a revista do conhecimento humano publicada pela FACID Teresina

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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
a revista do conhecimento humano publicada pela FACID
Teresina - PI
Semestral
ISSN 2358-3142
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Página 2
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As opiniões e artigos expressos aqui são de inteira
responsabilidade dos autores.
Periodicidade Semestral
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Editor - responsável
Maria Helena Chaib Gomes Stegun
Projeto Gráfico
Castino Martins da Silveira e Luiz Carlos dos Santos Júnior
Revisão
Antonia Osima Lopes, Maria Helena Chaib Gomes Stegun, Maria Rosilândia Lopes de Amorim.
Jornalista Responsável
Marcos Sávio Sabino de Farias - MTB 1005
Impressão
Gráfica
Capa
Amanda Paiva e Silva Martins
Catulo Coelho dos Santos
George Mendes Ribeiro Sousa
Juciara Freitas Ribeiro
(Egressos do Curso de Publicidade e Propaganda da FACID)
Revista Facid: Ciência & Vida / Faculdade Integral Diferencial.
V. 11, N. 2, 2015 / Teresina: FACID, 2015.
Semestral
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1. Pesquisa científica. 2. Desenvolvimento científico.
CDD 509
CDU 001.891
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FACID - Faculdade Integral Diferencial
Integral - Grupo de Ensino Superior do Piauí S/C Ltda.
Maria Josecí Lima Cavalcante Vale
Diretora Geral
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Coordenadora Geral Acadêmica
Maria Helena Chaib Gomes Stegun
Coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação
Conselho Editorial da Revista
Antonia Osima Lopes
Maria Helena Chaib Gomes Stegun
Hilris Rocha e Silva
Isabel Cristina Cavalcante Moreira
Maria do Carmo Bandeira Marinho
Maria Josecí Lima Cavalcante Vale
Nivea Maria Ribeiro Rocha da Cunha
Thais Barbosa Reis
Valéria de Deus Leopoldino de Arêa Leão
Bibliotecária
Marijane Martins Gramosa Vilarinho - CRB/3 – 1059
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EDITORIAL
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EDITORIAL
O ensino, a pesquisa, bem como a extensão, fazem parte do cotidiano acadêmico de qualquer
instituição de ensino superior, uma vez que são partes indissociáveis do ensino de qualidade. A
DeVry/FACID tem como propósito a integração dessas três atividades visando a formação de
profissionais de excelência, além do mais, a pesquisa possui uma relevância estratégica na produção
de conhecimentos para o desenvolvimento científico e tecnológico da nação.
Com o crescimento acelerado do conhecimento e o acesso rápido à informação nos últimos
anos, tornou-se impraticável o ensino baseado exclusivamente na transmissão de conhecimentos. A
pesquisa científica está presente em todos os currículos das instituições de ensino, demonstrando
assim sua importância no meio profissional. O mercado de trabalho está exigindo cada vez mais do
profissional, que tenham não só conhecimentos teóricos, mas que possam realizar uma prática
buscando a produção de novas ideais e conhecimentos.
Partindo do princípio que o conhecimento não é algo acabado, mas em construção, uma vez
que o mundo não é estático e o próprio homem está em permanente transformação, modificando
assim a própria sociedade, muitas descobertas estão sendo feitas para atender as necessidades da
população. O desafio das instituições de ensino superior hoje é formar indivíduos críticos que sejam
capazes de buscar conhecimentos e de saber utilizá-los, buscando respostas as suas dúvidas quando
estas respostas não estão disponíveis, utilizando a pesquisa como meio.
Assim, o ensino superior tem como pressuposto a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão, objetivando a construção de soluções individuais e coletivas conscientemente posicionadas
em favor do desenvolvimento sociocultural da humanidade e esse conhecimento não poderá ficar
guardado dentro da instituição, mas o trabalho produzido deve se disseminado através de
apresentações em congressos, semanas cientificas e publicações em Anais , Jornais e Revistas
científicas, para que possa contribuir com a sociedade.
Com esse propósito, a Revista FACID Ciência & Vida mantém, na sua 2ª edição do ano de
2015 o compromisso com a divulgação de estudos e pesquisas e tem como enfoque os dados gerados
através dos trabalhos de conclusão de curso e o Programa de Iniciação Científica e Tecnológica
(PICT). Com esse compromisso, no volume 12, edição nº 2 de 2015, contamos com dezessete artigos,
dentre eles artigos originais e artigos de revisão. Esta edição conta com artigos nas áreas de
Psicologia, Medicina, Fisioterapia, Farmácia e Odontologia.
Dentre os artigos da área da saúde, podemos identificar discussões de temas complexos e de
diferentes contextos, desde esclarecimentos da comunidade sobre o uso adequado de plantas
medicinais no trato das enfermidades à pesquisa sobre o uso indiscriminado de benzodiazepínicos,
trazendo uma reflexão para a necessidade do treinamento dos médicos a respeito.
A Fisioterapia e a Medicina nos presenteiam com pesquisas experimentais e de campo que
tratam de temas atuais, como a verificação da eficácia do método de eletroestimulação na constipação,
estudos sobre incontinência urinária feminina, Acidente Vascular Cerebral. A constatação da
ocorrência de infecção do trato urinário, sobretudo em gestantes primíparas, e a identificação do tipo
de infecção mais prevalente, assim como identificação de complicações em transplantes renais, dentre
outros artigos.
Podemos também adentrar a uma revisão bibliográfica sobre o uso do retalho fasciocutâneo
sural como opção terapêutica para a reconstrução cirúrgica de lesões com exposição de áreas pouco
vascularizadas.
Essa edição apresenta também uma pesquisa experimental com ratos, chamando a atenção do
uso de suplementos a base de proteína do soro do leite, o que abre espaço para a utilização indevida
dos mesmos, pelos esportistas podendo traduzir-se em riscos para a saúde.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
A Psicologia vem nos presentear com um estudo atual sobre a parentalidade, discutindo o
exercício dos papéis dos pais dentro de uma sociedade contemporânea.
Diversos artigos produzidos pelos alunos de Odontologia relatam pesquisas na área de
oclusão, uso de drogas e infiltração, com pesquisas de campo que vêm contribuir para o avanço na
área.
Os temas são vastos e de grande relevância para a sociedade, mostrando cada vez mais a
qualidade da produção dos alunos e o interesse por pesquisa.
Boa leitura!
Maria Helena Chaib Gomes Stegun
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
SUMÁRIO
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SUMÁRIO
ARTIGOS
ABORDAGEM
FISIOTERAPÊUTICA
DE
MULHERES
COM
INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Thainara Valente de Amorim Alves¹, Evandro Nogueira Barros Filho² ...........................
17
AVALIAÇÃO FUNCIONAL E MORFOESTRUTURAL DO RIM DE RATOS
WISTAR APÓS O USO DE SUPLEMENTO ALIMENTAR A BASE DE
PROTEÍNA
Andressa Alves de Andrade Silva1, Antônio Gonçalves Rodrigues Junior2.......................
26
O CONHECIMENTO DOS MÉDICOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE
SOBRE OS BENZODIAZEPÍNICOS
Karoline Cruz Silva¹ , Marília Ione Futino2........................................................................
39
DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS E SUAS PRINCIPAIS MANIFESTAÇOES
BUCAIS
Giselle da Silva Oliveira¹; Eliana Campêlo Lago² .............................................................
46
OS EFEITOS DA ELETROESTIMULAÇÃO EM MULHERES COM
CONSTIPAÇÃO
Kelly Serejo Machado¹ , Veruska Cronemberger Nogueira Rebêlo2...................................
56
INFECÇÃO URINÁRIA EM GESTANTES QUE REALIZARAM O PRÉ-NATAL
DE ALTO RISCO EM UMA MATERNIDADE DE REFERÊNCIA
Luanna Dias dos Reis Crisanto Leão¹, Isabel Cristina Cavalcante Carvalho Moreira²......
66
INFLUÊNCIA DO ESTADO NUTRICIONAL NAS ATIVIDADES DE VIDA
DIÁRIA (AVDS) EM IDOSOS
Daniel Fialho de Oliveira Sampaio¹ , Adeildes Bezerra de Moura Lima2............................
72
O USO DO RETALHO FASCIOCUTÂNEO SURAL REVERSO: UMA REVISÃO
DE LITERATURA
Joassan Perys Antonio de Araújo¹, Edison de Araújo Vale², Marcella Silva Marcos³.......
79
MICROCORRENTE GALVÂNICA E PEELING QUÍMICO DE ÁCIDO
GLICÓLICO PARA TRATAMENTO DE ESTRIAS ALBAS
Raphaela Gonçalves Silva ¹, Juçara Gonçalves de Castro2 .................................................
90
INFILTRAÇÃO MARGINAL EM RESTAURAÇÕES DE RESINA COMPOSTA
APÓS CLAREAMENTO DENTAL COM PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO 35%
Natércya Brenda de Araújo Cavalcante¹, Conceição de Maria Probo de Alencar Batista²..
97
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
OCORRÊNCIA DE BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES EM UMA UNIDADE
DE TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA DE HOSPITAL PÚBLICO DE
TERESINA-PI
Ylara Liza Porto de Carvalho1 , Carlos Leonardo Evangelista Bento dos Santos2 ,
Guilherme Henrique Mendes Leal de Sousa Martins3 , Maria Clara Pimentel Lopes 4 ,
Géssica Kelly de Sousa Andrade5 ......................................................................................
106
USO DE PLANTAS MEDICINAIS POR USUÁRIOS DE UM AMBULATÓRIO
ESCOLA EM TERESINA-PI
Robson de Carvalho da Silva 1 , Jairelda Sousa Rodrigues2 , Rosemarie Brandim
Marques3..............................................................................................................................
117
ABORDAGEM
FISIOTERAPÊUTICA
DE
MULHERES
COM
INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Thainara Valente de Amorim Alves¹, Evandro Nogueira Barros Filho².............................
126
PROPORÇÕES DE IGUALDADE E ÁUREA EM MEDIDAS CRÂNIO-FACIAIS
DE INDIVÍDUOS EM FASES DISTINTAS DO CRESCIMENTO
Márcia Valéria Martins 1, Edmundo Médici Filho 2.............................................................
136
SER PAI NA CONTEMPORANEIDADE: A VISÃO DO HOMEM SOBRE A
PARENTALIDADE
Marcelle Beatriz Moraes Sousa1 , Milene Martins2 .............................................................
146
TRANSPLANTE RENAL EM UM HOSPITAL PRIVADO DE TERESINA:
INCIDÊNCIA DE COMPLICAÇÕES CLÍNICAS E CIRÚRGICAS NOS
PRIMEIROS SEIS MESES PÓS-OPERATÓRIO
Denise Sampaio Mendes Freire1, Avelar Alves da Silva2....................................................
154
O PERFIL CLÍNICO-FUNCIONAL E DEMOGRÁFICO DE PACIENTES
ACOMETIDOS POR ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
Ana Flávia Machado de Carvalho¹, Gabriela Feitosa da Silva ²..........................................
165
NORMAS EDITORIAIS ................................................................................................
177
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
ARTIGOS
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA DE MULHERES COM INCONTINÊNCIA
URINÁRIA DE ESFORÇO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
PHYSIOTHERAPY APPROACH FOR WOMEN WITH STRESS URINARY
INCONTINENCE: A LITERATURE REVIEW
Thainara Valente de Amorim Alves¹,
Evandro Nogueira Barros Filho²
RESUMO
A incontinência urinária de esforço (IUE) é definida pela perda involuntária de urina ocasionada por
um aumento de pressão e enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico (MAP). É a forma de
incontinência urinária que apresenta maior prevalência, sendo responsável por 60% de todos os casos
de incontinência urinária feminina, ocorrendo quando há um aumento da pressão intra-abdominal por
esforços tais como: tosse, espirro, sorrir, saltar, caminhar ou orgasmo. Alguns fatores de riscos podem
facilitar o desenvolvimento dessa afecção, como a idade avançada, raça branca, partos traumáticos,
multiparidade, diminuição do estrógeno, além de cirurgias que podem lesionar e enfraquecer o
assoalho pélvico desencadeando essa doença. A fisioterapia é uma área da saúde, integrante da equipe
multidisciplinar, que através de algumas modalidades proporciona o fortalecimento da MAP, afim de
restabelecer a continência urinária, prestando assistência aos pacientes com essa afecção. O objetivo
desse estudo foi identificar na literatura os tratamentos fisioterapêuticos em mulheres com
incontinência urinária de esforço. Para o alcance do objetivo, optou-se pelo método de revisão
sistemática. O levantamento dos artigos ocorreu nas bases de dados do Google Acadêmico e de
portais como Bireme, Lilacs e Scielo. Após a busca, foram encontrados 43 resultados e,
posteriormente à aplicação dos critérios de inclusão, 11 artigos foram selecionados. Os recursos e
técnicas fisioterapêuticas no tratamento da IUE mais utilizados nos artigos selecionados foram,
cinesioterapia (54%), seguido de eletroestimulação transvaginal e uso de cones vaginais (27%),
ginástica hipopressiva (15%) e Biofeedback (8%). Conclui-se que a fisioterapia mostrou-se como
parte fundamental no tratamento conservador da IUE, proporcionando maior controle na perda de
urina e um aumento significativo na qualidade de vida das mulheres. Mas devido à escassez de
trabalhos encontrados na literatura, e a quantidade de mulheres acometidas por tal doença, faz-se
necessário uma maior investigação e pesquisa acerca desse assunto, com o objetivo de esclarecer e
observar os efeitos proporcionados e quais métodos são mais eficazes no tratamento da IUE.
Palavras-chave: Fisioterapia. Incontinência urinária. Saúde da mulher.
__________________
¹ Aluna do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DeVry
Email: [email protected]
² Professor do Curso de Fisioterapia da Facid. Email: [email protected]
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ABSTRACT
Stress Urinary incontinence (SUI) is defined as the involuntary loss of urine caused by increased
pressure and weakening of the pelvic floor muscles (PFM). It is the most common kind of urinary
incontinence, accounting for 60% of all cases of female urinary incontinence. It occurs when there is
an increase of intra-abdominal pressure by efforts such as coughing, sneezing, smiling, jumping,
walking or orgasm. Some risk factors such as advanced age, white race, traumatic births, multiparity
and decreased estrogen can make it easier for the disease to appear as well as surgeries that can
damage and weaken the pelvic floor triggering this disease. Physiotherapy, which is a member of a
multidisciplinary team belonging to the health area, can restore urinary incontinence and assist
patients with this condition through some modalities that provide the strengthening of PFM. This
study aimed to identify physiotherapy treatments in women with stress urinary incontinence in
literature. It used the systematic review method. The survey of articles occurred in database such as
the Google Scholar, Bireme, Lilacs and Scielo. After the search, 43 results were found and, by the
inclusion criteria, 11 articles were chosen. Physical therapy has an important role in the treatment of
stress urinary incontinence and makes use of a series of techniques and resources. Among them, the
most used one in the selected articles were kinesiotherapy (54%), followed by transvaginal
electrostimulation and the use of vaginal cones (27%), hypopressive gymnastics (15%) and
Biofeedback (8%). Physical therapy proved to be a key part in the conservative treatment of stress
urinary incontinence, providing greater control in the loss of urine and a significant increase in
women’s quality of life. But, due to the scarcity of studies in literature and the number of women
affected by this disease, there is the need of further investigation and research on this subject in order
to clarify and observe the effects provided and which methods are most effective in SUI treatment.
Keywords: Physiotherapy, Urinary Incontinence, Women's Health.
1 INTRODUÇÃO
Para manter uma boa continência urinária, devem-se ter alguns fatores em boa funcionalidade,
como pressão intrauretral maior que a intravesical, integridade da musculatura do assoalho pélvico
(MAP), uma boa sustentação anatômica do trato urinário, além da função normal dos esfíncteres
(DUMONT, 2013).
De acordo com Silva (2012), o assoalho pélvico é uma estrutura complexa formada por
músculos, fáscias e ligamentos que engloba a pelve e sua função é suportar os órgãos pélvicos, manter
a continência urinária e fecal, além da função sexual. A musculatura que o compõe é representada
pelo esfíncter anal, músculos perineais superficiais, diafragma urogenital e diafragma pélvico. Um
assoalho pélvico (AP) saudável e funcional tem um bom tônus e elasticidade.
Segundo Rodrigues (2008) um assoalho pélvico com função deficiente ou inadequada é um
fator etiológico relevante na ocorrência da incontinência urinária de esforço (IUE).
Segundo a "International Continence Society" (ICS), incontinência urinária de esforço (IUE) é
a perda involuntária de urina pela uretra, que pode ocorrer quando a pressão intravesical exceder a
pressão uretral máxima na ausência de contração do músculo detrusor. A forma de incontinência
urinária que apresenta maior prevalência é a IUE, sendo responsável por 60% de todos os casos de
incontinência urinária feminina, ocorrendo quando há um aumento da pressão intra-abdominal por
esforços tais como: tosse, espirro, risada, saltar, caminhar ou orgasmo (ABRAMNS et al., 2003).
No Brasil, são poucos os estudos sobre a prevalência de incontinência urinária ou mesmo sobre
seus fatores de risco. Em mulheres idosas (maiores de 60 anos) com domicílio no município de São
Paulo, a prevalência de IU registrada por meio de entrevistas foi de 26,2%. Fatores de risco citados
para o desenvolvimento de incontinência urinária de esforço incluem: idade avançada; raça branca;
obesidade; partos vaginais quando, na passagem do feto, podem ocorrer danos à musculatura e
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
inervação locais; partos traumáticos com o uso de fórceps e/ou episiotomias; multiparidade e gravidez
em idade avançada, deficiência estrogênica, condições associadas a aumento da pressão
intraabdominal; tabagismo; diabetes, doenças do colágeno; neuropatias e histerectomia. No Brasil,
apesar de muitas mulheres não relatarem a presença de IUE, estima-se que 11 a 23% da população
feminina sejam incontinentes e em idosas essa prevalência pode variar entre 8 a 35% (OLIVEIRA;
ZULIANI, 2010).
De acordo com Maggi (2011), o exercício do assoalho pélvico é uma forma de tratamento para
pacientes com incontinência urinária de esforço (IUE). Tal abordagem, adequadamente conduzida e
supervisionada, alcança resultados satisfatórios.
Segundo Knorst et al. (2013) há tempos sabe-se que o tratamento fisioterapêutico por meio da
cinesioterapia, eletroestimulação vaginal, reforço com cones vaginais, biofeedback, reeducação
comportamental e ginástica hipopressiva, apresenta resultados expressivos na melhora dos sintomas
de IUE em até 85% dos casos. Essas modalidades podem ser usadas de forma isolada ou associadas
e o tratamento pode ser individual ou em grupo.
Desta maneira, o problema de pesquisa objetivou saber quais os tratamentos fisioterapêuticos
da incontinência urinária de esforço em mulheres relatados na literatura. Com isso, o objetivo geral
foi identificar na literatura os tratamentos fisioterapêuticos em mulheres com incontinência urinária
de esforço. Apresentando como os objetivos específicos: descrever a incontinência urinária de
esforço; descrever os tipos de tratamento fisioterapêutico apontados no tratamento de mulheres com
incontinência urinária de esforço; analisar a eficácia dos efeitos proporcionados e a melhora na
qualidade de vida dessas mulheres.
Essa pesquisa justifica-se, pois mesmo a fisioterapia sendo indicada como a primeira opção no
tratamento de IUE (ABRAMS et al., 2003), existe pouca assistência voltada à prevenção e tratamento
de mulheres incontinentes no Brasil, considerando o alto índice dessa patologia e com um grande
número de mulheres afetadas. Faz-se necessária a investigação de novas técnicas propedêuticas, além
do cirúrgico e o medicamentoso, afim de observar os efeitos proporcionados, e a melhora na qualidade
de vida dessas mulheres, possibilitando medidas preventivas e tratamento especializado.
2 METODOLOGIA
O levantamento dos artigos ocorreu nas bases de dados do Google Acadêmico e de portais
como Bireme, Lilacs (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde) e Scielo (Scientific
Electronic Library Online). Os descritores utilizados foram: fisioterapia, incontinência urinária, saúde
da mulher. As buscas foram realizadas no período de fevereiro a junho de 2015, limitando-se aos
artigos que foram publicados retrospectivamente até o ano de 2008.
Os critérios de inclusão elegíveis corresponderam aos seguintes itens: ensaios clínicos, estudo
caso-controle, estudos descritivos, experimental de caso único, séries de casos, relato de caso e
abordando algum recurso fisioterapêutico no tratamento da incontinência urinária de esforço. Foram
excluídos aqueles com outro desenho metodológico e os que não discriminavam os resultados por
tipo de recurso fisioterapêutico, bem como os artigos sem possibilidade de acesso gratuito e que
estavam disponíveis apenas em formato de resumo simples.
A análise dos dados foi feita após apuração dos estudos incluídos na pesquisa, através da
estatística descritivas utilizando o software Microsoft Excel 2010, onde foram calculados os
percentuais dos recursos e elaborados um gráfico e um quadro.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Depois do levantamento dos dados, 43 artigos foram encontrados que, após a aplicação
dos critérios de inclusão, resultou em 11 estudos selecionados envolvendo as modalidades
fisioterapêuticas e que apresentaram uma maior significância para identificar as formas mais
relevantes no tratamento da incontinência urinária de esforço em mulheres. O Quadro 1 apresenta a
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
distribuição dos artigos que fundamentaram este estudo, indicando-se os autores, ano de publicação,
título do trabalho e abordagem metodológica.
Quadro 1 – Distribuição dos artigos conforme autores, ano de publicação, título do trabalho e
abordagem metodológica
Autores/Ano
Título
Dreher et al.
2009
O fortalecimento do
assoalho pélvico com
cones
vaginais:
programa
de
atendimento
domiciliar.
Análise da qualidade
de vida em mulheres
com
incontinência
urinária antes e após
tratamento
fisioterapêutico.
Honório
al. 2009
et
Santos et all.
2009
Eletroestimulação
funcional do assoalho
pélvico versus terapia
com os cones vaginais
para o tratamento de
incontinência urinária
de esforço.
Berbam,
2011
Exercícios de kegel e
ginástica hipopressiva
como estratégia de
atendimento
domiciliar
no
tratamento
da
incontinência urinária
feminina: relato de
caso.
Contração muscular
do assoalho pélvico
de mulheres com
incontinência urinária
de esforço submetidas
a
exercícios
e
eletroterapia:
um
estudo randomizado.
Beuttenmüll
er et al. 2011
Costa et al.
2011
Ginástica
hipopressiva
como
recurso
proprioceptivo para
os
músculos
do
assoalho pélvico de
mulheres
incontinentes.
Metodologia e
Amostragem
Estudo de caso com
uma paciente de 60
anos submetida ao uso
dos cones vaginais.
Variável
Conclusão
3x
na
semana
realizado protocolo
de exercícios 2x ao
dia.
Após
a
intervenção
observou-se
uma
significativa melhora na
qualidade de vida.
Pesquisa do tipo
intervencionista com
10 pacientes que
foram submetidas a
cinesioterapia
e
eletroestimulação
endovaginal.
Estudo randomizado
com 45 mulheres
divididas em dois
grupos, sendo um
utilizado
a
eletroestimulação e o
outro a utilização dos
cones vaginais.
Estudo de caso com
uma paciente com 58
anos submetida a
cinesioterapia
associada a ginástica
hipopressiva.
10
sessões
realizadas
individualmente, 2x
na semana com
protocolo
de
exercícios de kegel
associadas a EE.
2x na semana, com
duração de 20 min,
em um período de 4
meses, divididas em
GElet e GCon.
Os resultados foram: na
percepção geral da saúde
5,3 (± 1,64) e 3,0 (± 1,05) e
p=0,001.
Apresentaram
declínio bem como o uso de
proteção diária que passou
de 50% para 10%.
Diminuição do peso do
absorvente (em gramas)
nos dois grupos (28,5 g e 32
g versus 2,0 g e 3,0 g, para
GElet
e
GCon,
respectivamente)
(p<0,0001)
1x ao dia durante 30
dias consecutivos,
com protocolo de
exercícios de kegel
intercalados
com
exercícios
da
ginástica
hipopressiva.
Os resultados encontrados
mostram ser uma estratégia
de
autocuidado
com
resultados satisfatório por
se caracterizar como um
método não invasivo,
resolutivo e de baixo custo
Estudo longitudinal,
experimental,
randomizado com 71
idosas
submetidas
divididas em: grupo
eletro + exercícios,
grupo eletro, grupo
controle.
Divididos em 3
grupos: GEE = 24;
GE = 25; GC = 22
Foi realizado 12
sessões
2x
na
semana.
Estudo experimental
com 14 participantes
que foram submetidas
a
ginástica
hipopressiva.
3
sessões
individuais
com
período
de
12
semanas,
submetidas
ao
protocolo
de
ginástica
hipopressiva.
O GEE foi estatisticamente
significante em relação ao
GC,
pois
apresentou
melhores resultados em
AFA fibras I (Δ%=11,99;
p=0,000) e AFA fibras II
(Δ%=11,60; p=0,000). O
GE, quando comparado ao
GC,
obteve
êxito
estatisticamente
significante em AFA fibras
I (Δ%=4,75; p=0,021) e
AFA fibras II (Δ%=2.93;
p=0.002).
Os resultados mostraram
melhora em todos os
parâmetros de função
muscular
avaliados:
Oxford (p = 0,0005);
endurance (p = 0,0001) e
número de contrações
rápidas (p < 0,0001),
Página 20
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Glisoi;
Girelli, 2011
Importância
da
fisioterapia
na
conscientização
e
aprendizagem
da
contração
da
musculatura
do
assoalho pélvico em
mulheres
com
incontinência
urinária.
Cinesioterapia
no
tratamento
da
Incontinência
Urinária em mulheres
idosas.
Estudo experimental
quantitativo com 10
mulheres submetidas
a
cinesioterapia,
treino funcional e
Biofeedback.
8 sessões 2x por
semana submetidas
a protocolo de
exercícios
assoaciados.
Estudo
intervencionista,
prospectivo
envolvendo 11 idosas
com mais de 60 anos
para
realizar
cinesioterapia.
Sessões semanais
durante 3 meses,
com protocolo de
exercícios de Kegel.
Silva; Oliva,
2011
Exercícios de Kegel
associados ao uso de
cones vaginais no
tratamento
da
incontinência
urinária: estudo de
caso.
Estudo de caso com
mulher de 59 anos
submetida
a
cinesioterapia
associada ao uso dos
cones vaginais.
10 sessões 3x por
semana
com
exercícios de Kegel,
na 4º semana foi
associado os cones
vaginais
ao
tratamento.
Sousa;
Ferreira;
Oliveira;
Cestari, 2011
Avaliação da força
muscular do assoalho
pélvico em idosas
com
incontinência
urinária.
2 sessões semanais
de
forma
individualizada em
um total de 12
sessões.
Fitz et
2012
Impacto
do
treinamento
dos
músculos do assoalho
pélvico na qualidade
de vida em mulheres
com
incontinência
urinária.
Estudo experimental
envolvendo
22
participantes
que
foram submetidas a
AFA e posteriormente
a cinesioterapia.
Ensaio
clínico
prospectivo com 36
mulheres submetidas
a cinesioterapia.
Oliveira;
Garcia, 2011
al.
Sessões semanais
em um período de 3
meses
com
exercícios de Kegel.
apresentando aumento da
função
muscular
do
assoalho pélvico
Biofeedback em relação à
média inicial (11,22 para
19,040) com p <0,003
O
questionário
de
qualidade de vida redução
significativa (p < 0,029) .
Uma melhora de 80% a
90% em consciência e
controle da contração
Observou-se redução na
média de frequência de
micções
noturnas
na
presença de noctúria (3
versus 1,5) e na média do
número de situações de
perda urinária aos esforços
(3,72 versus 1,45)
Foi possível identificar
aumento da força muscular
perineal e diminuição da IU
após o tratamento. A
paciente também referiu
que durante suas atividades
diárias está conseguindo
segurar cada vez mais a
urina, não ocorrendo mais
as perdas em jato.
Houve
aumento
significativo no grau de
força muscular após o
tratamento (p ≤ 0,05) e
aumento no pico e no
tempo de contração
Observou-se diminuição
significativa das médias
dos escores em todos os
domínios avaliados pelos
KHQ (p ≤ 0,11) e
diminuição
da
perda
urinária
e
frequência
urinária
noturna
das
pacientes (p ≤ 0,05).
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Os artigos relacionados apresentam grupos de tratamento variando entre 1 e 71 mulheres,
englobando um total de 222 pacientes estudados, com idade variando entre 22 e 74 anos. Destes, 7
artigos abordaram o treinamento proposto por Kegel e/ou associados a outro método, 3 investigaram
exercícios perineais associados a eletroestimulação e uso de cones vaginais, 2 artigos analisaram a
ginástica hipopressiva, 1 artigo investigou os exercícios perineais associados ao Biofeedback (Gráfico
1).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Gráfico 1 - Divisão dos recursos fisioterapeuticos
encontrados nos artigos selecionados
8
15
54
23%
Cinesioterapia
Eletroestimulação e Cones Vaginais
Ginástica Hipopressiva
Biofeedback
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Segundo Oliveira e Garcia (2011) e a totalidade dos artigos afirmaram que a maioria da
população acometida por tal afecção, são mulheres idosas e que muitas vezes é erroneamente
interpretada como parte natural do envelhecimento o que leva a um pequeno número dessas mulheres
a procurarem uma ajuda profissional. Embora possa ocorrer em todas as faixas etárias, a incidência
da incontinência urinária aumenta com o decorrer da idade. Calcula-se que 8 a 34% das pessoas acima
de 65 anos possuam algum grau de incontinência urinária, sendo mais prevalente em mulheres.
Aproximadamente 10,7% das mulheres brasileiras procuram atendimento ginecológico queixando-se
de perda urinária.
A incontinência urinária repercute na qualidade de vida, no que diz respeito ao trabalho e à vida
social, acarretando perdas funcionais, psicossociais e emocionais e levando essas mulheres a
isolamento social e mudança nos hábitos de vestimenta e da vida diária, como forma de evitar
situações constrangedoras (DREHER et al., 2009). As alterações que comprometem o convívio social
como vergonha, depressão e isolamento, que frequentemente fazem parte do quadro clínico, causando
grande transtorno aos pacientes e familiares foi outro apontamento visto em todos os artigos.
Independentemente do tipo de IU, os prejuízos para a qualidade de vida são inúmeros e, por
isso, a ICS tem recomendado a aplicação de um questionário para melhor avaliar esse problema.
Existem vários questionários que podem ser utilizados em mulheres incontinentes com esse objetivo,
podendo ter um caráter genérico ou específico. Dentre os específicos destaca-se o King’s Health
(KHQ), por investigar tanto a presença de sintomas de IU quanto seu impacto relativo, levando a
resultados mais consistentes (SOUSA et al., 2011).
Segundo Camillato, Barras e Silva Junior (2012), a patogênese da IUE começa com a perda de
suporte da musculatura do assoalho pélvico (AP), o treinamento desses músculos é eficaz. O
treinamento da musculatura do assoalho pélvico (TMAP) através da fisioterapia, leva à hipertrofia
das fibras dos músculos e maior recrutamento de neurônios motores ativos, promovendo elevação
permanente da musculatura do AP e melhor suporte para as vísceras dentro da pelve.
O TMAP proporciona contração muscular rápida e forte do AP, que sustenta a uretra e aumenta
a pressão intrauretral, evitando perda de urina durante aumentos da pressão intra-abdominal. Além
disso, a coordenação e o tempo exato da contração muscular do AP podem impedir a descida da uretra
durante o aumento abrupto da pressão intra-abdominal. O TMAP é a opção menos invasiva para o
tratamento e não causa efeitos colaterais, o que o torna o único método sem restrições para qualquer
paciente (CAMILLATO; BARRAS; SILVA JUNIOR, 2012).
O fortalecimento da MAP, através da cinesioterapia perineal, foi descrito pela primeira vez em
1948, por Arnold Kegel. Seu tratamento é constituído por exercícios que promovem o fortalecimento
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
e a melhora do tônus muscular, através da contração voluntária do assoalho pélvico. O principal
objetivo da cinesioterapia perineal é o reforço da resistência uretral e a melhora da sustentação dos
órgãos pélvicos (OLIVEIRA; GARCIA, 2011).
Os mesmos autores supracitados, realizaram um estudo envolvendo 11 mulheres com média
etária 74.2 anos, divididas em dois grupos com sessões uma vez por semana durante 3 meses,
compostas de exercícios específicos para a musculatura do assoalho pélvico, realizados nas posições
sentada, deitada, de pé e andando, com duração de 30 minutos cada sessão. Ao final do tratamento,
observaram redução na média de frequência de micções noturnas na presença de noctúria (3 versus
1,5) e na média do número de situações de perda urinária aos esforços (3,72 versus 1,45) com p=0,02.
Comparando o estudo anterior com a pesquisa de Fitz et al. (2012), estes autores propuseram
para 36 mulheres, com idade média de 55,2 anos (± 9,1), a realização de contrações rápidas e lentas
em diversas posições, porém com o mesmo tempo de duração; observaram que também houve um
aumento da força e endurance muscular, com consequente diminuição da perda urinária e além disso,
ainda houve a redução da noctúria.
Berbam (2011), em um estudo realizado com uma paciente, 1x ao dia durante 30 dias
consecutivos, com protocolo de exercícios de Kegel intercalados com exercícios da ginástica
hipopressiva, mostrou resultados satisfatórios. Desta forma, o treinamento da MAP com a
cinesioterapia perineal (exercícios de Kegel) de forma isolada ou associada a ginástica hipopressiva
ser capaz de promover o incremento da força, endurance muscular, a redução da noctúria, a
diminuição da perda involuntária de urina e ainda a melhora no perfil emocional das pacientes, o que
corrobora com os efeitos encontrados nos estudos de Fitz et al (2012) e Oliveira e Garcia (2011).
A fisioterapia dispõe de outros recursos que podem ser associados ao tratamento da IUE, dentre
eles o Biofeedback, um aparelho que auxilia na mensuração e demonstração da contração muscular,
ajuda a potencializar os efeitos do fortalecimento da MAP, através de estímulos visuais e/ou
auditivos, que vão conscientizar a mulher, de quando deve contrair e relaxar a musculatura (GLISOI;
GIRELLI, 2011).
O Biofeedback demonstra ser um recurso eficaz para a propriocepção do assoalho pélvico e
melhor controle desta região através dos resultados de um estudo que teve em relação à média inicial
(11,22 para 19,040) com p <0,003. O questionário de qualidade de vida mostrou redução significativa
(p < 0,029). Uma melhora de 80% a 90% em consciência e controle da contração. Tal resultado foi
observado por Glisoi e Girelli (2011) em estudo experimental quantitativo com 10 mulheres
submetidas a 8 sessões 2x por semana, com protocolo de exercícios perineais associados ao uso do
Biofeedback.
Outro recurso fisioterapêutico que pode ser empregado no tratamento da IUE com bons
resultados, segundo Santos et al. (2009), é a eletroestimulação (EE) do assoalho pélvico e a utilização
dos cones vaginais. Em um estudo randomizado com 45 mulheres divididas em dois grupos, tendo
um utilizado a eletroestimulação (GElet) e o outro, a utilização dos cones vaginais (GCon). As
mulheres foram submetidas a sessões 2x na semana, com duração de 20 min, em um período de 4
meses. O resultado encontrado foi diminuição do peso do absorvente (em gramas) nos dois grupos
(28,5 g e 32 g versus 2,0 g e 3,0 g, para GElet e GCon, respectivamente com significância: p<0,0001.
Contradizendo aos achados da eficácia da EE da MAP com a cinesioterapia, Beuttenmuller et
al. (2011) constataram que a cinesioterapia foi mais eficaz na melhora da força muscular. Estes
resultados foram observados na pesquisa, do mesmo autor, com 71 mulheres, divididas em 3 grupos:
grupo de eletroestimulação associados a exercícios perineais (GEE) com 24 mulheres; grupo de
eletroestimulação (GE) com 25 mulheres; grupo controle (GC) com 22. Os resultados obtidos
demonstraram que GEE foi estatisticamente significante em relação ao GC, pois apresentou melhores
resultados em AFA fibras I (Δ%=11,99; p=0,000) e AFA fibras II (Δ%=11,60; p=0,000). O GE,
quando comparado ao GC, obteve êxito estatisticamente significante em AFA fibras I (Δ%=4,75;
p=0,021) e AFA fibras II (Δ%=2.93; p=0.002), certificando que a cinesioterapia foi mais eficaz no
teste AFA.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
As pesquisas demonstraram que os exercícios propostos por Kegel, associados à ginástica
hipopressiva, em mulheres que apresentam uma boa conscientização corporal, de forma
supervisionada, foram capazes de trazer relevante redução das perdas involuntárias de urina, na
diminuição da frequência urinária, redução da noctúria e ainda melhora no perfil emocional das
pacientes.
Os resultados alcançados pelos tratamentos com o Biofeedback também foram positivos, e
indicaram que é um importante aliado quando associado ao treinamento de contrações rápidas e lentas
da MAP, proporcionando mudança significativa na consciência perineal, ganho de força muscular,
redução da perda urinária e melhora na qualidade de vida das mulheres.
A eletroestimulação transvaginal e o uso dos cones vaginais, destacaram-se como outros
recursos fisioterapêuticos eficazes no tratamento da IUE, sendo melhor utilizados quando as pacientes
não possuem uma conscientização corporal adequada, proporcionando ativação nas conexões
neuromusculares, facilitando o reconhecimento da MAP pelas pacientes.
4 CONCLUSÃO
Foi possível identificar que a fisioterapia se mostra como parte fundamental no tratamento
conservador da IUE, onde vem demonstrando bons resultados, especialmente, nos casos em que há
correta indicação médica e é realizado um trabalho em equipe. As pesquisas evidenciaram que a
cinesioterapia é o recurso mais utilizado, representando mais da metade das modalidades citadas pelos
artigos. Essa terapia associada ou não à ginástica hipopressiva, de forma supervisionada, são capazes
de trazer relevante redução das perdas involuntárias de urina, na diminuição da frequência urinária,
redução da noctúria e ainda melhora no perfil emocional das pacientes.
Os resultados alcançados pelos tratamentos com o biofeedback, a eletroestimulação
transvaginal e os cones vaginais, também foram positivos, principalmente, quando a paciente não
apresentava uma adequada conscientização corporal, proporcionando mudança significativa na
consciência perineal, ativando as conexões neuromusculares, ganho de força muscular, redução da
perda urinária, mas que raramente pode trazer alguns efeitos adversos.
Os estudos mostraram que os recursos fisioterapêuticos relatados, proporcionaram melhora
significativa dos sintomas da IUE, o que levaram, consequentemente, ao aumento da qualidade de
vida das mulheres acometidas por tal afecção, como também evidenciaram a escassez de trabalhos
relacionados a essa temática, visto o grande número de mulheres acometidas, sendo necessário novas
investigações e estudos sobre tal área da saúde, afim de apontar e esclarecer qual seria a melhor
propedêutica no tratamento da incontinência urinária de esforço..
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incontinência urinária de esforço submetidas a exercícios e eletroterapia: um estudo randomizado.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
AVALIAÇÃO FUNCIONAL E MORFOESTRUTURAL DO RIM DE RATOS WISTAR
APÓS O USO DE SUPLEMENTO ALIMENTAR A BASE DE PROTEÍNA
FUNCTIONAL AND MORPHOSTRUCTURAL ASSESSMENT OF WISTAR RATS’ KIDNEYS
AFTER USING THE DIETARY PROTEIN SUPPLEMENT
Andressa Alves de Andrade Silva1,
Antônio Gonçalves Rodrigues Junior2
RESUMO
Os esportistas vêm tornando-se cada vez mais adeptos ao uso de suplementos a base de proteína do
soro do leite, o que abre espaço para a utilização indevida dos mesmos, podendo traduzir-se em riscos
para a saúde. O objetivo foi avaliar as alterações de filtração glomerular, funções tubulares renais e
histopatológicas relacionadas ao uso de suplemento alimentar à base de proteína no rim de ratos
Wistar. Foi realizada uma pesquisa experimental com 12 ratos Wistar divididos em dois grupos
aleatórios: Grupo I (controle) e Grupo II (com intervenção). O grupo II recebeu o suplemento por um
período de quatorze dias. Foram coletadas amostras de urina dos animais para realização de sumário
de urina e amostras de sangue para dosagem de uréia, creatinina, sódio, potássio e cloro. Ao final do
experimento, os animais foram eutanasiados e os rins foram coletados para estudo histopatológico.
Após a suplementação observou-se no Grupo II uma redução nos níveis de uréia (p = 0,00930) e
aumento da densidade urinária (p = 0,4645). A grande maioria dos animais (67%) do grupo II tiveram
proteinúria significativa (p = 0,040); a presença de células epiteliais e cilindros céreos ocorreu em
50% e 67%, respectivamente. A análise histológica dos rins mostrou a presença de áreas com
dilatação dos vasos sanguíneos peritubulares e glomérulos congestos. Conclui-se que o uso do
suplemento proteico provocou alteração na filtração glomerular e tubular, representada somente pelo
aumento significativo da proteinúria, congestão glomerular e vascular peritubular à análise
histopatológica.
Palavras-chave: Lesão renal aguda. Sobrecarga proteica renal. Suplementos à base de proteína
derivada do soro do leite.
ABSTRACT
Sportsmen have used whey protein supplements more and more, which can cause their misuse and
health risks. This paper aimed to evaluate the glomerular filtration, renal tubular and histopathological
changes regarding the use of protein supplement in the Wistar’s kidney. 12 Wistar rats were divided
into two random groups: Group I (control) and Group II (with intervention). Group II received the
supplement for fourteen days. Animal urine samples were collected to conduct summary of urine and
blood samples for levels of urea, creatinine, sodium, potassium and chlorine. At the end of the
experiment, the animals were euthanized and kidneys were collected for histopathology. After
supplementation, a reduction in urea levels (p = 0.00930) and increased urinary density (p = 0.4645)
was observed in group II. Most animals (67%) had significant proteinuria (p = 0.040), the presence
___________________
1Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID. Email: [email protected]
2Médico nefrologista. Professor de Nefrologia da Faculdade Integral Diferencial. Email: [email protected]
.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
of epithelial cells and CÉREOS cylinders occurred in 50% and 67%, respectively. The kidney
histological examination revealed the presence of areas peritubular glomeruli extension and
congested blood vessels. The use of protein supplement caused change in glomerular and tubular
filtration, represented only by the significant increase in proteinuria and glomerular and vascular
peritubular congestion at the histopathological analysis.
Keywords: Acute renal injury. Kidney protein overload. Whey Protein Supplements.
1 INTRODUÇÃO
O uso de suplementos alimentares a base de proteína do soro do leite transformou-se em uma
verdadeira epidemia, principalmente, entre os praticantes de atividades físicas, em virtude da busca
implacável pela beleza corporal a qual cultiva a sociedade moderna. Os esportistas vêm tornando-se
cada vez mais adeptos ao uso de suplementos nutricionais, o que abre espaço para a utilização
indevida dos mesmos, podendo traduzir-se em riscos para a saúde (ARAÚJO; SOARES, 1999).
A proteína do soro do leite é um dos suplementos alimentares mais populares dentre os
praticantes de atividades físicas. A utilização de suplementos a base de proteínas e aminoácidos
comerciais por atletas e esportistas, possui como principais objetivos a substituição de proteínas da
dieta, aumento do valor biológico das proteínas da refeição e seus efeitos anti catabolizantes e
anabolizantes (KREIDER; MIRIEL; BERTUN,1993).
Apesar das inúmeras pesquisas mostrando efeitos fisiológicos benéficos das proteínas e
peptídeos do soro de leite, particularmente, em experimentos com animais, o conhecimento ainda é
muito limitado sobre esses efeitos no organismo humano. Muito há que se pesquisar sobre os
verdadeiros mecanismos de ação dessas proteínas e peptídeos e das quantidades que devem participar
da dieta para produzir seus efeitos benéficos (SGARBIERI, 2004).
Segundo Paiva, Alfenas e Bressan (2007), a sobrecarga proteica associada ao uso de tais
suplementos tem sido associada a repercussões orgânicas. Não existe, entretanto, consenso a respeito
dos efeitos sobre a morfologia e função renal.
O presente estudo teve como objetivo avaliar alterações de filtração glomerular, funções
tubulares renais e histopatológicas ocasionadas pelo uso do suplemento alimentar Whey Protein Gold
Standard no rim de ratos Wistar.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Após aprovação da Comissão de Ética no Uso em Animais CEUA/FACID, sob Protocolo nº
056/14, realizou-se o estudo no Laboratório de Fisiologia da FACID DeVry, respeitando os princípios
éticos estabelecidos pela Lei n. 11.794/08, conhecida como Lei Arouca. Todo o experimento
obedeceu aos princípios éticos em experimentação animal, preconizados pelo Colégio Brasileiro de
Experimentação Animal (COBEA).
Trata-se de um estudo experimental, longitudinal, intervencionista, tipo caso-controle com
abordagem quantitativa. O estudo foi realizado no Laboratório de Fisiologia da Faculdade Integral
Diferencial (FACID), localizada em Teresina, Estado do Piauí, região nordeste do Brasil.
População estudada e procedimentos experimentais
Foram utilizados 12 ratos machos adultos (Rattus norvegicus) da linhagem Wistar, pesando
aproximadamente 256,17g ± 21,94, mantidos no Biotério do Laboratório de Fisiologia da FACID,
confinados em gaiolas plásticas, em ambiente com temperatura, umidade, luminosidade e ruído
controlados, em ciclo claro-escuro de 12 horas e alimentados com ração balanceada tipo Purina e
água ad libitum.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Os animais foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos: o Grupo I (controle; n=6), foi
mantido com ração e água filtrada, oferecidos ad libitum, durante quatorze dias. O Grupo II (com
intervenção; n=6), além de receber sua alimentação habitual e água filtrada, recebeu suplementação
diária, seis dias por semana, do suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard diluído em água
filtrada, durante quatorze dias, na dose de 1 g/kg de peso corporal, administrada por gavagem.
O suplemento alimentar foi adquirido de fonte comercial, e é composto por proteína do soro do
leite isolada, proteína do soro do leite concentrada, peptídeos do soro do leite, cacau, sal, aroma
natural e artificial, estabilizante lecitina de soja, edulcorantes artificiais sucralose e acessulfame K.
Os animais foram mantidos em gaiolas metabólicas por 24 horas, antes do início da
suplementação e após administração da última dose do suplemento alimentar, para coleta de urina,
para posterior avaliação física, química, dos elementos anormais e sedimentos urinários, com o
objetivo de avaliar função glomerular e renal, através do método tira reativa, do fabricante Bioeasy.
Após a coleta da urina, os animais foram submetidos à anestesia com uma solução de cloridato de
cetamina 100 mg/kg (Cristália) + cloridato de xilazina 20mg/kg (Anasedan), por via intraperitoneal.
Após completa anestesia, os animais foram submetidos a uma tóraco-laparotomia mediana e coleta 5
a 8 ml de sangue através da punção da veia cava inferior.
O sangue retirado foi acondicionado em tubos de vidro e submetido a centrifugação, por 15
minutos a 2000 rotações por minuto, para obtenção do soro. As amostras de soro foram
acondicionadas em frascos de vidros com tampa e armazenadas em freezer para determinação
bioquímica de uréia, creatinina, sódio, potássio e cloro, com o objetivo de avaliar funções glomerular
e tubular renal. Uréia e creatinina foram determinadas, respectivamente, por método cinéticoenzimático e cinético-calorimétrico, através de kits do fabricante Biosystems, pelo equipamento A15.
Sódio, potássio e cloro plasmáticos foram determinados pelo método do eletrodo íon-seletivo, pelo
equipamento AVL.
Após coleta de sangue, os animais foram submetidos à eutanásia, de acordo com os princípios
éticos adequados (COBEA), através da secção do diafragma, provocando pneumotórax, o que levou
à morte do animal por hipóxia. Posteriormente foi realizada nefrectomia bilateral, os órgãos foram
fixados em formalina a 10% e processados histologicamente para obtenção de cortes transversais de
5 micrômeros de espessura, corados com hematoxilina e eosina (HE) e avaliados em microscópio de
luz da marca Nikkon.
Através de fotomicrografias dos cortes histológicos dos rins foram realizadas análises
histológicas. Nos rins, a normalidade obedeceu aos quesitos: bem conservados, apresentando
corpúsculos renais e túbulos contorcidos proximais e distais íntegros; os glomérulos formados por
capilares, podócitos, células endoteliais e mesangiais sem alterações histológicas. Na região medular,
analisaram-se as alças de Henle junto aos capilares e túbulos coletores, estes com citoplasma bem
delimitado e núcleo esférico, quando dentro da normalidade. Outros itens avaliados: cápsula de
Bowman íntegra, presença de células cúbicas ou poliédricas, apresentando citoplasma eosinófilo e
núcleo arredondado.
Análise estatística
Os dados das variáveis aleatórias contínuas foram submetidos ao teste de
normalidade D'Agostino & Pearson, para averiguação da distribuição normal do dados, seguindo a
análise dos dados através do estudo das diferenças médias dos grupos através do teste t de student.
Na análise da correlação dos dados de variáveis aleatórias discretas entre classes foram submetidos
ao teste Qui-quadrado onde os mesmos foram transferidos para o programa estatístico SPSS 19,0. Em
todos os testes foram utilizados Intervalo de Confiança de 95% e significância estabelecida em
p<0,05.
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3 RESULTADO E DISCUSSÃO
Estudou-se 12 animais (ratos Wistar) no período de 14 dias. Resultados expressos na Tabela 1
mostram os valores de massa corpórea e da dosagem bioquímica do soro dos animais.
Tabela 1 - Valores da massa corpórea e dosagem bioquímica no plasma de 12 animais (ratos
Wistar), após o uso de suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard.
Variáveis
Controle
M
Caso
DP
M
DP
P
Massa corpórea (g)
256,17
21,94
274,50
22,12
0,1801
Uréia (mg/dL)
41,17
4,62
31,83
5,42
0,0093**
Creatinina (mg/dL)
Sódio (mmol/L)
Potássio (mmol/L)
Cloreto (mmol/L)
0,50
0,07
0,56
0,10
0,2563
138,92
1,10
137,70
1,50
0,1392
5,12
0,32
6,75
2,45
0,1372
169,18
29,52
146,18
9,59
M: média; DP: desvio padrão; P: teste T de Student com IC 95% e significância em p<0,05.
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
0,0996
A média de peso dos animais do grupo I (controle) foi de 274,5g (± 22,12), com peso mínimo
de 240g e máximo de 300g. O peso médio do grupo II (com intervenção) foi de 256,17g (± 21,94),
com peso mínimo de 250g e máximo de 300g.
Observou-se uma redução nos níveis de uréia [41,77%(4,62) versus 31,83%(5,42)]
estatisticamente significativa (P = 0,0093) entre os grupos I e II, respectivamente. Houve elevação
dos níveis de creatinina sérica do grupo II em comparação ao grupo I, porém em níveis não
estatisticamente significativos (P = 0,2563).
A função tubular renal dos animais no presente estudo foi avaliada através da dosagem de sódio,
potássio e cloro séricos e através da análise urinária. Como mostra a Tabela 1 não houve alterações
estatisticamente significativas nas dosagens destes eletrólitos entres os grupos I e II (P = 0,1392; P =
0,1372 e P = 0,096, respectivamente).
O consumo dietético de proteína pode modular a função renal, não havendo consenso na
literatura quanto ao seu papel na patogenia da doença renal. No centro da controvérsia encontra-se a
preocupação de que o consumo habitual de proteína dietética acima das quantidades recomendadas
promove doença renal crônica devido à hiperfiltração por aumento da pressão glomerular, contra o
fato de que a pesquisa em indivíduos saudáveis não apoia esta ideia e de que hiperfiltração constitui
uma resposta fisiológica, ou seja, um mecanismo adaptativo normal (WADA et al., 2014).
No presente estudo, mesmo após suplementação com elevado teor de proteínas no grupo II, não
houve um aumento desse analito no soro dos animais experimentais. Os resultados da presente
pesquisa corroboram com o estudo de Martin, Armstrong e Rodriguez (2005), que descreveram que
o impacto renal secundário a uma dieta hiperproteica por um curto período de tempo é diferente do
impacto causado por um consumo crônico deste tipo de dieta, desta forma, o período de
suplementação de 14 dias não foi suficiente para causar uma alteração significativa no metabolismo
proteico e aumento deste metabólito.
Segundo Menezes (2010), a uréia sérica geralmente não aumenta até que mais de 60% dos
néfrons estejam sem função, tratando-se, portanto, de um marcador de alta especificidade e baixa
sensibilidade.
