10 radiografias e um grupo de 09 radiografias, para que a fadiga do examinador pudesse interferir na identificação e localização dos mesmos. O Teste t de Student foi usado para verificar a presença da proporção de igualdade nas seis razões cefalométricas:R1,R2,R3,R4,R5 e R6 e para a avaliação da proporção áurea nas cinco razões cefalométricas: R7, R8, R9, R10 e R11. Para observar a existência de diferenças estatisticamente significativas entre as médias das razões, nos grupos avaliados (G1, G2 e G3), foi utilizada a Análise de Variância (ANOVA). Quando esse teste apresentasse resultados significativos, as respectivas médias seriam submetidas ao teste de Tukey para identificar qual grupo apresentaria a média das razões diferente dos demais. As análises estatísticas foram realizadas no programa Microsoft Excel for Windows, versão 2003 (Microsoft Corporation,Washington, USA), adotando-se o nível de significância de 5%. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 verificou-se os resultados do teste t de Student para a proporção de igualdade, no grupo 1. Dentre as seis razões utilizadas para avaliação dessa proporção, somente a razão OPIPágina 141 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Pog/OPI-Ena (R3) apresentou média estatisticamente igual a 1, utilizando nível de significância de 5%. Tabela 1- Resultado do teste t de Student para proporção de igualdade, no grupo 1. FONTE: MARTINS, 2005 Após aplicação do teste t de Student para as médias das seis razões usadas para avaliação da proporção de igualdade, no grupo 2, observou-se que as médias das razões OPI-N/OPI-Pog (R2) e ASPt-N/Ena-Enp (R5) foram estatisticamente iguais a 1, utilizando nível designificância de 5% (Tabela 2). Tabela 2- Resultado do teste t de Student para proporção de igualdade, no grupo 2. FONTE: MARTINS, 2005 Na Tabela 3 estão os resultados do teste t de Student para a proporção de igualdade, no grupo 3. Verificou-se que as médias das razões N-Ena/ Ena-Enp (R4) e ASPt-N/Ena-Enp (R5) foram estatisticamente iguais a 1, utilizando nível de significância de 5%. Tabela 3- Resultado do teste t de Student para proporção de igualdade, no grupo 3. FONTE: MARTINS, 2005 A partir da metodologia utilizada e após análise estatística dos resultados (testes t de Student, ANOVA e Tukey), verificou-se nesse estudo que as seguintes razões estão em proporção de Página 142 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 igualdade: OPI-N/OPI-Pog (R2): Grupo 2; OPI-Pog/ OPI-Ena (R3): Grupo 1; N-Ena/Ena-Enp(R4): Grupo 3; ASPt-N/Ena-Enp (R5): Grupos 2 e 3. Na Tabela 4 observa-se os resultados do teste t de Student para a proporção áurea, no grupo 1. Dentre as cinco razões selecionadas, nenhuma apresentou média estatisticamente igual a 1,618, utilizando nível de significância de 5%. Tabela 4- Resultado do teste t de Student para proporção áurea, no grupo 1. FONTE: MARTINS, 2005 Após aplicação do teste t de Student para as médias das cinco razões usadas para avaliação da proporção áurea, no grupo 2, observou-se que as médias das razões OPI-Enp/Ena-Enp (R8) e NEna/ASPt-Enp (R9) foram estatisticamente iguais a 1 ,618, utilizando nível de significância de 5% (Tabela 5). Tabela 5- Resultado do teste t de Student para proporção áurea, no grupo 2. FONTE: MARTINS, 2005 Na Tabela 6 estão os resultados do teste t de Student para a proporção áurea, no grupo 3. Verificou-se que dentre as cinco razões utilizadas, apenas OPI-Enp/Ena-Enp (R8) tinha média estatisticamente igual a 1, 618, utilizando nível de significância de 5%. É importante salientar que OPI-Enp/Ena-Enp (R8) estava em proporção áurea, nos grupos 2 e 3. Tabela 6- Resultado do teste t de Student para proporção áurea, no grupo 2. FONTE: MARTINS, 2005 Página 143 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 De acordo com a metodologia utilizada e após análise estatística dos resultados (testes t de Student, ANOVA e Tukey), verificou-se nesse trabalho que as seguintes razões estavam em proporção áurea: OPIEnp/ Ena-Enp (R8): Grupos 2 e 3; N-Ena/ASPt-Enp (R9): Grupo 2. 4 CONCLUSÃO Após análise estatística dos resultados obtidos, foi possível concluir que: a) Dentre as seis razões avaliadas para verificação da proporção de igualdade, quatro apresentaram médias estatisticamente iguais a 1: OPI-N/OPI-Pog; OPI-Pog/ OPI-Ena; N-Ena/EnaEnp; ASPt-N/EnaEnp; b) Dentre as cinco razões analisadas quanto à presença da proporção áurea, apenas duas apresentaram médias estatisticamente iguais a 1,618: OPI-Enp/ Ena-Enp; N-Ena/ASPt-Enp; c) Com relação às razões que se encontravam em proporção de igualdade, houve diferença estatisticamente significante entre o grupo 1 e os grupos 2 e 3. Entretanto, entre os grupos 2 e 3 não houve nenhuma diferença; d) Houve diferença estatisticamente significante entre as razões que se encontravam em proporção áurea, nos 3 grupos avaliados. REFERÊNCIAS ANDREWS, L.F. The six keys to normal occlusion. Am J Orthod,v.62, n.3, p.296-309, Sept. 1972. ANGLE, E. H. Classification of malocclusion. Dent Cosmos, v.41,n.3, p.248-64, Mar. 1889. BAKER, B.W.; WOODS, M.G. The role of divina proportion in the esthetic ímprovement of patients undergoing combined orthodontic/orthognathic surgícal treatment. lnt J Adult Orthod Orthog Surg, v.16, n.2, p.1 09-20, 2001. ERBAY, E.F.; CANIKLIOGLU, C.M. Soft tissue profile in Anatolian turkish adults: Part 11. Comparison of different soft tissue analyses in the evaluation of beauty. Am J Orthod Dentofac Orthop, v.121,n.1, p.65-72, Jan. 2002. GIL, C.T.L.A. 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Página 145 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 SER PAI NA CONTEMPORANEIDADE: A VISÃO DO HOMEM SOBRE A PARENTALIDADE BEING A PARENT IN CONTEMPORARY SOCIETY: MAN'S VIEW ON PARENTING Marcelle Beatriz Moraes Sousa1, Milene Martins2 RESUMO A parentalidade engloba o exercício dos papéis dos pais dentro de uma sociedade contemporânea na qual se vem percebendo um compartilhamento de funções. O que antes era definido como papel da mãe, hoje vem ocorrendo uma desmistificação onde o pai começa a buscar uma maior participação no âmbito familiar, exercendo tarefas que vão além do provimento da família. Esse estudo aborda o exercício da parentalidade a partir da visão do homem, tendo como objetivo geral analisar sua percepção acerca da parentalidade exercida atualmente; os objetivos específicos foram identificar as transformações que ocorreram no exercício deste papel nas famílias contemporâneas, verificando como os pais percebem seus papéis parentais, buscando ainda compreender os modelos identitários usados pelos mesmos. Foi realizada uma pesquisa de campo, qualitativa, de cunho exploratório, em Teresina-PI, com uma amostra de 8 pais, com idade entre 25 e 55 anos. Foi realizada entrevista semiestruturada com os participantes e em seguida o processo de análise dos conteúdos com elaboração de categorias. Constatou-se que os pais participantes estão cada vez mais presentes na dinâmica familiar, compartilhando papéis até então vistos como da mãe, bem como percebem a importância do seu papel dentro da família contemporânea Palavras-chave: Parentalidade. Compartilhamento de papéis. Famílias contemporâneas. ABSTRACT Parenting involves the exercise of parent’s roles within a contemporary society in which one is noticing a sharing function. What was once defined as mother's role, today there has been demystification once the father begins to seek greater participation in the family, performing tasks that go beyond family provision. This work deals with the exercise of parenthood from the men’s view. It aims to analyze their perception on parenting exercised currently as well as to identify the changes that have occurred in the performance of this role in contemporary families, to see how parents perceive their parental roles, and to try to understand the identity models used by them. It is a field research with a qualitative, exploratory approach carried out in the city of Teresina-PI, with a sample of 08 parents, aged 25-55. Semi-structured interviews with the participants, the content analysis and classes preparation were made. It can be noticed that parents are increasingly present in their family dynamics sharing roles that were considered the mother’s as well as they can notice the importance of their role within the contemporary family. Keywords: Parenting. Role sharing. Contemporary families. 1 Aluna do Curso de Psicologia da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry) em Teresina-PI. Email: [email protected] 2 Professora do Curso de Psicologia da FACID, Mestre em Educação.Email: [email protected] Página 146 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 1 INTRODUÇÃO Em função das mudanças sociais e culturais que vêm se propagando, as famílias contemporâneas também estão se transformando. Com a saída da mulher do âmbito doméstico, a fim de voltar-se para o mercado de trabalho, buscando cada vez mais independência, o homem se viu compelido a exercer novos papéis no contexto familiar. Com o advento deste novo cenário, viu-se a necessidade de buscar identificar e compreender quais foram essas mudanças e como elas repercutem nos diferentes arranjos familiares. De acordo com Jager e Bottoli et al. (2011), as referidas mudanças vêm contribuindo não apenas no surgimento de uma nova configuração familiar, mas, sobretudo para uma mudança de papéis dentro de casa. Tais transformações provocaram alterações na configuração, estrutura e na dinâmica familiar levando a diferentes concepções na família contemporânea. Segundo Marcolino e Galastro (2001), percebe-se um processo de transição, no qual já se vê, atualmente, em muitas famílias uma relativa divisão de responsabilidades e atribuições, onde pais e mães compartilham tarefas relacionadas à educação e organização do meio familiar. Assim, neste contexto, a figura do pai encontra-se em processo de transformação, caracterizando-se atualmente como mais afetivo e presente na vida da família e dos filho A partir da perspectiva teórica sobre o tema, a presente pesquisa contribui para a discussão acerca da percepção do homem acerca do exercício da sua parentalidade, possibilitando reconhecer as transformações ocorridas na função do pai/papel masculino ao longo dos anos, visto que a figura do pai está cada vez mais presente no atual contexto da educação dos filhos. Para isso, buscou-se identificar a partir do protagonista da pesquisa – o pai, as transformações que ocorreram no exercício da parentalidade, verificando como os homens percebem sua parentalidade dentro das famílias contemporâneas, compreendendo que modelos identitários os homens usaram no exercício de seu papel e descrever as consequências da participação ou não do pai na dinâmica da família contemporânea. A discussão sobre esse tema é relevante e atual, pois além da família estar em transformação em virtude das mudanças sociais, econômicas e culturais da contemporaneidade, os papéis parentais também se modificaram e o cuidado com a família não é mais tarefa feminina. Assim, o pai contemporâneo vem cada vez mais assumindo responsabilidade nas atividades de cunho doméstico. Essa busca por um maior envolvimento por parte do pai pode estar ocorrendo tanto na interação direta com o filho, através de cuidados em geral, quanto no maior tempo investido nessa relação ou ainda de forma indireta, a partir da acessibilidade e responsabilidade pelo bem estar do filho, o que quer dizer um maior envolvimento com a escola e com as tarefas escolares, saúde e sustento do mesmo (GRZYBOWSKI, 2007). Assim, se revela uma figura paterna renovada que se construiu com uma maior participação, se identificando com as transformações contemporâneas da família, que aos poucos expõe sua afetividade e sua proximidade no dia-a-dia de modo oposto à concepção tradicional (GOMES; RESENDE, 2004). 2 MATERIAL E METÓDOS A pesquisa seguiu os princípios da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a pesquisa com seres humanos, sendo respeitada a integridade e os direitos de todos os participantes da pesquisa. