View FullPaper

Propaganda
2005 International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2005
Santos, SP, Brazil, August 28 to September 2, 2005
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA N UCLEAR - ABEN
ISBN: 85-99141-01-5
IDENTIFICAÇÃO DE PROCESSOS INFLAMATÓRIOS NA
ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR POR 99m Tc-HMPAO EM
MODELO ANIMAL
Cláudia Borges Brasileiro, Valbert Nascimento Cardoso, Carla Flavia de Lima e
Tarcísio Passos Ribeiro de Campos
Programa de Pós-graduação em Ciências e Técnicas Nucleares
Universidade Federal de Minas Gerais
Av. Antônio Carlos, 6627 - Prédio PCA1 - Sala 2285 - Pampulha
31270-901 Belo Horizonte, MG
[email protected] (correspondencia)
RESUMO
A articulação temporomandibular (ATM) é uma articulação sinovial que representa a junção da mandíbula com
o crânio. A ATM, os músculos da mastigação e as estruturas associadas podem ser acometidos por um grupo de
condições denominado “Desordem Temporomandibular” (DTM). Nos últimos vinte anos, a introdução e
desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico por imagem tornaram possível uma avaliação mais detalhada
dos processos fisiológicos da ATM e das DTMs. A utilização da medicina nuclear na identificação de processos
inflamatórios que envolvem a ATM tem sido pouco documentada. O objetivo deste estudo foi verificar a
viabilidade da utilização da técnica de leucócitos autólogos marcados com 99m-tecnécio-óxido amino
hexametilpropileno (99mTc-HMPAO) na avaliação de processos inflamatórios na ATM. Para tanto, foi utilizado
um modelo experimental de indução de artrite na ATM em 10 (dez) coelhos através da injeção intra-articular de
ovalbumina na ATM esquerda de cada animal. Para controle, na articulação contra-lateral foi injetada a mesma
dose de solução salina. Após a marcação dos leucócitos com 99mTc-HMPAO, imagens cintilográficas foram
realizadas para localização do foco inflamatório. A análise estatística foi realizada utilizando-se o teste não
paramétrico de Wilcoxon. Houve diferença estatisticamente significativa dos valores de atividade, em cpm,
relativos à articulação inflamada (foco) quando comparados aos valores obtidos na articulação contra-lateral
(controle). Assim, a técnica de leucócitos autólogos marcados com 99mTc-HMPAO pode ter grande valor no
diagnóstico precoce das desordens inflamatórias da ATM antes que alterações estruturais sejam instaladas.
1. INTRODUÇÃO
A ATM é uma articulação sinovial entre o côndilo da mandíbula e a fossa mandibular da
porção escamosa do osso temporal, dividida em dois compartimentos pelo disco
fibrocartilaginoso, que permite os movimentos mandibulares [1]. Os dados coletados através
da anamnese e do exame clínico dos pacientes são a base para o estabelecimento de um
diagnóstico correto das desordens temporomandibulares (DTMs). Em algumas situações, são
necessárias informações adicionais obtidas através de exames complementares [2]. A
medicina nuclear envolve técnicas não-invasivas que permitem a localização do foco
inflamatório antes que alterações estruturais sejam instaladas. As imagens cintilográficas
realizadas com o emprego de leucócitos marcados, com o isótopo radioativo 99mTc, permitem
diagnosticar focos inflamatórios no estágio inicial da doença [3].
Entretanto, nenhuma
pesquisa que utilizasse este método no estudo de alterações inflamatórias envolvendo a
articulação temporomandibular (ATM) foi encontrada. O objetivo deste estudo foi verificar a
viabilidade da utilização dos leucócitos autólogos marcados com 99mTecnécio-óxido amino
hexametilpropileno (99mTc-HMPAO) na avaliação de desordens inflamatórias da ATM em
modelo animal.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Utilizou-se um modelo experimental de indução de artrite na ATM de 10 (dez) coelhos
adultos machos da raça Nova Zelândia. A sensibilização dos animais foi realizada com
ovalbumina (4mg) + adjuvante de Freund (1mL) por meio de uma inoculação no dorso dos
animais e 15 dias após esta inoculação foi realizada uma dose de reforço (booster). Com a
sensibilização confirmada foram injetados na ATM esquerda 0,2mL de ovalbumina/ salina
(20mg/ml). Na articulação contra-lateral foi injetado o mesmo volume de salina [4]. Após 07
dias da indução do processo, o sangue foi coletado (30 mL) pela veia marginal da orelha, os
leucócitos foram separados e marcados com 99mTc-HMPAO [5]. As imagens cintilográficas
foram realizadas 1 hora após injeção endovenosa de 99mTc-HMPAO-leucócitos. Durante os
procedimentos de indução da artrite, os animais foram anestesiados com xilasina
(ROMPUN - 20mg/ml -5mg/kg de animal, intra-muscular)
associada a quetamina
(DOPALEN- 100mg/ml -40mg/kg de animal, intra-muscular).