Os estudos avaliando o papel da ingestão proteica na filtração glomerular, realizados por Bosch
et al. (1983) tiveram como consequência inicial a introdução do conceito de reserva funcional renal,
que consiste na diferença de TFG que ocorre entre o estado basal e após alimentação. Segundo estes
autores, a creatinina não somente aumenta a sua excreção renal devido a maior secreção tubular após
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ingestão proteica, levando assim a um aumento da TFG numérica, mas também devido a ingestão de
creatinina que acompanha a ingestão de proteína.
Vegetarianos saudáveis são conhecidos por possuírem uma linha de base estatisticamente
reduzida de TFG, mas a capacidade de aumentar a taxa de filtração glomerular após dieta rica em
proteínas ainda é mantida, ao contrário de pacientes com um reduzido número de néfrons cuja reserva
funcional renal pode ser diminuída ou ausente (LOHSIRIWAT, 2013).
Outro mecanismo sugerido para o aumento da TFG foi a diminuição da sensibilidade do balanço
túbulo glomerular. Esta hipótese se basea no fato de que ocorre aumento da reabsorção de sódio pelo
túbulo proximal após ingestão de dieta hiperproteica. O aumento da reabsorção de sódio na porção
proximal do néfron acarretaria menor carga de sódio na mácula densa e, assim, poderia ocorrer
aumento da filtração glomerular por néfron (HARRIS; SEIFTER; BRENNER, 1984).
Embora o efeito de hiperfiltração na função renal em indivíduos com doença renal e fatores de
riscos pré-existente esteja bem documentada, a aplicação destes achados para pessoas saudáveis com
função renal normal, não é apropriada. Até a presente data, nenhuma pesquisa clínica ou experimental
correlacionou a hipertrofia ou hiperfiltração renal induzida por proteína para a iniciação da doença
renal em indivíduos saudáveis (MARTIN; ARMSTRONG; RODRIGUEZ, 2005). Um coorte
prospectivo de dez anos que estudou mulheres de meia idade não encontrou nenhuma relação entre
dietas de alto teor proteico e um risco aumentado de declínio de função renal (KNIGHT, 2003).
A função tubular renal dos animais no presente estudo foi avaliada através da dosagem de sódio,
potássio e cloro séricos e através da análise urinária. Como mostra a Tabela 1, não se observou
alterações estatisticamente significativas nos níveis destes eletrólitos entres os Grupos I e II.
Contrariamente aos resultados do presente estudo, Singer (2003), após realizar estudo em
animais de espécies variadas com implementação de uma dieta rica em proteínas, e objetivando
avaliar a função excretora renal induzida por tal mudança alimentar, concluiu que, em geral, os
animais respondem a um aumento da ingestão de proteína com uma alteração na função excretora
renal, de modo a aumentar a eliminação dos principais produtos finais azotados do metabolismo de
proteínas. Os componentes desta resposta incluem uma redistribuição de perfusão regional com
aumento do fluxo sanguíneo renal, aumento da taxa de filtração glomerular e apuramento de amônia,
aumento da depuração renal de uréia tubular, alterações no transporte de proteína e hipertrofia renal.
O catabolismo de aminoácidos com a geração de amônia parece ser um pré-requisito necessário para
esta resposta excretora ocorrer, visto que a amônia é uma molécula reguladora e um sinal importante
para comunicação entre o catabolismo de aminoácidos na sequência de um aumento na ingestão de
proteína e para a sequência de eventos que levam a uma mudança na função excretora.
Outros estudos, corroborando com os resultados da presente pesquisa, mostram que dietas
hiperproteicas podem não alterar ou alterar ligeiramente os níveis séricos dos eletrólitos, mas sem
manifestações clínicas (NANKIVELL, 1994).
Na análise física da urina dos animais do presente estudo, observou-se aumento da densidade
após a intervenção, entretanto não estatisticamente significativo (Tabela 2). A densidade é um teste
muito útil para a avaliação da capacidade de diluição e concentração renal. A perda da capacidade de
concentração costuma ser o primeiro sinal de doença tubular renal (REINE; LANGSTON, 2005).
Tabela 2 - Análise física da urina de 12 animais (ratos Wistar) antes e após o uso do
suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard
Controle
Variáveis
Caso
X²
n
%
n
%
Âmbar
6
100%
6
100%
Outra cor
0
0%
0
0%
Cor
Antes*
___
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Depois**
Âmbar
6
100%
6
100%
Outra cor
0
0%
0
0%
Turvo
6
100%
6
100%
Outros
0
0%
0
0%
Turvo
6
100%
6
100%
Outros
0
0%
0
0%
___
Aspecto
Antes*
___
Depois**
Densidade
Antes*
___
0,1577
1000
3
50%
2
33%
1010
1
17%
1
17%
1015
0
0%
3
50%
1020
2
33%
0
0%
1020
3
25%
2
17%
1025
2
17%
1
8%
Depois**
0,4645
1030
1
8%
3
25%
M: média; DP: desvio padrão; X²: teste Qui-quadrado com IC 95% e significância em p<0,05.
*Antes da Suplementação; ** Depois da Suplementação.
Valores expressos em (n/%)
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
A densidade urinária varia conforme a hidratação corporal, consumo de fluidos e osmolaridade
sérica. Em conformidade aos resultados do presente estudo, Reine e Langston (2005) relataram que
na presença de proteinúria e glicosúria marcante, a densidade urinária pode estar aumentada,
conduzindo a uma interpretação de que os túbulos renais possuem uma capacidade de concentração
urinária maior na presença daquelas moléculas.
A análise química da urina dos animais do presente estudo mostrou diferença significativa na
proteinúria qualitativa após a intervenção entre os Grupos I e II, dados expostos na Tabela 3
(Apêndice A). DiBartola (1997) descreveu que a quantificação da proteína na urina é uma avaliação
da função glomerular e/ou tubular. Para Forterre, Raila e Schweigert (2004), a detecção de um
aumento na excreção de proteínas tem valor diagnóstico ou prognóstico na detecção inicial e
confirmação de doença renal, e a quantificação da proteinúria pode ter valor considerável na avaliação
da eficácia terapêutica e da progressão da doença.
Dados epidemiológicos relativos à alteração da excreção urinária de proteínas devido dieta
hiperproteica não são consensuais. Estudo realizado por Hoogeveen et al. (1998), mostrou que o risco
de microalbuminúria aumenta progressivamente com o aumento da ingestão proteica diária, já Wrone
et al. (2003) defende que a ingestão proteica é um fator de risco para microalbuminúria somente em
indivíduos com diabetes e hipertensão. Estudo realizado por Metcalf et al. (1993) não encontrou
nenhuma relação entre albuminúria e ingestão proteica.
No presente estudo, observou-se um aumento de corpos cetônicos na urina do grupo que sofreu
intervenção. A ingestão proteica acima das necessidades orgânicas leva ao aumento das reações
catabólicas de seus aminoácidos, aumentando a produção de subprodutos como uréia, trifosfato de
adenosina (ATP), gás carbônico, glicose, acetil coenzima A e corpos cetônicos. Alguns destes
subprodutos podem resultar em efeitos adversos ao organismo (VOET; VOET; PRATT, 1998).
Dados relativos ao sedimento urinário, expressos na Tabela 4 (Apêndice B), mostram que a
maioria dos animais do Grupo II em comparação ao grupo I, apresentaram cilindros céreos após a
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
intervenção. Os cilindros granulares e céreos representam estágios sucessivos na degeneração dos
cilindros celulares à medida que avançam pelos néfrons. Além de representar restos celulares, os
grânulos presentes nesses cilindros também podem representar agregados de proteínas plasmáticas,
ou seja, os cilindros granulares podem aparecer em qualquer patologia que curse com proteinúria
(GREENBERG, 1998).
No presente estudo, não se encontrou alterações histológicas nos rins do Grupo I (Figura 1). No
Grupo II, na maioria dos rins (62%), observou-se áreas com dilatação dos vasos sanguíneos
peritubulares e alguns glomérulos congestos (Figura 2).
Figura 1 - Fotomicrografia do rim de animal do Grupo I (controle) demonstrando glomérulos,
túbulos e interstício normais
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Figura 2 - Fotomicrografia do rim de animal do Grupo II (com intervenção) demonstrando
congestão vascular peritubular e leve congestão glomerular
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Estudos realizados em seres humanos e animais mostraram que a ingestão proteica tem
influencia na hemodinâmica intra-renal, aumentando de forma aguda a taxa de filtração glomerular
(TFG) e o fluxo sanguíneo renal (FSR) em até 100% em relação ao nível basal (BRENNER; MEYER;
HOSTETTER, 1982).
Brenner, Meyer e Hostetter (1982) postularam a hipótese de que a ingestão de proteínas
determinava uma vasodilatação glomerular com consequente aumento da pressão hidrostática capilar
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
e aumento da TFG. Estas alterações hemodinâmicas renais ocorreriam após cada refeição que
contivesse proteínas e manteriam um estado de vasodilatação renal crônica que favoreceria o
desenvolvimento de lesões glomerulares em pacientes que já apresentassem algum grau de lesão
renal. De acordo com estes autores, alterações da hemodinâmica renal seriam importantes para o
início e a progressão da glomeruloesclerose. O aumento da pressão hidrostática intracapilar e o
aumento da TFG alterariam a seletividade da membrana glomerular, favorecendo o maior fluxo de
proteínas plasmáticas que se acumulariam no mesângio, servindo como um estímulo para a produção
de matriz mesangial, contribuindo para o processo de glomeruloesclerose.
O efeito hemodinâmico a longo prazo de uma dieta de alto teor proteico no rim saudável não é
bem compreendido. Ratos alimentados com uma dieta rica em lactoproteínas durante seis meses não
apresentaram manifestação alguma de doença renal no exame histológico, apesar de terem
apresentado mudanças dramáticas a nível de composição corporal em relação ao grupo controle
(LACROIX et al., 2004).
Condições experimentais apontam para o fato de que dietas hiperproteicas induzam aumentos
significativos na TFG e no FSR, e que essas alterações tenham efeitos deletérios na função renal. No
entanto, o impacto de uma dieta hiperproteica no rim de um indivíduo saudável, que adere a este tipo
de dietas por períodos relativamente curtos, não está bem estabelecida (RODRIGUEZ-ITURBE;
HERRERA; GARCIA, 1988).
Em discordância com Harris, Seifter e Brenner (1984), no presente estudo, não se observou
alterações de celularidade tubular e glomerular, nem hipertrofia de porções dos néfrons dos rins dos
animais após suplementação proteica. Segundo os autores supracitados, uma dieta hiperprotéica,
aumenta a reabsorção proximal de sódio, com aumento da atividade do trocador Na +-H+ no túbulo
proximal. O aumento da carga protéica na dieta causa hipertrofia de todo o néfron, mas em especial
da porção espessa da alça de henle, com aumento da atividade da bomba de Na-K-ATPase na
membrana basolateral deste segmento.
4 CONCLUSÃO
O presente estudo concluiu que o uso do suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard
no rim de ratos Wistar durante curto período de dias, provocou alteração na filtração glomerular e
tubular, representada somente pelo aumento significativo da proteinúria. Na avaliação
histopatológica, a dieta hiperproteica ocasionou congestão glomerular e vascular peritubular.
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APÊNDICE A
Tabela 3 - Análise química da urina de 12 animais (ratos Wistar) antes e após o uso do
suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard
Controle
Variáveis
n
Reação
Antes*
Depois**
Proteínas
Antes*
Depois**
Hemoglobina
Antes*
Depois**
X²
Caso
%
n
%
Ácida
0
0%
0
0%
Alcalina
6
100%
6
100%
Ácida
0
0%
0
0%
Alcalina
6
100%
6
100%
+
4
67%
1
17%
++
0
0%
4
67%
+++
0
0%
0
0%
++++
0
0%
0
0%
Ausente
2
33%
1
17%
+
3
50%
0
0%
++
1
17%
1
17%
+++
0
0%
4
67%
++++
0
0%
1
17%
Ausente
2
33%
0
0%
Presente
0
0%
0
0%
Ausente
6
100%
6
100%
Presente
0
0%
0
0%
Ausente
6
100%
6
100%
Presente
0
0%
0
0%
Ausente
6
100%
6
100%
Presente
0
0%
0
0%
Ausente
6
100%
6
100%
Presente
0
0%
0
0%
Ausente
6
100%
6
100%
Presente
0
100%
1
17%
Ausente
6
100%
5
83%
___
___
0,0465*
0,0404*
___
Glicose
Antes*
Depois**
___
Corpos cetônicos
Antes*
Depois**
___
0,2962
Continua.......
Tabela 3. Continuação
Bilirrubina
Antes*
Depois**
Presente
0
0%
0
0%
Ausente
6
100%
6
100%
Presente
0
0%
0
0%
___
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Ausente
6
100%
6
100%
Presente
0
0%
0
0%
Ausente
6
100%
6
100%
Presente
0
0%
0
0%
Urobilinogênio
Antes*
Depois**
___
Ausente
6
100%
6
100%
M: média; DP: desvio padrão; X²: teste Qui-quadrado com IC 95% e significância em p<0,05.
*Antes da Suplementação; ** Depois da Suplementação.
Valores expressos em (n/%)
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
APÊNDICE B
Tabela 4 - Correlação da análise do sedimento urinário de 12 animais (ratos Wistar) antes e
após o uso do suplemento alimentar Whey Protein Gold Standard
Controle
Variáveis
Nitrito
Antes*
Presente
Ausente
Depois** Presente
Ausente
Células epiteliais
Antes*
Presente
Ausente
Depois** Presente
Ausente
Cristais
Antes*
Alguns de
fosfato
triplo
Vários de
fosfato
triplo
Alguns de
oxalato de
cálcio
Vários de
oxalato de
cálcio
Ausentes
Caso
N
%
n
%
X²
0
6
0
6
0%
100%
0%
100%
0
6
0
6
0%
100%
0%
100%
___
5
1
4
2
83%
17%
67%
33%
5
1
3
3
83%
17%
50%
50%
0
0%
5
83%
0
0%
0
0%
___
1
0,5581
0,0067*
5
83%
0
0%
0
0%
0
0%
1
17%
1
17%
Continua.............
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Tabela 4. Continuação
Depois** Alguns de
fosfato
triplo
Vários de
fosfato
triplo
Alguns de
oxalato de
cálcio
Vários de
oxalato de
cálcio
Ausentes
Cilindros
Antes*
Céreos
Ausente
Depois** Céreos
Ausente
4
67%
1
17%
0,2087
1
17%
3
50%
0
0%
0
0%
0
0%
0
0%
___
1
17%
2
33%
___
3
3
1
5
50%
50%
17%
83%
2
4
4
2
33%
67%
67%
33%
0,5581
0,0789
M: média; DP: desvio padrão; X²: teste Qui-quadrado com IC 95% e significância em p<0,05.
*Antes da Suplementação; ** Depois da Suplementação.
Valores expressos em (n/%)
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
O CONHECIMENTO DOS MÉDICOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE SOBRE OS
BENZODIAZEPÍNICOS
THE KNOWLEDGE OF THE PRIMARY HEALTH CARE PHYSICIANS ON
BENZODIAZEPINES
Karoline Cruz Silva1,
Marília Ione Futino 2
RESUMO
Em 1960, ocorre a "Revolução dos Benzodiazepínicos" e com isso tem início o uso indiscriminado
desse tipo de medicação. Por serem medicamentos seguros, eficazes e bem tolerados conquistaram a
classe médica e passaram a ser "objeto de desejo" dos pacientes tendo como resultado um excesso de
prescrição por parte do profissional. O presente trabalho tem como objetivo analisar o nível de
conhecimento dos médicos da Atenção Primária de Saúde sobre a indicação dos benzodiazepínicos;
além de avaliar a capacitação do profissional médico para a prescrição dos benzodiazepínicos e
descrever o entendimento dos médicos sobre possíveis riscos com o uso inadequado dos
benzodiazepínicos. Trata-se de uma pesquisa descritiva, de campo, com abordagem qualitativa. O
estudo foi realizado de acordo com a Resolução 466/2012 sobre as Diretrizes e Normas Reguladoras
que trata de pesquisa com seres humanos, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade
Integral Diferencial. A pesquisa foi realizada em Unidades de Atenção Primaria de Saúde que são
gerenciadas pela Fundação Municipal de Saúde no município de Teresina – PI. Foram incluídos na
pesquisa médicos que trabalham na Estratégia de Saúde da Família. Os dados foram coletados no
período de fevereiro a abril de 2015, através de questionário elaborado e organizado em planilhas do
programa Excel 2010. A presente pesquisa mostrou que 100% dos médicos entrevistados nunca
receberam treinamento sobre os benzodiazepínicos, 75% encaminham os pacientes ao serviço de
saúde mental por apresentarem critérios de dependência à medicação e 60% mantém a prescrição
para manutenção do tratamento. Existem indicativos de dificuldade do médico em relação ao tema e
a pouca adesão ao tema da pesquisa pode indicar a proteção contra a exposição indesejada da
fragilidade do conhecimento médico, observando também uma falta de preocupação da gestão local
no aprimoramento contínuo de seus profissionais e na detecção da dependência, a maioria encaminha
para um serviço especializado.
Palavras-chave: Benzodiazepínicos. Uso indiscriminado. Atenção Primária de Saúde.
ABSTRACT
Aluna de graduação (10° período) do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID
Email: [email protected]
Endereço: Av. Presidente Kennedy, nº2680, Apartamento 103 Bloco: Osona, Condomínio Catalunya Residence, Bairro:
Horto, CEP: 64052-675 Teresina-PI.
Tel.: (86) 99928-9686
1
2
Profª. Esp. da FACID.
Email: [email protected]
Endereço: Rua Lino Correia Lima, n° 2425, Bairro: Planalto Ininga.
Tel.: (86) 86 98126-9222
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
In 1960, the "Revolution of Benzodiazepines" began and, thus, the indiscriminate use of this type of
medication takes place. Once they are safe, effective and well tolerated medicine, they have
conquered the medical class and become the patients’ “object of desire”, which made professionals
prescribe them excessively. This study aims to analyze the level of knowledge of Primary health care
physicians about the prescription of benzodiazepines as well as to assess the doctors’ qualification to
prescribe those medicines and to describe the doctors’ understanding about possible risks regarding
the improper use of benzodiazepines. It is a descriptive, field research with a qualitative approach.
This study was based on resolution 466/2012 concerning the guidelines that deal with human beings
research and approved by the Ethics and Research Committee at Integral Diferencial College. The
survey was carried out in Primary Attention health units that are managed by the Municipal Health
Foundation in the city of Teresina – PI. The doctors who work in family health strategy were included
in the research. The data were collected from February to April 2015, through a questionnaire
previously prepared and organized in worksheets in the Excel 2010 program. This survey showed
that 100% of doctors surveyed have never received training on benzodiazepines, 75% refer patients
to mental health service because they show dependence to medication and 60% keep the prescription
to maintain the treatment. It could be observed some doctors’ difficulties regarding the theme and the
little complaince to the research theme may indicate the protection against unwanted exposure on the
fragility of medical knowledge. It could also be observed the lack of concern of the local management
in continuous improvement of its professionals and on the dependence detection; most refer them to
a specialized service.
Keywords: Benzodiazepines. Indiscriminate use. Primary health attention.
1 INTRODUÇÃO
Conforme definição do Ministério da Saúde, a Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto
de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a
prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção
da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e
autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades (MS, 2011).
No Brasil, no ano de 2.014, foram realizados 651.104.498 procedimentos médicos. Destes,
303.988.255 (46,7%) foram realizados no âmbito da Atenção Básica de Saúde, dos quais 179.059.884
(58,9%) foram realizados por médicos da Estratégia de Saúde da Família – ESF, destacando-se a
grande abrangência do trabalho médico na Atenção Básica ou Atenção Primária à Saúde, termos
considerados equivalentes pelo Ministério da Saúde (MS, 2015).
Os serviços da Atenção Básica devem cumprir a função de porta de entrada da Rede de
Assistência à Saúde, de coordenador do cuidado, elaborando, acompanhando e gerindo projetos
terapêuticos singulares bem como acompanhando e organizando o fluxo dos usuários entre os pontos
de atenção das redes de atenção à saúde e de ordenador das redes (STARFIELD, 2002).
Destaca-se, a grande importância da Atenção Básica na observância e acompanhamento do uso
racional de medicamentos, incluindo o uso dos benzodiazepínicos (TELLES et al., 2011).
Os benzodiazepínicos (BDZs) foram sintetizados em meados da década de 1950 pelo Doutor
Leo H. Sternbach, sendo o clordiazepóxido o primeiro medicamento a ser desenvolvido. Na sua fase
de experimentação observaram-se poderosos efeitos anticonvulsivantes, antiagressivos e que
reduziam significamente a ansiedade. Após exaustivos estudos clínicos o clordiazepóxido foi lançado
no mercado em 1960, momento conhecido como o início da "Revolução dos Benzodiazepínicos"
(ANDRADE, 2010).
Os BZDs não são antipsicóticos, antineuróticos ou anti-insônia como pensam muitos clínicos e
pacientes. Portanto, devido a um estado de ansiedade por estímulos exagerados em determinadas
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
áreas cerebrais, os BZDs exercem efeito contrário, inibindo os mecanismos de estimulação exagerada
e produzindo uma depressão da atividade cerebral que se caracteriza por diminuição da ansiedade,
indução do sono, relaxamento muscular, redução do estado de alerta (BALLONI; ORTOLANI,
2012).
O presente trabalho propôs como problema de pesquisa, a seguinte indagação: Qual o
conhecimento dos médicos sobre a indicação de uso dos benzodiazepínicos aos pacientes da Atenção
Primária de Saúde? Propondo ainda como hipótese primária que o uso de benzodiazepínicos por
tempo prolongado causa prejuízos à saúde dos usuários, e está sendo utilizados na Atenção Primária
de Saúde sem a adequada indicação clínica aos pacientes; como hipótese secundária que houve um
aumento da prescrição de benzodiazepínicos pelos profissionais da Atenção Primária de Saúde, sem
levar em conta que seu uso inadequado e/ou mau indicado pode trazer malefícios para a saúde dos
usuários a longo prazo.
O presente trabalho possuiu como objetivo geral analisar o conhecimento dos médicos da
Atenção Primária de Saúde sobre a indicação dos benzodiazepínicos; e como objetivos específicos
avaliar a capacitação do profissional médico para a prescrição dos benzodiazepínicos e descrever o
entendimento dos médicos sobre possíveis riscos com o uso inadequado dos benzodiazepínicos.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Procedimentos Éticos
O presente estudo foi realizado de acordo com a Resolução 466/2012 sobre as Diretrizes e
Normas Reguladoras que trata de pesquisa com seres humanos.
A pesquisa foi submetida ao do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral
Diferencial FACID – DEVRY e após sua aprovação foram iniciadas as atividades.
Solicitou-se dos participantes da pesquisa a assinatura do Termo de Consentimento Esclarecido
(TCLE) em 02 vias, no qual foi declarada a participação por livre e espontânea vontade e garantindo
o anonimato dos participantes.
2.2 Método da Pesquisa
Trata-se de uma pesquisa descritiva, de campo, com abordagem quantitativa.
2.3 Cenário e Participantes do Estudo
A pesquisa foi realizada em unidades de Atenção Primaria de Saúde que são distribuídas em 3
zonas da cidade e pertencentes a Fundação Municipal de Saúde do município de Teresina – PI.
O município de Teresina – PI conta com uma população de 234 equipes de Estratégia de Saúde
da Família e cada equipe possui um médico. Utilizando a Equação de Proporcionalidade, com
intervalo de confiança de 95%, um erro absoluto de 2%, se obteve uma amostra de 58 médicos que
participariam da pesquisa, entretanto, apesar da distribuição de 58 questionários, somente 20 médicos
se dispuseram a participar, fato que impossibilitou que a seleção dos participantes fosse estratificada
por região.
A escolha do local da pesquisa foi realizada pelo motivo da Atenção Primária de Saúde ser a
porta de entrada do serviço de saúde.
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2.4 Coleta de Dados
Os dados foram coletados através de questionário elaborado, no período de fevereiro a abril de
2015, nas segundas, quartas e sextas – feira.
2.5 Organização e Análise de Dados
Após a coleta, os dados foram organizados por planilhas do programa Excel 2010. Os resultados
obtidos foram apresentados em modo de gráficos e tabelas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados do presente estudo foram analisados conforme os dados consolidados das
informações colhidas nos questionários. Para melhor analisar os dados e atender aos objetivos desse
estudo, dividiu-se o trabalho em duas partes. Inicialmente foi abordada a caracterização da população
entrevistada através do perfil socioprofissional, e em seguida foi analisado a situação de indicação de
benzodiazepínicos, a reavaliação e a utilização de substâncias alternativas.
Tabela 1 – Perfil socioeconômico dos médicos que trabalham na Atenção primária
entrevistados
Profissionais
Perfil
5%
Faixa etária
20 a 25 anos
20%
26 a 30 anos
5%
31 a 35 anos
5%
36 a 40 anos
55%
41 anos ou mais
25%
Sexo
Feminino
75%
Masculino
15%
Tempo de formação 1 a 5 anos
30%
6 a 10 anos
15%
11 a 15 anos
20%
16 a 20 anos
20%
21 anos ou mais
20%
Tempo em que
Menos de 1 ano
20%
trabalha no ESF
1 a 5 anos
40%
6 a 10 anos
20%
11 a 15 anos
10%
Residência Médica
Sim
Saúde Pública
30%
Cardiologia
20%
Cirurgia Geral
10%
Pediatria
5%
Medicina do Trabalho
20%
Ginecologia
5%
Não
Observa - se 06 profissionais são do sexo feminino (25%), e 14 profissionais do sexo masculino
(75%). Vale destacar que 55% profissionais possuem mais de 10 anos de formação na área.
Visto a adesão do município de Teresina à Estratégia de Saúde da Família, os médicos que
desenvolvem seus trabalhos na Atenção Básica são denominados Médicos de Saúde da Família apesar
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
da incipiente realização de atividades de educação permanente e de os mesmos não se colocarem
como tal na indicação de sua especialização.
Tabela 2 – Situação clínica na qual o médico entrevistado utiliza Benzodiazepínicos
Situação clínica
Percentual de indicação
60%
Manutenção do tratamento
25%
Ansiedade
10%
Insônia inicial
5%
Depressão
De acordo com os dados 60% dos médicos entrevistados optam pela manutenção do tratamento,
enquanto 25% utilizam Benzodiapínicos em casos de ansiedade, ao passo que 10% utilizam em
situações de insônia inicial, e apenas 5% em casos de depressão.
Em um estudo realizado por Firmino et al., (2012) foram avaliadas as indicações de
benzodiazepínicos no Serviço Municipal de Saúde de Coronel Fabriciano – MG, e observou-se que
50% das indicações relatadas pelos médicos foram como hipnótico ou ansiolítico, 21,9% para "uso
crônico/dependência" e o restante para outras indicações. Das receitas que atenderam aos critérios de
inclusão para análise da adequação da indicação (1618), cerca de 70% foram consideradas não
adequadas, tendo em vista a indicação e o tempo de tratamento.
Tabela 3 – Reavaliação do uso de Benzodiazepínicos em paciente que já utilizam de modo
constante pelos médicos entrevistados da Atenção Primária.
Reavaliação do uso de Benzodiazepínicos
Percentual de indicação
Sim
80%
Não
20%
Conforme os dados 80% dos médicos entrevistados realizam a reavaliação do uso de
benzodiazepínicos.
Conforme Andrade, Silva e Santos (2010), o uso prolongado de BZDs ultrapassando períodos
de 4 a 6 semanas pode levar ao desenvolvimento de tolerância, abstinência e dependência. A
possibilidade de desenvolvimento de dependência deve ser considerada na vigência de fatores de
risco para a mesma, como o uso em mulheres idosas, poliusuários de drogas, alívio de estresse,
doenças psiquiátricas e distúrbios do sono, também sendo comum a observação de overdose de BZDs
nas tentativas de suicídio associadas ou não a outras substâncias.
Tabela 4 – Dose-limítrofe de seguridade do Clonazepam indicada pelos médicos entrevistados
da Atenção Primária
Dose-limítrofe de seguridade do
Percentual de indicação
Clonazepam
0,5 mg/dia
25%
1,0 mg/dia
15%
2,0 mg/dia
40%
4,0 mg/dia
20%
10,0 mg/dia
0%
Conforme os dados coletados 40% dos médicos entrevistados consideram 2,0mg/dia como a
dose limítrofe de seguridade do Clonazepam, enquanto 25% indicam 0,5mg/dia, 20% indicam como
4mg/dia, e 15% recomendam 1mg/dia.
Quanto à dosagem, a maioria dos autores não possuem conhecimento sobre a dose-limítrofe,
enquanto Ballone e Ortolani (2012) afirmam que os BZDs são bastantes seguros, uma vez que apenas
doses altas (20 – 40 vezes mais altas que as habituais) podem produzir efeitos mais graves, como, por
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exemplo, a hipotonia muscular, dificuldade grande de ficar em pé e andar, hipotensão, perda da
consciência, e com doses mais elevadas pode levar ao coma e morte.
Tabela 5 – Prescrição de substâncias alternativas mais seguras em relação aos
Benzodiazepínicos pelos médicos entrevistados da Atenção Primária
Prescrição de substâncias alternativas
Percentual de indicação
mais seguras
35%
Sim
65%
Não
De acordo com os dados pesquisados 65% dos médicos entrevistados não prescrevem
substâncias alternativas mais seguras em relação aos Benzodiazepínicos, ao passo que apenas 35%
utilizam substâncias alternativas.
Ferreira et al., (2014) afirma que a buspirona consiste em uma alternativas aos
benzodiazepínicos no caso de pacientes com transtornos ansiosos, e que utilizam os BZDs como
antidepressivos e antipsicóticos em baixas dosagens.
Tabela 6 – Encaminhamento para o Serviço de Saúde Mental pelos médicos entrevistados da
Atenção Primária
Encaminhamento para o Serviço de Saúde
Percentual de indicação
Mental
75%
Sim
25%
Não
Conforme os dados obtidos 75% dos médicos entrevistados realizam encaminhamento
para o serviço de saúde mental, ao passo que apenas 25% não realizam o referido encaminhamento.
Tabela 7 – Realização de treinamento específico sobre Benzodiazepínicos na Estratégia da
Família
Realização de treinamento específico sobre
Percentual de indicação
Benzodiazepínicos
Sim
0%
Não
100%
A partir dos dados obtidos constatou-se que 100% dos médicos entrevistados não realizaram
treinamento específico sobre Benzodiazepínicos na Estratégia da Família.
Segundo Bordim (2012, p.195) para que a equipe de saúde da família desempenhe bem o seu
trabalho, com reflexos positivos na assistência, é preciso organizar seu processo de trabalho, capacitar
todos os profissionais envolvidos na assistência bem como “enfatizar a escuta qualificada a fim de se
prevenir o consumo excessivo e desnecessário de psicotrópicos, estimulando o auto cuidado, a saúde
mental e diminuindo a incapacidade funcional decorrente da reação adversas dos medicamentos”.
4 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos neste trabalho permitem concluir que a maior parte dos participantes da
pesquisa encontra-se na faixa etária acima de 41 anos, é do gênero masculino, de 6 a 10 anos de
formação médica e possui residência médica em cardiologia.
Mais de 50% prescrevem os BZDs para manutenção do tratamento seguido para tratamento de
ansiedade. A grande maioria reavalia o uso quando já utilizados por mais de 4 semanas, prescrevem
uma dose de 2,0 mg/dl, não substituem os BZDs por substâncias alternativas mais seguras mas
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encaminham os pacientes para um serviço de saúde mental quando apresentam critérios de
dependências e não receberam nenhum tipo de treinamento sobre os BZDs.
Também foi possível concluir que existem indicativos de dificuldade do médico e pouca adesão
ao tema da pesquisa, o que pode indicar a proteção contra a exposição indesejada da fragilidade do
conhecimento médico e destacando uma falta de preocupação da gestão local no aprimoramento
contínuo de seus profissionais.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, H. S. A.; SILVA, S. K.; SANTOS, M. I. P. O. Aids em idosos: vivência dos doentes.
Esc Anna Nery [Internet]. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/v14n4/v14n4a09.p df
2. M
BALLONE, J. G., ORTOLANI, I. V. E NETO, E. P. Da emoção à lesão: um guia de Medicina
Psicossomática. São Paulo, Manole. 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde.Portaria nº 2488, de 21 de outubro de 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde.Portaria nº 1.654, de 19 de julho de 2011.
BORDIM, D, C. Consumo de psicofármacos por usuários da unidade de saúde do bairro São
Pedro da área 30: revisão de prontuários. Especialização em Saúde da Família-Modalidade a
Distância. Resumos dos Trabalhos de Conclusão de Curso. Florianópolis: Universidade Federal de
Santa Catarina. 2012BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde mental na atenção básica: o vínculo e o
diálogo necessários. Brasília, DF, 2003. 7p.
FERREIRA, T. R.; BRAGA, J. E. F.; ALVES, R. S.; OLIVEIRA, F. M. R. L. de.; BARBOSA, K. T.
F. B. Caracterização do uso de benzodiazepínicos por pessoas idosas atendidas no centro de atenção
psicossocial. Rev enferm UFPE on line., Recife, v. 8, n. 11, p :3905-11, nov., 2014.
FIRMINO, K. F.; ABREU, M. H. N. G. de.; ÉDSON PERINI, E.; MAGALHÃES, S. M. S. de.
Utilização de benzodiazepínicos no Serviço Municipal de Saúde de Coronel Fabriciano, Minas
Gerais. Ciênc. saúde coletiva. vol.17 no.1 Rio de Janeiro Jan. 2012.
STARFIELD, B. Atenção Primária – Equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia.
Brasília:
Unesco,
Ministério
da
Saúde;
2002.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_primaria_p1.pdf. Acesso em 20 abril 2014.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS E SUAS PRINCIPAIS
MANIFESTAÇOES BUCAIS
ORAL MANIFESTATIONS IN DRUG USERS
Giselle da Silva Oliveira¹;
Eliana Campêlo Lago²
RESUMO
Atualmente, a utilização de substâncias entorpecentes, sejam lícitas ou ilícitas, representam um grave
problema de saúde pública, pois ocasionam danos físicos e psicológicos em seus usuários. Dentre
eles, as alterações bucais representam uma parcela significativa, onde as principais manifestações
estão relacionadas aos dentes, língua, mucosas bucal e alveolar, lábios, gengivas, palato duro e
glândulas salivares. O objetivo desse estudo foi realizar uma revisão de literatura sobre drogas licitas
e ilícitas, buscando elencar as principais manifestações bucais relacionadas a utilização dessas
substancias, ressaltando a importância do cirurgião-dentista na identificação e abordagem desse
problema. Trata-se de uma revisão bibliográfica realizada em bases de dados (Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS-BIREME), biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e
PUBMED. Foram consultados artigos científicos de revistas nacionais e internacionais, por meio dos
seguintes critérios de inclusão: artigos originais, publicados nos últimos 20 anos, em português, inglês
ou espanhol, obtidos em referências bibliográficas com maior relevância. Observou-se que as
substâncias mais utilizadas são: álcool, tabaco, maconha, cocaína, crack e anfetaminas. As
manifestações relacionadas à cavidade oral foram: cárie e erosão dental, doenças periodontais, lesões
cancerizáveis, bruxismo, hipossalivação, xerostomia, desgaste de esmalte dentário e perda óssea. O
cirurgião-dentista é o profissional mais relacionado diretamente às avaliações das alterações bucais
portanto, deve estar preparado para uma correta abordagem e tratamento das mesmas. Portanto, fazse necessária a elaboração e a efetivação de um tratamento odontológico inserido dentro de uma
equipe multidisciplinar. Destaca-se a interação profissional com o objetivo de melhor atender esses
indivíduos, auxiliando-os no restabelecimento de sua saúde, r eduzindo os efeitos causados pela
droga.
Palavras-chave: Manifestações bucais. Usuários de droga. Saúde bucal.
ABSTRACT
Currently, the use of narcotic substances, whether legal or illegal, is a serious public health problem
as they cause both physical and psychological damage in their members. Among them, the oral
changes represent a significant portion, in which the main events are related to the teeth, tongue, oral
and alveolar mucosa, lips, gums, hard palate and salivary glands. Thus, this study aimed to conduct
a literature review on legal and illegal drugs trying to highlight the main oral manifestations
regarding, mentioning the importance of dentists to identify and address this problem. It is a literature
review carried out in database such as Virtual Health Library (BVS-BIREME), electronic library
Scientific Electronic Library Online (SciELO) and PubMed. Scientific papers in national and
international journals, through the following inclusion criteria: original articles published in the last
____________________
¹ Graduanda do 10º período do curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial- FACID/DEVRY. E-mail: [email protected]
² Professora do curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DEVRY
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
20 years in Portuguese, English or Spanish. It was observed that the most used substances are alcohol,
tobacco, marijuana, cocaine, crack and amphetamines. manifestations related to the oral cavity were
decay and dental erosion, periodontal diseases, precancerous lesions, bruxism, hyposalivation, dry
mouth, tooth enamel wear and bone loss. Once the dentist is the professional with a closer relation to
the oral alterations, they need to be prepared for their correct approach and treatment. So, there is the
need to elaborate and actualize a dental treatment inserted into a multidisciplinary team. It can be
highlighted the professional’s interaction in order to better assist these individuals, helping them to
restore their health and reducing the effects caused by the drug
Keywords: Oral manifestations. Drug users. Oral health.
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, verifica-se, com grande intensidade, uma rápida expansão do consumo de
Substâncias Psicoativas (SPA). Esse fenômeno se reflete na sociedade e cresce cada vez mais,
alcançando os mais variados espaços e segmentos sociais. De acordo com o relatório feito por United
Nations Office for Drugs and Crimes (UNODC, 2013), globalmente, de 2007 para 2011, a estimativa
do número de pessoas que consumiram alguma droga ilícita, cresceu de cerca de 172-250 para o
intervalo entre 167-315 milhões de pessoas.
Na década de 1960 houve uma maior popularização do uso de drogas lícitas e ilícitas, e a partir
de então, o consumo dessas substâncias constitui fenômeno global, disseminando-se de forma
preocupante, independentemente de fatores culturais, econômico-sociais, geográficos e étnicoraciais, produzindo modificações profundas na expectativa e qualidade de vida (AMARAL; LUIZ;
LEÃO, 2008). As causas do elevado consumo de drogas são complexas e abrangem aspectos sociais,
educacionais, econômicos e de saúde pública, demonstrando um caráter multifatorial.
A despeito de todos os efeitos que a dependência pode causar na população, poucos são os
estudos que envolvem os hábitos de consumo de drogas e a relação que os mesmos possuem com as
necessidades de atendimento odontológico e condições de saúde bucal (LASLETT; DIETZE;
DWYER, 2008). Em pacientes, além do efeito das próprias drogas, deve-se acrescentar a influência
do estilo de vida e o tempo de dependência (CAPISTRANO et al., 2013).
O desenvolvimento de sintomas como euforia, irritabilidade, desorientação e ansiedade, pode
ser fruto de interferências de diferentes tipos de dependência química, mas também do próprio
estresse de desintoxicação e a abstinência. Em curto e médio prazos, essas características podem
dificultar a realização das atividades do cotidiano, como a higiene bucal (CAPISTRANO et al., 2013).
Desta forma, o objetivo desse estudo foi realizar uma revisão de literatura sobre estudos
relacionados às principais manifestações bucais em indivíduos usuários de drogas, mencionando a
importância do cirurgião-dentista na identificação e abordagem desse problema, além de evidenciar
as manifestações específicas para cada droga, seja ela lícita ou ilícita.
Sabe-se que o usuário de drogas apresenta uma série de manifestações bucais que, dependendo
do problema, pode agravar a sua saúde de uma forma geral. Os profissionais da área de Odontologia
podem auxiliar na reversão desse quadro, através do acompanhamento e do tratamento específico
para o indivíduo.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia desse estudo consistiu em uma revisão bibliográfica do tipo narrativa, onde se
pesquisou sobre as publicações relacionadas às manifestações bucais em usuários de drogas. As bases
de dados secundárias pesquisadas foram: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS-BIREME), biblioteca
eletrônica Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e PUBMED.
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Foram consultados artigos científicos de revistas nacionais e internacionais, por meio dos
seguintes critérios de inclusão: artigos originais, publicados nos últimos 20 anos, em português, inglês
ou espanhol, obtidos em referências bibliográficas com maior relevância. Os critérios de exclusão
referiram àqueles que não apresentassem correlação entre o uso de drogas e as manifestações orais.
A pesquisa bibliográfica foi feita entre os meses de janeiro e maio de 2015.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Aspectos Odontológicos no Usuário de Drogas
Atualmente, a Odontologia preventiva tem sido priorizada, objetivando-se a diminuição na
incidência de patologias bucais, bem como a necessidade de tratamentos curativos (COSTA et al.,
2011).
A qualidade e o estilo de vida adotados pelas pessoas podem ser determinantes das condições
de saúde bucal. A ingestão de álcool, tabaco e outras drogas, são vistos como fatores de risco para as
patologias bucais e estão relacionados às condições de saúde bucal características e a uma variedade
de condições orais patológicas, que são encontradas em adolescentes e adultos droga-dependentes
(BAUS; KUPEK; PIRES, 2002).
A ação local das drogas na cavidade bucal resulta em complicações nocivas, causando alto
índice de CPOD (dentes cariados, perdidos, obturados e com extração indicada), gengivite, halitose,
estomatite, bruxismo, desgaste dentais, queilite angular, entre outros (GUPTA et al., 2012). As
intercorrências odontológicas específicas do uso de drogas abrangem também a cárie excessiva e
distúrbios que envolvem o periodonto de rápida evolução, deficiências nutricionais e má higiene
pessoal (GUPTA et al., 2012).
Os usuários de drogas possuem uma elevada predisposição da prevalência de lesões neoplásicas
bucais quando comparados com os indivíduos que não utilizam nenhuma droga, seja ela licita ou
ilícita, alguns exemplos são a queilite actínia, leucoplasia bucal, eritroplasia, líquen plano, dentre
outras. (FERNANDES; BRANDÃO; LIMA, 2008; LOPES et al, 2012).
Álcool
O álcool refere-se a um dos agentes químicos que também está envolvido com o surgimento de
lesões cancerizáveis bucais (REIS et al., 2002; WASZKIEWICZ et al., 2012a). Quando o nível de
álcool na corrente sanguínea é elevado, ocorrem náuseas e vômitos, que se forem frequentes,
favorecem à erosão e cárie dental provenientes de um ambiente bucal cronicamente ácido
(TRAEBERT; MOREIRA, 2001).
Cada substância tem seu poder invasor contra os tecidos bucais. Na literatura, o álcool, além de
desencadear alterações gastrointestinais, distúrbios vasculares e desordens no sistema nervoso central
(SNC), viabiliza a entrada de carcinógenos na mucosa bucal. Esse mecanismo se explica por meio da
solubilização de algumas substâncias genotóxicas e pelo aumento da permeabilidade da mucosa na
presença do álcool. Outro aspecto levantado corresponde à maior permeabilidade de mucosa não
queratinizada, como o bordo lateral da língua e da mucosa jugal, comparada a tecidos queratinizados
existentes nas mucosas de revestimento do palato e da gengiva (LÍBER, 1993; WIGHT; OGDEN,
1998).
Tabaco
O tabaco apresenta um efeito crônico na vascularização do periodonto. Esse efeito é maior do
que o episódio de vasoconstrição proveniente da utilização imediata de um cigarro. O efeito supressor
na vascularização pode ser observado clinicamente pelas seguintes características: gengiva pálida,
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menor sangramento à sondagem e menor número de vasos sanguíneos visíveis clínica e
histologicamente, trazendo consequência no reparo tecidual (PALMER et al., 2005).
A fumaça do cigarro apresenta em sua composição monóxido de carbono, o qual reduz a
saturação de oxigênio na hemoglobina em uma gengiva saudável. A tensão de oxigênio dentro da
bolsa periodontal é significativamente atenuada em fumantes, favorecendo um meio de crescimento
de bactérias anaeróbias mesmo em bolsas rasas (HANIOKA et al., 2000).
Indivíduos que utilizam o cigarro de forma frequente, têm mais chances de desenvolver câncer
de boca e podem apresentar irritação crônica na mucosa do palato, denominada palatite nicotínica, e
ainda leucoplasia, sendo ambas lesões brancas que podem ser consideradas cancerizáveis (ROSA et
al., 2009; LOPES et al., 2012).
Cocaína e Crack
A cocaína é uma substância natural proveniente de uma planta existente na América do Sul,
popularmente denominada Coca (Erythroxylon coca) (MALONEY, 2010). Pode ser ingerida em pó
(cloridrato de cocaína), que pode ser aspirado ou dissolvido em água ou injetada na corrente
sanguínea, ou sob a forma de uma base, o crack, que é fumado (MALONEY, 2010;
WOYCEICHOSKI et al., 2008).
Além disso, há também a pasta de coca, um produto de menor pureza, que também pode ser
fumado, conhecido como merla. O óxi ou oxidado é uma droga parecida com o crack; seu princípio
ativo é a pasta base da folha de coca, no entanto, no óxi utilizam-se cal virgem e algum combustível
(SILVA JUNIOR et al., 2012).
Ainda que a cocaína esteja relacionada menos com as lesões bucais pelo seu uso ser realizado
com a mucosa nasal, a forma de crack pode causar eritema, úlcera e hiperceratose na mucosa bucal,
tão pronunciada ou mais que as provocadas pelo uso do tabaco ou da maconha (WOYCEICHOSKI
et al., 2008), além de erosão dental, semelhante à ocasionada pelo uso de metanfetaminas
(BASSIOUNY, 2013).
O progressivo consumo do crack vem ganhando a atenção do poder público e da sociedade
pelos seus efeitos nocivos, como complicações cardiovasculares, respiratórias, neurológicas e
gastrointestinais (VASICA; TENNANT, 2002; RIBEIRO et al., 2006; DEVLIN; HENRY, 2008;
KAUSHIK; KAPILA; PRAHARAJ, 2011; MILROY; PARAI, 2011).
De acordo com Oliveira e Nappo (2008) o crack é consumido geralmente pelo ato de fumar. A
“pedra” é útil em utensílios de alumínio com latas, cachimbos e tubos, onde é queimada e rapidamente
se converte em liquido e vapor (esse movimento de mudança de estado provoca estalos, por esse
motivo a origem do nome crack), enquanto o usuário aspira a fumaça produzida.
Para Cabral (2006), as repercussões da droga no ambiente bucal têm sido investigadas, onde se
observam o potencial de associação nas características locais, como: calor gerado, trauma mecânico
ao ato de fricciona o produto na gengiva, vasocontrição e diminuição do fluxo salivar, alem dos efeitos
que debilitam a resposta imunológica de seus usuários.
Colodel et. al. (2009) evidenciaram as alterações provocadas pela cocaína e crack no
periodonto. Havendo descrições de caso com manifestações como rápida recessões gengivais, erosão
dental, perda óssea avançada, assim como episódios de dor aguda na gengiva foram atribuídas a
fricção de cocaína. Com base nos relatos de paciente, o qual faz menção apenas a esse ato, foi
realizada a cirurgia de enxerto de tecido conjuntivo em que foi possível observar uma cicatrização
pobre e anormal (KAPILA; KASHANI, 1995).
Alguns estudos apontam que o contato da cocaína por aspiração (“cheirada”) com a mucosa
nasal pode causar congestionamento, epistaxe e, em longo prazo, até mesmo erosão do septo nasal,
causando uma comunicação bucossinusal (LANCASTER et al., 2000; GÁNDARA et al., 2002;
SEYER, GRIST, MULLER, 2002; BAINS; HOSSEINI-ARDEHALI, 2005; DI COSOLA et al.,
2007).
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Maconha
A maconha (Cannabis sativa) corresponde a uma droga perturbadora da atividade mental. Suas
folhas e inflorescências secas podem ser ingeridas ou inaladas (MALONEY, 2011).
Existem vários efeitos sistêmicos e manifestações orais no tocante ao uso de maconha, entre
eles uvulite, estomatite nicotínica, aumento gengival semelhante ao induzido por fenitoína, perda
óssea na periodontite, hipossalivação e consequente aumento do número de cáries de superfície
((MALONEY, 2011; RAWAL; TATAKIS; TIPTON, 2012; NOGUEIRA-FILHO et al., 2011;
SCHULZ-KATTERBACH; IMFELD; IMFELD, 2009).
A hipossalivação pelo uso de maconha é fruto da ação parassimpatolítica da droga. Esse e outros
fatores etiológicos servem como base na verificação da alta prevalência de cárie e doença periodontal
em indivíduos dependentes (COLODEL et al., 2009). O princípio ativo da maconha é o THC (tetrahidro-canabinol), que interfere na produção de células de defesa, deixando o indivíduo vulnerável à
infecção, devido à imunossupressão. A candidíase também é uma infecção bucal muito observada
nesses usuários, assim como a xerostomia intensa, levando-os a consumir maior quantidade de
carboidratos, como doces e guloseimas, o que aumenta o risco à cárie (MURPHY; WILMERS, 2002).
Anfetaminas
A anfetamina e seu isômero dextrógiro, ativo, dextroanfetaminas, juntamente com a
metanfetamina e o metilfenidato, formam um grupo de fármacos com propriedades farmacológicas
muito semelhantes. Todos esses fármacos atuam liberando monoaminas das terminações nervosas do
cérebro. A noradrenalina e a dopamina constituem os mediadores mais importantes nesta conexão
(RANG et al., 2004).
Seus efeitos indesejáveis de interesse odontológico são principalmente bruxismo, mais
acentuado nos dentes posteriores e que pode persistir após o uso da droga, espasmo maxilar, erosão
dental, ressecamento da boca, perda de apetite e crises bulímicas. Também pode causar disfunção do
sistema imunológico, sendo esse quadro agravado quando há associação com álcool (BRAND; DUN;
NIEUW AMERONGEN, 2008).
Alterações Bucais em Decorrência de Associação de Drogas
Não é fácil correlacionar determinada modificação bucal encontrada nos pacientes avaliados
com uma droga específica, pois grande parte dos usuários faz uso de drogas associadas, ou está em
tratamento com medicamentos que também geram alterações bucais. Além disso, a utilização de uma
gama de drogas de forma concomitante pode potencializar o desenvolvimento de lesões bucais, ainda
que haja controvérsias sobre este assunto (O’SULLIVAN, 2011).
A utilização da cocaína juntamente com o álcool desencadeia um severo bruxismo,
especialmente nos dentes pré-molares, liberação de energia interna da articulação temporomandibular, periodontite, hipossalivação e atrofia bilateral do músculo masseter. Com relação ao
aparelho estomatognático, os maiores efeitos do uso corriqueiro do êxtase, da cocaína, do crack e
outras substâncias químicas, estão envolvidos na vasoconstrição que essas drogas induzem, podendo
originar uma necrose tecidual e profundo retardo do processo de reparo (JAFFE; KIMMEL, 2006;
BRAND; GONGGRIJP; BLANKSMA, 2008; PIEPER; HOPER, 2005) e demasiado retardo do
processo de reparo (PIEPER; HOPPER, 2005), principalmente em áreas em que o suprimento
sanguíneo é mais pobre, como no palato duro e no osso mandibular.
Antoniazzi et al. (2013) descreveram a ocorrência de cárie e erosão dentária como as alterações
mais frequentes em usuários de crack e cocaína. O CPOD (Índice odontológico) médio alto e o fluxo
salivar alterado também foram relatados (D’AMORE et al., 2011; CAMÍ; FARRÉ, 2003). Os usuários
de cocaína e crack apresentam também xerostomia, hipossalivação, associados à modificação da
microbiota bucal (elevação de Lactobacilos, Streptococcus mutans e Candida albicans), redução no
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pH e na capacidade tampão. Consequentemente, a prevalência de cárie dentária e candidose podem
estar aumentadas nos usuários da droga. Além disso, a alteração salivar, a má higiene bucal e o baixo
interesse pelo atendimento odontológico, contribuem para acelerar a ocorrência de cárie dentária nos
indivíduos expostos ao crack.
As periodontites exercem influência significativa em usuários de drogas, ainda que não
influenciem decisivamente na perda óssea. Essa maior vulnerabilidade decorre da diminuição do
potencial redox periférico, vasoconstrição periférica, permitindo maior proliferação de
microrganismos anaeróbios obrigatórios, como grande parte dos microrganismos relacionados às
periodontopatias (DAHLÉN, 2009). Porém, essa hipótese não foi comprovada mediante estudos
microbiológicos, exceto quanto ao tabaco, cuja utilização influencia positivamente na distribuição
dos principais microrganismos associados a essas infecções bucais (GAETTI-JARDIM et al., 2010;
ZAMBON et al, 1996; HAFFAJEE; SOCRANSKY, 2001; DARBY et al, 2005; BAGAITKAR et al,
2009).