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry), por meio da plataforma Brasil. Após aprovação, os participantes foram esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foi realizada uma pesquisa de campo, qualitativa de cunho exploratório, em Teresina-PI, onde se utilizou o método de indicação, tendo como amostra 8 homens que eram pais, maiores de 18 anos, vivendo ou não com seus filhos. Página 147 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 A coleta de dados ocorreu por meio de entrevista semiestruturada com a utilização de gravador, onde os dados coletados foram analisados e categorizados a partir das respostas dos participantes e dos objetivos da pesquisa, seguindo as orientações de Bardin (2004). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos dados coletados pelo questionário sócio demográfico verificou- se uma amostra de 8 participantes, com idade entre 25 a 55 anos. Dentre os participantes, seis apresentaram ensino superior completo, um participante apresentou ensino superior incompleto e outro ensino médio completo. Todos os participantes relataram trabalhar e a renda familiar variou de um a mais de doze salários mínimos. Todos os participantes são casados, onde apenas um deles não mora com a esposa e filho. Após a coleta dos dados foram analisadas e formadas categorias de acordo com os objetivos da pesquisa. As categorias foram as seguintes: “Diferentes expressões da relação pai e filho”; “Modelos identitários”; “Transformações na parentalidade”; “Educação dos filhos na contemporaneidade”; “Compartilhando os papéis na parentalidade”; “Dificuldades no exercício do papel de pai”. 3.1 Diferentes Expressões da Relação Pai e Filho Nesta categoria, que trata da relação pai e filho, refere-se ao sentimento envolvido em ser pai, na proximidade da relação pai e filho, em como ocorre essa relação na contemporaneidade, bem como suas responsabilidades. Silva (2006) aponta que antigamente, quando ainda prevalecia o modelo patriarcal, o pai era visto mais como provedor da família e esse relacionamento com o filho ficava mais voltado para a mãe, que tinha o encargo de criar e educá-lo no dia-a-dia. Mas à medida que ocorreram as diversas transformações no cenário familiar, esse pai veio saindo, ao longo do tempo, da posição de provedor para também participar e acompanhar mais de perto seu filho, bem como, a mulher vai tomando mais espaço no mercado de trabalho, assumindo também as questões financeiras da casa. Os interlocutores da pesquisa expressam essas mudanças, onde hoje o pai busca um maior envolvimento com o filho. É uma missão árdua, é uma forma de constituir uma família com uma grande responsabilidade de educá-la Tenho uma relação boa, amigável, procuro sempre estar do lado dele (Participante 3). Ser referencial, base da família [...] estabelecer limites junto da mãe, educar com o compromisso para a vida toda (Participante 7). Eu sempre acordo ele, quem dá o café sou eu ou a mãe, depende do dia, deixo ele na escola, ai tento sempre almoçar com ele, dependendo da correria. A noite fica um tempo para brincar com ele, e sou eu que coloco o para dormir também (Participante 8). Nessas falas fica evidenciado que existe uma preocupação em manter uma relação mais próxima, de conversar e viver o dia-a-dia junto com o filho. No entanto dois dos sujeitos ainda pautam sua relação apenas baseada no auxílio à mãe. Ela (mãe) banha e eu auxilio [...] no primeiro momento o bebê é 90% é a mãe, que amamenta, mas tem o papel do pai, por exemplo, banhar, arrumar, pra isso (Participante 1). Ajudo a mãe a dar banho nele [...] ás vezes tenho que esquentar uma água para ajeitar o banho, pegar a toalha[...]quando ela prepara a comida, o tempo que tenho com ele.acho que tem sobrecarregado muito a mãe (Participante 2). Em ambos os casos, são pais de filhos ainda pequenos, um de 3 meses e outro de 8 meses. Podese inferir então que nos primeiros meses dos filhos, os pais limitam seu papel ao auxílio da mãe por Página 148 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 acreditarem ser uma etapa mais voltada para relação mãe e filho, não havendo um papel definido para eles. Alguns estudos apontam que o percurso masculino referente à paternidade ainda difere da feminina, colocando que somente a mulher pode sentir o filho crescer dentro de si, dar à luz e amamentá-lo. Com isso, muitos pais demoram a estabelecer um vínculo tão intenso e sólido com o bebê, o que pode levar nesses primeiros momentos a esse sentimento de papel indefinido do ser pai (PICCININI, 2009). Na próxima categoria serão discutidas quais influencias os pais tiveram, que puderam determinar ou ressignificar sua relação com seus filhos hoje. 3.2 Modelos Identitários Essa categoria busca identificar as influencias que os pais tiveram para o exercício do seu papel bem como a percepção que eles têm diante delas. Na entrevista, todos os pais referiaram identificar os seus pais como modelo identitário, alguns seguindo até hoje seus exemplos, considerando a importância que teve a educação que lhe foi passada, enquanto outros não concordaram e usaram desse modelo para procurar fazer de forma diferente. Os relatam evidenciam a forma como os entrevistados reconhecem a influencia dos diferentes modelos identitários. Copiei as atitudes dos meus pais,[...] eram mais rígidos e isso adquiri deles[...]até da mesma forma, o pai era mais deixar e pegar (Participante 3). Não acho que a relação de parentalidade que tive com meu pai foi das mais positivas, me influenciou seja para algumas coisas positivas que você vá repetir seja por outras reprovativas me influenciaram para eu não repetir.( Participante 6) Meu pai não era participativo, não sabia a serie que eu fazia, dizia sempre fale com a sua mãe, então eu tento dá o que eu não tive, um pai amigo que conversa que si importa com o dia-a-dia dele, que eu não tive por meu pai ser mais fechado (Participante 8). Nas falas dos pais entrevistados podemos perceber que eles têm como referencia seus próprios pais, usando-os como parâmetro para as relações com seus filhos, mesmo que seja para um exercício de seu papel diferente do que vivenciou enquanto filho. Muitas vezes o que ocorre é uma ressignificação do seu papel principalmente no que tange os aspectos afetivos e educacionais. O pai ao assumir seu papel, traz consigo modelos que vem desde sua época como filho até hoje, sendo algo que pode ir se modificando. Os modelos identitários são exemplos que não necessariamente serão seguidos de forma direta e isolada. Muitas vezes enxergam-se esses modelos de forma positiva, outras, negativa e é a partir daí que poderão basear suas atitudes diante dos seus filhos (BARREIROS; SZYMANSKI, 2013). Assim podemos perceber que apesar de devagar, as transformações já podem ser sentidas no contexto atual, onde vemos pais que não acreditam que seja suficiente manter uma relação pautada no que vivenciou, sentem a necessidade de manter uma relação diferente, rompendo com padrões comportamentais tradicionais, que por tantos anos foram aceitas (STAUDT, 2007). Nesse sentido podemos ver a presença das diferentes configurações que vem se estabelecendo, assim na próxima categoria iremos analisar algumas dessas transformações. 3.3 Transformações na Parentalidade Essa categoria busca analisar quais essas transformações e como elas se estabeleceram na dinâmica familiar. As novas configurações familiares, segundo estudos de Wagner (2005), têm mostrado uma desconstrução do modelo de família tradicional e uma reelaboração dos papéis sociais refletindo diretamente nos papéis de mãe e pai. Página 149 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Ainda segundo a mesma autora, o que antes era organizado ao redor da figura do pai, este chefe que provia o sustento da família determinando um padrão de educação, porém colocando esse papel do cuidar, educar e repassar à mãe, que era quem ficava com os filhos na maior parte do tempo, já que sua vida era dedicada exclusivamente à casa. Hoje vemos que essa estrutura vem se dissolvendo aos poucos, e as novas configurações familiares vão se enquadrando às diversas formas de parentalidade. Podemos verificar essas transformações no discurso dos pais: Hoje, o pai é mais feminino, o pai é pai e mãe e a mãe é mãe e pai. Eu tenho alguns colegas, que trocam fraldas, da mamadeira, limpa ela, eu estendo roupa da minha filha (Participante 5). Antes era mais patriarcal, filho em segundo plano [...] hoje não é mais só o pai que vem provendo essa família, há uma democratização desse cuidado e responsabilidade [...] o pai não tinha disponibilidade para o filho [...] era a obrigação dele trabalhar (Participante 6). Mudou, havia um autoritarismo sem diálogo, e eu não acho que seja o mais certo, acho que tem que ter liberdade, com limites, mas na medida certa (Participante 7). As falas dos sujeitos apresentam a percepção dessas mudanças, relatam que havia um autoritarismo, em que a figura do pai emergia como chefe, provedor e detentor do poder na família, e por ter como obrigação esse sustento, acabava sem tempo ou não enxergava como seu papel a proximidade e afetividade com os filhos. E colocando para a realidade de hoje, relatam já enxergar esse pai e essa mãe de forma mais democrática, ambos com participações nos cuidados e provimento da família. Assim podemos ver que esses pais apresentam uma percepção dessas diversas transformações o que vem refletindo na sua participação na educação dos filhos. Educação essa que vem cada vez mais sendo dividida entre pai e mãe, ou seja, um verdadeiro compartilhamento de papéis. 3.4 Educação dos Filhos na Contemporaneidade Nessa categoria avaliamos como se dá a educação dos filhos dentro desse novo cenário, que vem emergindo dentro das famílias e como os pais percebem a importância dessa educação. O relato dos pais a seguir mostra como essa educação acontece nos dias de hoje. A forma como ele vai absorver essa criação [...] vai influenciar a forma como ele vai ver o mundo. O ambiente em que ele é criado e a forma como ele é tratado com certeza afeta a personalidade dele, o movimento dele, acho que tem total influencia dele (Participante 2). A gente se comporta da melhor forma e por modelo a gente quer que eles se espelhem (Participante 6). Estabelecer limites junto com a mãe [...] educar como um compromisso [...] há uma troca de experiências, não é autoritária, mas passar regras com responsabilidades de forma democrática. Se meu filho foi criado num meio harmônico, com diálogo, eu tenho certeza que ele vai fazer o mesmo (Participante 7). Observa-se que os pais já tem a conscientização de que a educação não se resume apenas ao contexto d estudo formal, mas engloba o estabelecimento de limites, repassar valores e crenças dessa família, ensinar a partir do exemplo, frisando a importância do diálogo conhecendo melhor o que se passa com o filho. Quando questionados acerca das consequências da sua participação no ambiente familiar, muitos pais relataram a importância de sua presença nesse contexto da educação dos filhos, colocando que a forma como ele, pai irá passar os seus valores, regras e educação influenciará a pessoa que o filho se tornará. Página 150 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 A forma como ele vai absorver essa criação que a gente vai tentar fazer com ele, vai influenciar a forma como ele vai ver o mundo (Sujeito 2). Aquilo que eu passo para minha filha é o que ela vai aprender, se eu dou um mal exemplo como é que eu vou cobrar dela ser um pessoa boa, se eu mesmo não ajuda em casa divido as tarefas como é que eu vou querer exigir delas alguma coisa (Sujeito 4). Assim, segundo Bottoli et al (2012), a educação dos filhos, na contemporaneidade, vem sendo pautada mais no diálogo e numa maior participação dos membros da família, tais quais mãe, pai e filhos, deixando de lado aquela educação autoritária e rígida. E essa educação vem acontecendo cada vez mais de forma compartilhada entre pai e mãe, é o que mostra a próxima categoria. 