A comparação dos valores de contagem por minuto (cpm) relativos à articulação inflamada
(articulação-foco) e ao lado contralateral (articulação controle) foi realizada utilizando o teste
não-paramétrico de Wilcoxon (teste do sinal para valores pareados). O nível de significância
adotado foi de 1% ( p< 0,01). A realização deste estudo foi aprovada pelo Comitê de Ética
em Experimentação Animal da Universidade Federal de Minas Gerais (CETEA/UFMG)
conforme protocolo n° 033/03.
3. RESULTADOS
A FIG. 1(A) apresenta a imagem cintilográfica de um dos animais utilizados no estudo.
Observa-se a captação de leucócitos radiomarcados na ATM esquerda (foco inflamatório) e
uma menor captação de radiação na ATM direita (controle). A captação em todos os
experimentos foi sempre maior na articulação-foco. A articulação inflamada (foco)
apresentou valores superiores de atividade ROI, em cpm., estatisticamente significativos
quando comparados aos valores de atividade obtida na articulação contra-lateral (controle) (p
= 0,0073). Observa-se pela FIG. 1(B) a biodistribuição fisiológica dos leucócitos
radiomarcados, apresentando captação pelo fígado, baço e pulmão.
4. DISCUSSÃO
A detecção precoce da resposta celular a processos inflamatórios que acometem a ATM é
decisiva na determinação de um diagnóstico definitivo antes do comprometimento estrutural
das superfícies articulares [6]. As imagens cintilográficas realizadas com o emprego de
leucócitos marcados, com o isótopo radioativo 99mTc, permitem diagnosticar focos
inflamatórios no estágio inicial da doença. Isto se deve ao fato de que a migração dos
leucócitos depende de alterações fisiológicas, como aumento do fluxo sanguíneo local,
aumento da permeabilidade vascular, extravasamento de células do espaço intravascular para
o interstício, alterações estas manifestadas nos primeiros dias da instalação do foco
inflamatório. Vários estudos na literatura foram efetivos na avaliação de diversos tipos de
condições inflamatórias empregando leucócitos marcados com o complexo 99mTc-HMPAO
[7,8,9,10]. Entretanto, nenhum estudo que utilizasse este método na avaliação de alterações
inflamatórias que acometem a ATM foi encontrado. Desta forma, a proposta deste trabalho
INAC 2005, Santos, SP, Brazil.
foi avaliar a possibilidade de se utilizar a cintilografia com leucócitos no diagnóstico precoce
de distúrbios inflamatórios que acometem a ATM.
(A)
(B)
Figura 1. Imagem cintilográfica estática (projeção ventral), 1 hora após injeção
endovenosa de 99mTc-HMPAO -leucócitos. Observa-se maior captação na ATM
inflamada em (A). Em (B), observa-se a biodistribuição fisiológica dos leucócitos
radiomarcados, apresentando captação pelo fígado, baço e pulmão.
Após 1 hora da administração endovenosa em coelhos, os leucócitos marcados apresentaram
uma captação fisiológica pelo pulmão, fígado e baço (Fig. 1(B)), conforme vários trabalhos
descritos na literatura [8,11,12,13]. Este dado é muito importante, sugerindo que não houve
destruição dessas células, durante o processo de marcação, ressaltando a integridade das
mesmas. A captação de radioatividade observada na bexiga é devido à eliminação renal do
complexo HMPAO marcado com 99mTc. Parte do complexo 99mTc-HMPAO pode deixar o
interior dos leucócitos, iniciando um processo de eliminação renal minutos após a injeção dos
leucócitos radiomarcados [3].