A nicotina presente no tabaco pode acelerar os efeitos cardiovasculares da cocaína, haja vista
que também possui alta atividade vasoconstritora e leva ao aumento da liberação e do tempo de
atividade de mediadores adrenérgicos (HANNA, 2006). E como as drogas são frequentemente
utilizadas em associações, pode-se ter um efeito somatório, que camuflam os fenômenos vasculares
4 CONCLUSÃO
Com base no levantamento bibliográfico realizado observou-se que os usuários de drogas
manifestam alterações bucais significativas, cujas variações vão acontecer de acordo com o tipo de
droga utilizada e com as associações feitas com elas. As principais ocorrências analisadas foram:
xerostomia, cárie dentária, doenças periodontais, perda óssea, retardo do processo de reparo,
estomatites, polidipsia, dor de dente, desgaste de esmalte dentário, quadros infecciosos, além de
câncer bucal. Os pacientes dependentes químicos apresentam maior necessidade de tratamento
restaurador e cirúrgico.
Portanto, faz-se necessária a elaboração e a efetivação de um tratamento odontológico inserido
dentro de uma equipe multidisciplinar. Na prática profissional, os resultados deste estudo podem
servir de embasamento para equipes de saúde poderem conhecer e lidar com a diversidade desse
público, de modo a promover ações de promoção e prevenção no âmbito da estratégia de redução de
danos, destacando a necessidade de priorizar as ações para os grupos de risco, tendo como base o
perfil da clientela, respeitando suas debilidades e reforçando suas potencialidades.
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OS EFEITOS DA ELETROESTIMULAÇÃO EM MULHERES COM CONSTIPAÇÃO
THE EFFECTS OF THE ELECTROSTIMULATION IN WOMEN WITH CONSTIPATION
Kelly Serejo Machado1,
Veruska Cronemberger Nogueira Rebêlo2
RESUMO
A constipação intestinal é uma doença multifatorial caracterizada por manifestações que podem
intervir nas funções intestinais e anorretais. A neuromodulação sacral é uma técnica fisioterapêutica,
cuja ação envolve a excitação de vias neurais para modificar a atividade do esfíncter anal e
sensibilidade retoanal nociceptiva patológica através de interações sinápticas por meio da estimulação
elétrica. Este estudo teve como objetivo avaliar a eficácia da eletroestimulação em mulheres com
constipação. Trata-se de um estudo experimental, descritivo, comparativo, com abordagem
quantitativa, realizado de fevereiro a maio de 2015. A amostra foi constituída por 10 mulheres
constipadas, de 20 a 40 anos, divididas em grupos Controle e Experimental, constando cinco
participantes em cada grupo. Foram utilizados para a análise de dados a Escala de Bristol, Critérios
de Roma III e a Escala Visual Analógica, para avaliar a evolução das pacientes constipadas com o
tratamento realizado. Após o procedimento, o padrão fecal mais frequente entre as participantes foi
o idiopático em ambos os grupos. De acordo com a Escala de Bristol, o Grupo Experimental
apresentou modificação na consistência das fezes (p< 0,01), enquanto no Grupo Controle não houve
relevância estatística. Os critérios de Roma III mostraram melhora em relação às fezes endurecidas e
sensação de evacuação incompleta nas participantes do Grupo Experimental, resultando na
diminuição da impactação fecal (p<0,05); no Grupo Controle houve permanência de fezes
endurecidas ou fragmentadas, sensação de evacuação incompleta e obstrução ou bloqueio anorretal.
Quanto à presença de dor ao evacuar, as participantes do Grupo Experimental apresentaram melhora
gradativa a partir da primeira sessão (p<0,001), em contrapartida o Grupo Controle não apresentou
resultados estatisticamente significantes. Conclui-se que a eletroestimulação na constipação foi
eficaz, modificando a consistência das fezes, reduzindo a dor e a sensação de evacuação incompleta
durante a evacuação.
Palavras-chave: Eletroestimulação. Constipação intestinal. Neuromodulação sacral.
ABSTRACT
The intestinal constipation is a multifactorial disease characterized by manifestations that can
intervene in the intestinal and anorectal functions. The sacral neuromodulation is a physiotherapeutic
technique whose action involves the excitation of neural pathways to modify the activity of the anal
sphincter and pathological nociceptive rectoanal sensitivity through synaptic interactions by means
of electrical stimulation. This research aimed to evaluate the effectiveness of electrostimulation in
women with constipation. This is an experimental, descriptive and comparative study with a
quantitative approach carried out from February to May 2015. The sample consisted of 10 women,
constipated, 20 to 40 years of age, divided into control and experimental groups, consisting of five
participants in each group. The Bristol Scale, Rome III criteria and the Visual Analogue Scale were
1
Aluna do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial- FACID/DeVry.
Email: [email protected]
2
Professora do Curso de Fisioterapia da FACID/DeVry, Doutora em Fisioterapia.
Email: [email protected]
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
used to analyze the data and to assess the evolution of constipated patients regarding the treatment
performed. After the procedure, the most common fecal pattern among the participants was the
idiopathic in both groups. According to the Bristol scale, the experimental group presented change in
the stool consistency (p<0, 01), while the control group did not show statistical relevance. The Rome
III criteria showed improvement in relation to the hardened stools and incomplete feeling of
evacuation in the participants of the experimental group, resulting in decreased fecal impaction (p
<0,05), in the control group there was permanence of hardened or fragmented stools, incomplete
feeling of evacuation and obstruction or anorectal blockage. Concerning the pain to evacuate, the
participants of the experimental group showed gradual improvement from the first session (p <0,
001). On the other hand, the control group did not present statistically significant results. It was
concluded that the electrostimulation was effective in the constipation by modifying the stool
consistency, reducing pain and the incomplete feeling of evacuation during the evacuation.
Keywords: Electric Stimulation. Constipation. Sacral Neuromodulation.
1 INTRODUÇÃO
A constipação intestinal (CI) é uma doença multifatorial caracterizada por manifestações que
podem intervir nas funções intestinais e anorretais. O processo de evacuação adequado está
relacionado à contração e relaxamento coordenado dos músculos circular e longitudinal, criando
padrões motores que controlam o movimento dos conteúdos dentro do cólon.
A prisão de ventre é mais comum em mulheres e sua incidência aumenta com a idade. Dentre
os fatores de risco pode-se citar história de abuso sexual, inatividade física, educação limitada e baixo
nível econômico. Além disso, um fator considerável é a associação entre a CI e condições
psicológicas, como estresse, ansiedade e depressão (TRISÓGLIO et al., 2010).
Para muitos autores, a constipação corresponde a uma frequência de evacuação inferior a três
vezes por semana, “sensação de evacuação incompleta, dificuldade para expelir as fezes (que estão
duras ou ressecadas), distensão abdominal ou gosto amargo na boca”. Existem diferentes subtipos de
constipação, decorrentes de diversos mecanismos, dentre eles: inércia colônica (motilidade lenta),
dificuldade evacuatória (alteração funcional de assoalho pélvico, reto ou ânus) e constipação
funcional, quando há trânsito normal. O tipo crônico de constipação pode ainda ser dividido em dois
subtipos - defecação obstruída (DO) e constipação de trânsito lento (CTL), as quais podem estar em
um mesmo paciente, sendo caracterizadas pela disfunção sensório-motora do cólon e motilidade
anormal desempenhando assim um papel patogênico (BASSOTTI et al., 2013).
Dentre várias formas de avaliação da constipação, pode-se citar três, que são amplamente
utilizadas, como o questionário estruturado validado cientificamente, denominado Critérios de Roma
III, para o diagnóstico de distúrbios gastrointestinais funcionais; o Questionário de Bristol, que avalia
através das características os tipos de fezes; e a Escala Visual Analógica, utilizada para mensurar
dores de qualquer natureza (CARLOS-FILHO, 2014).
No tratamento da constipação intestinal existem concepções errôneas, em relação aos laxantes
e purgantes em todas as faixas etárias. Eventualmente, seu uso na constipação é sustentado por
orientação médica, persistindo como forma de tratamento, mesmo com sua eficácia e segurança pouco
evidenciada em estudos controlados, podendo provocar “auto-intoxicação intestinal” que provocaria
um “envenenamento” atribuído à retenção dos próprios resíduos. Os laxantes e purgantes podem ser
necessários dentro de um preparo pré-operatório, para procedimentos radiológicos e endoscópicos,
entre outros motivos e, excepcionalmente, sob supervisão médica, como adjuvante inicial, no
tratamento da constipação, tendo em vista que essas substâncias podem alterar o potencial da função
motora, na absorção e secreção do intestino promovendo constipação ou diarreia, desidratação e má
nutrição, não sendo consideradas, portanto, estratégia terapêutica ideal para o tratamento da
constipação intestinal. Em virtude de sua variada etiologia e complexidade, a constipação intestinal,
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
na criança, adulto ou idoso é motivo relevante para uma avaliação médica e fisioterapêutica (CRUZ,
2014).
A neuromodulação sacral corresponde a uma técnica fisioterapêutica, cujo mecanismo de ação
na coloproctologia envolve a excitação de vias neurais para modificar a atividade do esfíncter anal e
sensibilidade retoanal nociceptiva patológica através de interações sinápticas por meio da estimulação
elétrica (LUMI; MUÑOZ; LA ROSA, 2007).
Para tanto, de acordo com o exposto, elaborou- se o seguinte problema de pesquisa: quais os
efeitos da eletroestimulação na constipação intestinal ?
Este estudo justifica-se pelo fato de que a constipação em mulheres, mesmo com o uso de
laxantes, se não for tratada adequadamente, poderá se tornar crônica. Em virtude disso, o motivo
desse estudo foi o interesse em investigar os efeitos da eletroestimulação em mulheres com
constipação intestinal, produzindo conhecimento científico, para embasamento de novas pesquisas
devido à escassez de estudos nesta área.
Este estudo teve como objetivo geral avaliar a eficácia da constipação intestinal em mulheres
através da Escala de Bristol, Critérios de Roma III e Escala Visual Analógica, após a realização de
eletroestimulação sacral.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Foram aplicados todos os princípios éticos de acordo com as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, respeitando a Resolução CNS 466/2012.
Este estudo só foi iniciado após submissão e aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Faculdade Integral Diferencial (FACID/ DeVry), com Protocolo CAAE número
35292014.0.0000.5211.
Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e também foi
necessária a assinatura da Declaração do Local de Coleta de Dados.
Trata- se de um estudo experimental, descritivo, comparativo, com abordagem quantitativa,
com o propósito de verificar a eficácia da eletroestimulação em mulheres com constipação tornando,
dessa forma, o assunto mais claro e definido.
Foram aplicados o questionário de Bristol, Critérios de Roma III e a Escala Visual Analógica
(EVA), para avaliar a evolução da condição clínica das pacientes constipadas com o tratamento
realizado.
A Escala de Bristol é reconhecida pela literatura científica como instrumento valioso na
avaliação das doenças intestinais, sendo considerado o melhor indicador do tempo de trânsito
colônico, o qual determina o tipo, o tamanho, o formato, a espessura e a consistência das fezes
(MARTINEZ; AZEVEDO, 2012).
O questionário foi composto de questões objetivas acerca de constipação intestinal, visando
avaliar o preenchimento dos critérios diagnósticos de Roma III para constipação intestinal,
características das fezes pela escala de Bristol e Escala Visual Analógica para avaliar a dor das
pacientes, durante o ato evacuatório (LUZ et al., 2012).
A pesquisa foi realizada em uma Clínica privada especializada em Fisioterapia
Uroginecológica, na cidade de Teresina- PI, no período de fevereiro a maio de 2015. A escolha do
local ocorreu de forma intencional, pois dispunha de modalidades de atendimento necessárias para a
experiência científica.
A amostra foi constituída por 10 mulheres constipadas, com idades entre 20 a 40 anos, com
ensino médio completo. As participantes foram escolhidas obedecendo aos critérios de inclusão e
exclusão. Os critérios de inclusão para realização da pesquisa foram mulheres com constipação
intestinal. Os critérios de exclusão foram mulheres que apresentam obstipação intestinal associada a
qualquer outra disfunção do assoalho pélvico, como disfunção miccional, dispareunia, vaginismo,
incontinência urinária, dentre outras, e com idade inferior a 20 anos e superior a 40 anos de idade.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Os dados foram coletados em uma das salas de consultório da Clínica, onde inicialmente foi
aplicada uma ficha de avaliação feita pela pesquisadora com intuito de analisar se a participante se
enquadraria na pesquisa em questão. Por meio de escalas estruturadas, dentre eles o Critérios de Roma
III, que contém as seguintes variáveis: mudança na frequência e consistência das fezes, esforço
evacuatório, fezes endurecidas ou fragmentadas, sensação de evacuação incompleta, sensação de
obstrução ou bloqueio anorretal, manobras para facilitar evacuação, número de evacuações semanais.
Também foi aplicado o Questionário de Bristol, que analisa os tipos de fezes em tipo 1 (amendoim),
tipo 2 (salsicha, mais segmentada), tipo 3 (salsicha com fendas na superfície), tipo 4 (salsicha ou
cobra, lisa e mole), tipo 5 (pedaços moles, mas com contornos nítidos), tipo 6 (pedaços aerados,
contornos esgarçados), tipo 7 (aquosa, sem pedaços sólidos). Utilizou-se ainda a Escala Visual
Analógica, para avaliar a intensidade da dor ao evacuar de 0 a 10, fornecendo parâmetros para se
observar a eficácia do tratamento a curto prazo.
No dia da coleta de dados, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido com os
devidos esclarecimentos sobre a pesquisa, a fim de autorizarem a realização da mesma.
As participantes foram divididas em dois grupos: Controle e Experimental, constando cinco
mulheres em cada grupo. O Grupo Experimental foi tratado com o aparelho Dualpex 961, da marca
Quark, constituído de Estimuladores Elétricos Neuromusculares Transcutâneos, contendo dois canais
independentes, sendo estes colocado na região sacral, com quatro eletrodos de borracha e gel fixados
com fita crepe, à nível de S2 a S4, com as participantes em decúbito ventral, para maior comodidade
das mesmas. Os parâmetros utilizados na terapia foram frequência da corrente elétrica de 10Hz, pois
tinha como objetivo trabalhar apenas o nível sensitivo da paciente, visto que frequências acima de
20Hz são consideradas desagradáveis, pois causam excitabilidade no sistema neuromotor; a largura
de pulso da corrente foi de 500µs; a duração da estimulação foi de 40min; a intensidade de acordo
com a tolerância de cada paciente e a frequência das sessões foram de duas vezes por semana,
totalizando dez sessões. Após a primeira, quinta e na última sessão as pacientes respondiam ao
questionário de Bristol, Critérios de Roma III e a Escala Visual Analógica, a fim de se constatar seus
efeitos, no decorrer no tratamento.
O Grupo Controle inicialmente foi monitorado através das escalas nos mesmos momentos que
o Grupo Experimental, para que houvesse a comparação dos resultados no mesmo período. As
participantes do Grupo Controle foram instruídas a não ingerirem fibras e laxantes, para que fosse
possível obter resultados comparativos da eficácia ou não do tratamento proposto.
Os dados foram analisados comparando às informações obtidas no decorrer das sessões, por
meio das respostas alcançadas através das escalas, antes, durante e após o experimento, e
posteriormente organizados em planilhas do programa Microsoft Office Excel 2010 e apresentados
em forma de gráficos e tabelas. Adiante os dados foram submetidos ao teste de correlação de Pearson
Qui-quadrado com Intervalo de Confiança de 95% e significância estabelecida em p< 0,05. E para
tantos os mesmos foram transferidos para o programa estatístico SPSS 19,0.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O padrão fecal mais frequente entre as participantes avaliadas foi a constipação idiopática
(Tabela 1), pois de acordo com Lima, Azevedo e Damião, (2013) se a causa da constipação não for
identificada, esta deve ser considerada como um distúrbio primário ou idiopático.
Tabela 1- Frequências dos tipos de constipação apresentados pelos grupos de mulheres
avaliadas, Teresina, 2015
Grupos
Variáveis
Controle
N
%
Experimento
N
%
P
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Constipação Orgânica
1
20%
2
40%
Constipação Idiopática
2
40%
4
80%
0.9065
Constipação Funcional
1
20%
1
20%
Legenda: N, frequência absoluta; %, frequência relativa P, para o teste de correlação Pearson Qui-quadrado, como IC
95% e significância em p<0,05.
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
A Escala de Bristol é um instrumento valioso na avaliação das doenças intestinais e tem sido
amplamente utilizada, a fim de garantir que os pacientes descrevam precisamente seu próprio padrão
fecal (MARTINEZ; AZEVEDO, 2012). O tipo de fezes expressa alterações que podem ocorrer na
constipação, possibilitando verificar o padrão fecal. Assim, adiciona uma dimensão objetiva de suas
formas, e correlaciona- se bem com o tempo de trânsito do cólon (SPILLER; THOMPSON, 2012).
As Tabelas 2 e 3 mostram a avaliação do tipo de fezes apresentada pelas pacientes do Grupo
Experimental e Controle, respectivamente. No Grupo Experimental, houve uma variação na
consistência das fezes, tendo em vista que na primeira e quinta sessões as fezes encontravam-se em
forma de salsicha, mas segmentada, apresentando modificações no decorrer das sessões, adquirindo
uma forma de salsicha, mas segmentada, com fendas na superfície na última sessão (p<0,01),
enquanto no Grupo Controle, apesar da variação, não houve significância estatística.
Resultados semelhantes também foram encontrados por Ulisses-Neto (2014) porém em um
estudo com crianças que fizeram ingestão de pré-bióticos, onde houve uma pequena melhora no que
diz respeito à consistência das fezes, embora este achado não tenha se mostrado estatisticamente
significativo.
Tabela 2 - Avaliação do tipo de fezes apresentados pelas pacientes avaliadas, no Grupo
Experimental, de acordo com a Escala de Bristol, Teresina, 2015
Experimental
VARIÁVEIS
P
Primeira
Quinta
Décima
-
-
-
5(100%)
4(80%)
-
Forma de salsicha, mas com fendas na superfície
-
-
4(80%)
Forma de salsicha ou cobra, lisa e mole
-
1(20%)
1(20%)
Pedaços moles, mas contornos nítidos
-
-
-
Pedações aerados, contornos esgarçados
-
-
-
Aquosa, sem peças sólidas
Legenda: P, para o teste de correlação Pearson Qui- quadrado.
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
-
-
-
Escala de Bristol de Consistência das Fezes
Pedaços separados, duro com amendoim
Forma de salsicha, mas segmentada
0,0084**
Tabela 3 - Avaliação do tipo de fezes apresentados pelas pacientes avaliados, no Grupo
Controle, de acordo com a Escala de Bristol, Teresina, 2015
Controle
VARIÁVEIS
Primeira
Quinta
Décima
Pedaços separados, duro com amendoim
-
-
-
Forma de salsicha, mas segmentada
-
4(80%)
3(60%)
P
Escala de Bristol de Consistência das Fezes
0,0633
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Forma de salsicha, mas com fendas na superfície
4(80%)
-
1(20%)
Forma de salsicha ou cobra, lisa e mole
1(20%)
1(20%)
1(20%)
Pedaços moles, mas contornos nítidos
-
-
-
Pedaços aerados, contornos esgarçados
-
-
-
Aquosa, sem peças sólidas
-
-
-
Legenda: P, para o teste de correlação Pearson Qui- quadrado.
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
É fundamental em termos clínicos e de pesquisa o estabelecimento de critérios diagnósticos
para a constipação; os critérios de Roma III cumprem adequadamente esse propósito, ao mesmo
tempo em que consideram a larga variação dos sintomas da CI e os determinam de acordo com
parâmetros cronológicos. Porém, é necessário ressaltar que algumas limitações, podem aparecer
quando se analisam estudos realizados entre diferentes populações, de diferentes faixas etárias.
Portanto, há certa dificuldade em se encontrar estudos com características homogêneas que facilitem
comparações (LUZ et al., 2012).
Um dado importante verificado na Tabela 4, após o tratamento na avaliação dos critérios de
Roma III, foi que na quinta sessão as fezes, que antes apresentavam-se endurecidas ou fragmentadas,
em 100% das participantes do Grupo Experimental houve resposta positiva, resultando na diminuição
da impactação fecal (p<0,05). No mesmo quesito de avaliação no Grupo Controle (Tabela 5), houve
permanência em relação às fezes endurecidas ou fragmentadas, sensação de evacuação incompleta e
sensação de obstrução ou bloqueio anorretal.
Tabela 4 - Avaliação dos critérios ROMA III apresentados pelas pacientes avaliadas, no
Grupo Experimental, Teresina, 2015
Experimental
VARIÁVEIS
Primeira sessão
Sim
Esforço evacuatório
Não
Quinta sessão
Sim
Décima sessão
Não
Sim
P
Não
4(80%)
1(20%)
1(20%)
4(80%)
1(20%)
4(80%)
0,0821
3(60%)
2(40%)
-
5(100%)
-
5(100%)
0,0235*
4(80%)
1(20%)
1(20%)
4(80%)
-
5(100%)
0,0203*
Sensação
de
obstrução
ou
bloqueio anorretal
1(20%)
4(80%)
-
5(100%)
-
5(100%)
0,3425
Manobras manuais
para evacuar
1(20%)
4(80%)
1(20%)
4(80%)
1(20%)
4(80%)
1
Fezes endurecidas ou
fragmentadas
Sensação
de
evacuação
incompleta
Legenda: P, para o teste de correlação Pearson Qui-quadrado, como IC 95% e significância em p<0,05.
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
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Tabela 5 - Avaliação dos critérios ROMA III apresentada pelas pacientes avaliadas, no Grupo
Controle, Teresina, 2015
VARIÁVEIS
Primeira sessão
Sim
Não
Controle
Quinta sessão
Sim
Não
Décima sessão
Sim
Não
Esforço evacuatório
5 (100%)
5 (100%)
4(80%)
Fezes
endurecidas
ou
5 (100%)
5 (100%)
5 (100%)
fragmentadas
Sensação
de
evacuação
3(60%)
2(40%)
3(60%)
2(40%)
3(60%)
incompleta
Sensação de obstrução ou
3(60%)
2(40%)
3(60%)
2(40%)
3(60%)
bloqueio anorretal
Manobras
manuais
para
5 (100%)
5 (100%)
1(20%)
evacuar
Legenda: P, para o teste de correlação Pearson Qui- quadrado, como IC 95% e significância em p<0,05.
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
p
1(20%)
0,9311
-
1
2(40%)
0,988
2(40%)
0,988
4(80%)
0,4126
A eletroestimulação envolve a transmissão de impulsos elétricos de um estimulador externo
para o sistema nervoso periférico, através de eletrodos aderidos a pele sendo uma técnica simples e
eficiente, muito utilizada para o alívio da dor, reeducação e fortalecimento muscular (SOUSA, 2010).
Os Gráficos 1 e 2 mostram os dados da Escala Visual Analógica (EVA) apresentada pelas
pacientes avaliadas nos grupos, onde se observou que antes do tratamento, na avaliação inicial, o
Grupo Experimental obteve uma média de 5,60 com desvio padrão de 1,34, percebendo- se melhora
gradual já a partir primeira sessão, sendo a dor reduzida em média de 5,40 com desvio padrão de 0,24.
Na quinta sessão a dor reduziu de 3,40 com desvio padrão de 0,40, chegando ao final da décima
sessão, com média entre 3,00 com desvio padrão de zero, apresentando uma melhora estatisticamente
significativa (p<0,001). Em contrapartida, o Grupo Controle que, na avaliação realizada inicialmente,
apresentava dor em média de 6,80 com desvio padrão de 0,49, permaneceu até à quinta sessão sem
modificações, havendo uma alteração ao término do estudo com média de 6,60 com desvio padrão de
0,89; no entanto, não houve relevância estatística.
Para Silva e Ribeiro-Filho (2012), a dor pode ser definida como uma experiência sensorial e
emocional desagradável, sendo complexa e multifatorial que pode ser descrita como um mecanismo
de proteção do corpo. No estudo realizado por Villanova, Fornazari e Deon (2013), que envolveu 10
participantes com câncer, a eletroestimualação teve um papel importante no alívio da dor oncológica.
Em concordância com o estudo em questão, a eletroestimulação se mostrou relativamente
significativa na redução do limiar de dor durante o ato evacuatório, nas participantes do grupo
experimental, após as sessões
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Gráfico 1 - Avaliação da Escala Virtual Analógica (EVA) apresentada pelas pacientes
avaliadas no Grupo Experimental, Teresina, 2015
p<0,001***
8
5,60 ± 1,34
6
p<0,001***
5,40 ± 0,24
3,40 ± 0,40
4
3,00 ± 0,0
2
0
Antes
Primeira
Quinta
Décima
Sessões experimentais
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Gráfico 2 - Avaliação da Escala Virtual Analógica (EVA) apresentada pelas pacientes
avaliadas no Grupo Controle, Teresina, 2015
8
6,80 ± 0,49
6,80 ± 0,49
6,80 ± 0,49
6,60 ±0,89
6
4
2
0
Antes
Primeira
Quinta
Décima
Sessões controle,
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
4 CONCLUSÃO
Os resultados experimentais obtidos no presente estudo, pelas análises da Escala de Bristol,
Critérios de Roma III e a Escala Visual Analógica, sugerem que a eletroestimulação na constipação
foi eficaz promovendo uma mudança na consistência das fezes, reduzindo a sensação de evacuação
incompleta e o quadro álgico das participantes durante a evacuação.
No entanto, estudos futuros são necessários para investigar os mecanismos fisiopatológicos da
eletroestimulação na constipação, permitindo a transposição desse novo método para a prática clínica.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
INFECÇÃO URINÁRIA EM GESTANTES QUE REALIZARAM O PRÉ-NATAL DE
ALTO RISCO EM UMA MATERNIDADE DE REFERÊNCIA
URINARY INFECTION IN PREGNANT WOMEN WHO UNDERWENT HIGH-RISK
PRENATAL CARE IN A REFERENCE HOSPITAL MATERNITY
Luanna Dias dos Reis Crisanto Leão¹,
Isabel Cristina Cavalcante Carvalho Moreira²
RESUMO
A infecção do trato urinário (ITU) é uma das principais patologias que acometem a mulher, sobretudo
no período gestacional, quando ocorre vários eventos que contribuem para isso. A ITU merece
atenção especial nessa fase, tendo em vista que, se não diagnosticada e tratada de forma adequada e
precoce, afeta tanto prognóstico materno como o fetal. Esta pesquisa teve como objetivo geral avaliar
a ocorrência de infecção do trato urinário em gestantes que realizaram pré-natal de alto risco em uma
maternidade de referência. Os objetivos específicos foram verificar a idade, grau de instrução, idade
gestacional e descrever o tipo de infecção mais prevalente. O estudo foi do tipo descritivo
retrospectivo, realizado em uma maternidade de referência de Teresina, PI. Os dados foram coletados
no período de janeiro a março de 2015. Foram incluídas as gestantes de alto risco que realizaram o
pré-natal no período de janeiro a outubro de 2014, que apresentaram infecção urinaria; foram
excluídas as pacientes que foram diagnosticadas com infecção urinária apenas por critérios clínicos.
Após a análise dos dados colhidos foi possível constatar a alta ocorrência de infecção do trato urinário,
sobretudo em gestantes na faixa etária de 20 a 29 anos, que cursaram até o ensino médio, e estavam
na primeira gravidez e terceiro trimestre gestacional. Foi observado que o tipo de infecção mais
prevalente em gestantes, foi a bacteriúria assintomática.
Palavras-chaves: Infecção urinária. Gestação. Pré-natal de alto risco.
ABSTRACT
Urinary tract infection (UTI) is one of the main pathologies that affect women, especially in the
gestational period, when several events contribute to it. The UTI deserves special attention in this
phase, considering that once it is not diagnosed and treated properly and early, it affects both maternal
and fetal prognosis. Thus, this research aims to assess the incidence of urinary tract infection in
pregnant women who have high-risk prenatal in a reference hospital maternity and also to verify the
pregnant women’s age, educational level and gestational age as well as to describe the type of
infection that prevails. It is a retrospective descriptive study carried out in a reference hospital
maternity in Teresina, PI whose data were collected from January to March 2015. Out of the 202
pregnant women, 56 showed some kind of urinary tract infection. Pregnant women at high risk who
had their prenatal from January to October 2014 and had urinary infection were included. Patients
who were diagnosed with urinary tract infection just by clinical criteria, were excluded. Thus, after
__________________
¹Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – Facid/DeVry. Email: [email protected] – Teresina-PI.
²Professora do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – Facid/DeVry, Mestre em Saúde Pública. Email:
[email protected] – Teresina-PI.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
the analysis of the data collected, it has been found a high incidence of urinary tract infection,
especially in pregnant women at the age group 20-29, who attended high school, and were primiparae
and third gestational trimester. And finally, it was observed that the most prevalent infection type in
pregnant women is the asymptomatic bacteriuria.
Keywords: Urinary tract infection. Pregnancy. High-risk prenatal.
1 INTRODUÇÃO
A infecção urinária é uma das principais patologias desenvolvidas pelas mulheres,
principalmente as gestantes, devendo as mesmas estar sempre atentas. Principalmente nos primeiros
meses da gestação, tendo a identificação do quadro e o tratamento precoce como de grande valia,
evitando, assim, complicações maiores. Portanto, a gestação está fortemente relacionada com saúde
e vida, e neste conjunto o diagnóstico de risco pode gerar alterações multidimensionais na gestante e
em todo o grupo familiar (PETRONI et al., 2012).
De acordo com Silveira, Veronesi e Goulart (2013), a infecção do trato urinário é uma das
principais complicações presentes na gestação e que oferece riscos para mãe e feto no período
gestacional. A caracterização da infecção permite evidenciar os indicadores predisponentes e os
principais microrganismos causadores desta infecção.
Para Engelmann (2014) em toda gestação ocorrem mudanças anatômicas e fisiológicas
consideradas significativas para no corpo da mulher. Trata-se de uma fase adaptativa em que o corpo
feminino necessita de acompanhamento profissional constante. Para a maioria das gestantes a
gravidez apresenta-se fisiologicamente, porém, para uma minoria das gestantes ela pode ser uma
situação de alto risco.
A prescrição medicamentosa deve ser preferencialmente orientada por exames. Desse modo,
reduz-se o índice de desenvolvimento microbiano resistente a qualquer terapia, contudo deve-se
sempre que possível levar em consideração outros fatores, dentre eles, a condição da paciente, a sua
tolerabilidade, a sua toxicidade materna e fetal para a escolha da melhor abordagem terapêutica
(BAUMGARTEN et al., 2011).
Conforme Engelmann (2014), fatores de risco são todas as características ou circunstâncias
determináveis de uma pessoa. A gestação passa a ser considerada de alto risco na presença de algum
fator de risco materno ou fetal que afetará de forma adversa o seu resultado. Esses fatores contribuem
para a morbidade e mortalidade das gestantes e dos fetos sendo descritos em características
biopsicosocioculturais, história reprodutiva anterior, doença obstétrica atual e intercorrências clínicas
maternas.
Na gestação, a urina é normalmente apresenta-se rica em nutrientes como a glicose, os
aminoácidos, as vitaminas, que propiciam um meio de cultura mais rico, facilitando assim o
crescimento das bactérias. Paralelo a isso ocorre também, com frequência, a dilatação do trato
urinário, criando assim condições propicias a estase urinária, favorecendo o crescimento bacteriano
e a instalação da infecção (BAUMGARTEN et al., 2011).
Patologias como as infecções urinárias normalmente são causadas por bactérias presentes na
microbiota intestinal que por sua vez contaminam o trato urinário. As bactérias são encontradas na
urina quando ocorre desequilíbrio entre a sua virulência e a defesa do organismo (SILVEIRA;
VERONESI; GOULART, 2013).
Segundo Liutti e Santos (2013), durante o período gestacional a mulher passa por uma série de
modificações e alterações no organismo, resultado das adaptações corporais necessárias para o
desenvolvimento fetal. Dentre as modificações significativas estão as do trato urinário e das funções
renais, uma vez que, as mesmas são mediadas por hormônios e fatores mecânicos.
Outro fator predisponente na gravidez é o aumento do útero que por ocupar mais espaço, pode
obstruir parcialmente o ureter e criar condições de estase urinária (JACOCIUNAS; PICOLI, 2006).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
O presente trabalho teve como objetivo geral avaliar a ocorrência de infecção do trato urinário
em gestantes que realizaram pré-natal de alto risco em uma maternidade de referência. Os objetivos
específicos foram verificar a idade, grau de instrução e idade gestacional e descrever o tipo de
infecção mais prevalente.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Procedimentos Éticos
O projeto de pesquisa foi enviado a Direção da Instituição de Ensino Superior (IES) para
apreciação a autorização e posteriormente para o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da FACID,
foi aprovado no dia 20 de agosto de 2014 sob o número de protocolo: 758.990 respeitando os termos
da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.
Os preceitos éticos foram obedecidos; sendo obtida a autorização da direção do hospital, bem
como assinatura do termo de fiel depositário para ter acesso aos prontuários.
2.2 Tipo de Pesquisa
Estudo descritivo retrospectivo realizado em uma maternidade de referência de Teresina, PI. A
população do estudo foi constituída de 202 gestantes, que realizaram pré-natal no período de janeiro
a outubro de 2014, sendo que 56 apresentaram algum tipo de ITU.
2.3 Local da Pesquisa
A presente pesquisa foi realizada em uma maternidade de referência no Estado do Piauí, que
possui 248 leitos obstétricos e 167 leitos neonatais. Oferece serviços de assistência ambulatorial,
exames complementares, atendimento de urgência, emergência e internação.
2.4 Critério de Inclusão e Exclusão
Para a realização da pesquisa foram incluídas as gestantes de alto risco que realizaram o prénatal e apresentaram infecção urinaria na maternidade de referência.
Foram excluídas as pacientes que foram diagnosticadas com infecção urinária apenas por
critérios clínicos.
2.5 Amostra da População
A coleta de dados foi realizada através de uma amostra de 202 prontuários de gestantes.
Os cálculos estatísticos consideraram erro absoluto para uma população finita, com erro
máximo admitido de 3%.
2.6 Coleta de Dados
Os dados foram coletados por meio de um formulário previamente elaborado, através do
levantamento e apreciação das informações referentes aos prontuários das gestantes de alto risco que
foram acompanhadas no pré-natal da maternidade em questão.
A coleta foi realizada nos meses de janeiro a março de 2015. Posteriormente os dados foram
analisados e categorizados conforme convergência dos conteúdos.
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2.7 Procedimentos para Análise dos Dados
A análise e discussão dos resultados tiveram como base a interpretação das informações
coletadas através dos prontuários e dispostas em gráficos, após os dados serem submetidos à análise
estatística.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1 – Número de gestantes pesquisadas que realizaram pré-natal de alto risco e
apresentaram infecção do trato urinário, em uma maternidade de referência do Estado do
Piauí
Infecção Urinária
Sim
Não
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Número de gestantes
56
146
Percentual
27,7%
72,3%
Após análise dos prontuários foi possível constatar que do total de gestantes pesquisadas 56
apresentaram algum tipo de ITU, o que corresponde a 27,7%, enquanto que 146, 72,3%, não
apresentaram ITU comprovada por exames laboratoriais.
Tabela 2 – Faixa etária das gestantes pesquisadas e que apresentaram infecção do trato
urinário em uma maternidade de referência do Estado do Piauí
Faixa etária
12 a 19 anos
20 a 29 anos
30 a 39 anos
40 a 45 anos
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Número de gestantes
15
24
14
03
Percentual
26,7%
42,8%
25%
5,3%
A partir da apreciação dos prontuários foi possível inferir que 42,8% das gestantes pesquisadas
encontram-se na faixa etária entre 20 a 29 anos, enquanto 25% estão na faixa etária de 30 a 39 anos,
26,7% entre 12 a 19 anos, e que apenas 5,3% das gestantes pesquisadas encontram-se na faixa etária
de 40 a 45 anos.
Engelmann (2014) afirmou que devido a maior participação das mulheres n o mercado de
trabalho, houve uma diminuição do interesse pela maternidade, e nas últimas décadas, a tendência é
que a gravidez seja postergada.
Tabela 3 – Nível de escolaridade das gestantes pesquisadas e que apresentaram infecção do
trato urinário em uma maternidade de referência do Estado do Piauí
Escolaridade
Não alfabetizada
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
Outros
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Número de gestantes
05
22
24
03
02
Percentual
8,9%
39,2%
42,5%
5,3%
3,5%
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Com relação ao nível de escolaridade, 42,5% das gestantes possuíam o ensino médio, enquanto
39,2% estudaram até o ensino fundamental, 5,3% possuíam ensino superior, enquanto que 8,9% não
eram alfabetizadas e 3,5% autodeclararam possuir outro nível de estudo.
Tabela 4 – Idade gestacional das gestantes atendidas em um pré-natal de alto risco e que
apresentaram infecção do trato urinário em uma maternidade de referência do Estado do
Piauí
Idade Gestacional
Primeiro Trimestre
Segundo Trimestre
Terceiro Trimestre
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Número de gestantes
10
17
29
Percentual
17,8%
30,3%
51,7%
Na presente pesquisa constatou-se que 51,7% das gestantes pesquisadas encontravam-se no
terceiro trimestre da gravidez, enquanto 30,3% estavam no segundo trimestre, e 17,8% estavam no
primeiro trimestre da gravidez.
Nogueira e Moreira (2006) investigaram a incidência da bacteriúria assintomática. Observaram
a maior incidência ocorreu após o primeiro trimestre de gestação.
Tabela 5 – Número de gestações das gestantes pesquisadas e que apresentaram infecção do
trato urinário em uma maternidade de referência do Estado do Piauí
Número de gestações
Primeira gestação
Segunda gestação
Terceira gestação
Mais de três gestações
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Número de gestantes
32
07
08
09
Percentual
57,1%
12,5%
14,2%
16%
Dentre os prontuários pesquisados, contatou-se que 57,1% das gestantes estavam esperando o
primeiro filho, enquanto 12,5% vivenciavam a experiência pela segunda vez; 14,2% estavam
esperando o terceiro filho, e 16% gestantes tinham mais de três gestações.
Tabela 6 – Tipo clínico de infecção urinária apresentado pelas gestantes que realizaram prénatal de alto risco, em uma maternidade de referência do Estado do Piauí
Infecção Urinária
Bacteriúnica assintomática
Cistite
Pielonefrite
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Número de gestantes
50
06
00
Percentual
89,3%
10,7%
00
Baumgarten et al. (2011), observaram que as infecções no trato urinário representavam a forma
mais comum de infecções bacterianas no período gestacional. A bacteriúria assintomática acometia
entre 2-10% das gestantes. Estas, se não tratadas adequadamente, poderão desenvolver pielonefrite
em 40% dos casos. Os autores ressaltaram que existem patologias que contribuem para o aumento da
incidência de bacteriúria assintomática em gestantes dentre essas, hemoglobinopatias, anemias, HAS
e DM.
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4 CONCLUSÃO
Após a análise dos dados, foi possível constatar a alta ocorrência de infecção do trato urinário
nas gestantes pesquisadas (27,7%).
A população acometida foi constituída por gestantes que tinham entre 20-29 anos, que cursaram
até o ensino médio, e estavam na primeira gravidez e terceiro trimestre gestacional.
Em síntese, foi observado que o tipo clínico de infecção urinária mais prevalente foi a
bacteriúria assintomática..
REFERÊNCIAS
BAUMGATEN, et al. Infecção urinária na gestação: uma revisão da literatura. Ciências Biológicas
e da Saúde, v.13, 2011.
ENGELMANN, C. R. Gestação de alto risco: fatores de risco predominantes em mulheres atendidas
no centro de atendimento à mulher em Dourados – Mato Grosso do Sul. 2014.
JACOCIUNAS; PICOLI. Avaliação de infecção urinária em gestantes no primeiro trimestre de
gravidez. Revista Brasileira de Análises Clínicas, v.39, n.1, p.55-57, 2012.
LIUTTI, D. A.; SANTOS, E. D. G. Infecção urinária na gravidez. 2013.
NOGUEIRA, N. A. P.; MOREIRA, M. A. A. Bacteriúria assintomática em gestantes do Centro de
Saúde Ambulatorial Abdoral Machado. Revista Brasileira de Análises Clínicas, Crateús, p.19-21,
2006.
PETRONI et al. Convivendo com a gestante de alto risco: a percepção do familiar. Ciências,
Cuidado e Saúde, v.11, n.3, p.535-541, 2012.
SILVEIRA, M. S. M.; VERONESI, C. L.; GOULART, L. S. Infecção do trato urinário em gestantes:
análise da frequência de casos no Centro de Saúde Jardim Guanabara, Rondonópolis, Mato Grosso.
Revista NewsLab., n.118, p.116-121, 2013.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
INFLUÊNCIA DO ESTADO NUTRICIONAL NAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA
(AVDS) EM IDOSOS
THE INFLUENCE OF NUTRITIONAL STATUS ON THE ELDERLY’S DAILY LIVING
ACTIVITIES (DLAS)
Daniel Fialho de Oliveira Sampaio1,
Adeildes Bezerra de Moura Lima2
RESUMO
O idoso apresenta alterações fisiológicas características, como o aumento do diâmetro da caixa
torácica e do crânio, e continuidade do crescimento do nariz e pavilhão auditivo. Ocorre também o
aumento do tecido adiposo, principalmente na região abdominal. Esses fatores levam o idoso a perder
massa corporal, afetando vários órgãos, mas os músculos são os que mais sofrem com essa perda de
massa com o passar do tempo. O objetivo geral desse estudo foi relacionar o estado nutricional com
atividades de vida diária em idosos, e os objetivos específicos foram avaliar o estado nutricional dos
idosos e verificar o desempenho dos idosos nas atividades de vida diária. A pesquisa foi realizada
com 15 idosos que residem em uma casa de longa permanência em Teresina. Inicialmente foi aplicado
um questionário Índex de Katz para avaliar as atividades de vida diária dos idosos, em seguida foi
calculado o Índice de Massa Corporal (IMC). Ao avaliar e se relacionar os dados do estado nutricional
com as atividades de vida diária observou-se que na pesquisa não foi encontrada relação entre o estado
nutricional com o nível de independência, ou seja, o estado nutricional não interfere no grau de
independência nas atividades de vida diária dos idosos.
Palavras-chave: Idoso. Estado nutricional. Atividades de vida diária (AVDs).
ABSTRACT
The elderly has characteristic physiological changes, such as increasing the diameter of the rib cage
and skull, and continued growth of the nose and pinna. The adipose tissue increase also occurs,
especially in the abdominal region. These factors cause the elderly to lose body mass, affecting
several organs, and the muscles are the most affected ones by this loss over time. This study aimed
to relate the elderly's nutritional status with daily activities, and also to evaluate the elderly’s
nutritional status and to verify the elderly’s performance in daily living activities. The survey was
carried out with 15 elderly who have lived in a long-term home in Teresina. Initially, a Katz Index
questionnaire to assess the elderly’s daily living activities was applied, then their body mass index
(BMI) was calculated. By evaluating and relating the nutritional status data with the daily living
activities, it was noticed there is no correlation between the nutritional status with the level of
independence, that is, in this research, the nutritional status does not interfere in the degree of
independence of the elderly’s daily activities.
Keywords: The elderly. Nutritional Status. Daily living Activities (DLAs).
1
Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial (FACID), Teresina-PI,
[email protected]
2
Nutricionista, Professora Mestre da Faculdade Integral Diferencial (FACID), Teresina – PI,
[email protected]
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
1 INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é um fenômeno que vem ocorrendo em todo o mundo de forma
continua e que está entre as maiores conquistas adquiridas pela sociedade no século XXI. Isso pode
se considerar fruto de um crescente percentual de idosos, antes percebido apenas em países
desenvolvidos (SILVA, 2009).
Segundo Rebelatto e Morelli (2004) o idoso passa a apresentar alterações fisiológicas
características, como o aumento do diâmetro da caixa torácica e do crânio, e continuidade do
crescimento do nariz e pavilhão auditivo. Ocorre também o aumento do tecido adiposo,
principalmente na região abdominal. Esses fatores levam o idoso a perder massa corporal, afetando
vários órgãos, mas os músculos são os que mais sofrem com essa perda de massa com o passar do
tempo. A pele fica menos elástica por causa da alteração da elastina e ocorre diminuição da espessura
da pele e do tecido subcutâneo, levando a aparecimento das rugas, ocorrendo também alterações nos
melanócitos, que levam à formação de manchas hiperpigmentadas, principalmente na face e dorso da
mão.
Para o idoso, a determinação do seu estado nutricional deve considerar uma complexa rede de
fatores, onde é possível relatar o isolamento social, a solidão, as doenças crônicas, as incapacidades
e as alterações fisiológicas próprias do processo de envelhecimento (NAJAS; NEBULONI, 2005).
As mudanças de hábitos de vida associada à má alimentação, como deficiência de minerais e
vitaminas, a ingestão alimentar desregular, anorexia no envelhecimento, sedentarismo, vão
influenciar na progressão da diminuição da massa muscular esquelética, expondo, por tanto, o idoso
a uma debilidade motora (SILVA et al., 2006).
Com base nesse contexto, esse estudo teve o seguinte problema: como o estado nutricional
interfere nas atividades de vida diária em idosos institucionalizados?
A justificativa desse trabalho tem como base o fato do Brasil estar passando por uma transição,
ocorrendo uma queda acentuada da taxa de fecundidade e mortalidade e o aumento da expectativa de
vida da população idosa. O objetivos desse estudo foram: relacionar o estado nutricional com as
atividades de vida diária em idosos; avaliar o estado nutricional dos idosos; e verificar o desempenho
dos idosos nas atividades de vida diária.
2 MATERIAL E METÓDOS
O estudo foi elaborado de acordo com as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos, respeitando a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. A
pesquisa foi iniciada após a submissão e aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade
Integral Diferencial (FACID/DeVry), sob o protocolo número 38992214.1.0000.5211. Todos os
participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para
iniciar a coleta de dados.
Trata-se de uma pesquisa de campo do tipo direta e descritiva, com uma abordagem
quantitativa.
A pesquisa foi realizada em uma casa de longa permanência de idosos em Teresina, no período
de fevereiro a março de 2015. A casa de longa permanência foi escolhida intencionalmente, tanto por
apresentar um porcentual significativo de idosos, quanto pelo fato de que a maioria dos idosos que
são encaminhados a esta instituição apresentarem-se fisicamente independentes, ou seja, podem
realizar todas as atividades de vida diária.
Os critérios de inclusão adotados foram pessoas com mais de 60 anos de idade e foram
excluídos da pesquisa os idosos acamados, portadores de deficiência física, auditiva, visual.
Foi realizada uma palestra com todos os idosos institucionalizados, explicando os objetivos da
pesquisa, como os testes seriam realizados. No final, foi questionado quem gostaria de participar do
estudo, esclarecendo-se que todos teriam a opção de escolher se queriam ou não participar do estudo.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Para a coleta de dados foi elaborado um questionário com questões de fácil compreensão,
contendo perguntas para identificar o grau de independência desta população. O questionário continha
seis atividades básicas da vida cotidiana de idosos: banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, transferir-se,
ser continente e alimentar-se.
Após o questionário foram coletados peso e altura para o cálculo do índice de massa corporal
(IMC), que foi utilizado para avaliar a normalidade do peso corporal (MARINS; GIANNICHI, 2003).
O IMC é determinado da seguinte maneira: IMC = Peso corporal (Kg)/ Estatura (m²). O peso corporal
foi mensurado através do uso de uma balança e a estrutura mensurada com o auxilio de uma fita
métrica.
Os dados coletados foram colocados em tabelas no programa excel para posterior análise
estatística.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 mostra que, de acordo com a escala de Fischer-Kolmogorov, na idade dos idosos
avaliados, obteve-se a média de 76,00 onde não houve significância. Já o índice de massa corpórea
(IMC) obteve a média de 28,01 mostrando a média de normalidade.
Tabela 1 - Valores e médias das idades e IMC dos idosos avaliados, Teresina, 2015
VARIÁVEIS
Idade (anos)
IMC (Kg/m²)
M
76,00
28,01
DP
9,78
4,93
N
15
15
Normalidade
> 0,10
0,0181*
Legenda: M, média; DP, Desvio Padrão; N, frequência absoluta; Normalidade para o teste Fischer-Kolmogorov com
IC 95% e significância em p < 0,05.
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Segundo Carvalho e Sousa (2006), a qualidade de vida está relacionada, ao bem-estar
pessoal e emocional, a aspectos como a capacidade funcional, o nível socioeconômico, a interação
social, a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, os valores
culturais, éticos e religiosidade, o estilo de vida, a satisfação com o emprego.
O Gráfico 1 mostra a classificação de peso corpóreo pelo IMC, onde baixo peso obteve
6,67% , peso adequado obteve 40,00%), e com sobrepeso, que a maior quantidade, obteve 53,33%.
Gráfico 1 - Frequência das classificações de peso corpóreos, pelo IMC, dos indivíduos idosos
avaliados, Teresina, 2015
53,33% (8)
40,00% (6)
6,67% (1)
BAIXO PESO
PESO ADEQUADO
SOBREPESO
Fonte: Dados da pequisa (2015).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
De acordo com dados do IBGE (2008), quatro em cada 10 brasileiros adultos apresentavam
excesso de peso em 2003. Em relação à situação nutricional, a transição dos padrões de consumo,
acompanhado do sedentarismo, aponta para o aumento na prevalência do sobrepeso e incapacidades,
prevalente em idosos.
O Gráfico 2 mostra que o nível de independência para todas as atividades foi satisfatório, onde
observou-se somente 2 idosos apresentando total dependência, obtendo-se o valor de 13,33% da
população pesquisada. Ao se somar todos os níveis de independência, os independentes total e parcial,
totalizaram em 86,67% dos idosos avaliados.
Gráfico 2 - Frequência dos graus de dependência e independência apresentados pelos Idosos
avaliados, Teresina, 2015
13,33% (2)
Dependente para todas as atividades
20,00% (3)
Independente para todas as atividades menos banho,
vestir, ir ao banheiro, transferência e mais um
Independente para todas as atividades menos banho,
vestir-se, ir ao banheiro e mais um adicional
0,00% (0)
Independente para todas as atividades menos banho,
menos vestir-se e mais uma adicional
6,67% (1)
Independente para todas as atividades menos banho e
mais uma adicional
6,67% (1)
Independente para todas as atividades menos uma
Independente para todas as atividades
13,33% (2)
40,00% (6)
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Para Kartzs et al. (1963) essa sequencia de avaliação: alimentar-se, continência, transferência,
higiene pessoal, capacidade de verti-se e banhar-se, é semelhante à observada durante o
desenvolvimento infantil, onde a criança primeiramente aprende a levar a colher a boca para, somente
mais tarde, torna-se capaz de tomar banho e de formar independência, levando então a suposição de
que a escala se baseia em funções primárias biológicas e psicossociais
Guimarães et al. (2004) realizaram um estudo para avaliar a capacidade funcional dos idosos e
verificaram que a maioria apresentou-se independente para realizar as AVDs. Dentre as 6 AVDs, o
maior grau de dependência foi nas atividades de banhar-se, vestir-se e transferência. Nesse estudo foi
comprovado apenas que as atividades de banhar-se e vestir-se apresentaram maior grau de
dependência parcial ou total.
O Gráfico 3 mostra os graus gerais de dependência e independência dos idosos avaliados, onde
foi possível observar que a maioria dos idosos avaliados possui grau de independência tendo em vista
o valor de 86,67% (13) e para grau de dependência é de 13,33% (2).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Gráfico 3 - Frequências dos graus gerais de dependência e independência apresentados pelos
idosos avaliados, Teresina, 2015
86,67% (13)
13,33% (2)
Independência
Dependência
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Rosa et al. (2003) realizaram pesquisas no município de São Paulo e mostraram que mais da
metade da população idosa estudada (53%) necessitava de ajuda parcial ou total para realizar pelo
menos uma das AVDs, sendo detectados também que 29% dos idosos necessitavam de ajuda parcial
ou total para realizar até três dessas atividades, e 17% necessitavam de ajuda para realizar quatro ou
mais atividades. Em contrapartida, esse estudo mostrou que a maior parte da população avaliada
encontra-se independente para realizar suas AVDs.
Outra variável associada de maneira independente com baixo peso, é a faixa etária. Os idosos
com maior idade têm chance maior de apresentar baixo peso. O envelhecimento promove mudanças
importantes na massa muscular e no padrão de distribuição de gordura corporal. O peso diminui com
a idade após atingir um platô; nos homens ao redor de 65 anos, nas mulheres cerca de anos mais tarde
(WHO, 1997).
Ao avaliar e se relacionar os dados do estado nutricional com as atividades de vida diária,
observou-se que não foi encontrada relação entre o estado nutricional com o nível de independência,
ou seja, nesse estudo o estado nutricional não interferiu no grau de independência nas atividades de
vida diária dos idosos. Nos níveis de dependência e nas classes de peso dos idosos avaliados não
houve significância estatística, obtendo-se o valor de 0,0955 (Tabela 2).