3.5 Compartilhando os Papéis na Parentalidade No processo de reformulação que a família contemporânea vem passando, presenciamos um crescente intercâmbio entre as funções materna e paterna, já que nos dias de hoje tanto os homens quanto as mulheres dividem seu tempo entre o trabalho fora de casa e os cuidados destinados aos filhos (DANTAS; JABLONSKI; CARNEIRO, 2004). Nessa categoria avalia-se a forma como se dá a divisão das tarefas no processo de educação e cuidados dos filhos. Os dois (pai e mãe) fazíamos tudo. Eu varro, limpo, lavo louça. Quando tinha que ensinar uma tarefa era quem pudesse na hora (Sujeito 4). Não tem mais aquela coisa de provedor [...] pai trabalha tanto quanto a mãe, educação tanto um como o outro [...] há um compartilhamento. A gente divide meio a meio, se ela precisa fazer algo, eu fico com ela ou vice-versa (Sujeito 5). Podemos perceber que essa definição dos papeis não esta bem definida e que a partir da necessidade da família, de sua organização e disponibilidade de cada um é que esses papeis vão sendo divididos (Sujeito 7). Evidenciamos que os pais estão exercendo funções no dia-a-dia dos filhos juntamente com a mãe, de acordo com a organização da casa, a disponibilidade de cada um, o que permite o pai atuar mais próximo dos filhos. À medida que isso vem acontecendo, torna-se cada vez mais inadequado enquadrar um papel fixo e definitivo de paternidade e/ou maternidade, percebendo que agora eles começam a fazer parte de um todo, englobando esse exercício de forma conjunta e compartilhada. Com esse cenário se modificando, o homem vem buscando aos poucos se inserir nessa nova relação participando cada vez mais da divisão de papéis. Atualmente já encontramos pais que conversam com os filhos, que ensinam as tarefas de casa, que vão deixar na escola, dão banho, colocam comida dentre outras atividades juntamente com essa mãe (WAGNER, 2005). Estes papéis domésticos exercidos pelos pais fortalece os laços familiares, a intimidade entre o pai e sua prole, e ainda, contribui para melhora nas relações conjugais. Apesar desse compartilhamento de tarefas esta cada vez maior, os pais apresentaram algumas dificuldades no que se refere ao exercício do seu papel. É o que se discute na categoria a seguir. 3.6 Dificuldades no Exercício do Papel de Pai Os sujeitos foram questionados quanto as dificuldade encontrados em exercer seu papel de pai na contemporaneidade. A partir dos dados coletados pode-se perceber que o tempo é uma variável importante que vem dificultando esse exercício. Vida corrida, nem sempre podemos estar juntos [...] é mais a noite que nos vemos. A gente trabalha muito [...] passo o dia fora, passamos pouco tempo juntos (Sujeito 4). Página 151 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 O que é difícil é conciliar com o tempo, o tempo de trabalho e de estudo e as atividades com ela, é o mais difícil. Todo tempo que tenho livre é para me dedicar a ela (Sujeito 6). Apesar de passar o dia trabalhando, só vejo ele a noite, a noite eu tento recuperar o tempo perdido, a gente fica bem próximos, olho as tarefas, o que ele fez no colégio. O tempo dificulta muito, mas acho que não nos afeta porque tento repor, tem que partir do pai procurar compensar isso (Sujeito 8). Hoje com cargas horárias de trabalho cada vez maiores os pais não conseguem passar tanto tempo em casa, consequentemente o tempo dedicado aos filhos também é reduzido. Assim, acabam levando-os para creches mais cedo, para passarem o dia integral nas escolas, colocá-los em aulas extras, dentre outros, perdendo-se assim muito do convívio e crescimento deles (NUCCI, 1997). Mesmo com as citadas dificuldades o que mais chama a atenção é a forma como esse novo pai vem se percebendo diante dessa nova realidade, com mais responsabilidade em lidar com essas dificuldade assumindo o compromisso de compensá-las ou buscar alternativas para administrar o tempo, visando potencializar o pouco tempo com os filhos. O que mostra uma verdadeira apropriação do seu compromisso enquanto pai. 4 CONCLUSÃO A presente pesquisa pôde constatar as diversas transformações que veem acontecendo ao longo dos anos na parentalidade. Os pais antes vistos como rígidos, autoritários e provedores, distantes da responsabilidade de educar e cuidar dos filhos, sem manifestação de afeto, hoje são vistos muito mais responsáveis pelo crescimento do filho, muito mais participativos no processo de educação. E mais importante, os pais sentem a necessidade de estar mais próximos de seus filhos, de manter uma relação pautada mais no diálogo, de forma mais democrática, com uma maior aproximação deles. Outra mudança fundamental para o novo arranjo familiar que vem surgindo foram os compartilhamentos nos papéis de pai e mãe, esse novo pai que lava e passa, limpa, dar a comida dos filhos, ensina tarefas escolares, coloca para dormir, está cada vez mais presente na sociedade contemporânea. Pode-se afirmar que há uma crescente reconstrução desse exercício da parentalidade. Ver hoje esse novo pai assumindo a responsabilidade de passar seus valores e crenças através do seu exemplo e seus ensinamentos é perceber a importância que ele acredita ter em exercer seu papel de pai. Assim como se verificou que eles tiveram como modelo seus próprios pais, mesmo que enxerguem de forma positiva ou negativa, e queiram hoje ressignificar esses papéis, os novos pais procuram também ser essa influência na vida dos filhos, acreditando que assim eles se espelharão neles. Assim, é evidente essa crescente busca em estar mais presente no cotidiano dos filhos, em participar de forma ativa na rotina doméstica, mesmo que com algumas dificuldades relacionadas com o tempo. Para os pais um dos empecilhos para criar mais intimidade e contato com os filhos esta relacionada com a administração do tempo, que cada vez está menor devido ao excesso de carga horária de trabalho, o que os distanciam dos filhos. No entanto, mesmo com essa dificuldade mostram-se dispostos a buscar potencializar seu pouco tempo com os filhos. Sabendo que sua maior participação na dinâmica familiar auxilia no desenvolvimento dos filhos e relacionamento familiar. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004. BARREIROS, G. F.; SZYMANSKI, H. A experiência de ser pai: um estudo fenomenológico sobre a constituição identitária. Revista Educação, Ciência e Cultura, Canoas, v. 18, n.1, Página 152 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 jan/jun, Educacao>. 2013. Disponível Acesso em: 20 em: <http://www.revistas.unilasalle.edu.br/index.php/ de out.2014. BOTTOLI, C. et al. 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Página 153 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 TRANSPLANTE RENAL EM UM HOSPITAL PRIVADO DE TERESINA: INCIDÊNCIA DE COMPLICAÇÕES CLÍNICAS E CIRÚRGICAS NOS PRIMEIROS SEIS MESES PÓSOPERATÓRIO KIDNEY TRANSPLANTATION IN A PRIVATE HOSPITAL IN TERESINA: THE INCIDENCE OF CLINICAL AND SURGICAL COMPLICATIONS OVER THE FIRST SIX POSTOPERATIVE MONTHS Denise Sampaio Mendes Freire1, Avelar Alves da Silva2 RESUMO INTRODUÇÃO: O transplante renal é hoje a melhor e mais efetiva terapia de substituição renal. Com o advento das novas drogas imunossupressoras, os pacientes receptores de transplante renal reduziram drasticamente os episódios de rejeição aguda. Entretanto, vêm enfrentado complicações inerentes ao uso de imunossupressores e ao transplante renal em si, destacando-se as infecções oportunistas. OBJETIVO: estabelecer a incidência de complicações clínicas e cirúrgicas em receptores de transplante renal nos primeiros seis meses pós-operatório em um hospital privado de Teresina. MÉTODO: Foram estudados 90 pacientes receptores de transplante renal de doadores vivos e falecidos, entre janeiro de 2010 e dezembro de 2013, através da análise de prontuários. RESULTADOS: Encontraram-se 86 episódios de complicações clínicas, destes foram 23 eventos infecciosos: ITU (15,56%), infecção por CMV (5,56%), infecção ginecológica (1,11%), herpes (2,22%) e pneumonia (1,11%). Foram 7 episódios de complicações cirúrgicas: infecção de ferida operatória (2,22%), estenose de uretra (1,11%), laceração de bexiga (1,11%), estenose de ureter do enxerto (1,11%), fístula urinária (1,11%) e hérnia incisional (1,11%). CONCLUSÃO: O presente estudo concluiu que dentre as complicações clínicas, a infecção do trato urinário foi a mais prevalente e entre as complicações cirúrgicas, as complicações urológicas foram mais prevalentes, seguidas das infecções de ferida operatória em pacientes de um único centro transplantador na cidade de Teresina. Palavras-chave: Transplante de rim. Complicações. Infecção. Imunossupressão. ABSTRACT INTRODUCTION: Nowadays, renal transplantation is the best and most effective renal replacement therapy. With the advent of new immunosuppressive drugs, patients receiving kidney transplantation dramatically reduced acute rejection episodes. However, they have faced complications associated with the use of immunosuppressants and the kidney transplant itself, mainly the opportunistic infections. OBJECTIVE: To establish the incidence of clinical and surgical complications in renal transplant recipients in the first six postoperative months in a private hospital in Teresina. METHODS: We studied 90 patients receiving kidney transplants from living and deceased donors between January 2010 and December 2013, through the analysis of medical records. RESULTS: There were 86 episodes of clinical complications, 23 of those being infectious events: ITU (15.56%), CMV infection (5.56%), gynecological infection (1.11%), herpes (2.22%) and pneumonia (1.11%). There were 7 episodes of surgical complications: wound infection (2.22%), urethral stenosis (1.11%), ___________________ de graduação (10o período) do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID/Devry. Email: [email protected] 2MD, PhD. Professor da Faculdade Integral Diferencial – FACID/Devry. Email: [email protected] 1Aluna Página 154 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 bladder laceration (1.11%), ureteral graft stenosis (1.11%), urinary fistula (1.11%) and incisional hernia (1.11%). CONCLUSION: This study found that among clinical complications, urinary tract infection was the most prevalent one and between surgical complications, surgical wound infection was the most prevalent individually. However, when considered together, urologic complications were more prevalent in the first six months after renal transplantation when compared to the surgical site infection in patients from a single transplant center in the city of Teresina. Keywords: Kidney transplantation. Complications. Infection. Immunosuppression. 