A interpretação das imagens cintilográficas quando se emprega leucócitos marcados requer a
comparação da radioatividade da região de interesse (ROI) com a radioatividade em uma
região referencial normal pré-determinada [14]. Neste estudo, a articulação contralateral,
tratada com solução salina, foi utilizada como articulação-controle. Analisando as imagens
cintilográficas apresentadas nas FIGs. 1 (A) e (B) e os dados obtidos pelo ROI, pode-se
constatar que em todos os animais a atividade registrada na articulação-foco (ATM
inflamada) foi estatisticamente maior que na articulação-controle (p = 0,0073). Portanto, fica
evidente uma captação estatisticamente maior dos leucócitos radiomarcados no sítio da
INAC 2005, Santos, SP, Brazil.
inflamação, sete dias após a indução do processo inflamatório, o que abre uma perspectiva
para a utilização desse método no diagnóstico precoce de desordens inflamatórias da ATM.
5. CONCLUSÕES
As imagens cintilográficas mostraram captação de 99mTc-HMPAO-leucócitos no foco
inflamatório, propiciando uma identificação precoce da inflamação na ATM. Este estudo
abre uma nova perspectiva para a utilização dos leucócitos radiomarcados em diagnósticos na
área odontológica.
REFERÊNCIAS
[1] STYLES, C.; WHYTE, “MRI in the assessment of internal derangement and pain within
the temporomandibular joint: a pictorial essay,” Br J Oral Maxillofac Surg, 40, pp. 220228 (2002).
[2] EPSTEIN JB, CALDWELL J, BLACK G., “The utility of panoramic imaging of the
temporomandibular joint in patients with temporomandibular disorders,” Oral Surg Oral
Med Oral PatholOral Radiol Endod; 92, pp236-239 (2001).
[3] RENNEN HJJM, BOERMAN OC, OYEN WJG, CORSTEN FHM., “Imaging
infection/inflammation in the new millennium,” Eur J Nucl Med; 28, pp 241-252 (2001).
[4] TOMINAGA K, ALSTERGREN P, KURITA H, KOPP S.,“Clinical course of an antigeninduced arthritis model in the rabbit temporomandibular joint,” J Oral Pathol Med, 28,
pp.268-273 (1999).
[5] ROCA M. et al.,“A consensus protocol for white blood cells labelling with technetium99m hexamethypropylene amine oxime,” Eur J Nucl Med, 25, pp797-799 (1998).
[6] ALDER ME, DOVE SB, MURRAH VA, SALINAS F, WILLIAMS RF., “Magnetic
resonance spectroscopy of inflammation associated with the temporomandibular joint,”
Oral Surg Oral Med Oral Pathol, 74, pp515-523 (1992).
[7] PETERS AM et al. “Clinical experience with 99mTc-hexamethylpropylene amine oxime
for labeling leucocytes and imaging inflammation,” Lancet, 25, pp946-949 (1986).
[8] RODDIE ME et al., “Inflammation: Imaging with Tc-99m NAPO-labeled Leukocytes,”
Radiol; 166, pp767-772 (1988).
[9] VORNE M. et al., “Clinical Comparison of 99mTc-HMPAO Labelled Leucocytes and
99mTc-Nanocolloid in the Detection of Inflammation,” Acta Radiol, 30, pp633-637
(1989).
[10] JONES AKP et al., “In Vivo Leukocyte Migration in Arthritis.” Arth and Rheum; 34,
pp270-275 (1991).
[11] PETERS AM., “The Utility of 99mTc HMPAO-Leucocytes for Imaging Infection,” Semin
Nucl Med, XXIV, pp110-127 (1994).
[12] MARTIN-COMIN J., “Clinical applications of radiolabelled blood elements in
inflammatory bowel disease,” Quart J Nucl Med, 43, pp74-82 (1999).
[13] MARTIN-COMIN J, CARDOSO VN, PLAZA P, ROCA M. Hank’s, “Balanced Salt
Solution: an Alternative Resuspension Medium to Label Autologous Leukocytes.
Experience in Inflammatory Bowel Disease,” Braz Arch Biol Tech, 45, pp39-44 (2002).
[14] PALESTRO C., “Radionuclide Imaging of the Painful Joint Replacement: Past, Past
and Future,” Braz Arch Biol Tech; 45, pp.9-14 (2002).
INAC 2005, Santos, SP, Brazil.
Download