Tabela 2 - Correlação dos níveis de dependência e as classes de peso dos idosos avaliados,
Teresina, 2015
Variáveis
Classes do IMC
Peso adequado
Baixo peso
N
Sobrepeso
%
N
%
N
%
X²
Nível de Dependência
Independente para todas as atividades
-
-
3
20%
3
20%
Independente para todas as atividades menos uma
-
-
1
7%
1
7%
-
-
-
-
1
7%
1
7%
-
-
-
-
Independente para todas as atividades menos banho e
mais uma adicional
0,0955
Independente para todas as atividades menos banho,
menos vestir-se e mais uma adicional
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Independente para todas as atividades menos banho,
vestir-se, ir ao banheiro e mais um adicional
-
-
-
-
-
-
-
-
1
7%
2
13%
-
-
1
7%
1
7%
Independente para todas as atividades menos banho,
vestir, ir ao banheiro, transferência e mais um
Dependente para todas as atividades
Legenda: N, frequência absoluta; %, Frequência relativa, X², teste de correlação Pearson Qui-quadrado com IC 95% e
significância estabelecida em p<0,05.
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Barbosa et al, (2006) observaram que o índice de massa corporal não tem relação significativa
com o desempenho motor no teste de sentar e levantar. Nesse estudo, o índice de massa corporal não
teve relação significativa entre o desempenho motor em nenhum dos testes realizados, devido todos
os idosos participantes ainda serem ativos.
4 CONCLUSÃO
Conclui-se que, nos idosos avaliados nesse estudo, a maioria apresentava excesso de peso e
tinha certo grau de independência, mas que o estado nutricional não interferiu nas atividades de vida
diária por estes desempenhadas.
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O USO DO RETALHO FASCIOCUTÂNEO SURAL REVERSO: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
USE OF REVERSE SURAL FASCIOCUTANEOUS FLAP: A REVIEW OF LITERATURE
Joassan Perys Antonio de Araújo¹,
Edison de Araújo Vale²,
Marcella Silva Marcos³
RESUMO
Os retalhos representam uma excelente opção terapêutica para a reconstrução cirúrgica de lesões com
exposição de áreas pouco vascularizadas tais como ossos, tendões, nervos e cartilagem desprovidas das suas
membranas naturais de revestimento (periósteo, peritendão, perineuro e pericôndrio). Dentro desse universo,
o retalho fasciocutâneosural é uma boa indicação para a reconstrução de lesões do terço distal da perna, por
possuir um arco de rotação de 90º a 180º graus e por possuir um pedículo vascular, que lhe permite uma boa
nutrição quando da sua transposição para a área receptora. Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo
analisar a versatilidade do uso do retalho fasciocutâneosural reverso nas reconstruções das lesões do terço
médio inferior da perna. Esse estudo foi realizado a partir da revisão de literatura nacional e internacional,
mediante análise de dados do SciELO, MEDLINE, LILACS, que abordaram o assunto utilizando-se os
seguintes descritores: Retalho , Fasciocutâneo, Sural, Complicações. Com os quais foi possível obter em média
40 artigos, sendo utilizados para a pesquisa 12 artigos, tendo como critério de inclusão as publicações no
período de 2004 a 2014, que fossem pertinentes ao tema, além de livros – textos, teses de pós-graduação,
periódicos e editoriais. O retalho fasciocutâneosural reverso segundo a literatura apresenta bons resultados
com ausência de alteração da função do membro com a transposição do tecido. Além disso, é uma técnica de
fácil execução, baixo custo e mínima morbidade.
Palavras-chave: Retalho, Fasciocutâneo, Sural, Complicações.
ABSTRACT
The flaps are an excellent therapeutic option for surgical reconstruction of lesions with little exposure
vascularized areas such as bones, tendons, nerves and cartilage devoid of their natural membrane
coating (periosteum, peritendon, perineurium and perichondrium). Within this universe, the sural
fasciocutaneos flap is a good indication to reconstruct the leg distal-third, since it has a 90 to 180
degrees rotation arch and a vascular pedicle allowing it a good nutrition when transposing it to the
receiving area. In this sense, this research aims to analyze the versatility of the reversal sura
lfasciocutaneous flap usage in reconstructions of the leg lower middle third. This study was made by
revising the national and international literature uponSciELO( Scientific Eletronic Library Online),
MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retriveal System Online), LILACS (Latin America and
the Caribbean Literature on Health and Science) data analysis that address the subject using the
following descriptors: Flap, Fasciocutaneous, Sural, Complications. With which it was possible to
obtain about 40 articles, being 12 used in the research, having as inclusion criteria the publications
between 2004 and 2014 that were relevant to the theme, besides books – texts, post-graduation thesis,
________________________
¹ Aluno de Graduação ( 10º período ) do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial- FACID. Email:
[email protected]
² Professor da Disciplina de Cirurgia Plástica, Direito em Medicina e Base da Técnica Cirúrgica da FACID. Especialista em Cirurgia
Plástica. Email: [email protected]
³ Aluna de Graduação (10º periodo) do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial- FACID. Email:
[email protected]
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journals and editorials. The reverse sural fasciocutaneous flap shows, according to the literature,
good results with the absence of function alteration with the tissue transposition. Besides, it’s an
easily executed, cheap and low morbidity technique.
Keywords: Flap, Fasciocutaneous, Sural, Complications.
1 INTRODUÇÃO
As lesões no terço distal da perna são frequentes nas urgências e hoje, em virtude da gravidade
dos traumatismos secundários aos acidentes de trânsito, notadamente os provocados por motocicletas,
são acompanhadas também de fraturas ósseas e perdas de tecidos moles no membro acometido, o que
tornam as reparações dessas lesões de difícil realização (VENDRAMINI, 2012).
Neste sentido, os retalhos fasciocutâneos constituem uma alternativa satisfatória para a
reconstrução dessas lesões devido à exposição de áreas pouco vascularizadas, tais como ossos,
tendões, ligamentos e ótima vascularização, devido à presença do pedículo vascular seguro
(FERREIRA, 2007).
Dentro do arsenal terapêutico disponível, tem-se o retalho fasciocutâneo sural, que possui como
fonte de nutrição: o plexo vascular da fáscia profunda; artéria sural superficial mediana, que se
encontra lateral ao nervo sural medial; e as artérias paralelas à veia safena menor (parva), sendo esta
responsável pelo retorno venoso (VENDRAMINI, 2012).
Para se ter uma breve e sucinta noção da importância do tema em debate, é necessário que se
observe o que ocorre nos serviços de pronto socorro. A rede de atendimento do SUS no Brasil teve
em 2006, 11.739.258 internações, sendo 835.601 (7,1%) por causas externas. Os acidentes de
Trânsito e Transporte- ATT foram responsáveis por 120.628 das causas externas. Em relação ao
gênero mais acometido os homens obtiveram 93.483 (77,5%) dessas internações e as mulheres 27.144
(22,5%). Os principais vilões desse grande número de internações foram os acidentes em
motociclistas (21,5 por 100 mil) e em pedestres (21,3 por 100 mil). Desses pacientes lesionados, a
grande maioria fica com sequelas físicas e psicológicas, necessitando de reconstruções com uso de
retalhos em diversas partes do corpo. A receita total gasta com esses atendimentos pelo SUS em 2006
foi de R$ 128.460.511,1 (BRASIL, 2006).
É neste cenário que o serviço de cirurgia plástica pode, e deve, oferecer seus contributos, no
sentido de recuperar, quando possível, os membros afetados desses pacientes. Assim, como
ferramenta valiosa, lança-se mão do retalho fasciocutâneo sural, cuja escolha, no presente estudo, se
deu em virtude de apresentar as seguintes características essenciais: versatilidade, fácil e rápida
execução, amplo arco de rotação, que varia de 90° a 180°, irrigação constante, ausência de alterações
na funcionalidade do membro, o que o credencia como uma boa escolha para a reconstrução de lesões
no 1/3 médio inferior da perna (DRAKE; VOGL; MITCHELL, 2005).
Várias são as complicações e limitações quanto ao uso dessa técnica, que leva em conta as
condições pré-operatórias do paciente, tais como hipertensão e diabetes, que são doenças sistêmicas,
o uso de cigarro que pode levar a lesões irreversíveis do endotélio vascular, gerando vasculites e
prejudicando a pega do retalho, levando o tecido utilizado a sofrer epidermólise, necrose parcial e
total como complicações (GARCIA, 2009).
Outra complicação que pode estar frequente é a infecção da área receptora. Uma das principais
limitações ao uso do referido retalho é a congestão venosa observada quando o pedículo é transposto,
da área doadora para a área receptora, através de túnel na pele, além da menor cobertura oferecida
pelo retalho em defeitos extensos verticais da perna (FERREIRA, 2007).
O tema é de interesse para a sociedade, pois as lesões da perna são frequentes nas urgências em
associação a fraturas e consequentes aos acidentes automobilísticos, cujos principais acometidos são
os motociclistas. Os locais mais frequentemente acometidos são os membros inferiores e superiores,
seguidos por lesões na cabeça, segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2006). Portanto,
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inúmeros são os indivíduos que ficam com sequelas funcionais e estéticas, trazendo prejuízos para a
sociedade, sobrecarregando o serviço público de saúde, onerando o sistema previdenciário, e perda
de qualidade de vida.
Muitas dessas lesões não cicatrizam devido a limitações orgânicas inerentes ao paciente,
servindo como porta de entrada para infecções, como também causando baixa auto- estima. Para a
reconstrução das lesões do terço distal da perna é necessária a escolha do retalho apropriado, levandose em consideração a zona receptora e doadora, a vascularização do tecido transplantado, as condições
pré-operatórias do paciente, como também a destreza do profissional que executará a técnica. Por isso
a revisão de literatura desse tema é de relevância para a nossa sociedade e para o meio científico.
O uso dessa técnica para a reconstrução de lesões do terço distal da perna já é bastante utilizada
em muitos centros de cirurgia plástica. O objetivo geral desse estudo foi analisar a versatilidade do
uso do retalho fasciocutâneo sural reverso nas reconstruções das lesões do terço médio inferior da
perna. Os objetivos específicos foram: identificar as limitações do retalho fasciocutâneo sural reverso
nas reconstruções das lesões do terço médio inferior da perna; discutir as complicações do uso do
retalho fasciocutâneo sural reverso nas lesões do terço médio inferior da perna.
Foi realizada uma revisão bibliográfica nas literaturas nacionais e internacionais contendo
publicações nas bases de dados SciELO, LILIACS e MEDLINE, além de livros – textos, teses de pós
graduação, periódicos e editoriais. Os descritores utilizados foram: “Retalho”, “Fasciocutâneo”,
“Sural”, “Complicações”..
2 BREVE HISTÓRIA DA ORIGEM DOS RETALHOS
A reparação e a reconstrução de lesões de difícil cicatrização tiveram nos últimos 30 anos
grandes avanços, através do uso de novos métodos e técnicas, base da moderna cirurgia plásticab
(NASCIMENTO, 2009).
Segundo Nascimento (2009) a reconstrução plástica dos membros e sua reimplantação, era
método pensado e existente desde a pré-história, observado em pinturas rupestres do Paleolítico
Superior (40.000-10.000 a.C. ou anteriores) localizado em cavernas. No continente Asiático,
especificamente na Índia, no séc. X a.C., Kangliara realizou os primeiros retalhos pediculados.
No ano de 1889, foi publicado um trabalho extraordinário sobre a vascularização cutânea do
corpo humano: “Die Hautarteien dês Menschlichen Korpers”. O trabalho de Manchot, foi ignorado
por dezenas de anos (NASCIMENTO, 2009; MARTINS; MOREIRA; VIANA, 2009).
Para a confecção de retalhos mais eficazes e com melhor vascularização, foi introduzida a
utilização da fáscia muscular junto com o retalho, essa técnica foi proposta por Esse, em 1918, e
Gillies em 1921. Dois anos depois, Donski e Fogdestam através de estudos, propuseram a utilização
do retalho fasciocutâneo sural de base distal, essa técnica ficou adormecida por um longo tempo, e
em 1992 foi novamente reintroduzida por Masquelet e colaboradores, sendo descrito as bases
anatômicas para sua utilização e toda a técnica cirúrgica (MARTINS; MOREIRA; VIANA, 2009)..
2.1 A Cirurgia Plástica
A cirurgia plástica é o ramo da Medicina que realiza procedimentos de restauração, atuando em
duas vertentes uma de reparação e outra de estética, em defeitos congênitos ou adquiridos, com o
objetivo de melhorar a função ou a estética. A sua realização leva em conta vários aspectos, como
avaliação do paciente, avaliação dos tecidos, planejamento cirúrgico, aspectos sócio econômicos, tipo
de cirurgia, se de urgência ou eletiva e aspectos psicológicos na cirurgia estética como estado
emocional, e na cirurgia reparadora dando apoio emocional (FERREIRA, 2007).
O ser humano apresenta cerca de 2m² de pele, com 2 mm de espessura, tornando-a o maior
órgão do corpo. Diversas são as funções dessa estrutura, dentre estas temos o papel de barreira física
contra microrganismos, traumas, luz ultravioleta e muitos parasitas. Outro papel é na termorregulação
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e no metabolismo da vitamina D. Possui ainda outra barreira desempenhada pelo sistema imunológico
e molecular contra microrganismos (IRION, 2005).
Figura 1- Camadas da pele
Fonte: Autor desconhecido (2014)
Esse órgão é constituído inicialmente por duas camadas a epiderme e a derme (Figura 1), e
abaixo a hipoderme, uma importante camada conhecida como tecido celular subcutâneo que garante
a pele a sua função de isolamento térmico e protege de lesões por pressão ou estiramento sobre
protuberâncias do sistema esquelético (IRION, 2005).
O órgão cutâneo é constituído por dois componentes que possuem origem a partir de folhetos
germinativos distintos. A epiderme, a camada mais superficial originaria do ectoderme, e a derme, de
localização mais profunda e constituída de tecido conjuntivo denso, não modelado, derivado do
mesoderma (MOORE; PERSAUD, 2004).
A epiderme
é a camada mais externa da pele, e possui como componentes os
queratinócitos, camada basal denominada stratum germinativum responsável pela formação continua
de novas células, melanócitos produtores de melanina, mantenedores da pigmentação da pele e células
de Langerhans que desempenham função imunológica vital (OLIVEIRA, 2011).
A epiderme da pele é classificada como estratificada queratinizada. Além disso, apresenta
constante processo de renovação oriunda da camada germinativa. Organiza-se em cinco sub-camadas
a partir da superfície interna inferior: camada basal, espinhosa, granulosa, lúcida e córnea
(GARTNER; HIATTIA, 2003).
As feridas nada mais são que soluções de continuidade ocasionadas por trauma na pele,
mucosas ou órgãos. Lesões que atingem apenas a epiderme e derme, são chamadas de escoriações;
uma vez que atinja camada inferior, a derme passa a ser chamada de ferida. As feridas geram
proliferação de células de tecido conjuntivo e células epiteliais provenientes da camada profunda e
superficial respectivamente, enquanto que nas escoriações temos apenas proliferação de células da
camada epitelial, não gerando cicatrizes, que são oriundas da proliferação de células de tecido
conjuntivo (FERREIRA, 2007).
As feridas são classificadas em assépticas, contaminadas e infectadas. A primeira é assim
classificada devido à ausência de germes contaminantes, já a ferida contaminada é aquela na qual há
a presença de germe, no entanto sem haver sinais de infecção, tais como rubor, calor, dor, edema e
liquido exsudativo. Esses tipos de feridas levam a processos de cicatrização diferentes, pois nas
assépticas realiza-se a aproximação dos bordos da lesão, nas contaminadas e infectadas deixa-se
cicatrizar por segunda intenção, na qual está presente tecido de granulação (FRANCO, 2002).
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A técnica cirúrgica da cirurgia plástica se baseia em cinco princípios básicos: assepsia realizada
através da degermação das mãos e antebraços, antissépticos, campo cirúrgico: e material adequado e
esterelizado. Uso de técnica atraumática manipulando com delicadeza os bordos da lesão, evitando a
laceração dos bordos da ferida. Hemostasia com pinças hemostáticas delicadas, e uso de
eletrocautério apenas nas extremidades dos vasos. Mínima tensão entre os bordos da ferida, evitando
assim má cicatrização e, por último, coaptação dos planos um a um, de forma a evitar a presença de
bolsões ou cavidades sob a lesão (GOFFI, 2001).
O enxerto é a transposição de tecido de uma área doadora para uma área receptora, sem haver
a presença de irrigação do tecido por pedículo vascular, sendo o tecido nutrido por embebição na área
receptora. Os transplantes são classificados em autógeno, quando o doador e receptor é o mesmo
indivíduo, homógeno, se doador e receptor forem indivíduos diferentes mais da mesma espécie e
heterógeno quando forem de espécies diferentes (FERREIRA, 2007).
A pele obtida para transplante pode ter sido obtida de maneira parcial, quando não é removido
toda a derme, e total, quando SE remove a epiderme e derme. Ao remover o tecido, ocorre um
processo de retração primária mais exuberante no enxerto total, enquanto que as retrações secundárias
ocorrem nos enxertos parciais no leito da lesão (FRANCO, 2002).
Atualmente tem-se os substitutos cutâneos, que nada mais são que meios pelos quais os
pesquisadores e cirurgiões plásticos encontraram para alcançar a grande demanda de lesões simples
ou complexas que necessitam de nova cobertura de pele. Para isso está sendo utilizada a produção
sintética de tecidos e produção in vitro de pele (FERREIRA et al., 2011).
A desvantagem desse método em relação aos retalhos, é a perda da barreira imunológica
garantida pela artéria nutridora, evitando assim infecção. Como também a capacidade tecidual de
hipoxia do transplante, rejeição a aloenxertos, xenoenxertos e custo beneficio. Tem vantagens devido
à grande necessidade de material para transplante, por ser uma técnica de fácil realização através da
simples cobertura da área receptora (FERREIRA et al., 2011).
Os retalhos são tecidos transpostos de uma área doadora para uma área receptora com
manutenção do seu pedículo vascular, ou seja, possui contato com sua área de origem através dos
vasos. São classificados em randomizados, quando não se sabe qual a artéria nutridora, arteriais ou
axiais, quando se sabe qual é a artéria nutridora (FERREIRA, 2007).
Segundo Irion (2005), muitas são as vantagens do retalho em comparação ao enxerto, dentre
eles temos uma cobertura de pele de melhor qualidade, maior probabilidade de manter a sensibilidade
intacta, o uso de retalhos para preenchimento de cavidades, fechamento de lesões com exposição de
estruturas pouco vascularizadas, manutenção de suprimento sanguíneo e a possibilidade de
restauração funcional.
Outra classificação dos retalhos é quanto ao tecido transposto e a presença de ligação com a
área doadora através de pedículo vascular. Dentre estes, tem-se o retalho cutâneo que apresenta
vantagens em relação ao enxerto quanto a presença de vasos sanguíneos intactos. Outro existente, é
o retalho muscular no qual é necessária a cobertura com enxerto, sendo preferíveis aqueles com
suprimento axial, com vasos sanguíneos perfurantes para revascularizar a pele, sendo bastante
utilizado para o enchimento de cavidades (IRION, 2005).
Em contrapartida o retalho livre não mantém ligação com área doadora através de pedículo
vascular como os demais retalhos citados anteriormente, uma vez que a nutrição do tecido
transplantado é feita através de anastomose com vasos na área receptora (IRION, 2005).
As lesões de membros inferiores com perdas de substâncias, geralmente são acompanhadas de
fraturas ósseas, sendo acontecimentos comuns nos prontos socorros. Existem diversas situações que
geram estresse, tanto para o médico como para o paciente, vários fatores de complicação, além da
dor, que podem levar à amputação do membro e até à morte do paciente (BACELAR, 2011).
O restabelecimento da estrutura cutânea responsável pela proteção do organismo, que possui
como uma das funções barreira contra entrada de microorganismos, é uma etapa imprescindível no
tratamento de traumatismos, leões pós-ressecção de tumores e infecções que evoluam com solução
de continuidade do tegumento. O discernimento sobre o tratamento de escolha depende de vários
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fatores como: localização, extensão da lesão, exposição de estruturas nobres e da experiência do
cirurgião com as técnicas de reconstrução (REZENDE et al., 2008).
Para a reconstrução das lesões do terço distal da perna é necessário à escolha do retalho
apropriado, levando-se em consideração a zona receptora e doadora, a vascularização do tecido
transplantado, as condições pré-operatórias do paciente, como também a destreza do profissional que
executará a técnica (VENDRAMIN; SILVA; CESAR, 2004).
As perdas de substâncias localizadas nos membros inferiores mostram-se bastante desafiadoras
quanto a sua reconstrução. O prognostico dessas lesões é determinado, principalmente, pela
quantidade de tecidos desvitalizados e pelo nível e tipo de contaminação bacteriana. No planejamento
da cobertura das perdas de substâncias do membro inferior com exposição óssea, divide-se a perna
em terços: proximal, médio e distal (BACELAR, 20110.
Os retalhos fasciocutâneos são transplantes autólogos, realizado através da transposição de pele
e subcutâneo, juntamente com pedículo vascular, permitindo uma nutrição adequada do tecido,
evitando assim que ocorra necrose, como também diminuindo a chance de infecção devido à
permanência de defesa humoral e celular ao tecido. Para que haja uma pega adequada do tecido é
necessário evitar tensões nas bordas do transplante, observar a perfusão do tecido, se o mesmo se
encontra cianótico, com sinais de necrose e obstrução do retorno venoso (FERREIRA, 2007).
3 RETALHO FASCIOCUTÂNEO SURAL REVERSO
O retalho fasciocutâneo sural reverso está localizado na região posterior da perna, estando
separado dos músculos do compartimento superficial da perna por uma fáscia. É um tecido bastante
vascularizado, aumentando assim a eficácia desse tratamento e diminuindo as limitações e
complicações inerentes a essa técnica. Sua indicação se deve ao seu amplo arco de rotação que
permite a sua utilização em diversas áreas do terço inferior da perna (FERREIRA, 2007).
A área de tecido na qual se encontra o retalho fasciocutâneo sural reverso, se sobrepõe ao
músculo tríceps sural e é irrigado pelo plexo vascular da fáscia profunda, artéria sural superficial
mediana, que se encontra do lado do nervo sural medial, e artérias que andam juntamente com a veia
safena menor (parva), sendo esta responsável pelo retorno venoso (DRAKE; VOGL; MITCHELL,
2005).
3.1 Técnica Cirúrgica do Retalho Fasciocutâneo Sural Reverso
O retalho neurocutâneo da artéria sural, fica localizado na região posterior da perna conhecida
como panturrilha e é indicado para a cobertura de lesões no calcanhar e região do maléolo lateral. A
sua confecção é baseada no nervo sural, que se adentra à fáscia profunda, no nível da região mediana
da panturrilha juntamente com a artéria sural. A artéria sural mais a frente, na região retromaleolar,
se torna superficial e em forma de rede vascular, fazendo inúmeras anastomoses com a artéria fibular.
A anastomose mais distante entre a artéria sural e fibular fica localizada a uma distância equivalente
a três dedos a partir da extremidade do maléolo, sendo esta região o ponto-pivô do pedículo
(MASQUELET; GILBERT, 1997).
A confecção do retalho é realizada através de uma demarcação na junção do relevo das duas
cabeças do gastrocnêmio. Em seguida é realizada uma incisão sobre o local presumido do nervo e da
veia safena parva. O ponto-pivô é local até onde a incisão deve ser feita, a partir dos bordos da incisão
faz-se um debridamento transverso com formação de dois retalhos cutâneos, no intuito de se isolar o
pedículo fascial subcutâneo (GRAB, 2009).
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Figura 2 - Delimitação do retalho e isolamento do pedículo fascial
Fonte: MASQUELET; GILBERT (1997).
Em seguida realiza-se, como ilustrado nas Figuras 2 e 3, a elevação do retalho e de seu pedículo,
juntamente com a fáscia que permite uma melhor vascularização do retalho e menor risco de
complicações. As anastomoses entre a artéria sural e fibular devem ser identificadas ligadas e
divididas, na profundidade do pedículo. Após esta etapa realiza-se a rotação do pedículo em direção
à área lesada no 1/3 inferior da perna. A área doadora é tratada com enxerto cutâneo laminar
(MASQUELET; GILBERT, 1997).18
Figura 3 - Confecção e transposição do retalho
Fonte: MASQUELET; GILBERT (1997).
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3.2 Indicação, Complicações e Limitações do Retalho Sural Reverso
O tratamento das lesões no terço inferior da perna está associado com grande perda de
substância e exposição de estruturas pouco vascularizadas. Em virtude disto buscou-se o estudo de
novos tratamentos, sendo um deles o uso do retalho sural reverso. Lesões estas causadas, em sua
maioria, por acidentes automobilísticos com presença geralmente de fraturas expostas (REZENEDE
et al., 2008).
Segundo Belém et al. (2007) o retalho sural reverso é uma técnica de fácil execução, confiável
e de pós-operatório simples. Já os retalhos cruzados, necessitam de, no mínimo, dois tempos
cirúrgicos e causam extrema limitação aos pacientes de acordo com Martins, Moreira e Viana (2009).
Em relação à versatilidade, o retalho sural reverso, segundo Belém et al. (2007), possui um
amplo arco de rotação, em torno de 180º graus, sem grande volume pedicular. Ainda em relação à
amplitude de rotação do retalho sural reverso, Garcia (2009), afirmou que este apresenta o maior arco
de rotação e na sua confecção não compromete artérias importantes. A microcirurgia, segundo
Martins, Moreira e Viana 2009), possui como pontos negativos uma maior demanda de tempo, equipe
especializada e alto custo, além de ter maior morbidade do que os retalhos fasciocutâneos locais,
sendo estes uma boa alternativa.
De acordo com Vendramin (2012), a maior experiência do cirurgião pode diminuir a incidência
de complicações, sendo o retalho sural reverso uma ótima opção para a cobertura de estruturas pouco
vascularizadas como ossos, tendões e ligamentos em lesões no terço distal da perna principalmente
quando não se dispõe de equipe de microcirurgia na instituição, além de ser uma técnica de fácil
realização e de baixo custo.
Um fator que se deve ter atenção, segundo Belém et al. (2007), é em relação à congestão venosa
acentuada, decorrente de compressão do pedículo em decorrência de túneis estreitos. Em trabalho
realizado por Garcia (2009), todos os pacientes foram tratados com retalho sural reverso sem
tunelização em dois tempos, apresentando congestão em apenas um dos pacientes que respondeu bem
a medidas posturais.
Segundo Belém et al. (2007) os retalhos musculares têm indicação apenas para o tratamento de
lesões dos dois terços proximais da perna; já a indicação dos retalhos em “crossleg”, ou cruzados,
possuem como pontos negativos a imobilização prolongada e a inviabilidade na presença de fixadores
externo.
Segundo Vendramin (2012), o retalho sural reverso possui como limitações a utilização para
reconstrução apenas em lesões no terço inferior da perna, quando da preservação do fluxo em artéria
sural. Outras limitações seria a presença de insuficiência venosa gerando congestão no retalho e
presença de infecção em área receptora.
No estudo realizado por Vendramin (2012), foram coletados dados de indivíduos, num total de
61, sendo 27 do período de janeiro de 2002 a dezembro de 2006 e 34 de janeiro de 2007 a dezembro
de 2011. Foi observado a presença de necrose parcial em 5 (18,5%) no primeiro grupo, com
necessidade de reintervenção em um dos indivíduos e necrose total em um dos pacientes desse grupo.
No segundo grupo, nenhum dos indivíduos teve necrose total do retalho e apenas três tiveram necrose
parcial do retalho sem a necessidade de reintervenção.
Em estudo realizado por Martins, Moreira e Viana (2009), com uso de retalhos fasciocutâneos,
foi reconstruída lesões no calcâneo e região plantar, utilizando uma amostra de 11 indivíduos, sendo
4 do sexo feminino e 7 do sexo masculino. Em oito desses pacientes foi realizado retalho sural reverso
e, em 3, foi empregado o retalho plantar medial. A faixa etária abordada variou de 9 a 58 anos, com
média de 30,09 anos. Dez dos onze indivíduos tiveram lesões traumáticas por motocicleta e apenas
um por neoplasia. Teve-se a presença de complicações no retalho sural reverso; ao todo, uma perda
total, outra parcial e três epidermólises parciais. A área doadora foi tratada com uso de enxerto em
dez dos onze procedimentos, e apenas em um, o tratamento foi por síntese primaria.
Na pesquisa realizada por Belém et al. (2007), foi empregado o retalho sural reverso em ilha
em 22 pacientes, sendo que 19, devido a trauma por motocicleta. É relevante ainda destacar que 19
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eram do sexo masculino e 3 do sexo feminino, numa faixa etária de 12 à 71 anos. Nessa pesquisa a
utilização desse retalho foi utilizada na reconstrução de lesões no terço distal da perna em diferentes
locais, com retalhos de dimensões variadas, com área doadora tratada através de enxerto na sua
maioria, e quatro desses pacientes através de fechamento direto. Das complicações encontradas,
houve um caso de deiscência em área receptora em retalho de 7 cm de largura por 6 cm de
comprimento, em outro caso houve perda de 60% de enxerto complementar, epidermólise de bordas
do retalho em um caso, perda de 50% de enxerto de área doadora, deiscência parcial do retalho,
necrose cutânea e necrose distal; essas foram todas as complicações encontradas.
O uso do retalho sural reverso para reconstrução distal da perna, tornozelo, calcanhar e do pé,
foi realizado em estudo, por Garcia (2009), em 15 pacientes, sendo 11 do sexo masculino e 4 do sexo
feminino. A faixa etária dos pacientes foi de 18 a 76 anos; nos indivíduos acima de 45 anos a comorbidade mais encontrada foi o diabetes em 5 dos 15 analisados. Dentre as causas das lesões, o póstrauma foi a principal, num total de 10 pacientes, sendo que 7 tiveram exposição óssea e 3, exposição
de placa. Nos demais pesquisados a etiologia foi variada: um teve lesão por queimadura elétrica, outro
por picada de aranha marrom (loxocelessp), lesão pós-cirúrgica de remoção de melanoma acral, ulcera
de pressão em paciente acamado e osteomielite crônica.
Em relação à área doadora em estudo realizado por Garcia (2009), na grande maioria o
tratamento foi realizado através de enxerto e em apenas quatro foi realizado por síntese primaria. As
intercorrências identificadas foram epidermólise em três dos pacientes, uma congestão venosa e uma
necrose superficial. As co-morbidades encontradas foram diabetes, hipertensão arterial e etilismo
crônico.
4 CONCLUSÃO
Os retalhos fasciocutâneos são uma alternativa para a reconstrução das lesões com exposição
de estruturas pouco vascularizadas. Isso devido à fácil realização da técnica, baixo custo e ausência
de equipes para a realização de microcirurgia que possuem o custo mais elevado.
O retalho fasciocutâneo sural reverso é confiável, possui amplo arco de rotação, fácil execução,
baixo custo além de ser uma técnica bastante estudada e difundida dentre os retalhos. Isso em parte
se deve ao grande número de pacientes vítimas de acidentes automobilísticos, que apresentam
sequelas em membros inferiores.
As complicações encontradas na literatura foram necrose total e parcial, epidermólise e
deiscência. Contudo, a incidência e a necessidade de intervenção foram mínimas. As limitações
encontradas na literatura foram a indicação do retalho sural reverso apenas para reconstrução de
lesões no terço inferior da perna, quando da preservação do fluxo em artéria sural, insuficiência
venosa gerando congestão no retalho e presença de infecção em área receptora. As áreas doadoras na
grande maioria foram tratadas com enxerto.
Em virtude destes fatores e de outras vantagens como baixo sangramento trans-operatório,
presença de cirurgiões experientes, ausência de sequelas funcionais pela técnica realizada e pouca
alteração estética de área doadora, o retalho sural reverso é uma boa alternativa para a reconstrução
de lesões no terço médio inferior da perna.
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MICROCORRENTE GALVÂNICA E PEELING QUÍMICO DE ÁCIDO GLICÓLICO
PARA TRATAMENTO DE ESTRIAS ALBAS
GALVANIC MICROCURRENT AND GLYCOLIC ACID CHEMICAL PEELING TO
TREAT ALBA STRETCH MARKS
Raphaela Gonçalves Silva1,
Juçara Gonçalves de Castro2
RESUMO
Estrias são lesões atróficas lineares e paralelas, que obedecem às linhas de clivagem da pele.
Galvanopuntura é uma técnica que utiliza corrente contínua, provocando inflamação na pele,
hiperemia, aumento da circulação, nutrição dos tecidos e aceleração do reparo tecidual. O ácido
glicólico 70% promove destruição de partes da epiderme e/ou derme, seguida de reparação tecidual,
promovendo rejuvenescimento tecidual. Esta pesquisa foi realizada de acordo com a Resolução CNS
466/2012, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FACID com o n°796.687. Caracteriza-se
como uma pesquisa experimental qualitativa e estudo de caso, com objetivo geral de comparar os
efeitos da microcorrente galvânica e do ácido glicólico 70%, associados e isolados, no tratamento de
estrias albas. Foi realizada na Clínica-Escola de uma Faculdade em Teresina, incluindo uma mulher,
pele fototipo III de Fitzpatric, maior de 18 anos, com estrias albas na região anterossuperior da coxa.
O experimento foi realizado de março a maio de 2015, aplicando-se microcorrente galvânica com
intensidade de 260 mA em todo o trajeto da estria, ácido glicólico 70%, os dois associados. Os
atendimentos foram semanais, com registros em câmera fotográfica de um celular Apple de 8 Mp, no
1º e 10º atendimentos, analisado qualitativamente. Observou-se que após o tratamento tanto as estrias
tratadas com ácido glicólico 70% quanto com galvanoterapia, obtiveram bons resultados isolados e
associados, onde a estria tratada somente com galvanoterapia apresentou os melhores resultados,
indicando que a galvanoterapia proporciona melhores resultados no tratamento de estrias albas.
Palavras-chave: Microcorrente galvânica. Ácido glicólico. Estrias albas.
ABSTRACT
Stretch marks are linear and parallel atrophic lesions that follow the cleavage lines of the skin.
Galvanopuncture is a technique which uses continuous current causing inflammation in the skin,
hyperemia, increased circulation, tissue nutrition and acceleration of tissue repair. 70% Glycolic acid
promotes destruction of parts of the epidermis and/or dermis followed by tissue repair, promoting
tissue rejuvenation. This research was performed according with the resolution 466/12, approved by
FACID Research Ethics Committee n° 796. 687. It is an experimental research, a case report with a
qualitative approach whose aim was to compare the effects of galvanic microcurrent and 70% glycolic
acid, associated and isolated, to treat alba stretch marks, performed at a school clinic of a Higher
Education School, including 01 woman, skin phototype III of Fitzpatric, over 18 years, with alba
stretch mark on the upper anterior region of the thigh. Data collection was conducted from March to
May 2015, applying galvanic microcurrent with intensity of 260 mA in all stretch mark paths; 70%
glycolic acid and, both associated. The attendances were weekly and it was held photo record in a
camera of an APPLE cell phone with 08 Mp in the 1st and 10th attendances which were analyzed
1
Aluna do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry).
Email: [email protected]
2
Professora do Curso de Fisioterapia da FACID/DeVry, Especialista em Fisioterapia Dermato-Funcional.
Email: [email protected]
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qualitatively. It was observed after the treatment that the stretch marks treated with 70% glycolic acid
and galvanotherapy obtained good results, isolated and associated, but the ones treated only with
galvanotherapy showed the best outcomes, indicating that the galvanotherapy provides better results
in the treatment of alba stretch marks.
Keywords: Galvanic Microcurrent. Glycolic Acid. Alba stretch marks.
1 INTRODUÇÃO
As estrias são afecções dermatológicas apresentadas como lesões atróficas lineares, paralelas
que, geralmente, obedecem às linhas de clivagem da pele. Inicialmente são eritematovioláceas e
depois tornam-se esbranquiçadas. Histologicamente são caracterizadas como lesões que dispersam o
tecido colágeno e elástico, além de se observar uma redução da presença das células da pele como os
queratinócitos, melanócitos e fibroblastos (BORGES, 2010). Dependendo do fototipo da paciente,
elas poderão ser mais evidentes, tornando-se assim um problema estético que causa grande incômodo
para quem as possui (VANZIN; CAMARGO, 2011).
Também são definidas como um processo degenerativo cutâneo e benigno, tendo como
característica ser de trajeto linear e que mudam de coloração de acordo com a evolução de sua fase.
É considerada assim uma disfunção estética, que não gera incapacidade física e apresentam uma
característica de bilateralidade, tendo tendência a se formar simetricamente (AGNES, 2013).
Quanto a localização das estrias, pode-se observar uma incidência maior nas regiões que exibem
alterações teciduais, como glúteos, seios, abdome, coxas, região lombossacral (corriqueiro em
homens), podendo acontecer também em regiões pouco comuns, como fossa poplítea, tórax, região
ilíaca, antebraço e porção anterior do cotovelo (GUIRRO; GUIRRO, 2002).
A galvanopuntura utiliza-se de um equipamento de corrente contínua, tendo sua intensidade
reduzida em nível de microamperes. Deve ser realizada a técnica com o elétrodo ativo em forma de
agulha, que pode ser tanto do tipo descartável quanto esterilizável, que será acoplada a um “porta agulhas” em forma de caneta, que se liga ao polo negativo da corrente a ele associado (BORGES,
2010).
A microcorrente galvânica é usada como recurso físico de primeira escolha para a melhora da
pele com estrias albas. A estimulação produz uma compilação dos efeitos da corrente, que se
associada à inflamação causada em decorrência da agulha, vai desencadear um processo de reparação
do tecido (AGNES, 2013).
De acordo com Borges (2010), não se recomenda nenhum outro tipo de tratamento, como
recursos de eletrotermofototerapêutica e/o cosmetológico, associado à galvanoterapia, para que não
haja risco de qualquer tipo de ação anti-inflamatória. Abre-se exceção ao uso de protetores solares,
pois a exposição ao sol pode causar alterações discrômicas na pele, e recursos que vão potencializar
a lesão inflamatória, como os ácidos (retinóico, glicólico), microdermoabrasão, vacuoterapia e
carboxiterapia.
Ácidos são todas as substâncias que possuem seu potencial hidrogeniônico (pH) inferior ao da
pele, transformando assim em uma região ácida, o que proporciona uma descamação cutânea, que
pode ser desde uma esfoliação até o alcance de um peeling (JAHARA, 2006).
O peeling químico, que também é conhecido como quimioesfoliação ou dermopeeling, consiste
na aplicação de determinado agente esfoliante na pele, que vai destruir partes da epiderme e/ou derme,
e em seguida ocorre uma regeneração dos tecidos destruídos. O ácido tricloroacético, ácido glicólico
e o ácido retinóico, são exemplos de alguns ácidos usados em peeling para o tratamento de estrias
(BORGES, 2010).
O peeling por ácido glicólico é pouco irritante e pouco foto sensibilizante, ou seja, é
caracterizado por não ter efeito tóxico a nível sistêmico. Entretanto, deve-se sempre observar a
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quantidade de concentração do ácido a ser usado, visando sempre o nível superficial (ZAMPRONIO,
2011).
A concentração ou percentual do ácido escolhido para o peeling químico vai depender do
fototipo cutâneo, da sensibilidade dérmica, do quadro clínico da paciente e do tipo de ácido utilizado.
Nas estrias albas os peelings mais utilizados podem ser muito superficiais, que vão afinar e remover
o estrato córneo e não criam lesão no estrato granuloso, podendo ser realizado com o ácido glicólico
à 10%, retinóico à 5% e também com o peeling superficial de ácido glicólico 70%, que produz necrose
de parte ou de toda a epiderme, em qualquer parte do estrato granuloso até a camada das células basais
(JAHARA, 2006).
O peeling tem como objetivo proporcionar afinamento e compactação do estrato córneo,
aumentar a espessura da epiderme, suavizando, melhorando a coloração e aumentando a densidade
do colágeno solúvel, o que promove uma melhora do aspecto da pele de um modo geral (JAHARA,
2006).
O tratamento de estrias é desafiador e estabelece persistência e disciplina por parte da paciente.
O sucesso no tratamento de estrias jovens é bem maior quando comparado ao de estrias antigas, sendo
assim o tratamento de estrias tem como finalidade suprimir o tecido fibroso, e substituir por células
novas, restabelecendo a elasticidade e a aparência saudável da pele. Geralmente, esse tratamento
abrange a utilização de peeling e esfoliantes químicos, que hidratam e estimulam a produção de matriz
extracelular por manifestar um “processo inflamatório local”, além de cooperar positivamente para a
diminuição da aspereza que normalmente se apresenta na superfície dessas estrias. De todos os
esfoliantes conhecidos, o ácido glicólico é um dos que mais estimulam a cicatrização das estrias
(VANZIN; CAMARGO, 2011).
O estudo teve como objetivo principal comparar os efeitos da microcorrente galvânica e do
peeling de ácido glicólico 70% no tratamento de estrias albas; como objetivos secundários, aplicar
microcorrente galvânica e um peeling de ácido glicólico 70% em estrias albas, isolados e associados,
avaliar macroscopicamente os efeitos do tratamento com microcorrente galvânica do peeling de ácido
glicólico, isolados e associados, e comparar os resultados obtidos no tratamento destas estrias albas.
O motivo que levou a pesquisar sobre os efeitos da microcorrente galvânica e peeling químico
em estrias albas, foi o interesse pelo tema e o fato de que as estrias são muito frequentes em mulheres,
causando grande desconforto para as mesmas, por se tratar de linhas atróficas na pele que provoca
transtornos estéticos.
A fisioterapia dermato-funcional tem como base a prevenção e recuperação física e funcional
dos distúrbios endócrino-metabólicos, dermatológicos e músculos-esqueléticos sendo uma área de
atuação que com o passar dos anos cresce ajudando a solucionar problemas que causam desconforto
estético.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi planejada de acordo com a Resolução CNS 466/2012, sendo submetida ao
Comitê de Ética em Pesquisa da FACID com Protocolo 796.687.
Trata-se de uma pesquisa experimental de abordagem qualitativa, com estudo de caso realizado
com uma mulher de 21 anos com pele fototipo III de Fitzpatrick, com estrias localizadas na região
ântero-superior da coxa direita. Foram excluídas mulheres que fazem uso de anticoncepcionais orais,
que já tinham realizado tratamento para estrias, gestates ou as que possuíam alergia ao ácido.
Após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deu-se início a pesquisa. A
paciente foi submetida a uma avaliação fisioterapêutica realizada antes do tratamento, por meio de
uma ficha própria, onde constavam questionamentos que incluíram cor da pele de acordo com a
Classificação de Fitzpatrick, ano da menarca, época de surgimentos das estrias, coloração inicial,
coloração atual, aspecto macroscópico e localização das mesmas, além de perguntas sobre patologias
associadas.
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Após avaliação realizou-se registro fotográfico das estrias na região antero-superior da coxa
direita da voluntária e então iniciou-se o tratamento utilizando para a galvanoterapia o aparelho
STRIAT da marca Ibramed de alimentação 110/220 volts (60 Hz) automático, com amplitude máxima
de corrente microgalvânica- 400 microampères(mA) e amplitude máxima de corrente galvânica – 20
miliampères (uA), tipo de pulso: corrente contínua filtrada constante e potência de entrada - Consumo
(máx.): 35 VA. Corresponde a um gerador de corrente contínua filtrada constante, com duas saídas,
sendo um polo negativo em forma de caneta com uma agulha na ponta e um polo positivo com
eletrodo de alumínio coberto com uma esponja.
Em todas as sessões foram utilizadas agulhas estéreis descartáveis próprias para striat. Ao início
foi realizada assepsia da região a ser tratada com álcool a 70% e gaze. Em seguida a placa
correspondente ao polo positivo do aparelho foi previamente umedecida com água e posicionada
junto ao corpo da paciente. O polo negativo, representado pela agulha sustentada pela caneta, foi
utilizado para punturar a estria em todo o seu trajeto.
Foi utilizado o ácido glicólico 70% para o tratamento com peeling químico por
aproximadamente 20 minutos. Selecionou-se três estrias assim divididas: na primeira estria foi
aplicado apenas a microcorrente galvânica, na segunda aplicamos o ácido glicólico (70%) por 20
minutos e após decorrido o tempo foi realizado a assepsia e aplicado a corrente galvânica e na terceira
aplicarmos apenas o ácido glicólico (70%). A microcorrente galvânica foi programada com
intensidade de 260 mA e tempo dependendo do tamanho da estria, sendo o suficiente para punturar
em todo o seu trajeto; e na terceira estria foi aplicado o ácido glicólico foi aplicado por 20 minutos e
depois retirado com gaze e água. Foram feitos atendimentos semanais seguindo o mesmo protocolo
nas estrias escolhidas. Os registros fotográficos foram coletados utilizando-se a câmera fotográfica
de 8 megapixels de celular da marca APPLE de nome Iphone 4, a uma distância de 25 centímetros da
pele da voluntária, antes do primeiro atendimento e uma semana após decorrido do décimo
atendimento. Realizou-se uma análise macroscópica através de registros fotográficos e avaliou-se
qualitativamente coloração da pele, espessura e tamanho das estrias.
O protocolo total incluiu 10 sessões, com intervalos de, no mínimo, sete dias entre uma e outra,
cada uma com duração de aproximadamente 50 minutos. Ao final do tratamento foi aplicado um
questionário em que a paciente respondeu questões objetivas sobre o grau de satisfação do tratamento.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 1 mostra três estrias de aspecto inestético, localizadas na região anterossuperior da
coxa direita, de coloração esbranquiçada, atróficas e lineares formando uma leve depressão na pele,
denominadas estrias albas, enquanto que a Figura 2 mostra as três estrias após 10 atendimentos
realizados em intervalos de, no mínimo, uma semana. Na Figura 2 é possível observar uma melhora
geral no aspecto estético da pele, com diminuição do diâmetro e redução da depressão das estrias. A
estria 1 foi tratada somente com microcorrente galvânica, observando-se que macroscopicamente
houve uma melhora da cor e aparência da pele, com diminuição da largura da estria, tornando-a quase
imperceptível. A estria 2 também apresentou evidente melhora, principalmente, se comparada à estria
3, que foi a que apresentou menor resultado.
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FIGURAS 1 E 2 – IMAGENS ANTES E APÓS O TRATAMENTO
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
A voluntária deste estudo apresentou estrias albas que surgiram no período da adolescência.
Em estudo realizado por Vinadé, Oliveira e Borges (2009), o surgimento das estrias nas pacientes
selecionadas apresentou predominância no período da adolescência, o que corrobora com os dados
desta pesquisa.
Segundo Lima e Pressi (2009), a microcorrente galvânica é uma corrente utilizada para o
tratamento de estrias, permitindo alcançar até 40% de melhora no aspecto em que está se apresenta.
Neste estudo utilizou-se como protocolo de tratamento a realização da galvanopuntura através
da punturação linear com 260 mA de intensidade, realizada com uma angulação de 45º de inclinação
da agulha em relação à pele. Borges (2010) sugere que os profissionais de fisioterapia dermatofuncional utilizem a microamperagem entre 70 e 200 microamperes, não devendo ultrapassar 400
microamperes para evitar o aparecimento de manchas e lesões na pele. Agnes (2013) ressaltou que a
microamperagem deve variar de acordo com a sensibilidade do paciente, oscilando de 150 a 300
microamperes, o que corrobora com o presente estudo, visto que foi utilizado 260 microamperes.
Saavedra, Saavedra e Angelich (2009), em seu estudo que incluiu 11 pacientes, comparando os
tratamentos de intradermoterapia com vitamina C, ácido hialurônico e lidocaína e
microgalvanopuntura, após 10 sessões observaram melhora tanto no aspecto estético como no
histológico, em que a microgalvanopuntura apresentou melhores resultados, menores complicações,
além da vantagem de ter um menor custo. O que ficou evidenciado no presente estudo pois a estria
que foi tratada somente com microgalvanopuntura, mostrou resultados mais satisfatórios.
De acordo com Guirro e Guirro (2002), no início do tratamento, o paciente pode não sentir dor,
entretanto, conforme se avança no número de sessões, esta aumenta e pode ser percebida como dor
suportável e até intensa. Próximo ao final do tratamento, o seu limiar já é bem evidenciado. Neste
momento, é importante realizar uma reavaliação, onde se indica uma pausa maior entre as sessões.
Os achados do presente estudo ratificam esta informação, visto que houve aumento da intensidade da
dor em comparação ao primeiro e décimo atendimento, onde no início foi relatado pela paciente que
sentiu uma dor fraca e no final do tratamento foi relatado como desconfortável.
Silva et al. (2009) realizaram estudo de caso e após três sessões de microgalvanopuntura
relataram resultados positivos, como a ocorrência de mudança na coloração da estria e aumento da
sensibilidade dolorosa e tátil.
Não foi encontrada na literatura a associação do peeling de ácido glicólico e a
microgalvanopuntura em tratamento de estrias e sim somente estudos isolados. A pesquisa mostra
que a associação destas técnicas promoveu resultados satisfatórios no tratamento de estrias albas.
Atualmente existem outras técnicas para o tratamento de estrias atróficas, sendo citadas por
Xavier e Petri (2009) no seu artigo, um estudo de caso, com uma voluntária de 19 anos de idade que
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havia emagrecido 10 kg em quatro anos, dando início ao aparecimento das estrias. Como proposta de
tratamento foi utilizada microdermabrasão, vacuoterapia, ácido glicólico a 20% e ácido ascórbico a
10%, totalizando nove sessões, que teve como resultado final a diminuição da largura da estria e
mudança da sua coloração, o que tornou as estrias brancas em rosadas. No estudo em tela utilizou-se
o ácido glicólico a 70% e foi possível observar melhora no aspecto da estria da paciente quando este
foi aplicado sozinho, mas seu resultado mostrou-se melhor na estria em que houve a associação com
a microcorrente galvânica.
Nesta pesquisa avaliou-se também o nível de satisfação da voluntária com o tratamento
realizado. Constatou-se, através do questionário de satisfação, que a participante percebeu diferença
na aparência e na textura das estrias tratadas, considerando os resultados alcançados como muito
satisfatórios, o que está de acordo com o estudo anteriormente mencionado.
4 CONCLUSÃO
Após a análise dos resultados obtidos conclui-se que tanto a microcorrente galvânica quanto o
peeling de ácido glicólico 70%, são recursos para realizar o tratamento de estrias albas, oferecendo
bons resultados quando utilizados associados ou isolados.
Foi possível observar após o término das sessões que a estria tratada somente com
microcorrente galvânica obteve melhores resultados do que se associada ao ácido glicólico e também
se comparada à estria tratada somente com o peeling químico.
Faz-se necessário mais pesquisas na área de Fisioterapia Dermatofuncional, com maior número
de sessões sendo feita a associação do peeling químico com a corrente galvânica.
REFERÊNCIAS
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microdermoabrasão no tratamento de estrias brancas-estudo de caso. 2009. 63 f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Estética e Cosmetologia) – Universidade Luterana do Brasil,
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decorrentes da gravidez. 2011. 15 f. Monografia de Conclusão de Curso (Especialização em
Fisioterapia Dermato-Funcional) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul, Unijui, 2011.
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INFILTRAÇÃO MARGINAL EM RESTAURAÇÕES DE RESINA COMPOSTA APÓS
CLAREAMENTO DENTAL COM PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO 35%
MARGINAL LEAKAGE IN COMPOSITE RESIN FILLINGS AFTER TOOTH
WHITENING WITH 35%HYDROGEN PEROXIDE
Natércya Brenda de Araújo Cavalcante¹,
Conceição de Maria Probo de Alencar Batista²
RESUMO
O presente estudo avaliou, in vitro, a influência do peróxido de hidrogênio à 35% sobre o selamento
marginal em restaurações de resina composta de dentes submetido à ação do agente clareador de
consultório. Para avaliação do padrão de infiltração marginal após clareamento dental de consultório.
Vinte dentes humanos hígidos extraídos foram divididos em dois grupos experimentais de dez dentes
cada (n=10). Preparos cavitário classe I foram realizados na superfície oclusal (4x4x2mm), e
posteriormente receberam restaurações diretas com resina composta, após as restaurações as amostras
ficaram armazenadas em estufa a 37º durante 28 dias. No Grupo I (Grupo controle) foram realizadas
somente restaurações diretas com resina composta e no Grupo II (Grupo experimental) restaurações
diretas com resina composta e três sessões de clareamento dental de consultório. Todos os grupos
foram submersos no corante azul de metileno durante 24 horas. O corte dos dentes foi realizado com
disco diamantado. A análise não demonstrou diferença entre os grupos para a variável estudada.