1 INTRODUÇÃO O Transplante Renal (TxR) é o tratamento de escolha, o mais utilizado como Terapia de Substituição Renal (TSR), com melhora significativa na qualidade de vida dos receptores renais. Atualmente, o Brasil possui o maior sistema público de transplantes de órgãos e tecidos do mundo, encontrando-se em segundo lugar na realização desse procedimento, atrás apenas dos Estados Unidos (SAMPAIO et al., 2011). Manfro, Gonçalves e Moura (1998) demonstraram que a TSR é a melhor opção terapêutica e de reabilitação para pacientes com Doença Renal Crônica terminal (DRCt). Apesar disso, esta é uma forma de tratamento que ainda se encontra longe da perfeição, uma vez que órgãos transplantados são perdidos por diversas causas. O transplante renal é hoje a melhor e mais efetiva TSR e tem se tornado uma prática rotineira em muitos centros que tratam de DRCt em diálise. Com o advento das novas drogas imunossupressoras, os pacientes receptores de TxR reduziram drasticamente os episódios de rejeição aguda. Entretanto, vêm enfrentado complicações inerentes ao uso de imunossupressores e ao TxR em si, destacando-se entre as mais relevantes as infecções oportunistas e o maior risco de morte por doença cardiovascular (SABISTON JÚNIOR; TOWNSEND, 2003). Transplantar significa substituir um órgão ou tecido doente e sem função por outro sadio. Dentre os transplantes envolvendo órgãos sólidos, o TxR é o mais realizado em todo o mundo. É um procedimento de alta complexidade técnica e imunológica com necessidade de drogas imunossupressoras que têm como objetivo reduzir o risco de rejeição do aloenxerto, aumentar a sobrevida do enxerto e do receptor (SABISTON JÚNIOR; TOWNSEND, 2003). Segundo Sampaio et al. (2011), os princípios gerais do transplante incluem o conceito de que o paciente tenha benefício com o transplante em relação à diálise, que possua expectativa de vida de pelo menos cinco anos e que ele seja capaz de tolerar a intervenção cirúrgica, o estresse pós-operatório e as complicações em longo prazo, associadas à imunossupressão. Estudo realizado por Sousa et al. (2010) mostrou uma relação direta entre a terapia imunossupressora e a incidência e severidade dos eventos infecciosos, as quais são geralmente maiores nos primeiros meses após o transplante e estão diretamente relacionadas com a dose de imunossupressão utilizada na fase inicial do pós-transplante. Após a realização do transplante renal, além dos episódios de rejeição do enxerto, os processos infeciosos são preocupantes para as equipes transplantadoras e receptores de transplante renal, pois têm impacto negativo na sobrevida do paciente e no enxerto renal. Entre o segundo e o sexto meses predominam as infecções oportunistas causadas por agentes virais e fúngicos. Após o sexto mês, predominam as infecções comunitárias (SOUSA et al., 2010). Para estabelecer o perfil de complicações pós-operatórias de pacientes transplantados em um centro especializado de Teresina, procurou-se identificar aquelas mais frequentes e que resultaram em maior morbimortalidade após a terapia de substituição renal. O estudo epidemiológico destas complicações trará relevantes informações e subsidiará melhorias em sua prevenção e tratamento à comunidade médica e científica com interesse neste procedimento. Página 155 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo estabelecer a incidência de complicações clínicas e cirúrgicas em receptores de TxR nos primeiros seis meses após o transplante e comparar os resultados desta pesquisa com estudos publicados na literatura mundial.. 2 MATERIAL E METÓDOS 2.1 Procedimentos Éticos O estudo foi realizado e iniciado após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial (Facid)/DeVry e registrado junto à Plataforma Brasil, com anuência do Hospital (Hospital privado de Teresina) onde foram coletados os dados para o estudo e assinatura da Autorização de Fiel Depositário, respeitando os princípios éticos estabelecidos pela resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. 2.2 Método de Pesquisa Trata-se de um estudo epidemiológico, retrospectivo, transversal de levantamento e análise de prontuários, para a análise da incidência de complicações clínicas e cirúrgicas nos primeiros 6 meses após transplante renal. 2.3 Cenário e Participantes do Estudo Foram analisados os prontuários de todos os pacientes receptores de transplante renal de doadores vivos e doadores falecidos entre janeiro de 2010 e dezembro de 2013, dos quais retirou-se uma amostra de 90 pacientes para o estudo. Foram excluídos os pacientes que foram a óbito antes de 6 meses pós transplante por outras causas não relacionadas ao transplante renal e aqueles que migraram do centro transplantador antes dos 6 meses pós transplante. 2.4. Coleta dos Dados e Variáveis Estudadas O período de busca dos dados deu-se de agosto a dezembro de 2014, mediante aprovação do CEP na Facid/DeVry. As complicações foram identificadas através de sinais, sintomas, alterações laboratoriais e diagnósticos registrados nos prontuários dos pacientes selecionados para o estudo. As variáveis estudadas foram: a idade do receptor, gênero, tempo em meses e modalidade de diálise do receptor, a compatibilidade HLA com o doador (avaliada pelo número de mismatches incompatíveis), o tipo de doador (vivo ou falecido), idade e sexo do doador, primeiro transplante ou re-transplante renal, transfusões sanguíneas prévias ao transplante, o tempo de isquemia fria, o tipo de imunossupressão, a etiologia da DRC, perfil sorológico prévio ao transplante para CMV, hepatite B e hepatite C e as complicações clínicas e cirúrgicas no pós transplante até um período de 6 meses. A coleta das variáveis realizou-se através da análise dos prontuários dos pacientes incluídos na pesquisa. Os dados foram agrupados em formulário elaborado e preenchido pelo autor principal da pesquisa. 2.5 Organização e Análise dos Dados As variáveis foram tabuladas em uma planilha Excel da Microsoft Office e depois transferidos para uma planilha de banco de dados. Este banco de dados foi transferido para o pacote estatístico SPSS 21.0 da IBM. Os dados foram analisados com realização do teste estatístico Qui-Quadrado de Pearson. Os resultados foram apresentados em frequências, percentuais, médias, desvio padrão (DP), valores mínimos e máximos quando apropriados, e expostos em forma de tabelas elaborados pelo Word da Microsoft Office. Página 156 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Características epidemiológicas e clínicas dos pacientes As características epidemiológicas dos 90 pacientes incluídos neste estudo são mostradas na Tabela 1. Os pacientes que receberam transplante renal neste hospital privado de Teresina no período de 2010 a 2013 eram predominantemente do sexo masculino (61,11% versus 38,89%, p = 0,035). Tinham média de 37 anos de idade com DP de 10,9 e predomínio (33,34%, p = 0,001) na faixa etária de 35 a 44 anos. Com relação ao tempo de diálise, metade dos pacientes (50%, p = 0,001) tinham menos de 25 meses de diálise e 32,22% tinham tempo de diálise entre 25 a 50 meses (32,22%). A grande maioria dos pacientes receptores de TxR (90%, p = 0,001) realizava hemodiálise antes de receber o enxerto e apenas 2,22% realizaram diálise peritoneal. Uma pequena minoria (7,78%) realizou transplante preemptivo, ou seja, não passou por nenhuma modalidade de diálise prévia ao transplante. No presente estudo a grande maioria dos pacientes (97,78%, p = 0,001) eram receptores do primeiro TxR. Quanto ao número de mismatches incompatíveis predominaram aqueles com mais de 3 mismatches incompatíveis (62,22%, p = 0,0204). Com relação ao tempo de isquemia fria a média foi de 510,58 minutos, com DP de 746,85 minutos, prevalecendo em maior percentual (64,44%, p = 0,001) um tempo menor que 440 minutos. Uma maior parcela dos pacientes (81,11%, p = 0,001) não recebeu transfusões sanguíneas prévias ao transplante. Dentre os que foram previamente transfundidos, a quantidade média de transfusões foi de 1,8 com DP de 0,4. Em maior quantidade estão os que realizaram apenas uma transfusão (47,06%, p = 0,4655). Tabela 1. Características gerais e epidemiológicas de 90 pacientes receptores de transplante renal entre 2010 a 2013 de um hospital privado de Teresina. Variável Idade Tempo de Diálise Transfusões sanguíneas pré-TxR* Tempo de isquemia fria Gênero Masculino Feminino Faixa Etária < 25 anos 25 a 34 anos 35 a 44 anos 45 a 54 anos 45 a 54 anos Tempo de Diálise < 25 meses 25 a 50 meses 51 a 76 meses 77 a 102 meses > 102 meses Tipo de diálise Hemodiálise Diálise peritoneal Não fez Transplante renal 1o transplante Media (DP) 37 (10,9) 34,2 (25,51) 1,8 (0,4) 510,58 (746,85) n 90 90 90 % 100 100 100 P 55 35 61,11 38,89 0,0350# 11 28 30 12 9 12,22 31,11 33,34 13,33 10,00 0,001# 45 29 10 4 2 50,00 32,22 11,11 4,44 2,22 0,001# 81 2 7 90,00 2,22 7,78 0,001# 88 97,78 0,001# - Página 157 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Re-transplante Nº de Mismatches incompatíveis ≤3 >3 Tempo isquemia fria < 440 minutos 441 a 890minutos 891 a 1340 minutos 1341 a 1790 minutos > 1791 minutos Transfusão sangue pré-transplante Sim Não o N de transfusão pré-TxR Uma transfusão Duas transfusões Três transfusões 2 2,22 56 34 62,22 37,78 0,0204# 58 15 2 15 64,44 16,67 2,22 16,67 0,001# 17 73 18,89 81,11 0,001# 8 5 4 47,06 29,41 23,53 0,4655 Fonte: FREIRE, 2015. Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05; TxR*, transplante renal; DP – desvio padrão. Os valores foram expressos em n (%). Quanta à etiologia da DRC dos pacientes estudados, mostrada na Tabela 2, a grande maioria, 69 (76,67%), tinha etiologia indeterminada, 5 (5,56%) tinham Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), 3 (3,33%) tinham DM, 9 (10%) tinham Glomerulonefrites, 2 (2,22%) tinham Doença renal cística e 2 (2,22%) tinham Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES). Esta variável teve p = 0,0816. Tabela 2. Etiologia da doença renal crônica de 90 pacientes receptores de transplante renal entre 2010 a 2013 de um hospital privado de Teresina. Variável Etiologia da DRC* HAS** Diabetes Mellitus Glomerulonefrite crônica Doença renal cística LES*** Indeterminada n % P 5 3 9 2 2 69 5,56 3,33 10 2,22 2,22 76,67 0,0816 Fonte: FREIRE, 2015. Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05; *DRC, doença renal crônica; **HAS, hipertensão arterial sistêmica; LES***, lúpus eritematoso sistêmico. Os valores foram expressos em n (%). Na Tabela 3 estão expostas as sorologias realizadas previamente ao transplante. Observou-se que nenhum paciente apresentou CMV IgM positivo, 22% (p = 0,001) tiveram CMV IgG positivo, HbSAg e Anti-HCV foram não reagentes em 100% dos casos, dados expostos na Tabela 3. Página 158 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Tabela 3. Perfil sorológico de 90 pacientes receptores de transplante renal entre 2010 a 2013 de um hospital privado de Teresina. Variável CMV* lgM Positivo Negativo CMV lgG Positivo Negativo HbSAg** Reagente Não reagente Anti-HCV*** Reagente Não reagente N % P 90 100,00 - 20 70 22,22 77,78 0,001# 90 100,00 - 90 100,00 - Fonte: FREIRE, 20015 Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05; *CMV, citomegalovírus; **HbSAg, vírus da hepatite B; ***HCV, vírus da hepatite C. Os valores foram expressos em n (%). As drogas imunossupressoras utilizadas pelos sujeitos da pesquisa são mostradas na Tabela 4. A grande maioria dos pacientes (85%) usavam inibidores de calcineurina. Destes, a grande maioria (93,3%, p = 0,001) usava Tacrolimus. Micofenolato de Mofetil (MMF) foi usado em 82,22% (p = 0,001) dos receptores de TxR e a Prednisona foi usada em 100% dos pacientes. Tabela 4. Drogas imunossupressoras utilizadas por 90 pacientes receptores de transplante renal entre 2010 a 2013 de um hospital privado de Teresina. Variável Prednisona Sim Não Tacrolimus Sim Não Micofenolato de Mofetil Sim Não Micofenolato Sódico Sim Não Ciclosporina Sim Não N % P 90 - 100,00 - - 84 6 93,33 6,67 0,001# 74 16 82,22 17,78 0,001# 9 81 10,00 90,00 0,001# 1 89 1,11 98,89 0,001# Fonte: FREIRE, 2015 Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05. Os valores foram expressos em n (%). 3.2 Complicações clínicas e cirúrgicas A quantidade de pacientes que apresentaram complicações está exposta na Tabela 5. Não apresentaram nenhuma complicação 58,89% dos pacientes. Entre aqueles que apresentaram alguma Página 159 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 complicação, 13,51% tiveram complicações cirúrgicas e 97,29% tiveram complicações clínicas, com p = 0,0114. Tabela 5. Número de receptores de transplante renal em um hospital privado de Teresina entre os anos de 2010 a 2013 que tiveram complicações. Variável Tiveram complicações Cirúrgicas Clínicas N % 37 5 36 53 41,11% 13,51% 97,29% 58,89% P 0,0114# Não tiveram complicações Fonte: FREIRE, 2015. Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05. Os valores foram expressos em n (%). Dados expostos na Tabela 6 mostram que a complicação clínica mais encontrada foi ITU (15,56%). Diarreia ocorreu em 10% dos pacientes. As demais complicações clínicas tiveram percentuais menores de incidência. Tabela 6. Complicações clínicas encontradas nos receptores de transplante renal de um hospital privado de Teresina entre os anos de 2010 a 2013. Complicações Clínicas Diarreia Disfunção do Enxerto Distensão abdominal Prurido na garganta Tremor de extremidade N 9 5 2 1 4 % Litíase Vesical 1 1,11 Hemoconcentração 2 2,22 Anemia DM Descompensada Hematúria macroscópica ITU* Dor abdominal Edema facial TVP** Náusea / Vômito Tosse Produtiva Dor de garganta Infecção por CMV*** Infecção Ginecológica Alterações Psiquiátricas Alterações Dermatológicas Orquiepididimite Herpes Hiperuricemia Pneumonia HAS**** pós TxR***** DM****** pós TxR 3 3 1 14 5 1 1 5 1 1 5 1 1 2 1 2 2 1 2 3 3,33 3,33 1,11 15,56 5,56 1,11 1,11 5,56 1,11 1,11 5,56 1,11 1,11 2,22 1,11 2,22 2,22 1,11 2,22 3,33 10,00 5,56 2,22 1,11 4,44 Fonte: FREIRE, 2015. Legenda: *ITU, infecção do trato urinário; **TVP, trombose venosa profunda; ***CMV, citomegalovírus; ****HAS, hipertensão arterial sistêmica; *****TxR, transplante renal; ******DM, diabetes mellitus. Os valores foram expressos em n (%). Página 160 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Quanto às complicações infecciosas observou-se a presença de 23 eventos infecciosos: ITU, infecção por CMV, infecção ginecológica, herpes e pneumonia ocorrendo em 15,56%, 5,56%, 1,11%, 2,22% e 1,11% dos pacientes, respectivamente (Tabela 6). As complicações cirúrgicas são mostradas da Tabela 7. Observou-se infecção de ferida operatória em 2,22%, estenose de uretra em 1,11%, laceração de bexiga em 1,11%, estenose de ureter do enxerto em 1,11%, fístula urinária em 1,11% e hérnia incisional em 1,11% dos pacientes, com p = 0,9822. Tabela 7. Complicações cirúrgicas encontradas nos receptores de transplante renal de um hospital privado de Teresina entre os anos de 2010 a 2013. Complicações cirúrgicas N % P Infecção de FO* Estenose de uretra Laceração de bexiga Estenose de ureter do enxerto Fístula urinária Hérnia incisional 2 1 1 1 1 1 2,22 1,11 1,11 1,11 1,11 1,11 0,9822 Fonte: FREIRE, 2015. Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05; *FO, ferida operatória. Os valores foram expressos em n (%). O presente estudo teve como objetivo identificar a incidência de complicações clínicas e cirúrgicas em noventa pacientes receptores de transplante renal em uma instituição privada conveniada ao SUS. Quanto às características epidemiológicas dos receptores, observou-se que a grande maioria dos receptores (61,11%) eram do gênero masculino. Resultados semelhantes foram descritos no estudo de Pereira et al. (2006), que demonstram a distribuição total dos receptores para o transplante renal em lista de espera por gênero, sendo 58,3% do sexo masculino e 41,7% do feminino. Cherchiglia et al. (2010) também observaram que a maioria dos receptores de transplante renal era do sexo masculino. Dos 90 receptores estudados, apenas 2 eram re-transplantes (Tabela 1). Alves (2012) observou que dos 91 alo-transplantes renais realizados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, apenas 5 eram re-transplantes. Quanto à etiologia da DRC, o presente estudo mostrou que a grande maioria (76,67%) dos receptores renais tinham causa indeterminada, achado consonante com Pereira et al. (2006), que mostraram que o diagnóstico “outro”, representando causa indeterminada para DRC, foi maioria em seu estudo. Pesquisa realizada por Cherchiglia et al. (2010) mostrou que causa indeterminada foi a principal responsável por pela DRC, seguida de hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes melitus (DM) e glomerulonefrite. Em contrapartida, Alves (2012), ao estudar a etiologia da DRC, demonstrou que a maioria foi devido à HAS (27,7%), seguida por causas desconhecidas (14,9%) e glomerulonefrites (8,04%). Quanto às sorologias prévias ao transplante, 100% dos pacientes tinham HbSAg e Anti-HCV não reagentes (Tabela 3). Estes achados são divergentes com o estudo de Alves (2012), onde 9,8% dos pacientes apresentaram estado sorológico positivo para Hepatites no pré-transplante, sendo 3,2% para Hepatite B e 6,6% para Hepatite C. Quanto às drogas imunossupressoras utilizadas pelos receptores de transplante renal no presente estudo (Tabela 4), a prednisona foi utilizada em 100%, e o tacrolimus em 93,33% dos pacientes. Estes achados assemelham-se a alguns estudos como o de Alves (2012), onde aproximadamente 93% dos Página 161 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 pacientes utilizaram o imunossupressor tacrolimus. A prednisona, por sua vez, continua sendo uma das drogas mais prescritas no combate a episódios de rejeição (TILNEY; GUTTMANN, 1997). Todos os 90 pacientes estudados, antes da realização do transplante, tinham sorologia negativa para CMV. Nos primeiros seis meses após a cirurgia encontrou-se infecção por CMV em 5 (5,56%) pacientes, confirmada por pesquisa de antigenemia positiva em amostra de sangue periférico (Tabela 6). Estes achados divergem dos encontrados na literatura. Segundo Manfro, Noronha e Silva Filho (2004), a infecção por CMV é habitualmente observada entre 50 a 80% dos pacientes transplantados renais e geralmente ocorre nos primeiros seis meses após o transplante. No presente estudo, a infecção por CMV foi responsável por 21,74% dos eventos infecciosos encontrados, percentual maior que o relatado por Sousa et al. (2010), onde apenas 12% dos episódios de infecções foram atribuídos ao CMV. A incidência de episódios infecciosos durante os primeiros seis meses pós-transplante renal foi de 25,56%. Estes resultados, expressos na Tabela 6, mostraram que a prevalência de episódios infecciosos em receptores de transplante renal em nosso meio é menor que a observada em outras regiões do Brasil e em outros países de diferentes regiões do mundo. Alangaden et al., em 2006, estudaram 127 pacientes transplantados renais em um centro norte americano e observaram complicações infecciosas em 51% destes receptores de rim. De maneira semelhante, Pourmand et al. (2007) observaram uma frequência de 54,2% de episódios infecciosos em 172 pacientes acompanhados no primeiro ano após o transplante renal em um centro transplantador no Irã. Sousa et al. (2010) estudaram 1.676 receptores de transplante renal em São Paulo durante o primeiro ano de acompanhamento e eventos infecciosos foram observados em 49% dos pacientes. As principais complicações clínicas e cirúrgicas, analisadas como variáveis distintas neste estudo, foram ITU (15,56%) e infecção de ferida operatória (2,22%), (Tabela 6). Estes resultados são corroborados pelos achados de Sousa et al. (2010), onde nos primeiros meses após o transplante renal predominaram as infecções hospitalares, principalmente as localizadas no trato urinário e na ferida cirúrgica. Este trabalho mostra uma incidência de ITU inferior à descrita por Rivera et al. (2010) em seu estudo com 52 pacientes transplantados renais, no qual 37% dos pacientes apresentaram ITU de 3-75 dias após o transplante. Incidência ainda menor que a descrita por Alves (2012), que encontrou complicações infecciosas, como as do trato urinário, em aproximadamente 60% dos indivíduos no primeiro ano pós-transplante. Neste trabalho foram identificados 23 eventos infecciosos, dos quais a grande maioria (60,86%) foram ITU. Esta incidência foi maior que a encontrada por Sousa et al. (2010), que identificaram ITU em 31,3% dos eventos infeciosos. Ainda sobre complicações clínicas, diarreia foi a segunda mais incidente, com 10% dos pacientes acometidos (Tabela 6). Estudos comandados por Lee at al. (2014) identificaram alterações significativas na microbiota intestinal após transplante renal. Em estudo de Coste et al. (2013), com 49 receptores de transplante renal, foram identificados 54 eventos de diarreia grave; segundo estes autores, a diarreia é uma complicação frequente após o transplante renal, atribuída a efeitos adversos da terapia imunossupressora. Liapis et al. (2013) examinaram 43 biópsias de cólon de pacientes transplantados renais que receberam MMF e tiveram diarreia persistente, onde 33 apresentaram colite relacionada com MMF. O MMF está associado ao aumento da apoptose epitelial que parece ser um fator patogênico potencial de lesão da mucosa. Toda et al. (2005) analisaram os efeitos adversos do MMF em 28 transplantados renais e concluíram que infecção por CMV e diarreia foram os efeitos colaterais mais frequentes nos primeiros meses, sugerindo que o risco de diarreia aumenta com uma dose diária de MMF superior a 30 mg/kg/dia. Com relação às complicações cirúrgicas, vistas em 7,77% dos pacientes estudados, os resultados deste estudo tiveram uma incidência baixa quando comparada à observada na literatura mundial. Pérez et al. (2005) mostraram que de 185 transplantados, 27% tiveram complicações cirúrgicas. Esta pesquisa identificou infecção de ferida operatória em 2,22% dos receptores de transplante renal (Tabela 7). Comparativamente, Sousa et al., em 2010, demonstraram que infecções do sítio Página 162 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 cirúrgico corresponderam a 10,3% de todos os episódios de infecção analisados. Alangaden et al. (2006) demonstraram 7% de incidência de episódios de infecção em ferida cirúrgica em uma coorte de 127 pacientes transplantados renais. Dentre as complicações cirúrgicas encontradas neste estudo, 3,33% foram urológicas: estenose de uretra (1,11%), estenose de ureter do enxerto (1,11%) e fístula urinária (1,11%). Comparativamente, analisando a incidência de complicações cirúrgicas em transplante renal, Pérez et al. (2005) identificaram 3,2% de complicações vasculares (todos com estenose da artéria renal) e 6,4% de complicações urológicas (em percentagem semelhante de estenose e fístulas). Na presente pesquisa, nenhuma complicação vascular foi detectada, complicação descrita na literatura como eventos raros e potencialmente graves (SOUSA et al., 2013). 4 CONCLUSÃO O presente estudo concluiu que dentre as complicações clínicas, a infecção do trato urinário foi a mais prevalente, e entre as complicações cirúrgicas, a infecção da ferida operatória foi a mais prevalente individualmente. Entretanto, quando consideradas conjuntamente, as complicações urológicas foram mais prevalentes nos primeiros seis meses pós-transplante renal quando comparadas à infecção de sítio cirúrgico em pacientes de um único centro transplantador na cidade de Teresina. REFERÊNCIAS ALANGADEN, G. et al. 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A coleta foi realizada no período de Abril a Maio de 2015, utilizando-se um questionário semi-estruturado. O estudo envolveu cinco pacientes com sequelas neurológicas. Posteriormente os dados obtidos foram organizados em tabelas. Os resultados demonstram que 60% do total da amostra era feminina, 80% com nível médio completo, 80% apresentaram AVEI, cujo fator de risco mais predominante foi HAS, o dimídio mais afetado foi o esquerdo, onde 80% da amostra apresentou parestesia e 100% déficit de força e hipotonia. Palavras-chave: Perfil clínico-funcional. Hemiplegia. Acidente Vascular Cerebral. ABSTRACT The Encephalic Vascular Accident (EVA) is characterized as a sudden focal neurologic deficit that occurs in cerebral arteries, with two classifications, according to its etiology, ischemic or hemorrhagic. There are functional, motor, cognitive and sensory changes related to EVA. This research aimed to analyze the clinical and functional profile of patients affected by stroke with neurological deficits seen at a school clinic of a Higher Education Institution. This is a qualitative and quantitative study with a descriptive approach. The data were collected from April to May 2015, using a semi-structured questionnaire. The study involved five patients with neurological sequelae. Later, the data were organized in tables. The results show that 60% of the total sample was female, 80% with complete high school, 80% had ischemic stroke, the most prevalent risk factor was hypertension, the most affected hemibody was the left, 80% of the sample presented paresthesia and 100% deficit of strength and hypotonia. Keywords: Clinical profile. Hemiplegia. Stroke. ___________________ ¹ Professora do Curso de Fisioterapia da Facid. Email: [email protected] tel: 86 3233-2920 ² Aluna de graduação (10º período) do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DEVRY Email: [email protected] tel: 86 32132540 Página 165 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 1 INTRODUÇÃO O Acidente Vascular Encefálico (AVE) se define como uma patologia neurológica de ordem vascular que afeta o cérebro e, consequentemente, as funções neurológicas (ONOUE, 2014). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2012) é a segunda maior causa de óbitos na população adulta no mundo. No Brasil, foram mais de 100.000 óbitos em virtude do AVE apenas no ano de 2010 (DATASUS, 2010). Caracteriza-se como um déficit neurológico, compreendido por complexas interações nos vasos e nos elementos sanguíneos e nas variáveis hemodinâmicas, decorrente de uma lesão encefálica isquêmica ou hemorrágica (FURMANN, 2014). Esta lesão ocorre com instalação súbita e focal nas artérias cerebrais, tal como a artéria cerebral média (PIMENTEL, 2013). As causas e fatores de riscos que desencadeiam o AVE são principalmente doenças cardiovasculares, tais como a arteriosclerose, Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), hipercolesterolemia, como também a Diabetes Mellitus e a obesidade. Outros fatores como a hereditariedade, sedentarismo e o uso de anticoncepcionais orais também podem propiciar o surto vascular (CANCELA, 2008). O problema desta pesquisa é: Qual o perfil clínico-funcional de pacientes acometidos por AVE? A qual justifica-se a realização da mesma para fins de determinar o um perfil clínico-funcional dos pacientes que sofreram AVE, com finalidade de definir esse perfil dos indivíduos tratados pela instituição, apresentando-o aos participantes, como critério de avaliação para a evolução funcional durante o tratamento. Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa é determinar o perfil clínico-funcional de pacientes acometidos por AVE e os específicos são: identificar as comorbidades associadas à patologia neurológica e determinar o nível de funcionalidade dos participantes do estudo. Esta pesquisa poderá ser relevante para a criação e orientação de outros trabalhos que necessitem de dados relacionados as características clínicas e funcionais de pacientes com Acidente Vascular Encefálico, orientando aspectos que envolvam o perfil clínico-funcional destes pacientes. 2 MATERIAL E METÓDOS Este trabalho foi elaborado de acordo com a resolução 466/2012 e encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DeVry onde foi avaliado e, após ter sido aprovado pelo CEP, com o número do protocolo 34787814.8.0000.5211, iniciou-se a coleta de dados, posteriormente a assinatura do TCLE por todos os participantes. Esta pesquisa foi delineada como direta de método descritivo; transversal, não-probabilística. A pesquisa teve abordagem quanti-qualitativa, que envolveu descrição e análise em tabelas, com o objetivo de analisar o perfil clínico-funcional de pacientes acometidos por AVE. A pesquisa foi realizada na Clínica Escola de uma Instituição de Ensino Superior. A instituição foi escolhida devido à grande contribuição para a formação dos acadêmicos do curso de Fisioterapia e á quantidade de atendimentos realizados aos pacientes. A amostra deste estudo contou com a avaliação clínico-funcional de 5 voluntários com sequelas de Acidente Vascular Encefálico obedecendo-se os seguintes critérios de inclusão: pacientes neurológicos, de ambos os gêneros, com idade variando entre 30-80 anos, com sequelas sensitivas e/ou motoras de AVE, independentemente da etiologia e classificação da lesão vascular neurológica. Como critérios de exclusão, aqueles pacientes que não estão comparecendo regularmente ao tratamento na instituição foram excluídos da pesquisa. O número da amostra justifica-se pela estruturação de atendimento da instituição, visto que os pacientes recebem tratamento conforme o surgimento de novas vagas na clínica-escola e um número suficiente de alunos para o atendimento. A coleta de dados foi realizada do período de Abril a Maio de 2015, utilizando-se como instrumento de coleta de dados um questionário semi-estrutrado. Página 166 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O presente estudo teve como propósito a obtenção o perfil clínico-funcional dos pacientes que sofreram AVE e que são tratados em uma clínica-escola de Teresina – PI. Para tal fim, foi realizada uma avaliação neurológica em 5 pacientes. A Tabela 1 presenta o perfil da amostra em relação ao gênero e escolaridade. Tabela 1 – Perfil sociodemográfico Gênero Nº Masculino 2 Feminino 3 Escolaridade Ensino Médio ou superior 4 Ensino Fund. Incompleto 1 Fonte: Silva (2015) % 40% 60% 80% 20% Observa-se que houve uma prevalência do sexo feminino (60%) em relação ao masculino (40%). Este resultado concorda com o estudo de Santos et al (2012), que obtiveram resultados similares à predominância do gênero feminino, porém, Silva (2012) encontrou em seus achados que a doença incide mais em homens, mas afirma que a predisposição do AVE é igual em ambos os gêneros. Os dados referentes à idade variaram entre 30 e 78 anos. A média de idade dos pacientes analisados foi de 50, 8 ± 20,34. A prevalência do AVE correspondeu à faixa etária de 50 a 78 anos, correspondendo a três pacientes (60%) e os outros dois pacientes (40%) apresentam 30 e 31 anos. Segundo Barbosa et al (2009), a idade é um dos fatores de risco mais importantes para o acometimento do AVE e seus resultados corroboram com os encontrados nesta pesquisa, onde 59% da amostra possuía mais de 55 anos. André (2006) afirma ainda que o risco de AVE aumenta à medida que o indivíduo envelhece. É possível, na Tabela 1, analisar o perfil dos pacientes estudados nessa pesquisa quanto ao grau de escolaridade em relação à conclusão de diferentes níveis de ensino. Observou-se que 80% da amostra tinha bom grau de escolaridade, com nível médio completo ou superior incompleto, e apenas um participante não finalizou o ensino fundamental. Quanto ao que se refere à comorbidades associadas, a pesquisa traçou o perfil clínico dos participantes, com base em fatores de riscos apresentados pela literatura. Os resultados estão na tabela a seguir. Tabela 2 – Perfil da amostra à respeito da etiologia do AVE e comorbidades associadas Tipo Nº % Isquêmico 4 80% Hemorrágico 1 20% Comorbidades HAS 2 40% DM 1 20% Dislipidemia 1 20% Tabagismo/etilismo/uso de anticoncepcional 1 20% Nenhuma 2 40% Fonte: Silva (2015) Observa-se que uma porcentagem significativa da amostra (80%) apresentou AVEi, enquanto apenas um paciente (20%) afirmou ter sofrido AVEh. Tal resultado está de acordo com o encontrado Página 167 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 por Sodré (2013), que apresentou uma amostra com 42,85% de pacientes com AVEi, como também com a literatura, que afirma que o AVE mais comum é o isquêmico (BERNAL, 2008). Ainda na Tabela 2, é possível verificar que a HAS, DM, consumo de drogas, tais como tabaco e álcool e uso de anticoncepcional oral, estão presentes. Apesar da presença da HAS, sua relevância estatística não foi a mesma que a encontrada em estudos de Cancela (2008), onde apenas 14% da amostra apresentava HAS. O autor afirma que este achado não condiz com a afirmação de Santos (2012), que considera a HAS o principal fator de risco para o AVE, pois sua presença aumenta a incidência da doença cerebrovascular em três ou quatro vezes. Nos indivíduos da amostra, 40% não apresentou nenhuma comorbidade ou fator de risco associado ao AVE. Cancela (2008) afirma que possivelmente este fato está relacionado à uma má formação vascular cerebral ou o AVE é de origem idiopática, porém, em seus resultados, apenas 12% da amostra não apresentou fatores de riscos associados ao AVE. Ao que diz respeito às sequelas físicas funcionais, a pesquisa encontrou alteração em relação à força, onde 100% da amostra apresentou essa alteração, além de mão em garra e tremor de intenção ( Tabela 3). Tabela 3 – Dimídio e sequelas físicas funcionais presentes na amostra Sequelas funcionais Nº % Dimídio D 2 40% Dimídio E 3 60% Parestesia 4 80% Déficit de força 5 100% Mão em garra/afasia/disfagia/hipotrofia 1 20% muscular/tremor de intenção Pé em garra 2 40% Fonte: Silva (2015) O hemicorpo mais comprometido com as lesões neurológicas foi o esquerdo (60%), fato que não corresponde aos resultados encontrados por Rodrigues (2013), no qual o hemicorpo que apresentou maior déficit de funcionalidade foi o direito (54%), afirmando que a prevalência desse hemicorpo ocorreu em virtude apenas da ocasionalidade do local da alteração vascular cerebral. As alterações funcionais mais encontradas foram o déficit de força, presente em cinco pacientes (100%) e a parestesia, presente em 80% da amostra. Esse resultado corrobora com a pesquisa de Cappelari (2012), na qual 100% dos pacientes apresentaram hemiparesia ou hemiplegia. Estes dados também concordam e coincidem com os encontrados na pesquisa de Rangel (2013) a respeito do comprometimento motor que uma lesão neurológica pode desenvolver. Outra variante analisada nesse trabalho foi o tônus muscular, sequela física incapacitante e limitante, presente nos pacientes que sofrem AVE. Os resultados quanto à esta variável estão demonstrados na tabela a seguir. Tabela 4 – Perfil funcional do paciente quanto ao tônus TIPO DE TÔNUS Nº % Hipotonia MMSS 1 20% Hipotonia MMII 4 80% Hipertonia MMSS 4 80% Fonte: Silva (2015) A totalidade da amostra apresentou hipotonia, sendo que 80% dos voluntários apresentaram em membros inferiores e 20% em membro superior. A hipertonia também foi observada, onde 4 pacientes Página 168 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 apresentaram grau 1, de acordo com a Escala Modificada de Ashworth, em MMSS. A hipertonia encontrada não limitou tanto a funcionalidade quanto à hipotonia. Na Tabela 5 vê-se que todos os sujeitos da pesquisa apresentaram variação durante a avaliação do grau de força muscular. Tabela 5 – Perfil da força muscular Segmento corporal Grau Nº Hemicorpo D 1 1 MSE 3 1 MIE 1 1 Músculo/grupo muscular Panturrilha/tibiais 3 1 QDT´s D 3 1 Iliopsoas 2 1 Quadríceps 4 2 Bíceps/tríceps/tibiais 4 1 Flexores de punho 4 1 Ísquios 4 2 Fonte: Silva (2015) % 20% 20% 20% 20% 20% 20% 40% 20% 20% 20% Na pesquisa de Cappelari (2012), foi observado que 77% dos avaliados apresentava comprometimento motor severo e 22% apresentavam comprometimento moderado e o MMSS tinha mais comprometimento funcional do que os MMII. Tal achado não condiz com o encontrado nesta pesquisa, pois apenas 40%, que corresponde aos indivíduos que obtiveram grau 1 de força para hemicorpo direito e MIE, possuindo importante grau de comprometimento muscular e, consequente, os MMII com menos funcionalidade. Em relação ao tipo de paralisia, os dados obtidos estão representados na tabela 6, na qual a proporção da hemiparesia à direita e à esquerda foram iguais. Tabela 6 – Perfil dos pacientes quanto à paralisia Paralisia Nº Monoparesia MSD 1 Hemiparesia à E 2 Hemiparesia à D 2 Fonte: Silva (2015) % 20 40 40 Segundo Mazzola (2006), a paralisia que mais apresenta-se como alteração funcional característica da lesão dessa doença cerebrovascular é a paresia e suas variações (hemiparesia, monoparesia). Figueiredo (2014) encontrou em sua pesquisa 100% da amostra apesentando hemiparesia, condizente também com a afirmação de Mazzola (2006). Os dados obtidos por este estudo corroboram com este fato. Desta forma, a pesquisa também avaliou a marcha dos pacientes e u uso de meios auxiliares, conforme mostra a Tabela 7, levando em consideração que essas modificações e déficits podem comprometer a normalidade da marcha do indivíduo. Tipo de marcha Hemiparética Normal Meio auxiliar Tabela 7 – Perfil quanto ao tipo de marcha Nº 4 1 % 80% 20% Página 169 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Tutor longo e muleta canadense unilateral Muletas canadenses bilateral Muletas axilares bilaterais Fonte: Silva (2015) 1 20% 1 1 20% 20% Observou-se que 80% da amostra apresentava marcha hemiparética e o restante, correspondente à um sujeito, apresentou marcha normal. Cancela (2008) obteve em sua pesquisa que o tipo de macha mais predominante foi a hemiparética ou hemiplégica. Tal resultado está de acordo com os dados apresentados nesta pesquisa. Devido ao déficit de funcionalidade e alteração da marcha, possivelmente o paciente que sofreu AVE irá necessitar de meios auxiliares para sua locomoção e/ou transferência. Lor