Conclui-se que, o peróxido de hidrogênio à 35% não tem influência sobre o selamento marginal de
restaurações de resina composta submetidas à ação do agente clareador de consultório.
Palavras-chave: Restauração dentária permanente. Infiltração dentária. Peróxido de hidrogênio.
ABSTRACT
This study evaluated in vitro the influence of 35% hydrogen peroxide at on the marginal sealing in
composite resin fillings of teeth subjected to the action of office bleaching agent to evaluate the
standard marginal leakage after tooth whitening performed in dental offices. Twenty healthy extracted
human teeth were divided into two experimental groups of ten teeth each (n=10). Class I cavity
preparations were performed in the occlusal surface (4x4x2mm), and later received direct fillings
with composite resin. After the fillings, samples were stored in an oven at 37º for 28 days. In Group
I (control group) only direct restorations were made with composite resin and in Group II
(experimental group) direct restorations were made with composite resin and three tooth whitening
sessions held in dental offices. All groups were submerged in blue methylene dye for 24 hours. The
cut of the teeth was carried out with diamond disk. The test results showed no difference between
groups regarding the variable studied. In conclusion, the 35% hydrogen peroxide has no influence on
the marginal sealing of restorations made with composite resin that undergo the action of the
bleaching agent in dental office.
Keywords: Permanent dental filling. Dental leakage. Hydrogen peroxide.
_______________
¹ Aluna de graduação (10º período) do Curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial – FACID-DeVry.
e-mail: [email protected]
² Professora do Curso de Odontologia da FACID, Especialista em Dentística.
e-mail: [email protected]
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1 INTRODUÇÃO
Haywood e Heyman introduziram a técnica do clareamento caseiro, empregando o Peróxido de
Carbamida 10% como agente clareador e foram os responsáveis pela popularização do clareamento
dental em dentes vitais. Na década de 90 a técnica se popularizou e os clínicos passaram a utilizá-la
rotineiramente (BORGES et al., 2006).
A estética tem ditado as regras de comportamento da sociedade, e as pessoas submetem-se a
tudo na tentativa de se enquadrar nos padrões de beleza dessa nova realidade. Atualmente a
preocupação não é mais restrita ao corpo escultural, também há uma extrema procura por um sorriso
bonito e branco, e isso tem tornado os pacientes cada vez mais exigentes, cobrando dos cirurgiões
dentistas soluções imediatas e eficazes (DORINI et al., 2010).
De acordo com Dorini et al. (2010) o clareamento dental por ser um tratamento conservador, e
de resultado imediato na maioria dos casos, tem sido um dos tratamentos mais procurados. Existem
diversos tipos de agentes clareadores e em diferentes concentrações, destes os mais utilizados são o
Peróxido de Carbamida a 10% (técnica caseira) ou o Peróxido de Hidrogênio, empregado em
concentrações de 30% a 35% (técnica de consultório), tanto para o clareamento de dentes vitais como
não vitais.
Segundo Borges et al. (2006) o peróxido de carbamida 10% é usado nas técnicas de
clareamento caseiro, equivalendo a 3% do peróxido de hidrogênio, podendo portanto ser aplicado
pelo próprio paciente, pois pode entrar em contato com os tecidos moles da boca sem agredir a mucosa
bucal. Este material é composto de gel de carbopol, um polímero orgânico hidrossolúvel com a função
de veículo para diluição dos cristais de peróxido de carbamida. O peróxido de hidrogênio de 30 a
35% por sua vez, é empregado nos consultórios odontológicos e requer atenção e cuidado durante sua
aplicação, pois quando em contato com a mucosa pode provocar irritação ou até mesmo queimadura.
O mecanismo de ação dos agentes clareadores está relacionado com a liberação do oxigênio
nas estruturas dentais, o qual por meio das reações de oxi-redução, promove a quebra das
macromoléculas que compõem os pigmentos, as quais são eliminadas por um processo de difusão.
Porém, a ação do agente clareador não é especifica, além de degradar os pigmentos, ele também atua
em toda a superfície com a qual entra em contato, provocando alterações na superfície do esmalte,
assim como pode também alterar importantes propriedades das resinas compostas, como a resistência
de união à estrutura dental (DORINI et al., 2010).
Diante do que foi exposto, surgiu então o seguinte questionamento: o peróxido de hidrogênio a
35% pode degradar o vedamento marginal de restaurações de resina composta e se realmente isso
acontecer, o quanto de infiltração pode ser observada? Então tornou-se de fundamental importância
a realização desse trabalho, tendo como objetivo avaliar a influência do peróxido de hidrogênio à
35% sobre o selamento marginal em restaurações de resina composta de dentes submetido à ação do
agente clareador de consultório.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Tratou-se de uma pesquisa experimental de caráter descritivo com abordagem quantitativa. A
pesquisa foi realizada somente após submissão e aprovação prévia pelo Comitê de Ética e Pesquisa –
CEP da Faculdade Integral Diferencial – FACID, CAAE 36767514.7.0000.5211. Desenvolvida in
vitro com dentes humanos extraídos, através do qual foi avaliada a influência do peróxido de
hidrogênio à 35% sobre o selamento marginal em restaurações de resina composta de dentes
submetidos à ação do agente clareador de consultório.
2.1 Cenário do Estudo
A pesquisa foi realizada no Laboratório Multidisciplinar do curso de Odontologia da Faculdade
Integral Diferencial/DeVry, localizada no munícipio de Teresina/Piauí.
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2.2 Amostra
A amostra foi composta por 20 molares humanos hígidos com indicação de exodontia e as
mesmas foram realizadas nas disciplinas de Cirurgia I e II do curso de Odontologia da Faculdade
Integral Diferencial/DeVry ou através de doações feita por Cirurgiões Dentistas, devidamente
registrados no Conselho Regional de Odontologia, com termos de doação (Apêndices A e B)
devidamente preenchido com finalidade de comprovar a legalidade da origem dos mesmos.
2.3 Coleta de Dados
2.3.1
Preparo e armazenamento das amostras
Após a exodontia os dentes foram lavados com soro fisiológico e armazenados em solução de
timol a 0,1% até o início de seu preparo. A fase inicial de preparo consistiu na remoção de restos do
ligamento periodontal que permaneceram na superfície radicular dos espécimes amostrais com
curetas de Gracey (Figura 1A). As amostras permaneceram armazenadas em solução de timol a 0,1%
até receber o tratamento previsto para o grupo experimental.
2.3.2
Confecção dos preparos cavitários
Foram confeccionadas cavidades classe I (oclusal) (4mm x 4mm) com profundidade de 2,0 mm
(Figura 1D), totalizando 20 preparos, com pontas cilíndricas diamantada (KG 3145) em alta rotação
(D700-Dabi) sob refrigeração de jato ar/água (Figura 1C). A cada 5 dentes preparados a ponta foi
trocada, de modo a evitar que a perda de granulação decorrente do uso pudesse deixar padrões
diferentes de ranhuras na superfície dentinária. Com o intuito de padronizar os preparos cavitários,
foi utilizada uma Sonda Milimetrada (Figura 1B) e pincel para mensurar as dimensões das cavidades
e estas foram executadas pelo mesmo operador.
Figura 1- Remoção dos restos de ligamento periodontal em A, em B sonda milímetrada,
em C pontas diamantadas, em D preparo cavitário pronto.
Fonte: CAVALCANTE (2015)
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2.3.3
Realização das restaurações definitivas com resina composta
As cavidades foram condicionadas com ácido fosfórico 35% gel e a aplicação foi feita segundo
as orientações do fabricante (Figura 2A e 2B) (Quadro 1). Após o condicionamento, as cavidades
foram lavadas por 60 segundos com jatos de água, e o excesso de água foi removido com bolinha de
algodão estéril (Figura 2C). Em seguida, foi feita a aplicação do adesivo (Figura 2D) Ambar (FGM)
de acordo com a orientação do fabricante (Quadro 1). E a restauração foi realizada em seguida com
resina composta Opallis (FGM), cor A2, inserida nas cavidades de forma incremental (Figura 2E) e
fotopolimerizadas de acordo com as recomendações do fabricante (Quadro 1). Após a realização dos
preparos cavitários e restauração dos mesmos, as amostras foram armazenadas em estufa a 37°
durantes 28 dias.
Figura 2 – Sequência da restauração com resina composta. Em A condicionamento ácido
do esmalte, em B condicionamento ácido da dentina, em C secagem da cavidade com bolinha
de algodão, em D aplicação do sistema adesivo, em E inserção incremental da resina, em F
restauração pronta.
Fonte: CAVALCANTE (2015)
Quadro 1 – FORMA DE UTILIZAÇÃO DOS MATERIAIS
MATERIAL
Ácido Fosfórico 37%
PRINCIPAIS COMPONENTES
FORMA DE UTILIZAÇÃO *
Ácido fosfórico, digluconato de Limpe e seque a região a ser
clorexidina,
espessante,
água condicionada; aplique o ácido e
purificada e corante.
aguarde 30 segundos no esmalte e
15 segundos na dentina; limpe o
local com água em abundância;
seque com algodão ou papel
absorvente.
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Adesivo (Ambar CE Ingredientes ativos: MDP (101023 - FMG)
Metacriloiloxidecil dihidrogênio
fosfato), Monômeros matacrílicos,
Fotoiniciadores, Co-iniciadores e
estabilizante. Ingredientes Inativos:
Carga inerte (nanopartículas de
sílica) e Veículo (etanol).
Resina
Matriz monomérica contendo Bis
Composta(Opallis CE (GMA), Bis (EMA), UDMA e
1023- FGM)
TEGDMA.
Whiteness HP
Peróxido de hidrogênio 35%,
Espessante, corante vermelho, água
e glicol.
Aplique
duas
camadas
consecutivas do adesivo. A
primeira camada deve ser aplicada
friccionando vigorosamente com o
microbrush embebido de produto
durante 10 segundos. Na sequência
aplica-se a segunda camada de
adesivo durante mais 10 segundos
e leve jato de ar por 10 segundos
para evaporação do solvente.
Fotopolimerize Ambar com luz
azul por 10 segundos.
Técnica
de
inserção
e
polimerização por incrementos. O
tempo de polimerização de cada
incremento é de 40 segundos.
Espessura
máxima
dos
incrementos de 2mm.
Isolamento relativo com Top Dam
e misture as fases do clareador na
proporção de 3 gotas da fase 1
(peróxido) para 1 gota da fase 2
(espessante). Com o auxílio de um
pincel
ou
espátula
cubra
totalmente a superfície vestibular
dos dentes a serem clareados,
incluindo as interproximais, e
estenda um pouco nas faces incisal
e oclusal. A camada de gel deverá
ter entre 0.5 e 1mm de espessura.
Esse processo de aplicação deverá
ser repetido 3 vezes de 15 minutos
cada.
*Informações do fabricante.
Tabela 1 – Divisão dos grupos experimentais
GRUPOS
Grupo controle (Grupo 1)
TRATAMENTO
Dentes com restauração direta de resina composta
Grupo Experimental (Grupo 2)
Dentes com restauração direta de resina composta, e
clareados com peróxido de hidrogênio 35%
2.3.4
Clareamento da amostra
O grupo 2 foi submetido à ação do Peroxido de Hidrogênio 35% (Figura 3A) de acordo com a
orientação do fabricante (Quadro 1). Foram realizadas 3 sessões de 45 minutos cada, com intervalo
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de 7 dias entre as sessões, no momento do clareamento os dentes foram inseridos em uma base de
cera e na região cervical foi aplicada uma barreira gengival (Top Dam-FGM) (Figura 3A). Depois de
cada seção de clareamento foi feita uma aplicação tópica de Flúor Gel Neutro a 2% (Nova DFL) por
1 minuto (Figura 3C).
Figura 3: espécimes amostrais para clareamento dental. Em A aplicação da barreira gengival,
em B aplicação do agente clareador, em C aplicação do flúor gel.
Fonte: CAVALCANTE (2015)
2.3.5
Corante
As amostras foram isoladas com duas camadas de esmalte de unha para evitar que o corante
penetrasse por outro local que não fosse a restauração, para isso foi isolada toda a porção coronária
com exceção da restauração e um milímetro além dela. Em seguida os dentes foram inseridos em uma
base de cera e a porção coronária ficou em um recipiente plástico, submersas em azul de metileno por
24 horas.
Figura 4 – Em A espécimes amostrais imersos em corante, em B vista oclusal dos espécimes
depois de removidos do corante.
Fonte: CAVALCANTE (2015)
2.3.6 Avaliação das amostras
Após serem removidas do corante, as amostras foram retiradas da base de cera, lavadas e
descapadas do esmalte, em seguida foram seccionadas em sentido mésio distal (Figura 5C) e seguindo
o longo eixo do dente, com discos diamantados em baixa rotação. Depois foram analisadas a olho nu,
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utilizando como critério os escore 0 (quando o corante não penetrar), 1 (infiltração que atinge o terço
externo da dentina), 2 (infiltração atinge o terço médio da dentina), e 3 (quando atingir o terço interno
da dentina).
Figura 5 – Em A (vista oclusal) e B (vista lateral) do dente inserido na base de cera para a
realização do corte do mesmo. Em C o dente após o corte.
Fonte: CAVALCANTE (2015)
2.4 Organização e Análise dos Dados
Os dados foram analisados e os resultados obtidos foram organizados em gráfico.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No presente estudo foi analisada a variável infiltração marginal 20 dentes humanos hígidos
extraídos (molares superiores e inferiores) onde foram realizados preparos cavitários e restaurações
diretas com resina composta, seguidas de clareamento dental com peróxido de hidrogênio à 35% do
grupo experimental (n=10). Na sequência, as amostras de ambos os grupos foram imersas no corante
(azul de metileno) durante 24 horas para análise da infiltração marginal. Os dados obtidos estão
expressos e analisados a seguir.
Para análise da variável infiltração marginal foram utilizados como critério os escores 0
(quando o corante não penetrar), 1 (infiltração que atinge o terço externo da dentina), 2 (infiltração
atinge o terço médio da dentina), e 3 (quando atingir o terço interno da dentina). Os resultados obtidos
não demonstraram diferença entre os grupos (p=0), negando a hipótese de que peróxido de hidrogênio
à 35% promove degradação da interface adesiva da restauração podendo levar à infiltração marginal.
Os resultados estão demonstrados no Gráfico 1 a seguir.
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Gráfico 1 – Comparação da infiltração marginal entre grupo controle e grupo
experimental.
E
S
C
3
O
2
R
1
Score
E
0
G1
G2


G1: Grupo controle
G2: Grupo experimental
Fonte: Cavalcante, 2015.
Na mesma direção dos resultados encontrados neste estudo Esberard et al. (2004), Fayad et al.
(2002) e Pinheiro (2011), verificaram que não há uma associação dos agentes clareadores com o
aumento da infiltração marginal em restaurações de resina composta, no entanto observaram que os
agentes clareadores provocam alterações na morfologia dos tecidos mineralizados dos dentes,
caracterizando um processo de erosão significativo, podendo também diminuir a microdureza da
dentina e do esmalte, provocar perda mineral na dentina e no cemento, e além disso é capaz de
promover redução da resistência adesiva das resinas compostas.
Azevedo et al. (2011), Campos et al. (2011), Fayad et al. (2002) e Vieira et al. (2012)
constataram que não há relatos de que o agente clareador seja capaz de alterar a adesão de restaurações
existentes, no entanto verificaram que agentes clareadores promovem alterações na rugosidade
superficial, diminuindo a dureza superficial e o brilho das restaurações de resina composta, e que
essas alterações variam conforme a composição da resina utilizada, sendo as de nanotecnologia mais
resistentes à ação desses produtos. Para esses autores a substituição ou o reparo das restaurações de
resina composta após o tratamento clareador pode ser indicado apenas por razões unicamente
estéticas.
Relatos sobre a deterioração marginal da interface adesiva em restaurações de resina
provenientes da ação de agentes clareadores, não foram encontrados nesta pesquisa, no entanto a
interferência do oxigênio residual sobre a polimerização das resinas já foi relatada em vários trabalhos
como o de Dorini et al. (2010), Prado; Rabelo (2012) e Sundfeld et al. (2013), que relataram que o
agente clareador não entra em contato direto com a dentina, porém devido ao aumento da sua
permeabilidade, o produto é capaz de penetra-lá e então a utiliza como uma espécie de reservatório
de oxigênio, por esse motivo, mesmo após o término do procedimento, há uma contínua liberação de
oxigênio na estrutura dental. O oxigênio residual é capaz de ultrapassar a camada de esmalte e inibir
a polimerização dos materiais resinosos e então interferir na resistência adesiva ao esmalte,
comprometendo a eficácia do sistema adesivo restaurador. Nesses casos onde o oxigênio residual
interferiu na polimerização do sistema adesivo restaurador, pode ser observado aumento da infiltração
marginal nessas restaurações realizadas pós clareamento dental.
De acordo com Azevedo et al. (2011), Dorini et al. (2010), Rheinheimer (2008) não há dúvidas
quanto ao sucesso clínico do tratamento clareador, porém no que diz respeito a seus efeitos adversos
ainda existem muitas controvérsias, em virtude disso as alterações nas propriedades físico-químicas
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(dureza e rugosidade superficial) dos materiais restauradores após o clareamento dental, têm sido
motivo de estudo de muitos pesquisadores, não havendo um consenso entre eles.
4 CONCLUSÃO
Considerando a metodologia utilizada e as limitações do estudo, foi possível concluir que o
peróxido de hidrogênio à 35% não tem influência sobre o selamento marginal de restaurações de
resina composta de dentes submetidos à ação do agente clareador de consultório.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
OCORRÊNCIA DE BACTÉRIAS MULTIRRESISTENTES EM UMA UNIDADE DE
TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA DE HOSPITAL PÚBLICO DE TERESINA-PI
OCCURRENCE OF MULTIRESISTANT BACTERIA IN A PEDIATRIC INTENSIVE
CARE UNIT IN A PUBLIC HOSPITAL OF TERESINA-PI
Ylara Liza Porto de Carvalho1,
Carlos Leonardo Evangelista Bento dos Santos2,
Guilherme Henrique Mendes Leal de Sousa Martins3,
Maria Clara Pimentel Lopes 4,
Géssica Kelly de Sousa Andrade5
RESUMO
A Unidade de Terapia Intensiva tem mostrado elevados índices de infecção hospitalar, incluindo a
ocorrência de microrganismos multirresistentes. As razões para tal estão associadas ao risco
intrínseco de transmissão de agentes infecciosos entre pacientes, uso excessivo de antimicrobianos,
tempo de permanência prolongado. Este estudo teve como objetivo avaliar a ocorrência de bactérias
multirresistentes em pacientes hospitalizados em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica
(UTIP). Trata-se de um estudo observacional, retrospectivo onde foram analisados 90 prontuários
médicos de pacientes internados em uma UTIP em um Hospital público de Teresina-PI, no período
de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2013, mediante aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da
FACID. Em 9 pacientes foram isoladas bactérias que preencheram os critérios de multirresistência
estabelecidos. O agente isolado com maior frequência foi o Acinetobacter baumannii, com
53,8%/n=7. Em relação ao gênero dos pacientes infectados por bactérias multirresistentes,
predominou o masculino 66,7%/n=6; a faixa etária de predomínio foi a de 30 dias a 2 anos de idade
44,4% (n=4); quanto a comorbidades, 55,6%/n=5 não possuíam. O tempo médio de internação na
UTIP foi de 66 dias. O dispositivo invasivo usado por maior média de dias foi à ventilação mecânica
(37,2 dias). Quanto à topografia das bactérias multirresistentes, o sítio mais frequente foi o aspirado
traqueal 69,2%/ n=9. A média de dias de uso de antibioticoterapia antes do resultado da primeira
cultura positiva para bactéria multirresistente foi de 35 dias. Nesse estudo o percentual de mortalidade
dos pacientes infectados por bactérias multirresistentes na UTIP foi de 55,6%/n=5.
Palavras-chave: Infecção hospitalar. Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica. Resistência
microbiana a medicamentos.
ABSTRACT
The Intensive Care Unit has shown high rates of hospital infections, including the occurrence of
multiresistant microorganisms. The reasons for such indices are related to the intrinsic risk of
infectious agent transmission among patients, antibiotics overuse, prolonged hospitalization. This
study aimed to evaluate the occurrence of multiresistant bacteria in hospitalized patients in a Pediatric
1
Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry, Teresina - PI, [email protected]
Especialista em Terapia Intensiva Pediátrica , Professor do curso de Medicina na Faculdade Integral Diferencial
(FACID/DeVry), Teresina - PI, [email protected]
3
Médico, Professor do Curso de Medicina na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), [email protected]
4
Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry), Teresina - PI,
[email protected]
5
Aluna do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry), Teresina - PI,
[email protected]
2
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Intensive Care Unit (PICU). It is an observational retrospective study, in which the medical records
(90) of all hospitalized patients were analyzed in a PICU of a public hospital located in Teresina-PI,
from January 1 to December 31, 2013, with the approval of the Ethics Committee. In 9 patients were
isolated bacteria that fulfilled the multidrug resistance established criteria. The isolated agent with
the greatest frequency was Acinetobacter baumannii 53.8%/n=7. Regarding gender of patients
infected with multidrug-resistant bacteria predominated the male 66.7%/n=6, the age group
prevalence was 30 days to 2 years old 44.4%/n=4, and 55.6%/n=5 didn´t have comorbidities. The
mean permanence in PICU was 66 days. The invasive device used for a longer period was mechanical
ventilation (37.2 days). Concerning the topography of multidrug-resistant bacteria, the most frequent
site was tracheal aspirate 69.2%. The mean duration of antibiotic use before the first positive culture
result for multidrug-resistant bacteria was 35 days. The mortality rate of patients infected by
multidrug-resistant bacteria in PICU was 55.6%/n=5.
Keyword: Hospital Infection. Pediatric Intensive Care Unit. Microbial Drug Resistance.
1 INTRODUÇÃO
Infecções hospitalares, também chamadas infecções nosocomiais ou infecções relacionadas à
assistência à saúde, são consideradas um problema de saúde pública mundial. Constitui-se em um
desafio que atinge todos os hospitais, independentemente de seu tamanho ou especialidade, exigindo
ações efetivas de prevenção e controle. Tais infecções causam aumento na morbidade, na
mortalidade, no tempo de internação dos pacientes, nos custos do tratamento, provocam mudanças
nos padrões de resistência microbiana e, principalmente, trazem o risco constante da disseminação de
bactérias multirresistentes (BARROS et al.,2001; SANTOS, 2006; PADRÃO et al., 2012).
A Unidade de Terapia Intensiva tem mostrado elevados índices de infecção hospitalar,
incluindo a ocorrência de microrganismos multirresistentes. As razões estão associadas ao risco
inerente de transmissão de agentes infecciosos entre pacientes, uso excessivo de antibióticos e à
variedade de procedimentos invasivos ou imunossupressores realizados (SMITH; SAWYER;
PRUETT, 2003; LIMA; ANDRADE; HAAS, 2007; MEDEIROS, 2004).
A resistência aos antimicrobianos é ligada ao aparecimento de linhagens bacterianas não
sensíveis, que podem se multiplicar na presença de concentrações de antimicrobianos mais elevadas
do que aquelas utilizadas na clínica. A definição de multirresistência é variável e depende da
complexidade de cada hospital. Geralmente, um microrganismo é considerado multirresistente
quando possui resistência a duas ou mais classes de antimicrobianos (TAVARES, 2001; BRASIL,
2009).
A UTI possui as mais altas taxas de infecção, em torno de 13/1000 pacientes/dia, com taxas de
mortalidade de 11% para as infecções de sítio cirúrgico e 25% para as infecções da corrente
sanguínea, sendo a pneumonia a mais frequente. A incidência de infecção nosocomial em UTI no
Brasil varia entre 5% e 10% (ANDREETTA et al., 2008; HINRICHSEN et al., 2009).
As infecções hospitalares estão entre as seis principais causas de óbito no Brasil, juntamente
com as neoplasias, doenças cardiovasculares, doenças infecciosas, doenças respiratórias. A taxa de
mortalidade em UTIs é elevada, variando de 9 a 38%, chegando a 50% quando associadas a infecções
por microrganismos resistentes (NOGUEIRA et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2010; OLIVEIRA;
KOVNER; SILVA, 2010).
Diante deste contexto, o estudo teve como objetivo geral avaliar a ocorrência de bactérias
multirresistentes em pacientes hospitalizados em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica
(UTIP). E como objetivos específicos: identificar as bactérias multirresistentes; determinar o gênero,
faixa etária, comorbidades, tempo de hospitalização na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica dos
pacientes infectados com bactérias multirresistentes; verificar o sítio topográfico de maior prevalência
da infecção por bactérias multirresistentes; averiguar o uso de dispositivos invasivos e a incidência
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
de bactérias multirresistentes; identificar o uso de antimicrobianos até o diagnóstico de infecção
hospitalar.
2 MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada respeitando os princípios éticos estabelecidos pela resolução 466/2012
do Conselho Nacional de Saúde, incluindo apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/FACID,
com número de CAAE: 34399014.5.0000.5211) e do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital onde
foi realizada.
Caracteriza-se como estudo descritivo de campo, observacional, retrospectivo, longitudinal,
com abordagem quantitativa, que buscou avaliar a ocorrência de bactérias multirresistentes em
pacientes hospitalizados em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica.
O estudo foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) de um hospital
localizado em Teresina-PI, caracterizado como hospital de emergência público de grande porte. Essa
unidade possui dez leitos, sendo um de isolamento, e admite pacientes com idade de 30 dias até 14
anos completos, sendo escolhida por ser a maior em número de leitos de UTIP no município de
Teresina e do Estado do Piauí.
Foram incluídos no estudo todos os pacientes admitidos na UTIP no período de 1º de janeiro a
31 de dezembro de 2013, nos quais foram isoladas bactérias multirresistentes. Inicialmente se
verificou no livro de registro da UTI Pediátrica o número de pacientes assistidos no serviço no período
citado, identificando-se um total de 90.
O período de coleta dos dados foi de agosto a dezembro de 2014, mediante aprovação do Comitê
de Ética em Pesquisa da FACID e do Comitê de Ética do Hospital onde foi realizada a pesquisa. Os
dados foram coletados em prontuários dos pacientes em que foram isoladas bactérias multirresistentes
e em planilhas da Comissão de Controle da Infecção Hospitalar (CCIH). Utilizou-se questionário,
elaborado com base no prontuário da instituição e no resultado dos exames da cultura com
antibiograma, no qual os pacientes foram identificados pela numeração do prontuário. As variáveis
analisadas foram: gênero, idade, comorbidades, tempo de hospitalização na UTI Pediátrica, uso de
dispositivos invasivos, uso de antimicrobianos até o diagnóstico de infecção hospitalar, topografia da
infecção hospitalar e evolução clínica.
Foram avaliados resultados das culturas com seus respectivos antibiogramas isolados nos
seguintes materiais: sangue, ponta de cateter, urina, líquido cefalorraquidiano, ferida operatória e
aspirado traqueal. Os dispositivos invasivos pesquisados foram: sonda vesical de demora, acesso
venoso central, ventilação mecânica e derivação ventricular externa.
Utilizou-se o conceito de infecção hospitalar (IH) estabelecido pelo Ministério da Saúde que,
segundo a Portaria nº 2616/1998,
infecção hospitalar é aquela manifestada após 72 horas da
internação, quando o período de incubação do patógeno causador for desconhecido e não houver
evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção no momento da internação.
A partir de 72 horas após a admissão, a data da primeira coleta da cultura positiva foi
considerada como a data do diagnóstico microbiológico da infecção multirresistente. Para definição
de bactérias multirresistentes utilizou-se a definição da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
(CCIH) do referido Hospital: germes gram negativos resistentes à Carbapenêmicos, germes gram
positivos resistentes à Vancomicina. Os estudos microbiológicos foram realizados em laboratório
privado terceirizado, conforme rotina estabelecida pelo Hospital.
Os dados foram organizados em planilhas do Excel e tabulados no software SPSS versão 21.0
para Windows. As variáveis foram apresentadas através de tabelas de frequência, percentagem e
gráficos. Para as variáveis quantitativas calcularam-se as médias de posição e medidas de dispersão.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após revisão dos prontuários médicos dos 90 pacientes assistidos na UTI Pediátrica, foram
obtidos os seguintes resultados: 43 pacientes não realizaram coleta de material para cultura e 47
pacientes realizaram. Dentre estes 47, 27 pacientes apresentaram cultura sem crescimento bacteriano,
11 apresentaram bactérias que não preencheram os critérios de multirresistência estabelecidos nesse
estudo e 9 pacientes apresentaram bactérias que preencheram os critérios de multirresistência
estabelecidos.
Foram encontradas 5 espécies de bactérias multirresistentes em 9 pacientes. Em 6 pacientes foi
isolado apenas 1 microrganismo, em 2 foram isolados 2 microrganismos em cada um dos pacientes e
em 1 paciente foram isolados 3 microrganismos, resultando em 13 bactérias multirresistentes. O
agente isolado com maior frequência foi o Acinetobacter baumannii 53,8% (n=7), seguido de
Pseudomonas aeruginosa 15,4% (n=2), Burkholderia cepacia 15,4% (n=2), Acinetobacter spp 7,7%
(n=1) e Klebsiella pneumoniae 7,7% (n=1), conforme mostra o Gráfico 1.
Resultados similares foram obtidos em UTIs (Geral, Neurológica e Pediátrica) no estudo
realizado por Paz (2011), estando dentre os microganismos mais prevalentes os bacilos gram
negativos Acinetobacter baumannii (20,8 %) e Klebsiella sp. (12,5%).
Gráfico 1 – Distribuição percentual das bactérias multirresistentes isoladas em pacientes
internados em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, 2015
7,7%
7,7%
Acinetobacter baumannii (n=7)
15,4%
53,8%
Pseudomonas aeruginosa (n=2)
Burkholderia cepacia (n=2)
15,4%
Acinetobacter spp
(n=1)
Klebsiella pneumoniae (n=1)
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
O percentual de infecção por bactérias multirresistentes na UTI Pediátrica analisada foi de 10%
(9 casos/90 pacientes). Esse valor mostra-se semelhante à identificada em outros estudos, tal qual
UCHOA (2012), que apresentou isolamento de bactérias multirresistentes Acinetobacter e Klebsiella
em UTIP igual a 12,9%.
Acinetobacter baumannii é um bacilo gram negativo aeróbio, encontrado em superfícies de
pias, equipamentos e desinfetantes. É considerado um patógeno emergente e alguns estudos afirmam
que é o principal agente causador de infecções hospitalares nas UTIs de diversos hospitais
(RODRIGUES; RICHTMANN, 2008).
Segundo Pontes et al. (2006), o Acinetobacter baumannii é a espécie mais comum do gênero
isolado de amostras clínicas e de ambiente hospitalar. Embora já tenha sido considerado de baixa
virulência, atualmente é um importante patógeno hospitalar, afetando principalmente os pacientes
graves em UTIs. Soma-se a isso a propensão desta bactéria para o desenvolvimento de resistência
antimicrobiana extremamente rápida.
Em relação à faixa etária dos pacientes acometidos por bactérias multirresistentes na UTIP,
44,4% (n=4) estavam na faixa etária de 30 dias a 2 anos de idade, 22,2% (n=2) entre maior de 2 anos
a 6 anos de idade e 33,3% (n=3) entre maior de 6 anos a 14 anos (Gráfico 2).
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Para Martins (2008), em uma pesquisa sobre a infecção hospitalar em Unidade de Terapia
Intensiva Pediátrica em Fortaleza - CE, das crianças que apresentaram infecção hospitalar, 73% eram
menores de um ano e 27% eram maiores de um ano e menores de cinco anos de idade.
Gráfico 2 – Distribuição por faixa etária dos pacientes acometidos por bactérias
multirresistentes isoladas em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de
Teresina-PI, 2015
50%
45%
44,4% (n=4)
40%
33,3% (n=3)
Porcentagem
35%
30%
22,2% (n=2)
25%
20%
15%
10%
5%
0%
30 dias - 2 anos
> 2 anos - 6 anos
Faixa etária
> 6 anos - 14 anos
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Gráfico 3 – Distribuição por gênero dos pacientes acometidos por bactérias multirresistentes
isoladas em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, 2015
33,3%
Masculino (n=6)
66,7%
Feminino (n=3)
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Dos pacientes infectados por bactérias multirresistentes na UTIP, 66,7% (n=6) eram do gênero
masculino e 33,3% (n=3) do gênero feminino (Gráfico 3).
O resultado apresentado no Gráfico 3 está de acordo com o estudo realizado por Uchoa (2012),
no qual se verificou predomínio do sexo masculino, em 74% dos casos. Achado similar foi obtido
também na pesquisa de Paz (2011), em que 75% dos pacientes eram do sexo masculino.
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Gráfico 4 – Ocorrência de comorbidades em pacientes acometidos por bactérias
multirresistentes isoladas em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de
Teresina-PI, 2015
60%
Porcengaem
50%
55,6% (n=5)
44,4% (n=4)
40%
30%
20%
10%
0%
Sim
Não
Comorbidades
Comorbidades: síndrome genética, obesidade mórbida, cardiopatia, insuficiência renal crônica, prematuridade.
Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Conforme o Gráfico 4, um total de 44,4% (n=4) dos pacientes acometidos por bactérias
multirresistentes na UTIP possuíam comorbidades e 55,5% (n=5) não possuíam. Este resultado difere
de outros estudos quanto à patologia de base, que de acordo com Nogueira e colaboradores (2009),
facilita a ocorrência da infecção nosocomial por desestabilizar os mecanismos de defesa antiinfecciosa, além de ocasionar desnutrição e conferir deficiências imunológicas.
O tempo médio de internação na UTI Pediátrica foi de 66,3 dias com desvio padrão de 27,7
dias conforme a Tabela 1. As faixas de 20 a 40 dias, 60 a 80 dias e 80 a 100 dias apresentam as
maiores frequências. Uma paciente, residente na UTIP até o final da coleta de dados da pesquisa
(dezembro de 2014), não foi incluída no cálculo da média e nem na Tabela, pois haveria
superestimação da média.
Tomando por base outro estudo, que referiu tempo médio de internação de 31,6 dias
(MARTINS, 2008), o tempo médio de internação do presente trabalho foi bem superior que o
relatado.
Tabela 1 – Distribuição do tempo de internação de pacientes acometidos por bactérias
multirresistentes isoladas em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de
Teresina-PI, 2015
Tempo de internação UTIP (em dias)
20 ---l 40
40 ---l 60
60 ---l 80
80 ---l 100
100 ---l 120
Total
Média= 66,38
Nº de pacientes
2
1
2
2
1
8
Desvio padrão=27,712
Porcentagem
25,0%
12,5%
25,0%
25,0%
12,5%
100,0%
FONTE: Dados da pesquisa (2015).
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O prolongamento da internação e constantes readmissões hospitalares elevam o risco de
incidência de infecção nos hospitais, especialmente dentro da UTI, já vez que os pacientes internados
podem ter sua flora microbiológica endógena substituída por microrganismos hospitalares
multirresistentes e provenientes de diversas instituições, atuando como “reservatório” e potencial
disseminador de microrganismos no ambiente hospitalar. (TURRINI; SANTO, 2002).
De acordo com essa pesquisa, a média de dias de uso da Derivação Ventricular Externa, Sonda
Vesical de Demora, Acesso Venoso Central e Ventilação Mecânica foram 2 dias, 23,4 dias, 25 dias e
37,2 dias, respectivamente. (GRÁFICO 05). A paciente, residente na UTIP, foi incluída no cálculo
da média de dias de uso de dispositivos invasivos até 31 de dezembro de 2013 (critério de inclusão
na pesquisa os pacientes admitidos na UTIP no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2013
em que foram isoladas bactérias multirresistentes).
Gráfico 05 – Distribuição da média de dias de uso dos dispositivos invasivos utilizados até o
diagnóstico de infecção hospitalar por bactérias multirresistentes nos pacientes internados em
uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, 2015
37,2
Média do tempo (em dias)
40
35
30
25,0
23,4
25
20
15
10
5
2,0
0
Derivação Ventricular
Externa
Sonda Vesical de Demora
Acesso Venoso Central
Ventilação Mecânica
Dispositivos invasivos
FONTE: CARVALHO (2015)
Em apenas 1 paciente foi utilizada a Derivação Ventricular Externa; em 7 pacientes foi utilizada
Sonda Vesical de Demora; em 7 pacientes foi utilizado Acesso Venoso Central; e em 9 pacientes foi
utilizada Ventilação Mecânica.
A tecnologia e as condutas utilizadas na UTI proporcionam um aumento da sobrevida dos
pacientes graves, porém, o risco de infecção hospitalar aumenta a cada procedimento invasivo a que
o paciente é submetido. Desta forma, os fatores extrínsecos relacionados aos procedimentos
invasivos, tais como suporte ventilatório, cateterismo vesical e uso de dispositivos intravasculares,
são um importante foco de atenção da equipe hospitalar, exigindo rigor na sua execução, com menor
lesão possível de tecidos e obediência às técnicas assépticas (PEREIRA et al., 2005).
Em relação à topografia das bactérias multirresistentes, o sítio mais frequente foi o aspirado
traqueal 69,2% (n=9), seguido da ponta de cateter 15,4% (n=2), Líquido cefalorraquidiano 7,7%
(n=1) e sangue 7,7% (n=1). No aspirado traqueal foram isoladas 9 bactérias, sendo 5 Acinetobacter
baumannii, 2 Psedomonas aeruginosa, 1 Acinetobacter spp e 1 Klebsiella pneumoniae . Na ponta
do cateter foram isaladas 2 bactérias, 1 Acinetobacter baumannii e 1 Burkholderia cepacia. No
sangue foi isolada uma Burkholderia cepacia e no LCR uma Acinetobacter baumannii. Na ferida
operatória e na urina não foram isoladas bactérias multirresistentes. (TABELA 02).
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Tabela 02 – Ocorrência de bactérias multirresistentes isoladas em uma Unidade de Terapia
Intensiva Pediátrica em hospital de Teresina-PI, de acordo com a topografia da infecção
hospitalar, 2015
Topografia
Bactérias multirresistentes isoladas
da infeção Acinetobacte Acinetobact Burkholderia Klebsiella Pseudomonas
Total
hospitalar r baumannii
er spp
cepacia
pneumoniae aeruginosa
FO
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0(0,0%)
0 (0,0%)
LCR
1 (7,7%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
1 (7,7%)
PC
1 (7,7%)
0 (0,0%)
1 (7,7%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
2 (15,4%)
Sangue
0 (0,0%)
0 (0,0%)
1 (7,7%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
1 (7,7%)
AT
5 (38,5%)
1 (7,7%)
0 (0,0%)
1 (7,7%)
2 (15,4%) 9 (69,2%)
Urina
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
0 (0,0%)
7 (53,8%)
1 (7,7%)
2 (15,4%)
1 (7,7%)
2 (15,4%)
13
Total
(100,0%)
Legenda: FO: ferida operatória; LCR: líquido cefalorraquidiano; PC: ponta de cateter; AT: aspirado traqueal.
FONTE: CARVALHO (2015)
Em apenas 1 paciente foi isolada bactéria multirresistente no líquido cefalorraquidiano, em 6
pacientes foram isoladas bactérias multirresistentes no aspirado traqueal, em 1 paciente foram
isoladas bactérias multirresistentes no aspirado traqueal e na ponta do cateter, e em outro paciente
foram isoladas bactérias multirresistentes no aspirado traqueal, na ponta do cateter e no sangue.
De acordo com Silva et al. (2012), em sua análise de UTIs brasileiras, observou-se que 71,2%
dos pacientes estudados apresentaram o pulmão como sítio de infecção, seguido do trato urinário
(16,6%) e apenas 10,1% tiveram como sítio a corrente sanguínea.
Porcentagem
Gráfico 06 – Distribuição percentual do desfecho clínico dos pacientes acometidos por
bactérias multirresistentes isoladas em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica em
hospital de Teresina-PI, 2015
55,6% (n=5)
60%
33,3% (n=3)
40%
20%
11,1% (n=1)
0%
Permanece internado
Alta da UTIP
Desfecho clínico
Óbito durante internação na UTIP
FONTE: CARVALHO (2015)
Quanto ao desfecho clínico dos pacientes acometidos por bactérias multirresistentes na UTIP,
55,6% (n=5) foram a óbito durante a internação hospitalar na UTIP, 33,3% (n=3) tiveram alta da
UTIP e 11,1% (n=1) permaneceram internados na UTIP do hospital até o final da coleta de dados da
pesquisa (dezembro de 2014) (GRÁFICO 06). O percentual de mortalidade encontrado (55,6%) é
superior à observada em outra pesquisa, 43,9% (MARTINS, 2008).
Conforme Silva et al. (2011), os pacientes infectados por bactérias multirresistentes aos
antibióticos possuem maior taxa de mortalidade do que os infectados por bactérias sensíveis. Essa
mortalidade está mais relacionada ao tratamento inadequado dos pacientes do que com a
multirresistência adquirida pelas bactérias.
As bactérias multirresistentes isoladas nesse estudo eram bacilos gram negativos resistentes à
carbapenêmicos. Não foi isolada nenhuma bactéria multirresistente gram positiva nem resistente à
vancomicina. A média de dias de uso de antibioticoterapia antes do resultado da primeira cultura
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
positiva para a bactéria multirresistente foi de 35 dias, sendo a vancomicina utilizada em média por
15 dias, o imipenem por 13 dias e o meropenem por 12 dias.
Segundo Oliveira e Branco (2007), o predomínio do uso empírico de antimicrobianos é
preocupante, pois para promover o uso racional é necessário identificar o germe causador da infecção
clínica e prescrever o antimicrobiano ao qual se mostre geralmente sensível, por tempo adequado
conforme as características farmacológicas da droga indicada. É também necessário solicitar de forma
sistemática e imediata os exames microbiológicos para orientação da eventual troca do
antimicrobiano inicial, passando assim de uso empírico a uso específico.
Moura (2000) cita que nas UTIs, como um setor crítico, o uso de antimicrobianos,
principalmente empiricamente, é alto devido à fragilidade dos pacientes e necessidade de tratamento.
Nesse aspecto, a seleção dos antimicrobianos a serem utilizados deve ser criteriosa e cuidadosa.
4 CONCLUSÃO
O presente estudo concluiu que, dos microrganismos isolados, 100% (n=13) eram gram
negativos resistentes à Carbapenêmicos, sendo o Acinetobacter baumannii o agente isolado com
maior frequência (53,8%/n=7), seguido de Pseudomonas aeruginosa (15,4%/n=2), Burkholderia
cepacia (15,4%/n=2), Acinetobacter spp (7,7%/n=1) e Klebsiella pneumoniae (7,7%/n=1).
Em relação ao gênero dos pacientes infectados por bactérias multirresistentes predominou o
masculino com percentual de 66,7% (n=6), já a faixa etária de predominância foi a de 30 dias a 2
anos de idade com percentual de 44,4% (n=4), e quanto a comorbidades, 55,6% (n=5) não possuíam.
O tempo médio de internação na UTIP foi de 66,3 dias com desvio padrão de 27,7 dias.
O dispositivo invasivo usado por maior média de dias foi à ventilação mecânica (37,2 dias),
seguido de Acesso Venoso Central (25 dias), Sonda Vesical de Demora (23,4 dias) e Derivação
Ventricular Externa (2 dias). No que se refere à topografia das bactérias multirresistentes, o sítio mais
frequente foi o aspirado traqueal (69,2%/n=9), seguido da ponta de cateter (15,4%/n=2), Líquido
cefalorraquidiano (7,7%/n=1) e sangue (7,7%/n=1).
A média de dias de uso de antibioticoterapia antes do resultado da primeira cultura positiva para
a bactéria multirresistente foi de 35 dias, sendo a vancomicina utilizada em média por 15 dias, o
imipenem por 13 dias e o meropenem por 12 dias. O percentual de mortalidade dos pacientes
infectados por bactérias multirresistentes na UTIP foi de 55,6% (n=5).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
USO DE PLANTAS MEDICINAIS POR USUÁRIOS DE UM AMBULATÓRIO ESCOLA
EM TERESINA-PI
MEDICINAL PLANT USE IN A SCHOOL CLINIC IN TERESINA –PI
Robson de Carvalho da Silva 1 ,
Jairelda Sousa Rodrigues2 ,
Rosemarie Brandim Marques3
RESUMO
O uso de plantas medicinais é uma pratica muito antiga. As primeiras civilizações já utilizavam para
tratar suas enfermidades e esse conhecimento foi passado de geração a geração de forma empírica.
Este estudo avaliou o consumo de plantas medicinais pelos usuários de um Ambulatório Escola em
Teresina-PI. Trata-se de um estudo descritivo e observacional, com abordagem quali-quantitativa,
com base em uma entrevista semi-estruturada aplicada a uma amostra desses usuários. A coleta de
dados foi iniciada após aprovação do projeto de pesquisa no Comitê de Ética em Pesquisa e assinatura
do termo de consentimento livre e esclarecido pelos participantes. Foram entrevistados 200 usuários
acima de 18 anos. O gênero feminino teve maior participação, com 82%, apresentando maior
prevalência na faixa de idade entre 18 e 28 anos, com 23%, seguida da faixa etária de 29 a 38, com
22%; predominou a renda de 1 a 3 salários mínimos, com escolaridade fundamental incompleta e
ensino médio completo. Foram citadas 89 plantas medicinais, destacando-se erva-cidreira, boldo,
capim santo, hortelã, laranja, mastruz, eucalipto, ameixa, malva do reino e camomila; a maioria (77%)
informou cultivar essas plantas em casa, ressaltando que esse conhecimento foi repassado pela
família. Os fins terapêuticos mais citados foram calmantes, gripe, dor de estômago, inflamação, dor
de cabeça e dor intestinal. Constatou-se que os participantes não possuem um conhecimento adequado
de como utilizar as plantas medicinais.
Palavras-chave: Ervas medicinais. Fins terapêuticos. Fitoterapia.
ABSTRACT
The use of medicinal plants is a very old practice. The first civilizations already used them to treat
their diseases and that knowledge was passed from generation to generation empirically. This study
evaluated the use of medicinal plants by users of an ambulatory school in Teresina-PI. It is a
descriptive, observational study with a qualitative and quantitative approach carried out through a
semi-structured questionnaire applied with a sample of those users. This study only started after the
approval by the Research Ethics Committee and the signature of the free and informed consent. 200
users over 18 years of age were interviewed. Most of them were female, 82%; the highest prevalence
was in the age group 18 to 28, 23%; followed by the age group 29-38, 22%; the income ranged from
1-3 minimum wages with incomplete primary schooling and complete high school. 89 medicinal
________________
1
Aluno de graduação (10º período) do curso de farmácia da faculdade Integral Diferencial-FACID -/DeVry TeresinaPI
Email: [email protected].
2
Professora do Curso de farmácia da FACID, Mestre em química Teresina-PI
Email: [email protected]
3
Professora do Curso farmácia da FACID/Devry, Mestre ciências farmacêuticas em Teresina-PI
Email: [email protected]
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
plants were mentioned, the most cited was lemongrass, Peumus boldus, mint, orange, mastruz,
eucalyptus, plum, Malva sylvestris and chamomile. Most interviewees (77%) cultivate them at home
highlighting this knowledge was passed on by their families. The most mentioned therapeutic
purposes were soothing, flu, stomach pain, inflammation, headache and intestinal pain. It could be
observed the respondents do not have full knowledge on how to use medicinal plants.
Keywords: Medicinal herbs. Therapeutic purposes. Phytotherapy.
1 INTRODUÇÃO
Planta Medicinal, segundo a ANVISA, é toda planta ou partes dela que contenham as
substâncias ou classes de substâncias responsáveis pela ação terapêutica (BRASIL, 2010).
Existem em diferentes épocas registros de uso de plantas medicinais para fins terapêuticos, e
essas plantas são utilizadas até hoje pelas comunidades populares, fazendo parte de suas culturas
(MARODIN; BATISTA, 2001).
Os brasileiros assim como o mundo todo utilizam plantas medicinais para tratar doenças, sendo
que esse meio de medicina alternativa vem aumentado com o passar dos dias. A maioria das plantas
é de fácil acesso sendo encontradas nos grandes centros comerciais e em cidades do interior do Brasil.
A planta medicinal tem suas atribuições na ordem médica, social, cultural, econômica e filosófica
(PERON et al., 2008).
As plantas medicinais utilizadas pelas comunidades como alternativa viável para a manutenção
da saúde e tratamento de doenças, são reconhecidas pela sua função farmacológica, mas também pela
importância e significado cultural que elas representam (HOEFFEL et al., 2011).
A fitoterapia é uma opção terapêutica mais acessível do ponto de vista econômico e, em alguns
casos, com menor intensidade de efeitos colaterais. Pode ser usada de diversas formas para o
tratamento de pacientes com traumas, com afecções articulares e inflamações (ARAÚJO et al., 2014).
A fitoterapia foi um dos primeiros recursos terapêuticos utilizados pelos povos, além de ser por
muito tempo a única terapia disponível ao homem. Em algumas ocasiões as plantas curavam, em
outras matavam ou produziam graves efeitos colaterais (MELO et al., 2009), sendo, portanto,
essencial o uso responsável, racional, seguro e não abusivo das mesmas. Os cuidados com uso
terapêutico das plantas iniciam-se com o cultivo até o ato da administração.
Esse estudo tem como objetivos avaliar o conhecimento e o uso de plantas medicinais por
usuários de um ambulatório escola em Teresina-PI, identificar quais as plantas utilizadas, meios de
obtenção e formas de utilização e finalidades, e conhecer quais fatores tem contribuído para o uso de
planta medicinal, correlacionando com os resultados obtidos com a literatura.
Os seres humanos sempre usaram a fitoterapia com a finalidade curativa ou paliativa. O
conhecimento da utilização de plantas foi passando de geração a geração até os dias de hoje. A
importância deste estudo tem como foco o conhecimento sobre o uso de plantas como terapia
alternativa e verificação do uso adequado e seguro, de acordo com a literatura
2 MATERIAL E MÉTODOS
Como exigência do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e de acordo com a
Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), o presente estudo só teve seguimento
após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, por meio da Plataforma Brasil, com número de
protocolo 35830014.0.0000.5211. e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos
participantes, que aceitaram participar da pesquisa de forma voluntária.
Foi realizado um estudo descritivo observacional, com abordagem quantitativa. Utilizou-se
uma entrevista baseada em um roteiro semi-estruturado, com perguntas abertas e fechadas, para
mensurar variáveis independentes (gênero, idade, escolaridade) e questões relacionadas ao consumo
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
de plantas medicinais (nome popular, motivo da utilização, local de obtenção, partes utilizadas,
formas de preparo e fins terapêuticos).
A coleta de dados foi realizada com 200 usuários em um Ambulatório Escola de uma Faculdade
em Teresina-PI. Os usuários foram escolhidos de forma aleatória. Como critérios de inclusão foram
definidos indivíduos maiores de 18 anos de ambos os gêneros, e que faziam uso de plantas medicinais
como terapia alternativa no período de agosto a novembro de 2014.
Para as análises estatísticas foi utilizado o software Microsoft Office Excel 2010. Todos os
dados foram distribuídos em tabelas de frequências, a partir das quais foram construídos gráficos
ilustrativos.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 200 usuários entrevistados, 18% foram do gênero masculino e 82 % do gênero feminino.
A predominância feminina pode ser justificada pela maior disponibilidade das mulheres em participar
do estudo, o que demonstra o papel destas como responsáveis com o cuidado com a saúde e o bemestar familiar. De acordo com Badke et al. (2012), a mulher é ainda uma referência nos cuidados à
saúde dentro de casa, sempre tentando repassar o seu conhecimento sobre plantas medicinais,
evidenciando um maior contato entre mãe e filhos.
Quanto ao perfil socioeconômico dos participantes, faixa etária, escolaridade e renda estão
demostrados os resultados na Tabela 1.
Tabela 1 - Perfil socioeconômico dos participantes, Teresina-PI, 2015
Variáveis Socioeconômica
Faixa Etária
18 a 28
29 a 38
39 a 48
49 a 58
59 a 68
69 a 78
79 a 88
Total
Escolaridade
Analfabeto
Alfabetizado
Fund. Incompleto
Fund. Completo
Médio incompleto
Médio completo
Superior incom.
Superior completo
Outros
Total
Renda (Salário mínimo por família).
Até 1
1a3
3a6
6a9
9 a 12
12 a 15
Mais de 15
Total
Legenda: f (frequência absoluta); % (frequência relativa).
f
%
46
44
40
42
20
6
2
200
23,0
22,0
20,0
21,0
10,0
3,0
1,0
100
5
6
47
23
13
74
22
7
3
200
2,5
3,0
23,5
11,5
6,5
37,0
11,0
3,5,
1,5
100
80
90
18
6
2
2
2
200
40,0
45,0
9,0,0
3,0
1,0
1,0
1,0
100
Página 119
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Conforme a Tabela 1, no tocante à idade dos participantes, ocorreu maior predominância de
uso de plantas medicinais na faixa etária de 18 a 28 anos, com 23%, seguida da faixa etária de 29 a
38 anos, com 22%. Ao contrário do que alguns estudos revelam, o público jovem, mesmo utilizandose de um menor arsenal terapêutico de plantas medicinais, faz uso da fitoterapia como alternativa
terapêutica. Os dados encontrados têm semelhança com os resultados do estudo de Viganó, Viganó e
Cruz-Silva (2007), que encontraram o índice de 23% na faixa etária entre 18 a 28 anos, seguida de
22% com idade entre 29 a 38 anos.
Quanto à renda familiar alguns estudos, como o de Ethur et al. (2011), afirmaram que o uso de
planta medicinal é feito predominantemente por classes mais pobres. Lima et al. (2014) afirmaram
ainda que também os de baixa escolaridade têm essa prática. A maioria dos participantes desse estudo
possuia uma renda entre 1 a 3 salários mínimos e escolaridade fundamental incompleto e médio
completo.
Ao todo foram citadas 89 plantas com finalidade terapêutica das mais diversas afecções, sendo
que as principais estão descritas no Gráfico 1.
Gráfico 1- Plantas medicinais mais citadas pelos usuários no Ambulatório Escola, Teresina,
2015
27%
20%
13%
10%
8%
5%
5%
4%
4%
4%
No Gráfico 1 a erva cidreira foi a primeira com maior número de citações (27%), acompanhada
do Boldo (20%), Capim santo (13%), Hortelã (10%), Laranja (8%), Mastruz (5%), Eucalipto (5%),
Ameixa (4%), Malva do reino (4%) e Camomila (4%). Dados semelhantes foram encontrados por
Araújo (2014), em que as plantas mais citadas foram o Boldo (21,02%), a Erva-cidreira (14,34%), o
Capim santo (7,67%) e a Hortelã graúda (6,67%).
Com intuito de sanar, tratar e de forma paliativa, pode-se contabilizar 81 utilidades terapêuticas,
segundo o uso popular. No Gráfico 2 está exposta as principais finalidades mais citadas das 681
notificações.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Gráfico 2 - As principais doenças tratadas com plantas medicinais pelos participantes,
Teresina, 2015
31%
21%
9%
8%
8%
7%
6%
4%
3%
3%
Em estudo feito por Teixeira et al. (2014), as doenças que podem ser tratadas a partir das plantas
medicinais mais citadas pela comunidade analisada, estão relacionadas à manifestações agudas e
transitórias do aparelho digestivo, distúrbios de ansiedade, doenças do sistema respiratório e cefaleia,
corroborando com esse estudo. Segundo Jacoby et al. (2002), tal fato pode ser devido ao fácil
diagnostico e a simplicidade de tratamento dessas doenças. Dados também semelhantes ao de Guerra
et al. (2010).
Quanto ao local de obtenção das plantas medicinais, verificou-se que 57% dos participantes
adquirem na própria residência; 23% informaram que coletam na natureza; 15% compram em lojas
especializadas e 5% compram em mateiros. De acordo com Pinto, Amoroso e Furlan (2006) o cultivo
em casa deve-se às mulheres, por cuidarem da saúde dos seus filhos, que assim procuram uma forma
mais segura do que sair de casa para ir coletar na natureza.
As plantas medicinais possuem sua forma de preparo a partir das partes coletadas. Os princípios
ativos, responsáveis pelo efeito terapêutico, muitas vezes estão concentrados em partes especificas
de cada planta. A Tabela 2 apresenta as respostas dos participantes sobre a forma de preparo das
plantas medicinais, a parte utilizada e o modo de preparo.
Tabela 2 - Principais plantas usadas para fins terapêuticos, partes utilizadas, formas de
preparo e modo de uso, Teresina, 2015
Nome da
Planta
Erva
cidreira
Boldo
Hortelã
Parte
Utilizada
Folhas
f
%
120
96,7
Outras
4
3,3
Folhas
86
95,5
Outros
4
4,5
Folha
42
91,3
Folha
Outros
4
8,7
Formas de
Preparo
Infusão
Decocção
Decocção
f
%
Modo de Uso
f
%
75
45
4
59,5
36,3
3,2
Chá
120
100
Chá
4
Infusão
Decocção
Decocção
43
39
4
50,0
45,3
4,7
Chá
86
Chá
4
Decocção
Infusão
Maceração
Outros
17
21
4
4
36,9
45,7
8,7
8,7
Chá
38
82,6
Suco
Lambedor
Suco
4
1
3
8,7
2,2
6,5
100
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Laranja
Capim
santo
Casca
25
65,8
Folha
13
34,2
Folha
59
100
Folha
Eucalipto
Folha
23
100
Folha
Folha
Ameixa
Malva do
reino
Casca
12
Outros
5
Folha
15
70,6
29,4
88,3
Folha
Camomila
Decocção
Infusão
Decocção
Infusão
Infusão
Decocção
Tintura
17
8
9
4
23
35
1
44,7
21,0
23,8
10,5
38,9
59,4
1,7
Chá
25
100
Chá
13
Chá
59
Chá
1
Decocção
Infusão
Decocção
Outro
11
9
2
1
47,8
39,1
8,8
4,3
Chá
20
86,9
Banho
Inalação
2
1
8,7
4,3
Decocção
Maceração
Outros
Tintura
Decocção
Outros
2
8
1
1
3
2
11,7
47,0
5,9
5,9
17,6
11,7
Chá
Suco
Garrafada
Suco
Suco
Garrafada
2
8
1
1
3
2
11,7
47,0
5,9
5,9
17,6
11,7
Decocção
Infusão
Maceração
Outros
6
2
1
6
35,3
11,7
5,9
35,3
Chá
8
47,0
Lambedor
Lambedor
Cataplasma
Melado
Chá
Lambedor
1
4
1
1
1
1
5,9
23,5
5,9
5,9
5,9
5,9
100
100
Outros
2
11,7
Decocção
Outros
1
1
5,9
5,9
Folha
6
37,5
12,5
25,0
6,3
50
6
9
2
4
1
8
Chá
Outros
Infusão
Decocção
Decocção
Infusão
Chá
9
Semente
1
Infusão
1
6,2
Chá
1
Folha
15
Decocção
Infusão
Maceração
2
4
5
8,0
16,0
20,0
Chá
6
24,0
Outros
4
16,0
5
5
20,0
20,0
Cataplasma
Suco
Cataplasma
Suco
Suco
Lambedor
Suco
2
3
3
1
5
3
2
8,0
12,0
12,0
4,0
20.0
12,0
8,0
56,25
6,25
Mastruz
Outros
10
60
40
Maceração
Outros
Legenda: f (frequência absoluta) % (frequência relativa).
Na Tabela 2, é possível evidenciar que a folha é a parte mais utilizada pelos participantes, bem
como o chá como modo de preparo.
Foi possível observar que os participantes não possuem o conhecimento adequando sobre a
forma de utilizar as plantas medicinais, pois alguns citaram a folha de uma planta preparada sob as
diferentes formas de chá. Conforme Cruz-Silva, Morais e Dariva (2011), o uso inadequado da planta
faz com que a finalidade terapêutica desejada possa ser benéfica ou não.
De acordo com a literatura consultada, a parte da planta a ser utilizada em cada preparado deve
ser cuidadosamente observada, uma vez que contém diferentes princípios ativos que apresentam
propriedades terapêuticas ou tóxicas. Gilson et al. (2013) afirmaram que a utilização das folhas é
interessante por estas concentrarem grande parte das substâncias ativas; além disso, preserva a planta,
uma vez que os danos causados durante a coleta não chegam a comprometer a sobrevivência dela.
Para Coan e Matias (2013) a provável explicação para o uso predominante das folhas pela população
é por estar disponível na planta a maior parte do ano.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Muitas plantas utilizadas pela população estão listadas na Farmacopeia brasileira. De acordo
com Lima et al. (2014) os dados obtidos com estudos de plantas medicinais utilizadas pela população,
só têm a acrescentar na validação dos efeitos medicinais dessas plantas.
Seguindo o Formulário Nacional de Fitoterápicos (BRASIL, 2011), no referente a plantas com
fins terapêuticos, das plantas mais citadas na Tabela 2, somente 6 estão listadas nesse Formulário:
laranja, camomila, erva cidreira, hortelã, boldo, malva do reino.
No Formulário consta que o chá das folhas deve ser preparado por infusão e não decocção;
diante dessa informação, verificou-se que algumas plantas são usadas erroneamente pelos
participantes desse estudo, pois eles utilizam tanto a decocção quanto a infusão no preparo do chá
com as folhas. Com as partes mais duras, como a casca, observou-se a mesma situação; uso da infusão
e decocção para casca, quando o correto é a decocção das partes mais duras das plantas mais duras.
No que se refere ao meio de conhecimento das plantas medicinais, obteve-se os seguintes dados:
77% citaram a família; 14%, os amigos e vizinhos; 3% informaram o médico, ou farmacêutico ou o
enfermeiro; 1%), os meios de comunicação; 5% outros meios. Com esses dados fica evidente que o
meio de obter essas informações para os participantes é uma tradição entre as famílias.
Quando questionados se mencionavam ao médico, ou a outro profissional de saúde, o uso de
plantas medicinais, 57% disseram não, 33% informaram que às vezes mencionavam e 10% relataram
que informaram ao médico.
Segundo Brasileiro et al. (2008), a orientação por parte dos profissionais deve ser reforçada no
intuito de melhorar a utilização das plantas medicinais pela população, pois existem plantas que
podem ser utilizadas no tratamento de muitas doenças primárias. De acordo com Pontes, Monteiro e
Rodrigues (2006) falta ainda conhecimento por partes dos profissionais sobre terapias alternativas,
desenvolvendo assim uma deficiência em indicar medicamentos à base de plantas medicinais ou a
própria planta.
De acordo Cruz-Silva, Morais e Dariva (2011), nem todas as pessoas conhecem a utilização
especifica de cada planta, podendo muitas vezes errar na escolha do vegetal, visto que algumas vezes
utilizam a planta correta porem podem fazer o seu preparo de forma errônea, o que pode ocasionar a
não eficácia desejada pelo uso da planta medicinal.
4 CONCLUSÃO
Observou-se o uso de um elevado número de plantas medicinais com seus mais variados
benefícios, sendo que esse fato pode estar relacionado ao fácil acesso a esse tipo de tratamento e à
condição financeira da população. Diante das informações relatadas tanto os idosos como os jovens
optam por essa opção terapêutica, como uma prática rotineira no tratamento de doenças mais comuns.
Conclui-se que, mesmo existindo um significativo uso de plantas medicinais pela população,
os profissionais de saúde não possuem uma participação em tais práticas, pois a maioria dos
participantes relatou não informar ao médico o uso dessas plantas, mas que fazem esse uso baseandose nas tradições familiares, desconhecendo o modo correto da utilização de plantas para fins
terapêuticos.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA DE MULHERES COM INCONTINÊNCIA
URINÁRIA DE ESFORÇO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
PHYSIOTHERAPY APPROACH FOR WOMEN WITH STRESS URINARY
INCONTINENCE: A LITERATURE REVIEW
Thainara Valente de Amorim Alves¹,
Evandro Nogueira Barros Filho²
RESUMO
A incontinência urinária de esforço (IUE) é definida pela perda involuntária de urina ocasionada por
um aumento de pressão e enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico (MAP). É forma de
incontinência urinária que apresenta maior prevalência, sendo responsável por 60% de todos os casos
de incontinência urinária feminina, ocorrendo quando há um aumento da pressão intra-abdominal por
esforços tais como: tosse, espirro, sorrir, saltar, caminhar ou orgasmo. Alguns fatores de riscos podem
facilitar o desenvolvimento dessa afecção, como a idade avançada, raça branca, partos traumáticos,
multiparidade, diminuição do estrógeno, além de cirurgias que podem lesionar e enfraquecer o
assoalho pélvico desencadeando essa doença. A fisioterapia é uma área da saúde, integrante da equipe
multidisciplinar, que através de algumas modalidades proporciona o fortalecimento da MAP, afim de
restabelecer a continência urinária, prestando assistência aos pacientes com essa afecção. O objetivo
desse estudo foi identificar na literatura os tratamentos fisioterapêuticos em mulheres com
incontinência urinária de esforço. Para o alcance do objetivo, optou-se pelo método de revisão
sistemática. O levantamento dos artigos ocorreu nas bases de dados do Google Acadêmico e de
portais como Bireme, Lilacs e Scielo. Após a busca, foram encontrados 43 resultados e,
posteriormente à aplicação dos critérios de inclusão, 11 artigos foram incluídos. A fisioterapia lança
mão de uma série de recursos e técnicas tendo um papel importante no tratamento da IUE, dentre eles
os mais utilizados nos artigos selecionados foram, cinesioterapia (54%), seguido de eletroestimulação
transvaginal e uso de cones vaginais (27%), ginástica hipopressiva (15%) e Biofeedback (8%). A
fisioterapia mostrou-se como parte fundamental no tratamento conservador da IUE, proporcionando
maior controle na perda de urina e um aumento significativo na qualidade de vida das mulheres. Mas
devido à escassez de trabalhos encontrados na literatura, e a quantidade de mulheres acometidas por
tal doença, faz-se necessário uma maior investigação e pesquisa acerca desse assunto, com o objetivo
de esclarecer e observar os efeitos proporcionados e quais métodos são mais eficazes no tratamento
da IUE.
Palavras-chave: Fisioterapia, Incontinência Urinária, Saúde da Mulher.
ABSTRACT
Urinary incontinence (SUI) is defined by involuntary loss of urine caused by increased pressure and
weakening of the pelvic floor muscles (MAP). It is form of urinary incontinence is more prevalent,
accounting for 60% of all cases of female urinary incontinence, occurring when there is an increase
in intra-abdominal pressure by efforts such as coughing, sneezing, smile, jump, walk or orgasm. Some
__________________
¹ Aluna de graduação (10º período) do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DEVRY
Email: [email protected]
² Professor do Curso de Fisioterapia da Facid.
Email: [email protected]
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
risk factors can facilitate the development of this disease, such as advanced age, white race, traumatic
births, multiparity, decreased estrogen, and surgeries that can damage and weaken the pelvic floor
triggering the disease. Physiotherapy is a health, a member of the multidisciplinary team, which
through some modalities provides the strengthening of MAP in order to restore urinary continence,
assisting patients with this condition. The aim of this study was to identify in the literature
physiotherapy treatments in women with stress urinary incontinence. To reach the goal, we opted for
the systematic review method. The survey of articles occurred in the Google Scholar databases and
portals like Bireme, Lilacs and Scielo. After the search, they found 43 results and subsequently the
application of the inclusion criteria, 11 articles were included. Physical therapy resorts to a series of
technical features and having an important role in the treatment of stress urinary incontinence, among
them the most used in selected articles were kinesitherapy (54%), followed by transvaginal electrical
and use of vaginal cones (27%), hipopressiva gymnastics (15%) and Biofeedback (8%). Physical
therapy proved to be a key part in the conservative treatment of stress urinary incontinence, providing
greater control in the loss of urine and a significant increase in quality of life of women. But due to
the scarcity of studies in the literature, and the number of women affected by this disease, it is
necessary further investigation and research on this subject, in order to clarify and observe the effects
provided and which methods are most effective in SUI treatment.
Keywords: Physiotherapy, Urinary Incontinence, Women's Health.
1 INTRODUÇÃO
Para manter uma boa continência urinária, devem-se ter alguns fatores em boa funcionalidade,
como pressão intrauretral maior que a intravesical, integridade da musculatura do assoalho pélvico
(MAP), uma boa sustentação anatômica do trato urinário, além da função normal dos esfíncteres
(DUMONT, 2013).
De acordo com Silva (2012), o assoalho pélvico é uma estrutura complexa formada por
músculos, fáscias e ligamentos que engloba a pelve e sua função é suportar os órgãos pélvicos, manter
a continência urinária e fecal, além da função sexual. A musculatura que o compõe é representada
pelo esfíncter anal, músculos perineais superficiais, diafragma urogenital e diafragma pélvico. Um
assoalho pélvico (AP) saudável e funcional tem um bom tônus e elasticidade.
Segundo Rodrigues (2008) um assoalho pélvico com função deficiente ou inadequada é um
fator etiológico relevante na ocorrência da incontinência urinária de esforço (IUE).
Segundo a "International Continence Society" (ICS), incontinência urinária de esforço (IUE) é
a perda involuntária de urina pela uretra, que pode ocorrer quando a pressão intravesical exceder a
pressão uretral máxima na ausência de contração do músculo detrusor. A forma de incontinência
urinária que apresenta maior prevalência é a IUE, sendo responsável por 60% de todos os casos de
incontinência urinária feminina, ocorrendo quando há um aumento da pressão intra-abdominal por
esforços tais como: tosse, espirro, risada, saltar, caminhar ou orgasmo (ABRAMNS, 2003).
No Brasil, são poucos os estudos sobre a prevalência de incontinência urinária ou mesmo sobre
seus fatores de risco. Em mulheres idosas (maiores de 60 anos) com domicílio no município de São
Paulo, a prevalência de IU registrada por meio de entrevistas foi de 26,2%. Fatores de risco citados
para o desenvolvimento de incontinência urinária de esforço incluem: idade avançada; raça branca;
obesidade; partos vaginais quando, na passagem do feto, podem ocorrer danos à musculatura e
inervação locais; partos traumáticos com o uso de fórceps e/ou episiotomias; multiparidade e gravidez
em idade avançada, deficiência estrogênica, condições associadas a aumento da pressão
intraabdominal; tabagismo; diabetes, doenças do colágeno; neuropatias e histerectomia. No Brasil,
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
apesar de muitas mulheres não relatarem a presença de IUE, estima-se que 11 a 23% da população
feminina sejam incontinentes e em idosas essa prevalência pode variar entre 8 a 35%. (OLIVEIRA;
ZULIANI, 2010).
De acordo com Maggi (2011), o exercício do assoalho pélvico é uma forma de tratamento para
pacientes com incontinência urinária de esforço (IUE). Tal abordagem, adequadamente conduzida e
supervisionada, alcança resultados satisfatórios.
Segundo Knorst (2013) há tempos sabe-se que o tratamento fisioterapêutico por meio da
cinesioterapia, eletroestimulação vaginal, reforço com cones vaginais, biofeedback, reeducação
comportamental e ginástica hipopressiva, apresenta resultados expressivos na melhora dos sintomas
de IUE em até 85% dos casos. Essas modalidades podem ser usadas de forma isolada ou associadas
e o tratamento pode ser individual ou em grupo.
Desta maneira, o problema de pesquisa objetivou saber: Quais os tratamentos fisioterapêuticos
da incontinência urinária de esforço em mulheres relatados na literatura?
Com isso, o objetivo geral foi identificar na literatura os tratamentos fisioterapêuticos em
mulheres com incontinência urinária de esforço. Apresentando como os objetivos específicos,
descrever a incontinência urinária de esforço; descrever os tipos de tratamento fisioterapêutico
apontados no tratamento de mulheres com incontinência urinária de esforço; analisar a eficácia dos
efeitos proporcionados e a melhora na qualidade de vida dessas mulheres.
Essa pesquisa justifica-se, pois apesar de a fisioterapia ser indicada como a primeira opção no
tratamento de IUE (ABRAMS, 2003), existe pouca assistência voltada a prevenção e tratamento de
mulheres incontinentes no Brasil. Tendo em vista o alto índice dessa patologia e com um grande
número de mulheres afetadas. Faz-se necessário a investigação de novas técnicas propedêuticas, além
do cirúrgico e o medicamentoso, afim de observar os efeitos proporcionados, e a melhora na qualidade
de vida dessas mulheres, possibilitando medidas preventivas e, ou tratamento especializado.
Sendo de grande importância, pois a população feminina também está envelhecendo e é preciso
minimizar os riscos de doenças, advindas com a idade, ajudando na percepção e fortalecimento da
musculatura do assoalho pélvico.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O levantamento dos artigos ocorreu nas base de dados do Google Acadêmico e de portais como
Bireme, Lilacs (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde) e Scielo (Scientific Electronic
Library Online). Os descritores que foram utilizados são: fisioterapia, incontinência urinária, saúde
da mulher. As buscas foram realizadas no período de fevereiro a junho de 2015, limitando-se aos
artigos que foram publicados retrospectivamente até o ano de 2008.
Os critérios de inclusão elegíveis corresponderam aos seguintes itens: ensaios clínicos, estudo
caso-controle, estudos descritivos, experimental de caso único, séries de casos, relato de caso e
abordando algum recurso fisioterapêutico no tratamento da incontinência urinária de esforço. Foram
excluídos aqueles com outro desenho metodológico e os que não discriminavam os resultados por
tipo de recurso fisioterapêutico, bem como os artigos sem possibilidade de acesso gratuito e que
estavam disponíveis apenas em formato de resumo simples.
A análise dos dados foi feita após apuração dos estudos incluídos na pesquisa, através da
estatística descritivas utilizando o software Microsoft Excel 2010, onde foram calculados os
percentuais dos recursos e apresentados em gráfico e quadro.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Depois do levantamento dos dados, 43 artigos foram encontrados que posteriormente a
aplicação dos critérios de inclusão, resultou em 11 trabalhos envolvendo as modalidades
fisioterapêuticas e que apresentassem uma maior significância afim de identificar as formas mais
relevantes no tratamento da incontinência urinária de esforço em mulheres. O quadro 1 traz a
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
distribuição dos artigos que foram o corpo do estudo conforme autores, ano de publicação, título do
trabalho e abordagem metodológica.
Segundo Oliveira e Garcia (2011) e a totalidade dos artigos afirmaram que a maioria da
população acometida por tal afecção, são mulheres idosas e que muitas vezes é erroneamente
interpretada como parte natural do envelhecimento o que leva a um pequeno número dessas mulheres
a procurarem uma ajuda profissional. Embora possa ocorrer em todas as faixas etárias, a incidência
da incontinência urinária aumenta com o decorrer da idade. Calcula-se que 8 a 34% das pessoas acima
de 65 anos possuam algum grau de incontinência urinária, sendo mais prevalente em mulheres.
Aproximadamente 10,7% das mulheres brasileiras procuram atendimento ginecológico queixando-se
de perda urinária.
A incontinência urinária repercute na qualidade de vida, no que diz respeito ao trabalho e à vida
social, acarretando perdas funcionais, psicossociais e emocionais e levando essas mulheres a
isolamento social e mudança nos hábitos de vestimenta e da vida diária, como forma de evitar
situações constrangedoras (DREHER, 2009). As alterações que comprometem o convívio social
como vergonha, depressão e isolamento, que frequentemente fazem parte do quadro clínico, causando
grande transtorno aos pacientes e familiares foi outro apontamento visto em todos os artigos.
Independentemente do tipo de IU, os prejuízos para a qualidade de vida são inúmeros e, por
isso, a ICS tem recomendado a aplicação de um questionário para melhor avaliar esse problema.
Existem vários questionários que podem ser utilizados em mulheres incontinentes com esse objetivo,
podendo ter um caráter genérico ou específico. Dentre os específicos destaca-se o King’s Health
(KHQ), por investigar tanto a presença de sintomas de IU quanto seu impacto relativo, levando a
resultados mais consistentes (SOUSA; FERREIRA; OLIVEIRA; CESTARI, 2011).
Segundo Camillato; Barras; Silva Jr (2012), Como a patogênese da IUE começa com a perda
de suporte da musculatura do assoalho pélvico (AP), o treinamento desses músculos é eficaz. O
treinamento da musculatura do assoalho pélvico (TMAP) através da fisioterapia, leva à hipertrofia
das fibras dos músculos e maior recrutamento de neurônios motores ativos, promovendo elevação
permanente da musculatura do AP e melhor suporte para as vísceras dentro da pelve.
O TMAP proporciona contração muscular rápida e forte do AP, que sustenta a uretra e aumenta
a pressão intrauretral, evitando perda de urina durante aumentos da pressão intra-abdominal. Além
disso, a coordenação e o tempo exato da contração muscular do AP podem impedir a descida da uretra
durante o aumento abrupto da pressão intra-abdominal. O TMAP é a opção menos invasiva para o
tratamento e não causa efeitos colaterais, o que o torna o único método sem restrições para qualquer
paciente (CAMILLATO; BARRAS; SILVA JR, 2012).
Quadro 1 – Distribuição dos artigos conforme autores, ano de publicação, título do trabalho e
abordagem metodológica.
Autores/
Título
Metodologia e
Variável
Conclusão
Ano
Amostragem
Dreher et
O fortalecimento
Estudo de caso
3x na semana
Após a intervenção
al. 2009 do assoalho pélvico com uma paciente
realizado
observou-se uma
com cones
de 60 anos
protocolo de
significativa melhora
vaginais: programa
submetida ao uso
exercícios 2x ao na qualidade de vida.
de atendimento
dos cones vaginais.
dia.
domiciliar.
Honório
Análise da
Pesquisa do tipo
10 sessões
Os resultados foram:
et al.
qualidade de vida
intervencionista
realizadas
na percepção geral da
2009
em mulheres com
com 10 pacientes individualmente,
saúde 5,3 (± 1,64) e
incontinência
que foram
2x na semana
3,0 (± 1,05) e
urinária antes e
submetidas a
com protocolo
p=0,001.
após tratamento
cinesioterapia e
de exercícios de Apresentaram declínio
fisioterapêutico.
bem como o uso de
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Santos et
all. 2009
Eletroestimulação
funcional do
assoalho pélvico
versus terapia com
os cones vaginais
para o tratamento
de incontinência
urinária de esforço.
Berbam,
2011
Exercícios de kegel
e ginástica
hipopressiva como
estratégia de
atendimento
domiciliar no
tratamento da
incontinência
urinária feminina:
relato de caso.
Contração
muscular do
assoalho pélvico de
mulheres com
incontinência
urinária de esforço
submetidas a
exercícios e
eletroterapia: um
estudo
randomizado.
Beutten
müller et
al. 2011
Costa et
al. 2011
Ginástica
hipopressiva como
recurso
proprioceptivo para
os músculos do
assoalho pélvico de
mulheres
incontinentes.
eletroestimulação
endovaginal.
kegel associadas
a EE.
Estudo
randomizado com
45 mulheres
divididas em dois
grupos, sendo um
utilizado a
eletroestimulação e
o outro a utilização
dos cones vaginais.
Estudo de caso
com uma paciente
com 58 anos
submetida a
cinesioterapia
associada a
ginástica
hipopressiva.
2x na semana,
com duração de
20 min, em um
período de 4
meses, divididas
em GElet e
GCon.
Estudo
longitudinal,
experimental,
randomizado com
71 idosas
submetidas
divididas em:
grupo eletro +
exercícios, grupo
eletro, grupo
controle.
Estudo
experimental com
14 participantes
que foram
submetidas a
ginástica
hipopressiva.
1x ao dia
durante 30 dias
consecutivos,
com protocolo
de exercícios de
kegel
intercalados
com exercícios
da ginástica
hipopressiva.
Divididos em 3
grupos: GEE =
24; GE = 25;
GC = 22
Foi realizado 12
sessões 2x na
semana.
3 sessões
individuais com
período de 12
semanas,
submetidas ao
protocolo de
ginástica
hipopressiva.
proteção diária que
passou de 50% para
10%.
Diminuição do peso
do absorvente (em
gramas) nos dois
grupos (28,5 g e 32 g
versus 2,0 g e 3,0 g,
para GElet e GCon,
respectivamente)
(p<0,0001)
Os resultados
encontrados mostram
ser uma estratégia de
autocuidado com
resultados satisfatório
por se caracterizar
como um método não
invasivo, resolutivo e
de baixo custo
O GEE foi
estatisticamente
significante em
relação ao GC, pois
apresentou melhores
resultados em AFA
fibras I (Δ%=11,99;
p=0,000) e AFA fibras
II (Δ%=11,60;
p=0,000). O GE,
quando comparado ao
GC, obteve êxito
estatisticamente
significante em AFA
fibras I (Δ%=4,75;
p=0,021) e AFA fibras
II (Δ%=2.93;
p=0.002).
Os resultados
mostraram melhora
em todos os
parâmetros de função
muscular avaliados:
Oxford (p = 0,0005);
endurance (p =
0,0001) e número de
contrações rápidas (p
< 0,0001),
apresentando aumento
Página 130
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
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musculatura do
assoalho pélvico
em mulheres com
incontinência
urinária.
Estudo
experimental
quantitativo com
10 mulheres
submetidas a
cinesioterapia,
treino funcional e
Biofeedback.
Oliveira;
Garcia,
2011
Cinesioterapia no
tratamento da
Incontinência
Urinária em
mulheres idosas.
Estudo
intervencionista,
prospectivo
envolvendo 11
idosas com mais de
60 anos para
realizar
cinesioterapia.
Silva;
Oliva,
2011
Exercícios de
Kegel associados
ao uso de cones
vaginais no
tratamento da
incontinência
urinária: estudo de
caso.
Estudo de caso
com mulher de 59
anos submetida a
cinesioterapia
associada ao uso
dos cones vaginais.
Sousa;
Ferreira;
Oliveira;
Cestari,
2011
Avaliação da força
muscular do
assoalho pélvico
em idosas com
incontinência
urinária.
Fitz et al.
2012
da função muscular do
assoalho pélvico
8 sessões 2x por
Biofeedback em
semana
relação à média inicial
submetidas a
(11,22 para 19,040)
protocolo de
com p <0,003
exercícios
O questionário de
assoaciados.
qualidade de vida
redução significativa
(p < 0,029) . Uma
melhora de 80% a
90% em consciência e
controle da contração
Sessões
Observou-se redução
semanais
na média de
durante 3 meses, frequência de micções
com protocolo
noturnas na presença
de exercícios de de noctúria (3 versus
Kegel.
1,5) e na média do
número de situações
de perda urinária aos
esforços (3,72 versus
1,45)
10 sessões 3x
Foi possível
por semana com identificar aumento da
exercícios de
força muscular
Kegel, na 4º
perineal e diminuição
semana foi
da IU após o
associado os
tratamento. A paciente
cones vaginais
também referiu que
ao tratamento.
durante suas
atividades diárias está
conseguindo segurar
cada vez mais a urina,
não ocorrendo mais as
perdas em jato.
2 sessões
Houve aumento
semanais de
significativo no grau
forma
de força muscular
individualizada após o tratamento (p ≤
em um total de
0,05) e aumento no
12 sessões.
pico e no tempo de
contração
Estudo
experimental
envolvendo 22
participantes que
foram submetidas a
AFA e
posteriormente a
cinesioterapia.
Impacto do
Ensaio clínico
Sessões
Observou-se
treinamento dos
prospectivo com 36 semanais em um
diminuição
músculos do
mulheres
período de 3
significativa das
assoalho pélvico na
submetidas a
meses com
médias dos escores em
qualidade de vida
cinesioterapia.
exercícios de
todos os domínios
em mulheres com
Kegel.
avaliados pelos KHQ
(p ≤ 0,11) e
Página 131
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
incontinência
urinária.
diminuição da perda
urinária e frequência
urinária noturna das
pacientes (p ≤ 0,05).
Fonte: ALVES (2015)
Os artigos relacionados apresentam grupos de tratamento variando entre 1 e 71 mulheres,
englobando um total de 222 pacientes estudados, com idade variando entre 22 e 74 anos. Destes, 07
artigos abordaram o treinamento proposto por Kegel e/ou associados a outro método, 03 investigaram
exercícios perineais associados a eletroestimulação e uso de cones vaginais, 02 artigos analisaram a
ginástica hipopressiva, 01 artigo investigou os exercícios perineais associados ao Biofeedback
(Gráfico 1).
Gráfico 1 - Divisão dos recursos fisioterapeuticos
encontrados nos artigos selecionados
8%
15%
54%
23%
Cinesioterapia
Eletroestimulação e Cones Vaginais
Ginástica Hipopressiva
Biofeedback
Fonte: ALVES (2015).
O fortalecimento da MAP, através da cinesioterapia perineal, foi descrito pela primeira vez em
1948, por Arnold Kegel. Seu tratamento é constituído por exercícios que promovem o fortalecimento
e a melhora do tônus muscular, através da contração voluntária do assoalho pélvico. O principal
objetivo da cinesioterapia perineal é o reforço da resistência uretral e a melhora da sustentação dos
órgãos pélvicos (OLIVEIRA; GARCIA, 2011).
Os mesmos autores supracitados num estudo envolvendo 11 mulheres com média etária 74.2
anos, divididas em dois grupos com sessões uma vez por semana durante 3 meses, compostas de
exercícios específicos para a musculatura do assoalho pélvico, realizados nas posições sentada,
deitada, de pé e andando, com duração de 30 minutos cada sessão. Ao final do tratamento, observouse redução na média de frequência de micções noturnas na presença de noctúria (3 versus 1,5) e na
média do número de situações de perda urinária aos esforços (3,72 versus 1,45) com p=0,02.
Comparando o estudo anterior com a pesquisa de Fitz et al. (2012), estes autores propuseram
para 36 mulheres, com idade média de 55,2 anos (± 9,1), a realização contrações rápidas e lentas em
diversas posições, porém com o mesmo tempo de duração, observou-se que também houve um
aumento da força e endurance muscular, com consequente diminuição da perda urinária e além disso,
ainda houve a redução da noctúria.
Berbam (2011) em um estudo, realizado com uma paciente, 1x ao dia durante 30 dias
consecutivos, com protocolo de exercícios de Kegel intercalados com exercícios da ginástica
Página 132
Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
hipopressiva, mostrou resultados satisfatório. Desta forma, o treinamento da MAP com a
cinesioterapia perineal (exercícios de Kegel) de forma isolada ou associada a ginástica hipopressiva
ser capaz de promover o incremento da força, endurance muscular, a redução da noctúria, a
diminuição da perda involuntária de urina e ainda a melhora no perfil emocional das pacientes, o que
corrobora com os efeitos encontrados nos estudos de Fitz et al (2012) e Oliveira; Garcia (2011).
A fisioterapia dispõe de outros recursos que podem ser associados ao tratamento da IUE, dentre
eles o biofeedback, um aparelho que auxilia na mensuração e demonstração da contração muscular,
ajuda a potencializar os efeitos do fortalecimento da MAP, através de estímulos visuais e/ou
auditivos, que vão conscientizar a mulher, de quando deve contrair e relaxar a musculatura (GLISOI;
GIRELLI, 2011).
O Biofeedback demonstra ser um recurso eficaz para a propriocepção do assoalho pélvico e
melhor controle desta região através dos resultados de um estudo que teve em relação à média inicial
(11,22 para 19,040) com p <0,003. O questionário de qualidade de vida redução significativa (p <
0,029). Uma melhora de 80% a 90% em consciência e controle da contração. Tal resultado foi
observado por Glisoi, Girelli (2011) em estudo experimental quantitativo com 10 mulheres
submetidas a 8 sessões 2x por semana submetidas a protocolo de exercícios perineais associados ao
uso do Biofeedback.
Outro recurso fisioterapêutico que pode ser empregado no tratamento da IUE com bons
resultados, segundo Santos et al. (2009), é a eletroestimulação (EE) do assoalho pélvico e a utilização
dos cones vaginais, onde na realização de um estudo randomizado com 45 mulheres divididas em
dois grupos, sendo um utilizado a eletroestimulação (GElet) e o outro a utilização dos cones vaginais
(GCon) submetidas a sessões 2x na semana, com duração de 20 min, em um período de 4 meses. O
resultado encontrado foi diminuição do peso do absorvente (em gramas) nos dois grupos (28,5 g e 32
g versus 2,0 g e 3,0 g, para GElet e GCon, respectivamente com significância: p<0,0001.
Contradizendo aos achados da eficácia da EE da MAP com a cinesioterapia, Beuttenmuller et
al. (2011) constataram que a cinesioterapia foi mais eficaz na melhora da força muscular. Estes
resultados foram observados na pesquisa, do mesmo autor, com 71 mulheres, divididas em 3 grupos:
grupo de eletroestimulação associados a exercícios perineais (GEE) com 24 mulheres; grupo de
eletroestimulação (GE) com 25 mulheres; grupo controle (GC) com 22. Os resultados obtidos
demonstram que GEE foi estatisticamente significante em relação ao GC, pois apresentou melhores
resultados em AFA fibras I (Δ%=11,99; p=0,000) e AFA fibras II (Δ%=11,60; p=0,000). O GE,
quando comparado ao GC, obteve êxito estatisticamente significante em AFA fibras I (Δ%=4,75;
p=0,021) e AFA fibras II (Δ%=2.93; p=0.002), certificando que a cinesioterapia foi mais eficaz no
teste AFA.
As pesquisas demonstraram que os exercícios propostos por Kegel e/ou associados a ginástica
hipopressiva, em mulheres que apresentam uma boa conscientização corporal, de forma
supervisionada, são capazes de trazer relevante redução das perdas involuntárias de urina, na
diminuição da frequência urinária, redução da noctúria e ainda melhora no perfil emocional das
pacientes.
Os resultados alcançados pelos tratamentos com o Biofeedback também foram positivos, e
indicaram que é um importante aliado quando associado ao treinamento de contrações rápidas e lentas
da MAP, proporcionando mudança significativa na consciência perineal, ganho de força muscular,
redução da perda urinária e melhora na qualidade de vida das mulheres.
A eletroestimulação transvaginal e o uso dos cones vaginais, destacaram-se como outros
recursos fisioterapêuticos eficazes no tratamento da IUE, sendo melhor utilizados quando as pacientes
não possuem uma conscientização corporal adequando, proporcionando ativação as conexões
neuromusculares, facilitando o reconhecimento da MAP pelas pacientes.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
4 CONCLUSÃO
Foi possível identificar que a fisioterapia se mostra como parte fundamental no tratamento
conservador da IUE, onde vem demonstrando bons resultados, especialmente nos casos em que há
correta indicação médica e é realizado um trabalho em equipe. As pesquisas evidenciaram que a
cinesioterapia é o recurso mais utilizado, representando mais da metade das modalidades citadas pelos
artigos. Essa terapia associada ou não a ginástica hipopressiva, de forma supervisionada, são capazes
de trazer relevante redução das perdas involuntárias de urina, na diminuição da frequência urinária,
redução da noctúria e ainda melhora no perfil emocional das pacientes.
Os resultados alcançados pelos tratamentos com o biofeedback, a eletroestimulação
transvaginal e os cones vaginais também foram positivos, principalmente quando a paciente não
apresenta uma adequada conscientização corporal, proporcionando mudança significativa na
consciência perineal, ativando as conexões neuromusculares, ganho de força muscular, redução da
perda urinária, mas que raramente, pode trazer alguns efeitos adversos.
Os estudos mostraram que os recursos fisioterapêuticos relatados, proporcionaram melhora
significativa dos sintomas da IUE, o que levaram, consequentemente ao aumento da qualidade de
vida das mulheres acometidas por tal afecção, como também evidenciaram a escassez de trabalhos
relacionados a essa temática, visto o grande número de mulheres acometidas, sendo necessário novas
investigações e estudos sobre tal área da saúde, afim de apontar e esclarecer qual seria a melhor
propedêutica no tratamento da incontinência urinária de esforço.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
PROPORÇÕES DE IGUALDADE E ÁUREA EM MEDIDAS CRÂNIO-FACIAIS DE
INDIVÍDUOS EM FASES DISTINTAS DO CRESCIMENTO
EQUALITY AND GOLDEN PROPORTIONS IN CRANIOFACIAL MEASUREMENTS
FROM INDIVIDUALS IN DIFFERENT STAGES OF GROWTH
Márcia Valéria Martins 1,
Edmundo Médici Filho 2
RESUMO
No presente estudo, o propósito foi verificar a presença de proporções de igualdade e áureas em
medidas crânio-faciais, por meio de 59 radiografias cefalométricas laterais, obtidas de indivíduos com
oclusão normal, que se encontravam no perfodo de crescimento, sendo 31 do sexo feminino e 28 do
masculino. A amostra foi subdividida em três grupos (1, 2 e 3), segundo o programa da curva de
crescimento de Martins e Sakima (Radiomemory). Para avaliação da proporção de igualdade foram
utilizadas seis razões: OPI-N I OPI-Ena; OPI-N I OPI-Pog; OPI-Pog I OPIEna; N-Ena I Ena-Enp;
ASPt-N I Ena-Enp e ASPt-N I N-Ena. Para verificação da proporção áurea foram selecionadas cinco
razões: OPI-ASPt I ASPt-N; OPI-Enp I Ena-Enp; N-Ena I ASPt-Enp; Ena-Enp I ASPt-Enp e ASPtN I ASPt-Enp. Os cálculos para a verificação das proporções de igualdade (razão igual a 1) e áureas
(razão igual a 1 ,618) foram realizados no programa Microsoft Excel for Windows (Microsoft
Corporation). Os resultados foram submetidos aos testes t de Student, ANOVA e Tukey. Após análise
estatística, verificamos que no grupo 1 a razão OPI-Pog I OPIEna estava em proporção de igualdade,
porém nenhuma razão áurea foi encontrada; no grupo 2 duas razões foram estatisticamente
iguais:OPI-N I OPI-Pog e ASPt-N I Ena-Enp e duas estavam em proporção áurea: OPI-Enp I EnaEnp e NEna I ASPt-Enp; no grupo 3 a relação de igualdade foi observada nas razões N-Ena I EnaEnp e ASPt-N I Ena-Enp, enquanto a presença de proporção áurea foi evidenciada somente na razão
OPI-Enp I Ena-Enp.
Palavras-chave: Proporção áurea. Proporção de igualdade. Cefalometria. Oclusão dentária.
Crescimento.
ABSTRACT
The present study investigated the presence of equality and golden proporticns in craniofacial
measurements on 59 lateral cephalometric radiographs obtained from individuais with normal
occlusion during the growth period, beíng 21 females and 28 males. The sample was subdivided into
three groups (1, 2 and 3), following the grov.1h curve software of Martins e Sakima (Radiomemory).
Evaluation of the equality proportion was assessed by six ratios: OPI-N I OPI-Ena; OPI-N I OPI-Pog;
OPI-Pog I OPJ-Ena; NEna I Ena-Enp,· ASPt-N I Ena-Enp and ASPt-N I N-Ena. Golden proportion
was analyzed through tive ratios: OPJ-ASPt I ASPt-N; OP/-Enp I Ena-Enp; N-Ena I ASPt-Enp; EnaEnp I ASPt-Enp and ASPt-N I ASPt-Enp. Calculations for observation of equality proportions (ratio
___________________
1
Professora Doutora do Curso de Odontologia da Faculdade Integral Diferencial-FACID/Devry
Teresina-PI
E-mail: [email protected]
2 Professor Titular do Curso de Odontologia da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos-UNESP-FOSJC
São José dos Campos-SP
E-mail: [email protected]
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
of 1) and golden proportíons (ratio of 1.618) were pertormed on the Microsoft Excef for Windows
software (Microsoft Corporation). Results were submitted to StucJent's t tost, ANOVA and Tukey.
After statistical ana/ysis, the ratio OPJ-Pog I OPI-Ena in group 1 presented equality proportion, yet
no golden proportion was observed; in group 2 two ratios were statistically equal: OPI-N I OPJ-Pog
and ASPt-N I Ena-Enp, and two presented golden proportion: OPI-Enp I Ena-Enp and N-Ena I ASPtEnp; in group 3 the equality relationship was observed in ratios N-Ena I Ena-Enp and ASPt-N I EnaEnp, whereas the presence of golden proportion was observed only for ratio OPI-Enp I Ena-Enp.
Keywords: Golden proportion. Equality proportion. Cephalometty; Dental occlusion; Growth.
1 INTRODUÇÃO
Desde as civilizações mais antigas até os dias atuais, a preocupação com a forma, a harmonia,
a proporção e a beleza vem sendo observada em diversas obras de arte, na arquitetura, na matemática,
etc. Assim como os eventos que ocorrem na natureza, de maneira geral, seguem uma proporção
constante, o crescimento do corpo humano também mantém as linhas gerais de sua forma em
proporção, a qual vem sendo investigada ao longo do tempo, por diversos estudiosos e artistas. (GIL,
1999). Essa proporção foi chamada de secção áurea por Leonardo da Vinci, proporção divina por
Pacioli e será denominada proporção ou relação áurea neste estudo (GIL, 1999; BAKER; WOODS ,
2001; GIL, 2001; GIL; MEDICI FILH0, 2002).
A proporção áurea pode ser observada com freqüência em diversas partes do corpo humano,
sendo expressa pelo número 1,618 e representada pelo caractere grego (phi ou fi),em homenagem ao
matemático e escultor grego Phídias, que a utilizou amplamente em seus trabalhos (GIL, 1999;
BAKER; WOODS, 2001; GIL, 2001; GIL; MEDICI FILH0, 2002).
Acredita-se que as estruturas que se encontram nessa proporção sejam mais estáveis,
esteticamente agradáveis e funcionalmente eficientes. Portanto, ao se realizar um planejamento
ortodôntico é importante considerar não somente o equilíbrio oclusal do paciente, mas também as
suas preferências estéticas, analisando-se as qualidades faciais de simetria, harmonia e proporção.
Além disso, vale ressaltar que faces harmônicas e belas proporcionam ao indivíduo elevada autoestima e excelente convívio psicossocial (RUSSEL, 2000; KOLLER et al, 2003; ERBAY E
CANIKLIOGU,2002). O crescimento facial tende a seguir a curva de crescimento em altura e as
mudanças nas proporções faciais são mais acentuadas nos períodos de desenvolvimento acelerado,
os quais podem produzir mudanças na direção do mesmo, favorecendo ou, em muitos casos, atuando
contrariamente aos esforços terapêuticos. (KOLLER, 2003).
Embora em menor quantidade que os estudos sobre a proporção áurea, alguns autores
observaram a presença da proporção de igualdade em medidas crânio-faciais, em indivíduos com
oclusão normal, por meio de radiografias cefalométricas laterais e axiais (GIL, 1999; GIL, 2001; GIL;
MEDICI FILH0, 2002; GIL et al, 2004; GROSSI, 2005; SILVA, 2005). Verificaram ainda, que as
proporções de igualdade e áureas seriam as duas formas de construção e divisão, consideradas de
maior estabilidade para as estruturas cranianas (GIL et al, 2004).
As pesquisas realizadas por estes autores serviram de estímulo para o desenvolvimento do
presente trabalho, cujos objetivos foram verificar a presença de proporções de igualdade (razões OPIN/ OPI-Ena; OPI-N/OPI-Pog; OPI-Pog/ OPI-Ena; N-Ena/ Ena-Enp; ASPt-N/Ena-Enp; ASPt-N/NEna) e áureas (razões OPI-ASPt/ASPt-N; OPI-Enp / Ena-Enp; N-Ena/ASPt-Enp; Ena-Enp/ASPtEnp; ASPt-N/ASPt-Enp) no esqueleto crânio-facial de indivíduos com oclusão normal, que
encontravam-se em diferentes fases do período de crescimento, por meio de radiografias
cefalométricas laterais. Além de observar se existia diferença estatisticamente significante, entre as
razões que estavam em proporção de igualdade e áurea, nessas diferentes fases.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
REVISÃO DE LITERATURA
Proporção áurea e cefalometria
Perasso, em 2001, afirmou que pacientes totalmente desdentados necessitariam de reabilitação
protética que preenchesse os requisitos básicos da estética,fonética, mastigação e comodidade.
Observando que existia certa dificuldade no registro da dimensão vertical, procurou parâmetros para
orientá-lo utilizando a proporção áurea. Em sua pesquisa investigou em quais proporções faciais o
número áureo estaria presente e se estas proporções seriam mantidas, tanto no momento da confecção
dos planos de orientação, bem como na instalação das próteses totais. Com auxílio do compasso áureo
e paquímetro, foram marcados na face dos pacientes os seguintes pontos cefalométricos: canto interno
do olho, asa do nariz, pogônio, estômio, tríquio, násio, subnasal, limites dos lábios superior e inferior.
Após realizar as devidas alterações e registros, observou a existência da proporção áurea nos
segmentos tríquio-násio-pogônio e canto interno do olho-asa do nariz -estômio.
Gil, em 1999, Gil, em 2001 e Gil e Médici Filho,em 2002, realizaram trabalho que tinha por
finalidade avaliar medidas das estruturas ósseas de crânios de 23 indivíduos adultos, dos sexos
masculino e feminino, com oclusão normal, sem tratamento ortodôntico prévio e ausência de perdas
dentárias precoces, por meio de radiografias cefalométricas axiais, frontais e laterais e verificar se
essas medidas estavam em proporção áurea. Os valores das medidas selecionadas foram obtidos com
a utilização do programa Radiocef 2.0® (Radiomemory, Belo Horizonte, Brasil). Após o tratamento
estatístico dos resultados, encontraram 619 pares de medidas em proporção áurea, em pelo menos
80% da amostra, sendo 34 pares na incidência axial, 287 pares na frontal e 298 na lateral.
Martins, em 2003, avaliou trinta radiografias cefalométricas laterais com o objetivo de verificar
a presença de proporção áurea, em segmentos do esqueleto crânio-facial de indivíduos com oclusão
normal, que se encontravam na fase do pico do surto de crescimento puberal até antes do término da
maturação esquelética, sendo 13 do sexo masculino e 17 do feminino. A amostra foi posteriormente
subdividida em grupos 1 e 2. No grupo 1 estavam os indivíduos que se encontravam desde o pico até
dois anos após o mesmo, enquanto o grupo 2 era formado por indivíduos que estavam entre dois a
três anos após o pico, mas que ainda não haviam atingido a maturidade esquelética. Foram escolhidos
34 segmentos crânio-faciais, com base nos estudos de Gil, em 1999; Gil, em 2001 e Gil e Médici
Filho, em 2002. As medidas destes segmentos foram calculadas no programa Radiocef 2.0®
(Radiomemory, Belo Horizonte, Brasil). Após a análise dos resultados obtidos, concluiu que 31
segmentos crânio-faciais apresentaram-se em proporção áurea, em pelo menos 80% dos indivíduos
com oclusão normal que se encontravam na fase avaliada, não havendo diferença estatisticamente
significante na quantidade de razões áureas estabelecidas por estes segmentos, entre os grupos 1 e 2.
Piselli, em 2003, realizou trabalho para observar se pacientes com maloclusão Classe II, 1ª
divisão, apresentariam uma melhora na estética facial, assim como se algumas proporções faciais
estavam em proporção áurea, após a realização de tratamento ortodôntico. A amostra foi constituída
por 36 telerradiografias obtidas de pacientes do sexo feminino, com médias de idade entre 12 anos e
11 meses (antes do tratamento) e 15 anos e quatro meses (após o tratamento). Estas radiografias
pertenciam ao arquivo de uma clínica especializada, na cidade de Piracicaba-SP. Para avaliação da
proporção áurea foram escolhidas as seguintes grandezas cefalométricas: (ENA-ENP)/(ENPMAND), (VPt-Or) /(VPt-Co), (Spog-A)/(A-HF) e (Spog-li)/(li-A). Ao final do estudo, verificou que
apenas a proporção (ENA-ENP)/(ENP-MAND) encontrava-se em proporção áurea, antes e após o
tratamento. A proporção (Spog-A)/(A-H F) apresentava-se em proporção áurea somente antes do
tratamento. Enquanto as demais proporções avaliadas não se mostraram em proporção áurea, antes e
nem depois do tratamento ortodôntico.
Com o objetivo de avaliar a presença de proporção divina em 52 proporções, Silva, em 2003,
utilizou quarenta radiografias cefalométricas laterais de arquivo de um consultório particular, obtidas
de pacientes adultos com maloclusão Classe II de Angle, previamente à realização de tratamento
ortodôntico, na faixa etária dos 17 aos 45 anos, sendo 13 do sexo masculino e 27 do feminino. Para a
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análise cefalométrica lateral foi usado o programa Radiocef Studio® (Radiomemory, Belo Horizonte,
Brasil). Após análise estatística dos dados, observou que 65,48% das proporções avaliadas
encontravam-se em proporção divina e que o terço inferior da cabeça, juntamente com áreas nas
arcadas dentárias, foram as regiões em que estas proporções apresentaram as menores porcentagens
de proporção divina.
Walter-Porto, em 2005, realizou estudo com o propósito de avaliar o esqueleto crânio-facial de
indivíduos de dois grupos faciais, dolicofaciais e mesofaciais, quanto à presença de proporção áurea
em oito razões cefalométicas: Ena-Enp/Or-Me; A-Pog/Or-Me; Co-Go/Or-Me;N-Ena/Go-Pog; EnaEnp/Go-Pog; Go-Pog/Co-Gn; N-Ena/Ena-AA e EnaEnp/SO.-POOr. Para isto, utilizou radiografias
cefalométricas laterais obtidas de 24 indivíduos dolicofaciais e 24 mesofaciais, do sexo masculino e
do feminino, na faixa etária entre 17 e 25 anos de idade, com oclusão Classe I de Angle, que não
foram submetidos a tratamento ortodôntico prévio. A análise dos resultados obtidos permitiu concluir
que quatro razões apresentavam-se em proporção áurea:(EnaEnp/Or-Me; Co-Pog/Or-Me; NEna/Ena-AA e Ena-Enp/SO-POOr), no grupo de indivíduos mesofaciais e em apenas uma razão (APog/Or-Me), no grupo de dolicofaciais.