e McPherson (2011) afirmam que cerca de 20% de pacientes com déficit motor são capazes de sair de casa sem utilizar algum tipo de meio auxiliar. Além da motricidade, a avaliação da sensibilidade também foi realizada, conforme apresentase na Tabela 8 abaixo. Tabela 8 – Alterações de sensibilidade e teste de coordenação Alteração LOCAL Nº % Ombro E 1 20% Tátil Hemicorpo E 1 20% Hemicorpo D 1 20% Térmica Hemicorpo D 1 20% Dolorosa Hemicorpo D 1 20% Realizou com Realizou(Nº) dificuldade (Nº) Não realizou (Nº) TESTE Index-index 3 2 Index-nariz 1 3 1 Calcanhar-joelho 2 2 1 Fonte: Silva (2015) Bobath (1990) afirma que não somente o sistema motor é afetado quando o paciente é acometido por um AVE. O sistema sensorial também está sujeito a sofrer alterações e déficits decorrente da lesão cerebral. Foram encontradas na pesquisa 3 pacientes, correspondendo à 60% da amostra, com alterações de sensibilidade tátil e/ou térmica e/ou dolorosa. Lopes (2013) obteve dados semelhantes, onde 100% de sua amostra apresentou alterações de sensibilidade. Em pesquisa realizada por Torriani (2005), foi encontrado que pacientes com alteração de sensibilidade possuem mais dificuldade na transferência de peso para o lado parético, onde o autor chegou à conclusão de que a paresia associada à alteração da sensibilidade dificulta mais a reabilitação do paciente. Para avaliar o equilíbrio estático, variável também sujeita à alterações devido ao comprometimento neural, a pesquisadora realizou o teste de Romberg nos participantes. Os que apresentaram positividade em relação ao teste correspondem à 60%, apresentando oscilação do tronco. Outro parâmetro analisado nesta pesquisa foi a coordenação motora, também suscetível à alteração decorrente da leão encefálica. Para tal, foi realizado teste de index-index, index-nariz e calcanhar-joelho. Os resultados estão apresentados na tabela a seguir. Em relação à coordenação, Dias e Silva (2010) afirmam que pacientes que sofreram AVE possuem comprometimento na habilidade de executar AVD´s devido às sequelas motoras. Os sujeitos apresentam espasticidade, déficit de força muscular e deficiência permanente da coordenação motora e obteve em sua pesquisa que 83,7% da amostra não possuía coordenação motora preservada. Página 170 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Após determinadas as variações e alterações decorrentes da lesão do paciente, nos aspectos clínicos, da motricidade e sistema sensorial, o grau de funcionalidade da amostra foi medido através da Escala de Medida de Independência Funcional. Os resultados correspondentes aos cuidados pessoais estão a seguir: Tabela 9 - MIF motor: alimentação, auto cuidado, banho, vestir tronco superior, vestir tronco inferior, higiene íntima Cuidados pessoais Média dos escores obtidos dentro da amostra Alimentação 6,4 Higiene matinal 6,6 Banhar-se 6,4 Vestir tronco superior 6,2 Vestir tronco inferior 4,4 Uso do vaso sanitário 6,4 Fonte: Silva (2015) A média das atividades de cuidados pessoais teve uma variação de 6,2 à 6,6. Tal dado está semelhante ao apresentado por Fernandes (2012), que obteve variação de escore entre 5,9 à 6,6. O pesquisador avaliou essas atividades, principalmente a da alimentação, com um bom nível de funcionalidade apresentado pelos indivíduos devido ao fato desta ser uma atividade vital para sobrevivência e, dessa forma, a necessidade da excelência nessa função. Benvenutti (2008) afirma que o AVE é uma doença geradora de incapacidades, com perdas de independência e, muitas vezes, da autonomia, o que exige frequentemente a presença de alguém para auxiliar estes indivíduos no desempenho de suas atividades diárias. A exemplo disto, observa-se o baixo escore da atividade de vestir tronco inferior. O mesmo autor encontrou resultados semelhantes a este, com média do escore correspondente à 4,1 onde os dados corresponderam à menor média de escore das atividades avaliadas, resultado que corrobora com o desta pesquisa. Riberto (2007) associa o escore inferior deste item em específico referente aos cuidados pessoais ao quadro hemiplégico dos pacientes, visto que esta é uma atividade complexa que envolve grande variabilidade de habilidades necessárias para sua execução, tais como a força muscular nos membros inferiores, equilíbrio e coordenação. Como já apresentar o em resultados anteriores, os pacientes desta pesquisa apresentam variações de força, equilíbrio e coordenação, fatos condizentes com o argumento do autor. Esta escala avalia ainda a capacidade do paciente em controlar esfíncteres uretral e reta, além da medida da funcionalidade nas atividades de transferências, independência da marcha e o uso de escadas. Os resultados referentes à esta avaliação estão apresentados na tabela abaixo. Tabela 10 – MIF motora: controle de urina, fezes e transferências Controle de esfíncteres Média Controle de urina 7 Controle de fezes 7 Transferência Para cama/sanitário/cadeira/cadeira de rodas/chuveiro 6,2 Locomoção Independência da marcha 6,2 Subir/descer escadas 5,6 Fonte: Silva (2015) Página 171 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Como observado, o controle de urina e fezes obteve a maior pontuação dos itens da MIF, totalizando uma média de escore 7, onde representa que 100% da amostra tem total controle de esfíncteres uretral e retal. Tais resultados corroboram com os encontrados na pesquisa de Viana (2008) e Riberto (2007), onde este último afirma que o bom controle urinário e fecal está associado a um bom nível de cognição dos pacientes, justificativa em comum acordo com os dados apresentados nesta pesquisa. O item de atividades de transferência obteve um bom escore de funcionalidade, de acordo com os resultados obtidos por Fernandes (2012) que obteve dados que todas as atividades obtiveram uma média de 6,3 de escore. O autor afirma que este item é uma atividade motora que envolve complexas habilidades e concorda com Riberto (2007) ao que diz respeito ao envolvimento da força muscular, coordenação em equilíbrio, por ser uma atividade motora do membro inferior. De acordo com Riberto (2007), a existência dessas três atividades de transferência na MIF vem sendo alvo de críticas por autores que submeteram a escala como critério de avaliação funcional. A aferição da quantidade de cuidados da transferência para o banho, vaso sanitário, cama e cadeira parece redundante e pode supervalorizar a capacidade/deficiência dos MMII. Segundo Posele (2008), os pacientes que sofreram AVE possuem dificuldade em manter o peso no hemicorpo afetado, interferindo no controle postural, o que gera dificuldades na realização de movimentos do tronco e membros, fato que foi encontrado nos resultados desta pesquisa. O autor afirma ainda que o maior problema encontrado nos pacientes com este tipo de lesão é a perda da habilidade de andar. Porém, tal afirmação discorda dos dados encontrados na pesquisa, onde 100% da amostra deambulava, mesmo com uso de meios auxiliares. O item de subir e descer escadas foi avaliado também por Fernandes (2012), que encontrou o menor escore dentre as atividades motoras, fato que é semelhante com o resultado encontrado nesta pesquisa, onde este item é o segundo com menor escore, ficando atrás apenas de atividade de vestir tronco inferior, já discutida. O Mesmo autor justifica esse resultado pelo fato de essa atividade ser constituída por habilidades que apresentam maior nível de dificuldade de realização por parte de indivíduos hemiplégicos. Após avaliar o comprometimento motor, a MIF avalia a cognição, envolvendo os aspectos de interação social, resolução de problemas e memórias. Os resultados referentes à esta variável estão a seguir. Tabela 11– MIF cognitivo: compreensão, expressão, interação social, resolução de problemas e memória Cognição Média Compreensão 6,8 Interação social 6,6 Resolução de problemas 7 Memória 6,4 Fonte: Silva (2015) Quanto ao domínio cognitivo, observou-se que os indivíduos realizavam as atividades de forma totalmente independente, no qual o escore obtido foi consideravelmente alto, diferentemente dos resultados obtidos por Viana et al (2008), porém em comum acordo com a pesquisa de Riberto e Harumi (2007), onde este afirma que o convívio social, bem como o estímulo cognitivo constante podem ser fatores responsáveis por esse bom resultado. 4 CONCLUSÃO Observa-se que o perfil clínico-funcional dos voluntários desta pesquisa corresponde que a maioria pertence ao gênero feminino, com idade variando de 30 à 78 anos, apresentando um bom nível de escolaridade. Página 172 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 A HAS, AVE isquêmico e a parestesia apresentaram-se como os maiores incidentes, quanto à fatores de risco, etiologia e sequela neurológica, respectivamente Em relação à funcionalidade da amostra, foi observado que a maioria apresentava sequelas em hemicorpo esquerdo. A parestesia, o déficit de força, alterações da sensibilidade e coordenação são as alterações funcionais mais presentes, além da hipotonia de membro inferiores. Quanto à marcha, 80% apresentou marcha hemiparética, onde, entre esses, 60% fazem uso de meios auxiliares durante a locomoção. Foi possível observar bom nível de funcionalidade dos indivíduos estudados. Ao final da análise deste estudo, pode-se chegar à percepção da abrangência das alterações presentes em um paciente que sofre um AVE, levando em consideração a mudança que ela traz para a vida e o bem-estar de quem é afetado por ela.. REFERÊNCIAS André C. Manual de AVC. 2ªed. Rio de Janeiro: 2008. BARBOSA, M. A. R. et al. Prevalência da hipertensão arterial sistêmica nos pacientes portadores de acidente vascular encefálico atendidos na emergência de um hospital público terciário. Rev Bras Clin Med. 2009;7:357-360. BERNAL, A. Derrame: Manual do recomeço. 1ª ed. Barueri: Manole, 2008 BOBATH, B. Adult hemiplegia: evaluation and treatment. 3ª edition. Oxford: Butterworth Heinemann, 1990 CANCELA, D.M.G. O Acidente Vascular Cerebral – Classificação, principais consequencias e reabilitação, 2008 disponível em www.psicologia.com.pt DATASUS, Ministério da Saúde. 2010. (acessado http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sih/cnv/niuf.ef). em 2014, at FIGUEIREDO, K. O. caracterização da perfil de indivíduos acometidos de acidente vascular cerebral atendidos na clínica escola de fisioterapia da UEPB. Manografia: UEPB, 2014, 40p MAZZOLA, D. Perfil dos pacientes acometidos por acidente vascular encefálico assistidos na clínica de fisioterapia neurológica da universidade de passo fundo RBPS 2007; 20 (1) : 22-27 ONOUE, S. S. Audiological findings in aphasic patients after stroke einstein. 2014;12(4):433-9 PIMENTEL. D.C. Avaliação da composição de terapêuticas físicas para o tratamento da espasticidade de membro superior em hemiplégicos pós ave. Tese de doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: São Paulo: 2013. RIBERTO, M; HARUMI, M, et all. Independência funcional em pessoas com lesões encefálicas adquiridas sob reabilitação ambulatorial. ACTA FISIATR 2007; 14(2): 87 – 94 RODRIGUES. J. E. Perfil dos pacientes acometidos por AVE tratados na clínica escola de fisioterapia da UMESP. Revista Neurociências V12 N3 - JUL/SET, 2004 SANTOS, W M, et all. Perfil epidemiológico dos pacientes sequelados de acidente vascular cerebral: um estudo transversal. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, v.8, n.15; p. 2012. Página 173 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 SODRÉ, D. de O. Análise do perfil epidemiológico de pacientes com acidente vascular encefálico atendidos na clínica escola de saúde do unifor. Monografia. Unifor, 2013 VIANA, F. P; LORENZO, A. C; OLIVEIRA, E. F., RESENDE, S. M. Medida de Independência Funcional nas atividades de vida diária em idosos com seqüelas de acidente vascular encefálico no Complexo Gerontológico Sagrada Família de Goiânia. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2008; 1(1):17-28. Página 174 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 NORMAS EDITORIAIS Página 175 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Página 176 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 NORMAS EDITORIAIS DA REVISTA FACID CIÊNCIA & VIDA A Revista FACID Ciência & Vida objetiva a divulgação da produção científica e técnica dos professores, alunos e técnicos da Faculdade Integral Diferencial, bem como de profissionais da comunidade. A Revista tem periodicidade semestral e está aberta à publicação de trabalhos na forma de ARTIGOS, ENSAIOS e RESENHAS, os quais devem falar sobre temas nas áreas da Saúde, Ciências Humanas, Ciências Sociais, Tecnologia, dentre outros, fomentando a análise e reflexão de idéias, experiências e resultados de pesquisas, experiências de vida e manifestações artísticoculturais, contribuindo para o desenvolvimento científico e cultural do País. ARTIGOS – Texto que discute um tema investigado para publicação de autoria declarada, que apresenta título em português e em inglês, nome dos autores, resumo e abstract do texto, palavraschave e key-words, introdução, material e métodos, resultados e discussão, conclusão, referências , apêndices e anexos (opcionais). Serão considerados “artigos de revisão” os textos que discutam temas com base em informações já publicadas. Quando se tratar de artigo de revisão esta deverá ser, preferencialmente, do tipo sistemática e deverá apresentar: título, autor, resumo, palavras chave, abstract, key-words, introdução, discussão do tema com base na pesquisa bibliográfica, conclusão, e referências. O artigo não deve ultrapassar 15 (quinze) laudas. Título - Deve ser conciso, claro e objetivo, evitando-se excesso de palavras ou expressões como: “Avaliação de...,” “Considerações acerca de.....” “Estudo sobre ....”. Deve ter no máximo 15 palavras. Apenas a primeira letra da primeira palavra deve ser maiúscula. Título em inglês - Transcrição do título em português. Nome dos autores - Devem ser apresentados os nomes completos, sem abreviatura, abaixo do título com somente a primeira letra maiúscula, um após outro, separados por vírgula e centralizados. Em nota de rodapé na primeira página deve-se apresentar de cada autor a afiliação completa (Titulação/ vinculação, instituição, cidade e Estado, endereço eletrônico). O número de autores não deverá ser maior que cinco. Os autores pertencentes a uma mesma instituição devem ser mencionados em uma única nota, utilizando o sobrescrito correspondente. Resumo e Abstract - Devem ter no máximo 250 palavras, descrevendo o objetivo, material e métodos, resultados e conclusão em um só parágrafo. O Abstract deve ser a transcrição do resumo. Palavras-chave e key words - Devem ser no mínimo três e no máximo cinco termos para indexação, que identifiquem o conteúdo do artigo, os quais não deverão constar no título. Para a escolha dos termos para indexação (descritores) na área de saúde, deve-se consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde – DECS” , elaborado pela BIREME (disponível em http://decs.bus.br) ou na lista da “Mesh-Medical Subject Headings” (disponível em http:// nlm.nih.gov/mesh/mbrowser.html). Introdução - Deve ser compacta e objetiva, definindo o problema estudado, demonstrando sua importância e lacunas do conhecimento que serão abordadas no artigo. As citações presentes devem ser atualizadas e pertinentes ao tema, adequadas à apresentação do problema, sendo empregadas para fundamentarem a discussão. Os objetivos e hipóteses deverão ser contextualizados nesta sessão. Não deve conter mais de 550 palavras. Página 177 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Material e Métodos - Os métodos bem como os materiais devem ser detalhados de modo que possam ser confirmados, incluindo os procedimentos utilizados, universo e amostra. Indicar os testes estatísticos utilizados. As questões éticas devem ser apresentadas nesta sessão. Resultados e Discussão podem conter figuras e/ou tabelas, contudo os dados nesta forma não devem ser repetidos no texto. Os resultados devem ser apresentados em uma sequência lógica. As tabelas e figuras devem trazer informações distintas ou complementares entre si. Os dados estatísticos devem ser descritos nesta sessão. A discussão deve ser pertinente apenas aos dados obtidos, evitando-se hipóteses não fundamentadas nos resultados. Deve-se relacionar-se aos conhecimentos existentes e aos apresentados por outros estudos relevantes. Deve, sempre que possível, incluir novas perspectivas de pesquisas. Conclusão - Deve estar fundamentada nas evidências disponíveis e pertinentes ao objeto de estudo. As conclusões devem ser claras e precisas. Deve-se relacionar os resultados obtidos com as hipóteses apresentadas. Podem ser apresentadas sugestões para outras pesquisas que complementem o estudo ou para outros problemas surgidos no desenvolvimento. Referências - O artigo deverá apresentar no máximo 25 citações, sendo a maioria, preferencialmente, em periódicos dos últimos cinco anos. No caso de artigos de revisão, deverão ser apresentadas no máximo 35 citações. Devem incluir todos os autores referenciados no texto. Apêndice - Informações complementares produzidas pelo autor, como o questionário aplicado, termo de consentimento livre e esclarecido, roteiro de entrevistas. É opcional. Anexos - Informações complementares, como documentos e ilustrações, retiradas da bibliografia. Ítem opcional. ENSAIOS – Texto que expõe estudos realizados com as conclusões a que se chegou. Pode ser de caráter informal, no qual se destaca a liberdade e emoção criadora do autor e pode ser caracterizado como formal, onde a brevidade, serenidade e o uso da primeira pessoa podem ser utilizados. Neste tipo de publicação é marcante a presença do espírito problematizador, sobressaindo o espírito crítico e a originalidade do autor. Deve apresentar temas atuais e de interesse coletivo. Pode ter até 10 (dez) páginas. RESENHAS – resumo crítico de livros publicados ou no prelo que podem suscitar no leitor o desejo de ler a obra integralmente. Este texto deve ter, no máximo 5 laudas e deve ser escrito informando o título da obra, nome completo do autor, editora e ano publicado. Instruções aos Colaboradores 1 Os trabalhos devem ser preferencialmente inéditos e redigidos em língua portuguesa, sendo seu conteúdo de inteira responsabilidade dos autores. 2 Os textos para publicação devem ser acompanhados de uma correspondência ao Editor solicitando que o texto seja publicado. Uma vez recebidos, os textos serão submetidos à apreciação do Conselho Editorial e dois conselheiros, no mínimo, decidirão sobre sua aprovação para publicação, podendo ocorrer que o texto seja devolvido ao seu autor para alterações e/ou correções. 3 O texto deve ser digitado na fonte Times New Roman tamanho 12, espaço 1,5 entre linhas, margens superior e esquerda de 3 cm, margem inferior e direita de 2 cm, papel formato A-4. No resumo e abstract o espaçamento deverá ser simples. Página 178 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 4 As tabelas para apresentação de dados devem ser numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, encabeçadas pelo título, com indicação da fonte após a linha inferior. Todas as tabelas inseridas devem ser mencionadas no texto. O texto deve ser em fonte Times New Roman, estilo normal e tamanho 12. 5 Para a inserção de ilustrações (quadros, gráficos, fotografias, esquemas, algoritmos etc), deve-se numerá-las consecutivamente com algarismos arábicos, com indicação do título na parte superior e da fonte após o seu limite inferior e indicadas no texto em que devem ser inseridas. Gráficos, fotografias, esquemas e ilustrações devem ser denominados como figuras. O texto deve ser em fonte Times New Roman, estilo normal e tamanho nove. Devem ser inseridas logo abaixo do parágrafo em que foram citadas pela primeira vez. As figuras agrupadas devem ser citadas no texto como: Figura 1A; Figura 1B; Figura 1C; etc. As figuras devem ter no mínimo 300dpi. 6 As citações no texto devem ser organizadas de acordo com as normas vigentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT - 10520) - formato autor-data. 7 A lista de referências deve ser organizada em ordem alfabética e de acordo com as normas ABNT – 6023 (espaço simples entre linhas e um espaço simples entre uma referência e outra). Modelos de referências bibliográficas Livros (um autor) SOARES, L. S. Educação e vida na República. 4.ed. São Paulo: Letras Azuis, 2004. Livros (dois autores) ROCHA, B.; PEREIRA, L. H. Cuidando do enfermo. São Paulo: Manole, 2001. Livros com mais de três autores POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. Capítulos de livros OLIVEIRA, A. A. S. de; VILLAPOUCA, K. C. Perspectivas epistemológicas da bioética brasileira a partir da teoria de Thomas Kuhn. In: GARRAFA, V.; CORDÓN, J. (Orgs.). Pesquisa em bioética: bioética no Brasil hoje. São Paulo: Gaia, 2006. p.35-50. Artigos de periódicos empressos com mais de três autores PEREIRA, Q. L. C. et al. Processo de (re)construção de um grupo de planejamento familiar: uma proposta de educação popular em saúde. Texto e Contexto Enferm, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 3205, abr/jun. 2007. Teses ABBOTT, M.P. Modificações oxidativas de proteínas em presença de complexos de cobre(II). 2007. 130f. Tese de doutorado (Programa de Pósgraduação em Química) Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Artigo de jornal assinado DIMENSTEIN, G. Escola da Vida. Folha de São Paulo, São Paulo, 14 jul. 2002. Folha Campinas, p. 2. Página 179 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Artigo de jornal não assinado FUNGOS e chuva ameaçam livros históricos. Folha de São Paulo, São Paulo, 5 jul. 2002. Cotidiano, p. 2. Artigo de periódico formato eletrônico VRAKEN, M. V. Prevention and treatment of sexuality transmitted diseases: an updates. American Family Physican. v. 76, n. 12, p. 1827-1832, dez. 2007. Disponível em: < www.aafp.org/afp>. Acesso em: 29 de março de 2010. Decretos, Leis BRASIL. Decreto n. 2.134, de 24 de janeiro de 1997. Regulamenta o art. 23 da Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a categoria dos documentos públicos sigilosos e o acesso a eles, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 18, p. 1435- 1436, 27. jan. 1997. Seção 1. Constituição Federal BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Trabalho publicado em Anais de Congresso MARTINS, I. S.; SILVA FILHO, F. J. V.; ALVES NETO, F. E. Abordagemcirúrgica em ginecomastia gigante em pseudo-hermafrodita masculino. In: I JORNADA DE MEDICINA DA FACID, 2005, Teresina. Anais da I Jornada de Medicina da FACID. Teresina, Gráfica do Povo, 2006, p.212. 8 Acompanha o texto uma folha com o título e nome completo do autor e/ou autores com a filiação profissional e a qualificação acadêmica do(s) autor(es), os endereços postal e eletrônico, inclusive o telefone (folha modelo). 9 O original do trabalho a ser publicado deve ser entregue em uma via impressa e em CD (processador Word for Windows), pelos correios ou via e-mail: [email protected]. Ao Conselho Editorial é reservado o direito de publicar ou não o trabalho. 10 A publicação do trabalho não implicará na remuneração de seus autores. O autor responsável pela submissão do artigo receberá um exemplar do fascículo por artigo publicado. 11 A revista não se obriga a devolver os artigos recebidos, publicados ou não. 12 O artigo a ser publicado deve ser entregue na FACID. O autor responsável pela submissão do artigo deverá anexar e assinar os seguintes documentos: Declaração de Responsabilidade e Transferência de Direitos Autorais. Página 180 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 Modelos de páginas (em separado) que devem acompanhar o artigo Página 181 Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015 OBS: As submissões que não atenderem às normas acima apresentadas não serão encaminhadas para análise dos consultores, sendo imediatamente recusadas para publicação na Revista FACID Ciência & Vida. Conselho Editorial da Revista FACID Ciência & Vida A/C Esp. Maria Helena Chaib Gomes Stegun Rua Veterinário Bugyja Brito, 1354 - Horto Florestal. Cep: 64052-410/ Teresina-PI. Tel.: 3216-7931 • Email: [email protected] Página 182