Proporção de igualdade e cefalometria
Gil, em 1999; Gil, em 2001 e Gil e Médici Filho, em 2002, realizaram trabalho com o objetivo
de verificar a existência de proporção áurea na arquitetura craniana de 23 indivíduos adultos, dos
sexos masculino e feminino, com oclusão normal, sem tratamento ortodôntico prévio e ausência de
perdas dentárias precoces, por meio de radiografias cefalométricas axiais, frontais e laterais. O
programa Radiocef 2.0® (Radiomemory, Belo Horizonte, Brasil) foi utilizado para a obtenção das
medidas selecionadas. Após análise estatística dos dados, observaram que 619 pares de medidas
encontravam-se em proporção áurea, em pelo menos 80% da amostra. Além disso, verificaram que
as medidas Op-N, Op-Ena e Op-Pog apresentaram-se com valores estatisticamente iguais entre si, em
100% da amostra utilizada. Observaram ainda, que as medidas Co-Gn, Gn-N, Cc-superior do crânio
e Cc-posterior do crânio, mostraram-se com valores muito semelhantes.
Com o propósito de verificar a presença de proporções de igualdade em medidas cranianas, Gil
et al., em 2004, realizaram estudo utilizando 23 telerradiografias axiais de indivíduos adultos, com
oclusão normal, sem tratamentos ortodônticos ou cirúrgicos prévios e com ausência de perdas
dentárias precoces. Estas radiografias foram digitalizadas em scanner 4C (HP), sendo as medidas
cranianas realizadas no Programa Radiocef 2.0® (Radiomemory, Belo Horizonte, Brasil).
Observaram que as seguintes medidas apresentaram-se com valores estatisticamente iguais entre si:
Largura do forame magno e distância inter-incisivos laterais superiores; distância inter-molares
superiores e profundidade lateral da face (distância entre a cabeça da mandíbula e região mais anterior
do osso zigomático) e distância inter-gônio, distância inter-processos coronóides e distância entre as
proeminências zigomáticas direita e esquerda.
Diante da dificuldade de identificação e determinação de alguns pontos cefalométricos,
utilizados em várias análises existentes, Gil et al., 2004, avaliaram quarenta radiografias
cefalométricas laterais (arquivo do Curso de Pós-graduação em Ortodontia, da Universidade
Metodista de São Paulo) de indivíduos com oclusão normal,sem tratamento ortodôntico prévio, com
o propósito de elaborar uma metodologia para a identificação de um ponto cefalométrico localizado
na região mais posterior e inferior da base do crânio. Este ponto foi denominado de OPI (Occipital
Póstero-lnferior). Segundo os autores, este ponto poderia ser utilizado como referência em vários
estudos, sendo de fácil identificação e localização, podendo ser empregado com segurança e
confiabilidade nos estudos que envolvem a base posterior do crânio. Este ponto foi marcado por dois
alunos, devidamente treinados, do Curso de Pós-graduação em Ortodontia,os quais utilizaram tanto
o método por inspeção (visual) quanto o método por construção (geométrico). Os traçados foram
realizados em número de dez em dez radiografias, não sendo verificada diferença estatisticamente
significante quanto à determinação e localização do referido ponto, nas duas metodologias
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empregadas. Os autores relataram ainda que, a partir do ponto OPI, poderiam ser determinadas as
linhas cefalométricas OPI-N, OPI-ENA e OPI-Pog e sugeriram que, nos casos com oclusão normal
natural, estas linhas apresentariam forte semelhança entre si e apenas os ângulos entre estas linhas
poderiam sofrer alterações,determinando os diferentes padrões faciais de crescimento.
Grossi, em 2005, realizou pesquisa com objetivo de avaliar as relações entre as medidas lineares
N-ENA, ENA-Pog e N-Pog, as medidas angulares N.OPI.ENA, ENA.OPI.Pog e N.OPI.Pog, e o
índice VERT, de acordo com a classificação proposta por Ricketts, em 1982. Para isto, utlilizou
amostra de 700 telerradiografias, em norma lateral, de indivíduos brasileiros, sendo 318 do sexo
masculino e 382 do sexo feminino, os quais apresentaram média de idade de 16,66 anos. A amostra
foi subdividida em quatro grupos de acordo com a oclusão. O primeiro grupo foi constituído por 88
indivíduos com oclusão normal natural (ANDREWS, 1972), sendo observadas clinicamente, quatro
das seis chaves de oclusão. Os demais grupos apresentaram-se constituídos por indivíduos com
maloclusões de Classe I, 11 e III (ANGLE,1899), sem relato de tratamento ortodôntico prévio. Após
a análise estatística para a avaliação das medidas lineares e angulares, em relação ao índice VERT,
evidenciou aumento progressivo das medidas pesquisadas em relação aos seis padrões faciais
determinados por esse índice, conforme se vai do padrão braquifacial severo para o padrão
dolicofacial severo. Observou ainda, forte correlação entre as medidas OPI-N, OPI-ENA e OPI-Pog,
para o grupo com oclusão normal, sendo os coeficientes de correlação de Pearson entre OPI-Ne OPIPog, OPI-ENA e OPI-Pog, OPI-Ne OPI-ENA iguais a 0,81; 0,87; 0,88, respectivamente.
Silva, em 2005, se propôs a avaliar o posicionamento da maxila nos sentidos vertical, ânteroposteríor (sagital) e a sua inclinação, numa amostra de 94 indivíduos com oclusão normal. Foram
determinadas correlações entre medidas lineares do próprio indivíduo: OPI-N com OPI-ENA e NENA com ENA-ENP. A partir dos fortes índices de correlação encontrados entre OPI-N e OPI-ENA
(r=0,89), assim como entre N-ENA e ENA-ENP (r=0,87), concluiu que a medida OPI-N poderia ser
tomada como referência para determinação de OPI-ENA, da mesma forma que ENA-ENP poderia
ser considerada para determinação de N-ENA, definindo a posição da maxila nos sentidos sagital e
vertical, respectivamente. A inclinação da maxila, representada pelo ângulo OPI-ENA-ENP,
apresentou valor médio estatisticamente próximo a 00 indicando forte tendência do prolongamento
posteríor do plano palatino (ENA-ENP) tangenciar a base posterior do crânio (ponto OPI), o que
evidenciou ser esta, uma importante característica em indivíduos com oclusão normal.
2 MATERIAL E METÓDOS
Neste trabalho, a amostra foi constituída por 59 radiografias cefalométricas laterais
selecionadas do arquivo da disciplina de Radiologia Odontológica da Faculdade de Odontologia de
São José dos Campos, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"- UNESP. As mesmas
foram obtidas a partir de indivíduos brasileiros, de cor de pele branca, com oclusão normal, sem
tratamentos ortodônticos ou cirúrgicos prévios e com ausência de perdas dentárias precoces, com
idades cronológicas entre 07 e 16 anos, sendo 31 do sexo feminino e 28 do masculino. Portanto, a
amostra foi constituída por radiografias cefalométricas laterais de indivíduos que se encontravam em
fases distintas do período de crescimento, sendo subdividida em três grupos,segundo o programa da
curva de crescimento de Martins e Sakima, versão 1.0 (Radiomemory, Belo Horizonte - Brasil):
a) Grupo 1 (G1): do início da fase do surto de crescimento puberal até antes de seis meses que
antecedem o pico. Constituído por 23 radiografias;
b) Grupo 2 (G2): de seis meses antes até seis meses após o pico do surto de crescimento
puberal,incluindo-o. Formado por 12 radiografias;
c) Grupo 3 (G3): após seis meses depois do pico do surto de crescimento puberal até antes do
término da maturidade esquelética. Continha 24 radiografias.
O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, da Faculdade de
Odontologia de São José dos Campos, sob o protocolo nº 078/2003-PH/CEP (Anexo A), estando de
acordo com os princípios éticos, conforme resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
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2.1 Obtenção e seleção das radiografias
O arquivo utilizado continha, além das radiografias cefalométricas laterais, radiografias de mão
e punho que já haviam sido analisadas, em estudos anteriores, no programa da curva de crescimento
de Martins e Sakima. Após a identificação da fase de crescimento dos indivíduos, foram selecionadas
as radiografias cefalométricas laterais daqueles que estavam nos três grupos anteriormente
mencionados (G1,G2 e G3). Dentre 96 radiografias de mão e punho observadas no arquivo de
radiografias de indivíduos com oclusão normal, apenas 59 pertenciam a indivíduos que se
encontravam em período de crescimento. Essas radiografias foram digitalizadas por meio de scanner
HPScanjet 4CIT (Hewlett Packard, Washington, USA), com leitor de transparência e seu respectivo
software (DeskScan) para a captura das imagens. Em seguida, essas imagens foram transferidas para
o programa de cefalometria Radiocef 4.0® (Radiocef Studio, Radiomemory, Belo Horizonte - Brasil),
no qual foi realizada a marcação dos pontos cefalométricos e obtenção das medidas dos segmentos
crânio-faciais selecionados.
2.2 Seleção das razões cefalométricas
Para a realização deste trabalho foi criada uma nova análise cefalométrica, denominada AARL
(Análise Áurea Radiográfica Lateral), sendo os cálculos das razões efetuados no programa Microsoft
Excel for Windows, versão 2003 (Microsoft Corporation, Washington, USA). Para a avaliação da
proporção de igualdade foram selecionadas 6 razões cefalométricas: OPI-N I OPI-Ena (R1); OPI-N I
OPI-Pog (R2); OPI-Pog I OPJ-Ena (R3); N-Ena I Ena-Enp (R4); ASPt-N I Ena-Enp (R5); ASPt-N I
N -Ena (R6). Enquanto para a verificação da proporção áurea foram escolhidas 5 razões: OPI-ASPt
/ASPt-N (R7); OPI-Enp /Ena-Enp (R8); N-Ena/ASPt- Enp (R9); Ena-Enp /ASPtEnp(R10); ASPt-N
/ASPt- Enp (R11) .
2.3 Método estatístico
No presente estudo, os pontos cefalométricos foram marcados duas vezes, em todas as
radiografias da amostra, utilizando intervalo de trinta dias entre as marcações, com a finalidade de
avaliar o erro intra-examinador. Além disso, a identificação destes pontos foi realizada em ambiente
com iluminação apropriada (ligeiramente escurecido), para melhor destaque dos contornos das
imagens radiográficas das estruturas anatômicas. As marcações dos pontos cefalométricos foram
realizadas pelo mesmo examinador, especialista em Radiologia Odontológica. Os pontos foram
marcados, dividindo-se a amostra aleatoriamente, em cinco grupos de 10 radiografias e um grupo de
09 radiografias, para que a fadiga do examinador pudesse interferir na identificação e localização dos
mesmos. O Teste t de Student foi usado para verificar a presença da proporção de igualdade nas seis
razões cefalométricas:R1,R2,R3,R4,R5 e R6 e para a avaliação da proporção áurea nas cinco razões
cefalométricas: R7, R8, R9, R10 e R11. Para observar a existência de diferenças estatisticamente
significativas entre as médias das razões, nos grupos avaliados (G1, G2 e G3), foi utilizada a Análise
de Variância (ANOVA). Quando esse teste apresentasse resultados significativos, as respectivas
médias seriam submetidas ao teste de Tukey para identificar qual grupo apresentaria a média das
razões diferente dos demais. As análises estatísticas foram realizadas no programa Microsoft Excel
for Windows, versão 2003 (Microsoft Corporation,Washington, USA), adotando-se o nível de
significância de 5%.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 verificou-se os resultados do teste t de Student para a proporção de igualdade, no
grupo 1. Dentre as seis razões utilizadas para avaliação dessa proporção, somente a razão OPIPágina 141
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Pog/OPI-Ena (R3) apresentou média estatisticamente igual a 1, utilizando nível de significância de
5%.
Tabela 1- Resultado do teste t de Student para proporção de igualdade, no grupo 1.
FONTE: MARTINS, 2005
Após aplicação do teste t de Student para as médias das seis razões usadas para avaliação da
proporção de igualdade, no grupo 2, observou-se que as médias das razões OPI-N/OPI-Pog (R2) e
ASPt-N/Ena-Enp (R5) foram estatisticamente iguais a 1, utilizando nível designificância de 5%
(Tabela 2).
Tabela 2- Resultado do teste t de Student para proporção de igualdade, no grupo 2.
FONTE: MARTINS, 2005
Na Tabela 3 estão os resultados do teste t de Student para a proporção de igualdade, no grupo
3. Verificou-se que as médias das razões N-Ena/ Ena-Enp (R4) e ASPt-N/Ena-Enp (R5) foram
estatisticamente iguais a 1, utilizando nível de significância de 5%.
Tabela 3- Resultado do teste t de Student para proporção de igualdade, no grupo 3.
FONTE: MARTINS, 2005
A partir da metodologia utilizada e após análise estatística dos resultados (testes t de Student,
ANOVA e Tukey), verificou-se nesse estudo que as seguintes razões estão em proporção de
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igualdade: OPI-N/OPI-Pog (R2): Grupo 2; OPI-Pog/ OPI-Ena (R3): Grupo 1; N-Ena/Ena-Enp(R4):
Grupo 3; ASPt-N/Ena-Enp (R5): Grupos 2 e 3.
Na Tabela 4 observa-se os resultados do teste t de Student para a proporção áurea, no grupo 1.
Dentre as cinco razões selecionadas, nenhuma apresentou média estatisticamente igual a 1,618,
utilizando nível de significância de 5%.
Tabela 4- Resultado do teste t de Student para proporção áurea, no grupo 1.
FONTE: MARTINS, 2005
Após aplicação do teste t de Student para as médias das cinco razões usadas para avaliação
da proporção áurea, no grupo 2, observou-se que as médias das razões OPI-Enp/Ena-Enp (R8) e NEna/ASPt-Enp (R9) foram estatisticamente iguais a 1 ,618, utilizando nível de significância de 5%
(Tabela 5).
Tabela 5- Resultado do teste t de Student para proporção áurea, no grupo 2.
FONTE: MARTINS, 2005
Na Tabela 6 estão os resultados do teste t de Student para a proporção áurea, no grupo 3.
Verificou-se que dentre as cinco razões utilizadas, apenas OPI-Enp/Ena-Enp (R8) tinha média
estatisticamente igual a 1, 618, utilizando nível de significância de 5%. É importante salientar que
OPI-Enp/Ena-Enp (R8) estava em proporção áurea, nos grupos 2 e 3.
Tabela 6- Resultado do teste t de Student para proporção áurea, no grupo 2.
FONTE: MARTINS, 2005
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De acordo com a metodologia utilizada e após análise estatística dos resultados (testes t de
Student, ANOVA e Tukey), verificou-se nesse trabalho que as seguintes razões estavam em
proporção áurea: OPIEnp/ Ena-Enp (R8): Grupos 2 e 3; N-Ena/ASPt-Enp (R9): Grupo 2.
4 CONCLUSÃO
Após análise estatística dos resultados obtidos, foi possível concluir que:
a) Dentre as seis razões avaliadas para verificação da proporção de igualdade, quatro
apresentaram médias estatisticamente iguais a 1: OPI-N/OPI-Pog; OPI-Pog/ OPI-Ena; N-Ena/EnaEnp; ASPt-N/EnaEnp;
b) Dentre as cinco razões analisadas quanto à presença da proporção áurea, apenas duas
apresentaram médias estatisticamente iguais a 1,618: OPI-Enp/ Ena-Enp; N-Ena/ASPt-Enp;
c) Com relação às razões que se encontravam em proporção de igualdade, houve diferença
estatisticamente significante entre o grupo 1 e os grupos 2 e 3. Entretanto, entre os grupos 2 e 3 não
houve nenhuma diferença;
d) Houve diferença estatisticamente significante entre as razões que se encontravam em
proporção áurea, nos 3 grupos avaliados.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
SER PAI NA CONTEMPORANEIDADE: A VISÃO DO HOMEM SOBRE A
PARENTALIDADE
BEING A PARENT IN CONTEMPORARY SOCIETY: MAN'S VIEW ON PARENTING
Marcelle Beatriz Moraes Sousa1,
Milene Martins2
RESUMO
A parentalidade engloba o exercício dos papéis dos pais dentro de uma sociedade contemporânea na
qual se vem percebendo um compartilhamento de funções. O que antes era definido como papel da
mãe, hoje vem ocorrendo uma desmistificação onde o pai começa a buscar uma maior participação
no âmbito familiar, exercendo tarefas que vão além do provimento da família. Esse estudo aborda o
exercício da parentalidade a partir da visão do homem, tendo como objetivo geral analisar sua
percepção acerca da parentalidade exercida atualmente; os objetivos específicos foram identificar as
transformações que ocorreram no exercício deste papel nas famílias contemporâneas, verificando
como os pais percebem seus papéis parentais, buscando ainda compreender os modelos identitários
usados pelos mesmos. Foi realizada uma pesquisa de campo, qualitativa, de cunho exploratório, em
Teresina-PI, com uma amostra de 8 pais, com idade entre 25 e 55 anos. Foi realizada entrevista
semiestruturada com os participantes e em seguida o processo de análise dos conteúdos com
elaboração de categorias. Constatou-se que os pais participantes estão cada vez mais presentes na
dinâmica familiar, compartilhando papéis até então vistos como da mãe, bem como percebem a
importância do seu papel dentro da família contemporânea
Palavras-chave: Parentalidade. Compartilhamento de papéis. Famílias contemporâneas.
ABSTRACT
Parenting involves the exercise of parent’s roles within a contemporary society in which one is
noticing a sharing function. What was once defined as mother's role, today there has been
demystification once the father begins to seek greater participation in the family, performing tasks
that go beyond family provision. This work deals with the exercise of parenthood from the men’s
view. It aims to analyze their perception on parenting exercised currently as well as to identify the
changes that have occurred in the performance of this role in contemporary families, to see how
parents perceive their parental roles, and to try to understand the identity models used by them. It is
a field research with a qualitative, exploratory approach carried out in the city of Teresina-PI, with a
sample of 08 parents, aged 25-55. Semi-structured interviews with the participants, the content
analysis and classes preparation were made. It can be noticed that parents are increasingly present in
their family dynamics sharing roles that were considered the mother’s as well as they can notice the
importance of their role within the contemporary family.
Keywords: Parenting. Role sharing. Contemporary families.
1
Aluna do Curso de Psicologia da Faculdade Integral Diferencial (FACID/DeVry) em Teresina-PI.
Email: [email protected]
2
Professora do Curso de Psicologia da FACID, Mestre em Educação.Email: [email protected]
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1 INTRODUÇÃO
Em função das mudanças sociais e culturais que vêm se propagando, as famílias
contemporâneas também estão se transformando. Com a saída da mulher do âmbito doméstico, a fim
de voltar-se para o mercado de trabalho, buscando cada vez mais independência, o homem se viu
compelido a exercer novos papéis no contexto familiar.
Com o advento deste novo cenário, viu-se a necessidade de buscar identificar e compreender
quais foram essas mudanças e como elas repercutem nos diferentes arranjos familiares. De acordo
com Jager e Bottoli et al. (2011), as referidas mudanças vêm contribuindo não apenas no surgimento
de uma nova configuração familiar, mas, sobretudo para uma mudança de papéis dentro de casa. Tais
transformações provocaram alterações na configuração, estrutura e na dinâmica familiar levando a
diferentes concepções na família contemporânea.
Segundo Marcolino e Galastro (2001), percebe-se um processo de transição, no qual já se vê,
atualmente, em muitas famílias uma relativa divisão de responsabilidades e atribuições, onde pais e
mães compartilham tarefas relacionadas à educação e organização do meio familiar. Assim, neste
contexto, a figura do pai encontra-se em processo de transformação, caracterizando-se atualmente
como mais afetivo e presente na vida da família e dos filho
A partir da perspectiva teórica sobre o tema, a presente pesquisa contribui para a discussão
acerca da percepção do homem acerca do exercício da sua parentalidade, possibilitando reconhecer
as transformações ocorridas na função do pai/papel masculino ao longo dos anos, visto que a figura
do pai está cada vez mais presente no atual contexto da educação dos filhos. Para isso, buscou-se
identificar a partir do protagonista da pesquisa – o pai, as transformações que ocorreram no exercício
da parentalidade, verificando como os homens percebem sua parentalidade dentro das famílias
contemporâneas, compreendendo que modelos identitários os homens usaram no exercício de seu
papel e descrever as consequências da participação ou não do pai na dinâmica da família
contemporânea.
A discussão sobre esse tema é relevante e atual, pois além da família estar em transformação
em virtude das mudanças sociais, econômicas e culturais da contemporaneidade, os papéis parentais
também se modificaram e o cuidado com a família não é mais tarefa feminina. Assim, o pai
contemporâneo vem cada vez mais assumindo responsabilidade nas atividades de cunho doméstico.
Essa busca por um maior envolvimento por parte do pai pode estar ocorrendo tanto na interação
direta com o filho, através de cuidados em geral, quanto no maior tempo investido nessa relação ou
ainda de forma indireta, a partir da acessibilidade e responsabilidade pelo bem estar do filho, o que
quer dizer um maior envolvimento com a escola e com as tarefas escolares, saúde e sustento do
mesmo (GRZYBOWSKI, 2007).
Assim, se revela uma figura paterna renovada que se construiu com uma maior participação, se
identificando com as transformações contemporâneas da família, que aos poucos expõe sua
afetividade e sua proximidade no dia-a-dia de modo oposto à concepção tradicional (GOMES;
RESENDE, 2004).
2 MATERIAL E METÓDOS
A pesquisa seguiu os princípios da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que
regulamenta a pesquisa com seres humanos, sendo respeitada a integridade e os direitos de todos os
participantes da pesquisa.
A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Integral Diferencial
(FACID/DeVry), por meio da plataforma Brasil. Após aprovação, os participantes foram esclarecidos
sobre os objetivos da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Foi realizada uma pesquisa de campo, qualitativa de cunho exploratório, em Teresina-PI, onde
se utilizou o método de indicação, tendo como amostra 8 homens que eram pais, maiores de 18 anos,
vivendo ou não com seus filhos.
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A coleta de dados ocorreu por meio de entrevista semiestruturada com a utilização de gravador,
onde os dados coletados foram analisados e categorizados a partir das respostas dos participantes e
dos objetivos da pesquisa, seguindo as orientações de Bardin (2004).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos dados coletados pelo questionário sócio demográfico verificou- se uma amostra de
8 participantes, com idade entre 25 a 55 anos. Dentre os participantes, seis apresentaram ensino
superior completo, um participante apresentou ensino superior incompleto e outro ensino médio
completo. Todos os participantes relataram trabalhar e a renda familiar variou de um a mais de doze
salários mínimos. Todos os participantes são casados, onde apenas um deles não mora com a esposa
e filho.
Após a coleta dos dados foram analisadas e formadas categorias de acordo com os objetivos da
pesquisa. As categorias foram as seguintes: “Diferentes expressões da relação pai e filho”; “Modelos
identitários”; “Transformações na parentalidade”; “Educação dos filhos na contemporaneidade”;
“Compartilhando os papéis na parentalidade”; “Dificuldades no exercício do papel de pai”.
3.1 Diferentes Expressões da Relação Pai e Filho
Nesta categoria, que trata da relação pai e filho, refere-se ao sentimento envolvido em ser pai,
na proximidade da relação pai e filho, em como ocorre essa relação na contemporaneidade, bem como
suas responsabilidades.
Silva (2006) aponta que antigamente, quando ainda prevalecia o modelo patriarcal, o pai era
visto mais como provedor da família e esse relacionamento com o filho ficava mais voltado para a
mãe, que tinha o encargo de criar e educá-lo no dia-a-dia. Mas à medida que ocorreram as diversas
transformações no cenário familiar, esse pai veio saindo, ao longo do tempo, da posição de provedor
para também participar e acompanhar mais de perto seu filho, bem como, a mulher vai tomando mais
espaço no mercado de trabalho, assumindo também as questões financeiras da casa. Os interlocutores
da pesquisa expressam essas mudanças, onde hoje o pai busca um maior envolvimento com o filho.
É uma missão árdua, é uma forma de constituir uma família com uma grande
responsabilidade de educá-la Tenho uma relação boa, amigável, procuro sempre estar
do lado dele (Participante 3).
Ser referencial, base da família [...] estabelecer limites junto da mãe, educar com o
compromisso para a vida toda (Participante 7).
Eu sempre acordo ele, quem dá o café sou eu ou a mãe, depende do dia, deixo ele na escola,
ai tento sempre almoçar com ele, dependendo da correria. A noite fica um tempo para brincar
com ele, e sou eu que coloco o para dormir também (Participante 8).
Nessas falas fica evidenciado que existe uma preocupação em manter uma relação mais
próxima, de conversar e viver o dia-a-dia junto com o filho. No entanto dois dos sujeitos ainda pautam
sua relação apenas baseada no auxílio à mãe.
Ela (mãe) banha e eu auxilio [...] no primeiro momento o bebê é 90% é a mãe, que amamenta,
mas tem o papel do pai, por exemplo, banhar, arrumar, pra isso (Participante 1).
Ajudo a mãe a dar banho nele [...] ás vezes tenho que esquentar uma água para ajeitar o
banho, pegar a toalha[...]quando ela prepara a comida, o tempo que tenho com ele.acho que
tem sobrecarregado muito a mãe (Participante 2).
Em ambos os casos, são pais de filhos ainda pequenos, um de 3 meses e outro de 8 meses. Podese inferir então que nos primeiros meses dos filhos, os pais limitam seu papel ao auxílio da mãe por
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acreditarem ser uma etapa mais voltada para relação mãe e filho, não havendo um papel definido para
eles.
Alguns estudos apontam que o percurso masculino referente à paternidade ainda difere da
feminina, colocando que somente a mulher pode sentir o filho crescer dentro de si, dar à luz e
amamentá-lo. Com isso, muitos pais demoram a estabelecer um vínculo tão intenso e sólido com o
bebê, o que pode levar nesses primeiros momentos a esse sentimento de papel indefinido do ser pai
(PICCININI, 2009).
Na próxima categoria serão discutidas quais influencias os pais tiveram, que puderam
determinar ou ressignificar sua relação com seus filhos hoje.
3.2 Modelos Identitários
Essa categoria busca identificar as influencias que os pais tiveram para o exercício do seu papel
bem como a percepção que eles têm diante delas.
Na entrevista, todos os pais referiaram identificar os seus pais como modelo identitário, alguns
seguindo até hoje seus exemplos, considerando a importância que teve a educação que lhe foi passada,
enquanto outros não concordaram e usaram desse modelo para procurar fazer de forma diferente.
Os relatam evidenciam a forma como os entrevistados reconhecem a influencia dos diferentes
modelos identitários.
Copiei as atitudes dos meus pais,[...] eram mais rígidos e isso adquiri deles[...]até da mesma
forma, o pai era mais deixar e pegar (Participante 3).
Não acho que a relação de parentalidade que tive com meu pai foi das mais positivas, me
influenciou seja para algumas coisas positivas que você vá repetir seja por outras reprovativas
me influenciaram para eu não repetir.( Participante 6)
Meu pai não era participativo, não sabia a serie que eu fazia, dizia sempre fale com a sua
mãe, então eu tento dá o que eu não tive, um pai amigo que conversa que si importa com o
dia-a-dia dele, que eu não tive por meu pai ser mais fechado (Participante 8).
Nas falas dos pais entrevistados podemos perceber que eles têm como referencia seus próprios
pais, usando-os como parâmetro para as relações com seus filhos, mesmo que seja para um exercício
de seu papel diferente do que vivenciou enquanto filho. Muitas vezes o que ocorre é uma
ressignificação do seu papel principalmente no que tange os aspectos afetivos e educacionais.
O pai ao assumir seu papel, traz consigo modelos que vem desde sua época como filho até hoje,
sendo algo que pode ir se modificando. Os modelos identitários são exemplos que não
necessariamente serão seguidos de forma direta e isolada. Muitas vezes enxergam-se esses modelos
de forma positiva, outras, negativa e é a partir daí que poderão basear suas atitudes diante dos seus
filhos (BARREIROS; SZYMANSKI, 2013).
Assim podemos perceber que apesar de devagar, as transformações já podem ser sentidas no
contexto atual, onde vemos pais que não acreditam que seja suficiente manter uma relação pautada
no que vivenciou, sentem a necessidade de manter uma relação diferente, rompendo com padrões
comportamentais tradicionais, que por tantos anos foram aceitas (STAUDT, 2007). Nesse sentido
podemos ver a presença das diferentes configurações que vem se estabelecendo, assim na próxima
categoria iremos analisar algumas dessas transformações.
3.3 Transformações na Parentalidade
Essa categoria busca analisar quais essas transformações e como elas se estabeleceram na
dinâmica familiar. As novas configurações familiares, segundo estudos de Wagner (2005), têm
mostrado uma desconstrução do modelo de família tradicional e uma reelaboração dos papéis sociais
refletindo diretamente nos papéis de mãe e pai.
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Ainda segundo a mesma autora, o que antes era organizado ao redor da figura do pai, este chefe
que provia o sustento da família determinando um padrão de educação, porém colocando esse papel
do cuidar, educar e repassar à mãe, que era quem ficava com os filhos na maior parte do tempo, já
que sua vida era dedicada exclusivamente à casa. Hoje vemos que essa estrutura vem se dissolvendo
aos poucos, e as novas configurações familiares vão se enquadrando às diversas formas de
parentalidade. Podemos verificar essas transformações no discurso dos pais:
Hoje, o pai é mais feminino, o pai é pai e mãe e a mãe é mãe e pai. Eu tenho alguns colegas,
que trocam fraldas, da mamadeira, limpa ela, eu estendo roupa da minha filha (Participante
5).
Antes era mais patriarcal, filho em segundo plano [...] hoje não é mais só o pai que vem
provendo essa família, há uma democratização desse cuidado e responsabilidade [...] o pai
não tinha disponibilidade para o filho [...] era a obrigação dele trabalhar (Participante 6).
Mudou, havia um autoritarismo sem diálogo, e eu não acho que seja o mais certo, acho que
tem que ter liberdade, com limites, mas na medida certa (Participante 7).
As falas dos sujeitos apresentam a percepção dessas mudanças, relatam que havia um
autoritarismo, em que a figura do pai emergia como chefe, provedor e detentor do poder na família,
e por ter como obrigação esse sustento, acabava sem tempo ou não enxergava como seu papel a
proximidade e afetividade com os filhos.
E colocando para a realidade de hoje, relatam já enxergar esse pai e essa mãe de forma mais
democrática, ambos com participações nos cuidados e provimento da família.
Assim podemos ver que esses pais apresentam uma percepção dessas diversas transformações
o que vem refletindo na sua participação na educação dos filhos. Educação essa que vem cada vez
mais sendo dividida entre pai e mãe, ou seja, um verdadeiro compartilhamento de papéis.
3.4 Educação dos Filhos na Contemporaneidade
Nessa categoria avaliamos como se dá a educação dos filhos dentro desse novo cenário, que
vem emergindo dentro das famílias e como os pais percebem a importância dessa educação. O
relato dos pais a seguir mostra como essa educação acontece nos dias de hoje.
A forma como ele vai absorver essa criação [...] vai influenciar a forma como ele vai ver o
mundo. O ambiente em que ele é criado e a forma como ele é tratado com certeza afeta a
personalidade dele, o movimento dele, acho que tem total influencia dele (Participante 2).
A gente se comporta da melhor forma e por modelo a gente quer que eles se espelhem
(Participante 6).
Estabelecer limites junto com a mãe [...] educar como um compromisso [...] há uma troca
de experiências, não é autoritária, mas passar regras com responsabilidades de forma
democrática. Se meu filho foi criado num meio harmônico, com diálogo, eu tenho certeza
que ele vai fazer o mesmo (Participante 7).
Observa-se que os pais já tem a conscientização de que a educação não se resume apenas ao
contexto d estudo formal, mas engloba o estabelecimento de limites, repassar valores e crenças dessa
família, ensinar a partir do exemplo, frisando a importância do diálogo conhecendo melhor o que se
passa com o filho.
Quando questionados acerca das consequências da sua participação no ambiente familiar,
muitos pais relataram a importância de sua presença nesse contexto da educação dos filhos, colocando
que a forma como ele, pai irá passar os seus valores, regras e educação influenciará a pessoa que o
filho se tornará.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
A forma como ele vai absorver essa criação que a gente vai tentar fazer com ele, vai
influenciar a forma como ele vai ver o mundo (Sujeito 2).
Aquilo que eu passo para minha filha é o que ela vai aprender, se eu dou um mal exemplo
como é que eu vou cobrar dela ser um pessoa boa, se eu mesmo não ajuda em casa divido as
tarefas como é que eu vou querer exigir delas alguma coisa (Sujeito 4).
Assim, segundo Bottoli et al (2012), a educação dos filhos, na contemporaneidade, vem sendo
pautada mais no diálogo e numa maior participação dos membros da família, tais quais mãe, pai e
filhos, deixando de lado aquela educação autoritária e rígida. E essa educação vem acontecendo cada
vez mais de forma compartilhada entre pai e mãe, é o que mostra a próxima categoria.
3.5 Compartilhando os Papéis na Parentalidade
No processo de reformulação que a família contemporânea vem passando, presenciamos um
crescente intercâmbio entre as funções materna e paterna, já que nos dias de hoje tanto os homens
quanto as mulheres dividem seu tempo entre o trabalho fora de casa e os cuidados destinados aos
filhos (DANTAS; JABLONSKI; CARNEIRO, 2004).
Nessa categoria avalia-se a forma como se dá a divisão das tarefas no processo de educação e
cuidados dos filhos.
Os dois (pai e mãe) fazíamos tudo. Eu varro, limpo, lavo louça. Quando tinha que
ensinar uma tarefa era quem pudesse na hora (Sujeito 4).
Não tem mais aquela coisa de provedor [...] pai trabalha tanto quanto a mãe, educação tanto
um como o outro [...] há um compartilhamento. A gente divide meio a meio, se ela precisa
fazer algo, eu fico com ela ou vice-versa (Sujeito 5).
Podemos perceber que essa definição dos papeis não esta bem definida e que a partir
da necessidade da família, de sua organização e disponibilidade de cada um é que esses papeis
vão sendo divididos (Sujeito 7).
Evidenciamos que os pais estão exercendo funções no dia-a-dia dos filhos juntamente com a
mãe, de acordo com a organização da casa, a disponibilidade de cada um, o que permite o pai atuar
mais próximo dos filhos. À medida que isso vem acontecendo, torna-se cada vez mais inadequado
enquadrar um papel fixo e definitivo de paternidade e/ou maternidade, percebendo que agora eles
começam a fazer parte de um todo, englobando esse exercício de forma conjunta e compartilhada.
Com esse cenário se modificando, o homem vem buscando aos poucos se inserir nessa
nova relação participando cada vez mais da divisão de papéis. Atualmente já encontramos pais que
conversam com os filhos, que ensinam as tarefas de casa, que vão deixar na escola, dão banho,
colocam comida dentre outras atividades juntamente com essa mãe (WAGNER, 2005). Estes papéis
domésticos exercidos pelos pais fortalece os laços familiares, a intimidade entre o pai e sua prole, e
ainda, contribui para melhora nas relações conjugais.
Apesar desse compartilhamento de tarefas esta cada vez maior, os pais apresentaram algumas
dificuldades no que se refere ao exercício do seu papel. É o que se discute na categoria a seguir.
3.6 Dificuldades no Exercício do Papel de Pai
Os sujeitos foram questionados quanto as dificuldade encontrados em exercer seu papel
de pai na contemporaneidade. A partir dos dados coletados pode-se perceber que o tempo é uma
variável importante que vem dificultando esse exercício.
Vida corrida, nem sempre podemos estar juntos [...] é mais a noite que nos vemos. A gente
trabalha muito [...] passo o dia fora, passamos pouco tempo juntos (Sujeito 4).
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O que é difícil é conciliar com o tempo, o tempo de trabalho e de estudo e as atividades com
ela, é o mais difícil. Todo tempo que tenho livre é para me dedicar a ela (Sujeito 6).
Apesar de passar o dia trabalhando, só vejo ele a noite, a noite eu tento recuperar o tempo
perdido, a gente fica bem próximos, olho as tarefas, o que ele fez no colégio. O tempo
dificulta muito, mas acho que não nos afeta porque tento repor, tem que partir do pai procurar
compensar isso (Sujeito 8).
Hoje com cargas horárias de trabalho cada vez maiores os pais não conseguem passar tanto
tempo em casa, consequentemente o tempo dedicado aos filhos também é reduzido. Assim, acabam
levando-os para creches mais cedo, para passarem o dia integral nas escolas, colocá-los em aulas
extras, dentre outros, perdendo-se assim muito do convívio e crescimento deles (NUCCI, 1997).
Mesmo com as citadas dificuldades o que mais chama a atenção é a forma como esse novo pai
vem se percebendo diante dessa nova realidade,
com mais responsabilidade em lidar
com essas dificuldade assumindo o compromisso de compensá-las ou buscar alternativas para
administrar o tempo, visando potencializar o pouco tempo com os filhos. O que mostra uma
verdadeira apropriação do seu compromisso enquanto pai.
4 CONCLUSÃO
A presente pesquisa pôde constatar as diversas transformações que veem acontecendo ao longo
dos anos na parentalidade. Os pais antes vistos como rígidos, autoritários e provedores, distantes da
responsabilidade de educar e cuidar dos filhos, sem manifestação de afeto, hoje são vistos muito mais
responsáveis pelo crescimento do filho, muito mais participativos no processo de educação. E mais
importante, os pais sentem a necessidade de estar mais próximos de seus filhos, de manter uma relação
pautada mais no diálogo, de forma mais democrática, com uma maior aproximação deles.
Outra mudança fundamental para o novo arranjo familiar que vem surgindo foram os
compartilhamentos nos papéis de pai e mãe, esse novo pai que lava e passa, limpa, dar a comida dos
filhos, ensina tarefas escolares, coloca para dormir, está cada vez mais presente na sociedade
contemporânea.
Pode-se afirmar que há uma crescente reconstrução desse exercício da parentalidade. Ver hoje
esse novo pai assumindo a responsabilidade de passar seus valores e crenças através do seu exemplo
e seus ensinamentos é perceber a importância que ele acredita ter em exercer seu papel de pai.
Assim como se verificou que eles tiveram como modelo seus próprios pais, mesmo que
enxerguem de forma positiva ou negativa, e queiram hoje ressignificar esses papéis, os novos pais
procuram também ser essa influência na vida dos filhos, acreditando que assim eles se espelharão
neles.
Assim, é evidente essa crescente busca em estar mais presente no cotidiano dos filhos, em
participar de forma ativa na rotina doméstica, mesmo que com algumas dificuldades relacionadas
com o tempo. Para os pais um dos empecilhos para criar mais intimidade e contato com os filhos esta
relacionada com a administração do tempo, que cada vez está menor devido ao excesso de carga
horária de trabalho, o que os distanciam dos filhos. No entanto, mesmo com essa dificuldade
mostram-se dispostos a buscar potencializar seu pouco tempo com os filhos. Sabendo que sua maior
participação na dinâmica familiar auxilia no desenvolvimento dos filhos e relacionamento familiar.
REFERÊNCIAS
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
TRANSPLANTE RENAL EM UM HOSPITAL PRIVADO DE TERESINA: INCIDÊNCIA
DE COMPLICAÇÕES CLÍNICAS E CIRÚRGICAS NOS PRIMEIROS SEIS MESES PÓSOPERATÓRIO
KIDNEY TRANSPLANTATION IN A PRIVATE HOSPITAL IN TERESINA: THE
INCIDENCE OF CLINICAL AND SURGICAL COMPLICATIONS OVER THE FIRST SIX
POSTOPERATIVE MONTHS
Denise Sampaio Mendes Freire1,
Avelar Alves da Silva2
RESUMO
INTRODUÇÃO: O transplante renal é hoje a melhor e mais efetiva terapia de substituição renal.
Com o advento das novas drogas imunossupressoras, os pacientes receptores de transplante renal
reduziram drasticamente os episódios de rejeição aguda. Entretanto, vêm enfrentado complicações
inerentes ao uso de imunossupressores e ao transplante renal em si, destacando-se as infecções
oportunistas. OBJETIVO: estabelecer a incidência de complicações clínicas e cirúrgicas em
receptores de transplante renal nos primeiros seis meses pós-operatório em um hospital privado de
Teresina. MÉTODO: Foram estudados 90 pacientes receptores de transplante renal de doadores
vivos e falecidos, entre janeiro de 2010 e dezembro de 2013, através da análise de prontuários.
RESULTADOS: Encontraram-se 86 episódios de complicações clínicas, destes foram 23 eventos
infecciosos: ITU (15,56%), infecção por CMV (5,56%), infecção ginecológica (1,11%), herpes
(2,22%) e pneumonia (1,11%). Foram 7 episódios de complicações cirúrgicas: infecção de ferida
operatória (2,22%), estenose de uretra (1,11%), laceração de bexiga (1,11%), estenose de ureter do
enxerto (1,11%), fístula urinária (1,11%) e hérnia incisional (1,11%). CONCLUSÃO: O presente
estudo concluiu que dentre as complicações clínicas, a infecção do trato urinário foi a mais prevalente
e entre as complicações cirúrgicas, as complicações urológicas foram mais prevalentes, seguidas das
infecções de ferida operatória em pacientes de um único centro transplantador na cidade de Teresina.
Palavras-chave: Transplante de rim. Complicações. Infecção. Imunossupressão.
ABSTRACT
INTRODUCTION: Nowadays, renal transplantation is the best and most effective renal replacement
therapy. With the advent of new immunosuppressive drugs, patients receiving kidney transplantation
dramatically reduced acute rejection episodes. However, they have faced complications associated
with the use of immunosuppressants and the kidney transplant itself, mainly the opportunistic
infections. OBJECTIVE: To establish the incidence of clinical and surgical complications in renal
transplant recipients in the first six postoperative months in a private hospital in Teresina.
METHODS: We studied 90 patients receiving kidney transplants from living and deceased donors
between January 2010 and December 2013, through the analysis of medical records. RESULTS:
There were 86 episodes of clinical complications, 23 of those being infectious events: ITU (15.56%),
CMV infection (5.56%), gynecological infection (1.11%), herpes (2.22%) and pneumonia (1.11%).
There were 7 episodes of surgical complications: wound infection (2.22%), urethral stenosis (1.11%),
___________________
de graduação (10o período) do Curso de Medicina da Faculdade Integral Diferencial – FACID/Devry. Email:
[email protected]
2MD, PhD. Professor da Faculdade Integral Diferencial – FACID/Devry. Email: [email protected]
1Aluna
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
bladder laceration (1.11%), ureteral graft stenosis (1.11%), urinary fistula (1.11%) and incisional
hernia (1.11%). CONCLUSION: This study found that among clinical complications, urinary tract
infection was the most prevalent one and between surgical complications, surgical wound infection
was the most prevalent individually. However, when considered together, urologic complications
were more prevalent in the first six months after renal transplantation when compared to the surgical
site infection in patients from a single transplant center in the city of Teresina.
Keywords: Kidney transplantation. Complications. Infection. Immunosuppression.
1 INTRODUÇÃO
O Transplante Renal (TxR) é o tratamento de escolha, o mais utilizado como Terapia de
Substituição Renal (TSR), com melhora significativa na qualidade de vida dos receptores renais.
Atualmente, o Brasil possui o maior sistema público de transplantes de órgãos e tecidos do mundo,
encontrando-se em segundo lugar na realização desse procedimento, atrás apenas dos Estados Unidos
(SAMPAIO et al., 2011).
Manfro, Gonçalves e Moura (1998) demonstraram que a TSR é a melhor opção terapêutica e
de reabilitação para pacientes com Doença Renal Crônica terminal (DRCt). Apesar disso, esta é uma
forma de tratamento que ainda se encontra longe da perfeição, uma vez que órgãos transplantados são
perdidos por diversas causas.
O transplante renal é hoje a melhor e mais efetiva TSR e tem se tornado uma prática rotineira
em muitos centros que tratam de DRCt em diálise. Com o advento das novas drogas
imunossupressoras, os pacientes receptores de TxR reduziram drasticamente os episódios de rejeição
aguda. Entretanto, vêm enfrentado complicações inerentes ao uso de imunossupressores e ao TxR em
si, destacando-se entre as mais relevantes as infecções oportunistas e o maior risco de morte por
doença cardiovascular (SABISTON JÚNIOR; TOWNSEND, 2003).
Transplantar significa substituir um órgão ou tecido doente e sem função por outro sadio.
Dentre os transplantes envolvendo órgãos sólidos, o TxR é o mais realizado em todo o mundo. É um
procedimento de alta complexidade técnica e imunológica com necessidade de drogas
imunossupressoras que têm como objetivo reduzir o risco de rejeição do aloenxerto, aumentar a
sobrevida do enxerto e do receptor (SABISTON JÚNIOR; TOWNSEND, 2003).
Segundo Sampaio et al. (2011), os princípios gerais do transplante incluem o conceito de que o
paciente tenha benefício com o transplante em relação à diálise, que possua expectativa de vida de
pelo menos cinco anos e que ele seja capaz de tolerar a intervenção cirúrgica, o estresse pós-operatório
e as complicações em longo prazo, associadas à imunossupressão.
Estudo realizado por Sousa et al. (2010) mostrou uma relação direta entre a terapia
imunossupressora e a incidência e severidade dos eventos infecciosos, as quais são geralmente
maiores nos primeiros meses após o transplante e estão diretamente relacionadas com a dose de
imunossupressão utilizada na fase inicial do pós-transplante.
Após a realização do transplante renal, além dos episódios de rejeição do enxerto, os processos
infeciosos são preocupantes para as equipes transplantadoras e receptores de transplante renal, pois
têm impacto negativo na sobrevida do paciente e no enxerto renal. Entre o segundo e o sexto meses
predominam as infecções oportunistas causadas por agentes virais e fúngicos. Após o sexto mês,
predominam as infecções comunitárias (SOUSA et al., 2010).
Para estabelecer o perfil de complicações pós-operatórias de pacientes transplantados em um
centro especializado de Teresina, procurou-se identificar aquelas mais frequentes e que resultaram
em maior morbimortalidade após a terapia de substituição renal. O estudo epidemiológico destas
complicações trará relevantes informações e subsidiará melhorias em sua prevenção e tratamento à
comunidade médica e científica com interesse neste procedimento.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo estabelecer a incidência de
complicações clínicas e cirúrgicas em receptores de TxR nos primeiros seis meses após o transplante
e comparar os resultados desta pesquisa com estudos publicados na literatura mundial..
2 MATERIAL E METÓDOS
2.1 Procedimentos Éticos
O estudo foi realizado e iniciado após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Faculdade Integral Diferencial (Facid)/DeVry e registrado junto à Plataforma Brasil, com anuência
do Hospital (Hospital privado de Teresina) onde foram coletados os dados para o estudo e assinatura
da Autorização de Fiel Depositário, respeitando os princípios éticos estabelecidos pela resolução
466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
2.2 Método de Pesquisa
Trata-se de um estudo epidemiológico, retrospectivo, transversal de levantamento e análise de
prontuários, para a análise da incidência de complicações clínicas e cirúrgicas nos primeiros 6 meses
após transplante renal.
2.3 Cenário e Participantes do Estudo
Foram analisados os prontuários de todos os pacientes receptores de transplante renal de
doadores vivos e doadores falecidos entre janeiro de 2010 e dezembro de 2013, dos quais retirou-se
uma amostra de 90 pacientes para o estudo. Foram excluídos os pacientes que foram a óbito antes de
6 meses pós transplante por outras causas não relacionadas ao transplante renal e aqueles que
migraram do centro transplantador antes dos 6 meses pós transplante.
2.4. Coleta dos Dados e Variáveis Estudadas
O período de busca dos dados deu-se de agosto a dezembro de 2014, mediante aprovação do
CEP na Facid/DeVry. As complicações foram identificadas através de sinais, sintomas, alterações
laboratoriais e diagnósticos registrados nos prontuários dos pacientes selecionados para o estudo. As
variáveis estudadas foram: a idade do receptor, gênero, tempo em meses e modalidade de diálise do
receptor, a compatibilidade HLA com o doador (avaliada pelo número de mismatches incompatíveis),
o tipo de doador (vivo ou falecido), idade e sexo do doador, primeiro transplante ou re-transplante
renal, transfusões sanguíneas prévias ao transplante, o tempo de isquemia fria, o tipo de
imunossupressão, a etiologia da DRC, perfil sorológico prévio ao transplante para CMV, hepatite B
e hepatite C e as complicações clínicas e cirúrgicas no pós transplante até um período de 6 meses. A
coleta das variáveis realizou-se através da análise dos prontuários dos pacientes incluídos na pesquisa.
Os dados foram agrupados em formulário elaborado e preenchido pelo autor principal da pesquisa.
2.5 Organização e Análise dos Dados
As variáveis foram tabuladas em uma planilha Excel da Microsoft Office e depois transferidos
para uma planilha de banco de dados. Este banco de dados foi transferido para o pacote estatístico
SPSS 21.0 da IBM. Os dados foram analisados com realização do teste estatístico Qui-Quadrado de
Pearson. Os resultados foram apresentados em frequências, percentuais, médias, desvio padrão (DP),
valores mínimos e máximos quando apropriados, e expostos em forma de tabelas elaborados pelo
Word da Microsoft Office.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Características epidemiológicas e clínicas dos pacientes
As características epidemiológicas dos 90 pacientes incluídos neste estudo são mostradas na
Tabela 1. Os pacientes que receberam transplante renal neste hospital privado de Teresina no período
de 2010 a 2013 eram predominantemente do sexo masculino (61,11% versus 38,89%, p = 0,035).
Tinham média de 37 anos de idade com DP de 10,9 e predomínio (33,34%, p = 0,001) na faixa etária
de 35 a 44 anos.
Com relação ao tempo de diálise, metade dos pacientes (50%, p = 0,001) tinham menos de 25
meses de diálise e 32,22% tinham tempo de diálise entre 25 a 50 meses (32,22%). A grande maioria
dos pacientes receptores de TxR (90%, p = 0,001) realizava hemodiálise antes de receber o enxerto e
apenas 2,22% realizaram diálise peritoneal. Uma pequena minoria (7,78%) realizou transplante
preemptivo, ou seja, não passou por nenhuma modalidade de diálise prévia ao transplante.
No presente estudo a grande maioria dos pacientes (97,78%, p = 0,001) eram receptores do
primeiro TxR. Quanto ao número de mismatches incompatíveis predominaram aqueles com mais de
3 mismatches incompatíveis (62,22%, p = 0,0204). Com relação ao tempo de isquemia fria a média
foi de 510,58 minutos, com DP de 746,85 minutos, prevalecendo em maior percentual (64,44%, p =
0,001) um tempo menor que 440 minutos.
Uma maior parcela dos pacientes (81,11%, p = 0,001) não recebeu transfusões sanguíneas
prévias ao transplante. Dentre os que foram previamente transfundidos, a quantidade média de
transfusões foi de 1,8 com DP de 0,4. Em maior quantidade estão os que realizaram apenas uma
transfusão (47,06%, p = 0,4655).
Tabela 1. Características gerais e epidemiológicas de 90 pacientes receptores de transplante
renal entre 2010 a 2013 de um hospital privado de Teresina.
Variável
Idade
Tempo de Diálise
Transfusões sanguíneas pré-TxR*
Tempo de isquemia fria
Gênero
Masculino
Feminino
Faixa Etária
< 25 anos
25 a 34 anos
35 a 44 anos
45 a 54 anos
45 a 54 anos
Tempo de Diálise
< 25 meses
25 a 50 meses
51 a 76 meses
77 a 102 meses
> 102 meses
Tipo de diálise
Hemodiálise
Diálise peritoneal
Não fez
Transplante renal
1o transplante
Media (DP)
37 (10,9)
34,2 (25,51)
1,8 (0,4)
510,58 (746,85)
n
90
90
90
%
100
100
100
P
55
35
61,11
38,89
0,0350#
11
28
30
12
9
12,22
31,11
33,34
13,33
10,00
0,001#
45
29
10
4
2
50,00
32,22
11,11
4,44
2,22
0,001#
81
2
7
90,00
2,22
7,78
0,001#
88
97,78
0,001#
-
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Re-transplante
Nº de Mismatches incompatíveis
≤3
>3
Tempo isquemia fria
< 440 minutos
441 a 890minutos
891 a 1340 minutos
1341 a 1790 minutos
> 1791 minutos
Transfusão sangue pré-transplante
Sim
Não
o
N de transfusão pré-TxR
Uma transfusão
Duas transfusões
Três transfusões
2
2,22
56
34
62,22
37,78
0,0204#
58
15
2
15
64,44
16,67
2,22
16,67
0,001#
17
73
18,89
81,11
0,001#
8
5
4
47,06
29,41
23,53
0,4655
Fonte: FREIRE, 2015.
Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05; TxR*, transplante
renal; DP – desvio padrão.
Os valores foram expressos em n (%).
Quanta à etiologia da DRC dos pacientes estudados, mostrada na Tabela 2, a grande maioria,
69 (76,67%), tinha etiologia indeterminada, 5 (5,56%) tinham Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS),
3 (3,33%) tinham DM, 9 (10%) tinham Glomerulonefrites, 2 (2,22%) tinham Doença renal cística e
2 (2,22%) tinham Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES). Esta variável teve p = 0,0816.
Tabela 2. Etiologia da doença renal crônica de 90 pacientes receptores de transplante renal
entre 2010 a 2013 de um hospital privado de Teresina.
Variável
Etiologia da DRC*
HAS**
Diabetes Mellitus
Glomerulonefrite crônica
Doença renal cística
LES***
Indeterminada
n
%
P
5
3
9
2
2
69
5,56
3,33
10
2,22
2,22
76,67
0,0816
Fonte: FREIRE, 2015.
Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05; *DRC, doença
renal crônica; **HAS, hipertensão arterial sistêmica; LES***, lúpus eritematoso sistêmico.
Os valores foram expressos em n (%).
Na Tabela 3 estão expostas as sorologias realizadas previamente ao transplante. Observou-se
que nenhum paciente apresentou CMV IgM positivo, 22% (p = 0,001) tiveram CMV IgG positivo,
HbSAg e Anti-HCV foram não reagentes em 100% dos casos, dados expostos na Tabela 3.
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Tabela 3. Perfil sorológico de 90 pacientes receptores de transplante renal entre 2010 a 2013
de um hospital privado de Teresina.
Variável
CMV* lgM
Positivo
Negativo
CMV lgG
Positivo
Negativo
HbSAg**
Reagente
Não reagente
Anti-HCV***
Reagente
Não reagente
N
%
P
90
100,00
-
20
70
22,22
77,78
0,001#
90
100,00
-
90
100,00
-
Fonte: FREIRE, 20015
Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05; *CMV,
citomegalovírus; **HbSAg, vírus da hepatite B; ***HCV, vírus da hepatite C.
Os valores foram expressos em n (%).
As drogas imunossupressoras utilizadas pelos sujeitos da pesquisa são mostradas na Tabela 4.
A grande maioria dos pacientes (85%) usavam inibidores de calcineurina. Destes, a grande maioria
(93,3%, p = 0,001) usava Tacrolimus. Micofenolato de Mofetil (MMF) foi usado em 82,22% (p =
0,001) dos receptores de TxR e a Prednisona foi usada em 100% dos pacientes.
Tabela 4. Drogas imunossupressoras utilizadas por 90 pacientes receptores de transplante
renal entre 2010 a 2013 de um hospital privado de Teresina.
Variável
Prednisona
Sim
Não
Tacrolimus
Sim
Não
Micofenolato de Mofetil
Sim
Não
Micofenolato Sódico
Sim
Não
Ciclosporina
Sim
Não
N
%
P
90
-
100,00
-
-
84
6
93,33
6,67
0,001#
74
16
82,22
17,78
0,001#
9
81
10,00
90,00
0,001#
1
89
1,11
98,89
0,001#
Fonte: FREIRE, 2015
Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05.
Os valores foram expressos em n (%).
3.2 Complicações clínicas e cirúrgicas
A quantidade de pacientes que apresentaram complicações está exposta na Tabela 5. Não
apresentaram nenhuma complicação 58,89% dos pacientes. Entre aqueles que apresentaram alguma
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complicação, 13,51% tiveram complicações cirúrgicas e 97,29% tiveram complicações clínicas, com
p = 0,0114.
Tabela 5. Número de receptores de transplante renal em um hospital privado de Teresina
entre os anos de 2010 a 2013 que tiveram complicações.
Variável
Tiveram complicações
Cirúrgicas
Clínicas
N
%
37
5
36
53
41,11%
13,51%
97,29%
58,89%
P
0,0114#
Não tiveram complicações
Fonte: FREIRE, 2015.
Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05.
Os valores foram expressos em n (%).
Dados expostos na Tabela 6 mostram que a complicação clínica mais encontrada foi ITU
(15,56%). Diarreia ocorreu em 10% dos pacientes. As demais complicações clínicas tiveram
percentuais menores de incidência.
Tabela 6. Complicações clínicas encontradas nos receptores de transplante renal de um
hospital privado de Teresina entre os anos de 2010 a 2013.
Complicações Clínicas
Diarreia
Disfunção do Enxerto
Distensão abdominal
Prurido na garganta
Tremor de extremidade
N
9
5
2
1
4
%
Litíase Vesical
1
1,11
Hemoconcentração
2
2,22
Anemia
DM Descompensada
Hematúria macroscópica
ITU*
Dor abdominal
Edema facial
TVP**
Náusea / Vômito
Tosse Produtiva
Dor de garganta
Infecção por CMV***
Infecção Ginecológica
Alterações Psiquiátricas
Alterações Dermatológicas
Orquiepididimite
Herpes
Hiperuricemia
Pneumonia
HAS**** pós TxR*****
DM****** pós TxR
3
3
1
14
5
1
1
5
1
1
5
1
1
2
1
2
2
1
2
3
3,33
3,33
1,11
15,56
5,56
1,11
1,11
5,56
1,11
1,11
5,56
1,11
1,11
2,22
1,11
2,22
2,22
1,11
2,22
3,33
10,00
5,56
2,22
1,11
4,44
Fonte: FREIRE, 2015.
Legenda: *ITU, infecção do trato urinário; **TVP, trombose venosa profunda; ***CMV, citomegalovírus; ****HAS,
hipertensão arterial sistêmica; *****TxR, transplante renal; ******DM, diabetes mellitus.
Os valores foram expressos em n (%).
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Quanto às complicações infecciosas observou-se a presença de 23 eventos infecciosos: ITU,
infecção por CMV, infecção ginecológica, herpes e pneumonia ocorrendo em 15,56%, 5,56%, 1,11%,
2,22% e 1,11% dos pacientes, respectivamente (Tabela 6).
As complicações cirúrgicas são mostradas da Tabela 7. Observou-se infecção de ferida
operatória em 2,22%, estenose de uretra em 1,11%, laceração de bexiga em 1,11%, estenose de ureter
do enxerto em 1,11%, fístula urinária em 1,11% e hérnia incisional em 1,11% dos pacientes, com p = 0,9822.
Tabela 7. Complicações cirúrgicas encontradas nos receptores de transplante renal de um
hospital privado de Teresina entre os anos de 2010 a 2013.
Complicações cirúrgicas
N
%
P
Infecção de FO*
Estenose de uretra
Laceração de bexiga
Estenose de ureter do enxerto
Fístula urinária
Hérnia incisional
2
1
1
1
1
1
2,22
1,11
1,11
1,11
1,11
1,11
0,9822
Fonte: FREIRE, 2015.
Legenda: P, para teste de correlação de Pearson Qui-quadrado com IC 95% e significância em #p<0,05; *FO, ferida
operatória.
Os valores foram expressos em n (%).
O presente estudo teve como objetivo identificar a incidência de complicações clínicas e
cirúrgicas em noventa pacientes receptores de transplante renal em uma instituição privada
conveniada ao SUS.
Quanto às características epidemiológicas dos receptores, observou-se que a grande maioria dos
receptores (61,11%) eram do gênero masculino. Resultados semelhantes foram descritos no estudo
de Pereira et al. (2006), que demonstram a distribuição total dos receptores para o transplante renal
em lista de espera por gênero, sendo 58,3% do sexo masculino e 41,7% do feminino. Cherchiglia et
al. (2010) também observaram que a maioria dos receptores de transplante renal era do sexo
masculino.
Dos 90 receptores estudados, apenas 2 eram re-transplantes (Tabela 1). Alves (2012) observou
que dos 91 alo-transplantes renais realizados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto-USP, apenas 5 eram re-transplantes.
Quanto à etiologia da DRC, o presente estudo mostrou que a grande maioria (76,67%) dos
receptores renais tinham causa indeterminada, achado consonante com Pereira et al. (2006), que
mostraram que o diagnóstico “outro”, representando causa indeterminada para DRC, foi maioria em
seu estudo. Pesquisa realizada por Cherchiglia et al. (2010) mostrou que causa indeterminada foi a
principal responsável por pela DRC, seguida de hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes melitus
(DM) e glomerulonefrite. Em contrapartida, Alves (2012), ao estudar a etiologia da DRC, demonstrou
que a maioria foi devido à HAS (27,7%), seguida por causas desconhecidas (14,9%) e
glomerulonefrites (8,04%).
Quanto às sorologias prévias ao transplante, 100% dos pacientes tinham HbSAg e Anti-HCV
não reagentes (Tabela 3). Estes achados são divergentes com o estudo de Alves (2012), onde 9,8%
dos pacientes apresentaram estado sorológico positivo para Hepatites no pré-transplante, sendo 3,2%
para Hepatite B e 6,6% para Hepatite C.
Quanto às drogas imunossupressoras utilizadas pelos receptores de transplante renal no presente
estudo (Tabela 4), a prednisona foi utilizada em 100%, e o tacrolimus em 93,33% dos pacientes. Estes
achados assemelham-se a alguns estudos como o de Alves (2012), onde aproximadamente 93% dos
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
pacientes utilizaram o imunossupressor tacrolimus. A prednisona, por sua vez, continua sendo uma
das drogas mais prescritas no combate a episódios de rejeição (TILNEY; GUTTMANN, 1997).
Todos os 90 pacientes estudados, antes da realização do transplante, tinham sorologia negativa
para CMV. Nos primeiros seis meses após a cirurgia encontrou-se infecção por CMV em 5 (5,56%)
pacientes, confirmada por pesquisa de antigenemia positiva em amostra de sangue periférico (Tabela
6). Estes achados divergem dos encontrados na literatura. Segundo Manfro, Noronha e Silva Filho
(2004), a infecção por CMV é habitualmente observada entre 50 a 80% dos pacientes transplantados
renais e geralmente ocorre nos primeiros seis meses após o transplante.
No presente estudo, a infecção por CMV foi responsável por 21,74% dos eventos infecciosos
encontrados, percentual maior que o relatado por Sousa et al. (2010), onde apenas 12% dos episódios
de infecções foram atribuídos ao CMV.
A incidência de episódios infecciosos durante os primeiros seis meses pós-transplante renal foi
de 25,56%. Estes resultados, expressos na Tabela 6, mostraram que a prevalência de episódios
infecciosos em receptores de transplante renal em nosso meio é menor que a observada em outras
regiões do Brasil e em outros países de diferentes regiões do mundo. Alangaden et al., em 2006,
estudaram 127 pacientes transplantados renais em um centro norte americano e observaram
complicações infecciosas em 51% destes receptores de rim. De maneira semelhante, Pourmand et al.
(2007) observaram uma frequência de 54,2% de episódios infecciosos em 172 pacientes
acompanhados no primeiro ano após o transplante renal em um centro transplantador no Irã. Sousa et
al. (2010) estudaram 1.676 receptores de transplante renal em São Paulo durante o primeiro ano de
acompanhamento e eventos infecciosos foram observados em 49% dos pacientes.
As principais complicações clínicas e cirúrgicas, analisadas como variáveis distintas neste
estudo, foram ITU (15,56%) e infecção de ferida operatória (2,22%), (Tabela 6). Estes resultados são
corroborados pelos achados de Sousa et al. (2010), onde nos primeiros meses após o transplante renal
predominaram as infecções hospitalares, principalmente as localizadas no trato urinário e na ferida
cirúrgica. Este trabalho mostra uma incidência de ITU inferior à descrita por Rivera et al. (2010) em
seu estudo com 52 pacientes transplantados renais, no qual 37% dos pacientes apresentaram ITU de
3-75 dias após o transplante. Incidência ainda menor que a descrita por Alves (2012), que encontrou
complicações infecciosas, como as do trato urinário, em aproximadamente 60% dos indivíduos no
primeiro ano pós-transplante.
Neste trabalho foram identificados 23 eventos infecciosos, dos quais a grande maioria (60,86%)
foram ITU. Esta incidência foi maior que a encontrada por Sousa et al. (2010), que identificaram ITU
em 31,3% dos eventos infeciosos.
Ainda sobre complicações clínicas, diarreia foi a segunda mais incidente, com 10% dos
pacientes acometidos (Tabela 6). Estudos comandados por Lee at al. (2014) identificaram alterações
significativas na microbiota intestinal após transplante renal. Em estudo de Coste et al. (2013), com
49 receptores de transplante renal, foram identificados 54 eventos de diarreia grave; segundo estes
autores, a diarreia é uma complicação frequente após o transplante renal, atribuída a efeitos adversos
da terapia imunossupressora. Liapis et al. (2013) examinaram 43 biópsias de cólon de pacientes
transplantados renais que receberam MMF e tiveram diarreia persistente, onde 33 apresentaram colite
relacionada com MMF. O MMF está associado ao aumento da apoptose epitelial que parece ser um
fator patogênico potencial de lesão da mucosa. Toda et al. (2005) analisaram os efeitos adversos do
MMF em 28 transplantados renais e concluíram que infecção por CMV e diarreia foram os efeitos
colaterais mais frequentes nos primeiros meses, sugerindo que o risco de diarreia aumenta com uma
dose diária de MMF superior a 30 mg/kg/dia.
Com relação às complicações cirúrgicas, vistas em 7,77% dos pacientes estudados, os
resultados deste estudo tiveram uma incidência baixa quando comparada à observada na literatura
mundial. Pérez et al. (2005) mostraram que de 185 transplantados, 27% tiveram complicações
cirúrgicas.
Esta pesquisa identificou infecção de ferida operatória em 2,22% dos receptores de transplante
renal (Tabela 7). Comparativamente, Sousa et al., em 2010, demonstraram que infecções do sítio
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
cirúrgico corresponderam a 10,3% de todos os episódios de infecção analisados. Alangaden et al.
(2006) demonstraram 7% de incidência de episódios de infecção em ferida cirúrgica em uma coorte
de 127 pacientes transplantados renais.
Dentre as complicações cirúrgicas encontradas neste estudo, 3,33% foram urológicas: estenose
de uretra (1,11%), estenose de ureter do enxerto (1,11%) e fístula urinária (1,11%).
Comparativamente, analisando a incidência de complicações cirúrgicas em transplante renal, Pérez
et al. (2005) identificaram 3,2% de complicações vasculares (todos com estenose da artéria renal) e
6,4% de complicações urológicas (em percentagem semelhante de estenose e fístulas). Na presente
pesquisa, nenhuma complicação vascular foi detectada, complicação descrita na literatura como
eventos raros e potencialmente graves (SOUSA et al., 2013).
4 CONCLUSÃO
O presente estudo concluiu que dentre as complicações clínicas, a infecção do trato urinário foi
a mais prevalente, e entre as complicações cirúrgicas, a infecção da ferida operatória foi a mais
prevalente individualmente. Entretanto, quando consideradas conjuntamente, as complicações
urológicas foram mais prevalentes nos primeiros seis meses pós-transplante renal quando comparadas
à infecção de sítio cirúrgico em pacientes de um único centro transplantador na cidade de Teresina.
REFERÊNCIAS
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and associated risk factors. Clinical Transplantation, Estados Unidos, v. 20, n. 4, p. 9-401, Jul.
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ALVES, C. C. Análise de sobrevida em 91 indivíduos submetidos ao alotransplante renal no
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
O PERFIL CLÍNICO-FUNCIONAL E DEMOGRÁFICO DE PACIENTES ACOMETIDOS
POR ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO
THE CLINICAL, FUNCTIONAL AND DEMOGRAPHIC PROFILE OF PATIENTS
SUFFERING FROM STROKE
Ana Flávia Machado de Carvalho¹,
Gabriela Feitosa da Silva ²
RESUMO
O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é caracterizado como um déficit neurológico focal súbito que
ocorre nas artérias cerebrais, apresentando duas classificações, de acordo com sua etiologia,
isquêmico ou hemorrágico. Existem alterações funcionais, motoras, cognitivas e sensitivas
relacionadas com o AVE. Esta pesquisa teve como objetivo analisar o perfil clínico-funcional de
pacientes acometidos por AVE com déficits neurológicos atendidos em uma clínica-escola de uma
IES. Trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa de natureza descritiva. A coleta foi realizada no
período de Abril a Maio de 2015, utilizando-se um questionário semi-estruturado. O estudo envolveu
cinco pacientes com sequelas neurológicas. Posteriormente os dados obtidos foram organizados em
tabelas. Os resultados demonstram que 60% do total da amostra era feminina, 80% com nível médio
completo, 80% apresentaram AVEI, cujo fator de risco mais predominante foi HAS, o dimídio mais
afetado foi o esquerdo, onde 80% da amostra apresentou parestesia e 100% déficit de força e
hipotonia.
Palavras-chave: Perfil clínico-funcional. Hemiplegia. Acidente Vascular Cerebral.
ABSTRACT
The Encephalic Vascular Accident (EVA) is characterized as a sudden focal neurologic deficit that
occurs in cerebral arteries, with two classifications, according to its etiology, ischemic or
hemorrhagic. There are functional, motor, cognitive and sensory changes related to EVA. This
research aimed to analyze the clinical and functional profile of patients affected by stroke with
neurological deficits seen at a school clinic of a Higher Education Institution. This is a qualitative and
quantitative study with a descriptive approach. The data were collected from April to May 2015,
using a semi-structured questionnaire. The study involved five patients with neurological sequelae.
Later, the data were organized in tables. The results show that 60% of the total sample was female,
80% with complete high school, 80% had ischemic stroke, the most prevalent risk factor was
hypertension, the most affected hemibody was the left, 80% of the sample presented paresthesia and
100% deficit of strength and hypotonia.
Keywords: Clinical profile. Hemiplegia. Stroke.
___________________
¹ Professora do Curso de Fisioterapia da Facid.
Email: [email protected] tel: 86 3233-2920
² Aluna de graduação (10º período) do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DEVRY
Email: [email protected] tel: 86 32132540
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1 INTRODUÇÃO
O Acidente Vascular Encefálico (AVE) se define como uma patologia neurológica de ordem
vascular que afeta o cérebro e, consequentemente, as funções neurológicas (ONOUE, 2014). Segundo
a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2012) é a segunda maior causa de óbitos na população adulta
no mundo. No Brasil, foram mais de 100.000 óbitos em virtude do AVE apenas no ano de 2010
(DATASUS, 2010).
Caracteriza-se como um déficit neurológico, compreendido por complexas interações nos vasos
e nos elementos sanguíneos e nas variáveis hemodinâmicas, decorrente de uma lesão encefálica
isquêmica ou hemorrágica (FURMANN, 2014). Esta lesão ocorre com instalação súbita e focal nas
artérias cerebrais, tal como a artéria cerebral média (PIMENTEL, 2013).
As causas e fatores de riscos que desencadeiam o AVE são principalmente doenças
cardiovasculares, tais como a arteriosclerose, Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS),
hipercolesterolemia, como também a Diabetes Mellitus e a obesidade. Outros fatores como a
hereditariedade, sedentarismo e o uso de anticoncepcionais orais também podem propiciar o surto
vascular (CANCELA, 2008).
O problema desta pesquisa é: Qual o perfil clínico-funcional de pacientes acometidos por AVE?
A qual justifica-se a realização da mesma para fins de determinar o um perfil clínico-funcional dos
pacientes que sofreram AVE, com finalidade de definir esse perfil dos indivíduos tratados pela
instituição, apresentando-o aos participantes, como critério de avaliação para a evolução funcional
durante o tratamento.
Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa é determinar o perfil clínico-funcional de pacientes
acometidos por AVE e os específicos são: identificar as comorbidades associadas à patologia
neurológica e determinar o nível de funcionalidade dos participantes do estudo.
Esta pesquisa poderá ser relevante para a criação e orientação de outros trabalhos que
necessitem de dados relacionados as características clínicas e funcionais de pacientes com Acidente
Vascular Encefálico, orientando aspectos que envolvam o perfil clínico-funcional destes pacientes.
2 MATERIAL E METÓDOS
Este trabalho foi elaborado de acordo com a resolução 466/2012 e encaminhado ao Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Integral Diferencial – FACID/DeVry onde foi avaliado e,
após ter sido aprovado pelo CEP, com o número do protocolo 34787814.8.0000.5211, iniciou-se a
coleta de dados, posteriormente a assinatura do TCLE por todos os participantes.
Esta pesquisa foi delineada como direta de método descritivo; transversal, não-probabilística.
A pesquisa teve abordagem quanti-qualitativa, que envolveu descrição e análise em tabelas, com o
objetivo de analisar o perfil clínico-funcional de pacientes acometidos por AVE.
A pesquisa foi realizada na Clínica Escola de uma Instituição de Ensino Superior. A instituição
foi escolhida devido à grande contribuição para a formação dos acadêmicos do curso de Fisioterapia
e á quantidade de atendimentos realizados aos pacientes. A amostra deste estudo contou com a
avaliação clínico-funcional de 5 voluntários com sequelas de Acidente Vascular Encefálico
obedecendo-se os seguintes critérios de inclusão: pacientes neurológicos, de ambos os gêneros, com
idade variando entre 30-80 anos, com sequelas sensitivas e/ou motoras de AVE, independentemente
da etiologia e classificação da lesão vascular neurológica. Como critérios de exclusão, aqueles
pacientes que não estão comparecendo regularmente ao tratamento na instituição foram excluídos da
pesquisa.
O número da amostra justifica-se pela estruturação de atendimento da instituição, visto que os
pacientes recebem tratamento conforme o surgimento de novas vagas na clínica-escola e um número
suficiente de alunos para o atendimento.
A coleta de dados foi realizada do período de Abril a Maio de 2015, utilizando-se como
instrumento de coleta de dados um questionário semi-estrutrado.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente estudo teve como propósito a obtenção o perfil clínico-funcional dos pacientes que
sofreram AVE e que são tratados em uma clínica-escola de Teresina – PI. Para tal fim, foi realizada
uma avaliação neurológica em 5 pacientes. A Tabela 1 presenta o perfil da amostra em relação ao
gênero e escolaridade.
Tabela 1 – Perfil sociodemográfico
Gênero
Nº
Masculino
2
Feminino
3
Escolaridade
Ensino Médio ou superior
4
Ensino Fund. Incompleto
1
Fonte: Silva (2015)
%
40%
60%
80%
20%
Observa-se que houve uma prevalência do sexo feminino (60%) em relação ao masculino
(40%). Este resultado concorda com o estudo de Santos et al (2012), que obtiveram resultados
similares à predominância do gênero feminino, porém, Silva (2012) encontrou em seus achados que
a doença incide mais em homens, mas afirma que a predisposição do AVE é igual em ambos os
gêneros.
Os dados referentes à idade variaram entre 30 e 78 anos. A média de idade dos pacientes
analisados foi de 50, 8 ± 20,34. A prevalência do AVE correspondeu à faixa etária de 50 a 78 anos,
correspondendo a três pacientes (60%) e os outros dois pacientes (40%) apresentam 30 e 31 anos.
Segundo Barbosa et al (2009), a idade é um dos fatores de risco mais importantes para o acometimento
do AVE e seus resultados corroboram com os encontrados nesta pesquisa, onde 59% da amostra
possuía mais de 55 anos. André (2006) afirma ainda que o risco de AVE aumenta à medida que o
indivíduo envelhece.
É possível, na Tabela 1, analisar o perfil dos pacientes estudados nessa pesquisa quanto ao grau
de escolaridade em relação à conclusão de diferentes níveis de ensino. Observou-se que 80% da
amostra tinha bom grau de escolaridade, com nível médio completo ou superior incompleto, e apenas
um participante não finalizou o ensino fundamental.
Quanto ao que se refere à comorbidades associadas, a pesquisa traçou o perfil clínico dos
participantes, com base em fatores de riscos apresentados pela literatura. Os resultados estão na tabela
a seguir.
Tabela 2 – Perfil da amostra à respeito da etiologia do AVE e comorbidades associadas
Tipo
Nº
%
Isquêmico
4
80%
Hemorrágico
1
20%
Comorbidades
HAS
2
40%
DM
1
20%
Dislipidemia
1
20%
Tabagismo/etilismo/uso de
anticoncepcional
1
20%
Nenhuma
2
40%
Fonte: Silva (2015)
Observa-se que uma porcentagem significativa da amostra (80%) apresentou AVEi, enquanto
apenas um paciente (20%) afirmou ter sofrido AVEh. Tal resultado está de acordo com o encontrado
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
por Sodré (2013), que apresentou uma amostra com 42,85% de pacientes com AVEi, como também
com a literatura, que afirma que o AVE mais comum é o isquêmico (BERNAL, 2008).
Ainda na Tabela 2, é possível verificar que a HAS, DM, consumo de drogas, tais como tabaco
e álcool e uso de anticoncepcional oral, estão presentes. Apesar da presença da HAS, sua relevância
estatística não foi a mesma que a encontrada em estudos de Cancela (2008), onde apenas 14% da
amostra apresentava HAS. O autor afirma que este achado não condiz com a afirmação de Santos
(2012), que considera a HAS o principal fator de risco para o AVE, pois sua presença aumenta a
incidência da doença cerebrovascular em três ou quatro vezes.
Nos indivíduos da amostra, 40% não apresentou nenhuma comorbidade ou fator de risco
associado ao AVE. Cancela (2008) afirma que possivelmente este fato está relacionado à uma má
formação vascular cerebral ou o AVE é de origem idiopática, porém, em seus resultados, apenas 12%
da amostra não apresentou fatores de riscos associados ao AVE.
Ao que diz respeito às sequelas físicas funcionais, a pesquisa encontrou alteração em relação à
força, onde 100% da amostra apresentou essa alteração, além de mão em garra e tremor de intenção
( Tabela 3).
Tabela 3 – Dimídio e sequelas físicas funcionais presentes na amostra
Sequelas funcionais
Nº
%
Dimídio D
2
40%
Dimídio E
3
60%
Parestesia
4
80%
Déficit de força
5
100%
Mão em
garra/afasia/disfagia/hipotrofia
1
20%
muscular/tremor de intenção
Pé em garra
2
40%
Fonte: Silva (2015)
O hemicorpo mais comprometido com as lesões neurológicas foi o esquerdo (60%), fato que
não corresponde aos resultados encontrados por Rodrigues (2013), no qual o hemicorpo que
apresentou maior déficit de funcionalidade foi o direito (54%), afirmando que a prevalência desse
hemicorpo ocorreu em virtude apenas da ocasionalidade do local da alteração vascular cerebral.
As alterações funcionais mais encontradas foram o déficit de força, presente em cinco pacientes
(100%) e a parestesia, presente em 80% da amostra. Esse resultado corrobora com a pesquisa de
Cappelari (2012), na qual 100% dos pacientes apresentaram hemiparesia ou hemiplegia. Estes dados
também concordam e coincidem com os encontrados na pesquisa de Rangel (2013) a respeito do
comprometimento motor que uma lesão neurológica pode desenvolver.
Outra variante analisada nesse trabalho foi o tônus muscular, sequela física incapacitante e
limitante, presente nos pacientes que sofrem AVE. Os resultados quanto à esta variável estão
demonstrados na tabela a seguir.
Tabela 4 – Perfil funcional do paciente quanto ao tônus
TIPO DE TÔNUS
Nº
%
Hipotonia MMSS
1
20%
Hipotonia MMII
4
80%
Hipertonia MMSS
4
80%
Fonte: Silva (2015)
A totalidade da amostra apresentou hipotonia, sendo que 80% dos voluntários apresentaram em
membros inferiores e 20% em membro superior. A hipertonia também foi observada, onde 4 pacientes
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apresentaram grau 1, de acordo com a Escala Modificada de Ashworth, em MMSS. A hipertonia
encontrada não limitou tanto a funcionalidade quanto à hipotonia.
Na Tabela 5 vê-se que todos os sujeitos da pesquisa apresentaram variação durante a avaliação
do grau de força muscular.
Tabela 5 – Perfil da força muscular
Segmento corporal
Grau
Nº
Hemicorpo D
1
1
MSE
3
1
MIE
1
1
Músculo/grupo muscular
Panturrilha/tibiais
3
1
QDT´s D
3
1
Iliopsoas
2
1
Quadríceps
4
2
Bíceps/tríceps/tibiais
4
1
Flexores de punho
4
1
Ísquios
4
2
Fonte: Silva (2015)
%
20%
20%
20%
20%
20%
20%
40%
20%
20%
20%
Na pesquisa de Cappelari (2012), foi observado que 77% dos avaliados apresentava
comprometimento motor severo e 22% apresentavam comprometimento moderado e o MMSS tinha
mais comprometimento funcional do que os MMII. Tal achado não condiz com o encontrado nesta
pesquisa, pois apenas 40%, que corresponde aos indivíduos que obtiveram grau 1 de força para
hemicorpo direito e MIE, possuindo importante grau de comprometimento muscular e, consequente,
os MMII com menos funcionalidade.
Em relação ao tipo de paralisia, os dados obtidos estão representados na tabela 6, na qual a
proporção da hemiparesia à direita e à esquerda foram iguais.
Tabela 6 – Perfil dos pacientes quanto à paralisia
Paralisia
Nº
Monoparesia MSD
1
Hemiparesia à E
2
Hemiparesia à D
2
Fonte: Silva (2015)
%
20
40
40
Segundo Mazzola (2006), a paralisia que mais apresenta-se como alteração funcional
característica da lesão dessa doença cerebrovascular é a paresia e suas variações (hemiparesia,
monoparesia). Figueiredo (2014) encontrou em sua pesquisa 100% da amostra apesentando
hemiparesia, condizente também com a afirmação de Mazzola (2006). Os dados obtidos por este
estudo corroboram com este fato.
Desta forma, a pesquisa também avaliou a marcha dos pacientes e u uso de meios auxiliares,
conforme mostra a Tabela 7, levando em consideração que essas modificações e déficits podem
comprometer a normalidade da marcha do indivíduo.
Tipo de marcha
Hemiparética
Normal
Meio auxiliar
Tabela 7 – Perfil quanto ao tipo de marcha
Nº
4
1
%
80%
20%
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Tutor longo e muleta
canadense unilateral
Muletas canadenses bilateral
Muletas axilares bilaterais
Fonte: Silva (2015)
1
20%
1
1
20%
20%
Observou-se que 80% da amostra apresentava marcha hemiparética e o restante, correspondente
à um sujeito, apresentou marcha normal. Cancela (2008) obteve em sua pesquisa que o tipo de macha
mais predominante foi a hemiparética ou hemiplégica. Tal resultado está de acordo com os dados
apresentados nesta pesquisa.
Devido ao déficit de funcionalidade e alteração da marcha, possivelmente o paciente que sofreu
AVE irá necessitar de meios auxiliares para sua locomoção e/ou transferência. Lor e McPherson
(2011) afirmam que cerca de 20% de pacientes com déficit motor são capazes de sair de casa sem
utilizar algum tipo de meio auxiliar.
Além da motricidade, a avaliação da sensibilidade também foi realizada, conforme apresentase na Tabela 8 abaixo.
Tabela 8 – Alterações de sensibilidade e teste de coordenação
Alteração
LOCAL
Nº
%
Ombro E
1
20%
Tátil
Hemicorpo E
1
20%
Hemicorpo D
1
20%
Térmica
Hemicorpo D
1
20%
Dolorosa
Hemicorpo D
1
20%
Realizou com
Realizou(Nº)
dificuldade (Nº)
Não realizou (Nº)
TESTE
Index-index
3
2
Index-nariz
1
3
1
Calcanhar-joelho
2
2
1
Fonte: Silva (2015)
Bobath (1990) afirma que não somente o sistema motor é afetado quando o paciente é
acometido por um AVE. O sistema sensorial também está sujeito a sofrer alterações e déficits
decorrente da lesão cerebral.
Foram encontradas na pesquisa 3 pacientes, correspondendo à 60% da amostra, com alterações
de sensibilidade tátil e/ou térmica e/ou dolorosa. Lopes (2013) obteve dados semelhantes, onde 100%
de sua amostra apresentou alterações de sensibilidade. Em pesquisa realizada por Torriani (2005), foi
encontrado que pacientes com alteração de sensibilidade possuem mais dificuldade na transferência
de peso para o lado parético, onde o autor chegou à conclusão de que a paresia associada à alteração
da sensibilidade dificulta mais a reabilitação do paciente.
Para avaliar o equilíbrio estático, variável também sujeita à alterações devido ao
comprometimento neural, a pesquisadora realizou o teste de Romberg nos participantes. Os que
apresentaram positividade em relação ao teste correspondem à 60%, apresentando oscilação do
tronco.
Outro parâmetro analisado nesta pesquisa foi a coordenação motora, também suscetível à
alteração decorrente da leão encefálica. Para tal, foi realizado teste de index-index, index-nariz e
calcanhar-joelho. Os resultados estão apresentados na tabela a seguir.
Em relação à coordenação, Dias e Silva (2010) afirmam que pacientes que sofreram AVE
possuem comprometimento na habilidade de executar AVD´s devido às sequelas motoras. Os sujeitos
apresentam espasticidade, déficit de força muscular e deficiência permanente da coordenação motora
e obteve em sua pesquisa que 83,7% da amostra não possuía coordenação motora preservada.
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Revista FACID: Ciência & Vida, Teresina, v. 11, n. 2, Setembro 2015
Após determinadas as variações e alterações decorrentes da lesão do paciente, nos aspectos
clínicos, da motricidade e sistema sensorial, o grau de funcionalidade da amostra foi medido através
da Escala de Medida de Independência Funcional. Os resultados correspondentes aos cuidados
pessoais estão a seguir:
Tabela 9 - MIF motor: alimentação, auto cuidado, banho, vestir tronco superior, vestir tronco
inferior, higiene íntima
Cuidados pessoais
Média dos escores obtidos dentro da amostra
Alimentação
6,4
Higiene matinal
6,6
Banhar-se
6,4
Vestir tronco superior
6,2
Vestir tronco inferior
4,4
Uso do vaso sanitário
6,4
Fonte: Silva (2015)
A média das atividades de cuidados pessoais teve uma variação de 6,2 à 6,6. Tal dado está
semelhante ao apresentado por Fernandes (2012), que obteve variação de escore entre 5,9 à 6,6. O
pesquisador avaliou essas atividades, principalmente a da alimentação, com um bom nível de
funcionalidade apresentado pelos indivíduos devido ao fato desta ser uma atividade vital para
sobrevivência e, dessa forma, a necessidade da excelência nessa função.
Benvenutti (2008) afirma que o AVE é uma doença geradora de incapacidades, com perdas de
independência e, muitas vezes, da autonomia, o que exige frequentemente a presença de alguém para
auxiliar estes indivíduos no desempenho de suas atividades diárias.
A exemplo disto, observa-se o baixo escore da atividade de vestir tronco inferior. O mesmo
autor encontrou resultados semelhantes a este, com média do escore correspondente à 4,1 onde os
dados corresponderam à menor média de escore das atividades avaliadas, resultado que corrobora
com o desta pesquisa.
Riberto (2007) associa o escore inferior deste item em específico referente aos cuidados
pessoais ao quadro hemiplégico dos pacientes, visto que esta é uma atividade complexa que envolve
grande variabilidade de habilidades necessárias para sua execução, tais como a força muscular nos
membros inferiores, equilíbrio e coordenação. Como já apresentar o em resultados anteriores, os
pacientes desta pesquisa apresentam variações de força, equilíbrio e coordenação, fatos condizentes
com o argumento do autor.
Esta escala avalia ainda a capacidade do paciente em controlar esfíncteres uretral e reta, além
da medida da funcionalidade nas atividades de transferências, independência da marcha e o uso de
escadas. Os resultados referentes à esta avaliação estão apresentados na tabela abaixo.
Tabela 10 – MIF motora: controle de urina, fezes e transferências
Controle de esfíncteres
Média
Controle de urina
7
Controle de fezes
7
Transferência
Para cama/sanitário/cadeira/cadeira de
rodas/chuveiro
6,2
Locomoção
Independência da marcha
6,2
Subir/descer escadas
5,6
Fonte: Silva (2015)
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Como observado, o controle de urina e fezes obteve a maior pontuação dos itens da MIF,
totalizando uma média de escore 7, onde representa que 100% da amostra tem total controle de
esfíncteres uretral e retal.
Tais resultados corroboram com os encontrados na pesquisa de Viana (2008) e Riberto (2007),
onde este último afirma que o bom controle urinário e fecal está associado a um bom nível de cognição
dos pacientes, justificativa em comum acordo com os dados apresentados nesta pesquisa.
O item de atividades de transferência obteve um bom escore de funcionalidade, de acordo com
os resultados obtidos por Fernandes (2012) que obteve dados que todas as atividades obtiveram uma
média de 6,3 de escore. O autor afirma que este item é uma atividade motora que envolve complexas
habilidades e concorda com Riberto (2007) ao que diz respeito ao envolvimento da força muscular,
coordenação em equilíbrio, por ser uma atividade motora do membro inferior.
De acordo com Riberto (2007), a existência dessas três atividades de transferência na MIF vem
sendo alvo de críticas por autores que submeteram a escala como critério de avaliação funcional. A
aferição da quantidade de cuidados da transferência para o banho, vaso sanitário, cama e cadeira
parece redundante e pode supervalorizar a capacidade/deficiência dos MMII.
Segundo Posele (2008), os pacientes que sofreram AVE possuem dificuldade em manter o peso
no hemicorpo afetado, interferindo no controle postural, o que gera dificuldades na realização de
movimentos do tronco e membros, fato que foi encontrado nos resultados desta pesquisa. O autor
afirma ainda que o maior problema encontrado nos pacientes com este tipo de lesão é a perda da
habilidade de andar. Porém, tal afirmação discorda dos dados encontrados na pesquisa, onde 100%
da amostra deambulava, mesmo com uso de meios auxiliares.
O item de subir e descer escadas foi avaliado também por Fernandes (2012), que encontrou o
menor escore dentre as atividades motoras, fato que é semelhante com o resultado encontrado nesta
pesquisa, onde este item é o segundo com menor escore, ficando atrás apenas de atividade de vestir
tronco inferior, já discutida. O Mesmo autor justifica esse resultado pelo fato de essa atividade ser
constituída por habilidades que apresentam maior nível de dificuldade de realização por parte de
indivíduos hemiplégicos.
Após avaliar o comprometimento motor, a MIF avalia a cognição, envolvendo os aspectos de
interação social, resolução de problemas e memórias. Os resultados referentes à esta variável estão a
seguir.
Tabela 11– MIF cognitivo: compreensão, expressão, interação social, resolução de problemas
e memória
Cognição
Média
Compreensão
6,8
Interação social
6,6
Resolução de problemas
7
Memória
6,4
Fonte: Silva (2015)
Quanto ao domínio cognitivo, observou-se que os indivíduos realizavam as atividades de forma
totalmente independente, no qual o escore obtido foi consideravelmente alto, diferentemente dos
resultados obtidos por Viana et al (2008), porém em comum acordo com a pesquisa de Riberto e
Harumi (2007), onde este afirma que o convívio social, bem como o estímulo cognitivo constante
podem ser fatores responsáveis por esse bom resultado.
4 CONCLUSÃO
Observa-se que o perfil clínico-funcional dos voluntários desta pesquisa corresponde que a
maioria pertence ao gênero feminino, com idade variando de 30 à 78 anos, apresentando um bom
nível de escolaridade.
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A HAS, AVE isquêmico e a parestesia apresentaram-se como os maiores incidentes, quanto à
fatores de risco, etiologia e sequela neurológica, respectivamente Em relação à funcionalidade da
amostra, foi observado que a maioria apresentava sequelas em hemicorpo esquerdo. A parestesia, o
déficit de força, alterações da sensibilidade e coordenação são as alterações funcionais mais presentes,
além da hipotonia de membro inferiores. Quanto à marcha, 80% apresentou marcha hemiparética,
onde, entre esses, 60% fazem uso de meios auxiliares durante a locomoção. Foi possível observar
bom nível de funcionalidade dos indivíduos estudados.
Ao final da análise deste estudo, pode-se chegar à percepção da abrangência das alterações
presentes em um paciente que sofre um AVE, levando em consideração a mudança que ela traz para
a vida e o bem-estar de quem é afetado por ela..
REFERÊNCIAS
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BARBOSA, M. A. R. et al. Prevalência da hipertensão arterial sistêmica nos pacientes portadores de
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RIBERTO, M; HARUMI, M, et all. Independência funcional em pessoas com lesões encefálicas
adquiridas sob reabilitação ambulatorial. ACTA FISIATR 2007; 14(2): 87 – 94
RODRIGUES. J. E. Perfil dos pacientes acometidos por AVE tratados na clínica escola de
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VIANA, F. P; LORENZO, A. C; OLIVEIRA, E. F., RESENDE, S. M. Medida de Independência
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NORMAS EDITORIAIS DA REVISTA FACID CIÊNCIA & VIDA
A Revista FACID Ciência & Vida objetiva a divulgação da produção científica e técnica dos
professores, alunos e técnicos da Faculdade Integral Diferencial, bem como de profissionais da
comunidade.
A Revista tem periodicidade semestral e está aberta à publicação de trabalhos na forma de
ARTIGOS, ENSAIOS e RESENHAS, os quais devem falar sobre temas nas áreas da Saúde,
Ciências Humanas, Ciências Sociais, Tecnologia, dentre outros, fomentando a análise e reflexão de
idéias, experiências e resultados de pesquisas, experiências de vida e manifestações artísticoculturais,
contribuindo para o desenvolvimento científico e cultural do País.
ARTIGOS – Texto que discute um tema investigado para publicação de autoria declarada, que
apresenta título em português e em inglês, nome dos autores, resumo e abstract do texto, palavraschave e key-words, introdução, material e métodos, resultados e discussão, conclusão, referências ,
apêndices e anexos (opcionais). Serão considerados “artigos de revisão” os textos que discutam temas
com base em informações já publicadas. Quando se tratar de artigo de revisão esta deverá ser,
preferencialmente, do tipo sistemática e deverá apresentar: título, autor, resumo, palavras chave,
abstract, key-words, introdução, discussão do tema com base na pesquisa bibliográfica, conclusão, e
referências.
O artigo não deve ultrapassar 15 (quinze) laudas.
Título - Deve ser conciso, claro e objetivo, evitando-se excesso de palavras ou expressões como:
“Avaliação de...,” “Considerações acerca de.....” “Estudo sobre ....”. Deve ter no máximo 15 palavras.
Apenas a primeira letra da primeira palavra deve ser maiúscula.
Título em inglês - Transcrição do título em português.
Nome dos autores - Devem ser apresentados os nomes completos, sem abreviatura, abaixo do título
com somente a primeira letra maiúscula, um após outro, separados por vírgula e centralizados. Em
nota de rodapé na primeira página deve-se apresentar de cada autor a afiliação completa (Titulação/
vinculação, instituição, cidade e Estado, endereço eletrônico). O número de autores não deverá ser
maior que cinco. Os autores pertencentes a uma mesma instituição devem ser mencionados em uma
única nota, utilizando o sobrescrito correspondente.
Resumo e Abstract - Devem ter no máximo 250 palavras, descrevendo o objetivo, material e
métodos, resultados e conclusão em um só parágrafo. O Abstract deve ser a transcrição do resumo.
Palavras-chave e key words - Devem ser no mínimo três e no máximo cinco termos para indexação,
que identifiquem o conteúdo do artigo, os quais não deverão constar no título. Para a escolha dos
termos para indexação (descritores) na área de saúde, deve-se consultar a lista de “Descritores em
Ciências da Saúde – DECS” , elaborado pela BIREME (disponível em http://decs.bus.br) ou na lista
da “Mesh-Medical Subject Headings” (disponível em http:// nlm.nih.gov/mesh/mbrowser.html).
Introdução - Deve ser compacta e objetiva, definindo o problema estudado, demonstrando sua
importância e lacunas do conhecimento que serão abordadas no artigo. As citações presentes devem
ser atualizadas e pertinentes ao tema, adequadas à apresentação do problema, sendo empregadas para
fundamentarem a discussão. Os objetivos e hipóteses deverão ser contextualizados nesta sessão. Não
deve conter mais de 550 palavras.
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Material e Métodos - Os métodos bem como os materiais devem ser detalhados de modo que possam
ser confirmados, incluindo os procedimentos utilizados, universo e amostra. Indicar os testes
estatísticos utilizados. As questões éticas devem ser apresentadas nesta sessão.
Resultados e Discussão podem conter figuras e/ou tabelas, contudo os dados nesta forma não devem
ser repetidos no texto. Os resultados devem ser apresentados em uma sequência lógica. As tabelas e
figuras devem trazer informações distintas ou complementares entre si. Os dados estatísticos devem
ser descritos nesta sessão. A discussão deve ser pertinente apenas aos dados obtidos, evitando-se
hipóteses não fundamentadas nos resultados. Deve-se relacionar-se aos conhecimentos existentes e
aos apresentados por outros estudos relevantes. Deve, sempre que possível, incluir novas perspectivas
de pesquisas.
Conclusão - Deve estar fundamentada nas evidências disponíveis e pertinentes ao objeto de estudo.
As conclusões devem ser claras e precisas. Deve-se relacionar os resultados obtidos com as hipóteses
apresentadas. Podem ser apresentadas sugestões para outras pesquisas que complementem o estudo
ou para outros problemas surgidos no desenvolvimento.
Referências - O artigo deverá apresentar no máximo 25 citações, sendo a maioria, preferencialmente,
em periódicos dos últimos cinco anos. No caso de artigos de revisão, deverão ser apresentadas no
máximo 35 citações. Devem incluir todos os autores referenciados no texto.
Apêndice - Informações complementares produzidas pelo autor, como o questionário aplicado, termo
de consentimento livre e esclarecido, roteiro de entrevistas. É opcional.
Anexos - Informações complementares, como documentos e ilustrações, retiradas da bibliografia.
Ítem opcional.
ENSAIOS – Texto que expõe estudos realizados com as conclusões a que se chegou. Pode ser de
caráter informal, no qual se destaca a liberdade e emoção criadora do autor e pode ser caracterizado
como formal, onde a brevidade, serenidade e o uso da primeira pessoa podem ser utilizados. Neste
tipo de publicação é marcante a presença do espírito problematizador, sobressaindo o espírito crítico
e a originalidade do autor. Deve apresentar temas atuais e de interesse coletivo. Pode ter até 10 (dez)
páginas.
RESENHAS – resumo crítico de livros publicados ou no prelo que podem suscitar no leitor o desejo
de ler a obra integralmente. Este texto deve ter, no máximo 5 laudas e deve ser escrito informando o
título da obra, nome completo do autor, editora e ano publicado.
Instruções aos Colaboradores
1 Os trabalhos devem ser preferencialmente inéditos e redigidos em língua portuguesa, sendo seu
conteúdo de inteira responsabilidade dos autores.
2 Os textos para publicação devem ser acompanhados de uma correspondência ao Editor solicitando
que o texto seja publicado. Uma vez recebidos, os textos serão submetidos à apreciação do Conselho
Editorial e dois conselheiros, no mínimo, decidirão sobre sua aprovação para publicação, podendo
ocorrer que o texto seja devolvido ao seu autor para alterações e/ou correções.
3 O texto deve ser digitado na fonte Times New Roman tamanho 12, espaço 1,5 entre linhas, margens
superior e esquerda de 3 cm, margem inferior e direita de 2 cm, papel formato A-4. No resumo e
abstract o espaçamento deverá ser simples.
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4 As tabelas para apresentação de dados devem ser numeradas consecutivamente com algarismos
arábicos, encabeçadas pelo título, com indicação da fonte após a linha inferior. Todas as tabelas
inseridas devem ser mencionadas no texto. O texto deve ser em fonte Times New Roman, estilo
normal e tamanho 12.
5 Para a inserção de ilustrações (quadros, gráficos, fotografias, esquemas, algoritmos etc), deve-se
numerá-las consecutivamente com algarismos arábicos, com indicação do título na parte superior e
da fonte após o seu limite inferior e indicadas no texto em que devem ser inseridas. Gráficos,
fotografias, esquemas e ilustrações devem ser denominados como figuras. O texto deve ser em fonte
Times New Roman, estilo normal e tamanho nove. Devem ser inseridas logo abaixo do parágrafo em
que foram citadas pela primeira vez. As figuras agrupadas devem ser citadas no texto como: Figura
1A; Figura 1B; Figura 1C; etc. As figuras devem ter no mínimo 300dpi.
6 As citações no texto devem ser organizadas de acordo com as normas vigentes da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT - 10520) - formato autor-data.
7 A lista de referências deve ser organizada em ordem alfabética e de acordo com as normas ABNT
– 6023 (espaço simples entre linhas e um espaço simples entre uma referência e outra).
Modelos de referências bibliográficas
Livros (um autor)
SOARES, L. S. Educação e vida na República. 4.ed. São Paulo: Letras Azuis, 2004.
Livros (dois autores)
ROCHA, B.; PEREIRA, L. H. Cuidando do enfermo. São Paulo: Manole, 2001.
Livros com mais de três autores
POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Rio de
Janeiro: Vozes, 2008.
Capítulos de livros
OLIVEIRA, A. A. S. de; VILLAPOUCA, K. C. Perspectivas epistemológicas da bioética brasileira
a partir da teoria de Thomas Kuhn. In: GARRAFA, V.; CORDÓN, J. (Orgs.). Pesquisa em bioética:
bioética no Brasil hoje. São Paulo: Gaia, 2006. p.35-50.
Artigos de periódicos empressos com mais de três autores
PEREIRA, Q. L. C. et al. Processo de (re)construção de um grupo de planejamento familiar: uma
proposta de educação popular em saúde. Texto e Contexto Enferm, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 3205, abr/jun. 2007.
Teses
ABBOTT, M.P. Modificações oxidativas de proteínas em presença de complexos de cobre(II).
2007. 130f. Tese de doutorado (Programa de Pósgraduação em Química) Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2007.
Artigo de jornal assinado
DIMENSTEIN, G. Escola da Vida. Folha de São Paulo, São Paulo, 14 jul. 2002. Folha Campinas,
p. 2.
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Artigo de jornal não assinado
FUNGOS e chuva ameaçam livros históricos. Folha de São Paulo, São Paulo, 5 jul. 2002. Cotidiano,
p. 2.
Artigo de periódico formato eletrônico
VRAKEN, M. V. Prevention and treatment of sexuality transmitted diseases: an updates. American
Family Physican. v. 76, n. 12, p. 1827-1832, dez. 2007. Disponível em: < www.aafp.org/afp>.
Acesso em: 29 de março de 2010.
Decretos, Leis
BRASIL. Decreto n. 2.134, de 24 de janeiro de 1997. Regulamenta o art. 23 da Lei n. 8.159, de 8 de
janeiro de 1991, que dispõe sobre a categoria dos documentos públicos sigilosos e o acesso a eles, e
dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 18, p.
1435- 1436, 27. jan. 1997. Seção 1.
Constituição Federal
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal, 1988.
Trabalho publicado em Anais de Congresso
MARTINS, I. S.; SILVA FILHO, F. J. V.; ALVES NETO, F. E. Abordagemcirúrgica em
ginecomastia gigante em pseudo-hermafrodita masculino. In: I JORNADA DE MEDICINA DA
FACID, 2005, Teresina. Anais da I Jornada de Medicina da FACID. Teresina, Gráfica do Povo,
2006, p.212.
8 Acompanha o texto uma folha com o título e nome completo do autor e/ou autores com a filiação
profissional e a qualificação acadêmica do(s) autor(es), os endereços postal e eletrônico, inclusive o
telefone (folha modelo).
9 O original do trabalho a ser publicado deve ser entregue em uma via impressa e em CD (processador
Word for Windows), pelos correios ou via e-mail: [email protected]. Ao Conselho Editorial é
reservado o direito de publicar ou não o trabalho.
10 A publicação do trabalho não implicará na remuneração de seus autores. O autor responsável pela
submissão do artigo receberá um exemplar do fascículo por artigo publicado.
11 A revista não se obriga a devolver os artigos recebidos, publicados ou não.
12 O artigo a ser publicado deve ser entregue na FACID. O autor responsável pela submissão do
artigo deverá anexar e assinar os seguintes documentos: Declaração de Responsabilidade e
Transferência de Direitos Autorais.
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Modelos de páginas (em separado) que devem acompanhar o artigo
Página 181
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OBS: As submissões que não atenderem às normas acima apresentadas não serão encaminhadas para
análise dos consultores, sendo imediatamente recusadas para publicação na Revista FACID Ciência
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